outro olhar - gabriel tebaldi!

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22 POLÍTICA A GAZETA SÁBADO, 17 DE NOVEMBRODE 2012 [email protected] Gabriel Tebaldi Os falsos heróis disse o dramaturgo Bertold Bre- cht: "Pobre do país que precisa de heróis". Nações carentes de si mesmas costumam construir personalidades perfeitas e alheias de todo mal. Por séculos, o brasileiro construiu em seu imaginário heróis que não passam de um desserviço ao conhecimento. Agravando a situação, o PT, há dez anos no poder, tem buscado inserir novos santos do pau-oco na influen- ciável mente tupiniquim. Diante dis- so, vale conhecer um pouco melhor a história de alguns companheiros. Comecemos por António Palocci. O ex-ministro de Lula e Dilma é um dos que se inserem no fajuto discurso do "eu lutei pela democracia". O amigo da presidente esquece apenas de peque- nos detalhes da mocidade: membro da extrema esquerda, Palocci integrou o grupo Libelu (Liberdade e Luta), cor- rente trotskista cujo sonho era trans- formar o Brasil num país socialista. Sua luta nada tinha a ver com a de- mocracia, mas sim com a retirada da Ditadura Militar para a instalação de outra, a tal Ditadura do Proletariado. Foz com anseios ditatoriais que Dilma Rousseff pegou em armas. Sua militância teve início na Organização Revolucionária Marxista. Foi também com anseios ditatoriais que Dilma Rousseff pegou em armas. Sua militância teve início na Orga- nização Revolucionária Marxista, co- nhecida como Polop, também trots- kista. Mais tarde integrou o Comando de Libertação Nacional (Colina) e, em seguida, a Vanguarda Armada Revo- lucionária Palmares (VAR-Palmares), que realizava assaltos milionários a bancos e bases militares. Segundo o grupo, os ataques financiavam a re- volução. A revolução e o dinheiro ja- mais foram vistos. A luta armada dos anos 60 tinha objetivo muito claro: conduzir a en- genharia social que eliminaria os tais "grupos dominantes" e colocaria ali os "grupos dominados". Para instalar a ditadura popular, a violência era pré-requisito embasado em afirma- ções do famoso Che Guevara: "Há que levar a guerra até onde o inimigo a leve: à sua casa, aos seus lugares de diversão, torná-la total". Para Che, nada era mais incrível do que matar alguém: "Estou imaginando o orgulho dos companheiros que tem a sorte de ver que suas balas atingiram o ini- migo. Evidentemente é o momento mais feliz da vida de um homem". Pena que isso a esquerda não mostre. Igualmente armado estava José Ge- noino em 70. Membro do PCdoB, o réu do mensalão lutou na Guerrilha do Araguaia buscando construir uma comunidade comunista. Como se vê, os ícones do PT passavam longe do ideário democrático e, para instaurar o comunismo que tanto sonhavam, valia matar e ainda gritar "Viva a revolução!". A história não foi muito diferente com José Dirceu, que fez anos de O caso de Dirceu é a prova de que a idolatria e a construção de heróis formam mentes alienadas treinamento de guerrilha em Cuba (será que conheceu os paredões de fuzilamento de Fidel Castro?). Dirceu é um dos casos mais emblemáticos da questão, pois há uma tentativa ex- plícita de torná-lo um ser divino que sofre injustiças da Justiça. Condenado pelo STF, Dirceu parou de comandar quadrilha e foi ser co- mediante em seu blog. Lá o futuro penitenciário escreve os mais cómicos absurdos e se diz "guerreiro do povo brasileiro". E o pior: quem acredite. O caso de Dirceu é a prova de que a idolatria e a construção de heróis formam mentes alienadas. Mesmo condenado por um tribunal majori- tariamente indicado pelo PT, os mi- litantes ainda falam de "conspiração política". Mesmo provados os crimes, as lideranças chamam de "absurdas" as penas que o "guerreiro" recebeu. Os sinais da decadência não param por aí: na última semana o PT discutiu fazer unia vaquinha para pagar a mul- ta que Dirceu recebeu da Justiça! E todos estão tristes com a corrupção sendo punida. Preferiam ter ao lado o homem que representa a ilusão de um herói em meio a um partido repleto de honoráveis bandidos. dez anos no poder, o PT vem agredindo a mentalidade brasileira com seus "guerreiros e exemplos". dez anos que a certeza de Brecht mostra-se gritante no país: não pre- cisamos de heróis! No momento, ne- cessitamos mesmo é que os senhores pratiquem o mais poético silêncio e se juntem aos seus mais novos compa- nheiros: os da cadeia. Como disse Marx, "A revolução está morta". Gabriel Tebaldi, 19 anos, é estudante de História da Ufes

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22 POLÍTICAA GAZETA SÁBADO, 17 DE NOVEMBRO DE 2012

[email protected]

Gabriel Tebaldi

Os falsosheróis

Já disse o dramaturgo Bertold Bre-cht: "Pobre do país que precisa deheróis". Nações carentes de si mesmascostumam construir personalidadesperfeitas e alheias de todo mal. Porséculos, o brasileiro construiu em seuimaginário heróis que não passam deum desserviço ao conhecimento.Agravando a situação, o PT, há dezanos no poder, tem buscado inserirnovos santos do pau-oco na influen-ciável mente tupiniquim. Diante dis-so, vale conhecer um pouco melhor ahistória de alguns companheiros.

Comecemos por António Palocci. Oex-ministro de Lula e Dilma é um dosque se inserem no fajuto discurso do"eu lutei pela democracia". O amigo dapresidente esquece apenas de peque-nos detalhes da mocidade: membro daextrema esquerda, Palocci integrou ogrupo Libelu (Liberdade e Luta), cor-rente trotskista cujo sonho era trans-formar o Brasil num país socialista.Sua luta nada tinha a ver com a de-mocracia, mas sim com a retirada daDitadura Militar para a instalação deoutra, a tal Ditadura do Proletariado.

Foz com anseios ditatoriais que Dilma Rousseffpegou em armas. Sua militância teve início naOrganização Revolucionária Marxista.

Foi também com anseios ditatoriaisque Dilma Rousseff pegou em armas.Sua militância teve início na Orga-nização Revolucionária Marxista, co-nhecida como Polop, também trots-kista. Mais tarde integrou o Comandode Libertação Nacional (Colina) e, emseguida, a Vanguarda Armada Revo-lucionária Palmares (VAR-Palmares),que realizava assaltos milionários abancos e bases militares. Segundo ogrupo, os ataques financiavam a re-volução. A revolução e o dinheiro ja-mais foram vistos.

A luta armada dos anos 60 tinhaobjetivo muito claro: conduzir a en-genharia social que eliminaria os tais"grupos dominantes" e colocaria alios "grupos dominados". Para instalara ditadura popular, a violência erapré-requisito embasado em afirma-ções do famoso Che Guevara: "Háque levar a guerra até onde o inimigoa leve: à sua casa, aos seus lugares dediversão, torná-la total". Para Che,nada era mais incrível do que mataralguém: "Estou imaginando o orgulhodos companheiros que tem a sorte dever que suas balas atingiram o ini-migo. Evidentemente é o momentomais feliz da vida de um homem".Pena que isso a esquerda não mostre.

Igualmente armado estava José Ge-noino em 70. Membro do PCdoB, o

réu do mensalão lutou na Guerrilhado Araguaia buscando construir umacomunidade comunista. Como se vê,os ícones do PT passavam longe doideário democrático e, para instauraro comunismo que tanto sonhavam,valia matar e ainda gritar "Viva arevolução!".

A história não foi muito diferentecom José Dirceu, que fez anos de

O caso de Dirceu éa prova de que aidolatria e aconstrução de heróisformam mentesalienadas

treinamento de guerrilha em Cuba(será que conheceu os paredões defuzilamento de Fidel Castro?). Dirceué um dos casos mais emblemáticos daquestão, pois há uma tentativa ex-plícita de torná-lo um ser divino quesofre injustiças da Justiça.

Condenado pelo STF, Dirceu paroude comandar quadrilha e foi ser co-mediante em seu blog. Lá o futuropenitenciário escreve os mais cómicosabsurdos e se diz "guerreiro do povo

brasileiro". E o pior: há quem acredite.O caso de Dirceu é a prova de que

a idolatria e a construção de heróisformam mentes alienadas. Mesmocondenado por um tribunal majori-tariamente indicado pelo PT, os mi-litantes ainda falam de "conspiraçãopolítica". Mesmo provados os crimes,as lideranças chamam de "absurdas"as penas que o "guerreiro" recebeu.

Os sinais da decadência não parampor aí: na última semana o PT discutiufazer unia vaquinha para pagar a mul-ta que Dirceu recebeu da Justiça! Etodos estão tristes com a corrupçãosendo punida. Preferiam ter ao lado ohomem que representa a ilusão de umherói em meio a um partido repleto dehonoráveis bandidos.

Há dez anos no poder, o PT vemagredindo a mentalidade brasileiracom seus "guerreiros e exemplos". Hádez anos que a certeza de Brechtmostra-se gritante no país: não pre-cisamos de heróis! No momento, ne-cessitamos mesmo é que os senhorespratiquem o mais poético silêncio e sejuntem aos seus mais novos compa-nheiros: os da cadeia. Como disseMarx, "A revolução está morta".

Gabriel Tebaldi, 19 anos, é estudantede História da Ufes