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Ana Cláudia Flôres Fernandes TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II OUTRAS PRODUÇÕES E A MESMA LÓGICA: O CONSUMO DA LÍNGUA DE SINAIS EM FILMES PUBLICITÁRIOS Orientador (a): Profª Ms. Camila Righi Medeiros Camillo Santa Maria, RS 2012

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Ana Cludia Flres Fernandes

TRABALHO FINAL DE GRADUAO II

OUTRAS PRODUES E A MESMA LGICA: O CONSUMO DA LNGUA DE SINAIS

EM FILMES PUBLICITRIOS

Orientador (a): Prof Ms. Camila Righi Medeiros Camillo

Santa Maria, RS

2012

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Ana Cludia Flres Fernandes

OUTRAS PRODUES E A MESMA LGICA: O CONSUMO DA LNGUA DE SINAIS

EM FILMES PUBLICITRIOS

Trabalho Final de Graduao II (TFG II)

apresentado ao curso de Publicidade e

Propaganda, rea de Cincias Sociais, do

Centro Universitrio Franciscano - UNIFRA,

como pr-requisito para obteno do grau de

bacharel em Publicidade e Propaganda.

Orientador (a): Prof Ms. Camila Righi Medeiros Camillo

Santa Maria, RS

2012

3

Ana Cludia Flres Fernandes

OUTRAS PRODUES E A MESMA LGICA: O CONSUMO DA LNGUA DE SINAIS

EM FILMES PUBLICITRIOS

Trabalho Final de Graduao II (TFG II) apresentado ao Curso de Publicidade e Propaganda, rea de

Cincias Sociais, do Centro Universitrio Franciscano - Unifra como pr-requisito para obteno do

grau de bacharel em Publicidade e Propaganda.

___________________________________________________

Prof Ms. Camila Righi Medeiros Camillo - Orientadora (Unifra)

___________________________________________________

Prof Dr. Maicon Elias Kroth (Unifra)

__________________________________________________

Prof Ms. Juliane Marschall Morgenstern (Unifra)

Aprovado em........de .......................................de ...............

4

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho aos meus pais, Hlvio Freitas Fernandes e Roseli Flores

Fernandes por serem as pessoas mais maravilhosas que existem e por me oferecerem as

melhores oportunidades na vida, tenho muito orgulho de ser filha de vocs! Obrigada por

aguentar-me esses quatro anos de muita oscilao de humor (rsrsr). Agradeo tambm aos

meus irmos, Cristina, Fabrcio e Luciano, juntamente com meus cunhados (a) e sobrinhos

por estarem sempre comigo, me incentivando e apoiando nesta etapa de minha vida. Amo

muito vocs!

Agradeo as minhas amigas Juliana, Dby, Carina, Mayara e todas as gurias do

GP por fazerem parte da minha vida e por compreenderem o fato de eu no estar presente

constantemente com vocs.

Aos meus colegas de profisso Jaqueline Menezes, Eduardo Souto, Dirceu Rodrigues

e Rochelly Tavares, agradeo a vocs tambm por trilharem este caminho comigo, quatro

anos de muita emoo, muito estress (rsrs). Mas no fim deu tudo certo, agora somos

Publicitrios, SIM PUBLICITRIOS!

Por fim, agradeo infinitamente minha queridssima orientadora, a Prof. Ms. Camila

Camillo por acreditar na minha capacidade e me incentivar a desenvolver este trabalho e

tambm pela pacincia de ler e reler muitas e muitas vezes o contedo desse trabalho.

Muitssimo obrigada!

Eu te agradeo Deus!

Obrigada!

5

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo central problematizar o consumo da lngua de sinais, bem

como conhecer as representaes produzidas em relao ao sujeito surdo no campo da

Comunicao Social. A partir de uma abordagem qualitativa de cunho bibliogrfico

analisou-se trs filmes publicitrios - Vivo Torpedo SMS: Casal (2010); RBS TV:

Facilitar a comunicao das pessoas com o seu mundo (2007); Casas Bahia: Tipos de

Pais (2007) - veiculados recentemente na nossa regio, os quais utilizam a lngua de sinais

como elemento potencializador para ser discutido. Com base em trs categorias de anlise -

nfase na lngua de sinais, produo de sujeitos surdos e a aproximaes entre

LIBRAS, surdo e sociedade - compreendeu-se que no cenrio contemporneo a lngua de

sinais vem ganhando espao nos meios de comunicao. De igual forma, percebeu-se o

reconhecimento da lngua de sinais como uma nova maneira de comunicao a ser

explorada pela publicidade e propaganda, permitindo a divulgao e veiculao de ideias

que atinjam esse pblico-alvo consumidor chamando comunidade surda.

Palavras-chave: Lngua Brasileira de Sinais; Consumo; Sujeito surdo; Publicidade e

Propaganda.

ABSTRATCT

This work aimed mainly discuss the consumption of sign language and know the

representations made in relation to the deaf subject in the field of Media. From a qualitative

approach of literature was analyzed three commercials - Vivo Torpedo SMS: "Casal" (2010);

RBS TV: "Facilitar a comunicao das pessoas com o mundo" (2007), Casas Bahia: "Tipos

de Pais "(2007) - aired recently in our region, who used sign language as an element to be

discussed. Based on three categories of analysis - "emphasis on sign language," "production of

deaf people" and "similarities between LIBRAS, deaf and society" - understood that in the

contemporary scene sign language is becoming more popular in the media communication.

Similarly, it was noted the recognition of sign language as a "new" way of communication to

be by advertising, enabling the dissemination and propagation of ideas which reach this target

audience consumers calling the deaf community.

Keywords: Brazilian Sign Language; consumption; Subject deaf; Advertising.

6

SUMRIO

INTRODUO .............................................................................................................. ...7

2 ALGUNS ASPECTOS SOBRE A HISTRIA DA COMUNICAO: A NFASE

NA ESCRITA...................................................................................................................10

2.1 IDEIAS INICIAIS: SOBRE COMUNICAO E COMUNICAR............................12

2.2.1 A Televiso na lgica do consumo...........................................................................15

3 O CAMPO DA PUBLICIDADE E DA PROPAGANDA ......................................... 20

4 A LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: INTRODUZINDO A DISCUSSO ....... 23

5 METODOLOGIA ......................................................................................................... 26

6 ANLISES: A MATERIALIDADE EM MOVIMENTO ....................................... 28

6.1 NFASE NA LNGUA DE SINAIS............................................................................28

6.2 PRODUO DE SUJEITOS SURDOS......................................................................30

6.3 APROXIMAES ENTRE LIBRAS, SURDO E SOCIEDADE...............................35

CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 40

REFERNCIAS .............................................................................................................. 42

ANEXOS 1 ....................................................................................................................... 44

7

INTRODUO

A comunicao acompanha a humanidade desde os primrdios, podendo-se dizer que

desde a Antiguidade, o homem j sentia a necessidade de se comunicar, ora como forma de

sobrevivncia ou como legado e, ainda, como estratgia de dominao e liberdade de

expresso, oral e corporal.

Nesse sentido, entende-se que a comunicao um processo social bsico, que torna

possvel a prpria vida em sociedade. Com o desenvolvimento da tecnologia e o surgimento

das novas mdias, a comunicao ampliou seu nmero de receptores e se caracterizou como

comunicao de massa, constituindo-se como um excelente caminho para a produo e

difuso de ideias, conceitos e modos de ser sujeito-consumidor.

No entanto, a fim de cumprir seus objetivos, a comunicao utiliza-se de algumas

ferramentas, dentre elas a publicidade e a propaganda, que antes da Revoluo Industrial,

tinha um contedo mais informativo, mas, logo em seguida passa a ser mais persuasiva.

Segundo Perez e Barbosa (2007, p.3):

a publicidade era marcada pelo seu carter informativo, a revoluo industrial

trouxe-lhe o predomnio da persuaso sobre a informao. Neste momento, o

processo de industrializao e de crescimento mercadolgico consagrou a

publicidade como instrumento indispensvel ao auge do comrcio e dos primeiros

encontros competitivos da economia capitalista na formao de mercados.

Quando se fala em propaganda ou publicidade, logo se associa a uma agncia, que

nada mais do que uma empresa formada por departamentos com as seguintes reas:

atendimento, planejamento, mdia, redao, criao entre outros. E a criao a responsvel

pelos conceitos, peas, campanhas, ou seja, pelo material publicitrio. Para Martins (2002, p.

141) criao nada mais que originalidade, aquele ngulo de abordagem impensado, aquele

ponto de vista indito que sempre esteve diante dos olhos de todo mundo, mas ningum viu.

Da mesma forma a criatividade um elemento chave dentro da criao e a partir dela

vrios so os produtos que podem ser criados, seja para mdia impressa, radiofnica e/ou

televisiva. Com isso, pelo simples fato de ser publicitrio, um filme para vender, uma vez

que o consumo o centro organizador da ordem social, poltica, econmica e cultural do

presente, e todos ns somos educados para e por ele (COSTA, 2009, p. 35).

A televiso vem sendo o veculo de comunicao que mais exerce influncia sobre a

sociedade. Pode-se compreender que a TV e o cinema, por exemplo, so meios que tm

8

vantagem de compor os vrios tipos de propaganda - a propaganda para se ver e propaganda

para se ouvir - e a televiso continua sendo at hoje, o meio com mais potencial para atrair

todos os tipos de pblico (BARRETO, 2004).

Neste sentido, entendendo o quanto a comunicao parte importante desse jogo

social de informar, persuadir, seduzir e vender ideias, a inteno deste trabalho est

balizada pela temtica do consumo de novas formas de comunicao, mais especificamente o

uso da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em filmes publicitrios. Percebe-se que a lngua

de sinais atualmente vem conquistando um espao produtivo no cenrio da Comunicao

Social, principalmente com nfase em alguns empreendimentos publicitrios.

Deste modo, o problema de pesquisa centra-se em compreender como a lngua de

sinais significada e consumida pelos filmes publicitrios no cenrio contemporneo,

objetivando principalmente problematizar o uso da lngua de sinais por meio desses filmes.

Com igual preocupao, tem-se como objetivos especficos discutir as intencionalidades do

uso da lngua de sinais nos filmes publicitrios, conhecer as representaes produzidas em

relao ao sujeito surdo, e por fim, compreender os significados que posicionam a lngua de

sinais a partir de saberes do campo da Comunicao Social.

Dito de outro modo, intenta-se saber como essa lngua est sendo veiculada neste

segmento, principalmente procurando discutir as intencionalidades de sua produo e de seus

usos no espao publicitrio e as relaes de saber/poder que se colocam em jogo, definindo

significados que posicionam a LIBRAS e a comunidade surda nesse tempo presente. Para

tanto, preciso se ter em vista que as lnguas se tornaram indiscutivelmente uma das

caractersticas mais importantes que constitui as identidades e a cultura dos mais diversos

povos.

Nesse sentido, conhecer e aprender outra ou uma nova lngua traz para a sociedade

novas possibilidades de conhecimento. Portanto, entende-se que hoje o mercado de trabalho

precisa de profissionais competentes que conheam outras lnguas, que estejam imersos nelas

e entendam como estas funcionam no jogo da comunicao, como forma de potencializar uma

ideia e seduzir seu pblico-alvo consumidor.

Conduzida por essas ideias, a escolha do tema se deu pelo interesse pessoal, pela

admirao pela lngua de sinais e tambm pela percepo de que a surdez ainda representa

uma barreira de comunicao entre os indivduos. Ao experienciar o conhecimento dessa

lngua por meio da disciplina de LIBRAS, no curso de Comunicao Social do Centro

Universitrio Franciscano, entendeu-se a importncia da incluso desta nos currculos dos

9

cursos de Graduao dessa rea. Como acadmica de Comunicao Social em Publicidade e

Propaganda, possvel ter clareza que essa lngua far com que a comunicao crie novas

possibilidades e alargue fronteiras. E isso requer que estejamos preparados para essa nova

realidade.

O presente estudo visa relacionar a importncia do aprendizado da lngua de sinais

para os profissionais desse campo, visto que uma forma de comunicao que permite

informar, interagir, comunicar, por meio de dispositivos bastantes produtivos e eficazes que

recorrem emoo, seduo, ao consumo de uma diferena que bela, que cativa, que

produz efeitos, quais sejam, os de informar, vender ideias e formas de ser consumidor.

Sendo assim, este trabalho traz como referencial terico um breve estudo a respeito da

Comunicao Social e ferramentas do campo da publicidade e da propaganda, articuladas

lngua de sinais e sua veiculao em filmes publicitrios.

Para isso sero analisados trs empreendimentos publicitrios que utilizam a lngua de

sinais como meio de comunicao: Vivo Torpedo SMS: Casal (2010); RBS TV: Facilitar a

comunicao das pessoas com o seu mundo (2007); Casas Bahia: Tipos de Pais (2007)

(Anexo 1), nos quais procura-se compreender de que forma se viabiliza o consumo dessa

lngua, que estratgias so utilizadas e que recursos possibilitam a veiculao de suas

intenes.

10

2 ALGUNS ASPECTOS SOBRE A HISTRIA DA COMUNICAO: A NFASE NA

ESCRITA

A histria da evoluo da comunicao humana comeou na pr-histria. O ser

humano comeou a criar mecanismos de comunicao e a utilizar smbolos carregados de

significaes para interagir com seus grupos atravs de pintura, desenhos e tambm

imitaes de rudos da natureza. Portanto, no processo de comunicao, segundo Giovannini

(1988, p. 26) a linguagem, mesmo se no articulada, pressupe a capacidade de traduzir em

conceitos os elementos da vida cotidiana, de representar a realidade atravs de smbolos.

Contudo a nfase nas expresses no verbais, aos poucos, foi cedendo espao para as

expresses verbais, onde a linguagem oral se torna central como forma de expressar ideias e

interagir.

Contribuindo para essa reconfigurao nos modos de viver em sociedade e assim de

se comunicar, pode-se perceber que a inveno da escrita foi um dos grandes avanos nas

civilizaes, tendo incio com os sumrios, primeiro povo da civilizao Mesopotmica.

Com a necessidade humana de se expressar, os sumrios criaram a escrita cuneiforme, que

era feita em tabletes de argila com ajuda de uma cunha, com caracterstica de um prego, de

onde surgiu o nome cuneiforme. Este povo no utilizava nenhum tipo de alfabeto, mas

recursos como smbolos para representar objetos. J os egpcios desenvolveram a escrita

quase na mesma poca que os sumrios, a qual era chamada de demtica escrita mais

rpida, verdadeira, simplificada, e a hieroglfica escrita mais complexa, formada por

desenhos e smbolos, ou seja, cada smbolo representava uma ideia.

A partir desse breve indcio sobre algumas formas de comunicao produzidas por

determinados povos, surge escrita como uma das maiores invenes do homem, haja vista

que vrios povos desenvolveram independentemente a sua, como um mtodo de registrar a

memria cultural, poltica, artstica, religiosa e social. Especialmente com a inveno do

papel pelos chineses, no sculo II d.C, o qual foi mais tarde trazido para o Ocidente, a escrita

introduzida de forma mais efetiva como registro da histria de um povo. Segundo Gesser

(2009, p. 42) a escrita de qualquer lngua um sistema de representao, uma conveno

da realidade extremamente sofisticada, que se constitui num conjunto de smbolos de

segunda ordem, sejam as lnguas verbais ou de sinais. Ou seja, cada povo desenvolve sua

prpria lngua atravs de um sistema de representao, a qual toda a sociedade compreenda

de forma clara.

11

Aps a inveno da escrita surge o alfabeto como uma revoluo na histria da

comunicao, como sistema de escrita simplesmente fontico. O primeiro alfabeto

conhecido o fencio, que deu origem a quase todos os outros. Segundo Giovannini (1988,

p. 42) o alfabeto nasce onde o homem sente a sua necessidade e onde circunstncias

favorveis contribuem para transformar esta necessidade numa realidade. O ser humano

desde sempre, no desejo de comunicar-se, de aprender e evoluir enquanto sujeito, e assim

relacionar-se com todos os povos, teve na criao do alfabeto a possibilidade de acesso a

informaes e interao com seus pares.

A partir disso podemos ainda ressaltar o surgimento de outros registros de escrita

entre elas a chinesa criada h 4.000 anos e feita atravs da escrita pictogrfica, alm da

grega, romana, italiana, entre outras que tiveram como base tambm esse tipo de escrita, a

qual possibilitou s civilizaes auto afirmar-se, criando identidade cultural.

Nesse contexto, onde o surgimento das formas de escrita expressam caractersticas

de povos distintos, chegamos a nossa lngua portuguesa criada a cerca de 2.000 anos. A

lngua portuguesa teve sua origem do latim, que era a lngua oficial no antigo Imprio

Romano, e que se situava no pequeno Estado da Pennsula Itlica, o Lcio. A transformao

do latim em lngua portuguesa se deu por consequncia de conflitos e transformaes

poltica, histrica e geogrfica desse povo. Isso aconteceu por volta do sculo III a.C,

quando romanos ocuparam a Pennsula Ibrica atravs de conquistas militares. Existiam

duas formas de latim: o Clssico, falado e escrito pelas pessoas cultas (poetas, filsofos,

senadores), e o vulgar, apenas falado pelo povo. Este ltimo deu origem ao portugus.

Passado alguns sculos o latim predominou sobre as lnguas e dialetos falados em

vrias regies, formando-se diversas lnguas dentro do Imprio Romano, onde se originaram

as lnguas romnicas (lnguas que tem sua origem no latim e que ocupam parte do territrio

conquistado pelos romanos), das quais a lngua portuguesa natural. Com a queda do

Imprio Romano, iniciou o surgimento das variaes lingusticas, dentre elas o galego-

portugus.

No sculo XII nasce o portugus como lngua independente do galego, graas

independncia do pas e ao seu emprego como lngua literria. J no sculo XIV ocorre cada

vez mais a diferenciao entre o galego e o portugus. A lngua portuguesa foi trazida no

sculo XVI atravs do descobrimento, onde os colonizadores portugueses, principalmente os

padres jesutas, difundiram o idioma no Brasil. No entanto, diversas palavras indgenas

foram incorporadas ao portugus e, posteriormente, expresses utilizadas pelos escravos

12

africanos e imigrantes tambm foram adotadas. Assim, o a lngua portuguesa foi se

desenvolvendo.

Partindo desses indicativos sobre a lngua portuguesa, que a lngua oficial

brasileira, nos reportamos ao aparecimento da lngua de sinais - um dos pilares de anlise

desse trabalho -, que teve sua origem na lngua francesa de sinais e que no Brasil foi

oficializada em 24 de abril de 2002. Por muito tempo, foi considerada uma lngua grafa,

sem forma de escrita, porm em 1974 foi criado o Sign Writing (SW), a partir da observao

da coregrafa americana Valerie Sutton que transcrevia os passos de dana de seus alunos

na Dinamarca. Esta escrita foi trazida para o Brasil em 1996 pela pesquisadora Marianne

Rossi Stumpf, que foi a primeira surda a escrever os sinais da LIBRAS e a desenvolver

trabalhos de alfabetizao com crianas surdas.

Atualmente, ainda em processo de conhecimento e aprendizagem por parte de surdos

e ouvintes, a escrita dos sinais significa a completude da lngua brasileira de sinais. Assim

como a escrita portuguesa tende a sofrer reestruturaes com o tempo, tendo em vista as

mudanas sociais e culturais, a escrita de sinais tambm se modifica tornando-se mais

acessvel para a compreenso da comunidade surda, pois sua importncia, entretanto, ,

sem sombra de dvida, um bem cultural com positivas implicaes para o fortalecimento e a

emancipao lingustica do grupo minoritrio surdo (GESSER, 2009, p. 44).

2.1 IDEIAS INICIAIS: SOBRE COMUNICAO E COMUNICAR

O ser humano tem como necessidade a comunicao para de tal modo poder

conviver com os demais indivduos, podendo assim transmitir significados e valores.

Segundo SantAnna (2002), este processo de comunicao considerado essencial para o

homem, uma vez que ele precisa se comunicar com os demais para manter viva as relaes

de sobrevivncia. De igual forma, por meio da comunicao que o homem torna pblico

aos outros seus desejos, suas intenes, seus sentimentos e suas experincias.

Conforme Gomes (2003), o termo comunicar surgiu do latim communicare e

significa tornar alguma coisa comum, participar algo, colocar em contato ou em relao com

os demais, transmitir. Portanto, comunicao significa a ao de comunicar, de emitir e

transmitir ideias, e receber mensagens, que pode se dar por meio da linguagem oral ou

13

escrita, por meio de smbolos ou signos, e por meio de aparelhamento sonoro, visual ou

audiovisual.

Nos que diz respeito histria da comunicao, Gomes (2003, p.18) aponta que:

O primeiro processo de comunicao que se conhece nos foi legado pelo filsofo

grego Aristteles, que o apresentou em seu livro A Arte Retrica e a Arte Potica,

onde os elementos pertinentes serviram e servem de base a todos os modelos de

processos de comunicao de todas as escolas lingsticas europias ou norte-

americanas. No modelo aristotlico, escrito cerca de 600 anos a. C, era necessria a

existncia de trs elementos, sem os quais no poderia haver comunicao: (1) a

pessoa que fala - (2) o discurso - (3) o auditrio.

Hoje, estes trs elementos esto adaptados comunicao moderna e significam,

portanto: a pessoa que fala pode ser vista como a fonte ou o emissor; o discurso passa a ser

conhecido tambm como a mensagem e por fim o auditrio que o receptor, ou seja, aquele

que recebe a mensagem emitida pelo emissor. Conforme SantAnna (2002, p.2) os sinais

emitidos s tm significado se o receptor souber interpret-los. Ou seja, no basta

simplesmente lanar uma mensagem a outra pessoa se esta no compreender o que lhe

dito.

Nesse sentido, sendo a comunicao a arte de emitir e receber mensagens,

interessante pensar na comunidade surda e na lngua de sinais que esta utiliza, sabendo-se

ainda que poucas pessoas a conhecem, porm ela parte fundamental da cultura surda.

Conforme Strobel (2008, p.44):

A lngua de sinais uma das principais marcas da identidade de um povo surdo,

pois uma das peculiaridades da cultura surda, uma forma de comunicao que

capta as experincias visuais dos sujeitos surdos, sendo que esta lngua que vai

levar o surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisio de conhecimento universal.

Assim, sendo o objetivo da comunicao transmitir informaes e tornar-se ao

social imprescindvel humanidade, ao pensar no grupo surdo como aquele que tambm

tem uma lngua que precisa ser compreendida e veiculada, cabe divulg-la, entend-la e

public-la midiaticamente.

Para Hoff e Gabrielli (2004) existem dois tipos de comunicao, a verbal e a no-

verbal, e o que as diferencia o uso da linguagem verbal ou no. O homem utiliza-se de

ambas para se comunicar, no entanto, a linguagem verbal (escrita ou falada) historicamente

apresenta-se como uma forma privilegiada e mais utilizada, enquanto que na sua forma no

14

verbal h uma outra possibilidade, por meio de sinais e expresses, na qual podemos situar a

lngua de sinais.

Ao longo da histria da humanidade percebe-se que a forma de expresso na

modalidade oral constituiu-se como uma verdade, haja vista tantos investimentos quanto

ao bom desenvolvimento ou desempenho da leitura, da escrita e da boa oratria. No entanto,

as expresses de cunho no verbais apresentam, muitas vezes, um carter secundrio,

todavia esto sendo mais exploradas atualmente na rea da Comunicao Social. Para Hoff e

Gabrielli (2004, p. 8), linguagens verbais so construdas com signos lingusticos, ou seja,

com palavras como, por exemplo, um artigo de jornal ou uma carta. J as linguagens no

verbais so construdas com signos no verbais, ou seja, signos visuais, auditivos, tteis,

gustativos, gestuais como, por exemplo, uma fotografia, uma msica ou um espetculo de

mmica.

Em relao experincia visual e s lnguas pode-se pensar na lngua de sinais, que

segundo Strobel, se utiliza de recursos visuais orais para transmitir ideias. Segundo ela, as

expresses faciais e corporais:

Podem desempenhar outro papel de suma importncia na conversao em lngua de

sinais como uma forma de transmisso de mensagens atravs de um contexto que

no procede da oralidade, mas do corpo e de expresso do rosto que funciona

algumas vezes, como meio de reforar uma ideia que est sendo transmitida

(STROBEL, 2008, p.43).

Com o passar do tempo e os avanos da tecnologia, a comunicao foi se

aperfeioando e comeando a ser destinada ao grande pblico, ou seja, para uma

comunicao em massa. Conforme SantAnna (2002, p. 2) a expresso comunicao de

massa evoca imagens de televiso, rdio, cinema, jornais, revistas de histrias em

quadrinhos, etc., e transmitida para uma grande audincia, com caractersticas como

heterogeneidade e anonimato.

Considerando a televiso como um desses canais de comunicao de massa, com

grande alcance de pblico e que utiliza e explora diferentes ferramentas para assim chegar a

seus objetivos, a seguir passa-se a discorrer um pouco mais sobre ela, tendo em vista sua

influncia social e sua insero na lgica atual de mercado/consumo.

15

2.2.1 A TELEVISO NA LGICA DO CONSUMO

Considerando que a comunicao se utiliza de diferentes ferramentas, entre elas a

publicidade e a propaganda para chegar a seus objetivos, compreende-se tambm que

diferentes veculos podem ser utilizados para fazer circular e movimentar informaes,

mensagens, entre outros. Nesse contexto, permite inferir que a televiso ocupa um lugar

privilegiado na configurao social contempornea, expandindo ideias, comunicando,

propagando e seduzindo sujeitos.

A necessidade de representar fatos e sentimentos atravs das imagens acompanha o

homem desde a histria da civilizao passada, o que nos remete a pensar nos primeiros

registros dos homens que viviam nas cavernas e que representavam suas emoes e vivncias

cotidianas atravs de desenhos e pinturas nas superfcies de pedra e outros materiais. Com o

avano econmico e social, juntamente com o tecnolgico, surgiram outros meios de

comunicao que foram sendo adaptados s lgicas sociais.

Assim, pondera-se que a televiso se tornou o meio de comunicao que, de forma

mais produtiva, transmite informaes e mensagens, utilizando-se de diferentes recursos

visuais e sonoros para atingir seus pblicos. Hoje o centro primordial, um dos meios de

comunicao de massa mais influentes e mais presentes na vida de cada um dos

telespectadores, ou ainda como coloca Barbero (2009, p. 295), um dos poucos lugares onde

indivduos se confrontam como pessoas e onde encontram alguma possibilidade de manifestar

suas nsias e frustraes.

Alm do fato da televiso ser totalmente fascinante, tambm tem seu lado

assustador, uma vez que ao adentrar em nossos lares, rompe com tradies familiares,

extrapolando conceitos moralistas e acabando com as relaes culturais da cotidianidade

familiar. Portanto, cabe pensar que a televiso tem um papel crucial na subjetivao dos

sujeitos, que ao ter acesso a ela, e seus artefatos, acabam sendo produzidos de outras formas,

conduzidos a pensar e repensar seus prprios valores morais e ticos, tornando-se diferente

daquilo que eram ou pensavam anteriormente.

Com isso, em tempos em que somos consumidos pelo consumismo, a subjetivao

elemento central para entender os modos de subjetivao, ou dito em outras palavras, os

processos pelos quais nos constitumos sujeitos hoje. Para isso, o espao televisivo atua de

maneira produtiva e eficaz, utilizando-se de estratgias cada vez mais poderosas, entre elas

16

aquilo que podemos chamar de magia do ver, que ao aproximar personagens e

telespectadores, torna-os parceiros, pois como elucida Barbero (2009, p. 297)

O discurso que familiariza tudo, torna prximo at o que houver de mais remoto e

assim se faz incapaz de enfrentar os preconceitos mais familiares. Um discurso

que produz seus efeitos a partir da mesma forma com que organiza as imagens: do

jeito que permitir maior transparncia, ou seja, em termos de simplicidade, clareza e

economia narrativa.

Quando se fala em produtividade do discurso televisivo nota-se que o extico, o

diferente, o distante deseja aproximar-se, familiarizar-se de seu pblico, como o caso do uso

da lngua de sinais nas propagandas, especialmente aquelas que sero analisadas nesse

trabalho.

Assim compreende-se que a televiso alm de informar e entreter possibilita a

interao e a participao de todos os sujeitos, ocupando grande parte de nosso tempo. Pois na

lgica do consumo e da concorrncia, a televiso um objeto que se quer, que se deseja

consumir, tanto na sua materialidade, uma vez que observa-se que hoje praticamente todas as

pessoas tem televiso em casa (pelo menos uma), quanto na sua subjetividade, ou seja, o que

ela divulga, comunica, informa (produtos, servios, ideias).

Ao pensar em publicidade e propaganda, logo se pensa em televiso, um meio

massivo que atinge milhares de pessoas diferentes ao mesmo tempo. Segundo Covaleski

(2009, p 89) a televiso a sntese dos meios de comunicao de massa, por atingir um

pblico amplo, heterogneo e annimo. A televiso produz uma programao seriada e

industrializada, com informao e entretenimento, por isso, ela quantifica, atualiza e

influncia o comportamento das pessoas.

Ainda de acordo com o autor, quando a finalidade anunciar, a televiso o meio

que possibilita demonstrao visual, excelente alcance e alto impacto (2009, p.89).

Portanto, a televiso considerada um meio que causa grande influncia na sociedade,

atravs dos variados formatos de programas que apresenta como: filmes, novelas, seriados,

telejornais, desenhos animados, entre outros. Segundo Gonzales (2003, p. 30),

A televiso, sob o ponto de vista da mdia, o maior veculo de comunicao do

pas, atingindo 80% dos lares brasileiros, ou seja, tem grande capacidade de

cobertura. Alm disso, exerce fascnio sobre as pessoas e dispe de recursos como

som, imagem, cores e movimentos.

Ao falar em televiso, imagina-se o audiovisual, que significa a juno da imagem

com o som, uma imagem em movimento e sonora (ou sonorizada) feita para ser apreendida

17

atravs da projeo em grandes telas e em espaos pblicos (CASTRO e DUARTE, 2007,

p.168). Esse formato de publicidade possui vrias caractersticas e uma delas a

apresentao do produto de forma dramtica, demonstrando, como se fosse ao vivo, como

determinado produto funciona (BARRETO, 2004, p.20). Esse meio de comunicao

chamado televiso teve uma misso importantssima, que foi dar imagem s mensagens

publicitrias e essas imagens precisavam estar em movimento, ou como afirma Marcondes

(2002, p. 31) se, com a chegada do rdio, o desafio era dar voz s mensagens publicitrias,

agora se tratava do desafio final: dar imagem. E em movimento.

A partir dessa reflexo, podemos dizer que assim como o rdio, a televiso iniciou a

carreira como um experimento, que mais tarde toma forma e movimento abrindo espao

para as mensagens publicitrias, ou como diz Barreto, a televiso (2004, p. 20) um dos

melhores caminhos para fazer parte desse universo que convence, seduz, impe e conversa

com o pblico. Em outras palavras, para que um filme publicitrio atenda os objetivos para

os quais foi pensado h um trabalho coletivo de produo, onde uma das caractersticas a

utilizao da linguagem simples, que cause impacto, marcando o pblico receptor. Barreto

(2004, p.38) afirma que:

O espectador bombardeado por uma srie de conceitos, imagens, gneros e sensaes desconexas, sem o mnimo de ligao entre si. Assim, submetido a um

avalanche de informaes, ele s vai prestar ateno, e mais tarde lembrar, daquilo

que realmente lhe parecer importante, agradvel, essencial.

Por este motivo, h uma preocupao em criar algo diferenciado, claro, impactante e

motivador para se diferenciar do restante de informaes a que o pblico exposto. Aqui

podemos novamente nos reportar a lngua de sinais utilizada nos filmes publicitrios, os

quais a trazem como fator diferencial e inovador.

Assim, para atingir o objetivo pretendido necessrio criatividade, tcnica, bem

como conhecer os diversos tipos de planos que podem ser utilizados na composio do filme

publicitrio, dentre os quais esto: Grande Plano Geral (plano bastante aberto, servindo

para situar o espectador em que cena se desenvolve Figura 1), Plano Geral (utilizado para

mostrar o prdio ou casa onde se desenvolve a cena Figura 2), Plano Mdio (em que o

personagem enquadrado da cintura para cima Figura 3), Plano Americano (em que o

personagem mostrado do joelho para cima Figura 4), Close (tambm chamado de

primeirssimo plano, que mostra o rosto inteiro do ator, queixo e o limite da cabea Figura

5), Plano Inteiro (em que o ator enquadrado da cabea aos ps Figura 6), Plano conjunto

18

Fechado (enquadramento de dois atores com a mesma funo dramtica Figura 7), Plano

conjunto Aberto (enquadra trs ou mais atores com a mesma funo dramtica Figura 8),

Plano de Detalhe (mostra parte do corpo, como detalhes dos olhos, mos, e outros,

utilizando tambm para mostrar objetos Figura 9), Plano Sequncia (plano de toda cena

Figura 10) e Super Close (close fechado do personagem, enquadrando o personagem

Figura 11).

Figura 1: Grande plano geral

Figura 2: Plano geral

19

Figura 3: Plano mdio Figura 4: Plano americano

Figura 5: Close

Figura 6: Plano inteiro

Figura 7: Plano conjunto fechado Figura 8: Plano conjunto aberto

Figura 9: Plano de detalhe Figura 10: Plano sequncia

20

Figura 11: Super Close

Portanto, necessrio ser criativo, conhecer a linguagem cinematogrfica ou

audiovisual e tambm as tcnicas utilizadas para criar e desenvolver um comercial que atinja

o pblico pretendido. E assim como um filme tradicional de cinema, o audiovisual necessita

tambm de um roteiro, que neste caso chamado de roteiro publicitrio, ou seja, uma

histria contada em imagens, dilogos e descries, que nada mais que os procedimentos a

seguir para elaborar tal empreendimento.

Considerando essa breve retomada sobre a comunicao num mbito geral, a seguir

focarei no campo da publicidade e propaganda com o propsito de conceituar os dois termos

e pensar a insero da lngua de sinais dentro destas ferramentas de comunicao.

3 O CAMPO DA PUBLICIDADE E DA PROPAGANDA

As palavras publicidade e propaganda so atualmente utilizadas e aceitas como

sinnimos, mas para SantAnna no significam rigorosamente a mesma coisa. Para o autor

(2002, p. 75) a palavra publicidade significa genericamente, divulgar, tornar pblico, e j

propaganda compreende a noo de implantar, de incluir uma ideia, uma crena na mente

alheia. Ou seja, propaganda a ferramenta de propagao de ideias e publicidade

relacionada promoo de produtos e servios.

O termo propaganda o mais utilizado, e sua principal caracterstica criar a

imagem do produto, tendo como benefcio o alcance do pblico. Segundo Ogden; Crescitelli

e Bacellar (2009), o seu principal benefcio a capacidade, que transmitida em um veculo

de massa, comunica uma mesma mensagem para vrias pessoas ao mesmo tempo. Para

Ribeiro (1995, p. 57) a propaganda uma ttica mercadolgica, um instrumento de

21

vendas, ou seja, tem intenes de venda, enquanto que a publicidade tem o objetivo de

apresentar o produto ou servio no mercado. Com isso, Gomes conceitua publicidade como:

um processo de comunicao persuasiva, de carter impessoal e controlado que,

atravs dos meios massivos e de forma que o receptor identifique o emissor, d a

conhecer um produto ou servio, com o objetivo de informar e influir em sua

compra ou aceitao (2003, p 42).

Segundo a autora a publicidade tem a inteno tanto de informar, quanto de

persuadir, pois as mensagens publicitrias transformam a informao em argumentos

persuasivos. Portanto, a publicidade apresentada ao pblico tradicionalmente atravs dos

meios de comunicao, com os quais alia-se para transmitir mensagens ao consumidor, seja

sobre uma empresa, um produto ou servio. Gomes ainda afirma que a publicidade favorece

a consolidao de uma empresa:

Uma marca bem firme no mercado necessita somente de reforo dos seus pontos

positivos para que no caia no esquecimento. Se os pontos de vista das pessoas a

respeito dela so positivos e no so afetados pelos da concorrncia, o papel da

publicidade no tanto desafiar o consumidor, mas apoi-los e destac-los (2003, p.

70).

Com esta afirmao, percebe-se que uma empresa, mesmo quando j est

consolidada, ainda precisa divulgar seus interesses para fidelizar seu pblico e assim no

cair no total esquecimento. atravs da publicidade e da propaganda que as empresas

divulgam seus servios e produtos. Portanto, no h apenas a inteno de informar, mas sim

de influenciar a compra do produto ou servio que veiculado.

Pode-se dizer que a publicidade nasce no Ps-Revoluo Industrial, momento este

que a produo de bens e servios surge apenas para suprir as necessidades. Contudo, nessa

fase percebe-se que o sujeito surdo no era contemplado, sendo reconhecido como um

consumidor em potencial apenas nos ltimos tempos, em que a publicidade pensa sobre

outras possibilidades de mercado e consumo, e passa ento a investir em mdias que

contemplem este pblico.

Neste trabalho, optou-se por utilizar os termos Publicidade e Propaganda com o

mesmo sentido, uma vez que entende-se que ambos se propem a vender um produto ou

uma ideia. Nesse contexto, voltando problemtica deste estudo, pode-se pensar que a

publicidade e a propaganda utilizam a lngua de sinais como uma estratgia publicitria,

22

um diferencial para seduzir um pblico especfico e assim vender uma ideia, um produto,

um jeito de ser consumidor surdo.

Segundo Bauman, o consumidor em uma sociedade de consumo uma criatura

acentuadamente diferente dos consumidores de quaisquer outras sociedades at aqui,

(1999, p 88), isso porque h um investimento intenso no consumismo, na produo de

desejos coletivos e sociais, seja por produtos ou bens cada vez mais mutveis, novos e

necessrios.

Na sociedade de consumidores, as pessoas so ao mesmo tempo consumidoras e

mercadorias. O ponto de virada seria a revoluo consumista, em que se passou do

consumo pra o consumismo. Enquanto o consumo uma ocupao das pessoas, o

consumismo um atributo da sociedade (BAUMAN, 2008, p.41).

O consumismo o eixo da economia e de todo o convvio humano, e isso tambm

vale para o pblico surdo, que enredado nas relaes de saber/poder das prticas miditicas,

passa a desejar fazer parte dessa sociedade consumidora. Aqui entendendo o poder, segundo

Michel Foucault, como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais

do que uma instncia negativa que tem por funo reprimir (FOUCAULT, 1979, p. 8). Em

outras palavras, as relaes de saber/poder se encontram ligadas diretamente s produes

publicitrias, uma vez que estas elegem determinadas ideias a serem veiculadas e vendidas e

no outras. Com isso, produz-se formas de ser consumidor, pois exerce-se ali um conjunto

de saberes e principalmente de poder que se produz a cada instante, em todos os pontos, ou

melhor, em toda relao entre um ponto e outro. O poder est em toda parte, [...] provm de

todos os lugares (FOUCAULT, 1988, p. 89).

Nesse sentido, o campo publicitrio encontra na comunidade surda uma outra

possibilidade de produo de consumidores, e assim se volta a pensar em estratgias

especficas, como o uso da LIBRAS, para anunciar e vender, por meio de argumentos

emotivos que impulsionam desejos - desejos de consumir, de ser um novo consumidor,

surdo. Portanto, percebe-se que a publicidade tem o interesse de persuadir e convencer, ou

seja, de influir no comportamento da comunidade surda consumidora.

Segundo SantAnna (2009, p.80) quanto mais conhecermos o valor das palavras, as

necessidades, os desejos e impulsos humanos e as emoes que desencadeiam, mais

saberemos sobre a tcnica de persuaso e seu modo de operar, ou seja, hoje a publicidade

procura atingir o seu consumidor-alvo estimulando suas emoes, atendendo as suas

necessidades e respondendo a seus anseios. Assim, utiliza-se da lngua de sinais com um

23

diferencial que agrega valores da comunidade surda, qual seja sua lngua e sua experincia

visual, para atingir objetivos de consumo.

4 A LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: INTRODUZINDO A DISCUSSO

A Lngua Brasileira de Sinais, segundo Copavilla, Raphael e Maurcio (2009, p.

1380) a linguagem autnoma, independente da lngua falada, que tem mecanismos

prprios de natureza espacial para relacionar a forma ao significado. A partir dessa

definio, entendemos que a lngua de sinais no uma verso sinalizada da lngua oral e

tambm no tem suas origens histricas na lngua falada. Sobre essa lngua vale dizer que

ela no universal, ou seja, cada pas possui a sua prpria lngua de sinais, o que a torna

diferente e varivel de pas para pas, alm de apresentar os regionalismos, variando alguns

sinais, em regies de um mesmo territrio.

Esta lngua utilizada como forma de comunicao das comunidades surdas e

tambm por ouvintes que a conheam. A interao com a lngua de sinais ocorre pelo canal

visual-espacial, portanto uma lngua pronunciada por meio corpo, ou seja, atravs de

movimentos gestuais e no gestuais, que articulam-se espacialmente e so percebidos

visualmente. Assim, importante compreender que a comunicao em LIBRAS se d num

espao visual utilizando expresses corporais e faciais, ou seja, utilizando as mos, o corpo,

os movimentos e o espao de sinalizao. Assim essa lngua se distingue da lngua oral, que

utiliza a forma oral auditiva. De acordo com Gesser (2009, p. 21-22):

A lngua de sinais tem todas as caractersticas lingsticas de qualquer lngua

humana natural. necessrio que ns, indivduos de uma cultura de lngua oral,

entendamos que o canal comunicativo diferente (visual-gestual) que o surdo usa

para se comunicar no anula a existncia de uma lngua to natural, complexa e

genuna como a lngua de sinais.

Conforme a autora, pode-se entender que a lngua de sinais tem sua prpria

gramtica e se apresenta estruturada em todos os nveis de anlise. Assim como a lngua oral

utiliza de seus nveis fonolgico, morfolgico, sinttico e semntico para produzir

significados e vender ideias e produtos, na lngua de sinais estas produes acontecem em

dimenses espaciais, que privilegiam a experincia visual das comunidades surdas, fazendo

com que a publicidade e a propaganda utilizem estratgias e recursos que sejam adequados

ao uso dessa lngua.

24

As lnguas de sinais so lnguas naturais das comunidades surdas, da mesma forma

que as lnguas orais so para os ouvintes, possuindo gramtica e sintaxe prpria, que

possibilitam expressar qualquer ideia, conceito ou sentimento, mantendo uma interao

entre os falantes da lngua. Esta, em uma abordagem bilngue, pode auxiliar na

aprendizagem do portugus como uma segunda lngua, na modalidade escrita.

Neste sentido, as lnguas de sinais no podem ser entendidas como uma mistura de

mmicas e gestos soltos, uma vez que apresentam todas as propriedades lingusticas presente

nas lnguas humanas. Portanto, constitui-se em um sistema lingustico muito bem

estruturado assim como outras lnguas.

A Lngua Brasileira de Sinais tem suas origens na Lngua Francesa de Sinais,

chegando ao Brasil em 1855, trazida pelo professor francs surdo, Ernest Huet. Este

professor fundou em 1887 o primeiro Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES) no

Rio de Janeiro, no mesmo endereo em que se localiza at hoje. Na dcada de 1980, fundou-

se a FENEIS (Federao Nacional de Educao e Integrao dos Surdos), que uma

entidade filantrpica, sem fins lucrativos, com finalidade scio-cultural que tem por objetivo

o ensino de LIBRAS para pessoas surdas e ouvintes, conscientizando a comunidade a

respeito da cultura surda, e por fim defendendo os direitos da comunidade surda brasileira.

Segundo Gesser (2009, p.38), a origem da LIBRAS est intimamente ligada ao

processo de escolarizao dos surdos, e mesmo que nas instncias educacionais a lngua

legtima dos surdos tenha sido banida em muitos momentos, os surdos sempre a utilizaram

entre si. Aps o contato do professor surdo francs Ernest Huet com os alunos surdos

brasileiros, adaptaram-se as formas lingusticas da lngua francesa de sinais para a LIBRAS.

Em 24 de abril de 2002, por meio da Lei n. 10.436, a LIBRAS foi oficializada no

Brasil. A partir da passou a ser reconhecida como a segunda lngua do nosso pas e o

primeiro meio legal de comunicao e expresso das comunidades surdas brasileiras. Para

isso, considerada a forma de comunicao e expresso, em que o sistema lingstico de

natureza visual-motora, com estrutura gramatical prpria, constituindo um sistema

lingustico no qual possvel transmitir ideias e fatos.

Atualmente, com a aprovao do Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005 a

lngua de sinais passa a compor obrigatoriamente o currculo dos cursos de formao de

professores para exerccio do magistrio, em nvel mdio e superior, e dos cursos de

Fonoaudiologia como disciplina regular.

25

Sendo assim, este trabalho pretende considerar o uso da lngua de sinais nos filmes

publicitrios, a fim de entender de que forma ela est sendo difundida, qual sua funo nesses

empreendimentos, e que intenes so veiculadas. Considera-se para isso que o surdo um

consumidor em potencial para o qual se criam estratgias para produzir novos consumidores

ou fortalecer relaes nas quais j foram conquistados.

26

5 METODOLOGIA

A natureza desta anlise predominantemente qualitativa, de cunho bibliogrfico, pelo

fato de estabelecer uma relao direta e particular entre o pesquisador e sua materialidade.

Segundo Michel (2009, p.37):

Na pesquisa qualitativa, a verdade no se comprova numrica ou estatisticamente,

mas convence na forma da experimentao emprica, a partir de anlise feita de

forma detalhada, abrangente, consistente e coerente, assim como na argumentao

lgica das ideias, pois os fatos em cincias sociais so significados sociais, e sua

interpretao no pode ficar reduzida a quantificaes frias e descontextualizadas da

realidade.

A partir deste conceito sero analisados trs vdeos publicitrios que utilizam a lngua

de sinais como meio de comunicao: Vivo Torpedo SMS: Casal (2010); RBS TV:

Facilitar a comunicao das pessoas com o seu mundo (2007); Casas Bahia: Tipos de

Pais (2007), nos quais procura-se compreender de que forma h o consumo dessa lngua,

que estratgias so utilizadas e que recursos possibilitam a veiculao de suas intenes.

A escolha dos trs filmes publicitrios deu-se pelo fato de serem os mais recentes a

utilizarem a lngua de sinais e tambm por veicularem em nossa regio. No entanto cabe

descrever brevemente cada um deles, procurando situar o leitor do trabalho e at mesmo

porque ao faz-lo compe-se parte metodolgica e analtica da pesquisa.

O filme publicitrio da RBS TV produzido em 2007 pela agncia Matriz de Porto

Alegre, tem cerca de um minuto e 30 segundos, e gravado em uma pracinha. Sua

personagem principal uma menina surda que apresenta insegurana e medo diante de uma

realidade diferente da sua. Portanto, percebe-se que o objetivo do filme veicular o conceito

de que a Comunicao a nossa vida e que a empresa est preocupada com todos os

pblicos e em facilitar a comunicao delas com o mundo.

No entanto, o filme da Operadora Telefnica VIVO veiculado em 2010, produzido

pela agncia frica, tem cerca de 30 segundos e as cenas so protagonizadas por dois

personagens jovens um surdo e uma ouvinte que utilizam o aparelho celular para o envio

de torpedos, a fim de se comunicar e combinar um encontro na sorveteria. O filme se passa

em dois ambientes, no primeiro momento o personagem surdo est num ambiente pblico

respondendo os torpedos e logo em seguida dirige-se a sorveteria para encontrar sua

namorada. A partir disso as cenas finais so gravadas dentro da sorveteria e neste momento

que o telespectador percebe que o jovem surdo, pois sua namorada pergunta para ele, em

LIBRAS, qual sabor de sorvete que ele prefere. Assim, o filme finaliza com a frase

27

Conectado com torpedo voc se comunica melhor e pode mais. E na VIVO voc encontra o

pacote ideal para voc.

Por fim, o filme publicitrio da Casas Bahia produzido em 2007 pela agncia Y&R

Criao, tem cerca de um minuto, e as cenas so desenvolvidas em vrios ambientes

descontrados. Esta propaganda que uma homenagem ao Dia dos Pais, mostra todos os tipos

de pais, cada um com sua maneira de expressar amor e dedicao a seus filhos. A inteno foi

mostrar que a empresa est conectada as novas configuraes familiares e por isso mostra

dois personagens surdos como pais dedicados e parceiros.

Com base na materialidade selecionada e de acordo com o referencial terico

pesquisado fez-se uma anlise dos discursos veiculados e produzidos pelos filmes

publicitrios a fim de problematizar a produo e o consumo da lngua de sinais por meio

dos mesmos. Da mesma forma, pretendeu-se discutir as intencionalidades do uso da lngua de

sinais, analisar a produo do consumidor-alvo desses filmes e compreender os significados

produzidos em relao lngua e o campo publicitrio.

Para tal empreendimento analtico criou-se trs categorias - nfase na lngua de

sinais, produo de sujeitos surdos e aproximaes entre LIBRAS, surdo e sociedade-,

as quais constituram-se a partir das recorrncias observadas nas propagandas.

28

6 ANLISES: A MATERIALIDADE EM MOVIMENTO

Este tpico procura apresentar as anlises realizadas a partir da escolha de trs

categorias, uma vez que percebeu-se as recorrncias no que diz respeito lngua de sinais, a

constituio dos sujeitos surdos e a relao entre a lngua e o contexto social nas propagandas

publicitrias. Tais categorias dividem-se em nfase na lngua de sinais, produo de

sujeitos surdos e aproximaes entre LIBRAS, surdo e sociedade.

6.1 NFASE NA LNGUA DE SINAIS

Considerando a lngua de sinais um importante, seno o principal pilar para esse

trabalho, que pretende entender o consumo da mesma a partir de filmes publicitrios, esta

categoria se volta para a utilizao da lngua, suas recorrncias e suas singularidades, com o

objetivo de problematizar seus usos.

No filme publicitrio da Operadora Telefnica VIVO1 (2010), por exemplo, pode-se

ver cenas protagonizadas por dois jovens que utilizam torpedos via celular para se comunicar

e combinar um encontro. Ao chegar at a sorveteria (local onde marcaram), os dois

conversam em lngua de sinais, momento em especial em que ela pergunta qual sabor de

sorvete ele prefere, e ele diz (em sinais) de chocolate. Nesse momento que o telespectador

pode notar que o jovem surdo e que a mulher ouvinte, pois ela quem pergunta em

LIBRAS para ele (o sabor que ele prefere) e depois fala para ao atendente da padaria o que

desejam.

Assim, a lngua de sinais utilizada com nfase apenas nessa parte da propaganda, j

que desde o comeo o telespectador acompanha uma cena aparentemente cotidiana, de um

casal que marca um encontro. s quando ela se comunica com ele por meio da lngua de

sinais que o pblico pode evidenciar a sua utilizao, que feita de forma breve.

Sendo a lngua de sinais veiculada rapidamente, apenas no final da cena, pode passar

despercebida por alguns telespectadores, e at mesmo ser confundida com simples gestos e/ou

mmicas, e no propriamente a lngua de sinais, uma vez que a ideia de sinnimo entre a

lngua de sinais e a mmica ainda persiste nas concepes sociais. Ou como elucida Gesser

(2010, p.22), referenciando a utilizao do termo mmica pelos dicionrios de portugus,

1 Optou-se em utilizar o itlico para destacar a materialidade analisada.

29

expresso de ideias, palavras ou sentimentos atravs de gestos expressivos que acompanham

ou substituem a fala. Logo, a partir dessa e de outras definies trazidas pelos dicionrios

possvel inferir tal ideia equivocada. No entanto, a lngua de sinais no significa mmica, mas

sim uma lngua com todas as caractersticas lingusticas de qualquer lngua humana natural.

Em contrapartida, o filme publicitrio da Casas Bahia (2007) em homenagem ao Dia

dos Pais mostra vrios tipos de pais, cada um com seu jeito prprio de expressar o amor e a

dedicao a seus filhos, dentre eles o tipo de pai surdo que utiliza a lngua de sinais. So

duas cenas em que a lngua aparece, uma que se refere ao pai treinador e outra ao pai

conselheiro.

Porm na cena do pai treinador, a lngua aparece de forma sucinta, quase

imperceptvel, j na cena do pai conselheiro ela mostrada mais clara e pausada em relao

propaganda da VIVO, fazendo com que o telespectador perceba de maneira mais efetiva a

utilizao dessa lngua no vdeo. Aqui a lngua de sinais tem mais visibilidade

proporcionando que seja compreendida de outras formas, ou seja, produzem-se outros efeitos,

uma vez que o nome do filme diferentes tipos de pais, sugere diferentes tipos de ser pai,

incluindo inclusive os pais surdos que utilizam a lngua de sinais para se comunicar com seus

filhos.

J no filme da campanha da RBS TV (2007) a nfase na lngua de sinais se d desde o

incio, pois o slogan do grupo a comunicao, percebido especialmente no final da

propaganda quando ela encerrada com a seguinte frase: Facilitar a vida das pessoas com o

seu mundo, torna a vida melhor. H 50 anos, essa a nossa misso. Grupo RBS, comunicao

a nossa vida. O emprego da lngua de sinais encenado por uma personagem principal

(menina) que surda (ver figura 12). Portanto o objetivo do comercial o de passar a imagem

do Grupo RBS sempre atuando com a sociedade e se preocupando com todas as formas de

comunicao, uma vez que hoje os produtores e emissores no s devem seduzir os

destinatrios, mas tambm justiar-se racionalmente (CANCLINI, 2008, p. 62). Assim, a

utilizao da imagem da menina surda pretende vender o conceito de que a comunicao

faz parte da nossa vida, e com isso que a empresa est preocupada em facilitar a comunicao

das pessoas com o mundo (ver figura 13).

Cabe salientar que essas ideias e relaes entre os sujeitos e as formas de comunicao

veiculadas pelos filmes, por meio de uma grande empresa que atua nessa rea, produz

algumas coisas, tais como, modos de ser sujeito hoje em sociedade, baseados principalmente

30

nas ideias de respeito s diferenas, tolerncia ao outro, sem esquecer que tudo isso est

atrelado a ideia de comunicar.

Figura 12 Figura 13

Ainda percebe-se que nessa propaganda a lngua de sinais e a diferena surda no

mostrada com tanta tranquilidade e naturalidade, pois no primeiro momento a menina sente-se

insegura ao chegar na pracinha (local onde acontece a cena) e ver outras crianas diferentes

dela, o que pode-se inferir que a lngua de sinais ainda consiste em uma barreira tanto para

os surdos quanto para os ouvintes. Observa-se que o dilogo entre a menina surda e o menino

ouvinte se d por meio de gestos universais, no qual percebe-se que os personagens ouvintes

do filme demonstram no saber o que exatamente a lngua de sinais e acabam se

comunicando com os gestos.

No entanto, no filme publicitrio da VIVO e no da Casas Bahia a lngua

comunicada, veiculada, produzida de forma natural, pois vemos que seus personagens a

utilizam com segurana. Tanto os surdos quanto os ouvintes dos dois filmes parecem fluentes

na lngua. Aparentemente no existe nenhuma barreira impedido a comunicao entre eles,

vendendo a ideia de uma possibilidade social em que surdos e ouvintes convivam

tranquilamente mesmo com suas diferenas.

6.2 PRODUO DE SUJEITOS SURDOS

Nessa categoria a inteno entender de que forma e em que medida tais filmes

publicitrios se ocupam e/ou investem na produo dos sujeitos surdos, produzindo assim

novos jeitos de ser surdo na atualidade, modos de interagir entre seus pares e entre os

ouvintes, que lugar ocupam na sociedade de consumo e que identidades so constitudas

nessas relaes.

31

Na propaganda da operadora VIVO, por exemplo, onde interessa apresentar e

comercializar suas novas tecnologias, h um objetivo funcional de atingir um novo pblico

consumidor, instigando o uso de SMS como alternativa moderna e inclusiva de comunicao

para a comunidade surda. Tendo por finalidade investir neste pblico potencial, produz

sujeitos surdos includos na lgica do consumo. Consumo este que segundo Canclini (2008, p.

60):

... o conjunto de processo socioculturais em que se realizam a apropriao e os

usos dos produtos. Esta caracterizao ajuda a enxergar os atos pelos quais

consumimos como algo mais do que simples exerccios de gosto, caprichos e

compras irrefletidas, segundo os julgamentos moralistas, ou atitudes individuais, tal

como costuma ser explorado pelas pesquisas de mercado.

Portanto, compreendendo que no consumo se constri parte da racionalidade

integrativa e comunicativa de uma sociedade (CANCLINI, 2008, p. 63), percebe-se que a

operadora em questo est literalmente ligada nesta lgica de consumo buscando novos

consumidores para submergir dentro de seus planos. Neste filme publicitrio utilizam-se

estratgias visuais produtivas, sedutoras, convincentes que localizam os surdos no movimento

do mercado, oferecendo a eles planos especficos que possibilitam incluir-se socialmente

como consumidores ativos, gestando uma normalidade produzida na relao de mercado.

Assim a VIVO apresenta-se publicamente conectada com a era inclusiva e com seus

novos consumidores, os surdos, que por sua vez encontram-se consumindo e utilizando novas

tecnologias que facilitam sua comunicao com seus pares, amigos e familiares, at mesmo

permitindo mais fluidez nas relaes amorosas (como se v na propaganda).

Portanto, esse filme concentra-se prioritariamente na forma de comunicao que os

surdos brasileiros utilizam, a LIBRAS, principalmente associada ao consumo de servios e

produtos que tal operadora de telefone mvel - celular - oferece s pessoas que precisam e se

comunicam por mensagens. Seriam planos especiais que oferecem melhores condies para

aquele pblico consumidor que utiliza mensagens de texto via celular para se comunicar: eis

aqui um consumidor em potencial, o surdo.

Neste empreendimento propagandstico da Operadora Telefnica VIVO pode-se

inferir a produo de uma normalidade surda, por meio de um personagem surdo que tem um

comportamento normal perante a sociedade. Dito de outro modo, a VIVO investe na

constituio de um ideal de homem surdo, intelectual, dedicado, bonito e culto, vendendo a

ideia do ser surdo dentro de um padro de normalidade. Percebe-se ainda que o personagem

domina e utiliza o portugus corretamente nos envios de suas mensagens, o que demonstra

32

mais uma qualidade a ser consumida por surdos, que estejam dentro das normas sociais

desejveis. Assim, esse seria o diferencial do surdo, que alm de saber a sua lngua natural,

sabe o portugus, e utiliza-o para melhor viver e consumir em sociedade (ver figuras

abaixo).

Figura 14 Figura 15

Figura 16 Figura 17

Figura 18

Voltando ao filme publicitrio da Casas Bahia, a propaganda em questo traz vrios

tipos de pais, onde possvel constatar o resgate de uma lembrana social por meio de

diferentes contextos: pai treinador, pai heri, pai que filho, pai em dobro de uma s vez, pai

professor e o pai conselheiro (ver figuras a seguir). Percebe-se a alguns valores sociais que

so fortemente explorados, em especial, a ideia de que os surdos tambm tem uma famlia,

tem filhos, so pais dedicados e comunicativos. Veiculando um tipo de normalidade surda

produzida pela propaganda, investe-se na ideia de um surdo melhorado, refinado e que

33

constitui famlia, portanto, que encontra-se dentro dos padres normais que a sociedade

impe. A partir disso, pode-se dizer que o filme publicitrio explora, produz, consome uma

nova concepo de surdo, um jeito diferente de ser surdo na sociedade atual. Nesse sentido, o

surdo torna-se ao mesmo tempo sujeito do consumo e mercadoria a ser consumida. Segundo

Bauman (2008, p. 20):

Na sociedade de consumidores, ningum pode se tornar sujeito sem primeiro virar

mercadoria, e ningum pode manter segura sua subjetividade sem reanimar,

ressuscitar e recarregar de maneira perptua as capacidades esperadas e exigidas de

uma mercadoria vendvel.

J o desenrolar da propaganda da RBS TV se d em torno de uma menina surda que

est em um parque na companhia de sua me. possvel perceber que neste filme h uma

percepo diferente do que vimos nos outros dois filmes publicitrios sobre a produo dos

sujeitos surdos - VIVO e Casas Bahia - nos quais aparece uma constituio de sujeito dentro

de uma norma social desejada, ou seja, sujeitos que relacionavam-se bem com os outros e

utilizam a lngua de sinais com naturalidade.

Na RBS TV a propaganda apresenta um surdo deslocado do seu ambiente, com uma

expresso triste, fora de sua realidade, transparecendo no estar confortvel no ambiente

pblico. Isso leva a pensar que ainda existe uma grande barreira entre os prprios surdos em

se aceitarem como sujeitos da diferena e assim conviverem com os ouvintes. Por outro lado,

a proposta do filme se produz na lgica da incluso, pois vem com o intuito de quebrar o

paradigma da segregao entre surdos e ouvintes mostrando a preocupao da empresa em

manifestar e valorizar todas as formas de comunicao entre os sujeitos, especialmente dando

espao para a lngua de sinais e a possibilidade de interao entre os diferentes.

Assim, observa-se que os trs filmes publicitrios vendem, veiculam, jeitos de ser

surdo na sociedade contempornea, ou ainda, modos de ser e viver socialmente que esto

relacionadas com normas e padres sociais pr-estabelecidos. Para isso, pode-se citar

Canclini, ao pensar que o desejo de possuir o novo no atua como algo irracional ou

independente da cultura coletiva a que se pertence (2008, p. 66). Logo, as identidades surdas,

suas constituies e atravessamentos esto diretamente ligados s relaes com o social, com

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a norma, com os modos de vida modernos, entre eles o de consumir.

Figura 19 Pai que a vida escolhou Figura 20 Pai que escolheu a gente pra vida

Figura 21 Pai duas vezes Figura 22 Pai que filho

Figura 23 Pai Professor Figura 24 Pai Treinador

Figura 25 Pai Heri Figura 26 Pai conselheiro

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Figura 27 Pai que uma me

6.3 APROXIMAES ENTRE LIBRAS, SURDO E SOCIEDADE

Atualmente, junto s transformaes sociais e os avanos tecnolgicos a sociedade

contempornea tambm vivencia muitas formas de expressar e viver a comunicao, entre

elas, a lngua de sinais, que entre seu surgimento, oficializao e utilizao nas mdias tornou-

se pblica e reconhecida assim como o sujeito que a utiliza, o surdo. A partir dos trs filmes

publicitrios - Vivo Torpedo SMS: Casal (Anexo 1); Casas Bahia: Tipos de Pais (Anexo

1) e RBS TV: Facilitar a comunicao das pessoas com o seu mundo (Anexo1) aborda-se

a seguir a relao entre a LIBRAS, o surdo e a sociedade, pretendendo destacar algumas

particularidades e aproximaes entre eles.

No incio do filme publicitrio da Operadora Telefnica VIVO observa-se que o

personagem surdo est em lugar pblico, com ambientao limpa e clara e com grande

circulao de pessoas ao seu redor. Enquanto a cena se passa num cenrio envolvente, o

personagem principal envia um torpedo para sua namorada, sem nenhuma preocupao.

Percebe-se que a propaganda apresenta-o como uma pessoa dentro dos padres normais, sem

destacar sua possvel deficincia (a surdez), uma vez que coloca-o consumindo um aparelho

telefnico e utilizando-o de maneira cotidiana. A prpria cena se desenvolve com

normalidade, pois mostra um jovem bem vestido, aparentemente saindo do trabalho e

respondendo a uma mensagem de celular. Pode-se dizer que, nesse momento, a reao das

pessoas que estavam a sua volta normal.

Aps ter sado do meio da multido ele se dirige at a sorveteria para encontrar sua

namorada. Quando chega l, os dois se dirigem ao balco de atendimento para fazer um

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pedido, onde mostra uma relao amigvel entre o atendente da sorveteria e o personagem

surdo. Neste contexto, v-se que o atendente apresenta naturalidade diante do surdo, como se

estivesse diante de qualquer outro cliente at mesmo no se surpreendendo com a forma de

comunicao entre a namorada ouvinte e o jovem, visto que ele atende o casal sorrindo,

descontrado, parecendo j conhec-los.

Pode-se inferir que o filme publicitrio produz uma ideia sobre a relao entre o

sujeito surdo, a sociedade e a lngua de sinais, ideia esta que representa o surdo e a lngua de

forma tranquila e sem estranhamento para a sociedade.

Ao veicular essas imagens, a operadora VIVO pretende criar condies para que um

maior nmero de pessoas possam se conectar com o mundo, possibilitando a elas viver de

forma mais humana, segura, inteligente, e sobretudo, respeitando as diferenas sociais. O uso

de SMS aparece como alternativa moderna e inclusiva de comunicao que auxilia a

comunidade surda em suas relaes pessoais, uma vez que permite o contato com outras

pessoas surdas em qualquer hora e lugar. importante ressaltar que existe uma inteno da

empresa em inserir o surdo dentro de uma sociedade de consumidores, na qual todos devemos

ser iguais, consumindo coletivamente.

A sociedade de consumidores, em outras palavras, representa o tipo de sociedade

que promove, encoraja ou refora a escolha de um estilo de vida e uma estratgia

existencial consumista, e rejeita todas as opes culturais alternativas. Uma

sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de consumo e segui-los

estritamente , para todos os fins e propsitos prticos, a nica escolha aprovada de

maneira incondicional (BAUMAN, 2008, p.71).

A partir dos princpios de uma sociedade de consumidores, a VIVO, com sua

experincia no mercado, assume um papel essencial para a divulgao do aparelho de celular,

na qual o SMS uma importante ferramenta de incluso na comunicao de pessoas surdas,

pois possibilita a elas estar conectadas com o mundo. Conforme Canclini (2008, p.70),

Ns seres humanos, intercambiamos objetos para satisfazer necessidades que

fixamos culturamente, para integrarmo-nos com outros e para nos distinguirmos de

longe, para realizar desejos e para pensar nossa situao no mundo, para controlar o

fluxo errtico dos desejos e dar-lhe constncia ou segurana em instituies e rituais.

Compreende-se que os surdos so convidados, seduzidos a incluir-se nesse universo de

consumo, sentindo a necessidade e o desejo de estar conectado a esta sociedade consumidora,

na qual a publicidade e propaganda criam estratgias para vender ideias, persuadir e

convencer um novo pblico. Portanto, de uso dessas estratgias visuais e apelativas de

normalidade a VIVO consegue atrair esse novo pblico, atravs de seus planos especiais para

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pessoas especiais, mostrando para a sociedade um novo consumidor que precisa ser

includo e aceito.

No entanto, no filme da RBS TV as primeiras cenas apresentam a chegada de duas

personagens (me e filha) em uma pracinha, retratando um ambiente no muito confortvel e

tranquilo, bem diferente daquele visto na propaganda anterior. A menina mostra um ar de

curiosidade, com expresso facial de insegurana e medo, mas sua me est atenta a tudo,

acompanhando-a no lugar, enquanto outras crianas aparecem se divertindo normalmente. A

menina d um passo frente e volta a olhar para sua me, que atravs de um gesto diz para ela

ir em frente, brincar, que est tudo bem. Nesse instante enquanto a menina se comunica com a

sua me atravs de sinais, um menino olha curiosamente para ela. A me do menino

comunica-se com o filho, atravs de gestos universais, indicando para ele que a menina

surda.

Logo, aparecem crianas brincando na pracinha e alguns meninos jogando futebol.

Eles chutam a bola para perto da menina, que est de costas, e comeam a gritar para que ela a

devolva para eles. Ao mesmo tempo, duas crianas convidam a menina para brincar. Mas ela

olha para baixo, pois no est entendendo o que as outras falam. Neste momento sua me

levanta do banco para ir em direo a sua filha, quando um menino sorrindo vem em sua

direo e apontando para um brinquedo, convida-a para ir brincar. Logo, aparecem as duas

crianas rindo, correndo e de mos dadas, indo em direo ao brinquedo e a cena encerrada

com os dois se balanando na pracinha.

Observa-se que em todo o filme a lngua de sinais utilizada apenas entre a me e a

filha surda, percebendo ainda que a LIBRAS no completamente conhecida e reconhecida

pela sociedade, principalmente entre as crianas, que no perceberam que a menina no ouvia,

e insistem em comunicar-se oralmente com a ela. Outro ponto importante abordado a

questo dos gestos universais, que um dos personagens utiliza para comunicar-se com a

menina surda. Ainda, vale ressaltar que mesmo as crianas no entendendo, no

compreendendo a lngua de sinais corretamente, elas conseguem de alguma forma se

comunicar com a menina, fazendo com que ela interaja com as outras pessoas em sua volta.

As imagens representadas na propaganda so em tons de cinza, sem muita iluminao,

escura, nebulosa passando a ideia de um dia sem sol, possibilitando inferir que pode ser

justamente o que o grupo RBS TV quis veicular, que a lngua de sinais ainda representa uma

barreira na sociedade, muitas vez vista de forma sombria, distante entre os diversos pblicos.

Porm, lembrando que o objetivo da empresa uma preocupao social contempornea, ou

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seja, a de promover incluso remetemo-nos a uma poltica inclusiva mais ampla, a qual em 22

de dezembro de 2005 torna obrigatrio o ensino da Lngua Brasileira de Sinais nos cursos de

formao de professores para exerccios de magistrio, em nvel mdio e superior, e dos

cursos de Fonoaudiologia como disciplina regular. Isso nos leva a pensar que o filme

publicitrio est conectado com uma preocupao da empresa que a de possibilitar

comunicao indistintamente, alcanando assim todos os pblicos.

Assim, como os filmes publicitrios da VIVO e da RBS TV, que apresentam a relao e

aceitao de uma nova lngua dentro de uma mesma sociedade, observa-se que a propaganda

da Casas Bahia tambm vem com o intuito de instigar um novo olhar, uma nova

representao diante da lngua de sinais e do sujeito surdo, investindo na minimizao das

diferenas e na construo de um jeito de viver e ser surdo hoje.

A abordagem dos personagens surdos e a utilizao da lngua de sinais no vdeo da

Casas Bahia ratifica a ideia da empresa em mostrar no apenas os pais ouvintes, mas

tambm os pais surdos, com o intuito de fazer com que a sociedade perceba o surdo como

aquele sujeito que tambm tem uma famlia, que vive em sociedade e que consome as

mesmas coisas que os indivduos ouvintes.

Se a cultura consumista o modo peculiar pelo qual os membros de uma sociedade

de consumidores pensam em seus comportamentos ou pelo qual se comportam de

forma irrefletida ou, em outras palavras, sem pensar no que consideram ser seu

objetivo de vida e o que acreditam ser os meios corretos de alcan-lo, sobre como

separam as coisas e os atos relevantes para fim das coisas e atos que descartam

como irrelevantes, acerca de o que excita e o que os deixa sem entusiasmo ou

indiferentes, o que os atrai e o que os repele, o que os estimula a agir e o que os

incita a fugir, o que desejam, o que temem e em que pontos temores e desejos se

equilibram mutuamente-, ento a sociedade de consumidores representa um

conjunto peculiar de condies existentes em que elevada a probabilidade de que a

maioria dos homens e das mulheres venha a abraar a cultura consumista em vez de

qualquer outra, e de que na maior parte do tempo obedeam aos preceitos dela com

mxima dedicao (BAUMAN, 2008, p. 70).

Portanto, a relao entre LIBRAS, surdo e sociedade no vdeo da Casas Bahia vem

com intento de produzir uma aproximao entre a comunidade surda e a sociedade em geral,

mostrando que tanto o surdo quanto a lngua de sinais esto sendo includos e aceitos na

sociedade contempornea. E que desta forma, a empresa tambm se coloca nesse lugar de

aceitao do diferente, demonstrando respeito e preocupao com o outro.

Deste modo, a propaganda investe na exposio de um surdo, fazendo o uso da lngua

de sinais claramente em um ambiente aconchegante, tranquilo e em um dia ensolarado,

remetendo que a lngua de sinais empregada de forma natural, sem estranhamento diante da

sociedade. Percebe-se ainda que no filme os personagens usam a lngua de sinais com

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segurana, mostrando para o telespectador que no existem barreiras para comunicar-se com

outras pessoas que no utilizam o mesmo cdigo lingustico.

Nesse sentido, a cultura do consumo em massa atinge mais um pblico, que sente-se

atrado pela mdia, pelos recursos visuais que ela utiliza e pelas representaes que ela veicula

sobre o surdo e a lngua de sinais. Segundo Bauman (2008, p.128) a cultura consumista

marcada por uma presso constante para que sejamos algum mais. Os mercados de consumo

se concentram na desvalorizao imediata de suas antigas ofertas, a fim de limpar a rea da

demanda pblica para que novas ofertas a preencham.

De tal modo, a sociedade pode posicionar o surdo dentro de uma normalidade,

respeitando-o e compreendendo-o igualmente. Ao mesmo tempo em que o representam por

meio dessa normalidade tambm o transformam em um sujeito possvel de ser includo dentro

de uma sociedade diversificada, onde todas as pessoas precisam aceitar-se e aceitar o outro

com suas diferenas.

Portanto, compreende-se que os trs filmes publicitrios analisados constituem em

vender a ideia de relacionamento e aceitao da pessoa surda e de sua forma particular de

comunicao, diante de uma sociedade que ainda possui barreiras em aceitar esse novo

pblico consumidor. A relao estabelecida entre o surdo, lngua de sinais e a sociedade

proporciona ao telespectador (re) pensar sobre quem esse outro, sua cultura e lngua, alm

de incidir diretamente nas representaes construdas coletivamente sobre as redes de

consumo.

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CONSIDERAES FINAIS

Como pode-se perceber neste estudo, o campo da Publicidade e a Propaganda est

cedendo espao para os filmes publicitrios renovarem seus conceitos em relao ao surdo e a

lngua de sinais, conectando-se cada vez mais com os modos de vida contemporneos,

principalmente com as relaes de consumo. Deste modo, vendendo um novo perfil de

sujeito consumidor e proporcionando uma relao mais harmoniosa entre o sujeito do

consumo e aquilo que se quer vender.

Diante disso, este trabalho possibilitou olhar e problematizar algumas produes

publicitrias que envolvem novos tipos estratgicos de consumo e novos (possveis)

consumidores. Para isso, utilizando em suas propagandas personagens surdos que mostram a

lngua de sinais e alguns aspectos de sua cultura e identidade.

Percebe-se que hoje, no cenrio contemporneo, a lngua de sinais vem ganhando

espao nos meios que abrangem a Comunicao Social, e foram exatamente sobre alguns

desses empreendimentos publicitrios que este estudo se debruou para analisar. A partir de

trs filmes foi possvel compreender como a lngua de sinais era abordada, bem como a

produo do sujeito surdo dentro deste novo cenrio moderno. A partir deles foi possvel

compreender como a lngua de sinais era veiculada, possibilitando assim, pensar na incluso

dos sujeitos surdos e no reconhecimento da lngua diante da sociedade em que vivemos.

Ter analisado os filmes publicitrios a partir de trs categorias (produo dos sujeitos

surdos, nfase na lngua de sinais e LIBRAS, surdo e sociedade), fez com que se

refletisse mais sobre o enfoque da lngua de sinais e do sujeito surdo dentro deste jogo social

do consumo. De igual maneira, pensar em novas e possveis formas de abordagem que o

campo da Comunicao possibilita atualmente, principalmente com a oficializao da lngua

de sinais no Brasil (2002), sua insero nos cursos de formao superior (2005) e as polticas

de incluso. Considerando que os surdos so sujeitos que esto inseridos em uma sociedade

que pretende/deseja informar, persuadir, seduzir e igualmente vender ideias e produtos.

Alm disso, o uso da lngua de sinais e da imagem do personagem surdo nestes vdeos

possibilitaram rever algumas representaes sobre a lgica de consumo e a aceitao dos

outros nos jogos sociais. Mostra ainda, que a lngua de sinais uma nova maneira de

comunicao a ser explorada pela publicidade e propaganda, permitindo a divulgao e

veiculao de ideias que atinjam esse pblico-alvo consumidor chamando comunidade surda.

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Portanto, aps a realizao deste trabalho percebeu-se que o entendimento da lngua

de sinais trar maior qualificao para os profissionais da rea que atuam no mercado de

consumo. Alm disso, o sujeito surdo vem conquistando espao e potencializando a aceitao

da sociedade, que ainda o v como um sujeito da diferena e fora dos padres de normalidade

produzidos.

Ao compreenderem cada vez mais a importncia do uso da lngua de sinais nos

empreendimentos publicitrios, os profissionais estaro ampliando seus conhecimentos

podendo contribuir para o surgimento ou divulgao de novas formas de comunicao e

inserindo novos pblicos consumidores dentro do cenrio contemporneo.

42

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ANEXOS 1