p_a educação mineira_tânia maria teixeira

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1 A EDUCAÇÃO MINEIRA DOS ANOS 1980 Tânia Maria Teixeira 1 Geraldo Inácio Filho 2 A partir de 1979, iniciou-se no Brasil o processo de abertura política, fruto da reorganização das classes trabalhadoras e demais entidades da sociedade civil (OAB, ABI, intelectuais, CNBB, dentre outras), que começaram a se articular contra os anos de arrocho e opressão política. Nesse contexto, no ano de 1979, acontece a greve dos professores mineiros, criando-se a UTE (União dos Trabalhadores do Ensino) e, juntamente às reivindicações salariais da categoria, havia um desejo pela mudança nos rumos do direcionamento político nas instituições escolares, na perspectiva de se buscar a participação interna de todos os segmentos presentes no processo educativo. O magistério mineiro entendia que, após tantos anos de ditadura, o germe do autoritarismo havia penetrado inevitavelmente em todas as instituições sociais, incluindo a escola. Entendia que, a exemplo do que ocorria no contexto social mais amplo, vivia-se na escola, a crise de legitimidade do poder. 3 Com o final dos anos 1970, se configurando como um 1 Historiadora e Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia – MG. 2 Orientador – Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia 3 BRACARENSE, Abigail Emilia & PRAIS, Maria de Lourdes Melo. Repensando a Prática da Administração Escolar. Uberaba, Mimeo, 1984. p 3.

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A EDUCAO MINEIRA DOS ANOS 1980

1

A EDUCAO MINEIRA DOS ANOS 1980

Tnia Maria Teixeira

Geraldo Incio Filho

A partir de 1979, iniciou-se no Brasil o processo de abertura poltica, fruto da reorganizao das classes trabalhadoras e demais entidades da sociedade civil (OAB, ABI, intelectuais, CNBB, dentre outras), que comearam a se articular contra os anos de arrocho e opresso poltica.

Nesse contexto, no ano de 1979, acontece a greve dos professores mineiros, criando-se a UTE (Unio dos Trabalhadores do Ensino) e, juntamente s reivindicaes salariais da categoria, havia um desejo pela mudana nos rumos do direcionamento poltico nas instituies escolares, na perspectiva de se buscar a participao interna de todos os segmentos presentes no processo educativo.

O magistrio mineiro entendia que, aps tantos anos de ditadura, o germe do autoritarismo havia penetrado inevitavelmente em todas as instituies sociais, incluindo a escola. Entendia que, a exemplo do que ocorria no contexto social mais amplo, vivia-se na escola, a crise de legitimidade do poder.

Com o final dos anos 1970, se configurando como um momento de crise de legitimao do Estado, vivida tambm no mbito escolar, onde os movimentos sociais tiveram um papel fundamental no sentido de se resgatar a democratizao no pas, h uma forte discusso sobre o papel das polticas sociais, das polticas pblicas na edificao da democracia e cidadania, aliada aos avanos na democratizao do pas que teve seu ponto mais alto com a anistia, criao de novos partidos polticos e a realizao das primeiras eleies diretas para governadores. Assim, a educao passa ter aqui um teor mais poltico que efetivamente colaborar na construo da cidadania.

O incio dos anos 1980 representou, como momento histrico dos educadores brasileiros, o movimento dirigido ao repensar da funo poltico-social da escola pblica e s possibilidades de democratizao do ensino, inseridos na nova situao de abertura poltica. Importantes debates pedaggicos e movimentos de organizao dos educadores, enquanto categoria e formao profissional, marcou o discurso educacional do perodo.

A ao coletiva, empreendida no mbito escolar , passa a dar o tom das discusses e aqui ao lado de outros eventos de grande e igual importncia, como por exemplo, a realizao anual das Conferncias Brasileiras de Educao e a atuao na Constituinte do Frum Nacional em Defesa da Escola Pblica e Gratuita , que reunia vrias entidades da sociedade civil, predominantemente da rea educacional, onde se insere o 1o Congresso Mineiro de Educao em 1983, durante o governo de Tancredo Neves em 1982-1984, de um projeto de reforma educacional com base na mobilizao de professores, tcnicos e das comunidades locais.

(...) a organizao dos trabalhadores de ensino, no Estado de Minas Gerais, pode ser considerada a precursora do processo de democratizao das instituies escolares.(...) educadores comprometidos com os interesses das camadas populares e que ocupavam posies e significativos espaos na administrao do governo estadual, j em 1982, desencadeavam um processo de se repensar a educao no Estado. O processo se concretizou no 1o Congresso Mineiro de Educao, e que possibilitou uma profunda discusso das questes educacionais por parte dos vrios segmentos da sociedade civil. De agosto a outubro de 1983, toda a sociedade mineira foi convidada a debater a situao educacional de Minas e apresentar propostas de encaminhamento e solues dificuldades e problemas enfrentados no cotidiano da vida escolar. (...) Em decorrncia desse congresso , foram estabelecidos novos fundamentos para a poltica educacional mineira.

interessante evidenciarmos que, nos anos 80, mesmo com a proposta de diferentes solues, a perspectiva de educao, enquanto mola propulsora da construo da cidadania e, consequentemente, de uma sociedade efetivamente democrtica, surgia no mbito nacional, tanto nos planos governamentais, como na esfera da sociedade civil. Nesse sentido somos levados a concordar com Raymundo Faoro, quando ele afirma que o estado patrimonial-estamental ainda marca a vida poltica nacional, dessa forma somos conduzidos por um organismo que nos alheio, com uma legitimidade que nos adversa, sendo essa relao parte de nossa natureza social,

Grupos, classes, elites, associaes tentam, lutam para fugir ao abrao sufocador de uma ordem imposta de cima, seja pelo centrifuguismo colonial, o federalismo republicano, a autonomia do senhor da terra, gerando antagonismos que, em breves momentos, chegam a arredar, sem aniquilar, o estado-maior do domnio, imobilizando-o temporariamente, incapazes os elementos em rebeldia de institucionalizar-se fixamente. O estamento, por sobranceiro s classes, divorciado de uma sociedade cada vez mais por estas composta, desenvolve movimento pendular, que engana o observador, no raras vezes, supondo que ele se volte contra o fazendeiro, em favor da classe mdia, contra ou a favor do proletariado. Iluses de ptica, sugeridas pela projeo de realidades e ideologias modernas num mundo antigo, historicamente consistente na fluidez de seus mecanismos. As formaes sociais so, para a estrutura patrimonial estamental, pontos de apoio mveis, valorizados aqueles que mais a sustentam, sobretudo capazes de fornecer-lhe os recursos financeiros para a expanso - da que, entre as classes, se alie s de carter especulativo, lucrativo e no proprietrio. (...) As duas partes, a sociedade e o estamento, desconhecidas e opostas, convivendo no mesmo pas, navegam para portos antpodas: uma espera o taumaturgo, que, quando a demagogia o encarna em algum poltico, arranca de seus partidrios mesmo os que no tm; a outra, permanece e dura, no trapzio de equilbrio estvel.

Podemos perceber ao verificarmos em nossa historiografia educacional, que os estudos sobre polticas e reformas educacionais brasileiras, tm ocorrido somente no mbito de algumas discusses onde os debates que se travam desde as ltimas dcadas tem sido muito mais motivados por posies polticas do que efetivamente por uma anlise mais apurada do sistema escolar.

No entanto, o fato que quando dentro do universo das sucessivas reformas educacionais, chegamos a uma nova, no se tem nenhum estudo consistente sobre a repercusso das anteriores no sistema escolar e na sociedade como um todo, pelo menos no que diz respeito ao Estado de Minas Gerais.

Nossa pesquisa se justifica, tanto social como cientificamente, pois sendo uma pesquisa na rea de Histria da Educao, temos claro que nosso empreendimento se insere dentro de uma nova abordagem histrica, que vem se configurando nos ltimos dez anos, fugindo da maneira linear e positivista, como tambm das anlises generalistas com que a Histria vinha sendo tratada, com mudanas de ordem conceitual e buscando ampliar as formas de entendimento da atuao dos agentes sociais.

O presente estudo tem como objetivo a anlise do contexto histrico no qual emergiu a Reforma Educacional do governo Tancredo Neves e o 1o Congresso Mineiro de Educao, e sua repercusso no processo educacional mineiro dos anos 80, buscando na relao poder pblico estadual e sociedade civil, tentar desvelar a idia de democratizao da educao mineira, a partir do 1o Congresso Mineiro em Educao. Procurando assim, dentro da nossa proposta de pesquisa, criar subsdios para discusso entre os trabalhadores em educao, que fundamente, posteriormente, um entendimento efetivo de sua participao enquanto agente capaz de reconhecer as formas como ocorrem a implantao das reformas educacionais.

Tomando a reforma educacional do Estado de Minas Gerais, durante o governo de Tancredo Neves (1982-1984) e o 1o Congresso Mineiro de Educao (1983) como nosso objeto de pesquisa, procuraremos entend-los em seu contexto de atuao no campo da educao do estado, enquanto esfera de atuao pblica que atinge a toda comunidade.

Para tanto faremos:

1 - Levantamento bibliogrfico e documental atravs de um estudo terico da bibliografia que aborda o tema;

2 - Interpretao e anlise de documentos legais produzidos pela administrao estadual e entidades da sociedade civil no que se refere participao no Congresso Mineiro de Educao;

3 - Trabalho de campo: diagnstico e problematizao dos pressupostos tericos e metodolgicos que nortearam as discusses e aes do Congresso Mineiro de Educao;

4 - Entrevistas com profissionais e membros da comunidade envolvidos no Congresso.Consideraes finais:

Nossa primeira ao na pesquisa foi buscar trabalhos sobre a temtica 1o Congresso Mineiro de Educao, em livros e artigos de revistas, onde nos foi possvel constatar que a maioria dos trabalhos considera esse evento, como um grande marco democrtico na histria da educao mineira, sem no entanto abordar mais detidamente seus desdobramentos em outros nveis, o pedaggico, por exemplo.

Grande parte dos autores dessas obras so pessoas envolvidas, diretamente no evento, sejam professores, diretores ou at mesmo ocupantes de importantes cargos administrativos na secretaria estadual de educao.

A segunda etapa est sendo a busca de documentao oficial, onde at o momento tivemos em sua maioria contato com textos explicativos do que seria a Reforma Educacional do Governo Tancredo Neves, documentos estes da Secretaria Estadual de Educao, seria o que poderamos chamar de uma carta de intenes.

No momento estamos efetuando ainda lado a lado as duas etapas citadas acima, pois a pesquisa bem inicial. Por considerarmos o levantamento bibliogrfico e documental um dos pontos mais importantes e densos do nosso trabalho, em decorrncia eixo metodolgico adotado, seguimos em busca de nossos sinais.

Bibliografia:

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formao do Patronato Poltico Brasileiro. 10 ed So Paulo, Ed. Globo, 2000.

BRACARENSE, Abigail Emlia & PRAIS, Maria de Lourdes Melo. Repensando a Prtica da Administrao Escolar. Uberaba, Mimeo, 1984.

PRAIS, Maria de Lourdes Melo. Administrao colegiada na Escola Pblica. Campinas, Papirus, 1990.

Historiadora e Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal de Uberlndia MG.

Orientador Professor da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Uberlndia

BRACARENSE, Abigail Emilia & PRAIS, Maria de Lourdes Melo. Repensando a Prtica da Administrao Escolar. Uberaba, Mimeo, 1984. p 3.

PRAIS, Maria de Lourdes Melo, Administrao Colegiada da Escola Pblica, Campinas, Papirus, 1990. p 57

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formao do Patronato Poltico Brasileiro, vol 1 e 2. 10a ed. So Paulo, Ed Globo, 2000. p. 372