p aulo freire estudoandreferreira tra

14
1 O CONCEITO DE LIBERDADE NO 1º PAULO FREIRE André Ferreira 1 Investigar as significações filosóficas subjacentes à pedagogia no Brasil é contribuir para a construção de alicerces mais sólidos para a teoria educacional brasileira. Sendo um dos principais momentos da pedagogia nacional, o pensamento de Paulo Freire se inscreve naturalmente como um objeto dos mais expressivos a ser olhado pelo escopo filosófico. Escolhemos focar este olhar sobre o conceito de liberdade subjacente ao pensamento de referido educador. Defendermos que tal intento contribuirá para uma melhor compreensão do desenvolvimento do pensamento pedagógico brasileiro, pois apontará as respostas freireanas para um dos aspectos mais caros à pedagogia e à filosofia: a independência crítica do homem. Neste sentido, subscrevemos a intenção de Gadotti quando também nos engajamos na tarefa de “encontrar os melhores meios de tornar a educação um instrumento de libertação humana e não de domesticação” 2 . O trabalho que aqui desenvolvemos propõe um lócus temporal especial para Paulo Freire. Nosso objeto é o pensar freireano produzido até o final da década de setenta. Assim, definimos como “1º. Paulo Freire” os textos clássicos do autor produzidos de 1967 a 1979: “Educação como prática da liberdade” (1967), “Pedagogia do Oprimido” (1969), “Extensão ou comunicação?” (1971), “Ação Cultural para a liberdade e outros escritos” (1976), “Carta à Guiné-Bissau” (1977), “Educação e mudança” (1979). Propomos este corte na obra do pedagogo por que, para nós, é com a abertura política e a volta dos exilados, dentre eles, o próprio pedagogo, que Freire, ao longo dos anos oitenta, vivenciou novas experiências e reflexões, aprimorando seu pensar pedagógico, ao longo desta década, Freire irá reaprender o Brasil. Portanto, metodologicamente, dividimos a obra de Freire em três momento: o primeiro, composto pelos textos acima citados, marcado pelo exílio; o segundo, de 1980 a 1991, composto por textos como “Exílio e identidade” (1980), “A importância do ato de ler em três artigos que se completam” (1982) “O partido como educador-educando” in “Educação como ato político partidário” (1988), A educação na cidade, 1991, marcado pela 1 Doutorando em Filosofia da Educação UFPE. Andre_educaçã[email protected] 2 GADOTTI, 1999, 19

Upload: pmba

Post on 16-Aug-2015

242 views

Category:

Documents


21 download

TRANSCRIPT

  • 1

    O CONCEITO DE LIBERDADE NO 1 PAULO FREIRE

    Andr Ferreira1

    Investigar as significaes filosficas subjacentes pedagogia no Brasil

    contribuir para a construo de alicerces mais slidos para a teoria educacional brasileira.

    Sendo um dos principais momentos da pedagogia nacional, o pensamento de Paulo Freire se

    inscreve naturalmente como um objeto dos mais expressivos a ser olhado pelo escopo

    filosfico. Escolhemos focar este olhar sobre o conceito de liberdade subjacente ao

    pensamento de referido educador. Defendermos que tal intento contribuir para uma melhor

    compreenso do desenvolvimento do pensamento pedaggico brasileiro, pois apontar as

    respostas freireanas para um dos aspectos mais caros pedagogia e filosofia: a

    independncia crtica do homem. Neste sentido, subscrevemos a inteno de Gadotti quando

    tambm nos engajamos na tarefa de encontrar os melhores meios de tornar a educao um

    instrumento de libertao humana e no de domesticao2.

    O trabalho que aqui desenvolvemos prope um lcus temporal especial para Paulo

    Freire. Nosso objeto o pensar freireano produzido at o final da dcada de setenta. Assim,

    definimos como 1. Paulo Freire os textos clssicos do autor produzidos de 1967 a 1979:

    Educao como prtica da liberdade (1967), Pedagogia do Oprimido (1969), Extenso

    ou comunicao? (1971), Ao Cultural para a liberdade e outros escritos (1976), Carta

    Guin-Bissau (1977), Educao e mudana (1979). Propomos este corte na obra do

    pedagogo por que, para ns, com a abertura poltica e a volta dos exilados, dentre eles, o

    prprio pedagogo, que Freire, ao longo dos anos oitenta, vivenciou novas experincias e

    reflexes, aprimorando seu pensar pedaggico, ao longo desta dcada, Freire ir reaprender o

    Brasil.

    Portanto, metodologicamente, dividimos a obra de Freire em trs momento: o

    primeiro, composto pelos textos acima citados, marcado pelo exlio; o segundo, de 1980 a

    1991, composto por textos como Exlio e identidade (1980), A importncia do ato de ler

    em trs artigos que se completam (1982) O partido como educador-educando in

    Educao como ato poltico partidrio (1988), A educao na cidade, 1991, marcado pela

    1 Doutorando em Filosofia da Educao UFPE. [email protected] 2 GADOTTI, 1999, 19

  • 2

    luta partidria e pela experincia como secretrio de educao de So Paulo; o terceiro

    momento, de 1992 at 1999, iniciado pelo texto Pedagogia da Esperana: um reencontro com

    a pedagogia do oprimido (1992), Poltica e educao (1993), marcado pelo balano crtico

    de seus primeiros escritos e a consolidao seu pensamento enquanto corrente pedaggica.

    importante lembrar que a notoriedade de educador pernambucano se construiu

    antes mesmo de sua volta ao Brasil3. Um dos exemplos de sua fora pode ser constatado pelo

    testemunho de Luiz Antonio Cunha, afirmando que, de suas leituras na dcada de setenta, o

    livro mais importante foi sem dvida Pedagogia do Oprimido que o leu em 1970/71, em

    ingls, em exemplar trazido escondido por destemido viajante4, haja vista que s em 1974

    seria publicado no Brasil, apesar de j estarem circulando tradues mimeografadas5. No

    entanto, com a abertura poltica que a presena de Freire vai se formatando, aos poucos,

    como uma verdadeira corrente pedaggica.

    O Personalismo

    O Personalismo identificado por Abbagnano como uma corrente do

    Espiritualismo. Em linhas gerais, o Espiritualismo foi uma reao ao positivismo, surgida em

    meados do sc. XIX, que procurava revalorizar o papel da religio e principalmente salientar

    a dimenso no reduzvel do homem s determinaes de sua natureza fsico-biolgica. Tem

    como conceito chave a noo de conscincia, que o aproximou do idealismo alemo, e como

    veremos, a partir da terceira dcada do sc. XX, o aproximar bastante da fenomenologia e do

    existencialismo.

    A identificao precisa dos autores e idias que constituem o personalismo gera

    controvrsias. Abbagnano define personalismo como uma corrente francesa do

    espiritualismo cujo foco se volta para o aspecto social e cuja ascendncia catlica e que teve

    como fundador e maior divulgador Emmanuel Mounier. Ainda segundo Abbagnano, esta

    caracterizao se distingue do modo que os historiadores ingleses da filosofia identificam o

    personalismo: termo que o uso anglo-saxnico reserva ao espiritualismo em geral6.

    3 Tendo nascido numa famlia de professoras primrias (alfabetizadoras), lembro-me que ainda criana (incio dos setenta) j ouvia falar de um certo professor que tinha sido cassado pela ditadura militar por ter criado um mtodo que alfabetizava as pessoas do povo (especialmente os trabalhadores das usinas) em algumas semanas. A memria tambm registra que o referido professor compunha para aquelas minhas queridas professoras, junto com nomes que criana soavam como Arrs, Joo Gular e Preste, o panteo domstico de mitos da poltica nacional. Apenas na adolescncia, poca da abertura, que o professor ganhou, para mim, rosto, nome e bibliografia. 4 Cunha, 81, 126 5 Cunha, 81, 126 6 ABBAGNANO, 1984, 139

  • 3

    Todavia, a adoo do termo ingls personalist - que ensejaria o nosso personalista e

    personalismo - para identificar a corrente de pensamento denominada por Abbagnano de

    espiritualismo, bem anterior a Mounier e ao dito personalismo francs. Segundo Giovanni

    Reale e Dario Antiseri, em 1919, nos EUA, foi lanada a revista The Personalist, peridico

    que um desdobramento das discusses levantadas por um grupo precedente de pensadores, o

    Personalist Group7. J segundo Octavi Fullat, temos mais outros autores, de outros pases,

    que tambm podem receber o epteto de personalista tais como Brzozowski e Koninski da

    Polnia, e Berdiaev da Rssia8, alm dos pedagogos que identifica como personalistas: Paulo

    Freire, no Brasil, e Lorenzo Milani, na Itlia. Segundo Reale e antiseri, o prprio Mounier

    aponta distintas tendncias no que ele entendia por personalismo:

    Uma tendncia existencialista (...), uma tendncia marxista, (...), e uma tendncia

    mais clssica, que se insere facilmente na tradicional corrente introspectiva da

    filosofia francesa9.

    Assim, temos uma profuso de identidades relacionadas ao termo personalista e,

    por tabela, personalismo. Diante deste fato, para melhor precisar a linha de pensamento que

    nos interessa, para o universo deste texto estipulamos como personalismo a linha de

    pensamento que, trabalhando com as noes de conscincia e pessoa, incorporam elementos

    da fenomenologia e do existencialismo. Agindo desta forma, colocamos como elementos de

    um mesmo conjunto pensadores como Emmanuel Mounier, Jean Lacroix, Martin Buber e

    Georges Gusdorf. Trabalhamos com a idia de que o personalismo no foi apenas um

    movimento catlico francs. Assim, definimos por personalismo a variao do espiritualismo

    que incorporou elementos metodolgicos e conceituais da fenomenologia e da ontologia

    existencial. A aproximao espiritualismo-fenomenologia, que sintetizar o personalismo, se

    d atravs do interesse compartilhado pelo conceito de conscincia. Alm do fato de que a

    incorporao da metodologia fenomenolgico-hermenutica10 contribuir para uma definio

    mais contempornea de pessoa, afastando-se do puro imanentismo espiritualista. Via esse

    mtodo, foi possvel precisar ainda mais o campo especfico da reflexo filosfica sobre o

    homem, cuja esfera no se confunda com as das cincias (biolgicas, psicolgicas e

    7 C/f REALE & ANTISERI, 1991, 728-729 8 Salientando que boa parte da produo intelectual de Berdiaev se deu em seu exlio na Frana, sendo um dos primeiros colaboradores da revista Esprit dirigida por Mounier C/f . REALE & ANTISERI, 1991, 727. 9 REALE & ANTISERI, 1991, 727. 10 Paul Ricoeur, um dos grandes mestres da hermenutica, foi identificado por Mounier como um personalista. C/f REALE & ANTISERI, 1991, 727.

  • 4

    sociolgicas) ou com a da histria. Pois, segundo o que comenta Fullat, luz do

    personalismo, o ente humano tem natureza e possui histria, mas no nem a primeira nem a

    segunda11. A oposio ao positivismo e a defesa da irredutibilidade do homem a apenas a sua

    dimenso de natureza, j empreendida pelo espiritualismo, agora aufere maior sistematizao

    metdica. Retomando a questo da liberdade, agora sob a influncia fenomenolgica, temos

    que a discusso vai alm da oposio cincia positivista: a prpria noo de natureza e

    processo histrico questionada. Pois, como j foi dito, o fenmeno pessoa no se reduz

    dimenso neuro-fisio-biolgica (a natureza) nem dimenso scio-histrica (a realidade

    cultural), que tambm se manifestam enquanto esferas de determinaes nas quais o indivduo

    se insere. A natureza, a cultura e a histria tambm so dimenses que, ao comporem a

    facticidade do indivduo, se manifestam como esferas de determinao. Todavia, a

    especulao fenomenolgica nos ajuda a trabalhar com a idia de que nenhuma dessas

    dimenses, que em conjunto constituem a natureza objetiva do indivduo, esgotam o sentido

    do fenmeno pessoa, haja vista, que este ente tem a possibilidade de superar as

    determinaes da facticidade que lhe determinam e apontar autonomamente o sentido de sua

    prpria existncia, para este ente lhe constitutiva a liberdade.

    Em sntese, usando a tradio aristotlica de classificao, para melhor expressar

    nossa idia, poderamos dizer que o espiritualismo o gnero, e a caracterstica

    fenomenolgico-existencial o que define a espcie. Do espiritualismo, o personalismo

    mantm a reflexo em torno dos conceitos de conscincia, liberdade e infinito, e do

    pensamento fenomenlogo-existencialista, reformula tais conceitos entendendo que a

    conscincia intencional e constitui significativamente o mundo, que a liberdade o existir

    autnomo, e que a significao do infinito dada historicamente.

    Este personalismo aproximado da fenomenologia e do engajamento social tem em

    Emmanuel Mounier um dos mais expressivos representantes. Assim como para o

    personalismo em geral, para o personalista francs tambm a pessoa liberdade12. Os

    historiadores da filosofia, de Abbagnano a Fullat, so unnimes em apontar que seu

    engajamento pessoal s causas sociais e humanitrias, sua correo poltica, seu impecvel

    comportamento tico (que o tornaram notrio ainda jovem) e seu sbito falecimento aos

    quarenta e cinco anos, fizeram de Mounier quase que um mrtir da defesa da pessoa humana,

    numa perspectiva marcada pela aproximao ao cristianismo catlico.

    O personalismo, Mounier define como:

    11 FULLAT, 1995, 446. 12 C/f ABBAGNANO, 1984, 141

  • 5

    toda doutrina, (...), que afirma o primado da persona humana sobre as

    necessidades materiais e sobre os aparelhos coletivos que sustem seu

    desenvolvimento13.

    O aspecto mais caracterstico do pensamento do entusiasta do personalismo a

    associao da noo de conscincia com a de comunidade, sustentada por suas reflexes sobre

    comunicao interpessoal e comunho. Ele prope uma revoluo comunitria, uma

    alternativa aos equvocos do comunismo sovitico e do liberalismo capitalista. A noo de

    comunidade visa resgatar a sociabilidade ideal do humanismo, garantindo a equidade material

    sem perder de vista a imparcialidade da justia e a liberdade individual. Todavia, essa

    liberdade no a da individualidade liberal, mas a da pessoa, o ente humano portador de uma

    conscincia autnoma, que s pode ser pensada em comunicao com as outras conscincias.

    O agir num mundo comunitrio pautado pela comunicao das conscincias, a comunicao

    da existncia com outras14.

    Seguindo este caminho que Mounier, resignificando a noo catlica, que a

    comunho se d quando a pessoa chama a si e assume o destino, o sofrimento, a alegria e o

    dever dos outros15. Esta comunho, fundada no amor, um dos sustentculos da idia de

    revoluo comunitria proposta pelo autor. Distinguindo-se do modus operandis do modelo

    bolchevique-sovitico de revoluo, a revoluo comunitria a instaurao de um processo

    de conscientizao que deve se disseminar por toda a sociedade, prenunciando um certo

    socialismo utpico, que venha a substituir tanto as opresses de direita quanto os

    totalitarismos de esquerda16. Assim sendo, a educao tem um papel imprescindvel nas

    reflexes de Mounier, pois ela o meio pelo qual as conscincias tomam cincia crtica da

    realidade que lhes est a volta. Para tanto, a educao tem que ser pensada para alm da tutela

    do Estado, devendo estar sob a tutela do prprio povo. Fato que confere um certo tom

    libertrio s reflexes pedaggicas do autor, tom que tambm sugerido por Paulo Freire.

    Neste sentido, Mounier afirma que o setor educativo extra-escolar deve poder gozar da

    mxima liberdade possvel17.

    13 MOUNIER, 2000, 19 14 C/f ABBAGNANO, 1984, 140 15 Mounier apud REALE & ANTISERI, 1991, 737 16 C/f REALE & ANTISERI, 1991, 737 17 Mounier apud REALE & ANTISERI, 1991, 737

  • 6

    A influncia do personalismo em Paulo Freire: A liberdade enquanto religar-se ao Criador, o

    primeiro esboo da noo de liberdade.

    Denominamos o perodo da dcada de 60 como a fase mais personalista de Paulo

    Freire. O pedagogo publica seus primeiros escritos j no exlio. no Chile, em 1967, que ele

    conclu Educao como prtica da Liberdade: uma anlise da sociedade brasileira da poca

    e um balano de suas experincias em alfabetizao. Este texto expressa o momento mais

    autenticamente personalista de Freire. No primeiro captulo, A Sociedade brasileira em

    transio, em meio a uma anlise bem particular da sociedade brasileira de sessenta,

    manifesta com clareza a influncia das idias do catolicismo personalista. De incio, podemos

    perceber a idia central da antropologia personalista: a irredutibilidade do homem s

    determinaes da impostas pela natureza ou vida em sociedade. O homem pessoa, no

    um mero objeto do mundo ao qual pertence: sujeito, capaz de atuar intencionalmente no

    mundo. Nas palavras de Freire:

    No se reduzindo to-somente a uma das dimenses de que participa a natural e

    a cultural da primeira, pelo seu aspecto biolgico, da segunda, pelo seu poder

    criador, o homem pode ser eminentemente interferidor18.

    De imediato, podemos perceber tambm que j nos seus primeiros escritos, a posio

    de Freire oposta ao determinismo inerente s idias do estruturalismo cultural, notadamente,

    a teoria da reproduo. Pois, o homem, enquanto pessoa, no se reduz sua condio animal19

    (biolgica) e nem s condies impostas pela vida em sociedade, as determinaes da cultura.

    Neste sentido, o educador trs para a discusso o conceito personalista-

    fenomenolgico de transcendncia. Assim, afirma o pedagogo pernambucano que o

    homem, e somente ele, capaz de transcender20. Como vimos, a noo de transcendncia de

    importncia fundamental no universo conceitual personalista-fenomenolgico, implicando a

    possibilidade do sujeito refletir a si mesmo, apreendendo o sentido corrente do existir, abrindo

    assim a possibilidade de resignific-lo. Todavia, para o Freire de Educao como Prtica da

    Liberdade (1967), a transcendncia no o resultado exclusivo da transitividade de sua

    18 FREIRE, 2000, 49 19 Segundo Freire: As relaes que o homem trava no mundo com o mundo (pessoais, impessoais, corpreas e incorpreas) apresentam uma ordem tal de caractersticas que as distinguem totalmente dos puros contatos, tpicos da outra esfera animal. FREIRE, 2000, 47 20 FREIRE, 2000, 48

  • 7

    conscincia, que o permite auto-objetivar-se e, a partir da, reconhecer rbitas existenciais

    diferentes, distinguir um eude um no eu; e complementa, com relao pessoa, que:

    a sua transcendncia est tambm, para ns, na raiz de sua finitude. Na

    conscincia que tem desta finitude. Do ser inacabado que e cuja plenitude se

    acha na ligao com seu Criador.21

    Observemos a fora do iderio cristo, marcando a sintonia com as idias do

    personalismo de Mournier, principalmente pelo fato do inacabamento humano, devido a sua

    finitude, atingir sua completude na ligao ao Criador. Assim, diferente dos fenomenlogos,

    para os quais a liberdade a prpria transcendncia dessa mesma finitude e inacabamento,

    efetivada pela prxis humana, ampliadora do leque de possibilidades contrapostas s

    determinaes factveis, no Freire de 1967, essa transcendncia ultrapassa o mundo e sua

    prpria materialidade (noo certamente rejeitada por Heidegger e os demais fenomenlogos

    ateus), saltando radicalmente por sobre o conjunto da totalidade das determinaes factveis,

    atingindo destarte a dimenso da suprema plenitude. Isto no faz crer que a liberdade, ento,

    no a transcendncia em si, mas a sua completude pela dimenso supra mundana, a suprema

    autonomia diante da prpria materialidade. Assim, a liberdade est em ligar-se ao Criador: a

    suprema ultrapassagem sobre o conjunto da totalidade das determinaes factveis, que abre

    um leque agora infinito em suas possibilidades, haja vista que o possvel no apenas o que

    se pode rearrumar e resignificar a partir do j existente, mas o radicalmente novo,

    possibilitado pelo Criador.

    Dilogo, Conscincia e Conscientizao

    O personalismo freireano ganha novas cores aps a estada no Chile e Genebra.

    Permanecem as noes como amor, comunho e conscincia, j apresentadas no Educao

    como prtica da liberdade, todavia, imbudos de um maior engajamento poltico Neste

    sentido, importante associar anlise da distino entre o pensamento de Freire e Mounier

    com o advento da Teologia da Libertao e os rumos que a Igreja Catlica trilhou durante as

    dcadas de setenta e oitenta, em especial na Amrica Latina. Lembremos que, apesar do vis

    catlico, o pensamento mournierniano no vivenciou a guinada esquerda dada pela igreja

    naquelas dcadas; No esqueamos da morte precoce do intelectual francs, que o privou de

    21 FREIRE, 2000, 48

  • 8

    acompanhar o surgimento da igreja politicamente engajada, a igreja libertadora. NA

    Pedagogia do Oprimido, j notamos o forte tom poltico da pedagogia proposta. No entanto,

    os demais escritos (Ao Cultural para a liberdade e outros escritos (1976), Carta Guin-

    Bissau (1977)) da poca, trazem o marco diferenciatrio de Freire e Mounier: a tomada de

    conscincia, agora, o despertar da conscincia para sua misso emancipadora. Por sua vez,

    a comunho, cada vez mais, assume um tom de efetividade social, descendo do cu

    espiritualista para o cho da igreja libertadora. O tempo de exlio aproxima Freire do

    marxismo ocidental, afastando-o da tradio tipicamente personalista, neste afastamento,

    categorias tipicamente personalistas so resignificadas, no obstante, foi duramente criticado

    pelos marxistas ortodoxos, que identificavam traos populistas em seu discurso pedaggico. O

    dilogo deixa de ser encontro de subjetividade para constituir-se enquanto uma relao

    dialtica de conscientizao mtua, e a prpria tomada de conscincia perde seu carter

    iminente subjetivo para inserir-se num processo objetivo, histrico, de emancipao cultural22.

    Para o personalismo de Freire o dialogo no eu-tu, ns-vs.

    Esta concepo scio-poltica de dilogo que diferencia o personalismo freireano

    do de Buber e Gusdorf23: em Freire o dilogo aponta para um processo de conscientizao

    scio-poltica e para um necessrio engajamento nas lutas de emancipao popular, nos

    personalistas em geral, o dilogo aponta para um processo de conscientizao pessoal,

    conscientizao que necessariamente no se realiza no engajamento nas lutas de emancipao

    popular conduzidas pelos movimentos de esquerda. Esta distino refora-nos a identidade do

    discurso pedaggico freireano com a realidade no apenas brasileira, mas terceiro-mundista,

    apontando que em tais circunstncias, a reflexo sobre a instaurao de um processo de

    tomada de conscincia tem que abordar as aes que possibilitem a instaurao das condies

    sociais mnimas para que o indivduo se veja como ser humano, para que da possa perceber-

    se como pessoa. Pois, j que as condies sociais do terceiro-mundo em geral negam ao

    indivduo at a sua percepo enquanto um ser valorado para alm do animal, o processo

    instaurador do dilogo conscientizador tambm tem que dar conta da re-instaurao das

    condies materiais mnimas que elevem o indivduo para uma condio de vida para alm do

    22 Este momento de afastamento da senda personalista foi testemunhado pelo Prof. Dr.Ferdinad Rhr. Entre 1975-76, Ferdinand, ento, um jovem licenciando alemo de ascendncia catlica, que na poca no falava portugus e nem se imaginava naturalizado brasileiro, vai ao encontro do pedagogo em Genebra, afim de inquiri-lo, em ingls, sobre o papel do dilogo na Pedagogias do Oprimido. O pedagogo vaticina:...esquea essa parte do dilogo.... E indica para o jovem estudante a leitura das Teses sobre Fuerbach de Marx. 23 Veremos no subcaptulo seguinte que esta distino discutida e assumida por Gadotti, que tambm iniciuo sua trajetria via o personalismo tpico, porm abandona-o aps a aproximao com o personalismo freireano.

  • 9

    animalesco, haja vista que, no nvel da sobrevivncia ainda animal, no haver a efetiva

    dialogao em nvel humano.

    A Transcendncia e a Comunho

    Vimos no captulo anterior que a noo de transcendncia um ponto chave na

    corrente de pensamento fenomenolgica-existencialista: Husserl, Heidegger, Jasper e outros

    operam com esta noo no sentido de t-la como a olhada da conscincia sobre si mesma,

    possibilitando a reordenao do mundo significativo do sujeito. Vimos tambm que est

    transcendncia o fundamento da prpria liberdade, para esta corrente, a qual se contrape s

    determinaes estruturais do mundo concreto, que, sem o olhar sobre se mesma, submergem a

    conscincia num existir inautntico. O personalismo, por sua vez, associa um outro conceito

    ao de transcendncia, que aqui chamaremos de unidade fundamental. Em geral, para o

    pensamento personalista, a transcendncia no um processo apontado para uma eterna

    inconcluso: o olhar da conscincia sobre si mesma, quanto mais se aprofundar, descortinar

    o essencial sentido de si prpria, sentido este que, distinto do existencialismo ateu, no um

    significado autodeterminado, manifestante da radical condenao liberdade prpria da

    antropologia existencialista, e sim um encontro com o supremo sentido, a atualizao da

    essncia fundamental. Herdeiros do espiritualismo, para quem a liberdade definidora do ser

    humano, os personalistas apontam a unidade fundamental como a efetivao suprema da

    liberdade: no que se tem enquanto unidade fundamental que se dar a suprema liberdade.

    Para o existencialismo, o significado da existncia autodeterminado, para o personalismo, e

    a se inclui Freire, o significado j dado pela prpria essencialidade humana, que como foi

    dito, porta em si a liberdade. Assim, um trao geral do personalismo, de Buber a Mounier, a

    idia de um telos apontado como o sentido do processo de transcendncia. Este telos

    apresenta-se, ao modo aristotlico, como a atualizao ltima da essncia mesma.

    Freire, seguindo sua ascendncia personalista, menciona primeiramente a ligao

    com o Criador como sendo a unidade fundamental. Todavia, caracterizar seu pensamento

    pela retomada da idia de comunho esboada por Mounier. No mesmo texto24 em que aponta

    a ligao com o Criador como sendo a unidade fundamental, esboa a idia de comunho,

    definida ali como integrao, que caracteriza o homem sujeito. Adaptado, no integrado, o

    homem perde a capacidade de optar e vai sendo submetido a prescries alheias que o

    24 Educao como prtica da liberdade

  • 10

    minimizam25. Esta integrao fruto da liberdade, pois, toda vez que se suprime a

    liberdade, fica ele [o homem] um ser meramente ajustado ou acomodado26. Aqui a noo de

    comunho ainda no recebeu o status de unidade fundamental27, porm, no Pedagogia do

    Oprimido este status lhe conferido, onde, conseqentemente, a ligao com a divindade

    preterida a favor da noo de comunho. Ao modo hegeliano, dizemos que o pensamento

    freireano, aqui, operou uma suprassuno (aufhebung): negou a ligao com a divindade

    catlica, seu momento primeiro, para elevar-super-lo na noo da identidade humanidade,

    que tambm identidade com o divino, no apenas com a divindade. Assim, a noo de

    unidade fundamental suprassume-se de uma divindade para a plena humanidade que a

    unidade suprema entre divino e humano, realizando, ento, como sucede para o

    espiritualismo-personalismo, a plena liberdade.

    Outra elaborao do conceito de comunho encontra-se no Pedagogia da

    Esperana (1992), texto que uma releitura das idias lanadas no Pedagogia do

    Oprimido. Nele, aps uma dcada de maturao, a de oitenta, Freire retoma os conceitos

    desenvolvidos entre as dcadas de sessenta e setenta. A comunho, a unidade fundamental,

    agora incorpora ao humanismo uma visada holista: a essncia fundamental, que se atualizar

    na unidade, carrega agora em si, alm da identidade homem-divino, a identidade homem-

    natureza28. Assim, a comunho no apenas a de homens e de mulheres e de deuses e

    ancestrais, mas tambm a comunho com as diferentes expresses de vida. O universo da

    comunho abrangia as rvores, os bichos, os pssaros, a terra mesma, os rios, os mares. A

    vida em plenitude.29. Esta discusso abre campo para uma ecopedagogia: pedagogia do fazer

    humano integrado vida como um todo.

    Liberdade enquanto Comunho

    A ligao com o Criador se d na Comunho, assim sendo, ao religare da religio

    incorpora-se como elemento necessrio para a compreenso da liberdade a noo de

    interao. No primeiro momento, de sua fase personalista, ao propor a liberdade enquanto o

    religar-se ao Criador, Freire no tinha salientado a dimenso comunitria da liberdade com a

    nfase que se percebe na Pedagogia do Oprimido. O credo cristo tradicional, a ligao direta

    25 FREIRE, 2000, 50 26 FREIRE, 2000, 50 27 Supomos que o credo catlico mais ortodoxo ainda se fazia presente no Freire recm exilado. 28 Recentemente, o Prof. Ferdinand Rhr, tambm de ascendncia personalista, apresenta o conceito de integralidade como unidade fundamental. 29 FREIRE, 1992

  • 11

    indivduo-criador, presente no Educao como prtica da liberdade, agora substituda

    pela idia de que a ligao indivduo-criador tem que ser necessariamente mediatizada pelo

    coletivo dos homens. Assim sendo, o homem no se liberta apenas no seu retorno ao Criador,

    mas o homem se liberta em comunho, que a interao no somente com o criador,

    diretamente, mas a interao com o Criador via a interao com os outros homens. Sugere-nos

    que a verdadeira interao com o Criador no se d numa religao individualizada, do tipo

    eu/divindade, mas que se d em comunho, a religao do tipo ns/divindade.

    Ningum liberta ningum, ningum se liberta sozinho: os homens se libertam

    em comunho30.

    A idia de que necessria a comunho para que se d a libertao vincula-o a um

    conceito de liberdade que pensado enquanto uma totalidade efetiva. No temos a primazia

    da faculdade de desejar racional do indivduo, sobre a liberdade manifesta nas instituies e

    na ordem social. Agora, incorporando o conceito de dialtica, temos que uma no antecipa a

    outra, mas ambas determinam-se mutuamente: a capacidade de autodeterminao racional

    relaciona-se dialeticamente com a ordem vigente. Do jogo de foras, no qual a ordem forma o

    homem e o homem constri a ordem, que a liberdade se manifesta. Da, ela s pode se dar

    na totalidade, que o movimento da constante sntese desse jogo de foras. A liberdade do

    homem nesta perspectiva no a autonomia da razo com relao aos instintos ou paixes, ou

    seja no a mera liberdade da subjetividade racional frente a sensibilidade. A liberdade do

    homem nesta perspectiva o prprio processo de constituio da razo na relao

    homem/ordem social.

    A noo de liberdade objetiva tem em Hegel seu principal sistematizador, sendo

    fonte inspiradora do prprio pensamento freireano. Carlos Alberto Torres no seu livro

    Pedagogia da Luta salienta a importncia do pensamento hegeliano na formulao dos

    princpios bsicos da Pedagogia do Oprimido. Enfoca como pontos cruciais desta relao a

    dialtica do senhor e do escravo, ego e desejo e o reconhecimento. A anlise

    empreendida pelo autor identifica a passagem Senhorio e Escravido , exposta na

    Fenomenologia do Esprito, como a chave do paralelo entre a relao dialtica

    senhor/escravo com a dialtica opressor/oprimido, da Pedagogia do Oprimido31. O texto

    30 FREIRE, 1987, 52. 31 TORRES, 1997, 26.

  • 12

    freireano explcito ao estabelecer tal relao, citando a prpria Fenomenologia do

    Esprito:

    Se o que caracteriza os oprimidos, como conscincia servil em relao

    conscincia do senhor, fazer-se quase coisa e transformar-se, como salienta

    Hegel [Phenomenology of Mind, Harper and Row, 1967, p. 234], em conscincia

    para outro, a solidariedade verdadeira com eles est em com eles lutar para a

    transformao da realidade objetiva que os faz ser este ser para outro 32

    Todavia, segundo Carlos Alberto Torres, Freire no aceita a noo hegeliana de

    reconciliao e sntese33. Paulo Freire abdica da noo de desenvolvimento positivo da

    histria. A histria perde qualquer paradigma que garanta seu progresso positivo para a

    humanizao e emancipao. Isto apontado claramente por Torres:

    A grande diferena entre Hegel e Freire ser, justamente, a superao da

    positividade da negao natural hegeliana na Pedagogia do Oprimido.34

    Em Paulo Freire temos o abandono da teleologia positiva da histria, pois ele

    pensa a desumanizao como uma de nossas possibilidades histricas, aponta os homens

    como inconclusos. Portanto, sujeitos ao fracasso histrico. Hegel realmente jamais pensaria

    assim. Poderia ser at que o filsofo alemo no apostasse tanto da evoluo progressiva

    linear, apostaria talvez numa progresso espiral, onde vamos nos aperfeioando a partir de

    nossos prprios erros, todavia, no pensaria na barbrie e retrocesso civilizatrio como um

    destino possvel. J Freire nos diz que:

    Humanizao e desumanizao, dentro da histria, num contexto real, concreto,

    objetivo, so possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de

    sua inconcluso35.

    Freire abandona a noo de positividade do progresso histrico, mas no

    abandona a idia de totalidade. Esvaziada da noo de positividade, a humanidade s pode ser

    pensada enquanto projeto, todavia, ainda um projeto coletivo. A relao opressor/oprimido

    em Freire aponta no s para a emancipao das injustias decorrentes da explorao do

    trabalho, mas tambm para a tarefa coletiva da construo do sentido que se d ao processo de

    32 FREIRE, 1987, 36. 33 TORRES, 1997, 33. 34 TORRES, 1997, 32. 35 FREIRE, 1987, 30.

  • 13

    humanizao. Que deve ter na equalizao do acesso aos bens materiais uma de suas

    principais conseqncias, mas que no deve se resumir a isso. Pelo contrrio, a equalizao

    dos bens materiais seria uma decorrncia de uma equalizao maior: o reconhecimento mutuo

    da humanidade entre os homens. Esvaziando nesse reconhecimento a dualidade

    opresso/oprimido, apontando a construo coletiva de novos significados que norteiem as

    aes polticas que venham a transformar a ordem social.

    A incorporao de determinados princpios hegelianos fundamental para a

    construo da noo de libertao enquanto comunho: a liberdade o prprio processo de

    constituio da razo na relao opressor/oprimido. A razo no oposta sensibilidade:

    racional reconhecer o outro como igual, portanto livre. Livre, o oprimido da opresso, e livre

    o opressor do seu impulso dominador. O jogo de foras, a relao dialtica,

    opressor/oprimido, constri constantemente a ordem social, onde um e outro se formam,

    educam suas mentes e sentimentos. Da, s incorporando a totalidade desse jogo de foras, ou

    seja, s reformando simultaneamente opressor/oprimido que a liberdade se far efetiva, pois

    ela ser a manifestao de uma relao dialtica que constri uma nova ordem social que

    educa a mente e os sentimentos do homens sob a luz da igualdade reconhecida. Neste sentido,

    o conceito de liberdade pensado objetivamente, e segundo Freire:

    Dizer que os homens so pessoas e, como pessoas, so livres, e nada

    concretamente fazer para que esta afirmao se objetive, uma farsa.

    Da mesma forma como em uma situao concreta a da opresso que se

    instaura a contradio opressor/oprimidos, a superao desta contradio s se

    pode verificar objetivamente tambm.36.

    Concluindo, temos ento que a comunho o telos supremo, a unidade

    fundamental que atualiza a essncia do homem. Atualizao esta que objetiva e compreende

    em si a suprassuno da teno que efetivamente impede a plenitude humana: a tenso

    opresso/oprimido. Assim sendo, a comunho a prpria efetivao da liberdade: a suprema

    autonomia de toda forma de tirania e a realizao da essncia humana, que podemos entender

    como a realizao concreta do divino que h na humanidade.

    36 Idem,

  • 14

    Bibliografia:

    1. FREIRE, Paulo Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, 23a Ed.

    2. _____________ - Educao como prtica da liberdade, Rio de Janeiro, Paz e Terra,

    2000, 24. Edio.

    3. _____________ - Pedagogia da Esperana, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992.

    4. FULLAT, Octavi Filosofias da Educao, Trad. Roque Zimmermann, Petrpolis,

    Vozes, 1994

    5. HEGEL - Fenomenologia do Esprito, trad. Paulo Meneses, Petrpolis, Vozes,

    junho/1992. Volumes 1 & 2.

    6. GHIRALDELLI, Paulo (org) - O que filosofia da educao, Rio de Janeiro, DP&A, 2a

    ed, 2000.

    7. TORRES, C. Alberto Pedagogia da Luta: da pedagogia do oprimido escola pblica

    popular, Campinas, Papirus, 1997.

    8. ___________________ Leitura crtica de Paulo Freire, Campinas, Papirus.

    9. __________________ Dilogo com Paulo Freire, So Paulo, Cortez.

    10. __________________Conscincia e Histria: a prxis educativa de Paulo Freire,

    Campinas, Papirus.

    11. __________________Paulo Freire: Pedagogia e Sociedade, So Paulo, Cortez.