pai contra mãe : machado de assis e a escravidão

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Pai contra mãe : Machado de Assis e a escravidão Prof. Victor Creti Bruzadelli “o dispositivo literário capta e dramatiza a estrutura social do país” (SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas cidades; Ed. 34, 2000, p. 11) Arte & História prof. Victor Creti @arteehistoria MPB no Vestibular [email protected]

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Pai contra mãe : Machado de Assis e a escravidão

Prof. Victor Creti Bruzadelli

“o dispositivo literário capta e dramatiza a estrutura social dopaís”(SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo:

Duas cidades; Ed. 34, 2000, p. 11)

Arte &

Históriaprof. Victor Creti

@arteehistoria

MPB no Vestibular

[email protected]

História e literaturaAristóteles:

Origens comuns da história e da poética;

Ambas artes miméticas;

Conceito de representação;

Relações entre literatura e história:Literatura como expressão de sensibilidades e sociabilidades de um indivíduo em um tempo;

A história nos textos literários.

“A representação não é cópiado real, sua imagem perfeita, espéciede reflexo, mas uma construção feita apartir dele. Essas representações sãoportadoras do simbólico e dotam omundo de uma certa inteligibilidadepara aquele que estiver ‘iniciado’ nosseus códigos, geram regimes deverossimilhança e credibilidade”

(PESAVENTO, Sandra. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 40)

Machado de Assis: escritorConto: “Pai contra mãe”;

Publicado originalmente em 1906, no livro “Relíquias da casa velha”;

Realismo:Característico da segunda metade do XIX;

Oposição à idealização romântica e materialismohistórico;

Fruto de uma sociedade urbana e apego às ciências;

Presença de uma crítica aos costumes e à burguesia;

Preocupação com o humano e as questõesintelectuais;Objetividade nas descrições e denúncia social.

Machado de Assis: escritor

Comerciais da Caixa Econômica Federal (2011)

Machado de Assis: historiadorEscravidão como uma forma tradicional de trabalho;

Teorizada na Grécia por Aristóteles:

Escravo como base da política;

A questão da alma do escravo;

Mito de Cam;

Fundamental no processo de colonização e formação do Brasil;

Projeto de esquecimento da escravidão a partir de 1888.

“Por natureza, na maior parte dos casos,há o que comanda e o que é comandado. Ohomem livre comanda o escravo da mesma formaque o macho à fêmea [...]. E, todavia, as partes daalma existem de maneira diferente: o escravoestá totalmente privado da parte deliberativa; osexo feminino a possui, mas sem a possibilidadede decisão [...]. Estabelecemos que o escravo éútil para as necessidades da vida. Fica, portanto,claro que ele não tem a necessidade senão depequena parcela de virtude. O suficiente apenaspara não ficar inferior à sua tarefa, pordesregramento ou negligência”

(ARISTÓTELES apud REDE, Marcelo. A Grécia Antiga. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 33)

Machado de Assis: historiador

“Os historiadores também têm um papel adesempenhar no processo de resistência. Heródotoos considerava guardiães da memória, a memória defeitos gloriosos. Prefiro vê-los como guardiães dossegredos da memória social, as ‘anomalias’, [...] querevelam fraquezas em teorias grandiosas e não tãograndiosas. Houve outrora um funcionário chamado‘Lembrete’ [...]. A tarefa oficial era lembrar àspessoas o que elas gostariam de ter esquecido. Umadas mais importantes funções do historiador é serum lembrete”

(BURKE, Peter. Variedade de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 200, p. 88-89)

Escravidão e esquecimento:

Peter Burke

Machado de Assis: historiador

“A escravidão levou consigo ofícios eaparelhos, como terá sucedido a outrasinstituições sociais. Não cito alguns aparelhossenão por se ligarem a certo ofício. Um delesera o ferro ao pescoço, outro o ferro ao péhavia também a máscara de folha de flandresA máscara fazia perder o vício da embriaguezaos escravos, por lhes tapar a boca Tinha sótrês buracos, dois para ver, um para respirar, eera fechada atrás da cabeça por um cadeado.”

(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe In: MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio

de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 19)

Escravidão e esquecimento:

Liberdade! Liberdade!Abre as asas sobre nós!Das lutas na tempestadeDa amada terra do Brasil!

Nós nem cremos que escravos outrora tenha havido em tão nobre País...Hoje o rubro lampejo da auroraAcha irmãos, não tiranos hostis.

Somos todos iguais! Ao futuroSaberemos, unidos, levarNosso augusto estandarte que, puroBrilha, ovante, da Pátria no altar!

(Hino da Proclamação da República, letra Medeiros e Albuquerque e música de Leopoldo Américo Miguez – 1890)

As origens da escravidão de africanosAtividade ancestral nas sociedades africanas;

Escravidão de africanos pelos portugueses desde 1441;

Intensificada a partir de 1570;

Africanos adaptados tanto ao trabalho nos moldes portugueses;

A questão da alma e da salvação;

A lucratividade do tráfico negreiro:

“Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro quese pode entender a escravidão africana colonial, e não ocontrário”(NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo sistema colonial)

"Os filhos de Noé que saíram da arcaeram Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai deCanaã. Estes eram os três filhos de Noé. É poreles que foi povoada toda a terra. Noé, que eraagricultor, plantou uma vinha. Tendo bebidovinho, embriagou-se, e apareceu nu no meiode sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo anudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seusirmãos. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa,puseram-na sobre os seus ombros e foramcobrir a nudez de seu pai, andando de costas;e não viram a nudez de seu pai, pois quetinham os seus rostos voltados. Quando Noédespertou de sua embriaguez, soube o que lhetinha feito o seu filho mais novo. “Maldito sejaCanaã, disse ele; que ele seja o último dosescravos de seus irmãos!” E acrescentou :“Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e Canaãseja seu escravo!"

(Gênesis, 9:18-26)

As origens da escravidão de africanos

A redenção de Cam, de Modesto Brocos y Gomes (1895)

Eu no programa Enredo Cultural: Artefilia da TV UFG

As origens da escravidão de africanos

Propaganda oficial do Ministério da Educação em 13/06/2019

Ser escravizado no Brasil no séc. XIXA onipresença do escravo;

Heterogeneidade da condição de escravo:

Rurais e urbanos;

Trabalhadores domésticos;

Negro no eito;

Escravos de ganho.Recife, capital de Pernambuco, Johan Moritz Rugendas (c. 1820)

Ser escravizado no Brasil no séc. XIXVendidos no porto, como “animais”;

Tipos de trabalho:

Negro no eito;

Escravo doméstico;

Escravo de ganho;

Presentes em quase todos os espaços coloniais;

Miscigenação: originada de relações sexuais com ou sem consentimento.

“Os escravos são as mãos e os pés do senhorde engenho, porque sem eles no Brasil não é possívelfazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenhocorrente. E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessáriocomprar cada ano algumas peças e reparti-las pelospartidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumentesão de nações diversas, e uns mais boçais que outros ede forças muito diferentes, se há de fazer a repartiçãocom reparo e escolha, e não às cegas. No Brasil,costumam dizer que para o escravo sãonecessários PPP, a saber, pau, pão e pano. E, posto quecomecem mal, principiando pelo castigo que é o pau,contudo, prouvera a Deus que tão abundante fosse ocomer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dadopor qualquer causa pouco provada, ou levantada; e cominstrumentos de muito rigor, ainda quando os crimessão certos, de que se não usa nem com os brutosanimais”

(ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Livro I, Capítulo IX, 1771)

Ser escravizado no Brasil no séc. XIXDistinções sociais entre os africanos:

Condição política:

Senhores de escravos, Livres, Libertos ou forros e Escravos;

Condição social:

Nacionalidade, tempo de permanência no país, entre outros;

Cor (Colorismo):

Brancos, Mulatos e Negros.

Trecho do filme Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi (2005)

Ser escravizado no Brasil no séc. XIXA brecha camponesa:

Proposta por Ciro F. Cardoso;

Permissão a escravos produzirem gêneros alimentícios nos latifúndios de seus senhores;

Criação de um mercado liderado por “camponeses” escravos;

As alforrias:

Libertos representavam, no XIX, 42% da população de origem africana;

Facilitadores:

Ambientes urbanos, mulheres e aos velhos e doentes;

Possibilidade de ser revertida por “ingratidão”.

“Quando ele chegava àtarde, via se lhe pela cara quenão trazia vintém Jantava e saíaoutra vez, à cata de algumfugido Já lhe sucedia, ainda queraro, enganar se de pessoa, epegar em escravo fiel que ia aserviço de seu senhor tal eraacegueira da necessidade Certavez capturou um preto livre;desfez se em desculpas, masrecebeu grande soma de murrosque lhe deram os parentes dohomem”(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe In:

MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2001, p. 23)

A violênciaViolência moderada pelo “sentimento de propriedade”;

Ausência de um “Código Negro”: violência institucionalizada pelas leis;

Punições aplicadas, geralmente, por feitores ou no “calabouço”;

Diversos castigos físicos.

“Há meio século, os escravosfugiam com frequência. Eram muitos, enem todos gostavam da escravidão.Sucedia ocasionalmente apanharempancada, e nem todos gostavam deapanhar pancada. Grande parte eraapenas repreendida; havia alguém decasa que servia de padrinho, e omesmo dono não era mau; além disso,o sentimento da propriedademoderava a ação, porque dinheirotambém dói. A fuga repetia-se,entretanto”

(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe In: MORICONI, Italo. Os cem melhores contos

brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 19-20)

A violência

Trecho do filme Quanto Vale ou É por Quilo?, de Sérgio Bianchi (2005)

A resistênciaResistências culturais:

Capoeira;

Sincretismo religioso;

Banzo;

Abortos e suicídios;

Fugas;

Quilombos;

Revoltas;

Assassinatos de senhores.

“Há meio século, os escravos fugiamcom freqüência. Eram muitos, e nem todosgostavam da escravidão. Sucediaocasionalmente apanharem pancada, enem todos gostavam de apanhar pancada.Grande parte era apenas repreendida; haviaalguém de casa que servia de padrinho, e omesmo dono não era mau; além disso, osentimento da propriedade moderava aação, porque dinheiro também dói. A fugarepetia-se, entretanto.”

(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe In: MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva,

2001, p. 19-20)

A resistência

O AbolicionismoAs ideias fora do lugar:

“No plano, das convicções, aincompatibilidade é clara [...]. Mas tambémno plano prático ela se fazia sentir. Sendouma propriedade, um escravo pode servendido, mas não despedido. O trabalhadorlivre, nesse ponto, dá mais liberdade a seupatrão, além de imobilizar menos capital.Este aspecto um entre muitos indica o limiteque a escravatura opunha à racionalizaçãoprodutiva. Comentando o que vira numafazenda, um viajante escreve: ‘não háespecialização do trabalho, porque seprocura economizar a mão-de-obra’”

(SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar In: idem. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34,

2000, p. 13)

Conceito elaborado pelo crítico Roberto Schwarz, a partir de sua leitura de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881);

Contradições da elite econômica brasileira no século XIX:

Defensores do liberalismo político (republicanismo);

Defensores do liberalismo econômico e do trabalho assalariado;

Defesa da manutenção do escravismo;

Anacronismo da “modernização” brasileira.

O AbolicionismoAs ideias fora do lugar:

“havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscarafazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhestapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um pararespirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Como vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porquegeralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam comque matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e asobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara,mas a ordem social e humana nem sempre se alcança semo grotesco, e alguma vez o cruel”

(ASSIS, Machado de. Pai contra mãe In: MORICONI, Italo. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 19)

Cativo com máscara de folha-de-flandres, de Jean-Baptiste Debret (1835)

O AbolicionismoAbolição fruto da relação entre diversos grupos:

Elite liberal, ligada ao império:D. Pedro II e Princesa Isabel: abolição lenta e gradual;

Medo de revolta dos escravizados;

Juventude intelectualizada:Castro Alves: abolição imediata;

Negros livres ou cativos:Luis Gama: Abolição imediata e a inclusão social do negro.

“Os conflitos entre essas três correntesdefiniram o ritmo da escravatura”

(DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010, p. 203)

“Graças aoabolicionismo, a mobilizaçãopopular tornou-se um elementode transformação consciente darealidade. A revolta agora nãoera circunstancial, contra oaumento dos preços dealimentos ou contra algumamedida que prejudicava osinteresses populares, mas simefetiva, pois tinha por objetivoalterar a estrutura da sociedade”

(DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010, p. 206)

O AbolicionismoMovimento abolicionista:

Organizado ao longo da segunda metade do século XIX, através de associações e jornais;

Organização de comícios, palestras e panfletagens;

Expansão entre as classes médias urbanas;

Como consequência do aumento das pressões pela abolição, há um aumento do tráfico ilegal.

Nesse ambiente, o nó da escravidãoacabou sendo desatado basicamente à margemdo circuito decisório oficial. Na década de 1880,o movimento abolicionista pipocou por todo opaís, impulsionado quase exclusivamente pelasociedade. No Ceará, já em 1884 decretou-seuma abolição. No Rio de Janeiro, figurasimportantes como Joaquim Nabuco, AndréRebouças e José do Patrocínio comandavam apregação, com o apoio nem sempre velado daprincesa Isabel. Em São Paulo, Luiz Gamacomandou a formação de uma imensa redeabolicionista informal, cuja amplitude pôde sermedida no dia do seu enterro, quando 3 milpessoas pararam a cidade em torno do féretro

(CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil: cinco séculos de pessoas costumes e governos. Rio de Janeiro: Estação

Brasil, 2017, p. 283)

O abolicionismoMovimento dos Caifazes:

Liderado por Antônio Bento de Souza e Castro;

Propostas:Criar redes de apoio;

Organizar fugas coletivas e quilombos;

“Roubar” de escravizados;

Organizar a luta armada.

No fechamento do caixão [de Luiz Gama em 1882],um dos que juraram continuar a luta tinha um perfilaparentemente estranho à causa: um ex-delegado de políciaperseguidor de cativos, católico tradicional e membro doPartido Conservador. Mas Antônio Bento mostrou-se poucoconvencional ao criar uma organização que chamou deCaifazes. Criou uma rede de pontos de apoio quefuncionavam tanto em sacristias como em prostíbulos.Treinou grupos de negros fugidos e ergueu refúgios noscaminhos percorridos por capitães do mato. Promoveu aorganização do quilombo do Jabaquara, em Santos – os atospreparatórios incluíram uma declaração municipal deabolição, o que mostra o tamanho do apoio à causa. Armou evenceu uma guerra. Em 1887 o quilombo contava 10 milhabitantes, metade da população da cidade e partesignificativa dos 150 mil cativos paulistas contados poucoantes do movimento

(CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil: cinco séculos de pessoas costumes e governos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017, p. 283)

O AbolicionismoProtagonismo negro:

Intelectuais negros:

Luís da Gama;

José do Patrocínio;

André Rebouças;

Machado de Assis;

Revoltas constantes:

Revolta de Carrancas (1833);

Revolta dos Malês (1835);

Revolta de Manuel Congo (1838).

“Em 1873 Machado de Assis tornou sefuncionário do Ministério da Agricultura; a partirde meados de 1876, passou a chefiar a seção desseministério encarregada de estudar e acompanhar aaplicação da lei de emancipação [do Ventre Livre].O romancista formou se e transformou se ao longodos anos 1870 em diálogo constante com aexperiência do funcionário público e do cidadão. Defato, é possível até mesmo investigar as relaçõesentre a experiência do funcionário e a famosavirada narrativa do romancista ocorrida entre 1878e 1880, ou entre Iaiá Garcia e Memórias póstumasde Brás Cubas”

(CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003 p. 138-139)

O AbolicionismoAbolicionistas brancos:

Joaquim Nabuco;

José Bonifácio;

Ângelo Agostini;

Joaquim Manuel de Macedo;

Castro Alves;

Obs.: eram motivados por motivos diversos e não somente “humanitários”.

“Trabalhar no sentido detornar bem manifesta e clara atorpeza da escravidão, sua influênciamalvada, suas deformidades morais econgênitas, seus instintos ruins, seuhorror, seus perigos, sua açãoinfernal, é também contribuir paracondená-la e para fazer mais suave esimpática a idéia da emancipaçãoque a aniquila”

(MACEDO, Joaquim Manuel de. As vítimas algozes: quadros da escravidão. São Paulo:

Editora Scipione, 1991, p. 4)

Abolição legalLenta e gradual, “para evitar uma guerra civil”;

Lei Feijó (1831):Proibia o tráfico, multava traficantes e abolia a escravidão;

“Lei para inglês ver”;

Lei (Bill) Aberdeen (1845): Lei inglesa que tratava navios negreiros como piratas.

“Ao longo do século XVIII,apurando a definição do direito universalao bem-estar e à liberdade, antropólogos,filósofos e teólogos voltaram-se para ocaso do africano e de sua condição nomundo. Sua reflexão levou-os a modificaras noções ordinariamente admitidas atéentão sobre o negro da África e o escravoamericano: de bruto e animal de carga,eles transformaram-no em um ser moral esocial”

(DAGET, Serge. A abolição do tráfico de escravos. In: AJAYI, Jacob, F. A. História Geral da África, VI: África do

século XIX à década de 1880. Brasília: UNESCO, 2010, p. 77)

Abolição LegalLei Eusébio de Queirós (1850):

Proibição do tráfico internacional de escravizados;

Lei de Terras (1850):

Terras devolutas compradas junto ao Estado;

Lei Nabuco de Araújo (1854):

Sanções e punições mais severas contra traficantes ilegais.

Declara desde quando deve ter lugar a competenciados Auditores de marinha para processar e julgaros réos mencionados no Art. 3.º da lei N.º 581 de 4de Setembro de 1850, e os casos em que devem serimpostas pelos mesmos Auditores as penas detentativa de importação de escravos. [...]

Art. 2º Será punido com as penas de tentativade importação de escravos, processado e julgadopelos ditos Auditores, o Cidadão Brasileiro, aondequer que resida, e o estrangeiro residente no Brasil,que for dono, capitão ou mestre, piloto ou contra-mestre, ou interessado no negocio de qualquerembarcação, que se occupe no trafico de escravos,continuando, em relação aos que importarem para oBrasil, a disposição da Lei de quatro de Setembrode mil oitocentos e cincoenta

(Trecho da Lei Nabuco de Araújo)

Abolição legalLei do Ventre Livre (1871):

Os filhos de escravizados nasciam livres, embora devessem ou pagar uma indenização ou prestar serviços até os 21 anos;

Machado de Assis, como funcionário do Min. da Agricultura, vai ser um dos responsáveis pela aplicação dessa lei a partir de 1873;

Segundo Sidney Chalhoub, essa experiência vai mudar decisivamente a literatura e a postura intelectual do escritor;

Lei dos Sexagenários (1885):Alforria de escravizados com mais de sessenta anos, com o pagamento de mais 3 anos de trabalho como indenização;

Lei Áurea (1888):Abolição da escravidão

Abolição legalA Princesa Imperial Regente, em nome de

Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II,faz saber a todos os súditos do Império que aAssembleia Geral decretou e ela sancionou a leiseguinte:

Art. 1.º: É declarada extinta desde a data desta lei aescravidão no Brasil.

Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem oconhecimento e execução da referida Lei pertencer,que a cumpram, e façam cumprir e guardar tãointeiramente como nela se contém

(Lei Áurea)Meme da página do Twitter História no Paint

Abolição legal

17931823

182618331834

18371842

18481848

18511853185318541854

18621863

18731880

1888

1740 1760 1780 1800 1820 1840 1860 1880 1900

Haiti

Bolívia

Trinidad

Paraguai

Guiana Francesa

Argentina

Peru

EUA

Porto Rico

Brasil

Cronologia do fim da escravidão nas Américas

(Fonte: Atlas IstoÉ Brasil 500 Anos. SãoPaulo: Editora Três S/A, 1998, p. 71)