dissertacao final. maria do carmo santos teixeira
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL MARIA DO CARMO SANTOS TEIXEIRA
Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins
PALMAS - TO 2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
MARIA DO CARMO SANTOS TEIXEIRA
Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins
Dissertação submetida ao programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, orientada pelo Prof. Dr. Bernardo Campolina Diniz e co-orientada pelo Prof. Dr. Leonardo Santos Collier.
PALMAS – TO 2009
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins Campus Universitário de Palmas
T266 Teixeira, Maria do Carmo Santos
Crescimento, desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins. / Maria do Carmo Santos Teixeira. - Palmas, 2009.
96 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Tocantins, Curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, 2009. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz
1. Capital Social. 2. Desenvolvimento Econômico 3. Participação Social. I. Título.
CDD 338.9
Bibliotecário: Paulo Roberto Moreira de Almeida CRB-2 / 1118
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Crescimento, Desenvolvimento econômico e capital social: um estudo de caso da região Sudeste do Tocantins
Dissertação submetida ao programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Federal do Tocantins, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio, orientada pelo Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz e co-orientada pelo Prof. Dr. Leonardo Santos Collier.
Aprovada em: Palmas, 10.de dezembro de 2009 ______________________________________________________________ Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz - orientador UFT ______________________________________________________________ Prof. Dr. Élvio Quirino Pereira UFT ______________________________________________________________ Profa . Dra Temis Gomes Parente UFT
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DEDICATÓRIA
Dedico este estudo às pessoas que ainda acreditam e contribuem para que a Região Sudeste do Tocantins encontre
uma forma de desenvolvimento includente e integrado com as dimensões social, econômica e ambiental.
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AGRADECIMENTOS É gratificante olhar para trás e ver que durante estes dois anos trilhei o caminho das pedras. Na maior parte do percurso precisei de muitas horas de trabalho, de estudo e de aprendizado. Mas, vivi também vários momentos de alegria, buscando uma vida nova, diferente, plena de grandes desafios e responsabilidades. Por isso, mesmo sabendo do risco que assumo ao esquecer de mencionar alguém, quero manifestar minha gratidão a muitas pessoas que de forma direta ou indireta tornaram esta jornada possível e gratificante. Agradeço primeiro a Deus, pela oportunidade de estudar e provar, a mim mesma que na vida tudo é possível, basta somente acreditar, confiar e trabalhar. Agradeço à minha família, que mesmo distante me apoiou com palavras de coragem e força nos momentos difíceis, acreditando sempre no meu potencial e me fazendo sentir protegida. Agradeço ao prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo, ao prof. Dr Jandislau José Lui e aos amigos do Sebrae/Gurupi pelo incentivo e suporte técnico contribuindo em muito, para o meu ingresso nesse mestrado e para o meu crescimento pessoal e profissional. Agradeço ao Prof. Dr. Bernardo Palhares Campolina Diniz, que me orientou nesta dissertação, da melhor maneira possível, incentivando-me na busca de informações precisas, questionando-me em todos os momentos para aprimorar o conteúdo e me fazendo enxergar que o caminho ideal quem traça sou eu, mas sem perseverança e trabalho, torna-se difícil trilhá-lo. Agradeço ao meu co-orientador, prof. Dr. Leonardo Santos Collier e ao Prof. Dr. Waldecy Rodrigues, pela paciência em me ouvir, discutindo e contribuindo para a organização das idéias e deste estudo. Aos meus colegas de turma, pela oportunidade de conhecê-los, pela rica troca de experiências e, em especial a Andréa, Graça e Adriana que me apoiaram nas horas difíceis, me acolheram e prestaram informações importantes as quais possibilitaram a construção desta dissertação. Finalmente, agradeço aos amigos, lideranças e instituições da Região Sudeste do Tocantins pelas informações que possibilitaram o meu aprendizado, o conhecimento da região e a realização desta dissertação.
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EPÍGRAFE
"Um músico deve compor, um artista deve pintar,
um poeta deve escrever, caso pretendam deixar seu coração em paz.
O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de auto-realização."
Abraham Harold Maslow (1908 - 1970)
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RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo apresentar e discutir o processo de desenvolvimento da região Sudeste do Tocantins. A partir da visão proposta por Myrdal, de que as regiões crescem e se desenvolvem de forma diferenciada, o nosso objetivo é compreender que fatores contribuem para o processo de desenvolvimento de uma região. Dentre estes fatores podemos elencar as condições naturais, o capital humano, os investimentos públicos e privados e o capital social, como alguns dos elementos que influenciam esse processo de desenvolvimento. Para compreender o papel das interações sociais, bem como sua relação com os processos de crescimento e desenvolvimento econômico de uma região alguns aspectos foram analisados na região Sudeste do Tocantins. Nessa perspectiva, o objetivo mais específico dessa dissertação é discutir o capital social enquanto um dos elementos centrais do processo de desenvolvimento, a partir da visão proposta por Sen (2000) de que o desenvolvimento requer, antes de mais nada, a necessidade de que os indivíduos tenham liberdade e capacidade para decidir sobre as suas escolhas. Para atingir este objetivo foram levantadas informações históricas, dados secundários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, realizadas entrevistas qualitativas e principalmente observações participantes, as quais possibilitaram a estruturação dessa dissertação em três capítulos: o primeiro tecerá considerações sobre desenvolvimento e crescimento econômico, apresentando dados comparativos da Região Sudeste do TO, do estado do Tocantins e do Brasil como aspectos demográficos, variáveis econômicas (PIB, emprego, agropecuária) e variáveis sócio-econômicas (indicadores de educação, saúde, posse de bens, transferência de renda). Será apresentado também um conceito recente que, aliado às idéias já consolidadas na teoria econômica, aborda o papel das instituições e da interação social entre diversos agentes econômicos e é denominado de “capital social”. Sobre esse “capital”, discutiremos as origens, definições e sua importância para a promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico de uma região. Finalizando o primeiro capítulo discutirmos alguns aspectos relacionados a participação social, a qual, segundo alguns teóricos é um instrumento que contribui para o acúmulo e fortalecimento do capital social. O segundo capítulo faz uma síntese da Região Sudeste do Tocantins abordando sua origem, caracterização, aspectos sociais e econômicos, instrumentos de gestão e projetos de desenvolvimento implementados a partir da década de 90. O terceiro e último capítulo fará uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais. Finalmente conclui-se que Capital Social, principalmente aquele a que Putnam (1996), Bandeira (1999), Amartya Sen (2000), e outros teóricos se referem, ainda não existe na Região Sudeste do Tocantins e este é um dos fatores, que ao nosso ver, contribui para a estagnação do desenvolvimento social e econômico da região.
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ABSTRACT This dissertation aims at presenting and discussing the process of development of the Tocantins Southeast region. Starting from Myrdal's view that regions grow and develop in a differenciated form, our aim is to comprehend what factors contribute for the process of development of a region. Besides these factors we can rely on the natural conditions, the human capital, the public and private investors and the social capital as some of the elements that influence this development process. In order to comprehend the role of the social interactions, as well as its relationship with the process of growth and economical development of a region, some aspects of the southeast region of Tocantins were analyzed. From that perspective, the most specific object of this dissertation is to discuss the social capital as one of the central elements of the development process, starting from Sen's (2000) view that development requires, before anything, the necessity of individual freedom, and the capacity of individual decision of choice. This aim was achieved through the gathering of historical data, secondary data from the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, from qualitative interviews and principally from participational observations. This made possible the split of this dissertation into three chapters. The first one is divided in four topics addressing the following themes: Growth, Economical Development, Social capital and its participation and accumulation. This chapter will draw upon considerations and discussions of some theorists that "believe in a change of view of the economy that adopt as its main criteria the quality of life, the ethics in the definition of the priorities and the creation of other development indexes, human and sustainable, instead of indicators based only in the growth of the production." In the second chapter were presented the origins, the characterization, the social and economical aspects of the Southeast region of Tocantins and were presented some projects of development implemented on the southeast region of Tocantins since the 90s. The third delves into the methodological procedures of data gathering and analysis and the construction of the social capital index. The third and last chapter makes an analysis of the socioeconomical development of this region, under the local leaders point of view. Finally we conclude that Social Capital, principally that which Putman (1993), Bandeira (1999), Amartya Sen (2000), and other theorists talk about, still doesn't exist in the Southeast region of Tocantins and that's one of the factors, in our view, which contribute to the stagnation of the social and economical development of this region.
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LISTA DE ABREVIATURAS
ADER Agente de Desenvolvimento Rural
CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe
CMDRS Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável
CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONDRAF Conselho Nacional do Desenvolvimento Rural Sustentável
COOPERCATO Cooperativa dos Produtores de Cachaça de Alambique do Sudeste do Tocantins
DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte
GTZ Cooperação Técnica Alemã
ICS Índice de Capital Social
II Índice dos indivíduos
IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
IPPP Índice de participação do poder público
IPSC Índice de participação da sociedade civil
PDRS Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONAT Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais
PROPERTINS Programa de Perenização das Águas do Tocantins
SEPLAN Secretaria do Planejamento do Estado do Tocantins
SRHMA Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente do Tocantins
STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Mapa Divisão Política do Estado e da Região Sudeste do Tocantins ............................. 34
FIGURA 2: Povoamento do Norte da Capitania de Goiás (atual Tocantins), período da mineração . 39
FIGURA 3: Perímetro Irrigado Manuel Alves ...................................................................................... 63
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: População residente nas 8 microrregiões do Tocantins, em 2007 .................................. 42
Gráfico 2: % de domicílios particulares permanentes, por classes de rendimento médio mensal
domiciliar per capita em salários mínimos - Tocantins – 2000 ............................................................. 46
Gráfico 3: Evolução do PIB per capita na região Sudeste do TO, de 2002 a 2006 .......................... 50
Gráfico 4: Taxa de analfabetismo: (%) da população com mais de 15 anos, 1991 e 2000.............. 50
Gráfico 5: Defasagem escolar (% de crianças entre sete e catorze anos com ................................ 51
Gráfico 6: Porcentagem de pessoas moradoras em domicílios com acesso a serviços de ............. 52
Gráfico 7: Porcentagem de pessoas em domicílios com acesso a serviços de ............................... 52
Gráfico 8: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios
particulares permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e .................................. 53
Gráfico 9: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios ............ 54
Gráfico 10: Distribuição da renda per capita na região Sudeste do TO.............................................. 56
Gráfico 11: Percentual de municípios com a presença de Conselhos Municipais, ............................ 59
Gráfico 12: Processo de escolha dos integrantes da sociedade civil, no Conselhos Municipais de
Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005 ...................................................................... 59
Gráfico 13: Caráter dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região ............................. 60
Gráfico 14: Frequência das reuniões dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região . 60
Gráfico 15: Área cultivada por produto, no Projeto Manuel Alves, em 2008 ...................................... 64
Gráfico 16: Perfil dos entrevistados..................................................................................................... 67
Gráfico 17: Faixa etária dos entrevistados .......................................................................................... 68
Gráfico 18: Tempo de moradia na Região Sudeste do TO ................................................................. 69
Gráfico 19: Participação em associações/cooperativas ...................................................................... 69
Gráfico 20: Situação das associações/cooperativas na região Sudeste do TO ................................. 70
Gráfico 21: Percentual de associados ativos e inativos na região Sudeste do TO ............................ 71
Gráfico 22: Avaliação dos Conselhos Municipais de Saúde da Região Sudeste do TO .................... 72
Gráfico 23: Avaliação dos Conselhos Municipais de Educação da Região Sudeste do TO .............. 72
Gráfico 24: Avaliação dos Conselhos Municipais de Ação Social da Região Sudeste do TO ........... 73
Gráfico 25: Avaliação dos Conselhos Tutelares da Região Sudeste do TO ...................................... 73
Gráfico 26: Avaliação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA..................... 74
Gráfico 27: Avaliação dos Conselhos Municipais da Mulher, da Região Sudeste do TO .................. 75
Gráfico 28: Avaliação dos Conselhos Municipais de Turismo, da Região Sudeste do TO ................ 75
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Gráfico 29: Avaliação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, da Região Sudeste do TO ..... 75
Gráfico 30: Avaliação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS,
da Região Sudeste do TO ..................................................................................................................... 77
Gráfico 31: Variação do Índice de Capital Social na Região Sudeste do TO ..................................... 83
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Evolução da população, % de crescimento anual, % da população urbana e rural: Sudeste
do TO, Tocantins e Brasil ...................................................................................................................... 43
TABELA 2: Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária ............................ 44
TABELA 3: Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária ............................ 44
TABELA 4: Média do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Sub-Índices Região
Sudeste do TO, Tocantins e Brasil ...................................................................................................... 45
TABELA 5: Índices de intensidade da pobreza - 1991 e 2000 ............................................................ 46
TABELA 6: Evolução do Índice de Gini, entre 1991 a 2000, na Região Sudeste do Tocantins .......... 48
TABELA 7: Evolução do Índice de GINI, entre 2000 e 2003, na Região Sudeste do Tocantins ......... 49
TABELA 8: Renda per Capita, % de renda proveniente do trabalho e de transferências governamen-
tais em 2000, na Região Sudeste do TO .............................................................................................. 55
TABELA 9: Evolução do PIB na Região Sudeste do Tocantins, no Tocantins e Brasil; 2002 a 2006 56
TABELA 10: Filiação a associações/cooperativas X tempo de filiação ................................................ 70
TABELA 11: Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da socie-
dade civil nos Conselhos Municipais..................................................................................................... 78
TABELA 12: Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da socie-
dade civil nos Conselhos Municipais .................................................................................................... 79
TABELA 13 Índice de Capital Social .................................................................................................... 82
TABELA 14 Índice de Capital Social em a Taxa de Alfabetização ...................................................... 84
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14
1. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E CAPITAL SOCIAL ................ 20
1.1 Crescimento ............................................................................................................. 20
1.2 Desenvolvimento Econômico ................................................................................... 21
1.3 Capital Social ........................................................................................................... 27
1.4 Participação e Acumulação de Capital Social ........................................................... 31
2. A REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS ......................................................................... 34
2.1 Localização .............................................................................................................. 34
2.2 Origem e caracterização .......................................................................................... 34
2.3 Aspectos sociais e econômicos ................................................................................ 42
2.3.1 Demografia .......................................................................................................... 42
2.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano .................................................................... 44
2.3.3 Índice Intensidade de Pobreza ............................................................................. 45
2.3.4 Índice de GINI ...................................................................................................... 47
2.3.5 Educação ............................................................................................................. 50
2.3.6 Acesso a infraestrutura básica ............................................................................. 51
2.3.7 Acesso a bens de consumo ................................................................................. 53
2.3.8 Aspectos econômicos .......................................................................................... 54
2.4 Instrumento de Gestão Municipal ............................................................................. 57
2.5 Projetos de desenvolvimento .................................................................................... 61
3. Uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na
visão de lideranças locais .................................................................................................... 67
3.1 Perfil dos entrevistados ............................................................................................ 68
3.2 Organização social ................................................................................................... 69
3.3 Conselhos Municipais ............................................................................................... 71
3.4 Índice de Capital Social ............................................................................................ 80
4. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 85
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 90
6. ANEXOS ......................................................................................................................... 94
6.1 Questionário da pesquisa de campo ........................................................................ 94
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INTRODUÇÃO
As condições naturais, a capacitação humana, os investimentos
públicos e privados são alguns aspectos que, a partir da criação de diversos
cenários contribuem para a análise das diferentes regiões do estado do Tocantins,
para a tomada de decisões por parte dos agentes e para o desenvolvimento de
diversas atividades econômicas.
Embora a Teoria Econômica já tenha consolidado o papel destes
elementos para o processo de crescimento econômico, o papel das interações
sociais tem motivado muitas considerações teóricas e investigações práticas.
Admite-se com isso, que as interações sociais entre os indivíduos, a
confiança, a participação social e o civismo desempenham um importante papel e
efeitos positivos na promoção do crescimento e desenvolvimento econômico.
A partir dessa premissa, o presente estudo tem como propósito
apresentar e discutir alguns aspectos que contribuem para que o tão sonhado
“desenvolvimento sustentável” seja difícil de ser alcançado por determinadas
regiões, no caso deste estudo, a Região Sudeste do Tocantins, tornando-se quase
que uma utopia.
Outro aspecto que contribuiu para a decisão de realizar esta
dissertação na Região Sudeste do Tocantins, foi uma afirmação que sempre ouvi
durante as reuniões, encontros e conversas com pessoas e lideranças, dentro e fora
da região, e a qual em muito incomoda. É o fato de a mesma ser estigmatizada e
conhecida como o “Corredor da Miséria”.
Entretanto, observa-se que esta região, formada por 20 municípios
possui algumas características e potencialidades locais as quais, em outros
municípios do país e até mesmo outras regiões do Tocantins, quando identificadas,
estruturadas e articuladas com as demais políticas públicas contribuem para o
crescimento econômico e desenvolvimento social, mas nesta região ainda estão
num lento processo de amadurecimento.
A avaliação dos aspectos que promovem o crescimento econômico e
desenvolvimento social de um município, região ou país, geralmente está
relacionada aos aspectos históricos ou a dotação de diferentes estoques de capital,
como capital natural, físico, financeiro e humano.
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A compreensão do papel das interações sociais, bem como sua
relação com os processos de crescimento e desenvolvimento econômico de
determinadas regiões, possibilita a inclusão de um novo elemento explicativo, na
função de produção, geradora de crescimento.
Assim, a quase estagnação da economia na região Sudeste do
Tocantins, poderia estar relacionada com o baixo nível de organização social de
seus agentes, em grupos de ação coletiva.
Este foi um dos aspectos que despertou o interesse em realizar esta
dissertação, a qual espera-se contribua para responder a pergunta: “Por que a
Região Sudeste do Tocantins, onde desde a década de 90, são implementados
programas e projetos que visam o seu desenvolvimento econômico e social, ainda
encontra dificuldades para emergir do estado de quase estagnação para entrar num
processo de desenvolvimento econômico e social?”
Acreditamos que este estudo será importante para aumentar o
conhecimento cientifico e para contribuir com o planejamento de programas e
projetos de desenvolvimento regional e formulação e/ou readequação de políticas
públicas governamentais.
Metodologia
Essa dissertação foi realizada na região Sudeste do Tocantins e a
metodologia utilizada constituiu-se de quatro componentes: 1) estudos, pesquisas e
diagnósticos já existentes na região; 2) entrevistas semi-estruturadas junto a
lideranças das organizações sociais e do poder público; 3) observação participante;
e 4) sistematização e análise de informações secundárias de fontes diversas.
A organização e análise destas informações possibilitaram a
construção de um perfil sintético das principais características socioeconômicas,
ambientais e culturais da região.
Para conhecer a realidade organizacional dos municípios realizou-se
uma pesquisa, junto a lideranças do poder público e sociedade civil, com o objetivo
de identificar a existência ou não de órgãos/instituições como os Conselhos
Municipais e/ou Regionais de Desenvolvimento Sustentável, Fóruns de
Desenvolvimento Regional, sindicatos, grupos de interesse, bem como a sua
importância e participação no processo de formulação de políticas públicas.
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A partir dos dados e das informações obtidas construiu-se o Índice de
Capital Social – ICS cujo papel é mensurar o nível de organização e a existência ou
não de Capital Social na região Sudeste do Tocantins.
Para compor o ICS foram construídos três índices: o Índice de
Participação do Poder Público – IPPP, formado pelas variáveis “no total de
conselhos, conselhos existentes e conselhos ótimos e bons”; o Índice de
Participação da Sociedade Civil – IPSC utilizando as variáveis “associações ativas,
total de associações, associados ativos e total de associados”; e o Índice dos
Indivíduos – II, a partir da “taxa de alfabetização”. A fórmula utilizada para a
construção do ICS baseou-se numa simples média aritmética e foi a seguinte:
+ +Taxa alfabetização
Outro método utilizado nessa dissertação foi o estudo de caso, que é
um método de pesquisa qualitativa que investiga os fenômenos à medida em que
ocorrem, sem qualquer interferência significativa do pesquisador. Tem o objetivo de
compreender a situação em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais
genéricas a respeito dos aspectos característicos do fenômeno observado. (Fidel,
1992)
Segundo Young (1960), estudo de caso é “(...) um conjunto de dados
que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma unidade, em
suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, quer seja essa unidade
uma pessoa, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade
ou uma nação”.
São várias as situações onde se utiliza o estudo de caso e as que mais
se destacam são: i) quando as questões da pesquisa abordam o “como” e por quê?;
ii) quando o controle que o investigador tem sobre os acontecimentos é muito
reduzido; ou iii) quando o foco temporal está em fenômenos contemporâneos dentro
do contexto de vida real.
Quanto à pesquisa científica, segundo Selltiz (1987), tem a finalidade
de descobrir respostas para algumas questões mediante a aplicação de métodos
científicos.
IPSC IPPP II
3 = ICS
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Na sociologia, as pesquisas qualitativas trabalham com significados,
motivações, valores e crenças e estes, não podem ser simplesmente reduzidos às
questões quantitativas, pois respondem a noções muito particulares.
Na opinião de Minayo (1996) os dados quantitativos e os qualitativos
acabam se complementando dentro de uma pesquisa e esta foi a metodologia
adotada na coleta dos dados desta dissertação.
Utilizamos também, a observação participante e as entrevistas semi-
estruturadas, ou seja, com perguntas abertas e fechadas, compostas por um
conjunto de variáveis previamente definidas, relacionadas aos aspectos
institucionais e sociais e aplicadas junto aos representantes do poder público, da
iniciativa privada, gestores de projetos, lideranças e formadores de opinião.
A observação participante faz com que o pesquisador tenha um contato
mais direto com a realidade, onde procura recolher e registrar os fatos sem a
utilização de meios técnicos especiais, ou seja, sem planejamento ou controle.
Esta metodologia possibilita ao entrevistado discorrer sobre o tema
proposto e, normalmente ocorre em um contexto semelhante ao de uma conversa
informal. Além disso são muito utilizadas quando se deseja delimitar o volume das
informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema em questão e
intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados. (SELLTIZ et allii, 1987).
Para Young (1960), a observação participante, entrevistas semi-
estruturadas, análise de documentos e questionários são instrumentos que podem
ser utilizados para coletar dados no estudo de caso.
Um dos instrumentos utilizados nessa dissertação foram as entrevistas
semi-estruturadas e os dados obtidos possibilitaram traçar o perfil dos entrevistados
(faixa etária, nível educacional e renda familiar), avaliar o nível de organização e
participação social e identificar o papel e a participação do estado nos processos de
desenvolvimento sustentável.
Porém, o ponto de partida de uma investigação científica deve basear-
se no levantamento de dados, os quais num primeiro momento são obtidos com a
realização de uma pesquisa bibliográfica. Num segundo momento com a observação
dos fatos ou fenômenos que proporcionaram a obtenção de maiores informações e
num terceiro momento é que realiza-se a pesquisa de campo para coletar os dados
que não foram obtidos por meio da pesquisa bibliográfica e da observação.
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Uma das formas que complementam a coleta de dados são as
entrevistas, as quais são definidas por Haguette (1997:86) como um “processo de
interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por
objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.
A realização de entrevistas é a técnica mais utilizada no processo de
trabalho de campo, pois por meio delas é possível coletar dados objetivos e
subjetivos. Os primeiros são obtidos em fontes secundárias, tais como censos,
estatísticas, etc, mas os dados subjetivos só podem ser obtidos através da
entrevista, pois dizem respeito aos valores, às atitudes e às opiniões dos sujeitos
entrevistados.
Quanto á preparação das entrevistas é uma das etapas mais
importantes da pesquisa que requer tempo e exige alguns cuidados, dentre os quais
destacam-se: o planejamento da entrevista, que deve ter em vista o objetivo a ser
alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que tenha familiaridade
com o tema pesquisado; a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do
entrevistado em fornecer a entrevista que deverá ser marcada com antecedência
para que o pesquisador se assegure de que será recebido; as condições favoráveis
que possam garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua
identidade e, por fim, a preparação específica que consiste em organizar o roteiro ou
formulário com as questões importantes (LAKATOS, 1996).
Nessa dissertação os cuidados sugeridos por Lakatos (1996) foram
tomados, na escolha dos entrevistados, na aplicação das entrevistas e durante a
construção do questionário, as variáveis foram elaboradas de modo a proporcionar
informações que pudessem responder a pergunta chave desse estudo.
Estrutura
A dissertação está estruturada em três capítulos: o primeiro tecerá
considerações sobre desenvolvimento e crescimento econômico, apresentando
dados comparativos da Região Sudeste do TO, do estado do Tocantins e do Brasil
como aspectos demográficos, variáveis econômicas (PIB, emprego, agropecuária) e
variáveis sócio-econômicas (indicadores de educação, saúde, posse de bens,
transferência de renda). Será apresentado também um conceito recente que, aliado
às idéias já consolidadas na teoria econômica, aborda o papel das instituições e da
interação social entre diversos agentes econômicos e é denominado de “capital
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social”. Sobre esse “capital”, discutiremos as origens, definições e sua importância
para a promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico de uma região.
Finalizando o primeiro capítulo discutirmos alguns aspectos relacionados a
participação social, a qual, segundo alguns teóricos é um instrumento que contribui
para o acúmulo e fortalecimento do capital social.
O segundo capítulo faz uma síntese da Região Sudeste do Tocantins
abordando sua origem, caracterização, aspectos sociais e econômicos, instrumentos
de gestão e projetos de desenvolvimento implementados a partir da década de 90.
O terceiro e último capítulo fará uma análise do desenvolvimento
socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais.
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1. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E CAPITAL SOCIAL
1.1 Crescimento
Crescimento econômico é compreendido como o processo de
enriquecimento dos países, bem como o de seus habitantes, ou seja, na
acumulação de ativos individuais ou públicos, do crescimento da produção nacional
e pela remuneração recebida pelos que participam da atividade econômica.
Nas décadas de 1940 a 1950, a evolução teórica sobre crescimento
restringiu-se na análise das causas do aumento do produto nacional per capita,
considerado então, como elemento representativo da melhoria das condições de
vida.
Segundo Wadih João Scandar Neto1, neste período, confundiam-se os
indicadores de desenvolvimento com os de crescimento econômico, embora estudos
demonstrem que crescimento por si só, não garante o desenvolvimento e o Brasil é
um exemplo disso, pois tem aumentado consideravelmente o Produto Interno Bruto -
PIB, mas os índices de desenvolvimento nem sempre acompanham.
Outro exemplo foi a década de 70 onde o país viveu um período de
crescimento, denominado “milagre econômico”, com taxas de aumento do produto
interno bruto variando de 10,4% em 1970 a 14,0% em 1973, porém, segundo
Furtado (1974), taxas mais altas de crescimento do produto, “longe de reduzir o
subdesenvolvimento, tendem a agravá-lo”.
Para o professor Eli da Veiga, “... há muito tempo se sabe que o PIB
não serve para medir o desenvolvimento. Agora se percebe que não serve nem
mesmo para medir a riqueza.” Ainda nas palavras de Veiga, “grosso modo, o
indicador mede um fluxo de renda sem descontar a depreciação dos estoques.”2
Assim sendo, observamos que crescimento econômico não representa
melhoria da condição de vida da população, mas sim uma condição necessária ao
desenvolvimento.
1 Mestre em estudos populacionais e pesquisas sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, que defendeU uma tese na qual apresenta a construção metodológica de um indicador de desenvolvimento sustentável. 2 Informações obtidas no site http://pagina22.com.br/wp-content/uploads/2009/12/ed4.pdf. O professor Eli
da Veiga estava como Membro do Conselho Editorial da Revista editada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.
21
1.2 Desenvolvimento Econômico
Desenvolvimento econômico pode ser compreendido a partir de várias
correntes teóricas. Franklin Coelho3 afirma que o processo de desenvolvimento
econômico acontece a partir da constituição de uma ambiência produtiva inovadora,
na qual se desenvolvem e se institucionalizam formas de cooperação e integração
das cadeias produtivas e das redes econômicas e sociais, de tal modo que sejam
ampliadas as oportunidades locais e a geração de trabalho e renda, atraindo novos
negócios e criando condições para um desenvolvimento humano sustentável.
Para Sachs (2002) um processo de desenvolvimento includente é
aquele que garante os direitos civis e políticos, o exercício da democracia a
transparência e responsabilidade nas ações, valores estes, necessários ao bom
funcionamento dos processos de desenvolvimento. Segundo Sachs (2002), a
economia capitalista é eficiente na produção de bens e riquezas, porém é
responsável pela criação de males sociais e ambientais e esses problemas só
podem ser solucionados mediante a formulação de políticas públicas que priorizem a
redução da pobreza e a proteção do meio ambiente.
Por outro lado, Tocqueville, (1998) afirma que existe uma interligação
entre sociedade civil, democracia e desenvolvimento econômico, a qual descreve de
maneira objetiva, quando discorre sobre a sociedade americana de meados do
século XIX.
Putnam (2007), na pesquisa que realizou sobre o desenvolvimento das
localidades italianas nas últimas décadas do século XX, também observou a
existência de um elo entre os graus de associativismo, confiança e cooperação
atingidos por uma sociedade democrática organizada do ponto de vista cívico e
cidadão e a boa governança e a prosperidade econômica.
No final da década de 1950, Jacobs (1961) analisou as razões pelas
quais algumas cidades americanas pareciam vivas, florescentes, enquanto outras
permaneciam estagnadas, com aspecto de quem estava morrendo. Observou então,
que nas cidades consideradas "vivas" haviam pessoas conectadas e interagindo
com pessoas, segundo um padrão de rede e ocupadas com os assuntos públicos.
3 COELHO Franklin Desenvolvimento Econômico Local no Brasil: as experiências recentes num contexto de
descentralização, CEPAL/GTZ, Santiago, Chile, 2000
22
A autora denominou essas redes de capital social e, segundo ela, este
capital social era o responsável pela vitalidade das localidades americanas em
termos de desenvolvimento e não, o capital físico ou financeiro, o produto, a renda
ou a riqueza, conforme o ponto de vista do pensamento econômico.
Observa-se então que, para Sachs, Tocqueville, Putnam e Jacobs, a
organização da sociedade civil, a participação cidadã, civismo, associativismo,
confiança e cooperação estavam intrinsecamente relacionados com os níveis de
democracia, prosperidade e desenvolvimento econômico de uma determinada
localidade. Estes autores identificaram uma forte relação entre desenvolvimento e o
modo como a sociedade se estrutura e regula seus conflitos, o que levou Franco
(2002) a afirmar que desenvolvimento tem muito a ver, com rede e com democracia.
Outro aspecto importante é que grande parte das definições
encontradas na literatura associa desenvolvimento à melhoria nas condições de vida
ou no bem estar das pessoas.
Entretanto, sobre melhoria nas condições de vida ou bem estar das
pessoas, Amartya Sen (2000) faz uma crítica:
... é fundamental analisar outros fatores que afetem o bem-estar, tais como saúde e educação, pois de acordo com os pressupostos éticos da Economia, cada indivíduo tem a sua utilidade e não cabe a ninguém dizer-lhe o que ele deve valorizar. Cada um tem seu mapa de preferências. Não devemos julgar essas preferências, por mais absurdas que nos pareçam. Por conseqüência lógica, como então poderemos dizer que educação e saúde são coisas boas, se isso é uma opinião pessoal? E como poderemos comparar se alguém está com mais bem-estar ou menos bem-estar se cada um tem a sua utilidade e não há métrica cardinal pra medi-la?
Sen (2000) defende as capacitações ou a expansão das liberdades
substantivas que ele descreve no livro Desenvolvimento como Liberdade. Utilizando
um conceito de liberdade positiva, o autor acredita que quanto mais opções a
pessoa tem de ter uma vida que ela valoriza, melhor ela está. Para ele, mais
educação e saúde, ao permitirem maiores oportunidades econômicas, maior
participação política e proteção em relação a doenças facilmente evitáveis por meio
de um sistema de saúde, tornam-se requisitos cruciais para uma sociedade ser
classificada de desenvolvida.
Para Sen (2000) desenvolvimento é visto como “um processo de
expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam” e acrescenta que o
aumento do Produto Nacional ou da renda per capita deve restringir-se a um “meio
de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros da sociedade”.
23
Segundo ele, tais liberdades devem ir além da acumulação da riqueza
e alcançar os direitos civis, políticos e sociais, pois na sua visão o crescimento não é
um fim, mas um meio relevante para o desenvolvimento.
Outra abordagem importante nas discussões sobre os processos de
desenvolvimento diz respeito à teoria do desenvolvimento sustentável. A partir da
segunda metade do século XIX, a degradação ambiental e suas catastróficas
conseqüências, em nível planetário, originaram estudos e as primeiras reações no
sentido de se conseguir fórmulas e métodos para diminuir os danos causados ao
ambiente.
Em 1948, na reunião do Clube de Roma, autoridades reconheceram
formalmente os problemas ambientais e a falência dos recursos naturais. Essa
constatação levou a realização de um estudo, que foi liderado por Dennis Meadows4,
o qual identificou que a degradação ambiental decorre, principalmente, do
descontrolado crescimento populacional e da super exploração dos recursos
naturais e que, se não houver estabilidade populacional, econômica e ecológica,
tudo um dia acabará. Esses estudos deram subsídios para a idéia de
desenvolvimento aliado a preservação.
Criou-se então a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, com os seguintes
objetivos: reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e reformular
propostas realísticas para abordá-las; propor novas formas de cooperação
internacional nesse campo de modo a orientar as políticas e ações no sentido de
fazer as mudanças necessárias; e proporcionar aos indivíduos, organizações
voluntárias, empresas, institutos e governos uma maior compreensão dos problemas
existentes, auxiliando-os e incentivando-os a uma atuação mais firme.
A partir desta época adotou-se o conceito de Desenvolvimento
Sustentável, como sendo aquele que atende às necessidades presentes sem
comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas
próprias necessidades, conceito este que foi definitivamente incorporado como um
princípio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
4 Dennis L. Meadows (nascido 7 de junho, 1942) É um cientista norte-americano e professor emérito
de Sistemas de Gestão, e ex-diretor do Instituto de Política e Pesquisa em Ciências Sociais na Universidade de New Hampshire. Começou a trabalhar na faculdade de Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 1960 e de 1970 a 1972 no MIT, ele foi diretor do "Clube de Roma” e é amplamente conhecido como o co-autor do estudo denominado O Limite do Crescimento.
24
Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992, conhecida como Eco-92, que
aconteceu no Rio de Janeiro.
Outra definição para desenvolvimento sustentável tem a ver com o que
Furtado (1974) afirma em seu livro O Mito do Desenvolvimento: “não é qualquer taxa
de crescimento que pode ser perseguida; há que pensar-se antes naquilo que é
(ecologicamente) sustentável, ou seja, possível, durável, realizável”.
Em 1987, a CMMAD, presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu
relatório Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como
Relatório Brundtland, o qual busca o equilíbrio entre proteção ambiental e
desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 21,
com a qual mais de 170 países, por ocasião da Eco-92, se comprometeram em
alcançar um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo mais
equilibrado.
A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, afirma que o
Desenvolvimento Sustentável é construído sobre “três pilares interdependentes e
mutuamente sustentadores” - desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e
proteção ambiental.
O desenvolvimento sustentável foca sua atenção nos aspectos
ambientais ressaltando a utilização racional dos estoques de recursos naturais para
que estes possam continuar sendo utilizados pelas futuras gerações.
Outra teoria que abordaremos é a do desenvolvimento endógeno que
enfoca os aspectos regionais, apresentando maiores contribuições para as questões
das desigualdades regionais e os melhores instrumentos de políticas para sua
correção.
O processo de desenvolvimento endógeno teve suas origens na
década de 1970, quando as propostas de desenvolvimento da base para o topo
emergiram com maior notoriedade e evoluiu com a colaboração de novos enfoques
ao problema do crescimento desequilibrado.
Na década de 1990, a principal discussão deste modelo de
desenvolvimento concentrou-se na tentativa de entender porque o nível de
crescimento variava entre as diversas regiões e nações, mesmo quando elas
dispunham de condições semelhantes na busca de fatores produtivos, como capital
25
financeiro, mão-de-obra ou tecnologia. A solução seria encontrar, entre estes
fatores, aqueles que existiam dentro da região.
Desta forma, a teoria do desenvolvimento endógeno contribuiu para
identificar os fatores de produção existentes dentro de uma região, como capital
social, capital humano, conhecimento, informação, pesquisa e desenvolvimento e as
instituições e não aqueles trazidos de fora, ou seja, fatores exógenos, como até
então era entendido.
Por conseguinte, concluiu-se que a região dotada destes fatores, ou
estrategicamente direcionada para desenvolvê-los internamente teria as melhores
condições para trilhar o caminho do desenvolvimento.
Outro aspecto considerado importante na teoria do desenvolvimento
endógeno é a participação da sociedade civil e das relações sociais as quais são
defendidas por outros pesquisadores do desenvolvimento, dentre eles, Vázquez
Barquero (2002).
Este autor afirma que a capacidade da sociedade de liderar e conduzir
o seu próprio desenvolvimento, condicionando-o à mobilização dos fatores
produtivos disponíveis em sua área e com seu potencial próprio, traduz uma forma
de desenvolvimento denominado endógeno, do qual pode-se identificar duas
dimensões: a primeira econômica, onde a sociedade empresarial utiliza sua
capacidade para organizar, da forma mais producente possível, os fatores
produtivos da região. A segunda sócio-cultural, onde os valores e as instituições
locais servem de base para o desenvolvimento da região. (Barquero, 2002)
Argumenta ainda, que o processo de desenvolvimento, ao considerar e
dar relevância à sociedade civil local e às suas formas de organização e relação
social permite que a região atinja um crescimento equilibrado e sustentado no longo
prazo, sem entrar em conflito direto com a base social e cultural da região.
(Barquero, 2002)
Na visão de Boisier (1997), a sociedade civil e nela compreendida as
formas locais de solidariedade, integração social e cooperação, pode ser
considerada o principal agente da modernização e da transformação sócio-
econômica em uma região.
Para Godard (1987), uma das chaves do desenvolvimento reside na
capacidade de cooperação entre seus atores. Também é conveniente particularizar
26
a análise das formas de cooperação institucional ou voluntária que se produzem
entre eles contanto que o objetivo seja o desenvolvimento local.
Segundo Franco (2002), o desenvolvimento acontece quando uma
região consegue dinamizar suas potencialidades, mas acredita que, para isso
acontecer é necessário a integração de vários fatores como a melhoria do nível
educacional da população, a existência de pessoas com capacidade para tomar
iniciativas, assumir responsabilidades e desenvolver ações empreendedoras.
Aliado a isso, acrescenta a necessidade e importância da participação
da sociedade, pois a seu ver, “desenvolvimento só é desenvolvimento se for
humano, social e sustentável”.
Outro aspecto discutido pelo economista Myrdal5 (1968), diz respeito
ao princípio da causação circular e acumulativa, conhecida como “círculo vicioso”.
Segundo Myrdal (1968), “o círculo vicioso do atraso econômico e da
pobreza só pode ser interrompido através de intervenções do Estado que promovam
crescimento econômico com integração nacional”. O autor deixa claro que essa
“cláusula” imposta ao crescimento econômico, a integração nacional, é uma peça
fundamental do modelo, cuja ausência ou insuficiência acarreta a continuidade do
processo de causação circular.
Ao estudar os aspectos econômicos da saúde, o professor Winslow
afirmou que a pobreza e a doença formavam um círculo vicioso. Homens e mulheres
eram doentes porque eram pobres; tornaram-se mais pobres porque eram doentes e
mais doentes porque eram mais pobres. (WINSLOW, apud. MYRDAL, 1968)
Para ele, esse era um processo circular e acumulativo descendente
onde, um efeito negativo era, ao mesmo tempo, causa e efeito de outros fatores
negativos.
Entretanto, Myrdal (1968) acredita que é possível um processo
acumulativo ascendente a partir de uma relação circular entre menos pobreza, mais
alimento, mais saúde e enfim, maior possibilidade de trabalho.
Segundo ele, o processo acumulativo pode acontecer em ambas as
direções, além de ser o método mais objetivo para se analisar as mudanças sociais.
5 Gunnar Myrdal, nascido na Suécia em 1898, prêmio Nobel de economia de 1974 (junto com Hayek).
Considerado como um dos maiores especialistas em estudos sobre pobreza e subdesenvolvimento. Foi ministro do comércio da Suécia entre 1945 e 1947 e assessor econômico das Nações Unidas para assuntos da Europa por mais de dez anos.
27
Na visão de Myrdal (1968) a principal tarefa científica é analisar as
inter-relações causais dentro do sistema, à medida que ele se move sob a influência
de forças externas que pressionam ora em determinado sentido ora em outro, ao
ritmo de seus próprios processos internos.
No que se refere às forças externas, algumas, como oportunidade de
emprego e situação dos negócios estão sujeitas a fortes transformações a curto
prazo, outras, como valores e hábitos de uma comunidade e sua influência na
situação política e institucional, são mais estáveis.
Myrdal (1968) acrescenta ainda, que quanto mais conhecimento se tem
sobre as forças internas e externas, que atuam em determinada região, as chances
de se obter melhores resultados serão bem maiores.
Outro autor que contribui para as discussões sobre processos de
desenvolvimento é Becker (2000), e diz o seguinte:
... algumas regiões, em função dos seus arranjos cooperativos, conseguem responder positiva e ativamente aos desafios contemporâneos, construindo seu modelo de desenvolvimento, outras não. Desse processo, pode resultar uma das quatro seguintes situações: primeira, algumas regiões conseguem desenvolver suas potencialidades constituindo uma dinâmica própria local; segunda, algumas só conseguem aproveitar as oportunidades decorrentes da dinâmica global de desenvolvimento; terceira, outras conseguem combinar eficientemente o desenvolvimento de suas potencialidades locais com o aproveitamento eficaz das oportunidades globais oferecidas pelo processo de desenvolvimento contemporâneo; ou, quarta, outras não conseguem nem uma e nem outra, e tendem a desaparecer como região de desenvolvimento.
Entretanto, para que esses processos de organização e de mudança
social aconteçam e promovam um desenvolvimento sustentável interligando as
dimensões econômica, social e ambiental, torna-se necessário que as regiões sejam
providas de capital, mas não somente o capital econômico, mas um outro tipo de
capital denominado “capital social” sobre o qual discutiremos a seguir.
1.3 Capital Social
O termo capital social, segundo Durston6, (1999) refere-se às normas,
instituições, e organizações que promovem a confiança e a cooperação entre as
pessoas, nas comunidades e na sociedade como um todo. Nas propostas do
paradigma do capital social que se concentram em suas manifestações coletivas,
6 Coordenador de Assuntos Sociais da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Económica
para América Latina e o Caribe (CEPAL)
28
argumenta-se que as relações estáveis de confiança e cooperação podem reduzir os
custos de transação (Coase 1937), produzir bens públicos (North, 1994) e facilitar a
constituição de atores sociais ou inclusive de sociedades civis saudáveis. (Putnam
2007)
É também definido como o conjunto das características da organização
social, que englobam as redes de relacionamentos entre indivíduos, suas normas de
comportamento, laços de confiança e obrigações mútuas. E o capital social, quando
existente em uma região, facilita a tomada de ações colaborativas que resultam no
benefício de toda a comunidade.
Outro aspecto relevante do capital social é a capacidade inovadora
para mobilizar recursos endógenos e exógenos; o grau de participação das
comunidades no processo produtivo; a capacidade de exercer uma gestão
compartilhada demonstrada pelos sujeitos do processo e pelas autoridades locais e
a capacidade de concertação com atores inter e extraterritoriais.
O capital social é compreendido, basicamente, por sua função, sendo
encontrado em organizações sociais que potencializem a produção do ser humano.
Acredita-se, portanto que onde existe “capital social” a relação entre os graus de
associativismo, confiança e cooperação são mais fortes, pois capital social não se
gasta com o uso; ao contrário, o uso do capital social o faz crescer.
Capital social é capital porque, utilizando a linguagem dos
economistas, ele se acumula, pode produzir benefícios, minimiza os custos de
transação, tem estoques e uma série de valores. Refere-se a recursos que são
acumulados e que podem ser utilizados e mantidos para uso futuro. Não se trata,
porém, de um bem ou serviço de troca. Pode, deve e tem sido um elemento
estratégico fundamental para avaliar a sustentabilidade de projetos e políticas.
A noção de capital social indica que os recursos são compartilhados no
nível de um grupo da sociedade, além dos níveis do indivíduo e da família.
Entretanto, isso não implica que todos aqueles que compartilham
determinado recurso de capital social se relacionem enquanto amigos; significa, no
entanto, que o capital social existe e cresce a partir do momento onde são
estabelecidas relações de confiança e cooperação e não somente relações
baseadas no antagonismo.
Fukuyama (1996) acredita que o acúmulo de capital social acontece
quando existe um maior grau de confiança numa sociedade e afirma que capital
29
social difere de outras formas de capital porque é acumulado por meio de valores e
hábitos culturais como religião, tradição ou hábitos históricos além de basear-se em
virtudes sociais e não somente individuais.
Por isso, tanto a idéia de capital social, quanto a de cooperação, nos
últimos anos, têm sido destacadas por organismos internacionais devido ao seu
papel na implementação e fortalecimento de políticas de desenvolvimento.
Observa-se assim, que a eficiência das instituições é diretamente
proporcional ao estoque de capital social presente na sociedade, pois o acúmulo de
capital social facilita as ações coordenadas, estimula a cooperação espontânea, e
inibe os comportamentos oportunistas.
Outro estudioso do capital social foi Robert Putnam (2007) que, a partir
de pesquisas e estudos realizados na Itália, identificou que os vários aspectos que
marcaram as diferenças sociais encontradas entre o norte e o sul daquele país
levam a acreditar que o desenvolvimento de uma região está diretamente ligado às
características da organização social e das relações cívicas encontradas.
Putnam (2007) enfatiza que na Itália contemporânea, a comunidade
cívica está estritamente ligada aos níveis de desenvolvimento social e econômico.
Visto isso, capital social é compreendido como o conjunto das
características da organização social, que englobam as redes de relações, normas
de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação e, quando
existente em uma região, torna possível a realização de ações integradas que
resultam no benefício de toda comunidade (Putnam, 2007).
Para Coleman (Apud Putnam, 2007), assim como outras formas de
capital, o capital social é produtivo, possibilitando a realização de certos objetivos
que seriam inalcançáveis se ele não existisse (...).
Entretanto, mesmo sendo um de seus grandes defensores, Putnam
(2007), argumenta que o capital social, as tradições cívicas e as práticas
colaborativas, por si só, não desencadeiam o progresso econômico, mas são a base
para as regiões enfrentarem e se adaptarem aos desafios e oportunidades. Enfatiza
ainda que qualquer interpretação baseada num único fator certamente será
equivocada.
Vale ressaltar que do ponto de vista histórico, a primeira e a segunda
Guerras Mundiais despertaram na sociedade européia um sentimento de
30
solidariedade, o qual corroborou com a recuperação e o desenvolvimento daquelas
nações.
Putnam (2007) afirma também que é crescente a retração das práticas
participativas, do engajamento cívico e do trabalho associativo na sociedade civil
mas acredita que esta fragilidade da solidariedade humana não se constitui no único
entrave às políticas de apoio a cooperação.
Como exemplo, cita o crescimento do individualismo e o declínio do
capital social, no final do século XX, especialmente nos Estados Unidos, mas
acredita que (...) este cenário caracteriza, em certa medida, muitas sociedades
contemporâneas.
No Brasil, num estudo sobre experiências recentes de políticas
participativas regionais, Bandeira7 (1999), chega a conclusões semelhantes. Para
ele, propostas de políticas públicas que visem a ampliação do capital social regional,
por meio de práticas participativas, terão que manter por um longo período o apoio
institucional, a credibilidade e a sustentação política da proposta, sob pena de
inviabilizar no futuro a continuidade das práticas cívicas e da solidariedade na
comunidade.
Em outra experiência brasileira, desenvolvida no Estado de
Pernambuco e com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura – IICA, Jara (1998) enfatiza que torna-se necessário um profundo
reexame das principais premissas e valores que orientem o desenvolvimento
comunitário.
O autor acredita que entender e apoiar a implementação das políticas e
programas de desenvolvimento, em movimento, em processo e em termos de suas
relações com seu ambiente multidimensional é um desafio, pois os graves
problemas com os quais defrontamos são todos inter-relacionados.
Entretanto, acreditamos que desenvolvimento é um processo de
amadurecimento social e democrático e, como tal só existe se incorporado por seus
atores e estes estiverem conscientes do contexto em que vivem e comprometidos
com o futuro desejável, o qual almejam, como objetivo de vida.
7 Economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
31
Por outro lado, numa análise sobre desenvolvimento rural, Sepúlveda8,
argumenta que, ao considerar o capital social e humano de um território, é pertinente
buscar as particularidades que esses adquirem em termos etários e de gênero e,
para ele, isso só será possível por meio da mobilização e capacitação do público
jovem do território, pois o jovem, tanto urbano como rural é uma peça importante
como agente multiplicador e de mudança nos valores, hábitos e costumes de uma
região.
Entretanto, para manter este jovem na área rural torna-se necessário
que ele encontre condições favoráveis a esta permanência e, para que isso
aconteça é preciso a participação do estado investindo em políticas públicas
voltadas, principalmente, para as áreas de saúde, educação, infraestrutura, cultura e
lazer.
Portanto, é pertinente a afirmação de Myrdal (1968) quando argumenta
sobre a importância da participação do estado:
Em países subdesenvolvidos o Estado deve interferir em alguns setores nos quais a iniciativa privada deveria estar atuando e com eficiência, como ocorre nos países desenvolvidos. Conforme os países subdesenvolvidos forem sofrendo o processo acumulativo de desenvolvimento, a iniciativa privada aumentará gradativamente sua participação na economia. Então, o país deve ter um plano nacional de desenvolvimento. O objetivo principal é aumentar a capacidade produtiva do país. Este plano deve conter uma política de controle de fertilidade, pois os avanços na medicina contribuem para reduzir o índice de mortalidade, o que exige investimentos crescentes para manter os níveis de padrão de vida da população. Deve-se então definir quanto deve ser investido e quais os meios que serão utilizados para realizar tal investimento. Investir em que setores? Transporte, energia, construção de usinas e equipamentos de indústrias pesadas e leves. Além disso, deve-se também investir para aumentar a produtividade da agricultura e melhorar a qualidade da saúde, da educação e da capacitação profissional da população. Não deve haver apenas uma diretriz geral, mas devem existir também diversas subdiretrizes meticulosamente planejadas em todos os setores de abrangência dos investimentos.
1.4 Participação e Acumulação de Capital Social
Na opinião de Dowbor (2003) o tempo das grandes simplificações
sociais já passou e o universo dividido em nações e estas em burguesia,
proletariado e campesinatos deu lugar a um conjunto de sistemas mais complexos e
imbricados entre si, evoluindo e transformando-se com grande rapidez.
8 Sepúlveda, Sérgio - Desenvolvimento microrregional sustentável: métodos para planejamento local.
Tradução de Dalton Guimaraes – Brasília:IICA, 2005
32
Ele acredita que o mais importante não é definirmos, nas escalas
superiores, a sociedade ideal que almejamos, mas sim gerar na sociedade
mecanismos e instituições que permitam a sua transformação e reconstrução de
acordo com os seus desejos e necessidades.
O autor afirma ainda, que o único compromisso real deve ser com a
democracia efetiva, mas os caminhos que as populações decidirão trilhar no futuro
pertencem a elas, e não a nós.
Na opinião de Bandeira (1999), o aumento da prática de participação
deve-se a vários aspectos. Dentre eles destaca-se a ampliação da democratização
do país interligada com a participação da sociedade civil e a articulação de atores
sociais para as ações relacionadas com a promoção do desenvolvimento.
Na opinião de Teixeira (2002), a crise do Estado, que não consegue
responder às demandas da sociedade, principalmente nos segmentos mais
desfavorecidos, facilitou o surgimento dos movimentos sociais, os quais constituem-
se como atores sociais e políticos, construindo sua identidade e autonomia com
nova maneira de encarar o Estado e de agir coletivamente para expressar suas
aspirações e demandas.
Teixeira (2002) acredita que a organização dos segmentos sociais
acontece não apenas para alcançar as necessidades materiais ou realização de
políticas públicas, mas para buscar reconhecimento como sujeito, para efetivar seus
direitos e praticar uma cultura política de respeito às liberdades, à equidade social e
à transparência das ações do Estado.
Desta forma constitui-se uma sociedade civil formada por uma rede de
associações, movimentos, grupos e instituições os quais, articulados com os
diversos setores da sociedade, lideranças empresariais e poder público, participam
ativamente nos processos de democratização.
Teixeira (2002) argumenta que a incapacidade do Estado em atender a
uma série de demandas e a dificuldade encontrada pelos movimentos sociais para
enfrentar a nova situação e criar novas alternativas, levaram à indecisão sobre como
agir. Daí, a tentativa de isolar-se em projetos alternativos, produtivos, sociais, na
busca de resolver problemas e carências de determinados grupos sociais.
Entretanto, na opinião de Bandeira (1999) é necessário criar
mecanismos que possibilitem a participação mais direta da comunidade na
33
formulação, detalhamento e implementação das políticas públicas. E esta é uma
opinião que, cada vez mais, tem sido discutida e aceita no Brasil, nos últimos anos.
Exemplo disso é a difusão da prática de promover consultas aos
segmentos diretamente ou indiretamente interessados, quando da elaboração de
projetos, planos e programas específicos.
Da mesma forma, torna-se usual a adoção de mecanismos
participativos na implementação e no acompanhamento de ações setoriais,
principalmente na área social. Um exemplo são as comissões de monitoramento e
avaliação criadas para acompanhar a execução dos projetos e programas
específicos, em nível municipal, estadual e federal e com a presença de
representantes de vários segmentos da sociedade civil.
Outra forma de participação, difundida entre as administrações locais,
são os orçamentos participativos, onde a população representada por entidades de
classe e/ou lideranças de organizações da sociedade civil são chamados a deliberar
sobre a forma de aplicação dos recursos públicos.
Ao analisar as opiniões e argumentos dos diversos autores citados
acima, observa-se que, acumulação e fortalecimento do capital social estão
diretamente relacionados ao processo de participação social e tanto um, como outro,
contribuem em muito, para a promoção do desenvolvimento e crescimento
econômico tanto a nível local, como regional e territorial.
34
2. A REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS
2.1 Localização
A Região Sudeste do Tocantins ou Microrregião de Dianópolis (IBGE,
2005) é composta por 20 municípios: Almas, Arraias, Aurora do Tocantins, Chapada
da Natividade, Combinado, Conceição do Tocantins, Dianópolis, Lavandeira,
Natividade, Novo Alegre, Novo Jardim, Paranã, Pindorama do Tocantins, Ponte Alta
do Bom Jesus, Porto Alegre do Tocantins, Rio da Conceição, Santa Rosa do
Tocantins, São Valério da Natividade, Taguatinga e Taipas do Tocantins.
Ao sul faz limite com o estado de Goiás, ao norte com a região do
Jalapão, a leste com a Bahia e a oeste com a região Sul do Tocantins.
FIGURA 1: Mapa Divisão Política do Estado e da Região Sudeste do Tocantins Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano - Montagem da autora
2.2 Origem e caracterização
Antes de ser ocupada por aventureiros em busca de riqueza, a região
Norte da capitania de Goiás, atual Estado do Tocantins, era povoada por povos
indígenas, em sua maioria pertencentes ao tronco lingüístico Macro-Jê, destacando-
se os Akroá, os Xacriabá, Xerente, Xavante, Krahô, Apinayé, Javaé, Xambioá, e
Karajá. (Apolinário, 2007)
Estado do Tocantins
Região Sudeste do Tocantins
35
Os primeiros exploradores portugueses, atraídos pelas minas de ouro
aportaram na região a partir dos séculos XVII e XVIII iniciando assim, o processo de
ocupação e colonização do norte da capitania de Goiás. Em seguida chegaram os
sertanistas, os missionários, os criadores de gado e aventureiros vindos
principalmente da Bahia, Piauí e sul do Pernambuco.
Em 1682 foi organizada a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, (“o
Anhangüera Pai”), acompanhado por seu filho de 14 anos, Bartolomeu Bueno da
Silva Filho, que em 1725 foi o descobridor das minas de Goiás.
Da Amazônia portuguesa, em busca de minas de ouro vieram as
entradas de sertanistas e missionários jesuítas. Bartolomeu Barreiros de Ataíde saiu
de Belém em 1644 e no percurso subiu o rio Tocantins e entrou no rio Araguaia,
onde encontrou os índios Karajá.
Era a primeira viagem pelo Rio Tocantins em busca da expansão da
pecuária, em uma região chamada sertão das Terras Novas, na confluência dos rios
Paranã e Palma a oeste de Arraias. Portanto, a pecuária antecedeu a mineração,
mas a grande expansão do povoamento dos luso-brasileiros na região só se deu
com a exploração aurífera no século XVIII.
Grande parte dos forasteiros traziam seus escravos e o mínimo
necessário de mantimentos, fato que causou grandes padecimentos em toda
capitania de Goiás, visto que não havia preocupação em plantar roças para
subsistência, pois da terra, só interessava o rico metal.
A atividade de mineração baseada na escravidão proporcionou a
chegada de numerosos escravos na região e o desenvolvimento de uma estrutura
social peculiar. Por exemplo, em 1741, encontravam-se mais de 3000 escravos em
Arraias (APOLINÁRIO, 2007).
Segundo Bertran (apud Parente, 2007), as bandeiras paulistas que
chegaram no antigo Norte de Goiás, não conseguiam encontrar o ouro mais
facilmente por absoluta ignorância da atividade mineradora e foram aprender a arte
da mineração com os negros Mina ou Costa da Mina, cuja tradição e conhecimento
sobre a extração do ouro datava de três a quatro mil anos. Estes negros eram
também identificados como negros inteligentes, de canelas finas, mulheres lindas e
esguias.
36
Diziam os antigos, que “os negros mina devido ao grande
conhecimento da mineração do ouro, só abriam “serviços” depois de comer da terra
do local, pois tinham verdadeiros laboratórios de geoquímica nas papilas da boca”.
Por isso, esses africanos da região do Zimbabué valiam o dobro ou o
triplo do preço que era pago aos negros de outras etnias.
Por volta de 1730, a “picada da Bahia” atravessou o vale do São
Francisco até alcançar o vale do Paranã e explorando o Rio São Francisco os
paulistas abriram a picada que se chamou de Goiás (Pombo, 1960).
Estas expedições acabaram contribuindo para o povoamento e
surgimento de arraiais e vilas, no distante sertão de uma Capitania, que a princípio
tinha sede em São Paulo e a partir de novembro de 1749, em Vila Boa de Goiás.
Estes arraiais existiam conforme a presença do ouro e eram praticamente isolados
uns dos outros (Póvoa, 2002).
Entre 1730 e 1750 surgiram os primeiros arraiais do norte goiano:
Arraias, Natividade, Chapada de Natividade e São José do Tocantins, dentre outros,
que abrigavam representantes da Coroa Portuguesa, os quais eram os
administradores das minas e tinham a função primordial de garantir o pagamento
dos impostos, denominados de capitação.
Mas, pelo fato do ouro extraído, ser em sua maior parte de caráter
aluvional, as técnicas usadas serem rudimentares impedindo a exploração de veios
mais profundos; a falta de braços para a extração, a falta de capital e má
administração das autoridades administrativas, o apogeu do ouro na região durou
poucos anos e a mineração entrou em declínio.
Em 1749 foi empossado o primeiro governador da Capitania de Goiás,
D. Marcos de Noronha que encontrou uma região povoada por diversas tribos
indígenas, dentre elas os Akroás e os Xacriabás.
Devido aos constantes ataques que os moradores dos arraiais de
Natividade, Almas, Itaboca (Sucupira), Remédios (Arraias) e Terras Novas do
Paranã sofriam por parte desses “gentios”, nome como eram chamados os índios, o
governador ordenou que fossem criados aldeamentos para colonizar e disciplinar os
índios da região, os quais, segundo Póvoa (2002), tinham uma área limitada média
de 12 léguas e o objetivo de confinar os gentios bravos para plantar, o necessário
para subsistência, serem evangelizados e aprenderem algumas regras básicas para
viver em sociedade.
37
Com o aumento das dificuldades enfrentadas e a não submissão dos
índios em viver confinados, em 1750 decidiu-se pela criação dos aldeamentos, os
quais iniciaram-se em 1751 e foram concluídos somente em 1752.
Dessa data, até 1757 estiveram nas duas aldeias vários padres
missionários, que constituíram a Missão de São Francisco Xavier. Essa Missão se
responsabilizava pela administração espiritual dos aldeamentos e a administração
da gestão ficava a cargo do tenente-coronel Venceslau Gomes da Silva, que
comandava os soldados dragões e uma força auxiliar composta por quarenta
pedestres. Os primeiros utilizavam arma de fogo e os últimos eram armados com
espadas.
O "boom" do ouro colocou em choque os aventureiros brancos e os
índios. Para amenizar os conflitos foram criados dois aldeamentos, o Formiga para
os Xakriabás e tinha como superior o padre Francisco Tavares e depois de sua
morte o padre José Vieira. O aldeamento do Duro, hoje município de Dianópolis,
para os Akroás e tinha como superior o padre José de Matos.
No Aldeamento do Duro os padres ergueram uma capela para devoção
de São José e o mesmo passou a ser conhecido também como Aldeamento de São
José do Duro.
Entretanto, apesar dos esforços do conde D. Marcos de Noronha, os
aldeamentos resultaram em fracasso. Primeiro devido aos atritos entre os próprios
padres e entre estes e o tenente-coronel Venceslau Gomes da Silva; segundo
devido a uma epidemia de sarampo, ocorrida em 1753 que provocou a morte de
alguns e a fuga da maioria dos índios para as matas.
Com isso, em meados de 1755 o número de Akroás aldeados foi
reduzido a menos de trinta indivíduos causando assim, o esvaziamento da aldeia.
Porém, continuaram as tentativas de trazer os gentios de volta para o
aldeamento, o que foi alcançado no final de 1755, mas a paz durou pouco, pois os
índios além de terem aprendido a manusear armas de fogo contavam com o fato da
maioria dos homens brancos não entenderem a sua língua e com isso tramavam a
fuga tranquilamente.
Em 1757, os índios se rebelaram causando um grande morticínio, mas
segundo Póvoa (2002), era de se esperar que isso acontecesse, pois o clima nos
aldeamentos era de desconfiança, ciúmes e desobediência e os índios descobriram
38
em muito pouco tempo, os pontos fracos dos homens ditos civilizados que os
mantinham confinados e souberam aproveitar essas fraquezas.
Na segunda metade do século XVIII, mineiros decadentes e outros
luso-brasileiros conquistadores das terras indígenas solicitaram da Coroa
Portuguesa terras para desenvolverem roçados e implantarem fazendas criatórias,
que segundo eles não requeria investimentos.
Segundo Bertran (1978), os alimentos mais produzidos e consumidos
nos séculos XVIII e XIX foram a rapadura, farinhas de mandioca e de milho, feijão e
arroz. Além dos alimentos eram produzidos fumo de rolo, o “mamono” cujo óleo era
utilizado para iluminação e a cachaça. Criavam-se também porcos e galinhas.
Este cenário socioeconômico constituiu as origens de dois segmentos
sociais muito distintos entre si, que se configurariam plenamente ao longo do século
XIX: os grandes proprietários rurais e os camponeses.
Sem condições para adquirirem novos escravos, os proprietários rurais
passaram a utilizar a força de trabalho familiar e aos poucos as relações de trabalho
escravistas deram lugar a novas relações de produção. Desse modo, ocupando o
espaço deixado pelos escravos surgiram os agregados, o camarada, o trabalhador
familiar.
Um aspecto que contribuiu para o desenvolvimento da economia local
foi a liberação da navegação em 1792, dos rios Araguaia e Tocantins, proibida pela
Coroa Portuguesa, no período de exploração das minas de ouro, para evitar a saída
ilegal e o contrabando do ouro.
Entretanto o ataque das tribos indígenas Avá-Canoeiros, Xavantes e
Xerentes, que habitavam as margens dos rios, principalmente o Tocantins era o
principal obstáculo para o desenvolvimento da navegação até a Praça do Pará.
Desta forma, o desembargador Theotônio Segurado solicitou ao
governo de Goiás o estabelecimento de um presídio às margens do rio Tocantins
para combater os índios, principalmente os Avá-Canoeiros que nunca aceitaram
acordo de paz com os colonizadores. Com isso, os que não fossem exterminados
seriam aprisionados e “pacificados”.
Diferentemente da mineração, nesse período surgiram poucos
municípios e a população ficou dispersa pelo sertão, dando origem aos latifúndios,
conforme a Figura 2 .
39
FIGURA 2: Povoamento do Norte da Capitania de Goiás (atual Tocantins), no período da mineração. Fonte: Luiz Antônio da Silva e Souza, 1978
Segundo Póvoa (apud Ramos, 2003), o tocantinense é de raízes
predominantemente nordestina, em geral maranhenses, piauienses e baianos.
Esses migrantes nordestinos chegaram ao Tocantins e instalaram seus
currais com criação de gado tornando-se senhores de imensas extensões de terras.
Nessa época foram fundadas as cidades de Taguatinga (1834) e Ponte Alta do Bom
Jesus.
A estrutura econômica da região organizou-se em torno das fazendas
de gado, sedimentando a sociedade em função das atividades agrárias. Neste
contexto, os pequenos aglomerados não alcançaram força suficiente para fomentar
o surgimento de atividades sustentadas nas áreas urbanas.
O antigo Norte de Goiás apoiou-se na criação extensiva de gado por
quase cem anos e no período entre 1830 a 1930 a região era comandada por
fazendeiros, mais conhecidos pela história como os famosos “coronéis”. Com isso,
todos os vícios do coronelismo9 eram encontrados nessa região, a qual ficou à
margem do desenvolvimento sendo lembrada somente na época das eleições, como
fornecedora de votos para os políticos do sudeste do país.
9 Ler o artigo científico “Coronelismo: Ecos da República Velha na Política Atual do Brasil” do historiador Marlon de
Novaes Batista. Disponível no site: http://www.webartigos.com/articles/3268/1/coronelismo-ecos-da-republica-velha-na-
politica-atual-do-brasil/pagina1.html
40
Na década de 40, no Governo Vargas teve início a intervenção do
Estado por meio do Projeto de Colonização nos Cerrados.
Em 1941 foi instalada em Goiás, na cidade de Ceres, a primeira
Colónia Agrícola Nacional de Goiás – CANG, sendo esta, a primeira de uma série de
oito Colônias Agrícolas criadas e geridas pelo governo federal. Com isso, acreditava-
se que esta região se transformaria num corredor do progresso possibilitando a
integração do Sul com o Norte do país e a ocupação dos vazios demográficos por
meio de absorção dos excedentes populacionais do Centro-Sul do país,
encaminhando-os para áreas que produziam matérias-primas e gêneros alimentícios
a baixo custo para subsidiar a implantação da industrialização no Sudeste.
Porém, na tentativa de povoação das Colônias Agrícolas surgiram
dificuldades e uma delas foi a precariedade de recursos para colonizar grandes
extensões de terras.
Com isso, apenas duas sobrevivessem: a de Goiás (CANG) e a de
Dourados no Estado de Mato Grosso.
Aliado a dificuldade financeira somou-se a hostilidade dos indígenas, o
que levou ao insucesso da ocupação desta região.
Somente na década de 60 é que houve uma transformação da
agricultura brasileira, com a implantação de estratégias de modernização e
desenvolvimento do país que integravam o Plano de Metas do Governo Juscelino
Kubitschek. Inicialmente essas metas favoreceram o desenvolvimento do Sul e
Sudeste do país, mas o esgotamento das terras disponíveis para a ocupação da
agropecuária e a necessidade de aumento da produtividade agrícola, propiciaram o
direcionamento da produção para novas áreas e a conseqüente expansão agrícola.
E foi nesse contexto, que a região dos Cerrados10 tornou-se
estratégica, tanto pela sua posição geográfica, como por suas características físico-
ambientais, que propiciavam a expansão da produção nos padrões da nova
agricultura moderna.
10
Dentre os trabalhos desenvolvidos sobre as formas do Cerrado, vale ressaltar o de EITEN (1972) e COUTINHO (1976),
que dividem e classificam as fitofisionomias do Cerrado. O primeiro, para definir a fitofisionomia do Cerrado, apresentou
cinco formas diferentes: cerradão, cerrado (sentido restrito), campo cerrado, campo sujo e campo limpo. O segundo,
considerou os aspectos geomorfológicos, os topográficos, as queimadas e as qualidades físicas e químicas dos solos, como
fatores que explicariam o maior e o menor desenvolvimento da vegetação de cada ecossistema do Cerrado. Para COUTINHO
(1976:11) o Cerrado é “um complexo de formações oreádicas; suas formas savanícolas ou intermediárias representam
verdadeiros ecótonos de vegetação, entre as formas florestais (cerradão) e campestres (campo limpo)”.
41
Outra estratégia que visava a integração nacional e ocorreu também
nesta época foi a construção da BR 153, a Belém/Brasília. Porém, essa rodovia
pouco contribuiu para o desenvolvimento da região pois, priorizou apenas o
surgimento de novos núcleos urbanos em suas margens, esquecendo-se dos
núcleos que já existiam à margem direita do Rio Tocantins.
Os estímulos governamentais para ocupação da área amazônica, por
meio de Programas Especiais, tiveram uma abrangência maior ao norte do Estado
de Goiás. A partir de 1964 os incentivos fiscais da Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM, que contemplavam a Amazônia legal
atingiram 59 municípios de Goiás.
Nas décadas de 1970/80, o esforço de modernização das atividades
agropecuárias, desenvolvido pelos governos militares, atingiu de forma contundente
a região Centro-Oeste, como reforço à entrada para a Amazônia.
Os programas especiais implantados nesse período, em sua maioria
investiam no melhor aproveitamento dos cerrados, que caracterizam quase todo o
território goiano. Além da perspectiva de ampliação da produtividade das culturas
tradicionais para exportação, iniciou-se uma ampliação na articulação agricultura-
indústria.
Com a implantação do Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento - I
PND, a ação governamental tornou-se mais sistematizada e localizada e o Programa
de Integração Nacional (PIN), Proterra e Prodoeste se transformaram em programas
de larga abrangência, com objetivos e prioridades definidos e a maior delas era a
fixação do homem à terra. Destacavam-se também, ações de infra-estrutura viária e
financiamentos a empresas agropecuárias.
No II PND, os programas tiveram como diretrizes básicas o
desenvolvimento dos setores de bens de capital e insumos básicos e o
fortalecimento da empresa privada nacional. É interessante notar que, desde as
primeiras fases da Marcha para o Oeste até a implantação de Brasília, o estímulo
para a ocupação se verificava do sul para a Amazônia que passou a ser o centro
dos interesses.
A criação das capitais Brasília e Goiânia contribuíram para o
desenvolvimento do estado de Goiás, mas somente em 1988, após a divisão do
estado de Goiás e a criação do Estado do Tocantins é que realmente o
desenvolvimento deste estado tomou um impulso.
42
Em 1989, após a criação da capital do estado, Palmas, os
investimentos, principalmente em infra-estrutura viária, com abertura e asfaltamento
de rodovias, permitiram uma maior integração com o restante do Estado e passou a
ser um importante acesso de ligação com Brasília e com as áreas de expansão
agrícola do Oeste Baiano.
2.3 Aspectos sociais e econômicos
2.3.1 Demografia
O Sudeste do Tocantins é uma região de grande extensão geográfica,
47.332 km2, o que representa 17,0% da área total do Estado e o município que
apresenta a maior extensão de área é Paranã, com 12.160,90 km2, entretanto é
também o município com maior vazio demográfico com apenas 0,86 habitantes por
km2.
Esta é uma região que pode ser considerada como um “vazio”
demográfico e econômico e os indicadores demonstram que no período de 1991-
2007, a microrregião pouco avançou em um crescimento demográfico necessário
para sua expansão econômica.
Ao comparar-se a região Sudeste do TO com as demais microrregiões
do Estado observa-se que, em termos de população, o Sudeste supera somente
duas microrregiões: Jalapão e Rio Formoso, conforme o Gráfico 1.
Gráfico 1: População residente nas 8 microrregiões do Tocantins, em 2007 Fonte: IBGE - Contagem da População, 2007
43
Em 2007, a população da região Sudeste, era de 116.972 habitantes e
estratificava-se em duas faixas: 80% dos municípios com até 10 mil habitantes e
20% entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Quanto crescimento anual da população desta região, o percentual, tanto no
período de 1991 a 2000 como de 2000 a 2007 ficou abaixo do índice de crescimento
populacional do estado e do país.
TABELA 1 Evolução da população, % de crescimento anual, % da população urbana e rural: Sudeste do TO,
Tocantins e Brasil
Região/Estado/ Brasil
População Total
Crescimento (% a.a)
1991 a 2000; 2000 a 2007
Pop. Urbana (%)
Pop. Rural (%)
1991 2000 2007 1991/ 2000
2000/ 2007 1991 2007 1991 2007
Sudeste do TO 103.756 112.172 116.972 0,8 0,5 42,2 68,7 57,8 31,3
Tocantins 919.863 1.157.098 1.243.627 2,1 0,9 57,7 77,6 42,3 22,4
Brasil 146.825.475 169.799.170 183.987.291 1,4 1,0 75,6 83,2 24,4 16,8 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1991 e 2000. IBGE. Contagem da População, 2007. Cálculos dos autores.
Segundo o IBGE, na década de 60, o Brasil ainda era um país agrícola,
com uma taxa de urbanização de apenas 44,7%. Em 1980, esta taxa aumentou e
67,6% do total da população evadiu-se para as cidades. Entre 1991 e 1996, houve
um acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, o que se reflete na elevada
taxa de urbanização (78,4%).
Analisando a Tabela 1, observa-se que o índice de crescimento da
população urbana da região Sudeste do Tocantins, no período entre 1991 e 2007 foi
um pouco mais que o dobro do índice do estado e mais de três vezes acima do
índice de crescimento do Brasil.
A população urbana da região Sudeste do TO que em 1991
representava 42,2%, subiu em 2007 para 68,7% ficando a rural com apenas 31,3%
e, atualmente, dos 20 municípios que compõem esta região, apenas dois, Chapada
de Natividade e Paranã ainda possuem a população rural maior que a urbana.
No quesito gênero, observa-se que na Região Sudeste do TO, o
percentual de homens representa 52,3%, ficando as mulheres com 47,7%.
Em se tratando dos grupos de idade, nota-se que a população da
Região Sudeste pode ser considerada uma população jovem, visto que 61% têm até
44
29 anos. Observa-se também que a população considerada economicamente
ativa11, representa 69,1% da população total, conforme dados da Tabela 212.
TABELA 2 Distribuição da população da Região Sudeste do TO, por faixa etária
Faixa etária População % % acumulado
Até 4 anos 13048 10,9 10,9
De 5 a 9 anos 12717 10,6 21,6
De 10 a 14 anos 12474 10,4 32,0
De 15 a 19 anos 12862 10,8 42,8
De 20 a 24 anos 11972 10,0 52,8
De 25 a 29 anos 9569 8,0 60,8
De 30 a 39 anos 14538 12,2 72,9
De 40 a 49 anos 12372 10,4 83,3
De 50 a 59 anos 8752 7,3 90,6
De 60 a 69 anos 6073 5,1 95,7
70 anos ou mais 5136 4,3 100,0
Total Região Sudeste 119.513 100,0
Fonte: IBGE/ IDB - Indicadores Básicos do Brasil, 2007
2.3.2 Índice de Desenvolvimento Humano
A região Sudeste do Tocantins apresenta a maior parte dos municípios,
com índices de desenvolvimento econômico e humano baixos e, comparando-a com
as 8 microrregiões do Estado observa-se que, tanto o IDHM como o sub-índice
renda ocupam o sexto lugar, superando somente as regiões do Jalapão e Bico do
Papagaio.
TABELA 3 IDHM e IDHM-Renda, 2000 das Microrregiões do TO
Microrregiões IDHM 2000
IDHM/Renda 2000
Bico do Papagaio 0,614 0,491
Jalapão 0,623 0,484
Sudeste do TO 0,654 0,547
Araguaína 0,657 0,570
Miracema do TO 0,680 0,582
Porto Nacional 0,683 0,580
Rio Formoso 0,706 0,624
Gurupi 0,711 0,595
Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000
11
População Economicamente Ativa - PEA: Corresponde a parcela da população considerada produtiva, que estão ocupada ou desempregada, com idade acima de 10 anos e mais. 12
Os dados da Tabela 2 foram obtidos das estimativas de 2007 elaboradas no âmbito do Projeto
UNFPA/IBGE (BRA/4/P31A) - População e Desenvolvimento. Coordenação de População e Indicadores Sociais.
45
Comparando-se a média do IDHM da região no período entre 1991 e
2000, observa-se que houve uma melhora. Contudo, este índice apresenta-se
abaixo da média estadual ao longo do período e o item que mais contribui para isso
é o IDHM Renda. Enquanto a média brasileira alcançou 0,644 e a média estadual
0,554, a região Sudeste do TO ficou com a média do IDHM-Renda/2000 em 0,547.
TABELA 4 Média do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Sub-Índices
Região Sudeste do TO, Tocantins e Brasil
Média IDHM13
Região, Estado, Brasil
IDHM, 1991
IDHM, 2000
IDHM-Renda, 1991
IDHM-Renda, 2000
IDHM-Longevidade 1991
IDHM-Longevi
dade 2000
IDHM-Educação, 1991
IDHM-Educa-
ção, 2000
Sudeste TO 0,555 0,654 0,494 0,547 0,568 0,650 0,604 0,764
Tocantins 0,561 0,661 0,506 0,554 0,572 0,648 0,607 0,781
Brasil 0,611 0,699 0,644 0,781 0,641 0,712 0,548 0,604
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000 - Cálculo da média realizado pela autora.
2.3.3 Índice Intensidade de Pobreza
Outro indicador analisado foi o índice intensidade da pobreza, que
refere-se à parcela da população com renda menor que ½ salário mínimo. Vale
ressaltar que em 2000 o salário mínimo era igual a R$ 151,00, portanto, esta parcela
da sociedade vivia com rendimentos iguais ou menores que R$ 75,50 e, observando
os dados da Tabela 5 nota-se que, no período entre 1991 a 2000, o índice de
intensidade de pobreza aumentou em 55% dos municípios.
13
A média do IDHM e dos sub-índices, é a média aritmética e foi calculada por meio da soma dos índices de
cada município e, em seguida, da divisão do total desta soma pelo número de municípios, ou seja, 20.
46
TABELA 5
Índices de intensidade da pobreza - 1991 e 2000
Município Intensidade da pobreza,
1991
Intensidade da pobreza,
2000
Chapada da Natividade 59,1 65,69
Santa Rosa do Tocantins 54,4 61,58
Paranã 54,36 59,55
Lavandeira 58,29 59,03
Porto Alegre do Tocantins 56,36 58,97
Taipas do Tocantins 56,35 57,89
Conceição do Tocantins 54,46 57,45
São Valério 48,89 55,67
Arraias 53,65 55,41
Dianópolis 42,43 53,08
Combinado 52,17 52,29
Taguatinga 61,09 58,58
Almas 60,23 57,41
Ponte Alta do Bom Jesus 60,84 56,73
Rio da Conceição 57,76 54,57
Aurora do Tocantins 54,2 54,27
Novo Jardim 58,74 54,16
Pindorama do Tocantins 56,48 54,04
Novo Alegre 52,44 51,38
Natividade 55,66 50,75
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000
Observa-se ainda (GRÁF. 2) que o percentual de domicílios com
rendimento médio mensal per capita de ½ salário mínimo, em 2000 era igual a 46%
e ao somarmos com os que alcançam até 1 salário mínimo, este percentual aumenta
para 73,8%. Este é um dos fatores que dificulta o desenvolvimento econômico.
Gráfico 2: % de domicílios particulares permanentes, por classes de rendimento médio mensal
domiciliar per capita em salários mínimos - Tocantins – 2000 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000
47
2.3.4 Índice de GINI
O próximo indicador a ser analisado é o Índice de Gini que mede as
desigualdades sociais e varia de 0 (zero) a 1 (um), sendo que, quanto mais próximo
de 1, maior a concentração de renda e quanto mais próximo de zero, melhor a
distribuição de renda.
Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -
Ipea, Marcio Pochmann, o Índice de Gini entre os assalariados no Brasil passou de
0,538 no segundo trimestre de 2002 para 0,503 no quarto trimestre de 2007, mas
afirma que, enquanto este índice não chegar a 0,45, significa que o país ainda está
na desigualdade extrema. Ressaltou ainda que o estudo realizado pelo Ipea mostra
que a desigualdade segue comparável àquela dos países menos desenvolvidos do
mundo, apesar da melhora.
Segundo o Ipea, o Índice de Gini melhorou porque a recuperação da
renda dos mais pobres foi quase cinco vezes maior que a recuperação da renda dos
mais ricos, portanto a previsão é de que o Índice de Gini no Brasil chegue a 0,496
em 2009 e a 0,490 em 201014.
Sobre o Índice de Gini da Região Sudeste do TO dois períodos
distintos serão analisados: primeiro o período entre 1991 e 2000, onde a
concentração de renda aumentou em 95% dos municípios ficando somente
Pindorama do Tocantins (-0,6%) e Novo Alegre (-0,1%) com uma pequena melhoria
na distribuição da renda, conforme dados da Tabela 6.
14
Estas informações foram obtidas no site: http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=5187
48
TABELA 6
Evolução do Índice de Gini, entre 1991 a 2000, na Região Sudeste do Tocantins
Município Índice de Gini, 1991
Índice de Gini, 2000
%
Chapada da Natividade 0,49 0,7 2,1
Santa Rosa do Tocantins 0,52 0,65 1,3
Paranã 0,54 0,66 1,2
São Valério 0,51 0,63 1,2
Arraias 0,6 0,7 1,0
Lavandeira 0,49 0,59 1,0
Porto Alegre do Tocantins 0,52 0,61 0,9
Taipas do Tocantins 0,52 0,61 0,9
Novo Jardim 0,5 0,59 0,9
Taguatinga 0,59 0,66 0,7
Combinado 0,56 0,63 0,7
Conceição do Tocantins 0,56 0,62 0,6
Dianópolis 0,55 0,61 0,6
Aurora do Tocantins 0,54 0,6 0,6
Rio da Conceição 0,5 0,56 0,6
Ponte Alta do Bom Jesus 0,56 0,61 0,5
Almas 0,59 0,62 0,3
Natividade 0,59 0,62 0,3
Novo Alegre 0,61 0,6 -0,1
Pindorama do Tocantins 0,58 0,52 -0,6
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000
Ainda neste período, observa-se que Chapada de Natividade, Santa
Rosa do Tocantins, Paranã, São Valério, Arraias e Lavandeira foram os municípios
que apresentaram os maiores índices de desigualdade, 2,1%, 1,3%, 1,2%, 1,2%, 1%
e 1% respectivamente.
Analisando o índice de Gini, no período entre 2000 a 2003, (Tabela 7),
observa-se que todos os municípios da região Sudeste do TO conseguiram diminuir
a concentração de renda e, o que mais chama a atenção é que justamente os seis
municípios que estavam com o maior índice de desigualdade no período anterior,
(1991 a 2000) foram os que conseguiram a maior diminuição neste percentual.
Observa-se ainda que Chapada de Natividade ficou novamente em
primeiro lugar, só que desta vez, com uma queda de 0,30% no índice de Gini.
49
TABELA 7 Evolução do Índice de GINI, entre 2000 e 2003, na Região Sudeste do Tocantins
Município Índice
de Gini, 2000
Índice de Gini,
2003 %
Chapada da Natividade 0,7 0,4 -0,3
Lavandeira 0,59 0,37 -0,2
Novo Jardim 0,59 0,39 -0,2
Rio da Conceição 0,56 0,37 -0,2
São Valério da Natividade 0,63 0,41 -0,2
Porto Alegre do Tocantins 0,61 0,38 -0,2
Santa Rosa do Tocantins 0,65 0,42 -0,2
Taipas do Tocantins 0,61 0,38 -0,2
Aurora do Tocantins 0,6 0,42 -0,2
Paranã 0,66 0,43 -0,2
Dianópolis 0,61 0,42 -0,2
Combinado 0,63 0,4 -0,2
Conceição do Tocantins 0,62 0,44 -0,2
Ponte Alta do Bom Jesus 0,61 0,43 -0,2
Pindorama do Tocantins 0,52 0,41 -0,1
Almas 0,62 0,43 -0,2
Natividade 0,62 0,43 -0,2
Taguatinga 0,66 0,44 -0,2
Arraias 0,7 0,44 -0,3
Novo Alegre 0,6 0,41 -0,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002/2003
Retomando as informações do IPEA, de que a melhora no Índice de
Gini deve-se ao aumento de quase cinco vezes na recuperação da renda dos mais
pobres sobre a recuperação da renda dos mais ricos, observa-se no GRAF. 3 que a
evolução do PIB per capita no período entre 2002 e 2006, na Região Sudeste do TO
apresentou um considerável aumento.
Com isso podemos inferir que este aumento foi um dos fatores que
contribuiu para a melhoria do Índice de Gini, ou seja, na diminuição da desigualdade
na região Sudeste do TO, neste período.
50
Gráfico 3: Evolução do PIB per capita na região Sudeste do TO, de 2002 a 2006
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000
2.3.5 Educação
A taxa de analfabetismo é um indicador síntese da situação
educacional de um país. Analisando a taxa de analfabetismo da população com
mais de 15 anos, na região Sudeste do TO e comparando-a com as taxas do
Brasil e do Tocantins, observa-se que apesar do percentual de analfabetos ter
diminuído 14% no período entre 1991 e 2000, ainda está acima dos índices do
Tocantins e do Brasil e pode ser considerada uma alta taxa de analfabetismo, se
levarmos em consideração que este é um dos aspectos que dificulta o
desenvolvimento econômico de qualquer região e/ou país. (GRÁF. 4).
Gráfico 4: Taxa de analfabetismo: (%) da população com mais de 15 anos, 1991 e 2000 Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000 (www.ibge.gov.br); INEP, Censo Escolar de 2000
(www.inep.gov.br); e Nações Unidas (www.undp.org.br)
51
Quanto ao percentual de crianças com idade entre sete e catorze anos,
com defasagem escolar, (GRAF. 5) ao comparar os índices de 1991 com 2000,
observa-se que em 2000 houve uma diminuição de 18% de crianças com mais de
um ano de atraso escolar. Entretanto se levarmos em consideração que em 2000 o
contingente de crianças nesta faixa etária era igual a 22.866 são quase 10.000
crianças nesta situação, ou seja, 20,4% da população total da região Sudeste do
TO. Portanto, torna-se necessário uma maior intervenção dos governos na
implementação de políticas públicas voltadas para o aprimoramento da educação
nesta região.
Gráfico 5: Defasagem escolar (% de crianças entre sete e catorze anos com
mais de um ano de atraso escolar), 1991 e 2000 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 1991 e 2000
2.3.6 Acesso a infraestrutura básica
Em relação a infraestrutura básica, observa-se o seguinte: o acesso a
água encanada, no período entre 1991 e 2000 teve um aumento de 37,36 pontos
percentuais; a abrangência da energia elétrica nesta região também aumentou,
passando de quase 30% de domicílios atendidos para 66,5%; quanto ao acesso aos
serviços de coleta de lixo em 2000 teve um aumento de 24,37 pontos percentuais
em relação a 1991.
Ao comparar a evolução dos índices de cobertura por serviços de infra-
estrutura básica, entre 1991 e 2000 nota-se que o acesso a água encanada, nos
municípios da Região Sudeste (37,4%) foi um pouco maior que o índice do estado
(36,9%) e os municípios que mais se destacaram foram Combinado, Novo Alegre e
52
Pindorama do Tocantins que tiveram um aumento de 43,14%, 43,51% e 46,11%,
respectivamente, de domicílios atendidos pelos serviços de água encanada, entre
1991 e 2000.
Já o acesso aos serviços de energia elétrica e coleta de lixo ficaram
abaixo dos índices do estado. (GRAF. 6 e GRAF. 7)
Gráfico 6: Porcentagem de pessoas moradoras em domicílios com acesso a serviços de
infraestrutura básica em 1991 Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano, 2000.
Gráfico 7: Porcentagem de pessoas em domicílios com acesso a serviços de
infraestrutura básica em 2000 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000.
53
2.3.7 Acesso a bens de consumo
Em 2000, o acesso a serviços e bens duráveis, principalmente telefone
e carro, tanto no estado (19,6% e 17,3%) como na região Sudeste do TO (17,3% e
11,9%) foi pequeno se comparado com os índices do Brasil, mas há de se levar em
conta que, em 2000, o Tocantins contava com apenas onze anos de criação.
Nota-se também, que em 1991, tanto na região Sudeste do TO como
no Estado, o percentual de domicílios com acesso a carro era maior que o índice de
domicílios com acesso aos serviços de telefonia, mas, em 2000 estes percentuais se
inverteram e o número de domicílios com acesso a telefone foi maior.
Observa-se também, que o número de domicílios com acesso a
geladeira teve um aumento de 26% no período entre 1991 a 2000, entretanto,
mesmo com esse crescimento, só conseguiu abranger menos de 43% dos
domicílios, ficando dezenove pontos percentuais abaixo do índice do estado.
Quanto a televisão, o aumento do percentual de domicílios com acesso
a esse bem foi grande, tanto na região Sudeste do TO, 28%, no Tocantins, 44%
como no Brasil, 71%. (GRAF. 8 e GRAF.9)
Gráfico 8: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares
permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e bens duráveis em 1991
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000.
54
Gráfico 9: Percentual de domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios
particulares permanentes por situação do domicílio e existência de serviços e bens duráveis em 2000
Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000.
2.3.8 Aspectos econômicos
Enquanto o salário mínimo em 2000 era igual a R$ 151,00, a média da
renda per capita da Região Sudeste do Tocantins, não ultrapassou os R$106,36
ficando abaixo da média do Estado, R$115,70.
Quanto à procedência dos rendimentos, Chapada de Natividade e Rio
da Conceição são os municípios onde os percentuais alcançaram os extremos.
Em Chapada de Natividade encontram-se os menores percentuais,
tanto os provenientes de transferências governamentais, 10,2%, como os
provenientes de rendimentos do trabalho, 41,06%, conforme dados da Tabela 8.
55
TABELA 8
Renda per Capita, % de renda proveniente do trabalho e de transferências governamentais em 2000, na Região Sudeste do TO
Município
Renda per
Capita, 2000 R$
% da renda proveniente
de rendimentos do trabalho,
2000
% da renda proveniente de transferências
governamentais, 2000
Almas 112,05 48,80 13,51
Arraias 137,35 58,48 12,70
Aurora do Tocantins 104,98 58,76 14,82
Chapada da Natividade 121,39 41,06 10,20
Combinado 131,12 59,72 17,87
Conceição do Tocantins 91,7 53,07 15,06
Dianópolis 141,27 53,23 15,29
Lavandeira 55,93 53,27 11,56
Natividade 134,9 60,01 13,55
Novo Alegre 140,38 61,24 13,51
Novo Jardim 96,81 57,69 14,29
Paranã 87,56 56,08 13,13
Pindorama do Tocantins 80,19 53,84 17,62
Ponte Alta do Bom Jesus 97,69 57,22 18,92
Porto Alegre do Tocantins 82,31 47,60 14,23
Rio da Conceição 81,88 61,58 20,37
Santa Rosa do Tocantins 86,33 46,33 13,38
São Valério da Natividade 120,43 57,50 11,99
Taguatinga 130,56 59,75 15,94
Taipas do Tocantins 92,38 51,72 15,40
Média região Sudeste TO15 106,36
Média do Tocantins 115,70
Brasil 297,23 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000
Na Tabela 8, observa-se também, que terceira menor renda per capita
da região (R$ 81,88) é a de Rio da Conceição que é o município com os maiores
percentuais, tanto da renda proveniente de rendimentos do trabalho como
proveniente de transferências governamentais, 61,58% e 20,37% respectivamente.
Outro aspecto observado é que, em 2000, 47,62% da renda per capita
da região estava abaixo dos R$ 100,00. (GRAF. 10)
15
A média da renda per capita é a média aritmética e foi calculada por meio da soma das médias de cada
município da Região Sudeste do TO e do Tocantins e, em seguida, da divisão do total desta soma pelo número
de municípios, 20 e 139, respectivamente.
56
Gráfico 10: Distribuição da renda per capita na região Sudeste do TO Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 2000
Produto Interno Bruto (PIB)
Em se tratando da evolução do Produto Interno Bruto - PIB, no período
de 2002 a 2006, nota-se que o PIB da região não acompanhou a tendência de
crescimento estadual e nacional, conforme demonstrado na Tabela 9.
Quanto a geração de emprego, segundo a Fundação João Pinheiro, os
dois setores que empregaram o maior número de pessoas com vínculo formal, no
período de 2000 a 2006 foram a agropecuária e a administração pública, ficando o
setor de serviços em terceiro lugar, o que pode ser visto na Tabela 9.
Analisando a evolução do PIB na região Sudeste do TO, observa-se
que de 2002 a 2004 houve um crescimento de 53%. Entretanto, de 2004 a 2006
esse percentual foi de apenas 13%. Isto nos leva a inferir que a economia da
região não teve o mesmo desempenho do período anterior.
TABELA 9 Evolução do PIB na Região Sudeste do Tocantins, no Tocantins e Brasil; 2002 a 2006
2002 2003 2004 2005 2006
Sudeste do TO 347.463 454.270 531.176 570.870 597.718
Tocantins 5.607.173 7.241.147 8.277.816 9.060.926 9.606.730
Brasil 1.477.821.769 1.699.947.694 1.941.498.358 2.147.239.292 2.369.796.546
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Sistema de Contas Nacionais 2002-2006
57
2.4 Instrumento de Gestão Municipal
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e Emendas
Constitucionais (BRASIL, 1998; BRASIL, 2000a; BRASIL, 2000b) estabelecem que
deve haver participação de trabalhadores, de aposentados, de empregadores, da
comunidade, da população, da sociedade civil e de usuários em órgãos gestores e
consultivos em diversas áreas da seguridade social e na gestão do Fundo de
Combate e Erradicação da Pobreza.
A legislação complementar às disposições constitucionais e a
normatização produzida pelos organismos federais responsáveis pela
implementação de políticas públicas regulamenta o modo de funcionamento de
mecanismos e de fóruns participativos.
Uma característica comum a esses processos tem sido condicionar a
transferência de recursos financeiros da esfera federal, com a criação de fóruns e
conselhos participativos em nível federal, estadual e municipal da administração
pública.
No Brasil, o processo de democratização política vivenciado a partir
das décadas de 1980 e 1990, fruto da pressão de movimentos populares, abriu
espaço para a criação de uma série de experiências de participação popular nas
esferas públicas de decisão política, dentre elas, a estruturação dos diferentes
conselhos municipais, como os de saúde, os de educação e, posteriormente, os de
desenvolvimento rural sustentável.
Embora sejam uma das mais importantes inovações institucionais na
política brasileira, a criação de conselhos de gestão municipal não garante em si um
aprimoramento da democracia brasileira. O que se observa, é que grande deles
ainda possui perfil consultivo e não desempenha seu papel de auxílio na formulação
de planos de desenvolvimento, havendo pouca participação da população nas
deliberações dos conselhos.
Para Gohn, (2000), os conselhos são uma invenção tão antiga quanto
a própria democracia participativa e na modernidade, surgiram em épocas de crises
políticas e institucionais, conflitando com as organizações de caráter mais
tradicional. Neste sentido poderiam ser pensados como uma estratégia de
colaboração entre diferentes atores sociais ou tidos como caminhos para as
58
mudanças sociais no sentido de democratização das relações de poder dentro da
sociedade.
Para Abramovay, (2001) esta profusão de conselhos gestores pode ser
compreendida como a mais importante inovação institucional das políticas públicas
no Brasil democrático uma vez que encerram em si um enorme potencial de
transformação política, propiciando a entrada de temas políticos na vida de
indivíduos ou grupos organizados que até então se encontravam às margens desta
discussão.
No entanto, os conselhos de gestão pública só são eficientes a partir
do momento que são percebidos como espaços de decisão construídos pela
capacidade efetiva de atuação da representação popular da coletividade (Bava,
2001), ou seja, os conselhos só conseguem desempenhar um papel importante para
a democracia de um país, quando há um aprimoramento nos processos de
representação e participação da população, com capacidade e competência para
interferir nas decisões políticas.
Segundo Abramovay (2001) o que observa-se é que, grande parte dos
conselhos são formados estritamente como contra-partida à exigência legal para a
obtenção de recursos públicos por parte dos municípios e não expressam uma
dinâmica social significativa.
Um aspecto importante, a ser considerado quando se trata da
ineficiência dos conselhos é que, nos processos de descentralização, o governo
federal transfere somente as regras formais, estruturas administrativas e
procedimentos burocráticos. Quanto aos valores, comportamentos, coesão social e
confiança entre os indivíduos são características impossíveis de serem transferidas
pois, dizem respeito às pessoas.
Analisando a situação dos conselhos municipais na região Sudeste do
TO, que são um dos instrumentos de gestão municipal, observa-se que em 2005,
segundo dados do IBGE, existiam os seguintes conselhos: Assistência Social, dos
Direitos da Criança e Adolescente, Tutelar, dos Direitos das Pessoas Portadoras de
Deficiência, de Segurança Alimentar, de Saúde, de Educação, dos Direitos da
Mulher, dos Direitos do Idoso, Comitê Fome Zero e outros. (IBGE, Perfil dos
Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005)
Entretanto, somente os conselhos da Educação, Saúde e Assistência
Social foram identificados em 100% dos municípios. (GRAF. 11)
59
Gráfico 11: Percentual de municípios com a presença de Conselhos Municipais, na Região Sudeste do TO, 2005
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005
Quanto aos Conselhos Municipais de Assistência Social, existentes nos
20 municípios da região Sudeste do TO, observa-se que em 50% deles, a eleição
dos conselheiros foi por indicação do poder público. (GRAF. 12)
Gráfico 12: Processo de escolha dos integrantes da sociedade civil, no Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005
Quanto à composição dos Conselhos Municipais de Assistência Social,
em 2005, o IBGE identificou que somente no município de Novo Jardim o conselho
não era paritário e somente 25% tinham caráter deliberativo. (GRAF. 13)
60
Gráfico 13: Caráter dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005
Identificou-se também, que a freqüência das reuniões dos Conselhos
Municipais de Assistência Social, em 2005 em 45% dos casos, era bimestral ou
trimestral. (GRAF. 14)
Gráfico 14: Frequência das reuniões dos Conselhos Municipais de Assistência Social, na Região Sudeste do TO em 2005
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005
Sobre a atuação dos Conselhos Municipais foi avaliada na pesquisa de
campo realizada em 2009 pela autora e os dados estão no capítulo 3, que faz uma
análise do desenvolvimento social e econômico do Sudeste do Tocantins, sob a
ótica de lideranças da região.
61
2.5 Projetos de desenvolvimento
Dentre os diversos projetos de desenvolvimento implementados na
Região Sudeste nos últimos 10 anos destacam-se os seguintes:
1. Programa de Desenvolvimento Sustentado do Sudeste do Estado do Tocantins –
PROSUDESTE: Os pressupostos teóricos que nortearam as ações deste
programa tinham o intuito de alavancar o desenvolvimento local e regional e
seguiam as bases conceituais do Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável - DLIS, cujo tripé é o desenvolvimento do capital social, do capital
humano e do capital natural. O PROSUDESTE foi executado por meio da
parceria entre o SEBRAE/TO e o Governo do Estado do Tocantins por meio da
Secretaria do Planejamento e Meio Ambiente, no período de dezembro 2001 a
agosto de 2005. Tinha por objetivo, a implementação de projetos voltados para o
desenvolvimento local e regional e a organização dos segmentos produtivos
identificados como potencialidade da região. Dentre eles destacam-se a cachaça
de alambique com a criação da Cooperativa dos Produtores de Cachaça do
Sudeste do Tocantins – COOPERCATO; o artesanato do capim dourado e fibra
da bananeira; ovinocaprinocultura com a formação do consórcio de criadores (04
criadores) de ovinos e contratação do ADER (agente de desenvolvimento rural)
com recursos da Fundação Banco do Brasil, para assessorar os criadores;
projetos de fruticultura visando a diversificação da produção de frutas como o
caju, maracujá, abacaxi, banana e melão; o fortalecimento da associação de
fruticultores e a criação da associação de produtores de banana. Os principais
parceiros deste projeto foram o Ruraltins, Sebrae, prefeituras e a UFT. O
PROSUDESTE, com apoio das prefeituras, SETAS e PLANTEC implementou
ações de conscientização e incentivo ao turismo, capacitação em turismo e
hotelaria; mobilização e capacitação do grupo de paçoqueiras de Arraias e apoio
ao mercado. Outro segmento produtivo identificado no PRODUDESTE foi o do
leite e, neste período iniciaram-se as discussões para criação da associação dos
produtores de leite, a qual continua em funcionamento.
2. Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável - PDRS: O PDRS foi
implantado no Tocantins por meio do acordo de financiamento firmado entre o
Governo do Estado e o Banco Internacional para Recuperação e
Desenvolvimento – BIRD e abrange 67 municípios do Estado do Tocantins, os
62
quais foram agrupados em 04 regiões: Bico do Papagaio com 25 municípios;
Nordeste com 14 municípios; Jalapão com 8 municípios e Sudeste com 20
municípios. Tem como Macro-Componentes: (i) o planejamento e gestão do
desenvolvimento regional e local; (ii) a consolidação do sistema de proteção
ambiental e (iii) o melhoramento e conservação de rodovias estaduais e
municipais. O Macro-Componente Planejamento e Gestão do desenvolvimento
regional e local a cargo da Secretaria do Planejamento – Seplan busca promover
o planejamento e a gestão regional e municipal com participação das
comunidades envolvidas e a melhoria e fortalecimento do sistema de
planejamento e gestão das prefeituras municipais.
Algumas das ações estruturantes do PDRS são oriundas do
PROSUDESTE e serviram de base para a reestruturação do plano de
desenvolvimento do Sudeste, o PED - Plano Estratégico de Desenvolvimento da
Região Sudeste do Tocantins.
A elaboração do PED contou com os trabalhos de uma equipe
multidisciplinar de técnicos da Seplan que realizaram pesquisas e análise de
dados secundários, visitas in loco nos vários municípios da Região Sudeste,
entrevistas e reuniões com técnicos de instituições públicas do governo estadual
e dos municípios e com empresários e produtores da Região. Foram realizados
também, fóruns de debates com a participação de diversos representantes do
setor público e da sociedade, para debater as questões mais relevantes bem
como diretrizes de atuação.
3. Projeto Manuel Alves16 - O Perímetro Irrigado Manuel Alves, localiza-se no
sudeste do Estado do Tocantins, nos municípios de Dianópolis e Porto Alegre do
Tocantins e tem por objetivo o desenvolvimento de diversas atividades
produtivas e a sustentabilidade do agronegócio, fomentando o crescimento da
produção e a geração de emprego e renda em toda a região.
16
As informações sobre o projeto Manuel Alves foram obtidas no Ministério da Integração Nacional, site http://www.integracao.gov.br/comunicacao/noticias/noticia.asp?id=3203, na Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Tocantins e na empreiteira CMT.
63
FIGURA 3: Perímetro Irrigado Manuel Alves Fonte: Site do Ministério da Integração Nacional
O suprimento hídrico proporcionado pela Barragem Manuel Alves,
combinado à existência de solos com boas propriedades físicas e topografia
favorável possibilita a implantação de diversas culturas que permitem colheitas
em todas as épocas do ano. Além disso, o projeto favorece também a
implantação da piscicultura tropical.
O Ministério da Integração Nacional já investiu no projeto R$ 195
milhões, montante aplicado na construção da barragem do rio Manuel Alves e na
implantação do perímetro irrigado, que é composto pelas modalidades de
“pequenos lotes” e “lotes empresariais”. A venda dos lotes foi por meio de
licitações: a primeira licitou 58 pequenos lotes, com área variando de 9 a 13 ha,
no valor de cerca de 30 mil reais; na segunda, este valor passou para
aproximadamente 40 mil reais e o prazo de pagamento é de 25 anos com 5 anos
de carência.
Os proprietários da modalidade “pequenos lotes”, com documentação
completa e em dia, receberam seus lotes preparados, derrubados, calcareados,
desmatados e com equipamento de irrigação. Todos os lotes possuem
hidrômetro individual, energia elétrica (Programa Luz Para Todos) e os valores
da água e da energia foram determinados pelo Ministério da Integração
Nacional. Em agosto de 2008 foram licitados mais 98 lotes e acredita-se que até
o final de 2009, 50% dos lotes estejam ocupados.
Quanto aos lotes “Empresarial”, são em número de 20, com preços
mais baixos, mas sem qualquer preparação, ou seja foram entregues no estado
bruto.
64
Quanto à produção cultivada nos pequenos lotes, destacam-se as
apresentadas no Graf. 15:
Gráfico 15: Área cultivada por produto, no Projeto Manuel Alves, em 2008 Fonte: Empreiteira CMT/TO
A prestação dos serviços de assistência técnica é feita por técnicos
contratados pelo consórcio das empreiteiras CMT/FAMA, durante 5 anos, para
atender os pequenos proprietários.
Segundo informações da CMT, dois aspectos dificultam a gestão deste
perímetro irrigado: o primeiro diz respeito à falta de organização e participação
social e um exemplo disso foi a reunião de constituição da Associação dos
Produtores do Manuel Alves SH1, onde, dos 58 proprietários somente 22
compareceram, ou seja, 38% dos irrigantes. Esta falta de organização dificulta a
compra de insumos de forma coletiva e os mesmos acabam sendo adquiridos
individualmente e por um preço mais alto.
O segundo é a obtenção de crédito, pois apesar dos “pequenos lotes”
serem para pequenos agricultores, foram poucos os proprietários que se
enquadraram no Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar) e, portanto,
somente estes tiveram recursos para iniciar o plantio.
Outra linha de financiamento seria a do Banco da Amazônia, o FNO,
mas esta exige garantia. Nos perímetros irrigados os lotes podem servir de
garantia desde que tenham escritura, mas este documento, até o início de 2009
ainda não tinha sido disponibilizado pelos órgãos competentes.
65
A terceira linha de crédito que os irrigantes estão buscando está sob a
responsabilidade do Banco do Brasil. É o Pronaf Mais Alimentos, uma
modalidade de crédito do Governo Federal que financia até 100.000,00 para o
plantio de frutas, trigo, arroz e feijão.
Quanto à tecnologia para identificar os melhores frutos e melhores
práticas de manejo e plantio, os técnicos da CMT/FAMA criaram um viveiro que
funciona somente como experimento.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, o pleno funcionamento
da primeira etapa do projeto vai proporcionar o crescimento da agricultura na
região, permitindo a criação de 15 mil empregos diretos e 30 mil indiretos. Além
disso, a Barragem Manuel Alves - que tem uma área de 21,6 km² e uma
capacidade de acumulação de 194 milhões de m³ de água para usos múltiplos -
permite a irrigação de uma área de 5,7 mil hectares da primeira etapa e ainda
tem capacidade de ofertar garantia hídrica para os outros 15 mil hectares da
segunda etapa, cujo estudo de viabilidade está em andamento.
4. Território da Cidadania17 - É um programa do governo federal que tem a proposta
de reduzir as desigualdades regionais, levar direitos a quem mais precisa e
promover o desenvolvimento sustentável em todo o País. Para que as ações
sejam efetivadas o Governo Federal mobilizou 15 ministérios e definiu um
conjunto de ações integradas e são estas ações que compõem o Programa
Territórios da Cidadania.
Além das ações do Governo Federal, os governos estaduais e
municipais poderão apresentar outros projetos e propostas voltados para o
desenvolvimento territorial e o conjunto destas propostas será discutido pelo
Colegiado Territorial que é formado por representantes dos governos federal,
estadual e municipal e representantes da sociedade.
Deste processo resulta o Plano de Desenvolvimento Territorial –
PRONAT, com as ações que serão desenvolvidas no território.
Em 2008 a região Sudeste do Tocantins foi reconhecida como
Território da Cidadania e vem desenvolvendo alguns projetos e ações em busca
do desenvolvimento regional sustentável.
17
Maiores Informações sobre Território da Cidadania encontram-se no site www.mda.gov.br
66
Observamos que, mesmo com a implementação destes projetos a
região Sudeste do Tocantins não consegue promover o tão sonhado
desenvolvimento social e econômico e a nosso ver, alguns dos fatores que levam a
isso são os seguintes: primeiro, os projetos são idealizados fora das regiões, às
vezes copiando “modelos”, esquecendo da realidade local e são apresentados
depois de prontos. Isso faz com que as comunidades não se apropriam e não se
sentem pertencentes aos projetos.
Outro fator diz respeito ao tempo de duração dos projetos, a maioria
das vezes é um período curto sem levar em conta que, nos processos de
desenvolvimento estamos trabalhando com pessoas, com tradições, com a cultura e
hábitos e isso não se muda num piscar de olhos é um trabalho lento, de
“formiguinha”. Isso faz com que os projetos, em muitas das vezes acabam se
transformando em ações pontuais e descontínuas o que faz com que caiam no
esquecimento e falta de credibilidade das comunidades.
67
3. Uma análise do desenvolvimento socioeconômico da região Sudeste do Tocantins, na visão de lideranças locais
Buscando entender a dinâmica socioeconômica da região Sudeste do
TO e encontrar possíveis respostas para a pergunta desta dissertação, adotou-se
como metodologia a pesquisa quantitativa e a observação participante.
Foram realizadas 24 entrevistas nos 20 municípios da região Sudeste
do TO: Almas, Arraias, Aurora do Tocantins, Chapada da Natividade, Combinado,
Conceição do Tocantins, Dianópolis, Lavandeira, Natividade, Novo Alegre, Novo
Jardim, Paranã, Pindorama do Tocantins, Ponte Alta do Bom Jesus, Porto Alegre do
Tocantins, Rio da Conceição, Santa Rosa do Tocantins, São Valério da Natividade,
Taguatinga e Taipas do Tocantins. A escolha dos entrevistados obedeceu aos
seguintes critérios: ser liderança do poder público, liderança da sociedade civil ou
gestor municipal. (GRAF.16)
Gráfico 16: Perfil dos entrevistados Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
68
3.1 Perfil dos entrevistados
Quanto ao sexo, 79,2% dos entrevistados era do sexo masculino e em
relação à idade, o maior percentual ficou na faixa etária entre 30 e 39 anos (37,5%).
(GRAF. 17)
Gráfico 17: Faixa etária dos entrevistados Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Sobre o grau de escolaridade das lideranças entrevistadas, a situação
é a seguinte: 4,2% de ensino fundamental, 8,3% de segundo grau, 20,8 de superior
incompleto, 62,5% com superior completo e 4,2% com mestrado.
Na variável renda familiar, 50% dos entrevistados estão na faixa de até
5 SM, 25% entre mais de 5 a 10 SM e 25% acima de 10 SM.
Analisando somente a renda do chefe da casa, observou-se que o
percentual de até 5 SM aumentou para 62,5%; a faixa entre mais de 5 a 10 SM
diminuiu para 12,5% e a faixa acima de 10 salários mínimos manteve os 25% de
entrevistados.
Quanto à naturalidade do chefe da família, observa-se que a maioria,
50% é de outros estados, 12,5% é de outras regiões do Tocantins e 37,5% nasceu
nesta região.
Na variável “tempo de moradia na região Sudeste do TO”, os dados
apontaram que a maioria sempre morou nesta região. (GRAF. 18)
69
Gráfico 18: Tempo de moradia na Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
3.2 Organização social
Nesta segunda parte do questionário foram abordadas questões
relacionadas à organização social. Na primeira variável identificou-se que 91,7% dos
entrevistados são filiados a algum tipo de organização. (GRAF. 19)
Gráfico 19: Participação em associações/cooperativas Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
70
Na segunda variável perguntou-se sobre o tempo de filiação nestas
organizações e o cruzamento de dados, entre a primeira e a segunda variável
demonstrou que, dos 91,7% de entrevistados filiados, 63,6% estão nas
associações/cooperativas por um período que varia entre 1 e 5 anos.
TABELA 10 Filiação a associações/cooperativas X tempo de filiação
Filiação a Associações/Cooperativas
Tempo filiação
Menos de 1 ano
De 1 a 5 anos
+ De 5 a 10 anos
+ De 10 a 20 anos
Total
Pessoas filiadas 4,5% 63,6% 27,3% 4,5% 100,0%
Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Entretanto, utilizando o método da observação participante durante as
mobilizações e reuniões do Fórum de Desenvolvimento do Sudeste do Tocantins
percebemos que não basta ser filiado; mais importante do que a filiação está a
participação e o envolvimento nas discussões, na definição e implementação dos
projetos e das políticas públicas e estes, ainda não são hábitos incorporados na
cultura e no quotidiano dos grupos organizados da sociedade civil e do poder
público.
Os dados abaixo corroboram com as observações acima. Primeiro
demonstram que o percentual de associações/cooperativas ativas na região Sudeste
do TO é alto. GRAF. 20.
Gráfico 20: Situação das associações/cooperativas na região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
71
Em seguida os dados identificaram que nas associações ativas, o
número de associados, também é alto, aproximadamente 6.200 associados.
Entretanto, nota-se que deste total, somente 48,6% estão ativos e participam de
alguma atividade. (GRAF. 21)
Gráfico 21: Percentual de associados ativos e inativos na região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Quanto à variável, “participação em movimentos sociais” identificou-se
que o percentual dos que participam (50%) e/ou participaram é igual aos que não
participam (50%).
3.3 Conselhos Municipais
Sobre os Conselhos Municipais foram avaliados por meio dos
conceitos ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo. Porém, nesta variável identificou-se
também que o desconhecimento sobre a sua existência e atuação nas comunidades
ainda é grande. Dentre os conselhos mais lembrados e avaliados pelos
entrevistados destacaram-se os Conselhos de Saúde, Educação, Ação Social e
Tutelar.
Quanto aos Conselhos Municipais de Saúde, somando-se os conceitos
ótimo e bom a avaliação alcança o percentual de 41,67%. Entretanto, 20,83% dos
entrevistados não responderam ou não souberam avaliar e o motivo foi o
72
desconhecimento sobre a existência e/ou atuação deste conselho no município.
(GRAF. 22)
Gráfico 22: Avaliação dos Conselhos Municipais de Saúde da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Nos Conselhos Municipais de Educação a avaliação foi melhor com um
total de 54,17% dos entrevistados avaliando-os como ótimo e bom. Porém o
percentual de “não responderam” aumentou para 25%. (GRAF. 23)
Gráfico 23: Avaliação dos Conselhos Municipais de Educação da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
73
Quanto aos Conselhos Municipais de Ação Social, o desconhecimento
e desinformação sobre sua existencia/atuação é maior que o percentual de
entrevistados que fizeram uma avaliação ótima e boa (37,5%). GRAF. 24
Gráfico 24: Avaliação dos Conselhos Municipais de Ação Social da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
De todos os conselhos, os Tutelares foram os que obtiveram a melhor
avaliação, com a soma dos conceitos ótimo e bom alcançando os 58,33%. Acredita-
se que isto deve-se ao fato de que nos Conselhos Tutelares, os conselheiros que
trabalham diretamente nas comunidades são remunerados pelo município. Nestes
conselhos a sociedade tem mais participação e, na época de eleição da diretoria, os
conselheiros fazem campanha em busca de votos e divulgam os trabalhos
realizados. (GRAF. 25)
Gráfico 25: Avaliação dos Conselhos Tutelares da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
74
Quanto aos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA
tiveram sua atuação avaliada como ótima e boa por 45,83% dos entrevistados. Vale
ressaltar que os COMSEAs, além de ser um instrumento de articulação entre
governo e sociedade civil na proposição de diretrizes para as ações na área da
alimentação e nutrição são também responsáveis pelo monitoramento e avaliação
do PAA - Programa de Aquisição de Alimentos18.
Mas, apesar dessa importância, 41,67% dos entrevistados ainda
desconhecem sua existência e/ou atuação no município. (GRAF. 26)
Gráfico 26: Avaliação dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar - COMSEA da Região Sudeste do TO
Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Nos Conselhos Municipais da Mulher, do Turismo e do Meio Ambiente,
ainda é grande o desconhecimento sobre sua existência e atuação. Nos Conselhos
de Turismo, os entrevistados com informação sobre sua atuação (20,84%) o
avaliaram como ótimo e bom. Porém, com os Conselhos Municipais de Meio
Ambiente19, quase 96% dos entrevistados desconhecem a sua existência e os
poucos que o conhecem avaliaram a sua atuação como péssima. (GRAF. 27, 28 e
29).
18
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) está integrado na Promoção de Sistemas Descentralizados da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O governo, por meio da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento compra alimentos de agricultores familiares e abastece a rede de proteção social, da qual fazem parte creches, asilos, escolas e restaurantes comunitários. 19
Uma das principais competências deste conselho é a proposição de normas, padrões e procedimentos para proteção ambiental e desenvolvimento sustentável dos municípios, observando as Legislações Ambientais Federal e Estadual.
75
Gráfico 27: Avaliação dos Conselhos Municipais da Mulher, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Gráfico 28: Avaliação dos Conselhos Municipais de Turismo, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Gráfico 29: Avaliação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, da Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
Em relação aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural
Sustentável (CMDRS), a sua estruturação relaciona-se com a implantação do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF20, que
20
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é um programa criado em 1995, no qual o governo federal destina apoio financeiro às atividades agropecuárias e não-agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do agricultor familiar e de sua família, de forma a integrá-lo à cadeia do agronegócio. Entendendo-se por atividades não-agropecuárias os serviços relacionados com turismo rural, produção artesanal, agronegócio familiar e outras prestações de serviço no meio rural, que sejam compatíveis com a natureza da exploração rural e com o melhor emprego da mão-de-obra familiar.
76
indicou novas bases para a formulação das políticas públicas de desenvolvimento
rural.
O PRONAF parte da proposta de privilegiar a agricultura familiar no
desenvolvimento rural, utilizando as instâncias locais participativas, STTR –
Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e os CMDRS, como espaço
apropriado para a manifestação de interesses e a tomada de decisão democrática.
Além de aprovar, monitorar e avaliar os planos municipais de
desenvolvimento rural, os CMDRS teriam o papel de controlar os gastos e a
destinação dos recursos, numa abordagem de “gestão pública do orçamento
público” (Governo Federal, 1995).
Entretanto, alguns pontos podem ser identificados como
estrangulamentos do papel dos conselhos como instrumentos de democratização de
poder. De um lado, Fuks et al. (2003) destacam os estudos sobre cultura política,
entendida como os valores, sentimentos, crenças e conhecimentos relevantes e que
explicam, em parte, os padrões de comportamento político adotados pelos sujeitos.
De acordo com este referencial, a distribuição desigual de recursos
cívicos em uma população poderia explicar o seu comportamento também desigual
em relação à participação política. Assim, mais do que simplesmente enquadrar as
diferentes sociedades em uma tipologia construída com base em características
externas, os estudos de cultura política podem servir para que se construa uma
compreensão da realidade que considere as diferentes experiências históricas dos
sujeitos e sua relação com o comportamento político desempenhado na sociedade
(Castro, 2000).
Outra questão importante sobre os conselhos, diz respeito à
representatividade e ao exercício de participação, porém a partir da década de 1980,
muitos movimentos populares perderam visibilidade na sociedade brasileira. Com
isso, muitos conselhos acabaram perdendo sua base política de sustentação sobre a
qual tinham forjado uma identidade própria.
Desta forma, acabaram comprometendo também a sua
representatividade e, consequentemente sua experiência participativa, junto aos
conselhos gestores (Gerschman, 2004).
Partindo do pressuposto que os conselhos devem ser entendidos como
uma instância de exercício de poder, estes pontos são importantes pois, acredita-se
que a distribuição desigual dos recursos tem como conseqüência a distribuição
77
desigual também de poder, portanto as práticas de participação neste espaço
podem concorrer para a democratização das relações ou, ao contrário, para
perpetuar as desigualdades e a submissão. (Wendhausen e Caponi, 2002).
Na região Sudeste do Tocantins, o fortalecimento e a atuação dos
CMDRS são de suma importância, pois como esta região é Território da Cidadania,
os CMDRS têm assento no colegiado que é a institucionalidade responsável pela
gestão do Território.
No início de 2009, dos 20 municípios desta região, 19 criaram e/ou
reestruturaram seus CMDRS de acordo com a legislação e metodologia proposta
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável – CONDRAF21.
Entretanto, a pesquisa identificou que, a maioria dos CMDRS estão
praticamente inativos, com pouca representatividade e participação da sociedade
civil. Apesar de serem paritários, não existe uma integração entre a sociedade civil e
o poder público na definição e implantação dos projetos municipais e territoriais. Os
CMDRS continuam sendo “mais um conselho” e, na maioria dos municípios são
poucos os entrevistados que sabem de sua existência, o que pode ser observado no
GRAF.30.
Gráfico 30: Avaliação dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS, da Região Sudeste do TO
Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009
21
As diretrizes e atribuições para o funcionamento dos Territórios Rurais, Territórios da Cidadania e CMDRS encontram-se nas Resoluções de n
o 48 de 16 de setembro de 2004 e a de nº 52 de 16 de fevereiro de 2005.
Demais informações sobre territórios rurais e da cidadania podem ser obtidas no site do Ministério do Desenvolvimento Agrário/ MDA: www.mda.gov.br
78
Outra variável avaliada foi a “importância da participação da sociedade
civil nos conselhos” e analisando os dados, observou-se que 100% dos
entrevistados afirmaram que é muito importante a presença e participação da
comunidade nos conselhos e os motivos apresentados para essa avaliação são os
relacionados na Tabela 11.
TABELA 11 Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da sociedade
civil nos Conselhos Municipais
Motivos %
Para que ela tenha conhecimento e participação nas decisões tomadas 29,2
Oportunidade p/sociedade apresentar as demandas, pois ela é que conhece a região e os problemas locais
20,8
Porque além de beneficiada atua como agente de construção 12,5
Aumenta a transparência 12,5
A participação é uma das formas que a sociedade tem de fiscalizar e cobrar dos governantes as melhorias para sua região
12,5
Forma de governar melhor, participativamente 4,2
Porque ela é que tem maior interesse para que projetos sejam realizados 4,2
Para obter informações e fomentar uma melhor atuação dos conselhos 4,2
Entretanto, mesmo afirmando que é importante participar dos
conselhos, observa-se que na realidade isso não acontece. Normalmente, a escolha
dos conselheiros é definida pelo poder público e os conselheiros, em muitas vezes
participam de vários conselhos e não se sentem pertencentes a nenhum. O poder
político absorve a fala sobre participalção mas não pratica.
Para finalizar esta série de perguntas sobre organização social utilizou-
se a variável “importância da celebração de parcerias entre governos e sociedade
civil” e novamente a maioria dos entrevistados (91,7%) foi unânime em dizer que a
celebração de parcerias é muito importante.
Quanto aos motivos apresentados para explicar essa grande
importância os principais destacam-se na Tabela 12 e observa-se que a maioria
acredita que a falta de parceria entre governos e sociedade civil na implementação
dos programas e projetos dificulta a continuidade dos mesmos.
79
TABELA 12
Motivos considerados importantes e muito importantes sobre a participação da sociedade civil nos Conselhos Municipais
Motivos %
Parcerias são importantes para atender, desenvolver e solucionar os problemas 33,3
As duas partes se complementam: sociedade identifica demandas e poder público apoia com recursos.
16,7
Sozinha a sociedade civil não consegue desenvolver 12,5
A sociedade é que conhece a região e as demandas locais 8,3
Para desenvolver é necessário a participação de todos 4,2
Parcerias fazem com que a sociedade faça e participe dos tramites legais para adquirir, controlar e executar os recursos públicos
4,2
Quando há parceria o governo entra como suporte, com apoio na logística 4,2
Governo sozinho não consegue atender demandas, por isso a necessidade dessa integração 4,2
Parceria ajuda com a transparência 4,2
Quando há participação da Sociedade Civil e do Poder Público nas discussões dos projetos, aumenta a transparência
4,2
Não Responderam 4,2
Total 100,0
Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009.
A seguir analisaremos a última variável desta pesquisa, cujo objetivo foi
identificar fatores que, na opinião das lideranças tem dificultado o desenvolvimento
social e econômico desta região.
Acredita-se que a análise dos dados desta variável em conjunto com os
dados das perguntas anteriores sobre organização social, contribuam para
responder a pergunta chave desta dissertação: “Por que a Região Sudeste do
Tocantins, onde desde a década de 90, são implementados programas e projetos
que visam o desenvolvimento econômico e social, encontra dificuldades para
emergir do estado de quase estagnação para um processo de desenvolvimento
econômico e social?”
As respostas foram as seguintes: 20,8% dos entrevistados acreditam
que a falta de informação, de interesse e de contato com outras regiões para
conhecer outras realidades é um fator que dificulta o desenvolvimento da região.
Outros (16,7%) dizem que o que falta no Sudeste do TO é representação política,
integração e participação da sociedade nas discussões políticas e 8,3%
complementam esta resposta dizendo que a falta de ideologia política faz com que o
povo tenha medo de se posicionar a favor ou contra os "clãs”.
Por outro lado, tem os que acreditam que faltam empreendimentos
para geração de emprego e renda (8,3%); e 8,3% dizem que faltam terras e
melhores condições de trabalho para o agricultor familiar.
80
Outro aspecto considerado pelos entrevistados diz respeito à
organização social: alguns acreditam que falta parceria mais ampla e consolidada
entre governos estadual e municipal, outros afirmam que são dois os principais
problemas: a centralização do poder municipal excluindo a sociedade das decisões
e a falta de ações concretas do poder público. Acrescentam ainda que os conselhos
são criados somente para captar recursos, por isso inexiste uma representação de
fato, da sociedade civil. Há também os que dizem que falta monitoramento e
avaliação dos projetos implementados e políticas públicas de desenvolvimento.
Apareceram também, aspectos relacionados à educação, como baixo
nível de escolaridade, falta de ensino superior na área agrícola, capacitação para os
municípios agilizarem a implantação dos projetos, cursos de cooperativismo, de
empreendendorismo, mais conhecimento, mão de obra qualificada, orientação
ambiental, capacitação técnica para os agentes educadores, desenvolvimento do
turismo na região e curiosamente, falta de orientação sexual.
Há também aqueles que afirmam que na região as mobilizações são
feitas de ultima hora, aspecto este que dificulta e minimiza a participação da
sociedade civil; outros dizem que o problema é a baixa densidade demográfica e,
por fim uma pequena parcela de entrevistados acredita que a estagnação do
processo de desenvolvimento é um problema cultural da região Sudeste do TO.
Com base nas informações obtidas a partir da análise dos dados das
variáveis sobre Conselhos Municipais criamos o Índice de Capital Social – ICS e é
sobre a metodologia, composição e finalidade deste índice que discutiremos no
próximo tópico.
3.4 Índice de Capital Social
Para mensurar o nível de organização e a existência ou não de capital
social, construiu-se o Índice de Capital Social – ICS, a partir das variáveis “No total
de Conselhos, Conselhos Existentes, Conselhos ótimos e bons, associações ativas,
total de associações, associados ativos e total de associados e taxa de
alfabetização”
Para construir o ICS trabalhoamos com três componentes: o primeiro,
cujo papel é mensurar a participação e organização do poder público, foi o Índice de
81
Participação do Poder Público - IPPP construído a partir das variáveis no total de
Conselhos que é o número de conselhos que deveriam existir nos municípios de
acordo com parâmetros do IBGE22; Conselhos Existentes foi o número de conselhos
identificados nos municípios e Conselhos Ótimos e Bons de acordo com a
classificação dos entrevistados. O segundo componente é o Índice de Participação
da Sociedade Civil – IPSC, construído com as variáveis associações ativas, total de
associações, associados ativos e total de associados, dados estes obtidos na
pesquisa de campo e informações do Ruraltins (órgão de extensão rural e
assistência técnica do Estado). O terceiro componente é o Índice dos Indivíduos – II,
ou seja, a Taxa de Alfabetização, aspecto importante na formação do capital social.
Em seguida calculou-se uma média aritmética, ou seja, somou-se os dados e dividiu
por três, obtendo assim o ICS.
A fórmula utilizada para a construção deste índice foi a seguinte:
+ +Taxa alfabetização
Quanto ao Índice de Capital Social varia de 0 (zero) a 1 (um): quanto
mais próximo de 1, maior a concentração de capital social e quanto mais próximo de
zero, menor o estoque de capital social no município e/ou região.
Quanto às variáveis e os dados utilizados para compor o IPPP, o IPSC,
o II e consequentemente o ICS, encontram-se na Tabela 13.
22
Informações obtidas no IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros - Assistência Social 2005. Nas pesquisas do IBGE são avaliados os 10 conselhos que deveriam existir em todos os municípios: Assistência Social, dos
Direitos da Criança e Adolescente, Tutelar, dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, Segurança Alimentar, Saúde, Educação, dos Direitos da Mulher, dos Direitos do Idoso e Comitê Fome Zero.
IPSC IPPP II
3 = ICS
* LEGENDA:
IPPP = Índice de participação do poder público
IPSC = Índice de participação da sociedade civil
II = Índice dos indivíduos
ICS = Índice de Capital Social
82
TABELA 13 - Índice de Capital Social
Municípios N
o
Associações (1)
No
Associados (1)
Associados Ativos
(1)
Paradas e/ou desativadas
(1)
Total de Conselhos Municipais
Conselhos Municipais Existentes
(1)
Conselhos ótimos e
bons (1)
IPPSC IPSC
II - (Tx de alfabetização
2000) (2)
ICS Índice de Capital Social
Almas 12 331 205 0 10 5 2 0,10 0,62 0,76 0,49
Arraias 18 553 189 10 10 5 5 0,25 0,34 0,69 0,43
Aurora do Tocantins 3 47 12 2 10 6 1 0,06 0,26 0,72 0,35
Chapada de Natividade 12 283 263 2 10 7 4 0,28 0,93 0,71 0,64
Combinado 8 1172 57 5 10 6 2 0,12 0,05 0,75 0,31
Conceição do TO 7 283 95 3 10 6 6 0,36 0,34 0,72 0,47
Dianopólis 24 665 373 4 10 7 3 0,21 0,56 0,81 0,53
Lavandeira 2 60 38 0 10 6 5 0,30 0,63 0,76 0,56
Natividade 30 361 152 5 10 6 0 0,00 0,42 0,76 0,39
Novo Alegre 2 48 0 2 10 6 2 0,12 0,00 0,84 0,32
Novo Jardim 2 62 15 1 10 6 6 0,36 0,24 0,74 0,45
Paranã 7 162 91 1 10 6 6 0,36 0,56 0,69 0,54
Pindorama 9 245 209 1 10 6 5 0,30 0,85 0,81 0,65
Ponte Alta do Bom Jesus 3 18 18 1 10 7 0 0,00 1,00 0,69 0,56
Porto Alegre do Tocantins 7 233 190 0 10 3 1 0,03 0,82 0,72 0,52
Rio da Conceição 4 103 87 0 10 4 2 0,08 0,84 0,78 0,57
Santa Rosa 8 699 699 0 10 7 7 0,49 1,00 0,75 0,75
São Valério 8 385 110 0 10 8 7 0,56 0,29 0,78 0,54
Taguatinga 10 405 166 0 10 6 2 0,12 0,41 0,74 0,42
Taipas 1 0 0 1 10 5 2 0,10 0,00 0,68 0,26
Total 177 6115 2969 38 200 118 68 0,20 0,49 0,74 0,48
Fonte: (1) Pesquisa de Campo realizada na região Sudeste, 2009 e Ruraltins - (2) Atlas de Desenvolvimento Humano / 2000
83
Analisando os dados da Tabela 13, verifica-se que o índice de Capital
Social da Região Sudeste do Tocantins está abaixo de 0,50.
Fazendo uma análise por municípios, observa-se que, dos 20
municípios, somente sete, Dianopólis, Lavandeira, Rio da Conceição, São Valério,
Porto Alegre do Tocantins, Paranã e Ponte Alta do Bom Jesus situam-se na faixa
entre 0,50 e 0,59. (GRAF. 33)
Gráfico 31: Variação do Índice de Capital Social na Região Sudeste do TO Fonte: Pesquisa de campo na região Sudeste do TO, 2009 e Ruraltins
Observa-se também que Taipas é o município com o menor ICS, 0,26
e isto deve-se ao fato de que neste município só existe uma cooperativa, e mesmo
assim, inativa; na faixa entre 0,40 e 0,49 encontram-se somente quatro municípois,
Arraias, Taguatinga, Conceição do To e Novo Jardim; entre 0,30 e 0,39 encontram-
se Aurora, Combinado, Natividade e Novo Alegre; e Chapada de Natividade e
Pindorama entre 0,60 e 0,69.
Quanto ao município de Santa Rosa do Tocantins, segundo
informações do Ruraltins, tanto as associações como os associados são atuantes e
estes, somados à taxa de alfabetização foram os aspectos que contribuiram para
que o município apresentasse o melhor índice de capital social da região, (0,75).
Um aspecto que deve ser observado é que o componente “taxa de
alfabetização” tem um papel muito importante na composição do índice de capital
social. Ao exclui-lo da fórmula e tirando a média aritmética somente do IPPP e IPSC,
o Índice de Capital Social, fica abaixo de 0,50 em 80% dos municípios. Somente
Santa Rosa do TO mantém o mesmo índice de 0,75, conforme demonstrado na
Tabela 14.
84
TABELA 14 - Índice de Capital Social sem a Taxa de Alfabetização
Municípios N
o
Associações N
o
Associados Associados
Ativos Paradas e/ou desativadas
Total de Conselhos Municipais
Conselhos Municipais Existentes
Conselhos ótimos e
bons IPPSC IPSC
Índice de Capital
Social sem Taxa de
Alfatebização
Almas 12 331 205 0 10 5 2 0,10 0,62 0,36
Arraias 18 553 189 10 10 5 5 0,25 0,34 0,30
Aurora do Tocantins 3 47 12 2 10 6 1 0,06 0,26 0,16
Chapada de Natividade 12 283 263 2 10 7 4 0,28 0,93 0,60
Combinado 8 1172 57 5 10 6 2 0,12 0,05 0,08
Conceição do TO 7 283 95 3 10 6 6 0,36 0,34 0,35
Dianopólis 24 665 373 4 10 7 3 0,21 0,56 0,36
Lavandeira 2 60 38 0 10 6 5 0,30 0,63 0,47
Natividade 30 361 152 5 10 6 0 0,00 0,42 0,21
Novo Alegre 2 48 0 2 10 6 2 0,12 0,00 0,06
Novo Jardim 2 62 15 1 10 6 6 0,36 0,24 0,30
Paranã 7 162 91 1 10 6 6 0,36 0,56 0,46
Pindorama 9 245 209 1 10 6 5 0,30 0,85 0,58
Ponte Alta do Bom Jesus 3 18 18 1 10 7 0 0,00 1,00 0,50
Porto Alegre do Tocantins 7 233 190 0 10 3 1 0,03 0,82 0,42
Rio da Conceição 4 103 87 0 10 4 2 0,08 0,84 0,46
Santa Rosa 8 699 699 0 10 7 7 0,49 1,00 0,75
São Valério 8 385 110 0 10 8 7 0,56 0,29 0,42
Taguatinga 10 405 166 0 10 6 2 0,12 0,41 0,26
Taipas 1 0 0 1 10 5 2 0,10 0,00 0,05
Total 177 6115 2969 38 200 118 68 0,20 0,49 0,34
Fonte: Pesquisa de Campo realizada na região Sudeste, 2009 e Ruraltins
85
4. CONCLUSÃO
A partir das informações obtidas por meio da pesquisa de campo, da
observação participante e dos números do Índice de Capital Social inferimos que o
Sudeste do TO é uma região pobre de capital social e que ao longo de sua história,
não foram construídas relações associativas como as registradas por Putnam (1996)
em algumas áreas do centro e do norte da Itália, as quais poderiam proporcionar um
campo fértil para a difusão de procedimentos participativos.
Analisando as informações do capitulo 2, que versa sobre
a história da Região Sudeste do TO podemos inferir que a estagnação do processo
de desenvolvimento é um problema cultural desta região. Desde aquela época, a
estrutura econômica tem-se organizado em torno das fazendas de gado, e das
atividades agrárias. Porém não se tem notícias de investimentos em novas
tecnologias que venham a promover o aumento da produção e da produtividade.
Além disso, apesar do aumento da taxa de urbanização, os municípios
não alcançaram força suficiente para fomentar o surgimento de atividades
sustentadas nas áreas urbanas. O que notamos é que mesmo migrando para as
cidades, as pessoas continuam exercendo atividades econômicas voltadas para o
rural.
Tanto as atividades de comércio como as da indústria são insuficientes
para fomentar o desenvolvimento econômico dos municípios e, consequentemente
da região. Fato este que pode ser observado nas informações do PIB, no período
entre 2002 a 2006.
Quanto ao capital social, na maior parte das comunidades, são poucas
as pessoas que acreditam na importância da participação e do envolvimento, de
forma direta e continuada, na formulação e na implementação de projetos sociais e
de geração de renda, fato que pode ser comprovado nos números do Índice de
Participação da Sociedade Civil. O que predomina é a idéia de que o envolvimento
dos indivíduos na vida pública deve limitar-se à participação periódica no processo
eleitoral.
Nesse contexto, incorporar a participação ao quotidiano das ações de
governo em escala regional, ajudando a viabilizar a formulação de políticas regionais
86
mais próximas do potencial das sociedades locais e mais articuladas entre os
diversos níveis do poder público, torna-se uma tarefa difícil de ser realizada.
E dificulta ainda mais, quando essa incorporação requer um esforço
prévio de organização e de criação de novas institucionalidades, aspectos
importantes para que seja promovida a participação em escala regional e/ou
territorial.
Um exemplo disso é o Fórum de Desenvolvimento da Região Sudeste
do Tocantins, criado em outubro de 2008, após mobilização de quase um ano, junto
à sociedade civil e poder público e com apoio da Secretaria de Planejamento do
Estado - SEPLAN em parceria com o Banco Mundial, pelo projeto PDRS. Após esta
data foram realizadas mais três reuniões, sendo a última em maio de 2009, mas
sempre com a iniciativa partindo do projeto PDRS. A partir daí, nada mais foi feito
pelas lideranças locais, que não conseguem se articular para realizar um projeto
comum e com isso, o Fórum passou a existir somente no papel.
Segundo Bandeira (1999) são vários os motivos que levam a essa não
participação. O primeiro é que em geral não existem instâncias consolidadas de
organização das comunidades que proporcionem uma base institucional sólida para
desenvolver os processos de participação em escala regional e/ou territorial.
O que encontramos nas associações, cooperativas, conselhos
municipais e demais grupos organizados existentes nos municípios são
pouquíssimas pessoas participando e se envolvendo nos projetos e ações e muitas
esperando as “coisas acontecerem” para depois decidir se participam ou não, ou
seja, querem primeiro ver os resultados e isso é impossível.
Outro aspecto que favorece a não participação é a tendência de se
fazer um elo entre participação e disponibilização de recursos. Bandeira (1999)
enfatiza que é importante aumentar a influência das comunidades sobre a
distribuição e aplicação dos recursos públicos. No entanto, acredita que isso deve
ser feito de maneira a maximizar outros efeitos positivos da participação, como a
capacitação e o aprendizado coletivo, ou a acumulação de capital social, que são
talvez até mais importantes para o desenvolvimento regional no longo prazo.
Bandeira (1999) acredita também, que o fracasso de iniciativas mal
concebidas é um fator que contribui para o descrédito da própria idéia de
participação, reduzindo o estoque de capital social das comunidades e tornando
cada vez mais difícil mobilizá-la para envolver-se em ações de interesse coletivo.
87
Esta descrença foi observada como um aspecto marcante durante as
conversas e entrevistas realizadas com lideranças da sociedade civil, do poder
público e moradores das comunidades, principalmente no período das mobilizações
onde o que mais se ouviu foi: “vocês aqui novamente, vem, levantam expectativa e
depois somem. Disso estamos cansados, pois nada de concreto acontece”.
Este posicionamento demonstra como é árdua a tarefa de difundir a
adoção de práticas participativas nas ações voltadas para o desenvolvimento
regional e/ou territorial na região Sudeste do TO. Mesmo as experiências mais
antigas que existem e/ou existiram nesse sentido são frágeis e terminam se
transformando em ações pontuais, que muitas vezes alcançam pouco ou nenhum
resultado, não propulsionam processos de desenvolvimento e passam a ser
consideradas pelas comunidades como experiências mal-sucedidas.
Outro aspecto, também identificado, nessa região é que as
administrações municipais e estaduais, promotoras da maior parte das iniciativas e
projetos existentes, ainda não se convenceram sobre a importância da participação
e da integração entre elas. O espírito do coronelismo e do assistencialismo ainda é
latente. Com isso, as poucas parcerias estabelecidas com a sociedade civil, as quais
poderiam atuar como instrumento para a melhoria qualitativa e sustentável das
ações relacionadas com o desenvolvimento regional e territorial, ainda são poucas e
frágeis.
Na maioria dos projetos, observamos que quem toma decisões ainda é
o poder público, que usa o poder local apenas para legitimar e buscar recursos.
Notamos também, que em muitos casos, o poder público acredita que
a descentralização implica em perda de poder, por isso torna-se necessário que os
gestores façam um esforço permanente no sentido de distanciar as práticas
participativas de ações promocionais que, quase sempre, acabam sendo associadas
a motivações eleitorais. Só assim será possível evitar que a credibilidade dos
gestores seja desgastada por polêmicas relacionadas com a defesa de interesses
partidários.
Mas, acreditamos que a grande tendência, no âmbito das principais
organizações internacionais de fomento, em valorizar a participação da sociedade
civil seja um dos fatores que venham a contribuir para minimizar estas atitudes e
acelerar os processos de desenvolvimento social e econômico.
88
Finalmente, embasados na análise da pesquisa de campo e do
referencial teórico que apoiaram essa dissertação e na observação da região de
forma participante, sugerimos algumas ações que a nosso ver, poderiam contribuir
para que o tão sonhado desenvolvimento social e econômico aconteça na região
Sudeste do Tocantins de forma sustentável:
• Estabelecer condições políticas que possibilitem a participação social, criando
mecanismos e canais que possibilitem a integração dos grupos sociais, o
exercício da cidadania e o envolvimento das associações, cooperativas,
conselhos municipais e comunidades em torno de problemas locais especí-
ficos.
• Investir em programas de capacitação, para fortalecer as capacidades
técnicas e gerenciais dos agentes institucionais envolvidos nos processos de
desenvolvimento municipal. Promover uma aprendizagem contínua.
• Investir na implementação de projetos que promovam a inovação do setor
produtivo.
• Estabelecer mecanismos de participação social e comunicação (Conselhos
Municipais, comissões, grupos de trabalho, etc.), envolvendo representantes
dos vários atores sociais, além dos canais de representação tradicional, como
espaços institucionalizados para a expressão e debate de interesses, visando
à formulação de políticas sustentáveis, maior transparência e possibilidade de
controle social.
• Estabelecer mecanismos de participação social e comunicação (Conselhos
Municipais, Fóruns de Desenvolvimento, Território da Cidadania, Programa
de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS), etc.), envolvendo
representantes dos vários atores sociais, além dos canais de representação
tradicional, como espaços institucionalizados para a expressão e debate de
interesses, visando à formulação de políticas públicas sustentáveis, maior
transparência e possibilidade de controle social.
• Estimular e fortalecer as articulações e parcerias dos órgãos públicos
estaduais e federais com os municipais, contribuindo para o desenvolvimento
de um novo sistema institucional público descentralizado, com maior
sensibilidade social, flexibilidade e eficiência, operando próximo às
comunidades e aos cidadãos.
89
• Estabelecer e operacionalizar um sistema transparente de informação que
permita a articulação do sistema municipal como um todo, alimentando o
diálogo, a comunicação, a interpretação e a tomada de consciência, como
parte de um movimento permanente de interação entre o governo local e os
cidadãos, bem como possibilitando o controle da sociedade civil sobre a
gestão da coisa pública.
90
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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94
6. ANEXOS
6.1 Questionário da pesquisa de campo
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO
Bom dia/tarde eu sou aluna do curso de mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio e estou fazendo uma pesquisa para a minha dissertação, sobre aspectos organizacionais da Região Sudeste do Tocantins. O(a) sr(a) pode por favor me responder algumas perguntas?
1. [ ] Município: 1. Arraias 2. Natividade 3. Dianópolis 4. Taguatinga 5. Outro
2. [ ] RESPONDENTE: 1. Gestor Público 2. Liderança do Poder Público 2. Liderança da Sociedade Civil 4. Outro ______________________________ (anote)
3. [ ] HÁ QUANTO TEMPO EXERCE ESSA ATIVIDADE?
1. Menos de 1 ano 2. + De 1 a 2 anos 3. + De 2 a 4 anos 4. + De 4 a 8 anos 5. Acima de 8 anos
4. [ ] SEXO: 1. Masculino 2. Feminino
5. [ ] IDADE : 1. 20/29 anos 3. 40/49 anos 5. 60 a 69 anos 2. 30/39 anos 4. 50 a 59 anos 6. 70 ou mais
6. [ ] ESCOLARIDADE: 1. Ensino Fundamental incompleto 4. 2º grau completo 7. Mestrado 2. Ensino Fundamental completo 5. Superior incompleto 8. Doutorado 3. 2º grau incompleto 6. Superior completo
7. [ ] RENDA FAMILIAR 1. Até 1 SM (até 465,00) 4. + de 3 a 5 SM (1.396,00 a 2325,00)
2. + de 1 a 2 SM (466,00 a 930,00) 5. + de 5 a 10 SM (2.326,00 a acima de 4.650,00) 3. + de 2 a 3 SM (931,00 a 1.395,00) 6. Acima de 10 SM (Acima de 4.650,00)
8. [ ] RENDA CHEFE DA FAMÍLIA: 1. Até 1 SM (até 465,00) 4. + de 3 a 5 SM (1.396,00 a 2325,00) 2. + de 1 a 2 SM (466,00 a 930,00) 5. + de 5 a 10 SM (2.326,00 a acima de 4.650,00) 3. + de 2 a 3 SM (931,00 a 1.395,00) 6. Acima de 10 SM (Acima de 4.650,00)
9. [ ] NATURALIDADE DO CHEFE DA FAMÍLIA: 1. Arraias 3. Natividade 5. Outros Municípios do TO 2. Dianópolis 4. Taguatinga 6. Outros Estados
10. [ ] HÁ QUANTO TEMPO MORA NA REGIÃO? 1. De 1 a 5 anos 4. + 20 anos 2. + De 5 a 10 anos 5. Sempre morei nesta região 3. + De 10 a 20 anos
11. [ ] O SR. É FILIADO OU MEMBRO DE ALGUMA ASSOCIAÇÃO/COOPERATIVA?
1. Não 2. Sim _________________________________________ Anote o nome da organização
12. [ ] HÁ QUANTO TEMPO?
95
1. Menos de 1 ano 2. + De 1 a 5 anos 3. + De 5 a 10 anos 4. + De 10 a 20 anos 5. Acima de 20 anos
13. [ ] O SR. PARTICIPA OU PARTICIPOU DE ALGUM MOVIMENTO SOCIAL?
1. Não 2. Sim _________________________________________ Anote o nome da organização
14. [ ] QUAIS OS PROGRAMAS/PROJETOS VISANDO O DESENVOLVIMENTO DO SETOR PRODUTIVO QUE FORAM IMPLEMENTADOS NO MUNICÍPIO / REGIÃO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS?
1. PROSUDESTE 2. COMPRA DIRETA 3. BALDE CHEIO 4. Outro ______________________________________ (Anote)
15. [ ] QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE PROJETO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO SUDESTE DO TO?
1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância
16. [ ] POR QUE O SR. FAZ ESSA AVALIAÇÃO? __________________________________________________________________________________________
17. [ ] QUAIS AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NA IMPLEMENTAÇÃO DESTES PROJETOS? __________________________________________________________________________________________
18. [ ] NA SUA OPINIÃO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL, NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS TEM SIDO:
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular
19. [ ] SE REGULAR, RUIM OU PÉSSIMO, POR QUE? __________________________________________________________________________________________
20. [ ] E A PARTICIPAÇÃO DOS GOVERNOS?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular
21. [ ] SE REGULAR, RUIM OU PÉSSIMO, POR QUE? __________________________________________________________________________________________
22. [ ] QUAIS OS CONSELHOS QUE EXISTEM NO MUNICÍPIO?
1. Saúde 5. Turismo Outro: ______________________________ 2. Educação 6. Da Mulher (Anote) 3. Ação Social 7. CONSEA 4. Tutelar 8. CMDRS
23. [ ] COMO O SR. AVALIA A ATUAÇÃO DO CONSELHO DA SAÚDE?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
24. [ ] E DA EDUCAÇÃO?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
25. [ ] E DA AÇÃO SOCIAL?
96
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
26. [ ] E O CONSELHO TUTELAR?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
27. [ ] E O DE TURISMO?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
28. [ ] E O CONSEA?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
29. [ ] E O DA MULHER?
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
30. [ ] OUTRO? (ANOTE QUAL)
1. Ótima 4. Ruim 2. Boa 5. Péssima 3. Regular 6. NS
31. [ ] NA SUA OPINIÃO, A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS CONSELHOS É:
1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância
32. [ ] POR QUÊ? __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________
33. [ ] E A PARCERIA ENTRE GOVERNO/SOCIEDADE CIVIL, NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS, É:
1. Muito importante 3. Pouco importante 2. Importante 4. Sem importância
34. [ ] POR QUÊ? __________________________________________________________________________________________
35. [ ] NA SUA OPINIÃO QUAIS OS PRINCIPAIS FATORES QUE DIFICULTAM O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO DA REGIÃO SUDESTE DO TOCANTINS? __________________________________________________________________________________________
Nome: _____________________________________________________________________________
Obrigado(a) !!!