escravidão: outras histórias

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ESCRAVIDÃO ESCRAVIDÃO Outras histórias Outras histórias Prof. Carlos Prof. Carlos

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ESCRAVIDÃOESCRAVIDÃOOutras históriasOutras histórias

Prof. Carlos Prof. Carlos

África antiga – mudando África antiga – mudando (pré)conceitos(pré)conceitos Centros de economia internacional e de vendas de

livros científicos e filosóficos, uma das maiores universidades do mundo, contatos comerciais a milhares de quilômetros, esculturas em estilo realista que rivalizavam com as gregas e romanas, obras de arte com estilo expressionista que só no século XX os europeus seriam capazes de apreciar, tecnologia metalúrgica superior a muitos povos, cidades com bairros para estrangeiros, reinos tão ricos onde os animais de estimação usavam coleiras de ouro, senhores com escravas brancas, igrejas cristãs, judeus negros, construções de templos e palácios, porcelana chinesa em aldeias no meio da selva...uma África nada parecida com a que estamos acostumados em muitos livros e filmes.

Na África anterior a chegada e conquista dos europeus existia uma gigantesca variedade de povos, línguas e etnias. Uma variedade cultural em enormes proporções, assim como os indígenas da América do sul, por exemplo.

Contato e CapturaContato e Captura Pesquisas atuais falam em mais de 300 povos africanos

trazidos para o Brasil dos mais variados locais da África. A maneira mais comum de obter escravos era comprando de

mercadores africanos. O tráfico de escravos enriqueceu muitos reinos africanos.

Africanos são transformados em mercadorias através de duas formas: guerras ou crimes.

Interessante que por diversas vezes reis africanos enviaram para o Brasil seus representantes propondo acordos a fim de monopolizar o comércio e isolar os concorrentes da Europa no tráfico.

Alguns ex-escravos poderiam retornar para a África e lá poderiam se tornar intermediários entre os reinos que vendiam escravos e os portugueses.

Escravos índios e negrosEscravos índios e negros Desde o séc. XV portugueses compravam

escravos africanos para levá-los até Açores e Madeira.

No Brasil, no início da conquista, preferiram utilizar escravos indígenas e foi assim até o XVII quando os portugueses passaram a usar mais escravos africanos que indígenas.

Por quê?

Motivos do colonizadorMotivos do colonizador Índios são preguiçosos? Negros resistem melhor às

tarefas pesadas? Índios se rebelavam e os negros eram dóceis?

Um dos motivos é que muitos índios morreram, forma expulsos de suas terras e massacrados pelos europeus (doenças tem a sua participação nesse ponto)

Claro que não podemos deixar de lado o fator econômico, afinal de contas desde o século XV Portugal realizava o tráfico de almas para a Europa e ilhas do atlântico.

Rebeldia dos escravosRebeldia dos escravos Índios nunca admitiram o cativeiro e os escravos

africanos foram tão rebeldes quanto os indígenas. Uma das formas de reação foram os quilombos,

palenques e cumes em Cuba, maroons na Jamaica, grand marronage no Haiti, busch negroes nas Antilhas holandesas.

Quilombos não foram uma forma de reproduzir o modo original africano. Eles abrigavam diversas etnias africanas e a própria cultura colonial.

Existiam maneiras sutis de resistência. Por exemplo, o escravo fazia “corpo mole” roubava uma comida na cozinha, fingia-se de doente. Escravas grávidas optavam pelo aborto e muitos não agüentaram a saudade de casa e a vida desgraçada, e simplesmente se mataram.

PalmaresPalmares Existiram centenas de quilombos no Brasil, mas o mais famoso foi

Palmares. Em meio as invasões holandesas muitos escravos aproveitaram o

caos e fugiram para a serra da Barriga (AL) e assim várias aldeias começaram a surgir. Palmares era uma união de diversas aldeias totalizando mais de 20 mil moradores.

Governo colonial enviou diversas expedições para destruir Palmares.

O último rei de Palmares foi Zumbi que comandou a luta contra um muito bem armado “exército” colonial chefiado por Domingos Jorge Velho.

Palmares foi invadido, incendiado e até mesmo as crianças não foram poupadas (1695).

Palmares foi mesmo vencido? Cada vez que havia uma fuga se perguntavam: haverá mais

fugas? E com o aumento das fugas, novas perguntas: haverá um Quilombo? Quando surgia um Quilombo, se perguntavam: será como Palmares?

TumbeirosTumbeiros “Os vivos, os moribundos, e os mortos amontoados em uma

única massa. Alguns desafortunados no mais lamentável estado de varíola, sofrivelmente doentes com oftalmia, alguns completamente cegos, outros, esqueletos vivos, arrastando-se com dificuldade para cima, incapazes de suportarem o peso de seus corpos miseráveis. Mães com crianças pequenas penduradas em seus peitos, incapazes de darem a elas uma gota de alimento. Como os tinham trazido até aquele ponto parecia surpreendente: todos estavam completamente nus. Seus membros tinham escoriações por terem estado deitados sobre o soalho durante tanto tempo. No compartimento inferior o mau cheiro era insuportável. Parecia inacreditável que seres humanos pudessem respirar tal atmosfera, e viver. Alguns estavam sob o soalho, chamado convés, morrendo – um já morto.”

Igreja e escravidãoIgreja e escravidão Bispos e padres acreditavam que a escravidão na América

era um meio de trazer os africanos para a “verdadeira religião”

“Na África vocês veneravam demônios e agora estão sofrendo o castigo de Deus. A escravidão é o preço do seu pecado. Se forem obedientes estarão perdoados e, depois da morte, irão para o céu”

A Igreja justificava a escravidão e o pior, os padres acreditavam nisso.

Com relação aos indígenas era levemente diferente, pois devido as pressões da Igreja, desde 1570 Portugal fazia leis proibindo a escravidão indígena, a não ser que fosse pela Guerra Justa.

Lucros do tráfico?Lucros do tráfico? Mais da metade de todo o tráfico de escravos da

África para o Brasil era realizado por traficantes do Brasil.

Os mais ricos moravam em Salvador e no Rio de Janeiro. Alguns chegavam até mesmo acumular certa fortuna e atuavam como banqueiros, emprestando dinheiro para fazendeiros da colônia.

Os mais interessados no tráfico eram, portanto, os próprios colonos. Latifundiários sedentos por mão-de-obra e traficante que lucravam alto.

Tão intensa quanto a ligação com a Europa, era a que se estabelecia com os portos africanos.

Controle pela violênciaControle pela violência Um dos recursos para dominar o escravo era a violência física. Alguém aqui já levou uma “tunda”? A escravidão foi uma história de brutalidades. Um dos castigos mais comuns era o tronco onde o feitor

surrava as costas e as nádegas até a carne rasgar. Feito isso aplicava sobre os ferimentos um coquetel de sal, pimenta e urina. Doía e inflamava.

Suplícios eram intermináveis: cortar o nariz, orelhas, órgãos sexuais, limar os dentes até a raiz.

As escravas mais bonitas e jovens podiam ser forçadas a ter relações com o senhor despertando o ciúmes nas senhoras. Capatazes arrancavam dentes, orelhas, mamilos. Violência atrás de violência.

Mas como explicar 300 anos de um regime... Baseado apenas na violência?

Controles sutisControles sutis Os senhores ofereciam certas “vantagens” para o

escravo de “melhor comportamento” Mais carne na hora do almoço, descanso

semanal, promoção a escravo doméstico, ganhar uma calça nova.

Muitos senhores libertavam seus cativos, mas mesmo liberto ele não gozava de direitos de homem livre. A alforria poderia ser o resultado de uma negociação.

Muitos escravos fugiam e negociavam a sua volta, exigindo certas melhorias na sua condição. Não se trata de greve (que acontece com trabalhadores assalariados), mas uma forma de negociação e resistência.

Além da brutalidade a escravidão oferecia brechas

Brecha CamponesaBrecha Camponesa Um outro mecanismo de controle e manutenção da ordem

escravista foi a criação de uma margem de economia própria para o escravo dentro do sistema escravista, a chamada brecha camponesa’. Ao ceder um pedaço de terra em usufruto e a folga semanal para trabalhá-la, o senhor aumentava a quantidade de gêneros disponíveis para alimentar a escravatura numerosa, ao mesmo tempo em que fornecia uma válvula de escape para as pressões resultantes da escravidão.

a ilusão de propriedade ‘distrai’ a escravidão e prende, mais do que uma vigilância feroz e dispendiosa, o escravo à fazenda. ‘Distrai’, ao mesmo tempo, o senhor do seu papel social, tornando-o mais humano aos seus próprios olhos. (...) Certamente o fazendeiro vê encher-se a sua alma de certa satisfação quando vê vir o seu escravo da sua roça trazendo o seu cacho de bananas, o cará, a cana, etc.

Complexidade da Complexidade da escravidãoescravidão Latifundiários não eram os únicos proprietários de

escravos. Pequenos fazendeiros também tinham seus cativos.

Nas cidades haviam muitos escravos. Limpavam a casa, na cozinha, tratavam cavalos, traziam água.

Outros eram utilizados em obras públicas: construção de prédios, calçamento de ruas, carregar excrementos humanos (tigres). Ajudavam nos trabalhos de ferreiros, carpinteiros, alfaiates, etc.

Um exemplo interessante era o escravo de ganho que buscava um emprego, ganhava uma certa quantia de dinheiro, que pertencia ao senhor.

Escravos podiam ser alugados para alguns serviços como transportar móveis de uma casa para outra, serviços sexuais, entre outros.

Todos somos africanosTodos somos africanos Música Comidas típicas Palavras Conhecimentos tecnológicos Artesanato Mineração

A escravidão marcou a sociedade brasileira atual. Os negros e mulatos, que descendem dos antigos escravos, são a maioria dos pobres. Os descendentes dos índios também não estão em melhor situação. Os sentimentos racistas e a discriminação contra a população negra continuam existindo no Brasil. Sem dúvida, são uma cruel herança do tempo da escravatura e mostra que o passado morto ainda pode ser um pesadelo para os vivos do presente.