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1 MARIA CAROLINA DIAZ RASTELLO OTIMIZAÇÃO DE PARÂMETROS DE PROJETO DE TUBULAÇÕES DE SISTEMAS DE CALEFAÇÃO POR PISO RADIANTE São Paulo 2013

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1

MARIA CAROLINA DIAZ RASTELLO

OTIMIZAO DE PARMETROS DE PROJETO DE TUBULAES DE

SISTEMAS DE CALEFAO POR PISO RADIANTE

So Paulo

2013

2

MARIA CAROLINA DIAZ RASTELLO

OTIMIZAO DE PARMETROS DE PROJETO DE TUBULAES DE

SISTEMAS DE CALEFAO POR PISO RADIANTE

Dissertao apresentada Escola

Politcnica da Universidade de So

Paulo para a obteno do ttulo de

Mestre em Engenharia

rea de concentrao:

Engenharia de Construo Civil e

Urbana

Orientador: Prof. Associado

Racine Tadeu Araujo Prado

So Paulo

2013

3

Este exemplar foi revisado e corrigido em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador. So Paulo, de outubro de 2013.

Assinatura do autor ____________________________

Assinatura do orientador ________________________

FICHA CATALOGRFICA

Diaz Rastello, Maria Carolina

Otimizao de parmetros de projeto de tubulaes de sistemas de calefao por piso radiante / M.C. Diaz Rastello. -- verso corr. -- So Paulo, 2013.

103 p.

Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Construo Civil.

1.Tubulaes (Projeto) 2.Calefao 3.Piso radiante I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Construo Civil II.t.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeo a meus amigos pelo apoio e ajuda incondicional que me brindaram

durante todo este tempo:

A Santiago, por ter sido o pilar fundamental de princpio a fim. Sua compreenso,

seu apoio e fundamentalmente sua amizade desinteressada fizeram possvel o

desenvolvimento deste trabalho.

A Carlitos, por sua amizade. Por me conceder seus conhecimentos de Matlab e por

todas as horas de dedicao e pacincia que fizeram possvel esta dissertao.

A Glauco, porque sempre teve uma palavra de nimo para os momentos difceis.

Mais que um amigo, voc minha famlia aqui no Brasil.

E especialmente, ao professor Racine por ter confiado em mim e me conceder a

oportunidade de tornar este sonho realidade.

A vocs, MUITO OBRIGADA!.

5

RESUMO

Devido climatizao dos ambientes internos condicionar o bem estar e o

conforto trmico das pessoas que se fazem necessrias novas pesquisas que

procurem potencializar as tecnologias existentes e reduzir tanto os custos de

instalao quanto o consumo de energia. sabido que os sistemas convencionais

de calefao proporcionam um alto consumo de energia e uma emisso de nveis de

rudo muitas vezes inaceitveis, entretanto os sistemas radiantes ganham, a cada

dia, uma maior abrangncia como alternativa de climatizao devido s suas

vantagens comparativas com relao aos sistemas convencionais. O emprego de

sistemas de calefao por piso radiante em muitos pases limitada pelo preo da

instalao como conseqncia do elevado custo dos materiais como o caso da

fabricao das tubulaes. Estas geralmente so fabricadas de polietileno ou de

cobre, sendo este ultimo o que entrega um maior desempenho trmico e, por

conseguinte um melhor fornecimento de energia, mas o elevado custo deste material

restringe o seu uso principalmente ao setor residencial, podendo atingir um mercado

maior que compreenda edifcios pblicos, de escritrio, escolas, hospitais, etc.

Com isso, este trabalho procura reduzir a quantidade de materiais de tubulao

necessrios para garantir o desempenho do sistema e o conforto trmico de uma

habitao aquecida com um sistema radiante. Para isto, foi desenvolvida a

resoluo numrica do modelo matemtico da transferncia de calor no interior do

piso pelo mtodo dos volumes finitos na formulao implcita e implementada em

cdigo computacional na linguagem Matlab. Para isto, foram considerados dois

parmetros fundamentais para garantir o conforto trmico da habitao que

correspondem temperatura da gua e a distancia entre os tubos que compem o

sistema. A anlise corresponde ao clculo da temperatura superficial do piso para

distintas temperaturas da gua e distintas distncias, obtendo resultados

interessantes que permitem reduzir o custo da instalao em at um 40%.

Palavras-chave: Calefao. Piso radiante. Conforto trmico. Simulao de

desempenho trmico de edifcios.

6

ABSTRACT

Due to temperature control of interiors conditioning the well-being and the thermal

comfort of people, it is necessary to make new researches aiming to improve the

existing technologies and to reduce both installation costs and energy consumption.

It is known that the use of traditional heating systems involves high energy

consumption and, in some cases, unacceptable noise levels; while radiant systems

are gaining a wider scope as a heating alternative due to its advantages compared to

conventional systems. The use of radiant floor heating systems in Brazil is limited by

installation cost due to the high price of required materials. This fact restricts the use

of these systems primarily to the residential sector. However, it may be possible for

this technology to reach a larger market, including public buildings, offices, schools

and hospitals. Therefore, to optimize the most relevant design parameters relating to

the thermal performance of the system and reduce both the amount of required

materials and the system operating time, this paper elaborates on a method

consisting of a high-resolution numerical mathematical model of the heat transfer

within a floor using a finite control volume method with an implicit solution scheme. In

this work, we consider how the properties of the materials, environmental thermal

comfort factors and the performance of the system work together with the theoretical

underpinnings of the heat transfer phenomenon to define the design parameters to

optimize the materials and provide greater control over the energy consumption. This

optimization is achieved without changing any environmental thermal comfort

conditions or the well-being of the occupants. Finally, a numerical solution for the

heat transfer within the floor is implemented using the computer code Matlab.

Keywords: Heating systems. Radiant floor systems. Thermal comfort. Simulation of

thermal performance of buildings.

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Sistemas para aquecimento de gua e de ar utilizados na Roma antiga.

fonte: Lamberts, et al. (1997). ................................................................................... 14

Figura 1.2: Sistema ONDOL. Fonte: Song, G. (2005)............................................... 14

Figura 2.1: Porcentagem de pessoas insatisfeitas como funo da diferena de

temperatura entre a cabea e os tornozelos. Fonte: ASHRAE, 2009.Capitulo 9. ..... 24

Figura 2.2: Porcentagem de insatisfeitos em funo da temperatura do piso. Fonte:

ASHRAE, 2009. ........................................................................................................ 25

Figura 2.3: Diferenas verticais da temperatura de ar medidas experimentalmente

para diferentes sistemas de calefao. O fluxo de calor foi de 50 W/m2. Fonte:

Olesen, 2002. ........................................................................................................... 27

Figura 2.4: Esquema dos componentes do sistema. Fonte: Adaptado Ateli do

Clima. ........................................................................................................................ 31

Figura 3.1: Tipos de estrutura de piso radiante. Fonte: EN 1264: Floor Heating -

Systems and Components ........................................................................................ 50

Figura 3.2: Modelo Tipo A reduzido adotado para o clculo das temperaturas ........ 53

Figura 3.3: Domnio de clculo para a conduo de calor no interior do piso ........... 58

Figura 3.4: Esquema das condies de contorno ..................................................... 60

Figura 3.5: Volume de controle e respectiva nomenclatura utilizada para a

discretizao ............................................................................................................. 62

Figura 3.6: Condies de contorno do VC nos ns internos ..................................... 65

Figura 3.7: Condies de contorno do VC na superfcie convectiva ......................... 68

Figura 3.8: Condies de contorno para o canto superior esquerdo ........................ 71

Figura 3.9: Condies de contorno para o canto superior direito ............................. 72

Figura 3.10: Condies de contorno para o canto inferior esquerdo ........................ 73

Figura 3.11: Condies de contorno para o canto inferior direito ............................. 74

Figura 3.12: Condies de contorno para a fronteira adiabtica esquerda............... 75

Figura 3.13: Condies de contorno para a fronteira adiabtica direita .................... 76

Figura 4.1: Diferena de temperatura mxima superficial em funo da temperatura

da gua para as diferentes distncias entre tubos. .................................................. 80

8

Figura 4.2: (a) Diferena da temperatura superficial para uma Tw = 60C. (b)

Diferena da temperatura superficial para uma Tw = 40C. ..................................... 81

Figura 4.3: Temperatura superficial do piso com reduo da temperatura da gua de

60C para 24C em funo da distancia entre tubos. ............................................... 82

Figura 4.4: Tempo de equalizao de temperaturas e custo em funo da distncia

entre tubos ................................................................................................................ 84

Figura 4.5: Perfil da distribuio das temperaturas no interior do piso ..................... 85

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1: Cidades com recomendao de uso de calefao artificial. NBR 15220:3

Desempenho Trmico de Edificaes. .................................................................. 17

Tabela 2.1: Faixas de temperaturas segundo o material de revestimento. Fonte:

ASHRAE, 2009. ........................................................................................................ 25

Tabela 3.1: Resistncia trmica mnima do isolante para sistemas de calefao por

piso radiante. Fonte: EN 1264-4:2008 ...................................................................... 51

Tabela 3.2: Clculo de espessura mnima do isolante de acordo com o tipo de local e

as condies ambientais. .......................................................................................... 52

Tabela 3.3: Propriedades termofsicas dos materiais. Fonte: NBR 15220:

Desempenho Trmico de Edificaes ...................................................................... 54

Tabela 3.4: Coeficientes de conveco para calefao por pisos radiante. Fonte:

Zhang, 2012. ............................................................................................................. 69

Tabela 4.1: Tempo que demora o sistema em atingir os 23C em funo da

temperatura da gua e do distncia entre os tubos. ................................................. 79

Tabela 4.2: Diferena mxima de temperatura na superfcie do piso em funo da

temperatura da gua e do distncia entre os tubos. ................................................. 79

Tabela 4.3: Diferena mxima de temperatura na superfcie do piso na faixa tima

de conforto em funo do distncia entre os tubos. ................................................. 83

10

LISTA DE SIMBOLOS

Smbolo Descrio

D Dimetro (mm)

A rea (m2)

Coeficiente de transferncia de calor (W/(m2K) Comprimento do circuito (m) Fluxo de calor (W/m2) Distancia entre os tubos (m) T Temperatura (C)

Densidade (kg/m3)

C Calor especfico (J/kgK) Condutividade Trmica (W/mC)

Fluxo de calor que atravessa a rea (W) Difusividade Trmica (m2/s)

T Temperatura do solo (C) T Temperatura do ar (C) h Coeficiente de transferncia de calor por conveco (W/m2K) h Coeficiente de transferncia de calor por radiao (W/m2K) h Coeficiente de transferncia de calor total (W/m2K) Dimenso em x do volume de controlo (mm) Dimenso em y do volume de controlo (mm) Distancia entre os centros dos volumes de controlo P e W (mm) x Distancia entre os centros dos volumes de controlo P e E (mm) y Distancia entre os centros dos volumes de controlo P e N (mm)

11

y Distancia entre os centros dos volumes de controlo P e S (mm) T Temperatura do volume de controle P no instante de tempo anterior (C) Intervalo de tempo (s)

12

SUMARIO

CAPITULO 1 ............................................................................................................ 14

1 INTRODUO ................................................................................................... 14

1.1 Necessidade de aquecimento no Brasil ...................................................... 15

1.2 Estado da Arte ............................................................................................... 18

1.3 Objetivo do trabalho ..................................................................................... 20

CAPITULO 2 ............................................................................................................ 22

2 REVISAO BIBLIOGRAFICA .............................................................................. 22

2.1 Conforto Trmico .......................................................................................... 22

2.2 Sistemas de calefao .................................................................................. 26

2.3 Sistemas de calefao radiante ................................................................... 27

2.4 Sistemas de calefao por piso radiante .................................................... 28

2.5 O desempenho do sistema de piso radiante .............................................. 33

2.6 Parmetros de projeto de um sistema de calefao por piso radiante .... 34

2.6.1 Temperatura de fornecimento da gua ........................................................................ 35

2.6.2 Circuitos de tubos .......................................................................................................... 36

2.6.3 Condutividade trmica dos materiais ............................................................................ 36

2.6.4 Temperatura superficial do piso .................................................................................... 37

2.6.5 Espessura do piso .......................................................................................................... 38

2.6.6 Distncia entre os tubos ................................................................................................ 38

2.7 Uso de energias renovveis ......................................................................... 39

2.8 Estratgias de controle ................................................................................ 40

2.9 Transferncia de Calor ................................................................................. 42

2.10 Modelos matemticos de transferncia de calor ................................. 43

2.11 Modelo matemtico do sistema de calefao por piso radiante ........ 45

13

CAPITULO 3 ............................................................................................................ 49

3 MATERIAIS E MTODOS ................................................................................. 49

3.1 Descrio e projeto do sistema ................................................................... 49

3.2 Modelo matemtico da transferncia de calor no piso radiante ............... 54

3.2.1 Equao geral da conduo de calor ............................................................................. 55

3.2.2 Definio do domnio ..................................................................................................... 58

3.2.3 Condies de contorno .................................................................................................. 59

3.3 Mtodo numrico para o clculo das temperaturas .................................. 61

3.3.1 Mtodo dos volumes finitos .......................................................................................... 62

CAPITULO 4 ............................................................................................................ 77

4 RESULTADOS E DISCUSSES ....................................................................... 77

CAPITULO 5 ............................................................................................................ 86

5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 86

CAPITULO 6 ............................................................................................................ 88

6 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .................................................................. 88

ANEXO A CODIGO COMPUTACIONAL .............................................................. 98

14

CAPITULO 1

1 INTRODUO

Desde os tempos das primeiras civilizaes humanas o homem tem realizado

uma constante busca pelo prprio conforto o que tem gerado no transcurso do

tempo, a criao de diversos sistemas e tecnologias para a climatizao de

ambientes, procurando satisfazer a incessante necessidade de conforto e bem estar

das pessoas.

Assim, as primeiras civilizaes conseguiram manter certo nvel de conforto

trmico por meio da calefao procedente de zonas subterrneas. Os romanos

empregavam um sistema para aquecer o ambiente conhecido como Hypocaustum,

do grego hypo (debaixo) e kauston (queimado), ilustrado na Figura 1.1; e na Coria,

desde o 400 a.c. at hoje, utilizado o sistema ONDOL, ilustrado na Figura 1.2., que

significa pedra quente e consiste em fogueiras sob o pavimento que tornam todo o

cho da casa num grande radiador. Para aproveitar o calor, a cozinha era construda

embaixo dos demais cmodos da casa. (PARK, 1995).

Figura 1.1: Sistemas para aquecimento de

gua e de ar utilizados na Roma antiga.

fonte: Lamberts, et al. (1997).

Figura 1.2: Sistema ONDOL. Fonte: Song, G.

(2005).

15

Atualmente ao redor do mundo, so utilizados diversos sistemas para

calefao de ambientes como so: os radiadores, que podem ser a gs, eltrico ou a

vapor; as lareiras; os sistemas de ar forado; os aquecedores portteis com

resistncias eltricas; e os sistemas radiantes que compreendem tubulaes

hidrulicas ou eltricas tanto em paredes e tetos quanto no piso.

Este ltimo corresponde ao interesse desta pesquisa devido s suas mltiplas

vantagens com relao aos outros sistemas convencionais que hoje possuem uma

maior participao no mercado como so:

Oferecem um maior conforto trmico (OLESEN, 1980),

Melhor controle de ventilao (CHUANGCHID, P.; KRARTI, M., 2000)

Maior desempenho trmico (STRAND, R.K.; PEDERSEN, C.O., 1997).

Permitem uma maior economia de energia sem limitar o conforto

trmico dos ocupantes (SATTARI, S.; FARHANIEH, B., 2006).

1.1 Necessidade de aquecimento no Brasil

No Brasil, existe uma grande diversidade climtica devido ao seu tamanho e

extenso territorial. Basicamente o pas possui trs tipos de clima que so:

equatorial, tropical e temperado, significando temperaturas elevadas em quase a

totalidade do territrio, porm pesquisas avaliam que nas regies sul do pas

propcia a utilizao de sistemas de calefao nos meses mais frios de inverno

devido s baixas temperaturas que ocorrem nessas regies. (GOULART, 1993).

Nos Estados de Minas Gerais, So Paulo, Paran, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, nos meses de inverno, as temperaturas mnimas podem chegar at

os -4C a -5C no ms mais frio provocando uma sensao de desconforto em seus

habitantes (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Devido a isto,

alguns trabalhos esto sendo desenvolvidos para determinar a necessidade de

aquecimento no Brasil com a aplicao de dados climticos para o aperfeioamento

dos sistemas de calefao nas zonas mais frias. A maioria dos trabalhos se

16

concentra no estado de So Paulo onde as informaes relativas distribuio de

todas as redes de estaes climticas do estado esto organizadas dentro do

projeto Banco de Dados Climticos, desenvolvido no IPT (Instituto de Pesquisas

Tecnolgicas do Estado de So Paulo).

Outros trabalhos de armazenamento de dados climticos foram implantados

tambm para a cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, e para Curitiba no

Estado de Paran. A necessidade de maiores informaes sobre dados

metrolgicos nestes estados motivou o trabalho conjunto do Instituto de Saneamento

Ambiental (ISAM) e da Companhia Paranaense de Energia (COPEL), no intuito de

formar um banco de dados horrios relativos a estes estados (FREITAS, 1991).

O estado do Rio Grande do Sul apresenta as maiores amplitudes trmicas

anuais, atingindo temperaturas no entorno ou abaixo de 0 C durante o inverno, e

facilmente superando os 30C nos dias quentes e midos durante o vero (INMET,

2011).

A norma brasileira NBR 15220-3: Desempenho Trmico de Edificaes,

estabelece diferentes estratgias de condicionamento trmico para as edificaes,

aconselhando amenizar o desconforto trmico por frio mediante o uso de

aquecimento artificial para as zonas bioclimticas 1 e 2, correspondente a um total

de 45 cidades distribudas em 6 estados do pas.

A Tabela 1.1 a seguir, resume as cidades cujos climas foram classificados por

dita norma para as quais se recomenda o uso de aquecimento artificial para a

calefao de ambiente.

17

Tabela 1.1: Cidades com recomendao de uso de calefao artificial. NBR 15220:3

Desempenho Trmico de Edificaes.

Estado Cidade Zona Bioclimtica

Minas Gerais

So Joo Del Rei 2

So Loureno 2

Trs Coraes 2

Paran

Castro 1

Curitiba 1

Guarapuava 1

Iva 2

Jaguariaiva 2

Maring 1

Palmas 1

Ponta Grossa 2

Rio Negro 2

Rio de Janeiro Nova Friburgo 2

Terespolis 2

Rio Grande do Sul

Alegrete 2

Bag 2

Bom Jesus 1

Caixas do Sul 1

Cruz Alta 2

Encruzilhada do Sul 2

Passo Fundo 2

Pelotas 2

Santa Maria 2

Santa Vitria do Palmar 2

So Francisco de Paula 1

So Luiz Gonzaga 2

Uruguaiana 2

18

Estado Cidade Zona Bioclimtica

Santa Catarina

Ararangu 2

Lages 1

Laguna 2

Porto Unio 2

So Joaquim 1

Urussanga 2

Vales 2

Xanxer 2

So Paulo

Campos do Jordo 1

Casa Grande 2

Itapeva 2

Piracicaba 2

1.2 Estado da Arte

Estudos sobre os diferentes tipos de sistemas de calefao (OLESEN, 1980;

LEBRUN et al., 1977; LEBRUN et al., 1979) mostram que a maioria destes sistemas

capaz de fornecer um ambiente trmico aceitvel, portanto o sistema de calefao

por piso radiante considerado uma tecnologia promissria no mbito do

condicionamento de ambientes devido a suas mltiplas vantagens com relao aos

outros sistemas que tem maior mercado atualmente.

Na Alemanha, Austrlia e Dinamarca, 30% a 50% das novas residncias tm

piso radiante. Enquanto na Coria, cerca de 90% das residncias utilizam este tipo

de sistemas (Olesen, 2002). Na Europa, o uso deste sistema j representava mais

de 50% das residncias novas na dcada de 90 (KILKIS et al., 1994; ATHIENITIS et

al., 1993) e continua aumentando at hoje. Com isso, o uso cada vez mais

19

significativo desta tecnologia tem resultado em variadas pesquisas que avaliam as

vantagens deste sistema sobre os clssicos.

Neste sistema, o piso a fonte principal de energia, e o fato de estar em

contato permanente com o usurio, gera maior sensao de conforto que os outros

sistemas. Tambm, ao produzir-se a calefao desde o piso para o ambiente, as

diferenas de temperatura na direo vertical, produzem um gradiente negativo, o

que significa menores temperaturas na parte da cabea, provocando uma melhor

sensao trmica desde o ponto de vista do usurio (OLESEN, 2002). Os estudos

tambm apiam o fato do sistema ser mais estvel com respeito s condies

climticas do lugar em comparao com os outros sistemas, devido a que o calor se

mantm acumulado no pavimento ajudando estabilidade da transferncia de calor

nos perodos do dia onde a temperatura externa menor.

Os sistemas de calefao por piso radiante mais investigados e mais

utilizados so os que utilizam a gua como principal meio de transporte do calor,

porm, ultimamente tem havido vrios estudos que consideram o ar como principal

elemento condutivo.

Tm-se realizado vrias pesquisas sobre a potencial conservao de energia

deste sistema comparado aos clssicos sistemas de calefao e esfriamento. Sattari

e Farhanieh (2006) comprovam que os sistemas de calefao radiantes so uma

promissria tecnologia muito eficiente para a poupana de energia no setor

comercial e no setor residencial, garantindo tambm o aumento do conforto trmico

dos ocupantes. Como conseqncia destes resultados, tem havido um interesse

crescente nos ltimos anos para caracterizar o desempenho de transferncia de

calor e o conforto trmico proporcionado por tais sistemas melhorando assim a

eficincia do sistema e as condies de conforto dos usurios.

20

1.3 Objetivo do trabalho

No Brasil, a massificao deste tipo de sistemas atualmente limitada pelo

preo da instalao oferecida no mercado, pois os materiais utilizados para instalar

essa tecnologia so, na maioria das vezes, importados dos EUA e da Europa, o que

aumenta o seu valor.

Na Europa, os sistemas de calefao por piso radiante so uma tecnologia

freqentemente utilizada em prdios comerciais e residenciais e a sua popularidade

continua aumentando (McGRAW, 2008). No Brasil, o uso deste tipo de sistemas

restrito a um uso exclusivamente residencial, podendo atingir no futuro, um mercado

que abranja edifcios de escritrio, escolas, hospitais, e prdios pblicos.

Portanto, considerando as baixas temperaturas que ocorrem nos meses de

inverno no sul do pas e as vantagens comparativas do sistema de calefao por

piso radiante com respeito aos outros sistemas de calefao, este trabalho pretende

abordar os conceitos de conforto trmico e de transferncia de calor entre os

componentes do sistema de piso radiante para, com isso, analisar os parmetros de

projeto mais importantes para o desempenho trmico do sistema, e como eles

influenciam na obteno de uma adequada temperatura ambiente sem comprometer

o conforto trmico e o bem-estar das pessoas.

Com o intuito de diminuir o custo inicial do sistema de calefao por piso

radiante, este trabalho busca otimizar o parmetro de projeto referente distancia

entre os tubos dos sistema, para diminuir o uso de materiais, reduzindo custos de

investimento sem afetar as condies de conforto trmico e a qualidade do

ambiente. O trabalho considera algumas caractersticas de conforto trmico, como a

temperatura superficial do piso que tem conseqncia na melhora da eficincia

energtica do sistema. Isto, junto com os fundamentos tericos do fenmeno da

transferncia de calor, permitem distinguir os parmetros de projeto relevantes para

a otimizao de materiais sem alterar as condies de conforto.

21

Com isso, este trabalho analisa o aumento da distncia entre os tubos do

sistema de calefao considerando alguns destes parmetros mediante a resoluo

numrica da conduo de calor no interior do piso, com a finalidade de reduzir o uso

de materiais a serem utilizados na instalao. Entende-se que um aumento na

distncia entre os tubos, implica um maior tempo para atingir a homogeneidade da

temperatura do piso, entretanto, significa uma reduo considervel no custo da

instalao. Isto permite ao usurio escolher a distncia entre tubos a favor de um

sistema de calefao mais barato, embora isso implique desistir do conforto timo.

Para este propsito, foi analisado o processo de transferncia de calor por conduo

bidimensional no interior do piso em regime transitrio utilizando o mtodo dos

volumes finitos na formulao implcita. Para a resoluo numrica das equaes

governantes foi criado um cdigo computacional na linguagem Matlab.

A resoluo numrica do problema da transferncia de calor que ocorre no

interior do piso por mdio de sistemas computacionais, uma soluo rpida para

determinar a distribuio das temperaturas no interior do piso aquecido, e permite

avaliar a rapidez com que o sistema atinge o ponto timo de conforto trmico. Neste

trabalho, isto ser medido em base a distancia que separam os tubos do circuito e

ao tempo que o sistema radiante demora em atingir dadas temperaturas.

Com isso, este estudo considera-se relevante em virtude da possibilidade de

reduzir a quantidade de material a ser utilizado na instalao do sistema sem

detrimento das condies de conforto trmico do ambiente.

22

CAPITULO 2

2 REVISAO BIBLIOGRAFICA

2.1 Conforto Trmico

Segundo a ASHRAE (American Society of Heating, Refrigerating and Air

Conditioning Engineers), o conforto trmico uma condio da mente que expressa

satisfao com o ambiente trmico, o que o define como um processo cognitivo

envolvendo variadas condies que so influenciadas por processos fsicos,

psicolgicos e fisiolgicos. Em geral, o conforto trmico ocorre quando as

temperaturas do corpo se mantm dentro de pequenas variaes, a umidade da

pele baixa e o esforo fisiolgico para a regulao da temperatura mnimo.

Uma pessoa pode sentir desconforto quando uma ou mais partes do seu corpo

esto muito frias ou muito quentes segundo sua prpria percepo de temperatura.

Pequenas variaes no fluxo de calor provocam uma reao corporal para regular a

temperatura interna, o que faz aumentar o esforo fisiolgico permitindo manter a

temperatura do corpo e dessa forma compensar aquela variao que provoca o

desconforto.

Segundo a ASHRAE (2009), os principais fatores capazes de gerar desconforto

trmico num ambiente determinado so: radiao trmica assimtrica que acontece

devido a uma distribuio no uniforme da temperatura radiante produzida pela

existncia de superfcies frias ou quentes; correntes de ar; diferena vertical das

temperaturas do ar; e temperatura superficial de pisos muito fria ou muito quente.

Com relao radiao trmica assimtrica, as normas internacionais ISO

Standard 7730 e ASHRAE Standard 55 entregam diretrizes respeito assimetria da

temperatura radiante baseadas nos estudos de Fanger et al. (1980) alusivos aos

limites do conforto trmico numa habitao climatizada por teto radiante.

23

Da mesma forma, diversos estudos foram realizados para analisar a influencia

das correntes de ar na sensao de conforto. Um estudo sobre os efeitos da

velocidade do ar sobre um corpo determinou que uma velocidade de 0,25 m/s ou

menos, no afeta a aceitabilidade trmica em um ambiente. (Berglund and Fobelets,

1987 apud. ASHRAE, 2009). Este estudo tambm demonstra que no existe uma

relao entre a velocidade do ar e a assimetria da temperatura radiante.

Logo, com relao diferena das temperaturas verticais do ar, a temperatura

geralmente aumenta com a altura sobre o nvel de piso. Se o gradiente de

temperatura for o suficientemente grande, pode ocorrer um desconforto seja na

cabea ou nos ps, por temperaturas frias ou muito quentes. Diferentes estudos

realizados por McNair (1973), McNair e Fishman (1974), e Olesen et al. (1979)

(apud. ASHRAE, 2009) estudaram os efeitos desta diferena de temperatura no

conforto trmico. A Erro! Fonte de referncia no encontrada. mostra a

porcentagem de insatisfao como uma funo da temperatura vertical entre a

cabea (1,1 m sobre o piso) e os tornozelos (0,1 m sobre o piso). Depreende-se que

uma maior diferena de temperatura entre a cabea e os tornozelos representa uma

maior porcentagem de insatisfao. Esta observao foi verificada

experimentalmente por Fanger et al. (1985).

Quanto temperatura da superfcie do piso, devido a este estar em contato

direto com os ps dos usurios, o desconforto ocorre devido a temperaturas muito

altas ou muito baixas. Alm disso, a temperatura superficial do piso influencia

significativamente na temperatura radiante media (TRM) que est diretamente ligada

com a sensao de conforto trmico.

Por outro lado, segundo Olesen (2002), os dois parmetros principais que

determinam a sensao de conforto trmico so: (1) a temperatura do ar ambiente; e

(2) a temperatura radiante media (TRM). A influencia combinada dessas duas

temperatura se expressa como a temperatura operativa, que segundo o autor, pode

ser aproximada media entre a temperatura do ar e a TRM quando a velocidade do

24

ar menor a 0,2 m/s. Isto significa que ambas as temperaturas so igualmente

importantes para o nvel de conforto trmico de um ambiente.

Figura 2.1: Porcentagem de pessoas insatisfeitas como funo da diferena de temperatura entre a

cabea e os tornozelos. Fonte: ASHRAE, 2009.Capitulo 9.

O estudo mais extenso que relaciona a influncia da temperatura do piso com

o desconforto nos ps foi realizado por Olesen (1977, 1977b), quem se baseou em

seu prprio experimento e nos dados obtidos por Nevins e Flinner (1958), Nevins,

Michaels e Feyerherm (1964), e Nevins e Feyerherm (1967), achando que os

matriais do piso so importantes para a sensao trmica de pessoas descalas.

(e.g., piscinas, academias, vesturios, banheiros, quartos, etc).

Na Tabela 2.1 mostram-se faixas de temperaturas aceitveis para alguns

materiais de revestimento de piso utilizados mais frequentemente:

25

Tabela 2.1: Faixas de temperaturas segundo o material de revestimento.

Fonte: ASHRAE, 2009.

Txteis (tapetes) 21 a 28C

Pinho 22,5 a 28C

Carvalho 24,5 a 28C

Linleo duro 24 a 28C

Concreto 26 a 28,5C

Com isso, devido sensao de desconforto que provoca a sensao de ps

frios, a ASHRAE recomenda o uso de materiais de baixo coeficiente de contacto

(cortia, madeira, tapetes), ou bem, o uso de sistemas radiantes de calefao para

evitar a reao lgica das pessoas de quererem aumentar a temperatura ambiente

devido ao seu desconforto provocado pelos ps frios, permitindo uma diminuio no

consumo de energia utilizado para a climatizao do ambiente.

A Figura 2.2 representa a relao entre a temperatura do piso e a

porcentagem de insatisfeitos obtida por Olesen (1977b).

Figura 2.2: Porcentagem de insatisfeitos em funo da temperatura do piso. Fonte: ASHRAE, 2009.

26

Alm de todos os parmetros mencionados anteriormente, outros fatores

como a idade, o sexo, adaptabilidade, ritmos cardacos, metabolismo e vestimenta

dos ocupantes, tambm influenciam sutilmente na sensao de conforto trmico e

esto amplamente estudados na literatura.

2.2 Sistemas de calefao

O principal propsito dos sistemas de calefao manter as condies

mnimas para o conforto trmico dos humanos. De uma forma geral, os sistemas de

calefao so separados em duas categorias principais: (1) 100% convectivos ou de

ar forado, que aquecem diretamente o ar da habitao; e (2) por radiao onde a

fonte de calor integrada nos paramentos da envolvente do edifcio, transformando

as superfcies em grandes superfcies radiantes.

As diferenas entre os principais tipos de sistemas de calefao foram

estudadas por Olesen et al. (1980), Lebrun e Marret (1977, 1979). Em geral, os

resultados destes estudos mostram que a maioria dos sistemas capaz de

proporcionar um ambiente termicamente aceitvel e apontam a que um aumento no

isolamento de paredes e janelas, permite diminuir as perdas de calor pela

envolvente, provocando que as diferenas entre os diferentes sistemas sejam

mnimas.

Por outra parte, diversas pesquisas prestam especial ateno aos sistemas de

calefao por radiao, concluindo que estes apresentam diversas vantagens sobre

os sistemas de conveco forada. Por exemplo, Strand e Pedersen (1997)

compararam o consumo de energia do sistema radiante com um sistema

convencional de ar forado, concluindo que o sistema radiante mais eficiente

enquanto oferece as mesmas condies de conforto trmico.

27

2.3 Sistemas de calefao radiante

Olesen (2002) compara os perfis de temperatura ambiente para diferentes

sistemas de calefao. O grfico apresentado na Figura 2.3:

Figura 2.3: Diferenas verticais da temperatura de ar medidas experimentalmente para diferentes

sistemas de calefao. O fluxo de calor foi de 50 W/m2. Fonte: Olesen, 2002.

Segundo Chuangchid e Krarti (2000), as principais queixas dos ocupantes de

um edifcio que utilizam sistemas HVAC (Heating, Ventilation and Air Conditioning)

so: (1) a m qualidade de ar no interior do ambiente devido falta de ventilao

natural; e (2) um conforto trmico insuficiente devido ao ar turbulento dos sistemas

de condicionamento, inclusive com velocidades baixas de ar. O autor acrescenta

que os sistemas radiantes, principalmente o piso radiante hidrulico, oferecem

variadas vantagens sobre os sistemas HVAC convencionais, incluindo um melhor

conforto trmico e um melhor controle da ventilao.

Larsen et al. (2007) tambm garante diversas vantagens dos sistemas

radiantes em relao aos sistemas de conveco forada como so: um ambiente

confortvel com temperatura homognea; menor transporte de poeira melhorando a

qualidade do ar; melhor aproveitamento do espao; dispensa de limpezas

peridicas; e ausncia de rudos.

28

Alm destas vantagens, um estudo realizado no Ir (SATTARI e FARHANIEH,

2006) comprova que os sistemas de calefao radiantes so uma promissria e

muito eficiente tecnologia para a economia de energia no setor residencial e no setor

da construo civil, garantindo tambm o aumento do conforto trmico dos

ocupantes. Ren et al. (2010) avaliza esta proposta realizando um experimento com

um sistema de piso radiante, numa habitao de 30 m2 na China e compara os

resultados obtidos nas medies com os obtidos por simulao. Neste estudo, os

autores analisaram mediante experimento, a distribuio dos tubos no permetro da

habitao em vez do circuito normalmente distribudo em toda a superfcie.

Demonstra-se que com este sistema as temperaturas para calefao podem ser

diminudas 15C a 20C e que as de esfriamento 10C comparadas com os outros

sistemas comuns.

Por outra parte, Miriel, Serres e Trombe (2002) avaliaram o desempenho

trmico dos sistemas radiantes estudando o conforto trmico por meio de um

modelo de simulao para tetos radiantes. Seu trabalho define limites trmicos de

acordo com as cargas trmicas da habitao e as condies climticas do lugar. O

autor enfatiza que um sistema radiante uma forma eficiente de transportar calor

onde no so requeridos grandes fluxos de ar. Os resultados mostram que o

sistema pode ser usado em edifcios com bom isolamento trmico. Seu poder

limitado e as cargas de calor e frio dos edifcios devem ser baixas. O modo de

calefao tem bons resultados com a reduo da temperatura do setpoint durante a

noite. Alm das suas qualidades fundamentais, os sistemas de teto radiante

permitem uma reduo de consumo de energia de um 10%.

2.4 Sistemas de calefao por piso radiante

A base do funcionamento do sistema de calefao por piso radiante

primeiramente, a transferncia do calor entre a gua quente que circula pelos tubos

incorporados no interior do piso e a superfcie deste; e em segundo lugar, a

transferncia de calor entre a superfcie do piso e o ambiente. As velocidades do ar

29

resultantes destas transferncias de calor so menores a 0,1 m/s devido a que a

distribuio da temperatura no interior do ambiente mais homognea. (BOZKIR e

CANBAZOGLU, 2004).

Entre os sistemas existentes de aquecimento radiante, o piso radiante oferece

excelente referencias devido a que se ajusta mais adequadamente ao perfil timo de

temperaturas do corpo humano. Este perfil aquele segundo o qual, a temperatura

do ar altura dos ps ligeiramente superior temperatura do ar altura da

cabea. Isto se traduz numa percepo para o usurio, de uma maior sensao de

conforto. A distribuio homognea da temperatura no ar, produzida neste tipo de

sistema, se deve forma como ocorre o aquecimento do ambiente. Em uma

habitao aquecida com um sistema de piso radiante ocorrem diferenas de

temperatura na direo vertical devido superfcie aquecida encontrar-se na parte

inferior, e as menores temperaturas na parte superior, produzindo uma melhor

sensao trmica para o usurio (OLESEN, 2002). As velocidades do fluxo de ar

resultantes da transferncia de calor entre os componentes do sistema so menores

que 0,1 m/s j que a distribuio da temperatura no interior do ambiente mais

homognea (BOZKIR e CANBAZOGLU, 2004).

A associao alem de alergia e asma Deutscher Allergie und Asthmabund

fez um estudo que mostra que a calefao por piso reduz favoravelmente as

condies de vida dos caros do p domestico em comparao com outros sistemas

de calefao devido a que as maiores temperaturas em tapetes e colches

diminuem a umidade relativa. Tambm, devido aos caros procurar em reas

superiores, so facilmente eliminados pelas aspiradoras (OLESEN, 2002). Outro

estudo encontrou nveis menores de caros em casas coreanas que em japonesas

(SUGAWARA, 1996). Isto se atribui ao mesmo efeito, mas no foi verificada

diretamente. Os sistemas de calefao radiante resultam em menos transporte de

p comparado aos sistemas convectivos.

Outro estudo avalia que o sistema de calefao por piso, diferentemente dos

outros sistemas, permite uma reduo da temperatura do ar no ambiente em at 2C

30

sem afetar o conforto trmico, permitindo ainda uma economia de 15 a 30% de

energia. (GIVONI, 1976).

Neste tipo de sistemas de calefao que utiliza o piso como fonte de radiao

identifica-se trs tipos de instalaes de acordo com a fonte de calor:

(a) Sistema Eltrico: onde o calor gerado no interior do piso por meio de cabos

eltricos, tipo resistncias, aquecendo diretamente a massa trmica do piso. O total

da energia consumida transformado em calor, o que significa um diferencial em

relao aos sistemas de aquecimento indireto com queima de combustveis para o

aquecimento de gua.

(b) Sistema com circulao de ar: no qual se faz circular ar quente sob o piso.

Bozkir e Canbazoglu (2004) usaram um modelo matemtico baseado no equilibro

trmico entre o fluxo de ar que circula entre os tubos, o piso e o ar ambiente para

realizar uma anlise do desempenho trmico do sistema, concluindo que a pesar do

sistema por ar quente ter uma baixa eficincia de calefao, pode ser usado como

uma alternativa ao sistema convencional de piso radiante com gua. O desempenho

do sistema de calefao por ar quente pode ser satisfatrio para casas bem isoladas

em condies climticas leves e casas bem mais isoladas em condies climticas

mais severas. Assim como o pavimento radiante com circulao de gua, este tipo

tem uma distribuio homognea atravs da habitao. No produz correntes de ar,

nem pontos frios nem quentes. Os autores destacam que a rea efetiva de

transferncia de calor para a calefao por piso radiante com fluxo de ar quente

maior que nos sistemas de calefao com gua devido utilizao de condutos de

fluxo de ar no redor dos tubos.

(c) o piso radiante hidrulico: no qual distribuda gua quente no sistema

atravs de tubos de cobre ou polietileno de alta densidade, transmitindo logo o calor

para o piso. O principio bsico do sistema consiste na impulso de gua quente a

uma temperatura por volta dos 40C (Recomendao da Norma Europia EN 1264 -

Sistemas de calefao e refrigerao de circulao de gua integrada em

31

superfcies (Water Based Surface Embedded Heating and Cooling Systems) e a

gua circula atravs dos tubos que esto envolvidos por uma camada de

argamassa. Esta camada, situada sobre os tubos e sob o piso, absorve a energia

trmica dissipada pelos tubos, transferindo-a homogeneamente para a superfcie

que, por sua vez, troca calor com o ambiente atravs da radiao e da conveco

natural. Entre os diferentes tipos de piso radiante, o piso radiante hidrulico o mais

utilizado (OLESEN, 2002).

Na Figura 2.4 mostra-se um esquema dos componentes do sistema onde

possvel ver que os tubos so incorporados no contrapiso e cobertos com uma

camada de argamassa com o intuito de armazenar e conduzir superfcie a energia

calorfica transmitida pela gua quente que circula no interior das tubulaes.

O estudo realizado por Fang, Clausen e Fanger (1998) mostra que o sistema

por piso radiante requer menos temperaturas para obter um nvel de conforto

adequado devido a que o usurio percebe o ar de melhor qualidade a temperaturas

menores.

Para o bom funcionamento do sistema de calefao por piso radiante

necessrio diminuir as perdas de calor o que requer a aplicao de uma camada

Figura 2.4: Esquema dos componentes do sistema. Fonte: Adaptado Ateli do

Clima.

32

isolante entre a laje e o contrapiso com o intuito de diminuir a inrcia trmica do

sistema, reduzindo a massa a aquecer e evitando as perdas de calor para os

ambientes no climatizados. O isolante tambm funciona como barreira anti-

umidade, colocada entre a laje e a superfcie emissora de modo a evitar a umidade

por capilaridade.

As perdas de calor do pavimento ocorrem, na grande maioria das vezes, a

partir da laje para o solo e em propores menores a partir do piso para o ar

ambiente. Neste tipo de calefao, as perdas de calor que se tem do pavimento para

o solo no so uniformes e representam at 30% do total de calor fornecido pelo

sistema (SARTAIN et al. apud CHUANGCHID e KRARTI, 2000).

No estudo de Chuangchid e Krarti (2000), os autores analisaram a variao

mensal das perdas de calor pelo piso utilizando isolante trmico e demonstraram

que a colocao do isolante, embaixo do contra piso, no afeta significativamente a

transferncia de calor pelo pavimento, mas tem efeitos considerveis na temperatura

superficial do piso e nas perdas de calor pela laje. O mesmo estudo menciona que

outro fator importante que tem um efeito nas perdas de calor e, portanto, no

rendimento do sistema de calefao a temperatura da gua que circula pelos

tubos.

Construtivamente o sistema considera grandes quantidades de massa trmica.

Tradicionalmente consideram-se 10 cm de espessura para um piso de concreto ou

equivalente com calefao contnua e uma temperatura interior quase constante,

assim como uma temperatura superficial do piso relativamente baixa (24 -26C).

(ASHRAE, 2009). Com o uso do sistema de pisos com revestimento de madeira, tem

se observado menores quantidades de massa trmica 3 cm de espessura de

concreto ou equivalente. (ATHIENITIS, 1997). Algumas bibliografias de instaladores

e empresas fornecedoras do sistema recomendam que esta camada de argamassa

seja de 5 cm sobre os tubos (Manual UPONOR, 2009). Espessuras maiores

aumentam a inrcia trmica do sistema, enquanto as menores reduzem a

capacidade da camada de argamassa de resistir a esforos cortantes.

33

2.5 O desempenho do sistema de piso radiante

Olesen (1980) verifica o bom desempenho do sistema demonstrando que a

temperatura ambiente sofre poucas variaes e tende a manter-se num intervalo de

conforto adequado inclusive com temperaturas exteriores elevadas. Afirma que

nestas condies o gradiente de temperatura entre a temperatura superficial e a

temperatura ambiente pequeno o que respalda o bom desempenho do sistema. O

autor recomenda tambm evitar revestimentos de solo com alta resistncia trmica

como tapetes, devido a que aumentam a temperatura desejada e as perdas de calor

do pavimento.

Por outro lado, Bozkir e Canbazoglu (2004) analisaram o desempenho

trmico do sistema num estudo experimental comparando os resultados com

estudos tericos, obtendo diferenas de temperatura de s 0,5C. Deve-se ter em

conta que seus resultados consideram portas e janelas como se fosse muros por ser

uma rea quase desprezvel comparada com a das paredes. Se fossem

consideradas diferentes, a diferena entre os resultados seria menor, devido a que

os coeficientes de transferncia de calor de portas e janelas so maiores que os das

paredes e teto.

Ren et al. (2010) aponta que o uso de dimetros maiores e de materiais que

ajudem condutividade trmica pode melhorar a capacidade energtica do sistema.

A uma temperatura mdia de 35C e 30C correspondentes temperatura de

entrada e retorno da gua para um sistema de calefao, obteve-se uma quantidade

mdia de energia de 70W e 50W por metro longitudinal de tubo.

Em outra pesquisa (ATHIENITIS, 1997) sobre o rendimento trmico de um

edifcio com uso de calefao por piso radiante e energia solar passiva, o autor

determina as quantidades satisfatrias da massa trmica no piso e as estratgias de

controle eficazes para a economia de energia sem interferir no conforto trmico,

concluindo satisfatoriamente que a massa trmica neste tipo de sistema pode ser

usada para o armazenamento tanto do calor fornecido quanto dos ganhos de calor

34

por energia solar passiva. Na pesquisa, os resultados apontam que o sistema

entrega calor se a temperatura controlada era pelo menos meio grau mais baixa do

que o setpoint desejado. Para o controle da temperatura do ar ambiente, foi

substituda a temperatura operativa pela temperatura do ar ambiente, mas os

resultados obtidos mostraram temperaturas muito altas, fazendo com que o autor

propusesse outras tcnicas de projeto e controle para obter temperaturas menores.

2.6 Parmetros de projeto de um sistema de calefao por piso

radiante

Vrios trabalhos publicados na literatura tratam sobre os parmetros

determinantes para o conforto trmico na utilizao de sistemas de calefao por

piso radiante, concluindo que o mais relevante a temperatura de entrada da gua

determinante para a temperatura superficial do piso e, por conseguinte, para a

temperatura ambiente. Olesen (2002) nos seus estudos para destacar o sistema de

calefao por piso radiante determina que os parmetros de projeto que afetam o

conforto trmico do ambiente so: (1) a distancia entre as tubulaes; (2) a diferena

de temperatura entre a temperatura de entrada da gua e a temperatura de retorno;

e (3) a disposio do circuito de tubulaes. Com isso, o autor demonstra que os

parmetros determinantes para a temperatura superficial do pavimento e, por

conseguinte da temperatura do ambiente, so a distancia entro os tubos e a

temperatura da gua.

Sattari e Farhanieh (2006) em seu estudo sobre os parmetros que

determinam o desempenho de um sistema de calefao por piso radiante revela

como um parmetro individual pode influenciar no rendimento do sistema completo.

No estudo, eles consideram como parmetros de estudo: (1) o material e o dimetro

dos tubos; (2) a quantidade de tubos dispostos no sistema; (3) a espessura e o

material do revestimento do piso. Os autores concluem que cada parmetro de

projeto tem diferentes efeitos no rendimento do sistema.

35

A seguir, apresenta-se uma descrio dos parmetros de projeto que so

relevantes para o desempenho do sistema de calefao por piso radiante segundo a

literatura estudada:

2.6.1 Temperatura de fornecimento da gua

A temperatura da gua varia de acordo com o tipo de pavimento. Segundo a

norma EN 1264, a temperatura da gua deve limitar-se a 45C nos pavimentos

normais e 55C naqueles que so particularmente isolantes. A temperatura mxima

de entrada depender da diferena de temperatura admitida entre o pavimento e o

ambiente. A diferena de temperatura entre a temperatura inicial com que a gua

entra ao sistema e a temperatura de retorno, deve ser a menor possvel para

garantir a homogeneidade na distribuio da temperatura no interior do piso e, por

conseguinte no ambiente. Segundo a norma EN1264, esta diferena de temperatura

deve estar entre os 0C e os 5C. Da mesma forma, quanto menor for a temperatura

da gua, maior ser o conforto trmico e a economia na gesto do sistema. Por isso,

a maioria dos instaladores recomenda uma temperatura da gua prxima aos 40C,

mas esse valor vai depender do tipo de materiais que compem o piso. (Manual

UPONOR, 2009)

Ren et al. (2010) analisa a importncia da temperatura de entrada da gua

comparando os resultados obtidos no seu estudo experimental com tubos

localizados no permetro da habitao com os resultados de um sistema normal

onde os tubos esto dispostos no total da superfcie, utilizando a menor temperatura

de entrada da gua que o sistema possa permitir, para demonstrar a vantagem

desta composio contra o sistema normal. Como resultado obteve que uma

temperatura da gua de at 20C pode proporcionar uma temperatura interior de at

16C o que oferece boas perspectivas para a aplicao do sistema e do uso eficaz

de energias renovveis devido s baixas temperaturas necessrias.

36

2.6.2 Circuitos de tubos

Como j foi exposto, Olesen (2002) afirma que o dimetro dos tubos, sua

distncia e o material do que esto feitos, so alguns dos principais parmetros

relevantes no desempenho do sistema. No entanto, o estudo de Sattari e Farhanieh

(2006) mostra que nem o dimetro nem o material do tubo tm um efeito

determinante sobre a distribuio da temperatura no ambiente, e provaram que ao

aumentar a quantidade de tubos diminui o tempo de aquecimento, mas esta

diminuio tem um valor marginal. O estudo mostra como resultado que o numero

de tubos no tem um efeito considervel no desempenho do sistema embora o autor

seja determinante ao expressar que para um desempenho timo de um sistema de

calefao por piso radiante, necessrio subministrar o fluxo especifico de gua

quente e energia, com a mnima quantidade de tubulaes possvel.

2.6.3 Condutividade trmica dos materiais

Jin, Zhang e Luo (2010) apresentaram um mtodo para calcular a temperatura

superficial em sistemas de pavimento radiante. Para validar a formula proposta,

desenvolveram um modelo numrico que relaciona a condutividade trmica da

camada inferior do pavimento com os diferentes fatores que interferem na

temperatura superficial. Desta forma concluram que o efeito da condutividade

trmica da camada inferior do piso muito pequeno quando a condutividade maior

que 2 W/m K. Isto devido a que a resistncia trmica desta camada menor que a

da camada superior e a temperatura da interfase similar da gua.

Com relao ao material dos tubos, os resultados da simulao realizada por

Ren et al. (2010) para corroborar que o tubo de cobre tem um maior desempenho

trmico que os de Polietileno (PE) e, por conseguinte um melhor fornecimento de

energia, mostram que os tubos de metal tem melhor desempenho que os tubos de

plstico com um aumento de 40% a at 100%. Para um determinado material de

tubo, dimetros maiores tm melhor desempenho trmico devido a uma maior rea

37

de transferncia de calor. Mas este efeito no to relevante quanto na diferencia

de material.

No entanto, os resultados da anlise de sensibilidade realizada por Sattari e

Farhanieh (2006), onde consideram a relao de vrios tipos de tubos, com

diferentes materiais e diferentes dimetros, mostram que o material dos tubos no

tem um efeito significativo sobre o desempenho do sistema, mas sim o material do

piso referente camada sobre os tubos.

2.6.4 Temperatura superficial do piso

A temperatura superficial do piso est fortemente afetada pela construo do

edifcio (e.g., materiais isolantes no piso, contato com o solo ou sobre outros

pavimentos, calefao no piso, etc.). Se o piso estiver muito frio, a reao mais

comum dos usurios aumentar os nveis de temperatura da habitao o que faz

com que aumente o consumo de energia. Portanto, a temperatura mdia superficial

do pavimento est em funo da carga trmica e da temperatura ambiente da

habitao. A norma internacional EN 1264 (Floor Heating Systems and

Components. European Committee for Standardization) estabelece intervalos de

temperatura superficiais de 19C a 29C para habitaes com ocupantes

sedentrios e/ou em p usando sapatos normais para assim poder garantir as

condies de conforto no espao aquecido.

Segundo Jin, Zhang e Luo (2010), este o parmetro mais relevante no

conforto trmico de uma habitao aquecida por um sistema de piso radiante e

depende do dimetro das tubulaes, da distncia entre os tubos e da condutividade

trmicas dos materiais. Os autores tambm analisaram o efeito do coeficiente de

transferncia de calor por conveco na superfcie do piso na temperatura superficial

obtendo como resultado que a temperatura da superfcie diminui com o aumento do

coeficiente de transferncia de calor.

38

2.6.5 Espessura do piso

Os efeitos da espessura do piso foram observados por Bozkir e Canbazoglu

(2004) concluindo que a espessura do material de revestimento tem um efeito

considervel na distribuio da temperatura no ambiente e com isso, no

desempenho do sistema. Estes efeitos so mais evidentes no centro da habitao e

so menores nas proximidades do teto.

Tradicionalmente, usa-se uma espessura de 10 cm de contrapiso ou elemento

equivalente para conseguir uma eficincia energtica e um conforto trmico

satisfatrio. Athienitis (1997) no seu estudo sobre a influencia da massa trmica na

temperatura superficial do piso, demonstra que com 5 cm de espessura j possvel

modificar bastante a temperatura ambiente quando se tm grandes ganhos de

energia solar, concluindo que a massa trmica pode ser efetivamente utilizada para

o armazenamento de calor e para garantir uma temperatura superficial dentro dos

limites. Os resultados mostram que a temperatura superficial pode exceder os limites

de conforto trmico quando os ganhos solares so relevantes, problema que pode

ser enfrentado com estratgias de controle como diminuir o setpoint das

temperaturas internas nos perodos noturnos ou aumentar a quantidade de massa

trmica do piso.

2.6.6 Distncia entre os tubos

A distncia entre os tubos varia em funo da carga trmica. A norma EN

1264:4 recomenda um mtodo de clculo para determinar esta distncia. Consiste

em consideraes tabeladas que formam parte da fsica dos edifcios. O principal

inconveniente de esta metodologia que para casos mistos onde o sistema

utilizado tambm para esfriamento, o clculo da distncia deve estar baseado nesta

ultima aplicao devido a que a emisso especifica do piso mais limitada. Por esta

razo, a norma especifica que os clculos efetuados para aquecimento no so

vlidos para os sistemas mistos.

39

2.7 Uso de energias renovveis

O consumo de energia nos edifcios tem um rol importante no aumento do

consumo de combustveis fsseis e no dano ambiental que isso significa. Durante o

ultimo tempo, o uso de energia solar tem sido introduzido no mercado e nos

sistemas de fornecimento de energia dos edifcios e tem mostrado ser uma eficiente

soluo aos problemas de energia. Com isso, os sistemas com aquecimento solar

ou solar-assistidos esto sendo cada vez mais populares. Ren et al. (2010) estuda o

uso de energias renovveis para sistemas de calefao por piso radiante e revela

boas expectativa para a aplicao deste tipo de energias no uso de sistemas de

calefao por piso radiante. Segundo o autor, a utilizao de energia solar resulta

ser mais eficiente devido a que baixas temperaturas de fornecimento significam

baixa temperatura de demanda e com isso o sistema apresenta menores perdas de

calor.

Zhai et al. (2007) analisaram um sistema de piso radiante com aquecimento

solar num edifcio de escritrios. Para diminuir o consumo de energia, os autores

recomendam melhorar o isolamento trmico do edifcio. Da mesma forma, Lebrum e

Marret (1977) consideram que o uso de baixas temperaturas em sistemas de

calefao permite menores perdas de distribuio e uma melhor eficincia no

sistema de gerao de calor. Estudos sobre perdas de calor para diferentes

sistemas de calefao mostram que com um bom sistema de isolamento, as perdas

de calor diminuem consideravelmente.

Em geral, o sistema de aquecimento por piso radiante tem uma fcil

adequao aos sistemas de aquecimento passivos com energia solar, j que existe

energia trmica armazenada no interior do piso e, com um sistema de controle

adequado para a regulao dos parmetros de entrada, possvel diminuir o

perodo de uso do sistema de calefao e, com isso, o consumo de energia para o

seu melhor funcionamento. (ATHIENITIS; CHEN, 2000). No entanto, o uso do

armazenamento de ganho de energia solar passiva no piso como mecanismo para

economizar energia faz com que o controle da temperatura ambiente seja mais difcil

40

devido ao ajuste do termostato. Geralmente, as pessoas tendem a desligar ou

diminuir o termostato no perodo noturno porque, no horrio em que elas esto

dormindo, o corpo alcana temperaturas maiores e a calefao passa a ser

prescindvel. Porm, observa-se que, durante a noite, esse ajuste contribui para a

economia de energia nesse perodo, mas em dias mais frios pode ocorrer o aumento

considervel da carga de calefao pico devido ao aumento da temperatura

desejada. (ATHIENITIS e CHEN, 1993).

2.8 Estratgias de controle

Para que um sistema de calefao funcione adequadamente de acordo com

as condies climticas do local, so necessrias estratgias de controle que

permitam regular as condies de entrada ao sistema, como a temperatura da

gua, evitando-se o sobreaquecimento da superfcie e tambm do ambiente.

Consequentemente, para manter os nveis de conforto desejados e obter um timo

desempenho do sistema de calefao por piso radiante, necessrio abordar

medidas de controle para monitorar e manter a temperatura de ar interno da

habitao.

Existem variadas estratgias de controle utilizadas na prtica, para regular o

funcionamento de um sistema de calefao radiante. Todas elas implicam a

temperatura de fornecimento da gua e a vazo de gua que circula no interior das

tubulaes. O controle convencional liga-desliga ainda o mtodo dominante no

controle de sistemas de calefao por piso radiante (LAOUADI, 2004). No entanto,

uma estrutura pesada com grande capacidade de armazenamento trmico pode

atrasar a resposta do controle causando que a temperatura tenha uma diferencia

relativamente grande com relao ao setpoint. Na ultima dcada tem sido

introduzida varias estratgias de controle alternativas. A estratgia de controle mais

estvel manter tanto a temperatura de fornecimento quanto a velocidade do fluxo,

constantes durante todo o dia. (LAOUADI, 2004).

41

Um experimento realizado por Cho e Zaheer-Uddin (1997), utiliza habitaes

aquecidas por sistemas de piso radiante para estudar os efeitos de diferentes

estratgias de controle. As medies incluem 3 casos diferentes: (1) controle liga-

desliga da temperatura do ar, (2) controle liga-desliga da temperatura do piso, (3)

controle liga-desliga da combinao entre a temperatura do ar e do piso. Os

resultados mostram que o controle convencional liga-desliga da temperatura do ar

pode causar grandes variaes de temperatura tanto no ar quanto no piso

comparado ao segundo controle da temperatura do piso. Por outra parte, s o

controle do piso pode no ser adequado em habitaes com um grande ganho

interno. A combinao dos sistemas de controle mostrou ser uma estratgia de

controle efetiva.

Na maioria dos edifcios, o controle dos sistemas de calefao est baseado

em sensores e termostatos que medem principalmente a temperatura do ar. Porm,

para aumentar o conforto trmico, particularmente em edifcios com altos ganhos de

radiao, prefervel um controle efetivo como o controle da temperatura

operativa (ASHRAE, 1989). Athienitis e Shou (1991) utilizaram um modelo numrico

usando funes de transferncia detalhadas de temperatura operativa e funciones

de transferncia de Laplace para os componentes do sistema de calefao e

resfriamento. Mostraram que a resposta para mudanas no setpoint de um sistema

de calefao radiante, usando um sensor de temperatura operativa indica um

potencial significativo para um controle mais rpido que usando um sensor de

temperatura de ar. Scheatzle (1996) faz um teste numa habitao unifamiliar de

estrutura pesada com um sistema radiante. O teste foi desenhado para entregar um

conforto superior utilizando um confortmetro que toma em conta 6 variveis para o

conforto humano (nvel de atividade, valor CLO, temperatura ambiente, TRM,

velocidade do ar e umidade), e um controlador programvel. Seus resultados

mostraram que pode ser alcanado um melhor conforto trmico utilizando sensores

de temperatura operativa e controladores programveis. No entanto, os custos de

equipamentos e instalao so maiores em aplicaes residenciais.

42

2.9 Transferncia de Calor

Num sistema de calefao por piso radiante, o calor que entregue

habitao devido transferncia de calor que ocorre entre os diversos

componentes do sistema. A transferncia de calor ocorre sempre que se tem uma

diferena de temperatura, produzindo-se o trnsito de energia desde o meio que se

encontra a maior temperatura, para o meio de menor temperatura.

No piso radiante a transferncia de calor ocorre primeiramente por conduo,

dentro do meio slido, e por conveco e radiao, entre as superfcies da

envolvente e o ar ambiente. Como a superfcie slida (piso) tem uma temperatura

mais alta que a do fluido que a envolve (ar ambiente), se produz um movimento

constante do ar no interior da habitao. Isto ocorre porque quando o calor que

transferido da superfcie para o ar ambiente, gera um aumento na densidade deste

ltimo provocando seu movimento e removendo a camada aquecida por outra de

menor temperatura. Este fenmeno conhecido como conveco livre. Quando o

movimento provocado por uma causa externa, a conveco chamada de

conveco forada. (HOLMAN, 1999).

A taxa de fluxo de calor proporcional ao gradiente normal de temperatura e

se entende da equao (1):

= !" #$#% (1)

Onde q a taxa de fluxo de calor e T/x o gradiente de temperatura

segundo a coordenada geomtrica x. A constante positiva k a condutividade

trmica do material e o sinal negativo ocorre porque a taxa de fluxo de calor

sempre no sentido da maior temperatura para a menor temperatura.

43

A equao (1) a equao bsica para o clculo da transferncia de calor de

um slido e denominada-se Lei de Fourier em homenagem ao fsico-matemtico

francs Joseph Fourier, que fez contribuies muito importantes ao tratamento

analtico da transferncia de calor por conduo. (HOLMAN, 1999).

Os coeficientes de transferncia de calor por conveco e radiao podem ser

estimados usando as correlaes indicadas na ASHRAE Fundamental Handsbook

(2009) ou bem, obtidos da literatura como o caso deste trabalho.

2.10 Modelos matemticos de transferncia de calor

O processo da transferncia de calor em slidos pode prever-se analtica ou

numericamente. Os mtodos analticos esto baseados na soluo direta da

equao diferencial de transmisso de calor por conduo. Dentre deste grupo, os

distintos mtodos existentes estabelecem simplificaes que facilitam a resoluo da

equao diferencial ou a aplicao de ferramentas matemticas que embora sejam

de difcil soluo podem resultar de fcil aplicao utilizando ferramentas

computacionais. Nesta linha, variados autores entre eles, Seem et al. (1976) e

Ouyang et al. (1991), desenvolveram o mtodo centrando-se na sua aplicao para

a climatizao de edifcios. Outros estudos combinaram mtodos numricos com

analticos com o intuito de facilitar os clculos (TORELLA et al., 1986).

As solues numricas, bem mais desenvolvidas, podem ser baseadas em

diferenas finitas ou bem em elementos finitos. O mtodo das diferenas finitas

consiste em discretizar o domnio em estudo em pequenos volumes de controlo,

supostos isotrmicos, sobre os quais se expressa o balance de energia. O mtodo

dos elementos finitos esta baseado, assim como o anterior, na discretizao do

domnio, e consiste em fazer satisfazer a equao diferencial da transferncia de

calor em um sentido global sobre um determinado domnio.

44

Os mtodos numricos para a resoluo da transferncia de calor tm sido

amplamente estudados. Myers (1978) props tcnicas de discretizao para resolver

problemas de transferncia de calor em regime estacionrio. Mitchell e Griffiths,

(1980) centraram seu estudo no desenvolvimento do mtodo das diferenas finitas

para um domnio geral.

Os mtodos baseados em diferenas finitas so os mais simples, e em geral,

proporcionam resultados satisfatrios para corpos de formas regulares, sendo mais

difceis de aplicar para casos de corpos irregulares. Nestes casos mais

recomendvel a utilizao de um planejamento baseado em elementos finitos, onde

a complexidade do problema no se v afetada pela forma do elemento.

Outro mtodo utilizado foi o proposto por Brebbia e Walker em 1979 que trata

de um mtodo similar ao de elemento finito e que tem sido utilizado para resolver

casos de conduo de calor no linear com propriedades trmicas variveis. Este

mtodo tem a vantagem de reduzir a dimensionalidade do problema, e com isso, os

requerimentos computacionais. O inconveniente que s eficaz para formas com

grandes reas de superfcie em relao ao volume.

Embora os esquemas de diferenas finitas sejam potencialmente teis para

sua aplicao a formas irregulares, os mtodos baseados em elementos finitos so

preferveis pela facilidade com que pode-se versar a geometria irregular do

elemento. Se os intervalos de tempo so o suficientemente pequenos para

assegurar um bom balance de calor, e as integraes numricas para determinar a

condutividade trmica e o calor latente, so suficientemente detalhadas, ento os

dois mtodos so praticamente equivalentes.

Variados pesquisadores tem utilizado diferentes mtodos para resolver a

transferncia de calor com o intuito de analisar o conforto trmico dos edifcios.

Brickman e Moujaes (1996) desenvolveram um modelo detalhado para estudar a

troca de radiao na estrutura interna das paredes de um edifcio. Em lugar de usar

a transferncia de calor por conduo para modelar a troca de calor nos espaos de

45

ar, foram modelados os efeitos da conveco livre ocorrida no ar aprisionado na

estrutura interna das paredes. Eles tambm adicionaram a conveco livre nas

superfcies exteriores e os efeitos da conveco forada do vento. Foram feitas

comparaes com as recopilaes de medies de temperatura onde os resultados

foram prximos aos preditos com uma tolerncia de erro das medies

experimentais de 1C a traves dos elementos estruturais da habitao e no ar

interno ao longo do dia. Dunne et al. (1996) desenvolveram algoritmos para modelar

a refletncia solar no ganho de calor interno das estruturas vizinhas e

implementaram os algoritmos num programa de simulao energtica de edifcios.

Os algoritmos consideram a contribuio da radiao solar em superfcies opacas e

transparentes. Da mesma forma, Chapman (1997) estudou um caso utilizando um

programa de anlise de conforto trmico em edifcios (BCAP Building comfort

Analysis Program) para analisar a distribuio do conforto trmico num sistema de

calefao radiante.

2.11 Modelo matemtico do sistema de calefao por piso radiante

Diferentes tcnicas para descrever o processo de transferncia de calor em

sistemas de calefao por piso radiante tm sido utilizadas especialmente para

anlise de parmetros de projeto e desempenho trmico. Variados estudos

experimentais tm sido realizados para validar os mtodos desenvolvidos para os

estudos de transferncia de calor neste tipo de sistemas:

Zhang e Pate (1986) mediram o desempenho de um sistema com teto

radiante. O painel no teto foi construdo numa laje de concreto com tubos embebidos

de cobre com gua quente. Seus resultados mostram que a distribuio da

temperatura no teto uniforme. O interessante dos resultados que a temperatura

do ar no atrasa a temperatura do muro e do piso e a resposta transitria do sistema

radiante foi sensvel temperatura de subministro da gua, mas no foi sensvel ao

fluxo de gua quente.

46

Hogan e Blackwell (1986) desenvolveram um modelo em regime estacionrio

usando o mtodo de elementos finitos para avaliar o desempenho de um sistema de

calefao por piso. Eles concluram que as perdas de calor calculadas usando o

mtodo da ASHRAE so sobre-estimadas. Para melhorar o enfoque da transferncia

de calor em regime estacionrio, MacCluer (1990) estabelece um modelo transitrio

onde o fluxo mantido constante enquanto a temperatura da gua enviada ao

pavimento proporcional temperatura externa. No modelo a funo da

transferncia de calor foi escrita numa forma analtica e resolvida no domnio da

frequncia.

Banhidi (1991) descreve os processos de transferncia de calor radiante e

convectivos no lineares que tem lugar num recinto aquecido pelo sistema radiante.

As equaes foram linearizadas usando correes experimentais. Da mesma forma,

Zaheer-Uddin et al. (1994) desenvolveram um modelo no linear para um sistema de

piso radiante. O modelo matemtico esta baseado no mtodo do balano de

energia. As equaes do modelo matemtico para o boiler, a laje, as condies

espaciais e o ambiente externo so resolvidas simultaneamente usando tcnicas de

diferenas finitas. Olesen (1994) testou um sistema de calefao por painel numa

parede e outro no piso. Os resultados mostram que tanto o piso quanto a parede so

capazes de manter um ambiente confortvel sob condies dinmicas incluindo

radiao solar, ganho de calor interno e a temperatura de atraso, etc.. Demonstrou

tambm que os sistemas consomem nveis similares de energia.

Kilkis e Coley (1995) desenvolveram um modelo simples para determinar a

temperatura superficial do piso e o fluxo de calor. Kilkis e Spapci (1995)

desenvolveram um programa computacional para o projeto de um painel radiante.

Um mtodo prtico para o projeto desses painis pode ser encontrado no ASHRAE

HVAC Systems and Equipment Handbook.

Champan e Zhang (1996) desenvolveram um modelo matemtico

tridimensional para calcular a transferncia de calor numa habitao aquecida por

um sistema radiante. Para analisar os efeitos e propriedades das temperaturas no

47

uniformes dos muros, eles modelaram a habitao por um modelo discreto de

radiao, no qual calcularam a temperatura mdia do ar e a distribuio da

temperatura superficial das paredes.

A distribuio da temperatura no espao aquecido foi medida por Hanibuchi e

Hokoi (1998). Eles mostram que a calefao por piso produz uma distribuio da

temperatura do ar aproximadamente uniforme e que a troca de calor convectivo

contribui com a metade da potencia de aquecimento. Lindstrom et al. (1998)

examinaram o impacto das caractersticas da superfcie na potencia de aquecimento

de um sistema radiante. Recomendam que a emissividade do piso radiante seja

entre 0,9 e 0,95 para clculos de engenharia da transferncia de calor por radiao.

A frao da potencia total convectiva da superfcie do pavimento radiante de at

30%.

De Monte (2000) estudou a resposta transitria unidimensional s variaes

repentinas de temperatura da gua distribuda nas tubulaes de uma laje composta

por varias camadas de diferentes materiais. O autor fez o estudo aplicando o mtodo

de separao de variveis para a equao diferencial da conduo de calor. Laouadi

(2004) desenvolveu um modelo bidimensional para sistemas radiantes para ser

incorporado em software de simulao energtica, e o modelo validado utilizando

um enfoque de modelagem numrico. O seu modelo considera o boiler, dispositivos

de emisso de calor e dispositivos de controle de modo de verificar a estabilidade do

desempenho do sistema de controle, as variaes climticas, o ganho de calor

interno e a fonte de calor.

Beck et al. (2004) estudaram uma soluo para a calefao parcial de slidos

retangulares analisando os mtodos de separao de variveis e o de parties de

tempo. Lu e Tervola (2005) do um enfoque analtico para a conduo transitria de

calor numa laje composta. Zhang (2012) entrega um mtodo para calcular estas

temperaturas baseado no processo bsico de transferncia de calor num piso

radiante.

48

Com isso, estas pesquisas foram determinantes para a elaborao do mtodo

apresentado a seguir, que permite a analise da distncia mxima entre tubos

baseado no clculo das temperaturas superficiais do piso.

49

CAPITULO 3

3 MATERIAIS E MTODOS

A seguir desenvolvida a resoluo numrica do fenmeno da transferncia

de calor por conduo que ocorre desde a superfcie externa dos tubos aquecidos

com gua quente at a superfcie do piso que aquece o ar ambiente por conveco

e radiao. O modelo matemtico foi resolvido atravs do mtodo numrico dos

volumes finitos na formulao implcita. Isto significa que o valor da temperatura no

prximo instante de tempo calculado usando o prprio valor no instante de tempo

atual, o que torna a equao implcita mais estvel. Para a resoluo numrica das

equaes governantes foi implementado um cdigo de programao computacional

na linguagem Matlab.

Primeiramente, ser descrito o projeto do sistema radiante utilizado neste

trabalho, as propriedades trmicas dos materiais considerados e as dimenses do

domnio estabelecido para os clculos realizados. Posteriormente, ser apresentado

o modelo matemtico de transferncia de calor no piso com o intuito de

compreender de forma matemtica o fenmeno fsico que acontece no interior do

piso, para resolv-lo numericamente.

3.1 Descrio e projeto do sistema

O sistema de calefao por piso radiante considerado para o desenvolvimento

deste trabalho est desenhado segundo as recomendaes da norma do European

Committee for Standardization (CEN) EN 1264: Floor Heating - Systems and

Components que descreve e define as limitaes para o dimensionamento e o

clculo da carga trmica de um sistema de calefao por piso radiante, alm de

50

estabelecer os requisitos de projeto, para garantir que as instalaes sejam

executadas conforme aos critrios de eficincia energtica, eficincia trmica e

condies de conforto.

A norma referida anteriormente estabelece trs tipos de estruturas diferentes

para os sistemas de calefao por piso. A Figura 3.1 mostra os trs tipos

correspondentes aos tipos A, B e C, diferenciados pelo tipo e disposio dos

diferentes materiais que compem a estrutura.

Figura 3.1: Tipos de estrutura de piso radiante. Fonte: EN 1264: Floor Heating - Systems and

Components

51

Segundo a norma, as diferentes estruturas correspondem a: - Tipo A e C: correspondente aos sistemas com as tubulaes completa ou

parcialmente incorporadas na camada de argamassa, sobre o isolante.

- Tipo B: correspondente aos sistemas com as tubulaes dispostas na

camada isolante, por baixo da camada de argamassa.

Devido importncia da composio e da estrutura do piso para a

transferncia de calor, a norma EN 1264-4 referente a critrios de instalao, define

espessuras mximas para garantir um adequado funcionamento do sistema,

estabelecendo assim um limite mnimo para a espessura da argamassa sobre as

tubulaes de 30 mm para garantir a distribuio uniforme da temperatura no interior

do piso. Este fator est diretamente relacionado com a temperatura que pode atingir

a superfcie do piso. Espessuras muito baixas so associadas a um alto risco de

gerar no uniformidade da temperatura perceptvel no nvel fisiolgico (OLSEN,

2002).

Da mesma forma, a norma estabelece a resistncia mnima da camada de

isolante, de acordo com as condies trmicas do ambiente e/ou dos elementos do

edifcio prximos ao piso. A Tabela 3.1 mostra os valores mnimos das resistncias

trmicas do isolante:

Tabela 3.1: Resistncia trmica mnima do isolante para sistemas de calefao por

piso radiante. Fonte: EN 1264-4:2008

52

Por outro lado, segundo a norma europia EN 15377-2:2008 Sistemas de

calefao nos edifcios. Projeto de sistemas incorporados de calefao e

resfriamento por gua - a resistncia trmica requerida para a camada de

isolamento calculada pela equao:

&'()* = +'()*!'()*

Onde: R-./ a resistncia trmica do isolamento (m2K/W) S-./ a espessura do isolante (m) -./ a condutividade trmica do isolante (W/mK)

Com isso possvel determinar a espessura mnima do isolante para as

diferentes resistncias trmicas estabelecidas pela norma, de acordo com o tipo de

local e as condies ambientais. Desta forma, considerando uma condutividade

trmica do poliestireno, frequentemente utilizado, de 0,0361 (W/mK) foram

calculadas as seguintes espessuras mnimas como se mostra na Tabela 3.2 a

continuao:

Tabela 3.2: Clculo de espessura mnima do isolante de acordo com o tipo de

local e as condies ambientais.

Tambm requerida pela norma, uma camada de proteo sobre o isolante

de poliestireno de ao menos 0,15 mm de espessura ou outro produto com uma

resistncia trmica equivalente.

53

Desta forma, a estrutura e composio do modelo utilizado neste trabalho

ficam representadas na Figura 3.2. Foi escolhida estrutura Tipo A, definida na norma

devido a que representa o uso mais comum neste tipo de instalao. O sistema est

composto por:

- uma base estrutural de concreto (e = 100 mm);

- uma camada isolante de poliestireno expandido de alta densidade para

mitigar a propagao do calor para o solo (e = 50 mm);

- uma pelcula protetora de poliestireno (e = 0,15 mm);

- um contrapiso de argamassa onde so incorporadas as tubulaes de cobre

por onde circula a gua quente (e = 60 mm);

- e o revestimento cermico (e = 7 mm) disposto sobre uma camada de

argamassa de colagem. (e = 3 mm);

- tubulaes de cobre dispostas em serpentina ( = 16 mm)

Estes materiais influenciam diretamente a distribuio e a distncia das

tubulaes devido condutividade trmica dos materiais e resistncia trmica que

eles exercem ao fluxo de calor.

Figura 3.2: Modelo Tipo A reduzido adotado para o clculo das temperaturas

54

As propriedades termofsicas dos materiais utilizados so fornecidas na

Tabela 3.3:

Tabela 3.3: Propriedades termofsicas dos materiais. Fonte: NBR 15220:

Desempenho Trmico de Edificaes

3.2 Modelo matemtico da transferncia de calor no piso radiante

Uma vez determinada a estrutura do sistema radiante estudado neste

trabalho, ser descrito o modelo matemtico da transferncia de calor no interior do

piso. O objetivo do modelo matemtico interpretar e compreender o fenmeno

fsico da transferncia de calor num sistema de calefao por piso radiante, com a

implementao de conceitos matemticos para assim tornar possvel uma soluo

numrica das variaes de temperatura que acontecem no interior do pavimento, at

a superfcie do piso, atravs do tempo.

De acordo com o fenmeno de transferncia de calor, o comportamento

trmico de um determinado material se caracteriza pela variao das condies de

contorno. A consequncia da variao das condies do ambiente provoca que o

sistema quase nunca esteja em equilibro, mas sim que esteja submetido a

processos variveis de aumento ou diminuio de temperaturas, com acumulao

ou dissipao de calor no interior, devido ao calor especfico do material. Desta

forma, ao processo de transmisso de calor atravs de um material, acrescenta-se

um processo de acumulao, ambos variveis no tempo, razo pela qual o processo

considerado transitrio.

55

Desta forma, um sistema transitrio se produz quando as condies de

contorno so alteradas. Se a temperatura superficial de um sistema alterada, a

temperatura de cada ponto tambm se alterar. Estas alteraes ocorrero at ser

atingida uma distribuio de temperaturas em estado permanente.

Com isso, o problema geral da conduo de calor num domnio dado consiste

em determinar a temperatura para cada ponto em cada instante de tempo,

comeando com uma temperatura inicial e com condies de cont