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22 POLÍTICA A GAZETA SÁBADO, 25 DE MAIO DE 2013 [email protected] OUTRO OLHAR Gabriel Tebaldi Juntos, os bandidos do colarinho branco comemoram cantando: “E pra você que me esqueceu, aquele abraço!”. Aquele abraço Na última quarta-feira foi Dia Na- cional do Abraço, data que, na política, é digna de comemoração com direito a desfile (e sem chuva!). O abraço cínico integra o “código de ética” parlamentar, fazendo-se presente desde o tapinha nas costas, até o caloroso aperto de quem diz “negócio fechado!”. Em seu twitter, o senador Ricardo Fer- raço perguntou: “Será que o mundo não seria melhor com mais abraços?”. A per- gunta cairia bem no Senado, sobretudo para o colega Magno Malta, famoso por “abraçar causas”. Passada a moda da pedofilia, drogas e royalties, a camisa preta com frase de efeito da vez estampa: “Redução da maioridade penal já”. Em tempo: ontem Dilma estava na África; Michel Temer, no Equador; e Eduardo Campos, nos Estados Uni- dos. Resultado: Renan Calheiros as- sumiu a Presidência da República. Se- gundo fontes, no Palácio do Planalto, Gilberto Gil dava o tom do recado de Renan para o povo: “Aquele abraço”! Falando na canção de Gil, o Es- pírito Santo ilustra bem um trecho. Nos últimos quatro anos, as sete gran- des operações do Ministério Público em combate à corrupção prenderam 103 pessoas. Até agora, porém, nin- guém foi punido, e as ações sumiram do debate popular. Juntos, os ban- didos do colarinho branco comemo- ram cantando: “E pra você que me esqueceu, aquele abraço!”. Em Aracruz, porém, os moradores rejeitaram os tapinhas camaradas e criaram um grupo de fiscalização. Em rede social, quase 3 mil membros “adotaram” os vereadores e acompa- nham o trabalho deles de perto. En- quanto isso, em Vitória, o distancia- mento popular ajuda a engordar (li- teralmente) os senhores de terno. Na Assembleia Legislativa, os lan- chinhos custam R$ 384 por sessão, totalizando um aumento de 391% se comparado com 2006. Junto do pão light e da salada de frutas, foram comprados 4 mil quilos de pó de café. Deve ser para combater o sono. Já o Tribunal de Justiça gasta R$ 5 mil por mês com suas frutinhas e mais R$ 85 mil por ano com café, suco, leite, açúcar e, claro, adoçante, pra manter a forma. O chazinho também não pode faltar: em janeiro foram quase R$ 1 mil na compra. Com tudo isso, quem acaba precisando de chá é a população... e de camomila. Com adoçante, por favor. Os abraços bem alimentados tam- bém contaminaram personalidades nacionais. Na Conferência do PSDB, Fernando Henrique disse que o par- tido deve se aproximar do povo. Nas eleições de 2010, José Serra bem que tentou. Com sua aparência de garoto saudável, o tucano visitou uma favela. Pena que era cenográfica, tão ver- dadeira quanto o sorriso de Serra. Enquanto o abraço fraterno do PSDB mostra-se tão espontâneo quanto seu amor aos pobres, o aconchego petista aos companheiros avança num ritmo insustentável. Hoje compreende-se o que o partido queria dizer, ao anunciar Dilma como “A mãe do Brasil”. Era o velho ditado: “coração de mãe sempre cabe mais um”. No caso, no da mãe- zinha, cabem 39 ministros e 985 mil servidores que recheiam os dados as- sustadores da máquina estatal. Para manter seus órgãos, empresas e institutos, o governo federal gasta R$ 377 bilhões por ano. O valor su- pera o PIB da Nova Zelândia, dona do 6º melhor IDH do mundo (0,919), anos luz à frente do nosso 85º lugar. Só os Ministérios consomem R$ 58,4 bilhões, mais que o dobro do que é gasto com o Bolsa Família. O abraço traduz bem a política! E a maioria faz como Casagrande: abraça sem apertar. Cogitando ficar neutro na disputa presidencial de 2014, Casa argumenta que visa “preservar as con- quistas históricas para o Espírito San- to”. Porém, reuniu-se com o presi- dente do PT, Rui Falcão, numa pro- posta bem mais política que “histó- rica”: em troca de sua neutralidade, pediu apoio petista para reeleger-se. Com tudo isso, a semana fez jus à comemoração de quarta-feira. De vol- ta ao twitter de Ferraço, há um vídeo que se encerra com a seguinte citação: “O abraço nos faz lembrar quem real- mente somos”. Diante de tantos abra- ços descarados, restam duas conclu- sões: ou o frasista estava errado ou a essência de nossos políticos é assim, oportunista por natureza. Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes Na Assembleia Legislativa, junto do pão light e da salada de frutas, foram comprados 4 mil quilos de pó de café. Deve ser para combater o sono. AÇÃO ORGANIZADA Bolsa-Família: PF diz que empresa de telemarketing espalhou boatos RHAYAN LEMES - 19/05/2013 Agência em Marataízes, no Sul do Estado, registrou fila Mensagem de voz teria anunciado falso fim do programa e gerado tumulto em 13 Estados BRASÍLIA Em menos de uma sema- na de investigação, a Polí- cia Federal descobriu indí- cios de que uma central de telemarketing com sede no Rio de Janeiro foi usada pa- ra difundir o boato de que o Bolsa-Família, o principal programa social do gover- no federal, iria acabar. Mensagem de voz distri- buída pela central anuncia o fim do programa, conforme dadosdoinquéritoabertono início da semana a partir de uma determinação do mi- nistrodaJustiça,JoséEduar- do Cardozo. A descoberta reforça a tese de que a ação tenha sido organizada. Rádios do interior do país teriam ajudado a es- palhar a falsa notícia. A polícia tentará agora descobrir quem contratou os serviços de telemarketing e se, de fato, existe algum grupo com interesse políti- co-eleitoral por trás da ten- tativadeseassustarosbene- ficiários do Bolsa-Família. A polícia decidiu também in- terrogar, a partir da próxima semana, as 200 primeiras pessoas a fazer saques logo após o início da dissemina- ção dos boatos sobre o fim dos programas. A polícia quer saber como cada um deles foi informado sobre o fim do programa. “Está comprovado o uso do telemarketing”, disse ao jornal O Globo uma fonte que acompa- nha as investigações. SAQUES Os boatos sobre o falso fim do programa começa- ram a ser difundidos no sá- bado passado e provoca- ram uma corrida em massa à agências da Caixa Econô- mica Federal, pagadora do benefício. Os primeiros sa- ques foram feitos no Mara- nhão, Pará e Ceará por volta de 11h do sábado passado, 30 minutos depois do regis- tro de uma das ligações da centraldetelemarketingso- bre o falso fim do programa. No dia seguinte, os termi- nais da Caixa registravam 900 mil saques no valor to- tal de R$ 152 milhões. A presidente Dilma Rousseff classificou a ação de criminosa. Cardozo disse que a hipótese mais prová- vel é que se tratava de uma manobra orquestrada. A ministra da Secretaria Na- cional de Direitos Huma- nos, Maria do Rosário, che- gou a insinuar, no twitter que os boatos teriam parti- do da oposição. Líderes da oposição reagiram e passa- ram a levantar suspeitas so- bre setores do governo que, no fim das contas, acaba- riam obtendo dividendos políticos com o caso. Os investigadores do ca- so tentam se manter longe dos embates políticos, mas não descartam que o episó- diotenhaalgumaconotação eleitoral. (AG) PAGAMENTO 900 mil saques do benefício foram feitos nos terminais da Caixa no final de semana do boato Programaécitado emjornalfrancês í ê í ê í á

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Page 1: Bolsa-Fam lia:PFdizqueempresa detelemarketingespalhouboatos€¦ · OUTRO OLHAR Gabriel Tebaldi Juntos, os bandidos do colarinho branco comemoram cantando: “E pra você que me esqueceu,

22 POLÍTICAA GAZETA SÁBADO, 25 DE MAIO DE 2013

[email protected]

OUTRO OLHARGabriel Tebaldi

Juntos, os bandidos do colarinho brancocomemoram cantando: “E pra você que meesqueceu, aquele abraço!”.

Aqueleabraço

Na última quarta-feira foi Dia Na-cional do Abraço, data que, na política,é digna de comemoração com direito adesfile (e sem chuva!). O abraço cínicointegra o “código de ética” parlamentar,fazendo-se presente desde o tapinha nascostas, até o caloroso aperto de quemdiz “negócio fechado!”.

Em seu twitter, o senador Ricardo Fer-raço perguntou: “Será que o mundo nãoseria melhor com mais abraços?”. A per-gunta cairia bem no Senado, sobretudopara o colega Magno Malta, famoso por“abraçar causas”. Passada a moda dapedofilia, drogas e royalties, a camisapreta com frase de efeito da vez estampa:“Redução da maioridade penal já”.

Em tempo: ontem Dilma estava naÁfrica; Michel Temer, no Equador; eEduardo Campos, nos Estados Uni-dos. Resultado: Renan Calheiros as-sumiu a Presidência da República. Se-gundo fontes, no Palácio do Planalto,Gilberto Gil dava o tom do recado deRenan para o povo: “Aquele abraço”!

Falando na canção de Gil, o Es-pírito Santo ilustra bem um trecho.Nos últimos quatro anos, as sete gran-

des operações do Ministério Públicoem combate à corrupção prenderam103 pessoas. Até agora, porém, nin-guém foi punido, e as ações sumiramdo debate popular. Juntos, os ban-didos do colarinho branco comemo-ram cantando: “E pra você que meesqueceu, aquele abraço!”.

Em Aracruz, porém, os moradoresrejeitaram os tapinhas camaradas ecriaram um grupo de fiscalização. Emrede social, quase 3 mil membros“adotaram” os vereadores e acompa-nham o trabalho deles de perto. En-quanto isso, em Vitória, o distancia-mento popular ajuda a engordar (li-teralmente) os senhores de terno.

Na Assembleia Legislativa, os lan-chinhos custam R$ 384 por sessão,totalizando um aumento de 391% secomparado com 2006. Junto do pãolight e da salada de frutas, foramcomprados 4 mil quilos de pó de café.Deve ser para combater o sono.

Já o Tribunal de Justiça gasta R$ 5mil por mês com suas frutinhas e maisR$ 85 mil por ano com café, suco, leite,açúcar e, claro, adoçante, pra manter aforma. O chazinho também não podefaltar: em janeiro foram quase R$ 1 milna compra. Com tudo isso, quem acabaprecisando de chá é a população... e decamomila. Com adoçante, por favor.

Os abraços bem alimentados tam-

bém contaminaram personalidadesnacionais. Na Conferência do PSDB,Fernando Henrique disse que o par-tido deve se aproximar do povo. Naseleições de 2010, José Serra bem quetentou. Com sua aparência de garotosaudável, o tucano visitou uma favela.Pena que era cenográfica, tão ver-dadeira quanto o sorriso de Serra.

Enquanto o abraço fraterno do PSDBmostra-se tão espontâneo quanto seuamor aos pobres, o aconchego petistaaos companheiros avança num ritmoinsustentável. Hoje compreende-se oque o partido queria dizer, ao anunciarDilma como “A mãe do Brasil”. Era ovelho ditado: “coração de mãe semprecabe mais um”. No caso, no da mãe-zinha, cabem 39 ministros e 985 milservidores que recheiam os dados as-sustadores da máquina estatal.

Para manter seus órgãos, empresase institutos, o governo federal gastaR$ 377 bilhões por ano. O valor su-pera o PIB da Nova Zelândia, dona do6º melhor IDH do mundo (0,919),anos luz à frente do nosso 85º lugar.Só os Ministérios consomem R$ 58,4bilhões, mais que o dobro do que égasto com o Bolsa Família.

O abraço traduz bem a política! E amaioria faz como Casagrande: abraçasem apertar. Cogitando ficar neutrona disputa presidencial de 2014, Casaargumenta que visa “preservar as con-quistas históricas para o Espírito San-to”. Porém, reuniu-se com o presi-dente do PT, Rui Falcão, numa pro-posta bem mais política que “histó-rica”: em troca de sua neutralidade,pediu apoio petista para reeleger-se.

Com tudo isso, a semana fez jus àcomemoração de quarta-feira. De vol-ta ao twitter de Ferraço, há um vídeoque se encerra com a seguinte citação:“O abraço nos faz lembrar quem real-mente somos”. Diante de tantos abra-ços descarados, restam duas conclu-sões: ou o frasista estava errado ou aessência de nossos políticos é assim,oportunista por natureza.

Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudantede História da Ufes

—Na AssembleiaLegislativa, junto dopão light e da saladade frutas, foramcomprados 4 mil quilosde pó de café. Deve serpara combater o sono.

AÇÃO ORGANIZADA

Bolsa-Família: PF diz que empresade telemarketing espalhou boatos

RHAYAN LEMES - 19/05/2013

Agência em Marataízes, no Sul do Estado, registrou fila

Mensagem de voz teriaanunciado falso fim doprograma e geradotumulto em 13 Estados

BRASÍLIA

Emmenosdeumasema-na de investigação, a Polí-cia Federal descobriu indí-cios de que uma central detelemarketingcomsedenoRiodeJaneirofoiusadapa-radifundiroboatodequeoBolsa-Família, o principalprograma social do gover-no federal, iria acabar.

Mensagem de voz distri-buídapelacentralanunciaofim do programa, conformedadosdoinquéritoabertonoinício da semana a partir deuma determinação do mi-nistrodaJustiça,JoséEduar-do Cardozo. A descobertareforça a tese de que a açãotenha sido organizada.

Rádios do interior dopaís teriam ajudado a es-palhar a falsa notícia.

A polícia tentará agoradescobrir quem contratouosserviçosdetelemarketinge se, de fato, existe algumgrupo com interesse políti-co-eleitoral por trás da ten-tativadeseassustarosbene-ficiários do Bolsa-Família. Apolícia decidiu também in-terrogar,apartirdapróximasemana, as 200 primeiraspessoas a fazer saques logoapós o início da dissemina-ção dos boatos sobre o fimdos programas. A políciaquer saber como cada umdeles foi informado sobre ofim do programa.

“Está comprovado ouso do telemarketing”,disse ao jornal O Globouma fonte que acompa-nha as investigações.

SAQUESOs boatos sobre o falso

fim do programa começa-ram a ser difundidos no sá-bado passado e provoca-

ram uma corrida em massaà agências da Caixa Econô-mica Federal, pagadora dobenefício. Os primeiros sa-ques foram feitos no Mara-nhão,ParáeCearáporvoltade 11h do sábado passado,30minutosdepoisdoregis-tro de uma das ligações dacentraldetelemarketingso-breofalsofimdoprograma.No dia seguinte, os termi-nais da Caixa registravam900 mil saques no valor to-tal de R$ 152 milhões.

A presidente DilmaRousseff classificou a ação

decriminosa.Cardozodisseque a hipótese mais prová-vel é que se tratava de umamanobra orquestrada. Aministra da Secretaria Na-cional de Direitos Huma-

nos, Maria do Rosário, che-gou a insinuar, no twitterque os boatos teriam parti-do da oposição. Líderes daoposição reagiram e passa-ram a levantar suspeitas so-

bre setores do governo que,no fim das contas, acaba-riam obtendo dividendospolíticos com o caso.

Os investigadores do ca-so tentam se manter longedos embates políticos, masnão descartam que o episó-diotenhaalgumaconotaçãoeleitoral. (AG)

PAGAMENTO

900mil saquesdo benefício foram feitosnos terminais da Caixa nofinal de semana do boato

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Documento:AG25CA022;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:24 de May de 2013 22:56:44