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Boletim Informativo da Escola Superior do Ministério Público-Ano 5-nº 29-maio/junho/01 Se você tem sugestões ou artigos sobre as áreas de atuação do Minstério Público, participe! E se houver alteração de endereço, nnão se esqueça de avisar à ESMP, para continuar a receber o Plural. Três seminários promovidos pela ESMP atrairam a atenção de muitos membros do MP. Um deles, “Lei de Responsabilidade Fiscal”, despertou tanto interesse que foi levado para o Interior. Os outros, Acusação no Tribunal do Júri” e “Ação Civil Pública na Visão Judicial”, lotaram o auditório. Também com participação da ESMP, aconteceu em Campos do Jordão o I Encontro do Grupo de Trabalho de Combate ao Crime Organizado. 1) A palavra está com os GRUPOS ESPECIAIS de combate ao crime organizado 2) Dimas Ramalho conta o que o LEGISLATIVO pensa do Ministério Público ENTREVISTAS Páginas 10 a 18 Página 19 Páginas 7, 8, 9 e 20 SEMINÁRIOS IMPORTANTES DA ESMP MOVIMENTAM A CAPITAL E O INTERIOR

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Boletim Informativo da Escola Superior do Ministério Público-Ano 5-nº 29-maio/junho/01

Se você tem sugestões ou artigos sobre as áreas de atuação do Minstério Público, participe!

E se houver alteração de endereço, nnão se esqueça de avisar à ESMP, para continuar a receber o Plural.

Três seminários promovidospela ESMP atrairam a

atenção de muitos membrosdo MP. Um deles, “Lei deResponsabilidade Fiscal”,despertou tanto interesse

que foi levado para oInterior. Os outros,

Acusação no Tribunal doJúri” e “Ação Civil

Pública na Visão Judicial”,lotaram o auditório.

Também com participaçãoda ESMP, aconteceu em

Campos do Jordão oI Encontro do Grupo deTrabalho de Combateao Crime Organizado.

1) A palavra estácom os GRUPOS

ESPECIAISde combate ao

crime organizado

2) Dimas Ramalhoconta o que o

LEGISLATIVOpensa do

Ministério Público

ENTREVISTAS

Páginas 10 a 18 Página 19

Páginas 7, 8, 9 e 20

SEMINÁRIOS IMPORTANTESDA ESMP MOVIMENTAM

A CAPITAL E O INTERIOR

2 PluralEDITORIAL

Rodrigo César Rebello Pinho,Procurador de Justiça e diretor doCEAF/Escola Superior do MinistérioPúblico de São Paulo

BOLETIM INFORMATIVO DA ESCOLASUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Diretor:Rodrigo César Rebello Pinho

Assessores:Dalva Teresa da Silva

Francisco Antonio Gnipper CirilloRicardo Barbosa Alves

Waléria Garcelan Loma Garcia

Jornalista responsável:Rosana Sanches (MTb 17.993)

Apoio Gráfico:Imprensa Oficial do Estado

Rua da Mooca, 1.921

Tiragem:4.000 exemplares

EXPEDIENTEA Escola Superior do MinistérioPúblico de São Paulo orgulha-se deapresentar, nesta edição, mais umasérie de livros de colegas da Institui-ção abordando os mais diversos temasde interesse jurídico. O MP paulistase destaca no cenário nacional pelassuas atribuições e realizações, que sãoinegáveis, como também pela quali-dade cultural e moral de seus mem-bros. Há promotores de Justiça, jovense experientes, estudando, escrevendo,aprofundando conhecimentos, trans-mitindo experiências. É justo que esteCentro de Estudos destaque uma par-te de sua produção para a divulga-ção destas obras. Um dos trunfos daInstituição sempre foi a enorme pro-dução acadêmica de seus integran-tes. Este incentivo ao aperfeiçoamen-to de seus membros, pelos reflexospositivos trazidos, merece ser man-tido e estimulado.

Dentre as atividades do Centro deEstudos, neste bimestre, diversoseventos foram realizados na Capitale no Interior, abordando questõesemergentes, como a Lei de Respon-sabilidade Fiscal, e tradicionais, comoa Acusação no Tribunal do Júri, sem-pre com a presença de colegas comatuação destacada na área.

A preocupação com os destinosinstitucionais é uma constante nahistória do MP. Sem sombra de dú-vida, formamos a Instituição que pas-sou pela mais visível mudança estru-tural das últimas décadas. Passamosda condição de mero apêndice do Po-der Executivo, com a atribuição deoficiar inclusive em executivos fis-cais, para a de órgão político encarre-gado da defesa dos interesses sociaise individuais indisponíveis, inclusi-ve contra os abusos cometidos pelopróprio Estado. Esta transformaçãoem órgão de defesa da sociedade nãoé conseqüência de acasos. É decor-rência de lutas institucionais pensa-das, programadas, desenvolvidas evividas por gerações de promotoresde Justiça que nos antecederam. Oprimeiro concurso público para pro-motor de Justiça em São Paulo é de1939. A legislação que institucionali-zou o MP de São Paulo foi editadaem 1940. A equiparação com a Ma-gistratura em São Paulo data de1947, simultânea à proibição do exer-cício da advocacia em nosso Estado.A lista tríplice do Colégio de Procu-radores para a escolha do procura-dor-geral de Justiça a ser submetida

ao governador do Estado é uma con-quista de 54, conhecida como “LeiÁurea” porque dava independênciaà chefia da Instituição. Outro passoimportante foi a inclusão, em 73, noCódigo de Processo Civil, do dispo-sitivo que concedia legitimidade parao MP intervir nas ações em que háinteresse público evidenciado pelanatureza da lide ou da qualidade daparte. A tutela jurídica dos interes-ses difusos e coletivos, com os avan-ços permitidos pela ação civil públi-ca, é de 85. Todas estas conquistas eavanços foram consolidados apenasna Constituição de 88 e estendidospara os demais estados da Federação.

A história institucional não se en-cerra. Há um eterno porvir. Novosembates ocorrem, lutas são travadaspara a preservação das prerrogativasinstitucionais em razão dos enfren-tamentos surgidos em decorrência denossas novas atribuições, agora, cons-titucionais. O MP passou a incomo-dar nichos de poder até entãointocáveis. Pessoas que se considera-vam acima de qualquer suspeita fo-ram colocadas no banco dos réus. Umasimples diligência de busca e apreen-são, realizada com a prévia expedi-ção de mandado judicial, com resul-tados frutíferos, na residência de umex-presidente do Banco Central, foiindevidamente equiparada aos temposdo regime militar. Episódios como atentativa de aprovação da lei da mor-daça e de introdução de restrições aospoderes de investigação do Ministé-rio Público na área de improbidade ad-ministrativa, apesar de superados pelaenérgica reação da imprensa, da opi-nião pública e dos órgãos da socieda-de civil, não devem ser esquecidos.

Há muito ainda a ser feito. Naárea criminal não há como se pre-tender combater as novas formas decriminalidade organizada, como otráfico de pessoas, armas e entorpe-centes, a lavagem de dinheiro, comos mecanismos tradicionais previs-tos na legislação processual penaleditada na década de 40, apropria-dos para apuração de crimes cometi-dos de forma isolada, desprovidos deuma complexidade maior. Com estepropósito, em evento realizado pelaProcuradoria-Geral, com apoio doCAOCriminal e da ESMP, foi pro-movido, em Campos do Jordão, o “IEncontro do Grupo de Trabalho deCombate ao Crime Organizado”, quecontou com a presença do general

Alberto Cardoso, ministro-chefe doGabinete de Segurança Institucionalda Presidência da República, o queevidencia a necessidade de a Institui-ção se aproximar de outros órgãospúblicos para enfrentar de forma efi-caz as novas formas de criminalidade.A grande novidade do evento foi cons-tatar o crescente entusiasmo e a qua-lidade das atividades desenvolvidaspor promotores da Capital e do Inte-rior. Houve uma troca profícua de ex-periências. Foi aprovada a Carta deCampos do Jordão, na qual se propõea criação dos GAERCOs (Grupos deAtuação Especial Regional para a Pre-venção e Repressão ao Crime Orga-nizado) em todo o Estado. Dada a re-levância para os destinos da Institui-ção, o texto é reproduzido na íntegranesta edição. Para um aprofundamen-to da discussão sobre o tema, “Plu-ral” traz ainda um interessante deba-te, com representantes do GAECO,GAESF e GAERPA e do assessor es-pecial das Atividades de Combate àsOrganizações Criminosas.

Finalmente, merece destaque, naúltima página deste informativo, apalestra proferida pelo desembargadorSidnei Benetti, sobre “A visão judicialda ação civil pública”, apresentandouma série de ponderações para análi-se, reflexão e crítica pelos membrosda Instituição.

Plural 3

Na última edição de “Plural,” divulgamos alguns títulos de membros do MPque estão nas livrarias. Confira outros, nesta e nas próximas páginas.

LIVROS

Parte da coleção “Juristas da Atu-alidade”, organizada e dirigidapor Hélio Bicudo, “A ProteçãoConstitucional da Informação e oDireito à Crítica Jornalística”, dopromotor de Justiça Vidal Ser-rano Nunes Júnior, traça um pa-norama sobre o direito de infor-mação e todos os institutoscorrelatos, como o direito de opi-nião, de expressão, de comunica-ção, de privacidade, de honra, deintimidade e de imagem. EditoraFTD, 138 páginas.

Parte da “Coleção de Estudos deProcesso Penal Prof. JoaquimCanuto Mendes de Almeida”,“Revisão Criminal”, do procura-dor de Justiça Sérgio de Olivei-ra Médici, reproduz a mono-grafia com a qual o autor obtevetítulo de mestre na Faculdade deDireito da USP. RT, 340 páginas.

Fruto do Curso de Especializaçãoem Interesses Difusos da ESMP,“Tutela Penal do Meio Ambien-te”, do promotor Luís PauloSirvinskas, analisa o direito pe-nal ambiental e a jurisprudência,com fortes críticas à responsabili-dade penal da pessoa jurídica.Saraiva, 160 páginas.

Neste livro, o promotor PedroHenrique Demercian faz umaanálise dos principais textos queinformam o processo penal, bus-cando seu real perfil, para explo-rar suas virtualidades, especial-mente no que se refere ao proces-so oral. Analisa o direito estran-geiro, especificamente em algunspaíses de tradição romanista, queadotaram com sucesso a oralida-de. Traz ainda um estudo críticodas tendências da nossa legislaçãoprojetada. Atlas, 130 páginas.

CONFIRA MAIS NOVIDADES DOS MEMBROS DO MP

Com a doação de seus maisrecentes livros, o procurador deJustiça Hugo Nigro Mazzilienriqueceu a nossa bibliotecaneste mês de junho. Direção,assessoria, promotores, alunose funcionários que fazem usoconstante da biblioteca daescola agradecem ao professor,sempre atencioso com osassuntos refentes ao MinistérioPúblico, em geral, e à EscolaSuperior, em particular.

DOAÇÃO

Plural 5LIVROS

Traço marcante de “Curso de Di-reito Penal – Parte Geral”, obrade Ricardo Antonio Andreucci,é o cunho didático das disposições,abordando questões de forma sim-ples e objetiva. A proposição, en-tretanto, não elide o conteúdoabrangente e completo. Juarez deOliveira, 216 páginas.

“Princípios Constitucionais Re-guladores da Administração Pú-blica”, do procurador MarinoPazzaglini Filho, propõe-se aexaminar a legalidade da atua-ção dos agentes públicos e o seucontrole tanto pelo MP comopelo Poder Judiciário. Aborda anatureza, as funções e a impor-tância dos princípios constituci-onais, os princípios reguladoresda atuação da Administração Pú-blica e a momentosa questão dadiscricionariedade administrati-va. Atlas, 130 páginas.

Em parceria com o Instituto Bra-sileiro de Ciências Criminais ecom o Complexo Jurídico “Da-másio de Jesus”, Guaracy Min-gardi publica “O Estado e o Cri-me Organizado”, trabalho resul-tante de tese sobre o Crime Orga-nizado para obtenção do título dedoutor em Ciência Política na Fa-culdade de Filosofia da USP, e quetraz expressiva contribuição paracompreensão e repressão das or-ganizações criminosas, colhida emricas experiências do dia-a-dia.240 páginas.

“Ministério Público e Democra-cia: teoria e páxis” reúne quatroensaios do promotor de JustiçaMarcelo Pedroso Goulart, nosquais o autor faz uma reflexãosobre a função política e as pos-sibilidades de atuação do minis-tério Público à luz do novo perfilinstitucional delineado pela Cons-tituição de 88. O autor apresentacasos concretos, que revelam apossibilidade do uso do direitocomo instrumento de transforma-ção social. Editora de Direito,com um total de 280 páginas.

Pedro Henrique Demercian eJorge Assaf Maluly, em“Cursode Processo Penal”, fornecem aoleitor noções fundamentais e tudoo que é relevante para a práticaprofissional e a preparação para osmais difíceis concursos jurídicos.O grande mérito da obra está nafluência do texto e no poder de sín-tese dos autores. Atlas, 578 págs.

6 PluralLIVROS

Ex-promotor de Justiça e ex-juiz de Direito, o professor LuizFlávio Gomes e o professor epromotor William Terra deOliveira se uniram para estu-dar a Lei 9.437/97, que consti-tui, sem dúvida, uma real ten-tativa de controle das armas defogo no âmbito nacional. A obracontempla tanto a doutrina na-cional como fontes do direitocomparado, trazendo, na ínte-gra, a principal legislação naci-onal e internacional sobre o as-sunto. RT, 314 páginas.

Embora norteado por visível pre-ocupação com a metodologia dodesenvolvimento, EdilsonMougenot Bonfim deixatransparecer toda a paixão quetem pela profissão na obra “Júri– Do inquérito ao Plenário”. Edi-tora Saraiva, 260 páginas.Em “Direito Penal da Socieda-de”, o mesmo autor cuida da res-ponsabilidade penal da pessoajurídica, dos crimes de colarinhobranco, dos crimes tributários edos de assédio sexual. EditoraOliveira Mendes, 304 páginas.

Antonio Carlos da Ponte divi-de “Falso Testemunho no Proces-so” em quatro capítulos para ana-lisar o crime de falso testemunhoe suas implicações. No primeiro,avalia o falso testemunho no cam-po de atuação do Direito Penal;no segundo, aborda as conseqü-ências do crime no juízo arbitral,nas CPIs e no processo adminis-trativo; no terceiro, o falso teste-munho é avaliado junto ao pro-cedimento do júri; e, por último,em face da Lei n.º 9.099/95. Edi-tora Atlas, 130 páginas.

“Juizados Especiais Criminais –Doutrina e jurisprudênciaatualizadas”, além de discorrersobre princípios e regras gerais,procedimentos e recursos da Lei9.099/95, que instituiu os Jui-zados Especiais Criminais, abor-da diversas orientações sur-gidaspara dirimir divergências doutri-nárias e jurisprudenciais sobresua correta aplicação. O autor,Victor Eduardo Rios Gonçal-ves, faz minuciosa análise em tor-no de julgados dos Tribunais.Editora Saraiva, 114 páginas.

Plural 7EVENTOS

“LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL” COMEÇA NACAPITAL E PERCORRE O INTERIOR PAULISTA

Realizado nos dias 18e 25 de maio, no auditório da ESMPna Rua Minas Gerais, o seminário “Acusação no Tribunal doJúri” atraiu um grande número de promotores interessados nasexposições dos doutores Hermínio Alberto Marques Porto, pro-fessor titular de Direito Processual Penal da Faculdade de Di-reito da PUC/SP; Pedro Franco Campos, procurador de Justiçae professor de Direito Penal da FMU/SP; Antonio Visconti, pro-curador de Justiça e Alberto Marino Júnior, ex-procurador deJustiça e desembargador do Tribunal de Justiça aposentado.

TRIBUNAL DO JÚRI

Acima, Alberto Marino Jr., Rodrigo César RebelloPinho, diretor da ESMP, e Antonio Visconti, no dia 18; abaixo, dia 25, Pedro Franco de Campos, Hermínio Alberto Marques Porto e José Oswaldo Molineiro, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais, com o diretor da ESMP.

Francisco CarlosGrancieri, diretor da Unidade Regional deAraçatuba doTribunal de Contas doEstado de São Paulo; Airton Florentino deBarros, procurador deJustiça, coordenadordo Centro Operacional das Promotorias dos Direitos Constitucionais do Cidadão; e Flávio de ToledoJr., assessor técnico do Tribunal de Contas do Estado; em palestra na Capital.No destaque, mesa formada em Serra Negra para discutir o mesmo tema.

A abertura, em São Paulo, no dia 23 deabril, com três expositores trantando dotema “Aspectos Jurídicos da Lei de Responsabilidade Fiscal, deu início ao se-

minário “Lei de Responsabilidade Fiscal”, que du-rou três dias em São Paulo para depois percorrer oInterior, com palestras em Araçatuba, São José doRio Preto, Presidente Prudente e Serra Negra.

No primeiro dia, os expositores foram Cláu-dio Ferraz de Alvarenga, vice-presidente do Tri-bunal de Contas do Estado de São Paulo; JoséLaury Miskulin, procurador de Justiça aposenta-do, aassor técnico do Tribunal de Contas de SãoPaulo; e Sérgio Ciqueira Rossi, secretário diretor-gerla do Tribunal de Contas de São Paulo.

No dia 25, com o tema “Orçamento, Contabi-lidade, Prestação de Contas, Relatórios e Anexosda Lei de Responsabilidade Fiscal”, os exposito-res foram Airton Florentino de Barros, Flávio deToledo Júnior e Francisco Carlos Grancieri (verfoto de abertura da página).

Tema de interesse de todos os servidores pú-blicos brasileiros, a Lei de Responsabilidade Fis-cal atraiu ainda a atenção no Interior do Estado.

Em Serra Negra, por exemplo, no dia 14 demaio, um total de 120 pessoas assistiu à palestraproferida por Fernando Grella Vieira, no RádioHotel, palco do evento graças ao proprietário ArielGaiolli. A platéia esteve formada por 16 promotores deJustiça, um procurador de Justiça, seis juízes de Direi-to, dois prefeitos, 17 vereadores, seis advogados e setenta

e dois estagiários. A coordenação geral do semináriofoi do diretor da ESMP Rodrigo César Rebello Pinho ea coordenação local, de Michel Betenjane Romano, pro-motor de Justiça de Serra Negra.

8 PluralCAMPOS DO JORDÃO

Odesejo comum de en-contrar meios de aper-feiçoamento para tor-nar ainda mais eficaz o

combate ao crime organizado reu-niu diversas personalidades públi-cas no Mont Blanc Hotel, em Cam-pos do Jordão, nos dias 18, 19 e20 de maio, para o I Encontro doGrupo de Trabalho de Combate aoCrime Organizado. O resultado doevento pode ser conferido na “car-ta” publicada na íntegra, na próxi-ma página, que aponta diversos ca-minhos - o principal deles, a cria-ção de grupos de atuação especialtambém nas principais cidades dointerior do Estado de São Paulo.

Promovido pela ProcuradoriaGeral de Justiça do Estado de SãoPaulo, pelo Centro de ApoioOperacional das Promotorias deJustiça Criminais, pela Assesso-ria Especial de Combate ao Cri-me Organizado e pela Escola Su-perior do Ministério Público, comapoio da Nossa Caixa, o encon-tro teve a abertura, na noite do dia18, feita pelo procurador-geral deJustiça de São Paulo, José Geral-do Brito Filomeno, e pelo coorde-nador do Centro de Apoio Ope-racional das Promotorias de Justi-ça Criminais, José Oswaldo Mo-lineiro, contando com a presença dogeneral Alberto Mendes Cardoso,

ministro-chefe do Gabinete de Se-gurança Institucional da Presidên-cia da República. A palestra, como tema “A CPI do Narcotráfico”,foi proferida pelo deputado esta-dual Dimas Ramalho, presidenteda Comissão Parlamentar de Inqu-érito constituída com a finalidadede apurar organizações que atuamno narcotráfico no Estado de SãoPaulo, suas relações com roubo decargas, assassinatos, lavagem dedinheiro e demais atividades cri-minosas relacionadas com onarcotráfico, assim como o desen-volvimento, a participação ou co-laboração de agentes públicos eórgãos estatais nas ações do tráfi-co de drogas.

Na manhã do segundo dia, aabertura ficou a cargo de RodrigoCésar Rebello Pinho, diretor daEscola Superior do Ministério Pú-blico de São Paulo, e a palestra“COAF – Atribuições e sua impor-tância na apuração de casos de La-vagem de Dinheiro” foi deAdrienne Senna, presidente doConselho de Controle de Ativida-des Financeiras, tendo MarceloBatlouni Mendroni, promotor deJustiça do GAECO, como deba-tedor; na seqüência, RamonFernando Silva, coordenador ge-ral do Contencioso da SENAD –Secretaria Nacional Antidrogas,expôs sobre “Crime Organizado eQuestões Patrimoniais – Perdi-mento de Bens”, com Maria Tere-sa Penteado de Moraes Godoy,promotora de Justiça do GAERPA,como debatedora. À tarde, a rea-bertura dos trabalhos foi feita peloassessor especial das Atividades deCombate às Organizações Crimi-nosas, Alberto de Oliveira AndradeNeto, e seguiu-se uma reunião do

I ENCONTRO DO GRUPO DE TRABALHODE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO

Da esquerda para a direita, Marcelo Mendroni,Rodrigo César Rebello Pinho, Alberto MendesCardoso e Adrienne Senna.

Plural 9

Grupo de Trabalho de Combateao Crime Organizado onde formadiscutidas as medidas extrajudi-ciais (obtenção de informações –dados cadastrais e sigilo; e pro-cedimento investigatório do MP –protocolado criminal). No fim datarde, comandadas respecti-vamente por José Oswaldo Moli-neiro, coordenador do Centro de

Apoio Operacional das Promoto-rias de Justiça Criminais, e porAlberto Carlos Dib Júnior, dire-tor-geral do Ministério Público, asdiscussões foram sobre o Ante-projeto de Ato de Criação doGAERCO – Grupo de AtuaçãoEspecial Regional para Prevençãoe Repressão ao Crime Organi-zado e sobre a implantação do

Os Procuradores e Promotoresde Justiça do Estado de São Paulo,reunidos por ocasião do 1º Encon-tro do Grupo de Trabalho do CrimeOrganizado, em Campos do Jordão,de 18 a 20 de maio de 2.001, con-tando com a honrosa participaçãodo General Alberto Mendes Cardo-so, DD. Ministro-Chefe do Gabinetede Segurança Institucional da Pre-sidência da República, do DoutorDimas Ramalho, DD. Deputado Es-tadual da Assembléia Legislativa doEstado de São Paulo, Doutor JoséGeraldo Brito Filomeno, DD. Procu-rador Geral de Justiça do Estado deSão Paulo, Doutor João FranciscoMoreira Viegas, DD. Integrante doÓrgão Especial do Colégio de Pro-curadores de Justiça, Doutor JoséOswaldo Molineiro, DD. Coordena-dor do Centro de Apoio Operacionaldas Promotorias de Justiça Crimi-nais, Doutor Rodrigo César RebelloPinho, DD. Diretor da Escola Supe-rior do Ministério Público, DoutoraEvelise Pedroso Teixeira PradoVieira, DD. Conselheira do Conse-lho Superior do Ministério Público,Doutor Alberto Carlos Dib Júnior,DD. Diretor-Geral do Ministério Pú-blico, Doutor Alberto de OliveiraAndrade Neto, DD. Assessor Espe-cial das Atividades de Combate àsOrganizações Criminosas, DoutoraAdrienne G. Nelson de Senna, DD.Presidente do Conselho de Controlede Atividades Financeiras, DoutorRamon Fernando Silva, DD. Coor-denador-Geral do Contencioso daSecretaria Nacional Anti-Drogas,aprovaram a Carta de Campos deJordão, como forma de expressar asíntese das conclusões hauridas dosintensos debates realizados, bemcomo sua divulgação à classe.

O equacionamento do problemada criminalidade organizada é um dosgrandes desafios colocados aos ope-radores do Direito para o século XXI,em razão de suas características pe-culiares, dentre elas o alto poder deintimidação e corrupção, impondo-seao Ministério Público do Estado deSão Paulo, neste contexto contempo-râneo, identificar sua política de atua-ção institucional, para orientar a atu-ação harmônica de seus membros nocombate a esse fenômeno.

A propósito, ainda em meados dadécada passada, foi criado o Grupode Atuação Especial para a Repres-são ao Crime Organizado (GAECO),e posteriormente o Grupo de Atua-ção Especial de Repressão e Preven-ção dos Crimes Previstos na Lei Anti-Tóxico (GAERPA). Na mesma linha,mais recentemente, foi instituída aAssessoria Especial de Coordenaçãodas Atividades de Combate às Or-ganizações Criminosas, no Ministé-rio Público do Estado de São Paulo.

Todavia, segundo as estatísticasoficiais da Secretaria da SegurançaPública de São Paulo e as conclu-sões do Relatório Final da ComissãoParlamentar de Inquérito doNarcotráfico da Câmara Federal, aexpansão da criminalidade organiza-da pelo interior do Estado de SãoPaulo, notadamente o tráfico ilícitode substâncias entorpecentes, é umarealidade inegável.

Urge, pois, uma vez mais, voltaros olhos para a realidade emergente,para - com a experiência já desenvol-vida na Capital - possibilitar tratamen-to igualitário no combate ao crime or-ganizado em todo o Estado. E o ca-minho natural para tanto é a institui-ção de grupos especializados em di-versas regiões, a fim de possibilitar

uma atuação mais eficiente por par-te dos Promotores de Justiça.

Por outro lado, em razão da insu-ficiência do critério adotado pelo le-gislador para conceituar o fenômenoda criminalidade organizada, bemcomo ante a necessidade de identifi-car uma delimitação material para aatuação dos membros do MinistérioPúblico, de rigor delimitar o âmbitode atuação dos Promotores de Justi-ça que atuarão nesta área, de modoa ensejar a concentração na apura-ção de certas infrações penais con-sideradas prioritárias.

Não pode ser olvidada, ainda, anecessidade de integração entre to-dos os membros da instituição queatuarão de forma especializada, afi-gurando-se oportuno, para tanto, arealização de constantes reuniõescom a finalidade de promover trocasde idéias em relação à atuação prá-tica nesse delicado campo. Igualmen-te, de rigor dotar os Promotores deJustiça de estruturas material e hu-mana mínimas, para realização de di-ligências próprias e para a formaçãode um banco de dados com vistas acombater eficazmente a evolução docrime organizado.

Por tais motivos, entendemosconveniente que a Egrégia Procura-doria Geral de Justiça encaminhe,com a maior brevidade possível, aoEgrégio Colégio de Procuradores deJustiça, Anteprojeto de Ato para a cri-ação dos Grupos de Atuação Espe-cial Regional para a Prevenção e Re-pressão ao Crime Organizado –GAERCOs, como forma do Ministé-rio Público do Estado de São Paulocumprir com seu papel constitucio-nal de defesa da ordem pública, doregime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis.

ÍNTEGRA DA CARTA

programa de informatização dasPromotorias de Justiça Criminal.

No domingo, último dia, novareunião do Grupo de Trabalho deCombate ao Crime Organizadocuja pauta previa a discussão dasmedidas judiciais (medidas asse-curatórias – indisponibilidade debens; quebra de sigilo bancário efiscal; inversão do ônus da prova).

CAMPOS DO JORDÃO

10 PluralENTREVISTA

Plural: Dr. Alberto, fale sobre aimportância do recente evento emque se aprovou a Carta de Cam-pos do Jordão e sobre grupos es-peciais de combate ao crime orga-nizado no Interior, que é o princi-pal assunto de que trata a carta.Alberto de Oliveira AndradeNeto: Esse encontro cristaliza umasérie de iniciativas que o MinistérioPúblico de São Paulo tem tomadopara aprimorar a atuação dos promo-tores no combate à criminalidade or-ganizada, fenômeno que, hoje, colo-ca-se como dos mais relevantes paraa atuação do promotor criminal. Aquestão é de tal importância que hojeverificamos essa preocupação não sóno Ministério Público paulista, masem praticamente todos os MPs doBrasil. Algumas iniciativas foramfeitas no sentido de formação de gru-pos de atuação especial que tiveramo objetivo inicial de possibilitar acondensação de informações e for-talecer a filosofia do trabalho emequipe, do trabalho conjunto entreos promotores de forma a facilitar ofluxo maior de informações, paraque se tenha um grau de conheci-mento da matéria – ou até de espe-cialização – mais acentuado, paraque possamos ter condições maisefetivas de atuar na área de comba-te ao crime organizado. Verificamos

que houve essa iniciativa no âmbitoda Capital, com a criação de gruposespecializados que tinham um âm-bito de atuação muitas vezes restri-to. O primeiro foi o Grupo de Atua-ção de Sonegação Fiscal, que, inclu-sive pela especialidade da matéria,sentiu a necessidade de ter uma atua-ção conjugada neste setor; depois ti-vemos a criação do GAECO, já numaárea mais ligada à existência do com-bate ao crime organizado e em quese verificou também a importância daunião; e, por último, o GAERPA, fi-xando-se na questão relacionada aotráfico de entorpecentes. Esses doisúltimos grupos, já quando começa-ram a se constituir, passaram a ter umtrabalho relevante não só na Capital

como também no Interior do Estado,auxiliando e atuando em casos de im-portância. Isto nos levou à conclusãoda necessidade de que essa iniciati-va se estendesse ao Interior, mes-mo porque os promotores da Capi-tal não tinham totais condições dedar toda a assistência necessáriaaos colegas do Interior. Foi dada,na medida do possível, e isto des-pertou também nos colegas do In-terior a determinação de fazeremessas organizações. Eles vieramaqui, tanto no GAECO como noGAERPA, verificaram as experiên-cias, os trabalhos, as formas de in-vestigação, e estão levando issopara o Interior. Um dado que achoimportante: isto é resultado de atua-ção dos promotores. A criação dosgrupos é conseqüência da dedica-ção dos colegas ao trabalho. Elesarregaçam as mangas, começam atrabalhar, sentem as dificuldades,percebem as deficiências e aí pas-sam a verificar quais são as neces-sidades que eles têm e, dentre elas,percebem que há a necessidade da

GAESF, GAECO E GAERPA: POLÊMICOS EESPECIAIS, OS GRUPOS VIERAM PARA FICAR

Eles foram criados há pouco tempo: o mais antigo, o GAESF,surgiu em 94; o GAECO, em 95; e o mais recente, o GAERPA,

tem apenas dois anos de existência. Mas os inquestionáveisresultados da atuação dos grupos especiais de combate ao crime

organizado aumentaram a responsabilidade do MP peranteà sociedade, que hoje espera mais da Instituição. Conheça de

perto o que fazem e o que pensam os integrantes desses grupos.

Participam desta entrevista: Alberto de Oliveira Andrade Neto,assessor especial de Coordenação dos Grupos de Atuação Especial

de Combate ao Crime Organizado; Fernando Arruda, promotorde Justiça do GAESF; Arthur Pinto de Lemos Júnior, promotor de

Justiça do GAECO; Flávio Farinazzo Lorza, sub-secretário do GAERPA; Rodrigo César Rebello Pinho, diretor da ESMP; eRosana Sanches, jornalista da ESMP, responsável pelo “Plural”.

Membros dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao CrimeOrganizado, na sala de reuniões da ESMP: balanço positivo nos poucosanos de existência do GAESF, GAECO e GAERPA, e novas perspectivascom a possibilidade de criação de grupos especiais no Interior.

Plural 11ENTREVISTAformação de grupos de trabalho or-ganizado, de trabalho coletivo. Oevento de Campos do Jordão é o re-trato disto. A possibilidade desse atoda Procuradoria Geral de Justiça, decriação dos grupos de atuação espe-cial no Estado inteiro, é resultado dotrabalho desenvolvido pelos promo-tores dessa área. Tanto acreditamosque o Interior tem necessidade deformação de grupos especiais locaisque estamos dando apoio e incenti-vo para a formação desses grupos.Plural: Quais as finalidades decada grupo, quantos são os inte-grantes, qual é a estrurura e asprincipais dificuldades? Vamoscomeçar com o mais antigo, oGAESF, Grupo de Atuação Espe-cial de repressão aos crimes deSonegação Fiscal.Fernando Arruda: O GAESF foicriado em 94, pela Procuradoria Ge-ral de Justiça. O grupo, inicialmen-te, contava com seis promotores, de-pois caiu para cinco, quatro e três.Hoje somos em quatro colegas tra-balhando na área. A atribuição dogrupo é oficiar em todos os proces-sos, inquéritos e representações so-bre crimes contra a ordem tributá-ria, inclusive participando das au-diências no fórum da Barra Funda.Arthur Pinto de Lemos Júnior: OGrupo de Atuação de Combate aoCrime Organizado, o GAECO, foicriado em 95, na gestão do Dr. Bur-le. É composto por cinco promoto-res criminais da Capital e um pro-motor substituto. O GAECO, comoo próprio nome diz, tem a finalidadede apurar os crimes praticados pororganizações criminosas. Não é pos-sível concentrar no GAECO um úni-co tipo de delito, já que as organiza-ções criminosas, por suas própriascaracterísticas de atuação, sempreatuam em mais de um delito, há umadiversidade de atuação muito gran-de. Portanto, temos os crimes come-tidos por organizações integradaspor agentes públicos, que hoje, semdúvida alguma, são a grande maio-ria apurada por nós, temos os cri-mes praticados por assaltantes decargas de caminhões, os crimes pra-ticados por policiais civis, e outrosesquemas organizados, tais como

crimes envolvendo licitações públi-cas e empresas que são criadas exa-tamente para atuar tão somente nes-se tipo de criminalidade, temos osdesmanches, a lavagem de dinhei-ro, enfim, uma coletânea de deli-tos, que poderia ser exemplificadacom o índice da parte especial docódigo penal e várias leis esparsas.Flávio Farinazzo Lorza: OGAERPA, Grupo de Atuação Es-pecial de Repressão e Prevençãodos crimes da Lei Anti-tóxicos foicriado por ato da ProcuradoriaGeral de Justiça em maio de 99 emodificado por ato conjunto daPGJ e da Corregedoria Geral emoutubro de 99. A partir da modi-ficação, o GAERPA assumiu a atu-al composição e atribuição. O gru-po é composto por seis promotoresda Capital e tem como atribuiçãoessencial atuar em todos os inqué-ritos policiais de tráfico e de portede entorpecentes que tramitam pelofórum da Barra Funda. O GAERPAatua também em alguns processos,por conta da natureza da infração de-finida no próprio ato. Essencialmen-te, são os casos nos quais estão en-volvidos funcionários públicos comoindiciados, nos quais se possa iden-tificar organização criminosa e, ex-cepcionalmente, em que, por umaanálise específica, o grupo entendaque haja relevância do acompanha-mento do processo até o final e des-de que haja concordância do promo-tor natural e concordância da Pro-curadoria Geral de Justiça. Alémdessas funções essenciais de traba-lhar com o expediente forense da Ca-pital, o GAERPA tem, até por contada especialização da atuação, tra-balhado em alguns casos do Interi-or, seja pelo fato de já ter adquiridoexperiência na área específica donarcotráfico, seja também pela difi-culdade que os colegas do Interiortêm de conseguir uma atuação maisefetiva junto à polícia. Uma das ca-racterísticas da nossa atuação é aconstante preocupação de trabalharem conjunto, seja com outros órgãosdentro do MP ou outros órgãos ofi-ciais, institucionais, que atuam narepressão e na prevenção denarcotráfico. É importante ressaltar,

e no encontro em Campos do Jordãoisso ficou bastante evidenciado, quenão há como negar que os momentosfrutíferos, os momentos de sucessoque o GAERPA teve foram sempreem decorrência da atuação conjuga-da. Em Campos do Jordão, a presen-ça de representantes da Senad (Se-cretaria Nacional Anti-drogas) e derepresentantes da CPI estadual donarcotráfico mostraram isso clara-mente. Em dois exemplos concretosque até mencionei no encontro, o con-vênio firmado entre a SENAD e oMinistério Público Estadual para adestinação de percentual de verbaobtida na venda antecipada de bensrelacionados com a prática do crimede tráfico de entorpecentes; e outro,no que diz respeito à atuação da CPIestadual do narcotráfico, com a ins-tauração de um inquérito policial e ooferecimento de uma denúncia de umprocesso de pelo menos seis pessoasenvolvidas num caso de bastante re-percussão no município de Atibaia,comarca essa onde o GAERPA tematuação conjunta com o promotor na-tural e que, por conta dessa atuaçãoconjunta, possibilitou uma melhorapuração dos fatos e provavelmente,espera-se, a condenação das pessoasque estão sendo processadas.Plural: O Brasil já dispõe do ins-trumental jurídico legislativo (leide organizações criminosas, pro-teção à testemunha, lavagem de di-nheiro, perdimento de bens, leicomplementar da quebra do sigilobancário etc.) necessário para a re-pressão à criminalidade ou há ne-cessidade de aprimoramento?Alberto: Não há dúvida de que hou-ve um avanço muito grande na áreade legislação penal, de sorte a possi-bilitar uma atuação mais efetiva dosórgãos de repressão à criminalidade,seja o MP, seja a polícia judiciária eo próprio Judiciário, na medida emque os juízes também passaram a tera possibilidade de conceder medidasque, antes, eram difíceis para eles.Hoje está tudo mais explícito – escu-ta, interceptação telefônica –, ficoumais clara a perspectiva da quebrade sigilo bancário, fiscal, a escutaambiental. Hoje temos até outros me-canismos, como, mais recentemente,

12 PluralENTREVISTAa possibilidade de infiltração. A leide lavagem de dinheiro é muito im-portante para nós e, inclusive, já éuma lei avançada se considerarmosas leis de lavagem de dinheiro ante-riores, em outros países. A nossa,que é de 98, já veio com as modifi-cações feitas nos outros países; étodo um arcabouço legal que hoje,sem dúvida alguma, possibilita amelhor atuação do Ministério Públi-co. É claro que temos as condiçõeslegais, mas faltam as condições ma-teriais. Ainda estamos numa situa-ção muito difícil do ponto de vistade recursos materiais. Uma questãodo ponto de vista legal em queestamos ainda no meio termo é ocontrole das investigações. Traba-lhamos com o inquérito policial e aestrutura que existe no Código Pe-nal é antiquada. Precisamos avan-çar, do ponto de vista legal, na mu-dança de estruturação do inquéritopolicial, que na forma em que se en-contra não é um instrumento efici-ente para o combate da criminalida-de organizada. Temos que pensar naexperiência de outros países, quetêm mostrado a necessidade das in-vestigações do inquérito policial es-tarem associadas diretamente com otrabalho daquele que é o responsá-vel pelo ingresso da ação penal, quetem o domínio da ação penal, que éa Promotoria de Justiça. As institui-ções têm que trabalhar em maiorsintonia. Hoje, verificamos que aténo âmbito policial temos duas estru-turas policiais que tem dificuldadede trabalhar em conjunto que é a po-lícia militar e a polícia civil. Istotambém é um aspecto de naturezalegal com a qual, embora seja umamissão complicada, mais dia menosdia, necessariamente vamos ter quemexer com ela de modo mais radi-cal. Em todo o arcabouço legal, oque falta mexer mesmo me pareceé no inquérito policial, e na estru-turação de relacionamento de co-mando de investigação entre as po-lícias, e entre a polícia e o MP. Emessência, acho que seria esse o ca-minho. Do ponto de vista dos recur-sos materiais, temos ainda muitas fa-lhas e muitas faltas. Faltam recur-sos de trabalho de investigação. Em

primeiro lugar, recursos humanos,temos dificuldade pela ausência derecursos humanos não só na área deinvestigação de campo propriamen-te dita, na área de sair à rua, mas naárea de informações, na área detabulação de dados, na área de re-colhimento de informações, ou seja,de trabalho de fomentar a ob-tenção desses dados, eudiria na área de inteli-gência. Ainda em re-cursos materiais, te-mos a questão dasviaturas, que es-tão em situaçãobastante precári-as – os colegassabem disso.Toda hora estãoquebrando. Te-mos dificuldadede reposição, te-mos ainda dificul-dade na obtenção deoutros instrumentosde investigação comoobjetos que possam serutilizados seja para uma es-cuta, uma microcâmera, um gra-vador, temos dificuldades, inclusi-ve, da reprodução posterior das gra-vações. Mas temos obtido algunsavanços. Detectadas as dificulda-des, verificamos o seguinte (e issoé um outro problema): não é por-que a PGJ não dê apoio. Na verda-de, o orçamento do Ministério Pú-blico está sendo bastante comprimi-do. E estamos tendo dificuldademuitas vezes de realizar até as ati-vidades normais, mais ainda quan-do se pretende uma atuação de mai-or amplitude. Um dos caminhospara isso (aliás, o caminho geradopor lei), os colegas do GAERPAtêm essa preocupação e estamos co-meçando a efetivar isso, é que ocombate ao crime possa ser finan-ciado pelo próprio crime, ou seja,pelo próprio resultado da repressãoao crime. Temos que ter sempre emmente essa preocupação do seqües-tro e perdimento dos bens daquelesque estão sendo submetidos a pro-cessos judiciais. Agora já temos osmecanismos legais para isso, o quefalta é darmos maior efetividade a

essas medidas legais. Não só no casodo tráfico, mas em várias outras atua-ções, há possibilidade de seqüestrode bens. Isso é um trabalho que oGAERPA desenvolve bastante e umadas nossas preocupações nesse en-contro em Campos do Jordão foi exa-tamente essa. Não foi por acaso que

o presidente do Senad foi con-vidado para o encontro. Foi

exatamente para fortale-cemos esse tipo deconvênio entre o MPe a União, com opropósito de arre-cadarmos recursospara nossa estru-turação. É fatoque a maioria dospromotores, prin-cipalmente ospromotores do In-

terior, ainda não dámuita atenção à

questão da apreen-são e ao perdimento

de bens, inclusive sobrea venda antecipada desses

bens, que é um mecanismo im-portante para nós. Mas vemos que hápromotores preocupados com isso emuitas vezes buscando recursos pe-rante a própria comunidade, o que édemonstração da legitimação da atua-ção do MP. Estamos obtendo algonesse sentido, não só diretamente dosórgãos não-governamentais, mas atéde órgãos de natureza privada, quetêm manifestado intenção de fazerdoações ao MP para que possamosatuar com mais eficácia na área.Flávio: Gostaria de falar em relaçãoà colocação de que a principal falhade natureza legislativa é a formacomo o inquérito policial é conduzi-do. Essa é uma questão bastante ex-tensa. Uma preocupação, principal-mente dos promotores do GAERPAé a seguinte: tendo em vista esta rea-lidade – cuja modificação não é, apa-rentemente, tão próxima – de traba-lhar com ele (afinal de contas, é afonte principal de informação que umpromotor de justiça criminal tem), oMP deve ter o controle total da in-formação contida no inquérito poli-cial. E a forma pela qual entendemosque se possa materializar o controle

“Houvegrande avanço

na área de legislaçãopenal. Está tudo mais

explícito: escuta,interceptação telefônica,

quebra de sigilo bancário.Hoje temos a posibilidade

de infiltração e até a nossalei de lavagem de

dinheiro é avançada.”(Alberto de Oliveira

Andrade Neto)

Plural 13ENTREVISTAabsoluto da informação no inquéritopolicial é a implementação, no âm-bito estadual, do sistema de movi-mentação de autos, da intranet doMP, que já existe no município deSão Paulo, ou melhor, que abrangeos inquéritos policiais e processosque tramitam pela Barra Funda. Osistema cadastra todas as informa-ções existentes penalmente relevan-tes, na cópia do flagrante, no inqué-rito policial, no processo penal e aténos autos em fase de recurso no Tri-bunal. Não só contém informaçãocomo permite o confrontamento dainformação dos inquéritos policiaisem andamento no fórum criminal daBarra Funda e, num futuro próximo,do Estado. O GAERPA tem a expe-riência de trabalhar com essa infor-mação no cotidiano. A informaçãoque existe, que ainda é falha e pre-cisa de aprimoramento, é muito im-portante e nos permite, através doconfronto de dados, identificar des-membramentos, novos crimes, rela-ções de crimes do município de SãoPaulo com os do Interior, crimes detráfico de entorpecentes com crimesde roubo de carga. A utilização dosistema exige aprimoramento e uti-lização efetiva dos promotores quetrabalham no inquérito poli-cial. A realidade doGAERPA de trabalhardiariamente com oinquérito policial,de fazer a consultadiária das infor-mações no siste-ma, já nos permi-tiu a identifica-ção de quadri-lhas, de gruposorganizados pa-ra a prática docrime de tráfico deentorpecentes enão nos tem permi-tido, por exemplo, oalcance da relação doscrimes de narcotráficocom as chacinas porque oTribunal do Júri e as Promotoriasque atuam junto a ele não estão in-seridos no sistema. Em Campos doJordão houve destaque com relaçãoao aprimoramento do sistema de

movimentação de autos. A efetiva uti-lização do sistema pode colocar o MPà frente da polícia e à frente dos ór-gãos auxiliares no combate àcriminalidade ligados ao MP. Apa-rentemente, essa é uma priori-dade da Procuradoria Geral.Plural: As leis editadaspelo Governo têm“desaquecido”ocombate aos cri-mes contra a or-dem tributária.Quais as mudan-ças necessárias?Dr. Fernando:Sob a ótica doDireito Penal Tri-butário, uma re-trospectiva históri-ca nos leva à lei4.729/65, que ape-nava o crime com seismeses a dois anos de de-tenção. Uma pena muitopequena e uma lei que tam-bém previa a extinção da punibili-dade pelo pagamento do tributo an-tes da denúncia. Depois, tivemos alei 8.137/90, na época do GovernoCollor, que agravou a pena para doisanos a cinco de reclusão. É o instru-

mento mais eficaz ao combateà sonegação. Mas, no arti-

go 14 desta lei, ficouprevisto que o paga-mento também extin-guia a punibilidadee, embora comuma pena mais se-vera, não serviupara diminuir aprática do crime.Em 91, foi elabo-rada uma novalei, a 8.383, que

revogou o artigo14, e a partir de en-

tão, o MP passou ater um instrumento

mais severo para a per-seguição dos criminosos

contra a ordem tributária. Inu-sitadamente, em 95, já na época doatual Governo, surgiu a lei 9.249,que restabeleceu a extinção da puni-bilidade, pelo seu artigo 34. Isso en-fraqueceu nossa atuação porque

basta o sonegador pagar o impostopara ficar livre da pena. Depois, veioa lei 9.430/96, para “ajudar” umpouco mais. Essa lei tem um dispo-sitivo que diz: “a autoridade fazen-

dária não deve encaminhar aoMinistério Público as re-

presentações enquantopendente o recurso naesfera administrati-va”, ou seja, os do-cumentos, as pro-vas, sobre o crimecontra a ordemtributária. Issode novo enfra-queceu nossaatuação porque aFazenda alegou

que tinha queobedecer a lei. Isto

até acarretou umasérie de representa-

ções contra o secretá-rio da Fazenda porque a

gente entendia as represen-tações de deveriam sim ser man-

dadas para o MP porque eram notí-cias de crime e, como tais, não po-deriam ser suprimidas da apreciaçãodo MP. Houve uma série de brigas,até que os promotores de todos osEstados que tratam dessa área con-venceram os procuradores gerais eas respectivas secretarias da Fazen-da a se reunirem e saiu a resoluçãon.º 382, de 01/9/99, pela qual elesentenderam que o artigo da lei 9.430que dizia que a Fazenda não pode-ria encaminhar o auto de infração eos documentos comprobatórios erauma ordem dada aos funcionários daFazenda e que o MP continuava sen-do dominus litis, poderia proporação se tivesse conhecimento do fatocriminoso por outros meios. Então,saiu essa resolução, determinandoque a Secretaria da Fazenda encami-nhasse aos promotores os documen-tos que comprovam o crime. Hoje te-mos uma lei um pouco melhor, masnão a desejada. É uma lei menos piorporque se o sonegador paga o impos-to antes do recebimento da denúncia,extingue-se a punibilidade. Particu-larmente, acho que é um incentivo àprática do crime. O artigo 34 da Lei9249/95 deveria ser revogado. O

“A informaçãoque existe no sistema

de movimentaçãode autos, a intranet do

MP, que ainda é falha eprecisa de aprimoramento,

é muito importante.Já nos permitiu identificar

quadrilhas, gruposorganizados para a

prática do crimede tráfico de

entorpecentes.”(Flávio Farinazzo

Lorza)

“O artigo 34da Lei 9249/95

deveria ser revogado.O sonegador é habitual.Ele vem praticando um

monte de sonegação.Quando você o pega naprática de uma, se elepaga aquela, fica livre.Particularmente, achoque é um incentivo à

prática do crime.”(Fernando

Arruda)

14 PluralENTREVISTAsonegador é habitual. Ele vem prati-cando um monte de sonegação.Quando você o pega na prática deuma, se ele paga aquela, fica livre.Plural: Detectar a sonegaçãofiscal, fundamentalmente,é função da fiscalizaçãoda Receita. Gostaría-mos que o senhorfalasse se a Recei-ta está capacita-da para essa de-tecção, se temrecursos sufici-entes para ata-car a sonegaçãocom eficiência.Fernando: Pelaexperiência quetenho, observo quea polícia fazen-dária, assim como acivil, consegue sempreesclarecer os casos maissimples. Nunca recebi umcaso de vulto, de um sonegadorde milhões. É óbvio que isso talveztenha como fundo a nossa falha le-gislação tributária, porque existeuma complexidade na legislação quepermite a elisão fiscal. Os grandessonegadores não deixam de emitirnota, não rasuram livro. Usam frau-des de difícil vislumbramento porparte da fazenda ou utilizam os gran-des tributaristas para a elisão fiscal.Deixam de pagar, mas com funda-mento em razoável entendimento ju-rídico. O fiscal de renda, além de co-nhecer a área tributária, deveria co-nhecer a área penal, talvez, porexemplo, participar de um curso mi-nistrado pelo GAECO, que tem mui-to mais experiência na área. Eles co-meçam a investigação, mas não têmcondições de chegar a um bom ter-mo para propiciar a denúncia. E gos-taria de voltar a um ponto, ao inqué-rito policial. No crime contra a or-dem tributária, onde a prova é por ex-celência documental, desde o come-ço do grupo evitamos requisitar in-quérito policial. Quando as peças nosvêm às mãos, elas já têm todos os ele-mentos para a formação da denún-cia. Tanto que quando começamosa trabalhar no GAESF, a primeiracoisa que fizemos foi denunciar sem

inquérito policial. Os juízes resisti-ram um pouco, rejeitavam, porquenão era comum. Mas foram aceitan-do. Até que, junto com o pessoal da

Fazenda, elaboramos a portariaCAT 55, que serviu para

instruir melhor o proce-dimento fiscal. Juntá-vamos isso e todos osdocumentos que ojuiz cobrava e co-meçamos a ofere-cer denúncias quejá se transforma-vam em ação pe-nal. Esse foi ogrande avançoque aconteceu na

sonegação fiscal.Plural: Como o

GAECO atua?Arthur: Em primei-

ro lugar, gostaria deressaltar a importância do

MP de São Paulo no com-bate à criminalidade organiza-

da. O MP paulista foi o primeiro acriar um grupo de combate ao crimeorganizado no Brasil e hoje outrosEstados estão criando GAECOS,usando, inclusive, a sigla criada emSão Paulo. É importante dizer istoporque é um reconhecimento da for-ma acertada com que São Paulovem trabalhando. Porém, enquantoos demais se preocupam em criarGAECOS nas Capitais, São Pauloestá criando GAECOS regionais.Portanto, mais uma vez, São Paulosai à frente. Feito esse destaque,merecido, hoje também temos al-guns casos que nos propiciam con-tato com membros do MinistérioPúblico internacional. São situa-ções específicas, onde contamoscom a colaboração de promotoresnorte-americanos que têm interes-se no deslinde da investigação aquirealizada, já que muitas vezes o di-nheiro da organização criminosaque atua no Brasil também é utili-zado no Exterior. Notamos umapreocupação efetiva do governonorte-americano na evolução dotratamento da questão da crimina-lidade organizada no Brasil, de sor-te que eles têm investido atenção, es-pecialmente no Ministério Público

de São Paulo, mandando seus pro-motores para cá, por mais de umavez, para troca de idéias e intercâm-bio de experiências no combate aocrime organizado. Isto tem sido fun-damental para nós. Cada vez mais agente verifica que essa experiênciainternacional, quando nos é trazida,além de nos encher de ânimo novo,nos traz novas formas de atuar.Também queria fazer uma coloca-ção sobre o arcabouço legislativobrasileiro, no que diz respeito aocombate ao crime organizado. Alémde tudo o que o Dr. Alberto falou,acho que o legislador brasileiro nãotem como prioridade legislar sobrecombate à criminalidade organiza-da, diferentemente do que já acon-teceu na Europa, pois a Itália, Por-tugal e Alemanha legislaram espe-cificamente para o combate àcriminalidade organizada, já há al-gum tempo. Aqui, a legislação nãopermite uma atuação efetiva do MP.Vou dar um exemplo: a lei de inter-ceptação telefônica não diz que oMP pode controlar as escutas. E men-ciona, seguindo os moldes do Códi-go de Processo Penal, tão somente afigura da autoridade policial. Isso, porincrível que pareça, é um entravelegislativo para o desempenho dasfunções ministeriais porque cabe aopromotor de Justiça demonstrar que,se o promotor pode oferecer ação pe-nal ou se pode mais, ele tambémpode menos, que é cuidar de produ-zir a prova pré-processual. Em ou-tra situação mais recente, a lei deinfiltração de agentes policiais emorganizações criminosas: mais umavez houve omissão no que diz res-peito ao MP. Enfim, é necessário queCódigo de Processo Penal diga ex-pressamente, com todas as palavras,que é o promotor de Justiça quemirá dirigir o inquérito policial, nota-damente quando se tem em vista umcrime derivado de atuação de orga-nização criminosa. Sem correr ris-co de errar, não temos hoje, em SãoPaulo, crimes sendo levados à apre-ciação do Judiciário sem uma parti-cipação do MP na fase pré-proces-sual. Sempre que o delito contém ca-racterísticas daqueles cometidos pororganizações criminosas, o promotor

“Enquanto osdemais Estados se

preocupam em criarGAECOs nas Capitais,São Paulo está criando

GAECOs regionais.Portanto, mais uma vez,São Paulo sai à frente. Éimportante destacar issoporque é reconhecimento

da forma acertadade trabalho.”

(Arthur Pinto deLemos Júnior)

Plural 15ENTREVISTAacompanha e produz a prova juntocom os demais órgãos incumbidos dasegurança pública. Ë preciso que oCódigo de Processo Penal passe aexigir expressamente a presença doMP e também tenha disposição ex-pressa acerca do procedimentoinvestigatório do MP, para acabarcom qualquer dúvida a respeito.Plural: Como conciliar a atuaçãodos grupos especiais com as Pro-motorias que atuam no combateà criminalidade tradicional?Alberto: Há um dado real e con-creto. Dado ao fenômeno da crimi-nalidade hodierna, não é possível aopromotor trabalhar nos moldes pen-sados e concebidos pelo Código deProcesso Penal ou pela nossa pró-pria Instituição, ou seja, um promo-tor isolado, ligado diretamente aomagistrado. E mais: o promotor maispróximo do juiz do que do trabalhoda polícia ou de investigação, e man-tendo este universo de atuação cir-cunscrito ao mesmo âmbito de com-petência do Poder Judiciário. Sabe-mos que hoje isso não é mais possí-vel. Se o promotor ficar vinculado auma vara, a uma situação, isolado,ele não dá conta deste fenômeno dacriminalidade hodierna. E se há ne-cessidade do trabalho coletivo, tam-bém há um outro dado: o fato de opromotor estar vinculado a um deter-minado âmbito de atuação, a umaárea territorial, a um cargo, o faz ter,mais do que estabilidade, todas as ga-rantias que o magistrado tem. Isto éimportante, então, como estamos fa-lando do promotor natural, pensamosum pouco na hipótese de ele não es-tar sujeito às intempéries de mudan-ça do poder ou situações em que nãopossa exercer a sua função institucio-nal com absoluta autonomia e inde-pendência. Neste aspecto, a acomo-dação do chamado promotor naturaltem o lado positivo. Mas se temosduas situações, como é que vamoscompor? A solução é conciliatórianum primeiro momento, não resolveo problema, mas, na atual conjuntu-ra, tem permitido o convívio dos gru-pos com as Promotorias Criminais,ainda que eventualmente possa ha-ver uma ou outra situação de confli-to. Em São Paulo, a convivência tem

sido harmônica, sem grandes dificul-dades. A questão que se coloca maisà frente é: quais seriam as medidasque poderiam ser adotadas para quetivéssemos uma situação formaliza-da, sem que a atuação do promotordependesse, como depende, de umcerto lado subjetivo ou de uma certaaquiescência do promotor natural?Plural: Esse conflito não pode exis-tir até mesmo entre os grupos?Alberto: Sim, até entre os própri-os grupos. E com a criação dos gru-pos regionais, teremos grandes pos-sibilidades de que, em algumas si-tuações, possa surgir um eventualconflito sobre de quem seria o co-mando da investigação.Fernando: Criar promotorias espe-ciais não resolveria o problema? Émais fácil fortalecer uma promotoria,criar cartórios próprios, do que criarum grupo. Lá no fórum criminal hágrandes problemas. “Ah, por que ogrupo não faz audiência?...” A gentefaz audiência, mas, às vezes, não dá.Às vezes, temos audiência em trêsvaras, ficam “furos”. Havendo pro-motorias especiais, cada uma fariasuas audiências, cuidaria de cada es-pécie de crime. Na Capital, achoque seria uma solução.Arthur: Alguns aspectosimpossibilitam isso.Em primeiro lugar, háque se destacar o ex-cesso invencível deinquéritos que oscolegas das pro-motorias crimi-nais têm que en-frentar diaria-mente. O volumede inquéritos po-liciais e, conse-quentemente, deprocessos-crimesque um promotor cri-minal tem no trabalhodiário, mensal, anual,impossibilita o trabalho deinvestigação criminal. O com-bate ao crime organizado exige apresença física do promotor no mo-mento em que a prova está sendo co-lhida, seja acompanhando uma dili-gência policial, ou uma busca e apre-ensão (onde os documentos buscados

diferem muito da simples apreensãode uma arma de fogo ou substânciaentorpecente). Da criminalidade or-ganizada há que se buscar informa-ções específicas em agendas, docu-mentos pessoais, e a prova, muitasvezes, é sutil. É necessário o pro-motor fiscalizar essa atuação e, paratanto, verificamos que nem todo pro-motor tem o perfil para esta linha deatuação. Aqui não se quer criticar opromotor, mas fazer o reconheci-mento de que, na Instituição, exis-tem promotores com um perfil maisvoltado a uma atividade operacional,enquanto que outros primam pelaexcelência do trabalho de gabinete.E isto, portanto, vem ao encontrocom a necessidade que temos nosgrupos de atuação especial, que nãocontam com o volume enorme de in-quéritos policiais trazidos pela Po-lícia Civil. Há possibilidade do pro-motor do grupo de atuação serchamado especialmente, de acordocom o seu perfil dentro da Institui-ção, possibilitando daí um bom re-sultado no trabalho. Com relação àproposta de transformar os grupos es-peciais em promotorias especializa-

das, diferentemente do colega doGAESF, a unanimidade dos

integrantes do GAECO,desaprova a idéia.

Flávio: Eu comple-mentaria dizendoque, quando sefala sobre gruposque trabalham nocombate a deter-minado tipo decrime, tem-seque levar emconsideração aespecificidade de

cada crime ou gru-pos de crime que se

pretende combater.É evidente que, como

o próprio Arthur já dis-se, no GAECO não se pode

perceber o combate a um de-terminado crime. Muito diferente doque acontece com o GAESF e como GAERPA. Os crimes contra a or-dem tributária e os crimes de narco-tráfico são perenes. E a criminali-dade organizada contra a qual o

“O combate aocrime organizado

exige a presença físicado promotor no momento

em que a prova estásendo colhida. E existem

promotores com perfilvoltado a uma atividadeoperacional, enquanto

outros primam pelaexcelência do trabalho

de gabinete.”(Arthur Pinto

de LemosJúnior)

16 PluralENTREVISTAGAECO atua é intermitente. Exis-tem momentos em que determinadostipos ou “ondas” de crime aconte-cem e precisam ser tratados de for-ma direcionada, mais momentânea,e não permitiria uma promotoria es-pecial, por conta até da natureza deuma promotoria de justiça, que émuito mais sedimentada, burocrati-zada. Talvez nesse momento seja ne-cessário pensar quais atividades, nocombate à criminalidade organizada– que também é múltipla, não tem sóuma face – comportariam ou não acriação de promotorias especializa-das. O GAERPA vivencia um mo-mento como esse, em que atingiu umgrau de estrutura muito maior do queera quanto teve início, e já estavacom problema de atuação perante oPoder Judiciário. É uma especifici-dade. O mesmo não acontece noGAECO – que tem demonstrado efi-ciência pela forma dinâmica comofoi estruturado e exerce a sua atua-ção. O GAERPA, pela própria ca-racterística de trabalhar com o ex-pediente forense, é obrigado a teruma estrutura mais burocratizada.Fernando: Se bem que o problemaé muito mais nomenclatural. Obvia-mente, se for criada a promotoria decombate ao crime organiza-do, com certeza continua-rá o mesmo grupo por-que ninguém vai que-rer ir para lá. A gen-te está há cincoanos procurandopromotor a dedo,ninguém quer. Sese criar a promo-toria, não vão ti-rar o trabalho dagente, somenteseria uma manei-ra de melhorar.Flávio: Não criticoa idéia porque nosparece, a nós, doGAERPA, pela dimen-são que o grupo tem e pelotipo de atividade, que a cria-ção da promotoria especializada se-ria a solução mais adequada. Mas oGAECO tem uma atuação político-institucional, que precisa ser defini-da no âmbito de cúpula e que pode

ser modificada, dependendo das cir-cunstâncias. Não deixa de ser um ris-co. Tudo o que é dinâmico envolverisco. Se hoje temos uma administra-ção democrática, um dia poderemosnão tê-la. Mas, na verdade,esse é um risco da própriademocracia, e em deter-minado momento temque ser enfrentado.Fernando: Somostrês grupos, maslá, na Barra Fun-da, os colegas fa-zem de tudo.Acho que deve-riam ser criadasas promotoriasespecializadaspara outros crimestambém, contra opatrimônio, o estelio-nato, cada uma cui-dando de uma espécie decrime. Por que temos co-nhecimento na área? Porqueatuamos, sabemos tudo o que acon-tece, a lei, como o juiz julga. Acon-teceria também com outros crimes.Plural: Especialização não é só emrazão da matéria. Éspecializaçãoé em razão da forma de atuação

da criminalidade.Flávio: Muito mais em

razão da forma de atua-ção que pela matéria.Alberto: A questãosobre os rumos aserem seguidos ébastante interes-sante, mas, a meuver, a discussãonão está suficien-temente amadu-recida. Há vanta-gens e desvanta-

gens tanto em umaposição quanto em

outra, tanto que atéalgumas colocações

intermediárias foram fei-tas. Se houver definição de

um tipo específico de atuaçãocriminosa, teríamos a perspectiva dese criar promotoria especializada,como defendido aqui pelo Fernando,na sonegação fiscal, e também peloFlávio, no tráfico de entorpecente.

Esta questão ainda precisa ser dis-cutida mais aprofundadamente, sen-do que muitas conclusões poderãoser extraídas do resultado das expe-riências dos grupos de atuação.

Flávio: Criar promotoriasespecializadas não impe-

de a manutenção dosgrupos de atuaçãoespecial. Tomo o as-sunto específico doGAERPA porquevivenciamos duassituações muitodiferenciadas, ade atuar comopromotoria espe-cializada quenão atua em to-

das as fases doprocesso e, ao mes-

mo tempo, atuarcomo grupo especial.

Nesse momento, digoaté que se poderia pensar

na criação de uma promoto-ria especializada para atuação no ex-pediente policial, no expediente pro-cessual e a existência de um braçonum grupo de atuação contra o cri-me organizado. Afinal de contas, ocrime organizado é de sonegação fis-cal, é de narcotráfico, é de corrupçãojunto aos órgãos de administraçãopública. Não se pode pensar – e tal-vez esse seja o momento mais im-portante, mais emblemático de racio-cinar a respeito – sobre a viabilida-de da existência de mais um grupode combate ao crime organizado – ecomeço a pensar que é necessária aexistência de um único grupo decombate ao crime organizado, dequalquer natureza que ele seja. Essegrupo de combate ao crime organi-zado terá que se valer, sim, de even-tuais promotorias especializadas quetenham trabalho específico no com-bate a um crime específico; e terá quese valer dos órgãos da administraçãopública que trabalham paralelamen-te ou cooperando com o MP.Plural: Quanto aos resultadosdos grupos, o que já se obteve emprol da sociedade?Fernando: Temos uma estatísticageral – obviamente, próxima daexata. Nesses anos de existência do

“Promotoriaespecializada é muitomais nomenclatural.

Se fosse criada aPromotoria de Combateao Crime Organizado,continuaria o mesmogrupo, ninguém vai

querer ir para lá.A gente está há cinco

anos procurandopromotor a dedo,ninguém quer.”

(FermandoArruda)

“Criar Promotoriasespecializadas não

impede a manutençãodos grupos de atuação

especial. Digo até que sepoderia pensar na criação

de uma Promotoriaespecializada para atuação

no expediente policial,processual, e a existênciade um braço num grupo

de atuação contra ocrime organizado.”(Flávio Farinazzo

Lorza)

Plural 17

GAESF, passaram pelas nossasmãos 15.197 representações vindasda Secretaria da Fazenda e dosjuízes das execuções fiscais. Só daFazenda recebemos perto de 4 milrepresentações. A gente fala em re-presentação, mas nada mais é do queo auto de infração e os documentosfiscais de livros que comprovam ainfração fiscal. Requisitamos 2.734inquéritos policiais que corriam an-tes pelo DECON e agora peloDISCCF (delegacia fazendária). Fo-ram arquivados 6.208 – arquivadospelo juiz, naturalmente, porque tudoo que recebemos, nós requeremos oarquivamento ao juiz criminal – eoferecemos denúncias em 687 pro-cedimentos. Conseguimos perto de650 condenações e temos 2.249 in-quéritos policiais em andamento.Esse é o balanço geral.Flávio: Nos dois anos de existên-cia do GAERPA, recebemos cercade seis mil inquéritos policiais.Uma das coisas mais importantes éque criamos um banco de dados –não é o banco de dados do MP, é obanco de dados do GAERPA. Da-das as deficiências ainda do siste-ma de informações do MP, dadas aspeculiaridades do crime de tráfico deentorpecentes, entendemos adequa-da a criação desse banco de dados ehoje temos a integralidade de infor-mações oriundas dos inquéritos po-liciais que tramitam pela Barra Fun-da na área da lei anti-tóxicos. O ban-co de dados nos permite questionarinformações prestadas, por exem-plo, pela Polícia Civil do Estado deSão Paulo. Recentemente, lemosuma reportagem, no jornal “O Es-tado de São Paulo”, em que oDENARC apresentava a quantida-de de drogas apreendida no municí-pio de São Paulo em um determina-do período de tempo. O banco dedados do GAERPA, que é mais com-pleto que o do DENARC porque re-cebe os inquéritos do próprioDENARC, dos distritos policiais eda polícia federal, possibilitou quefizéssemos a soma. Era significati-vamente inferior ao número doDENARC. Questionamos o diretordo DENARC e imediatamente elenos disse que a informação devia ter

sido prestada erra-da. Na verdade, aquantidade diziarespeito às apreen-sões no Estado enão ao Município.É um exemplo pe-queno, mas faz in-sistir na tese de queo MP tem que do-minar a informaçãodo trabalho queexerce. O inquéritopolicial ainda é anossa fonte de tra-balho, e o MP tem que saber no queestá trabalhando. É claro que não ésó esse o resultado positivo. Um ou-tro, bastante significativo, é queaprendemos a buscar o trabalho con-junto com os órgãos que servem oMP na produção da prova: a PolíciaCivil, a Polícia Militar, a Polícia Fe-deral, a Receita Estadual, a ReceitaFederal, todos os órgãos de admi-nistração pública e, eventualmen-te, de administração privada que nospossam fornecer dados que permi-tam uma investigação que vá alémda investigação que se limita ao in-quérito policial. Já falei sobre os re-sultados no trabalho conjunto doGAERPA com a CPI do narcotráfico;do resultado com a SENAD (que ge-rou a vinda de recursos para o MPpaulista, de venda antecipada de bensutilizados para a prática de crime detráfico de entorpecentes, que pode serutilizado no combate mais efetivo dacriminalidade, seja estruturando me-lhor o MP ou destinando os recursosna prevenção da criminalidade espe-cífica na área do narcotráfico).Arthur: Com relação aos resultadosauferidos pelo GAECO, quanto aodesempenho na Força-Tarefa daMáfia dos Fiscais: investigamos 16vereadores, foram indiciadas 220pessoas e cerca de 130 inquéritos po-liciais foram instaurados; 106 pesso-as já estão sendo processadas crimi-nalmente e cerca de 20 já foram con-denadas; de acordo com a Secretariada Fazenda, a atuação do GAECO,em diversos casos, propiciou a recu-peração de R$ 40 milhões, de no-vembro de 97 até agosto de 2000. Deforma genérica, tivemos o mérito –

e esse mérito não é deste promotorde Justiça, mas do grupo (eu aindanão participava do GAECO) – de for-mar o primeiro grupo do MP brasi-leiro que integrou de forma ativa ecoordenou uma força-tarefa. Antes da“máfia dos fiscais”, que foi a primei-ra força-tarefa criada em São Pauloe, acredito eu, no Brasil, não haviautilização dessa forma de atuação edo uso dessa expressão nos meios ju-rídicos. É mérito do GAECO, queabriu trincheiras. Tivemos a integra-ção de diversas instituições que cen-tralizaram seu exercício funcionalcom vistas à elucidação de crimes co-metidos por administradores públicose o resultado do trabalho foi altamen-te positivo, na medida em que a maio-ria das pessoas acusadas foi conde-nada. Grande parte das pessoas de-nunciadas recebeu uma resposta deprocedência da ação penal por partedo Poder Judiciário. E nós, com sa-tisfação, observamos um reconheci-mento por parte da sociedade, quese apresenta mais consciente de seucivismo e do dever de denunciar osatos de corrupções dos administra-dores públicos. Isto pôde ser vistonos nossos processos-crimes – e emcada caso concreto –, onde as pes-soas não vacilaram em confirmar osachaques, os crimes dos quais foramtestemunhas ou vítimas. Situaçãomuitas vezes inusitada para outrosprocessos-crimes, onde, com facili-dade, a testemunha que depõe numdeterminado sentido na fase policial,num passe de mágica se retrata eapresenta outro colorido para o de-poimento na fase judicial. Nos nos-sos casos, observamos o inverso,

ENTREVISTA

18 PluralENTREVISTA

Boa vontade e troca de informações são instrumentos de integração eaperfeiçoamento funcional nas promotorias criminais da Barra Funda.

reforçando a consciência do cidadãonesse trabalho de acabar de uma vezpor todas com os crimes praticadospor administradores públicos.Plural: O reconhecimento da so-ciedade também é fruto da expo-sição dos promotores na mídia.Essa exposição, defendida pormuitos membros da Instituição econsiderada exagerada por outros,provoca polêmica. O GAECO tema estratégia para lidar com isto?Arthur: Ouvimos dizer que há cer-ta prevenção de alguns colegas comrelação ao trabalho do GAECO, namedida em que muitas vezes o inte-grante do grupo cuida de processosonde há a atenção maior por parteda mídia e o trabalho acaba sendomais destacado do que um outro, queé tão importante quanto. É bom fri-sar que o promotor do GAECO nãopode ter a pretensão de se considerarespecial ante algum outro promotor.Muito pelo contrário, entendemos queo trabalho dos promotores criminaisé tão importante quanto o nosso. Nãohá, de nossa parte, nenhuma prepo-tência ou petulância de nos conside-rarmos especiais. Há, sim, uma certaprevenção no que diz respeito à aten-ção que a mídia confere ao trabalhoe isto resulta naturalmente, pelas pes-soas envolvidas nas investigações.Não há como evitar.Plural: Até onde a Im-prensa ajuda ou atrapa-lha na investigação?Alberto: O MP éuma instituição quedeve satisfação àsociedade e tem porobrigação mostraro seu trabalho e odesempenho deseus membros. Istoé ponto importante.O relacionamentocom a Imprensa temque se pautar nos es-tritos limites necessári-os à informação. Os jor-nalistas são os meios paraque a informação chegue àpopulação, estão exercendo assuas funções, que têm que ser res-peitadas, mas é claro que há limi-tes. Primeiro limite, óbvio, é que as

informações se delimitam por umprincípio de sigilo, muitas vezes, degarantia do próprio sucesso das in-vestigações. É o limite objetivo. Ooutro, fundamental, de natureza sub-jetiva: é importante que não se co-loque pessoas que sendo investiga-das como se já fossem condenadas.É preciso preservar a imagem daspessoas porque isso é uma fase deinvestigação. É importante o promo-tor ter tirocínio de verificar que mui-tas informações podem criar cons-trangimento, situações em relação àspessoas colocadas sob suspeita quepodem prejudicar a imagem delas.E se, no final, não houver compro-vação dos fatos? Outro dado impor-tante, relacionado com a criação daassessoria especial, é que deve ha-ver coordenação de informações, oque significa – essa é uma experiên-cia que está sendo executada – queo contato com a mídia deve seconcentrar em uma ou algumas pes-soas para que não haja situações emque vários promotores, falando porsi, criem constrangimentos, como játivemos ocasião de verificar no pas-sado. Os contatos, necessários, coma Imprensa, devem ser de forma co-ordenada e concentrada, para evi-tar manifestações equivocadas oucontraditórias. Essa não é uma ex-

periência nova. Em qual-quer grupo de atuação

especial de MPs domundo, os contatosse concentram emdeterminadaspessoas. Não étodo promotorque está inves-tigando quevai ter acessodireto com aImprensa.Arthur: A

grande dificul-dade nesse tema

é manter o equilí-brio entre a neces-

sidade de dar satisfa-ção – bastante cobrada,

tendo em vista as pessoasinvestigadas – à opinião pública so-bre o trabalho realizado e a pre-servação da investigação criminal.

Algumas vezes, e isso já aconteceuno início do GAECO, o promotorse apresentou afoito na busca de sa-tisfazer à opinião pública. Aconte-ceram, sim, momentos de precipi-tações do GAECO em passar infor-mação à opinião pública, atraídopela mídia. Com o tempo, com o de-senvolvimento e aperfeiçoamentodo trabalho, e notadamente com acriação da coordenadoria especial,na pessoa do Dr. Alberto, esse as-pecto melhorou, e muito. Poderíamosressaltar que, nos últimos tempos, oGAECO tem recebido, por parte daProcuradoria Geral, toda a atençãopor nós reclamada, seja criando acoordenadoria especial de grupos oudisponibilizando material reivindi-cado. Há ainda que se observar queo grupo apresentou à ProcuradoriaGeral uma proposta de dispo-nibilizar um braço do CAEX esti-cado para o GAECO e para a coor-denação dos grupos de combate aocrime organizado, de forma a via-bilizar, com exclusividade, peritosque trabalham no CAEX para tãosomente atender à demanda de ser-viço (bastante grande) existente nosgrupos de atuação. Isto nos afeta notrabalho diário e posso exemplificar:dois laudos solicitados por mim es-tão no CAEX há quase um ano, semque haja o atendimento aos proce-dimentos investigatórios específicos.

“O MinistérioPúblico é uma

instituição que devesatisfação à sociedade e

tem por obrigaçãomostrar o seu trabalho.Mas há dois limites, um

objetivo e outro subjetivo:o sigilo que garante o

sucesso da investigação e apreservação da imagemda pessoa investigada.”

(Alberto de OliveiraAndrade Neto)

GAESF- Fernando Arruda (secretário)- Darci Ribeiro- Luiz Otavio de Oliveira Rocha- Andrea Chiaratti do Nascimento RodriguesPinto

GAECO- Roberto Teixeira Pinto Porto (secretário)- Arthur Pinto de Lemos Júnior- José Carlos Guillem Blat- Marcelo Batlouni Mendroni- Roberto Barbosa Alves- Enilson David Komono

GAERPA- Maria Teresa Penteado de Moraes Godoy(secretária)- Marilú de Fátima Scarati de Castro Abreu- Nathalie Kiste Malveiro Guimarães- Elvécio Faria Barbosa- Rodney Claide Bolsoni Elias da Silva- Flávio Farinazzo Lorza

OS GRUPOS

Plural 19ENTREVISTA

Procurador afastado pelos 72.625 votos que o elegeram deputado estadual,Dimas Ramalho veio à ESMP como professor em uma aula no Curso

de Especialização em Direito Público. E contou o que o Legislativo pensa do MP.

Plural: Fale sobre sua trajetória noMinistério Público.- Ingressei em 80 e “rodei” o Interioraté chegar à Capital. Depois, fui pro-movido a procurador e fui professorde Direito Constitucional do CentroUniversitário de Araraquara. Na po-lítica, sempre tive militância. Meu paiera prefeito em Taquaritinga, cidadeonde nasci. Fui presidente do grêmiodo colégio, presidente do Centro Aca-dêmico XI de Agosto e estou na Câ-mara há alguns anos.Plural: Gostaríamos de saber operfil do MP na visão do PoderLegislativo.- A primeira impressão que oLegislativo tem do MP é de respeito,pela importância da Instituição nasatividades desenvolvidas principal-mente a partir de 88, na cidadania,no meio ambiente, enfim, nos inte-resses difusos em especial. Os parla-mentares acham que é fundamentalum MP forte, independente, atuante.Em toda CPI, querem um promotorpresente. Mas o Legislativo tambémentende que é necessário um melhordiálogo do MP com os poderes cons-tituídos. O MP é uma instituição im-portante, mas não a única. Tem pro-blemas e virtudes, como toda insti-tuição. Nesse momento, o Legislativodiscute qual o melhor relacionamen-to com o MP paulista. Gostaria de fa-zer uma sugestão à ESMP: que pro-voque uma discussão específica comos líderes da Assembléia, com as

entidades da classe do MP, Procura-doria, Colégio de Procuradores. Maisdo que nunca, precisamos de uma dis-cussão aberta entre o MP e oLegislativo de São Paulo (na verda-de, no Brasil todo). Sabemos que háprojetos em Brasília para diminuir ospoderes do MP. Sou contra qualquerum, principalmente no campo da“Mordaça” e do inquérito civil, quesão conquistas democráticas funda-mentais. Sou um promotor na políti-ca. Mesmo após anos afastado, man-tenho os princípios fundamentais queo MP me deu, como o respeito à Cons-tituição, compromissos com o regi-mento interno.Plural: Quais as tendências que osenhor vê para o MP?- O MP cresceu muito na questão deinteresses difusos e tem que se voltarum pouco mais para o crime,notadamente o organizado. É preci-so aprimorar na ação civil pública,no inquérito civil público, mas con-tinuar crescendo na repressão ao cri-me. Para isso, precisa aparelhar aspromotorias, incentivar os grupos or-ganizados. Mais importante que no-vos concursos é aparelhar o promo-tor e desenvolver plano de carreirade auxiliares. Hoje, no Brasil intei-ro, atenção no crime é a prioridade,antes até do desemprego e da saúde.

Plural: O senhor pensa em, algumdia, voltar à carreira no MP?- Quando a gente sai de casa para es-tudar fora, como um dia saí, a gentesempre pensa em voltar. Quando saída carreira para ser deputado, pen-sei: “É provisório”. Se amanhã vies-se uma lei proibindo o promotor defazer política, eu seria promotor no-vamente. Uma das melhores coisasque fiz na vida foi ter optado por serpromotor de Justiça. É uma carreiraque respeito, gosto, fui bom, traba-lhava muito, fui um dos primeiros acolocar o “colarinho branco” na ca-deia, quando nem tinha legislação arespeito (o caso “Tiepo”). Mesmo lon-ge, acompanho o dia-a-dia, leio oDiário Oficial, o “Plural” e a ata doColégio dos Procuradores e do Con-selho. Quem sabe, um dia, eu volto?

DIMAS RAMALHO FALA SOBRE OQUE O LEGISLATIVO PENSA DO MP

MICHEL TEMER NA ESMP

A Escola Superior do Ministério Público doEstado de São Paulo também recebeu umrepresentante do legislativo no âmbito federal paraoutra aula no Curso de Especialização em DireitoPúblico: Michel Temer, deputado federal, professordoutor em Direito Constitucional PontifíceUniversidade Católica de São Paulo, discorreu sobreo tema “Poder Legislativo e Processo Legislativo”,na noite de 31 de maio.

20 Plural

Convidado para a pales-tra “Ação Civil Públicana Visão Judicial”, noauditório da ESMP, no

último mês de abril, Sidnei Beneti,desembargador do Tribunal de Jus-tiça do Estado de São Paulo, deuuma verdadeira aula à platéia depromotores e estagiários do Minis-tério Público, explicando desde aorigem da ação civil pública (“nas-ceu em São Paulo, que acompa-nhou o ideário de transformaçãoque se consagrou na Constituiçãode 88”) até as causas de muitosinsucessos. Os debatedores foramNilo Spinola Salgado Filho, pro-motor da Cidadania, especialistaem Interesses Difusos e Coletivos,e Orlando Bastos Filho, promotorde Sorocaba, curador dos DireitosConstitucionais do Cidadão.

Para quem não pôde estar pre-sente, “Plural” selecionou algumasopiniões do desembargador, queacabou transformando a palestraem uma conversa quase informal– porém extremamente produtiva– com promotores e estagiários.

“O temor de todo julgador é fa-zer coisas que podem voltar atrás,como os casos daa CPMF e dasmensalidades escolares , por isso atendência do Judiciário é não avan-çar em ações coletivas, aguardan-do as ações individuais”, disse Sid-nei Beneti, amparado em 87 tiposde Ações Civis Públicas que elepesquisou e chamou de “remédiotipo guarda-chuva”, por abrangerdiversas áreas (cidadania, infânciae juventude, meio ambiente etc.).

Para ele, está na hora de o Po-der Judiciário não se preocupar sócom pequenas causas, mas “criarum juizado de grandes causas,como as ações civis públicas”.

Como causas de insucesso demuitas ações, Beneti enumera:

1) A falta de síntese da inicial– Petições iniciais compridas, dedifícil leitura, que são postas de

lado para posteriorexame, pois o julga-dor tem diversasações para exami-nar. “O que nascecomplicado, ficacomplicado sem-pre”, justifica odesembargador.

2) O juiz conhe-ce da questão quan-do lhe vêm os autos.Há necessidade deindicação dos fatos.

3) A diversidadedos pedidos – Ações com sete ouoito pedidos que se subdividem emdiversas alíneas, com aplicaçõesespecíficas para cada réu. Para Be-neti, as ações devem ser sintéticasou enxutas como as denúncias.

4) Dificuldade probatória. “Terdireito, em juízo, significa ter pro-va. Se não tiver como provar, émelhor não propor para evitar a for-mação de um precedente negativo.

5) Legitimidade passiva – Cen-tralizar nos responsáveis pelo ato,evitando uma longa cadeia de res-ponsabilidade.

6) Evitar pedido genérico – Con-tinuar com as investigações até sa-ber especificamente o que se quer.

7) Pedido exeqüível e judicial-mente controlável. Precisa ficarclaro o que poderá ser exigido doadministrador público, as questõestêm que ser precisas.

8) Evitar a discricionariedadeadministrativa. Exemplo: fornecertransporte escolar dos moradoresde tal bairro para tal escola.

9) Firmar os fundamentos da leiespecial, relacionando-os com aquestão específica.

10) Banir longas discreções so-bre legitimidade da atuação do MP(basta mencionar artigos da Cons-tituição) até para prequestionar.

11) Expor precedente judicial.Importante, mas não há necessida-de de transcrever todos.

12) Fundamentação processualé problema da parte contrária.

13) Narrar os fatos pela ordemcronológica.

14) Quando se tratar de contra-to, mover ação contra todos, pois asentença terá efeito desconstitutivoda relação contratual.

O desembargador falou aindasobre o que considera inevitável:“Um choque tônico com o PoderExecutivo virá fatalmente. As me-didas provisórias amortecem essechoque hoje, mas a garantia do Mi-nistério Público é a garantia do Ju-diciário. O choque será com asduas instituições, que são magis-traturas, cada uma desempenhan-do uma atividade política institu-cional. Por ora, as medidas provi-sórias exercem um papel benéfico,pois amortecem o choque de insti-tuições, mas o movimento pela re-dução da amplitude das medidasprovisórias ocorrerá logo. Comoalternativas autoritárias parecemafastadas (e a alternativa de nãofazer nada também é autoritário),precisamos nos preparar para umenfrentamento positivo na socieda-de. Nos EUA isso já ocorreu, nochoque Marbury x Madison, e adecisão da Corte Suprema foi a in-trodução do judicial review. O úl-timo choque foi no New Deal deRoosevelt. Para nós, é um desafioque ainda precisa ser enfrentado.”

EVENTO

PALESTRA “AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA VISÃOJUDICIAL”: UMA AULA DE SIDNEI BENETI