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GRUPO DE ESTUDOS 1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO EMPRESARIAL OS TÍTULOS DE CRÉDITO VIRTUAIS E AS RELAÇÕES INTEREMPRESARIAIS

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GRUPO DE ESTUDOS

1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO EMPRESARIAL

OS TÍTULOS DE CRÉDITO VIRTUAIS

E AS RELAÇÕES INTEREMPRESARIAIS

3

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP CAMPINAS/ JUNDIAÍ

2011

GRUPO DE ESTUDOS

1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO EMPRESARIAL

OS TÍTULOS DE CRÉDITO VIRTUAIS

E AS RELAÇÕES INTEREMPRESARIAIS

Estudo apresentado para o 1º Congresso

Brasileiro de Direito Empresarial, sob a

orientação dos Professores Ms. Áurea Moscatini,

Dr. Cláudio José Franzolin e Ms. Luís Renato

Vedovato.

4

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP CAMPINAS/ JUNDIAÍ

2011

PROFESSORES ORIENTADORES:

Professora Ms. Áurea Moscatini

Professor Dr. Cláudio José Franzolin

Professor Ms. Luiz Renato Vedovato

ALUNOS PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP – CAMPUS CAMPINAS

Felipe Bertem Chagas – RA A29612-3

João Batista Inácio Dagoberto Colman – RA 925448-0

Kamyla Stéphani Zanré – RA A60276-3

Lázaro Fernandes Cândido Neto – RA A1388C- 7

Lucilaine Braga Luciano Cândido Martins – RA 612002-4

Patrícia Andréia Vidotto Goto – RA A13FFI-6

Patrícia Bueno Carvalho – RA 949293-3

UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP – CAMPUS JUNDIAÍ

Gabriela Crevilari – RA A5681G-3

Thaís Vieira Gonçalves – RA A2461H-4

Vanessa Benessuti – RA 909492-0

Vasco Antônio Ferracini – RA A24793-9

POLICAMP - CAMPINAS

Kléber Bárea – RA 3072107-6

5

RESUMO:

O grupo aborda neste trabalho os impactos da era virtual no âmbito dos títulos

de crédito, em especial, o princípio da cartularidade. O trabalho também destaca alguns

valores contemporâneos os quais interferem na interpretação e na compreensão do estudo dos

títulos de crédito, em virtude dos paradigmas que ressoam na pós-modernidade. Sem contar,

ainda a crescente necessidade do diálogo entre o direito interno e internacional.

PALAVRAS-CHAVE: títulos de crédito, títulos virtuais, cartularidade.

6

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................................07

1. Segurança jurídica e os limites da autonomia privada nas relações interempresariais.......08

2. Títulos de Crédito eletrônicos e a adequação aos princípios básicos.................................12

2.1. Legislação brasileira e a importância dos costumes para consolidação dos

títulos eletrônicos...................................................................................................14

2.2. O princípio da Cartularidade e os meios eletrônicos.......................................17

2.3. A implementação dos títulos eletrônicos.........................................................23

3. Títulos de Crédito virtuais e as relações interempresariais.................................................26

4. Tendências Jurisprudenciais................................................................................................35

Conclusão..................................................................................................................................62

Bibliografia...............................................................................................................................63

7

Introdução:

Com o advento da era digital1, muitos setores tiveram que se reorganizar, a fim

de acompanhar os avanços tecnológicos. Como não poderia deixar de ser, o mesmo acontece

na seara jurídica, que vem tentando acompanhar tais avanços, a fim de regulamentar as

relações interempresariais, num ambiente cada vez mais global.

O novo Código Civil Brasileiro, em vigência desde 11/01/2003, dedica em seu

Título VIII a disciplina “Dos Títulos de Crédito”, permitindo a emissão de tais títulos por

meio eletrônico, utilizando caracteres criados em um computador, a fim de facilitar a

circulação de riquezas neste novo ambiente digital.

No entanto, não se pode ignorar a existência de legislação específica para tais

títulos, que estabeleça suas características básicas, sendo uma delas a Cartularidade, que

vincula a incorporação do direito creditício a um papel (ou cártula), o que torna inviável a

emissão de um título eletrônico, que por sua vez é desmaterializado.

Sendo assim, o presente estudo pretende discutir os impactos da era virtual

diante do princípio da cartularidade, bem como estabelecer valores contemporâneos, que

interferem na interpretação e na compreensão dos princípios basilares dos títulos de crédito na

pós-modernidade, especialmente num ambiente cada vez mais internacional, exigindo um

crescente envolvimento do ordenamento jurídico interno com os documentos internacionais.

1 Revolução tecnológica, em que informações são produzidas e consumidas em alta velocidade, resultando para o Direito em avanços como a rapidez das transações comerciais, o incremento de novos contratos, o fortalecimento de chaves públicas e privadas, sistemas biométricos, entre outros.

8

1. Segurança jurídica e os limites da autonomia privada nas relações interempresariais:

As relações contratuais, via de regra, possuem como base o princípio da

autonomia privada, em que a vontade das partes em contratar e a forma como tal ato ocorrerá

são elementos fundamentais, pois tal princípio se fundamenta na ampla liberdade contratual e

no poder dos contratantes de disciplinar seus interesses, mediante um acordo de vontades,

sem qualquer interferência do Estado, conforme nos ensina Carlos Roberto Gonçalves2.

Ocorre que tal princípio vem sofrendo limitações em seus aspectos basilares,

quais sejam: a liberdade de contratar, face às necessidades elementares do dia-a-dia do

indivíduo, que o obrigam a realizar novos contratos, a todo momento (transporte, energia

elétrica, telefone etc.); a liberdade de escolha do contraente, diante das limitações

constitucionais, que protege os indivíduos de práticas discriminatórias; e a liberdade de

determinar o conteúdo, a forma e os efeitos do contrato, diante das limitações determinadas

pelas cláusulas gerais, em especial das que tratam da função social do contrato, da boa-fé

objetiva e pelas exigências e supremacia da ordem pública3.

A função social do contrato, adotada pelo Código Civil de 2002, em seu artigo

4214, serve como limitador da autonomia da vontade quando esteja em confronto com o

interesse social ou a ordem pública, desafiando a antiga concepção de que os contratantes

tudo podem fazer, quando do exercício de sua autonomia da vontade, proporcionando a

oportunidade de terceiros que serão afetados direta ou indiretamente pelo contrato celebrado,

possam nele interferir. Desta feita, a função social do contrato deve representar uma fonte de

equilíbrio social.

Como se pode notar, não mais persiste hoje a omissão legislativa que admita

negócios completamente livres, vez que a função social do contrato exige atuação em

conformidade à Carta Magna, que se assente no solidarismo da dignidade da pessoa humana.

2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – vol. III. 3 Idem. P. 23. 4 “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.”

9

Sendo assim, tal princípio não é absoluto, visto que possui limitações ante ao

princípio da supremacia da ordem pública, que não pode ser alterado por convenção entre os

particulares, e surgiu em face da ampla liberdade de contratar, que provocava desequilíbrios e

exploração do economicamente mais fraco, ou seja, o princípio da supremacia da ordem

pública constitui um limite à liberdade contratual, destinado a coibir abusos provenientes da

desigualdade econômica.

Destarte, observados, de forma concisa, os aspectos do princípio da autonomia

da vontade, bem como sua limitação ante a função social do contrato, passemos a analisar a

incidência destes e outros princípios nas relações interempresarias. Cabe assinalar, de início,

quanto à autonomia do Direito Comercial em relação ao Direito Civil, conforme elucidado na

obra de Fran Martins5, apesar de ser ramo do Direito Privado, mesmo contendo normas do

Direito Público, “o Direito Comercial não se confunde com o Civil, mormente a partir da

atual codificação civil”. Pode-se dizer que os princípios aplicáveis nas relações privadas, nem

sempre serão aplicados nas relações interempresarias. Aliás, nenhum princípio é absoluto,

cabendo ao intérprete sopesá-los e adequá-los ao caso concreto.6

Nesse diapasão, deve-se ter em vista que os contratos entre empresários sempre

serão norteados, consoante Ulhoa, “por dois dos regimes jurídico-contratuais do direito

brasileiro: o cível e o da tutela dos consumidores. (...) nunca ao de direito do trabalho ou

administrativo”7. O autor ainda esclarece que, não obstante diferenças significativas, cada um

desses contratos têm um núcleo comum, que é a constituição das obrigações para

manifestação convergente de vontades.

Como outrora exposto, a administração pública limita a vontade das partes.

Assim, não se pode falar em absoluta liberdade da autonomia privada, uma vez que tal

liberdade encontra barreiras perante a coletividade, que é resguardada pelo ordenamento

jurídico. Daí se observar a disposição do Código Civil, em seu artigo 104, inc. III, no sentido

de que todo negócio jurídico deve ter forma prescrita ou não defesa em lei. Se o contrato, um

negócio jurídico, for contrário a lei, estará, consequentemente, em discordância com os

5 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial, 30ª edição, 2006, atualizada por Carlos Henrique Abrão. 6 Apelação nº 7.181.541-3 (23/11/2010), Relator Windor Santos, 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunalde Justiça de São Paulo. 7 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 8ª edição, 2008.

10

anseios coletivos, que por ela são resguardados, ainda que nem tudo que é legal, seja

legítimo.

Deste modo, cumpre esclarecer que nos contratos realizados entre empresários

há, hodiernamente, uma convergência doutrinária8 no sentido de que se deve privilegiar mais

autonomia privada, sem limitá-la; sugere-se, inclusive, que haja menos definição, em normas

positivas, de direitos e obrigações de contratantes, devendo a ordem jurídica reconhecer as

cláusulas constantes do instrumento do contrato. Oportuno ressaltar que isso é preconizado

para as relações entre contratantes de iguais condições econômicas (empresário x empresário,

por exemplo), não havendo se falar em sua incidência nos contratos envolvendo interesses dos

vulneráveis e hipossuficientes (consumidores, por exemplo).

Neste diapasão, é importante fazer referência ao princípio da segurança

jurídica, que se encontra implicitamente nas vastas páginas legais, máxime na Constituição

Federal. Trata-se de corolário do Estado Democrático de Direito, com o escopo de resguardar

a sociedade das mais variadas situações, decorrentes das vicissitudes sociais – que refletem

diretamente no Direito. Sem embargo da ideia de que o Direito é a ciência do “dever ser”, vez

que nada é peremptório, deve certas relações ser guarnecidas, de modo a não prejudicar a

sociedade. Eliezer Pereira Martins elenca alguns princípios que trazem, insitamente, a

roupagem do princípio da segurança jurídica, quais sejam, irretroatividade da lei, coisa

julgada, respeito aos direitos adquiridos, respeito ao ato jurídico perfeito, outorga de ampla

defesa e contraditório aos acusados em geral, ficção do conhecimento obrigatório da lei,

prévia lei para a configuração de crimes e transgressões e cominação de penas, declarações

de direitos e garantias individuais, justiça social, devido processo legal, independência do

Poder Judiciário, vedação de tribunais de exceção, vedação de julgamentos parciais, etc.9

Entretanto, tal ambição (ou revolução) ainda que se encontre no plano das

idéias, é algo utópico. Isso porque, embora haja, atualmente, grandes avanços econômicos e

tecnológicos, o que influi diretamente no direito, a tutela jurisdicional para os casos de

relações contratuais contrários à lei, é no sentido de declará-los nulos. Assim, ainda que dois

empresários acordem, em documento particular, um desejo contrário ao ordenamento jurídico,

8 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 8ª edição, 2008. 9 MARTINS, Eliezer Pereira. Segurança jurídica e certeza do direito em matéria disciplinar. Disponível em http://jus.uol.com.br/revista/texto/3852/seguranca-juridica-e-certeza-do-direito-em-materia-disciplinar . Acesso em 20/02/2011, 19:34:40.

11

aquele que, após a feitura do acordo discordar e procurar o judiciário poderá conseguir o

desfazimento do mesmo. Frise-se que, na hipótese de inexistência de lei, os direitos e

obrigações das partes são os previstos no instrumento contratual, que firmaram.

Pode-se inferir que autonomia da vontade, nos contratos entre empresários, está

sendo revigorada com os avanços que estão ocorrendo nas relações humanas. Ulhoa ensina

que “A disciplina jurídica dos contratos é direito-custo. A margem de atuação da autonomia

da vontade e a intervenção do estado, calibradas pela lei, interferem no cálculo empresarial. A

previsibilidade (condição de eficiência desse cálculo) depende do reconhecimento da

vinculação da livre vontade dos contratantes, nas relações entre empresários iguais, e da

aplicação o quanto possível objetiva do direito vigente, nas relações entre os desiguais.”10

Esse novo pensamento no sentido de se ampliar a autonomia privada nas

relações interempresariais, conhecida na doutrina como modelo reliberalizante, prestigia a

tutela na relação entre os economicamente mais fracos e, ao mesmo tempo, reafirma a

importância da autonomia da vontade entre contratantes iguais.11 Fábio Ulhoa Coelho afirma

que tal modelo encontra-se em elaboração na doutrina brasileira, porém acredita que o modelo

reliberalizante traduzirá melhor a repartição do direito privado dos contratos brasileiros, do

que o modelo neoliberal.

Por fim, imperioso ressaltar que todo esse pensamento deve-se nortear nos

princípios gerais de direito, sem prejuízo da já referida função social do contrato. Ora, a

criação de contratos entre empresários, no intuito de praticar atos ilícitos, como a dominação

de mercado com a eliminação da concorrência, deve ser rechaçada de plano. Aliás, isso já é

disciplinado e repelido pela existência da Lei 8.884/1984, que trata acerca dessas relações.

Talvez, tais práticas, ainda comuns, inibam as legislações atuais, bem como os seus

aplicadores e intérpretes, de “rechaçar” a autonomia da vontade privada, devendo, nessas

relações, ela ter limite certo, de maneira que se possa assegurar a toda coletividade a

segurança jurídica, sobretudo nas relações impactantes, como as interempresariais.

10 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 8ª edição, 2008. 11 Idem. Pág. 17.

12

2. Títulos de Crédito eletrônicos e a adequação aos princípios básicos

Os títulos de crédito vêm disciplinados no novo Código Civil Brasileiro (Lei

nº.10.406/2002), nos artigos 887 a 926.

Com o avanço da tecnologia, as práticas comerciais, impulsionadas pela figura

do crédito, na prática do princípio da liberdade de criação e amparada pelos dispositivos do §

3º, do art. 889, CC, atendeu às necessidades jurídicas e econômicas para emissão de títulos

criados em computador ou outro meio equivalente, amparando-se nos requisitos mínimos

previstos neste artigo.

Os princípios básicos dos títulos de crédito são: a cartularidade, a literalidade e

a autonomia. Como adequar esses princípios básicos aos títulos eletrônicos, nos dias de hoje,

tem sido o grande palco das discussões sobre o tema.

De acordo com o Professor Fabio Ulhoa Coelho12, os princípios básicos se

encontram em situações bem distintas, sendo que o primeiro o da cartularidade, desaparece,

não fazendo falta, o segundo, o da literalidade, deve ser ajustado e adaptado, e o terceiro, o

da autonomia, continua em pleno vigor, e plenamente aplicável.

Ele ainda define que sendo por meio de papel ou por meio eletrônico, a

obrigação cambial circula sempre de forma independente e autônoma das anteriores.

Em relação à segurança, tanto o papel como o meio eletrônico, são passíveis de

serem adulterados. O papel deixa marcas que podem ser constatadas por um perito técnico. Já

o meio eletrônico, com o uso de algumas tecnologias, também pode deixar pistas, a diferença

nesses casos, como define também o Professor Fábio Ulhoa Coelho13 é que as pistas de

adulteração do papel são físicas e as do arquivo eletrônico são eletrônicas.

12 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de DireitoComercial. 22ª ed., São Paulo. Saraiva. 2010. 13 COELHO, Fábio Ulhoa. Jornal Carta Forense. São Paulo, 2010. Disponível em : http://www.cartaforense.com.br/Materia.aspx?id=5199 . Acesso em : 22.02.11, 22:30:15

13

A fim de dar maior segurança às transações eletrônicas, as operações podem se

dar através de senhas.

O Certificado Digital14 é um documento eletrônico e seguro que, identifica uma

pessoa física ou jurídica, e permite aos seus usuários efetuarem suas transações na internet de

forma mais rápida, sigilosa e segura.

O requerente do Certificado Digital deve procurar uma Autoridade

Certificadora, munido de seus documentos pessoais ou jurídicos e conclusão do seu

cadastro15.

Através de um sistema da unidade certificadora, é gerada uma chave

criptografada com senhas de acessos e, validada através de assinatura e reconhecimento

presencial, que permite aos seus usuários efetuarem suas transações e assinarem digitalmente

seus negócios, garantindo assim, confiabilidade e segurança ao seu portador.

Essa prática é muito utilizada pelos contabilistas, no que se refere aos serviços

prestados junto à Receita Federal do Brasil - RFB, economizando tempo e agilizando o

tramite de documentos e acompanhamento de processos, via web, utilizando-se apenas do

Certificado Digital.

As próprias transações bancárias também se utilizam dessas chaves

criptografadas para validar as transações efetuadas por seus clientes via internet, se tornando

uma prática cada vez mais comum16.

Empresas que praticam e-commerce, via internet, apresentaram em 2010 um

crescimento anual17 de 30%, sendo que a grande maioria das transações são efetuadas

14 CERTISIGN. O que é certificação Digital. Disponível em : http://www.certisign.com.br/certificacao-digital/por-dentro-da-certificacao-digital . Acesso em : 01/03/11, 11:21:35 15 SERPRO. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Roteiro para Certificação Digital. Disponível em https://www.scdp.gov.br/Manual/CertificacaoDigital/Roteiro_Certificacao_Digital.htm . Acesso em : 08/03/11, 11:08:00 16 UOL, Economia. Transações bancárias via web crescem e ultrapassam 1 bilhão em alguns bancos. Disponível em: http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/infomoney/2010/10/29/transacoes-bancarias-via-web-crescem-e-ultrapassam-1-bilhao-em-alguns-bancos.jhtm. Acesso em: 25/02/11 , 19:40:22

14

utilizando-se apenas das informações prestadas pelos usuários, dentre elas o fornecimento do

número do cartão de crédito ou ainda, a opção de emissão do título para pagamento em

estabelecimento bancário18.

Sendo assim, não restam dúvidas de que o comércio eletrônico vem crescendo

muito rápido nos últimos anos.

A assinatura digital substituiu a manuscrita em muitas situações, contudo, as

transações comerciais eletrônicas, estão sendo realizadas de forma mais simples, o comprador

escolhe o produto ou serviço que deseja, insere seus dados e decide a forma de pagamento

mais conveniente, sendo a mais usual, o cartão de crédito ou o título bancário e, espera sua

encomenda chegar.

Para dirimir os conflitos, caso venham a surgir, uma legislação específica,

precisa ser criada para regulamentar essas operações, a fim de que a segurança jurídica possa

ser respeitada.

2.1. Legislação brasileira e a importância dos costumes para consolidação dos títulos

eletrônicos:

Os títulos de crédito são documentos representativos de

obrigações pecuniárias. Não se confundem com a própria

obrigação, mas se distinguem dela na exata medida em

que a representam.19

Portanto, o interesse do presente trabalho não se relaciona com a obrigação

mas sim, a forma de indenização do pagamento de uma batida de carro, como exemplificou

brilhantemente o próprio autor em sua obra.

17 ECOMMERCEORG. Evolução da internet e do e-commerce. Disponível em: http://www.e-commerce.org.br/stats.php. Acesso em: 01/03/11, 11:01:23 18 OBSERVADOR, O. Conheça o perfil dos consumidores brasileiros. Disponível em: https://www.cetelem.com.br/portal/elementos/pdf/pdf_observador2009.pdf . Acesso em: 01/03/11, 09:15:00 19 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de DireitoComercial. 22ª ed., São Paulo. Saraiva. 2010.

15

O presente autor segue ao conceituar o título de crédito, elaborado por Vivante,

é o seguinte: “documento necessário para o exercício do direito, literal e autónomo, nele

mencionado.”20

Em razão desta, os princípios são explicados e o presente profissional

exemplifica a adequação destes princípios na órbita moderna, que se seguem:

Ultimamente, o direito tem criado algumas exceções ao

princípio da cartularidade, em vista da informalidade que

caracteriza os negócios comerciais. Assim, a Lei das

Duplicatas admite a execução judicial de crédito

representado por este tipo de título, sem a sua

apresentação pelo credor (LD, art. 15, §22), conforme se

estudará oportunamente. Outro importante fato que tem

interferido com a atualidade desse princípio é o

desenvolvimento da informática no campo da

documentação de obrigações comerciais, com a criação

de títulos de crédito não-cartularizados.

Outro princípio é o da literalidade. Segundo ele, não terão eficácia para as

relações jurídico-cambiais aqueles atos jurídicos não-instrumentalizados pela própria cártula a

que se referem.

O que não se encontra expressamente consignado no título de crédito não

produz consequências na disciplina das relações jurídico-cambiais. Um aval concedido em

instrumento apartado da nota promissória, por exemplo, não produzirá os efeitos de aval,

podendo, no máximo, gerar efeitos na órbita do direito civil,como fiança. A quitação pelo

pagamento de obrigação representada por título de crédito deve constar do próprio título, sob

pena de não produzir todos os seus efeitos jurídicos.

Finalmente, pelo princípio da autonomia, entende-se que as obrigações

representadas por um mesmo título de crédito são independentes entre si. Se uma dessas

20 Idem. P.232

16

obrigações for nula ou anulável, eivada de vício jurídico, tal fato não comprometerá a

validade e eficácia das demais obrigações constantes do mesmo título de crédito. Se o

comprador de um bem a prazo emite nota promissória em favor do vendedor e este paga uma

sua dívida, perante terceiro, transferindo a este o crédito representado pela nota promissória,

em sendo restituído o bem, por vício redibitório, ao vendedor, não se livrará o comprador de

honrar o título no seu vencimento junto ao terceiro portador.21

A primeira questão que evidenciamos é a conseqüência da modificação do

primeiro princípio. Porque não some o princípio e sim seu meio: o papel.

Nos entendimentos dos tribunais, há magistrados que solicitam a emenda da

petição inicial do juízo a quem, porém os magistrados de 2º grau não tem corroborado com

este entendimento, já que estes últimos reconhecem a existência da duplicata virtual.

Discute-se a questão do aceite no caso dos títulos se estes são inexistentes, o

que se averigua é que nos tribunais em caso de ausência, o fato da aceitação e pagamento

reiterados dos boletos viabiliza tal aceitação.

Em suma, há algumas questões controvertidas, entre elas trata-se da

competência em julgado de duplicata virtual.

Neste tema, torna-se claro, a mutação das relações com o surgimento da

tecnologia. Tal modificação, não se pode deixar de citar, Ken`ichi Imai, analista

organizacional que apontou as três estratégias e destas a mais avançada estão em rede.

Destas afirmações, conclui-se que, o direito deve acompanhar a sociedade, já

que a função essencial da norma não é ser meramente jurídica, mas sim, essencialmente

social, principalmente no que se refere ao Direito Comercial.

Não há que se falar no desaparecimento dos princípios, mas sim, de mutações

inevitáveis na era de globalização.22

21 Idem. P 234 22 CASTELLS, M. A Sociedade em Rede, 4ª ed.São Paulo: Paz e Terra. P185-186

17

2.2. O princípio da Cartularidade e os meios eletrônicos:

A Cartularidade consiste na incorporação do direito ao documento celebrado

entre as partes, como título de crédito. Nesse caso o documento torna-se condição necessária

para exigência da obrigação, o que torna legítima a cobrança do título de crédito pelo titular

ou possuidor que posteriormente o adquiriu legalmente contra quem o tenha emitido.

Visando celeridade, buscamos nos aprimorar com os avanços tecnológicos e

esbarramos no princípio da cartularidade em virtude desta crescente utilização dos títulos de

créditos virtuais, tradicionalmente reconhecido no conceito de título de crédito de Cesare

Vivante. Neste momento histórico onde se busca a otimização dos meios de produção e a

dinamização das relações comerciais, torna-se inevitável a inserção do meio digital no

comércio e nas relações cambiárias.

Nesse sentido, o Princípio da Cartularidade deve passar por um processo rápido

de transformação ou simplesmente desaparecer por completo, no que tange às relações

eletrônicas. No ambiente eletrônico-virtual o registro, ao qual está incorporado o direito ao

crédito, celebrado entre as partes, é de tal forma consistente, confiável e negociável que se

torna necessário sua transposição ao suporte de papel apenas para compor prova ou

comprovação numa lide. Entretanto, a sobrepujança do meio eletrônico se sobressai que essa

transposição ao suporte de papel, materializando o título de crédito, deverá estar atualizada

eletronicamente, e, se possível, sempre assim permanecer, para evitar o crédito a quem já

praticou ato de endosso, com a assinatura digital.

O Princípio da Cartularidade, que nos dizeres de Fábio Ulhoa “é a garantia de

que o sujeito que postula a satisfação do direito é mesmo o seu titular, sendo, desse modo, o

postulado que evita o enriquecimento indevido de quem, tenha sido credor de um título de

crédito, o negociou com terceiros (descontou num banco, por exemplo)”23. Como

consequência, temos que, não há possibilidade de executar-se uma dívida contida num título

de crédito acompanhado, somente, de uma cópia autenticada, afinal, com a simples

23 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 8ª edição, 2008.

18

apresentação de cópia autenticada poderia o crédito, por exemplo, ter sido transferido a outra

pessoa.

Pontes de Miranda observara, com certa clarividência, que se existia uma

forma preferencial de cartularidade, esta preferencialmente seria a do meio de suporte em

papel ao formalizarem um título de crédito, mas com certeza também tal título poderia ser

formalizado em outros meios de suporte, utilizando-se pergaminhos, argila, pedra, etc. O que

daria validade ao título seria a existência da literalidade e em lugar devido o reconhecimento

para se obrigarem cambiariamente as partes.24

O art. 225 do Código Civil (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002) reconhece

expressamente a existência, a validade e a eficácia jurídica do documento eletrônico. Eis os

termos da norma destacada:

"Art 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas,

os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras

reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de

coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem

for exibido, não lhes impugnar a exatidão".

Portanto, a representação, a guarda ou a erenização de um fato (essência da

idéia de documento) pode ser juridicamente efetivada por intermédio de um arquivo

eletrônico. A regra geral do art. 225 do Código Civil anuncia expressamente, no universo

jurídico, a existência de uma avassaladora transformação tecnológica, particularmente a

relacionada com os computadores eletrônicos e as redes por eles formadas.

Por ser regra geral, o artigo 225 do Código Civil, contrasta com uma série de

regras especiais que exigem a confecção e circulação de certos documentos escritos em papel.

Nesse sentido, flagramos o princípio da cartularidade dos títulos de crédito, ou

seja, “...a necessidade do título de crédito se materializar em um documento escrito, devendo

24 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambiário. Atualizado por: Vilson Rodrigues Alves. Campinas: Bookseller, 2001.

19

ser algo corpóreo e palpável”25, conforme as palavras de Patrícia de Morais Patrício. Segundo

a autora, aponta-se diante das regras jurídicas a necessidade de manutenção dos títulos no

formato cartular. Tal conclusão seria a conseqüência necessária da aplicação do critério da

especialidade, segundo o qual a norma especial prevalece sobre a norma geral.

Quanto à doutrina jurídica, “...ainda se encontra bastante dividida sobre a

possibilidade de existência válida de títulos de crédito virtuais [...]” 26, consoante notícia de

Patrícia de Morais Patrício. A jurisprudência também é alvo de divergências em relação à

matéria com certa tendência a aceitação, “ante a análise da jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça, pode-se concluir que a Corte, acertadamente, na maioria de seus

acórdãos, tem se posicionado de maneira avançada quanto ao princípio da cartularidade,

aceitando a execução judicial quando ausente o título [...]” 27.

Sendo assim, o título de crédito representado em arquivo eletrônico é o antigo

título de crédito (cartular) adaptado às grandes e aceleradas mudanças tecnológicas da Era da

Informação. Se a lei não foi atualizada, cabe ao intérprete, com critério, prudência e

segurança, adequar, atualizar o Direito (universo não restrito aos comandos legais formais).

Para auxiliar nesse expediente, devemos remeter ao artigo 4º da Lei de Introdução ao Código

Civil, que diz:

“Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso

de acordo com a analogia, os costumes e os princípios

gerais do direito.”

Com todas estas informações, podemos dizer que não se torna inconveniente

considerar a extinção do princípio da cartularidade, apesar da sua contribuição histórica na

formação/evolução dos títulos de crédito embora cada vez mais seu uso torna-se

desnecessário. O princípio é uma idéia, um norte para os operadores do direito, que se

desmonta e se reconstrói com o passar do tempo.

25 PATRÍCIO, Patrícia de Morais. Títulos de crédito: relativização dos princípios. Brasília: Fortium, 2006. Pág. 26. 26 Idem. 27 Idem. P. 23 e 25.

20

Assim, a cartularidade se mostra flexível aos avanços tecnológicos e insere

mais um paradoxo criador dentro da ciência jurídica. Os efeitos assumem formas e idéias

certas, colocando o direito ao encontro da sociedade. O real interesse é assegurar a

titularidade do direito mesmo que através de meios eletrônicos.

A legislação especifica sobre o assunto, que trata, entre outras coisas, dos

documentos eletrônicos é a Medida Provisória 2.200 de 24 de agosto de 2001, que instituiu a

Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP- Brasil, que em seu primeiro artigo

manifesta-se sobre o tema:

“Art. 1º Fica instituída a Infraestrutura de Chaves

Públicas Brasileira – ICP-Brasil, para garantir a

autenticidade, a integridade e a validade jurídica de

documentos em forma eletrônica, das aplicações de

suporte e das aplicações habilitadas que utilizem

certificados digitais, bem como a realização de transações

eletrônicas seguras.”

Como bem enfatiza o artigo primeiro, o ICP-Brasil dá garantia de validade

judicial, entre outras, para os documentos processados eletronicamente através do sistema de

chaves codificadas ou criptografadas. A Medida provisória acabou com todos os obstáculos

impostos, quanto à utilização do documento eletrônico, também como meio de prova.

Os atuais programas de criptografia são capazes de cifrar um documento

eletrônico, seja ele texto (uma peça processual, um título de crédito eletrônico), som (uma

audiência gravada, uma confissão) ou imagem (uma fotografia, um documento digitalizado) e

marcá-lo com uma assinatura digital de tal forma que, se houver qualquer alteração no

documento, a chave pública não mais o abrirá, acusando a falsificação.

Desse modo conseguimos a forma mais eficiente possível de garantir a

autenticidade de um documento eletrônico. O controle das chaves tornou-se a questão crucial

da força probatória dos documentos eletrônicos.

21

Usando o fenômeno da Transmutação de Suporte, em que o crédito nele

documentado passa, desde o registro, a circular exclusivamente por meio eletrônico, deixando

de possuir um suporte de papel e passando ao suporte eletrônico, que trata-se do registro, num

mercado de balcão organizado, como a Cetip ou a BBM, de um título de crédito. O pedaço de

papel que, antes, materializava o título deixa de cumprir esta função. Nele não se pode lançar

mais nenhum ato cambiário, enquanto estiver ativo o registro deste título no mercado de

balcão organizado. Se, na data do vencimento, o título for regularmente liquidado, ele não

reassume o suporte anterior, mas, se não houver o pagamento e for necessária a cobrança

judicial, deve ocorrer nova transmutação de suporte, ou seja, aquele papel que ficou

custodiado no banco e que, até o vencimento do título, não tinha mais a função de documentar

aquele crédito, volta a ser o suporte do título.28

Em um futuro próximo, quando os processos judiciais forem todos eletrônicos,

espera-se não ser mais necessária a transmutação de suporte, podendo o título ser criado,

circular e, não pago, ser cobrado exclusivamente no meio eletrônico. A lei já disciplina a

transmutação de suporte nos títulos do agronegócio, por exemplo. Mas a mesma disciplina é

aplicável a qualquer título de crédito, em razão do princípio da equivalência funcional.

A legislação alemã nos traz uma interessante definição, segundo a alínea 1, do

§2º do artigo 3º da Lei de Assinatura Digital, de 1º de Agosto de 1997:

"Assinatura digital" significa um selo afixado a dados

digitais, o qual é gerado por uma chave privada de

assinatura e comprovador do dono da assinatura e da

integridade dos dados com o uso de uma chave pública de

assinatura sustentada por um certificado de chave de

assinatura utilizada, fornecida de uma autoridade de

certificação, de acordo com o §3º desta Lei.

28 COELHO, Fábio Ulhoa. Títulos de Crédito Eletrônicos. Disponível em http://www.cartaforense.com.br/Materia.aspx?id=5199 . Acesso em 03/02/2011, 21:56:57.

22

Este serviço já é regulamentado em vários países e no nosso país, via ICP-

Brasil, visa a regulamentar o comércio eletrônico e institui tanto a assinatura digital, como as

certificadoras em nosso ordenamento.

Uma das dúvidas que foi levantada, quando se tratou de documento

eletrônico foi a questão da originalidade dos documentos dele decorrentes, tanto pela

impressão (ou materialização, nos termos do projeto), quanto pela digitalização de

documentos cartulares preexistentes. Fica dessa forma dirimida essa questão que já encontra,

inclusive, respaldo jurisprudencial no nosso sistema jurídico

Ainda fica em aberto uma grande questão que não foi tratada em nenhum

projeto de lei é a necessidade de criação de um endosso eletrônico para os títulos de crédito

eletrônico. Principalmente na área de comércio exterior, na qual este instituto é amplamente

utilizado nas operações de financiamento e transporte. Neste caso, em que o conhecimento de

embarque é um instrumento essencial, a utilização de meios eletrônicos seguros poderia

impulsionar o comércio internacional.

A grande massa dos créditos, hoje em dia, é constituída, circula e é liquidada

mediante registros eletrônicos. Sendo assim, se faz necessário rever todo este capítulo do

Direito Comercial, a começar pelo próprio conceito de título de crédito, que Vivante29

enunciou há quase um século e que se encontra, atualmente, ultrapassado.

Para Fábio Ulhoa: “Título de crédito não é mais o documento necessário para

o exercício do direito literal e autônomo nele contido; mas, sim, o documento, cartular ou

eletrônico, que contempla cláusula cambial, pela qual os co-obrigados expressam a

concordância com a circulação do crédito nele contido de modo independente e autônomo.” 30

O suporte não deve ser exclusivamente o papel, vez que existente outro meio

viável para se depositar informações, o meio eletrônico. As informações que constituirão o

título de crédito repousam agora sobre bits, e não mais somente sobre átomos.

29 VIVANTE, Césare. Instituições de Direito Comercial. São Paulo; Editora Minelli, 2006. 30 COELHO, Fábio Ulhoa. Títulos de Crédito Eletrônicos. Disponível em http://www.cartaforense.com.br/Materia.aspx?id=5199 . Acesso em 03/02/2011, 21:56:57.

23

2.3. A implementação dos títulos eletrônicos:

Conceito histórico dos Títulos de Crédito Eletrônicos

Temos que a origem dos primeiros Títulos de Crédito Eletrônicos deu-se na

França, em 1967, sendo em 1973 aperfeiçoada através de um Projeto de Lei da Declaração de

Câmbio (lettre de change-relevé). A lei foi criada com o objetivo de agilizar a movimentação

do crédito, pois, devido ao grande crescimento industrial e econômico, seria necessário alterar

parte dos trâmites de praxe, para que o mesmo pudesse se tornar mais célere. Foi criado

assim, um título de crédito, sob forma de fita magnética, que nada mais era que um borderô

eletrônico emitido pelo cliente diretamente a uma instituição financeira, minimizando assim a

circulação da cártula.

Visando a redução de custos, o dispositivo foi adotado também na Alemanha.

Na década de 70, a França substituiu por completo o papel, passando a utilizar a fita

magnética. No Brasil, em 1975, o Banco do Brasil, preocupado com o dinamismo e

crescimento do comércio, anunciou no XI Congresso Nacional de Bancos, que as instituições

financeiras estavam prestes a “sufocar o sistema sob toneladas desses papéis, volume sempre

crescente em face do expressivo desenvolvimento nacional”. Mesmo diante de tal

preocupação, somente em 1979 a referida entidade editou uma Circular tendo como propósito

padronizar tais títulos, viabilizando assim a circulação do crédito de forma mais dinâmica.

Deu-se então, após estudos, um espelho do sistema Francês “lettre de change-relevé”, com o

nome de duplicata escritural ou plasmada.

Embasamento Legal dos Títulos de Crédito Eletrônicos no Brasil

Com o crescimento da economia e aprimoramento tecnológico as transações

financeiras no Brasil passaram para um terceiro patamar, deixou-se de lado, quase que por

completo, o papel, passando a figurar meio eletrônico computadorizado, onde as informações

passaram a ser praticamente automáticas ou instantâneas.

24

Com o crescimento socioeconômico, o Direito teve que se adaptar, exigindo-se

maior flexibilidade de interpretação dos nossos juristas. Segundo Fábio Ulhoa Coelho, o

legislador já ao formular a lei de nº 5.474/68 (Lei das Duplicatas) art. 13 [...] §1, dava

condições para a desmaterialização do título, quando este opta pela indicação do portador para

o protesto do mesmo. Seguindo este preceito, a lei nº 9.492/97 em seu Art. 8º consolidou o

protesto por indicação.

Ainda acompanhando o crescimento da era digital, a Medida Provisória nº

2.200-02/2001 ICP-Brasil (Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira) dispôs sobre a

implementação da assinatura digital no Brasil. Em 2002, com a atualização do Código Civil,

deu-se uma consonância maior ao entendimento de que a duplicata virtual é um título

executivo, ressalvando-se que deve ter os requisitos dispostos no Art. 889, que são a data da

emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

Os Títulos de Crédito na Atualidade

Nos dias atuais, é quase impossível imaginar a vida sem os meios de transação

eletrônica. O convívio socioeconômico atual busca cada vez mais a utilização de meios

tecnológicos, que tragam confiabilidade, praticidade, agilidade e segurança. Hoje, se tornou

inconcebível para uma indústria ou comércio ignorar o avanço tecnológico e sobreviver sem

se adequar a ele. Assim, constata-se que o número de empresários que opta por não utilizar os

meios digitais é irrisório, se comparado aos demais.

As transações comerciais giram em torno de transferências, TED, DOC,

contratos eletrônicos, cobranças eletrônicas dentre outros. Na atualidade, a duplicata, antes

representada pela cártula, passou a ser a cobrança eletrônica, através de dados inseridos e

assinados de forma digital em uma instituição financeira, fornecendo condição para receber e,

se necessário, protestar tal título por falta de pagamento.

Como já mencionado, o Código Civil em seu Art. 889, § 3º nos narra:

“O título poderá ser emitido a partir dos caracteres

criados em computador ou meio técnico equivalente e que

25

constem da escrituração do emitente, observados os

requisitos mínimos previstos neste artigo.”31

O nosso ordenamento jurídico, por meio de nossos doutrinadores positivistas,

tem o seguinte conceito:

[...] “o direito positivo brasileiro, graças à extraordinária

invenção da duplicata, encontra-se suficientemente

aparelhado para, sem aparelhação legislativa, conferir

executividade ao crédito registrado e negociado apenas

em suporte magnético.”32

Segundo Rodney de Castro Peixoto:

“Embora o disposto no art. 889 do Novo Código Civil se

refira a títulos de crédito, de maneira genérica, é na

duplicata que presenciamos sua aplicabilidade mais

importante e efetiva.

Pela primeira vez, ‘caracteres criados em computador’,

vale dizer, bits e bytes, constam em um codex de tamanha

importância e abrangência, o que caracteriza os novos

rumos tomados pela sociedade com a utilização da

tecnologia da informação.

A duplicata digital recebe previsão legal.

Nada muda no processamento da duplicata nas

transações cotidianas. Todos os dias milhares de títulos

são gerados em sistemas informáticos e cobrados da

mesma maneira.”33

31 Código Civil. Brasília, 2002. 32 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. 33 PEIXOTO, Rodney de Castro. O Comércio Eletrônico e os Contratos. São Paulo: Editora Forense.

26

É fático, portanto, diante da economia global e das práticas comerciais que os

títulos de crédito eletrônicos já se encontram implementados e em constante atualização

tecnológica, restando somente a nossos operadores do direito cada vez mais ampliar o

entendimento que acerca o assunto.

3. Títulos de Crédito virtuais e as relações interempresariais:

Há muito tempo a atividade empresarial tem procurado novos meios para

ampliar seus negócios, tentando aumentar significativamente suas operações. Desta forma,

desde muito tempo, navegadores se aventuravam pelos mares em busca de grandes lucros

com a venda de especiarias, até chegar aos dias de hoje onde os empresários têm buscado

encontrar novas formas para a expansão de seus horizontes.

A sociedade econômica atual se encontra inserida num processo irreversível de

globalização, que atinge todas as esferas da atividade humana, tendo como apoio o constante

desenvolvimento de novas tecnologias, a rede mundial de computadores é uma delas.

A forma mais utilizada em rede de computadores é a Internet, também

conhecida como “ciberespaço”. Com ela, as distâncias físicas deixam de existir, facilitando-se

assim, a comercialização entre os países do mundo inteiro.

Dessa forma, como resolver a questão relativa à lei aplicável e à jurisdição?

Com a globalização e o avanço da tecnologia, as pessoas têm vivido uma

enorme revolução em suas vidas, com uma realidade muito mais ampla do que apenas a

integração com seu bairro, sua cidade, seu estado ou até mesmo seu país. Hoje, lhes é

conferido o status de cidadão global.

Em decorrência disso, as pessoas se tornam livres, quase que ilimitadamente,

ficando assim a mercê de pessoas mal intencionadas.

A maior questão se resume na grande distância entre a velocidade do processo

de inovação tecnológica e o moroso processo social institucional.

27

Sem sombra de dúvida, a Internet se tornou uma grande plataforma de

negócios onde o aumento de transações comerciais e financeiras têm como objeto, bens

materiais, imateriais ou serviços.

São grandes as vantagens, tanto para consumidores como para o empresariado,

porém, com a falta de regulamentação, muitas pessoas se vêm desamparadas legalmente e

preferem deixar de lado o uso dessa ferramenta de negócio.

Por sua vez, o Direito como uma ciência dinâmica preocupada com as

contínuas mudanças sociais e com o objetivo de dar condições necessárias à organização da

sociedade, não pode deixar de lado à análise do impacto que as novas tecnologias

proporcionam, em especial o Direito Comercial.

Apesar de existir certo receio por parte dos usuários da rede Internet ao

realizarem transações eletrônicas envolvendo troca de informações sigilosas, valores e bens, a

confiabilidade nos sistemas de segurança existentes tem aumentado gradativamente, pois um

amplo rol de soluções técnicas bastante eficientes já vem sendo utilizado, desde a abertura da

Internet à comercialização.

A proteção mais usada nos sistemas de rede atual é o sistema de criptografia,

onde as informações podem ser transformadas de sua forma original para outra forma ilegível,

com o objetivo de ser conhecido somente pelo seu destinatário, que é quem possui a “chave

secreta” para sua leitura.

Outro meio de segurança utilizado é o da autenticação, onde um processo

confirma que seu parceiro na comunicação é realmente a pessoa que deve estar recebendo a

mensagem enviada.

Títulos de Crédito Virtuais

O conceito de Cesare Vivante, o Código Civil de 2002, em seu art. 887 é o

mais aceito na doutrina por trazer os principais princípios que regem os títulos de créditos.

28

Os princípios dos títulos de crédito são:

a) Literalidade: somente poderá ser exigido o que estiver escrito no título, caso contrário, o

que não constar do título, não poderá ser cobrado cambiariamente, ou melhor, vale na medida

declarada e, consequentemente, o que não está escrito não pode ser alegado.

Isso dá segurança, pois os envolvidos sabem o montante de suas obrigações

assumidas.

“(...). O título de crédito se enuncia em um escrito, e

somente o que está nele inserido se leva em consideração;

uma obrigação que dele não conste, embora sendo

expressa em documento separado, nele não se integra”34

Porém, nem tudo que está escrito pode ser levado em consideração, tem que

estar de acordo com a lei e não pode impor condição. Se tiver, é considerado não escrito.

b) Autonomia: as obrigações assumidas por alguém no título não está vinculada a qualquer

outra obrigação. Cada um que intervém, assume uma obrigação independente, não ligada às

outras relações existentes na cártula.

“(...) o possuidor de boa fé exercita direito próprio, que

não pode ser restringido ou destruído em virtude das

relações existentes entre os anteriores possuidores e o

devedor. Cada obrigação que deriva do título é autônoma

em relação as demais.”35

O possuidor não tem o seu direito restringido em decorrência dos negócios

anteriores entre os primitivos possuidores e o devedor. Isso existe, porque o que se transfere é

34 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 359. 35 Idem. Pág. 360.

29

o título e, por consequência, os direitos nele contido, fazendo com que cada possuidor seja

titular de direito autônomo e originário.

c) Abstração: é a desvinculação do título de sua origem, de sua causa, dos motivos que o

geraram.

“(...). A abstração relaciona-se principalmente com o

negócio original, básico, subjacente, dele se

desvinculando o título no momento em que é posto em

circulação.(...) entrando em circulação, o cumprimento

das obrigações assumidas dele se liberta (...)”36

A abstração ocorre somente após o título entrar em circulação, no momento

que se desvincula do credor originário.

A maioria dos doutrinadores e decisões dos tribunais superiores não admitem

mais a abstração, já que é possível a discussão da causa do título, o que originou o título de

crédito.

d) Formalidade: significa que os títulos de créditos deverão preencher os requisitos

estabelecidos em lei. Não contendo todos os requisitos os mesmos são nulos. É ela que

garante a existência dos demais princípios.

e) Cartularidade: é o princípio pelo qual, só será título de crédito se estiver materializado,

presente em um documento.

É o que gera discussão para a existência do título de crédito virtual, porque

nele não há a emissão do documento, eles existem em meios magnéticos e pelo conceito de

Vivante, adotado pelo Código Civil, a existência material é indispensável.

Os defensores dos títulos de crédito virtuais entendem que, apesar do conceito

do artigo 887 do Código Civil basear-se em Vivante, o artigo 889, §3º, ao estabelecer que o

36 MARTINS, Fran. Títulos de crédito. Edição universitária, 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 14.

30

título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados por computador ou meio técnico

equivalente, admitiu assim os títulos de crédito eletrônicos.

Outra forma de entendimento é a de Wille Duarte Costa:

“Por fim, o §3º introduz uma grande bobagem, pois,

mandando observar os requisitos mínimos previstos no

artigo, admite que possa ser o título emitido a partir de

caracteres criados por computador. Ora, entre os

requisitos mínimos estabelecidos neste artigo está a

assinatura do emitente. O que se entende, então, é que o

teor do título pode ser digitado em um computador ou

técnico equivalente. Neste caso, pode ser criado em

máquina de escrever, em impressora gráfica, computador

e até de forma manuscrita.” 37

Sua argumentação não pode prosperar, pois, a medida provisória 2200/01

regula a assinatura eletrônica podendo ser aplicado aos títulos de crédito.

Sendo assim, na atualidade, o documento não se faz mais necessário pois, os

documentos eletrônicos são amplamente aceitos pela sociedade em todos os seus setores.

Conforme Marcos Paulo F. da Silva:

“De fato, a desmaterialização ou o abandono do papel, no

todo ou em parte, constitui um fenômeno que, malgrado

esteja longe de sua maturação, está em plena evolução

nas esferas pública e privada das sociedades. Aliás, ao se

analisar a desmaterialização, em sentido extenso,

tomando-se por parâmetro alguns países em que se

manifesta, percebe-se que o universo dos setores

atingidos, a dimensão e as perspectivas de

37 COSTA, Wille Duarte. Títulos de Crédito. 4ª Ed. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009.

31

aprofundamento do fenômeno variam de conformidade

com o estágio de desenvolvimento econômico e

tecnológico de cada um.” 38

A duplicata escritural eletrônica (ou virtual), com efeito, é um título formal,

que obedece aos requisitos exigidos pelo do art. 2º, §1º, da Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas).

A duplicata virtual é reconhecida como título de crédito, consolidado em

obrigação líquida e certa, desde que os caracteres criados em computador, ou meio técnico

equivalente, constem da escrituração do emitente e o título observe os requisitos mínimos

previstos no art. 889.

É claro, nos dias de hoje, pouco a pouco vai se deixando de lado a duplicata

materializada em papel, em cártula, substituída pelo título eletrônico, cuja executividade vem

sendo, no entanto, contestada por parte da doutrina, mas com legalidade na sua emissão por

meios eletrônicos em nosso direito, dependendo a sua eventual nulidade de aplicação em cada

caso concreto, não podendo ser questionada a sua definição.

Apesar disso, não se afirma que o princípio da cartularidade esteja descartado e

sim que o conceito de documento está mais amplo com o novo Código Civil de 2002,

englobando, também, os documentos eletrônicos.

Relações Interempresariais

Em relação aos contratos interempresariais, na área de Tecnologia da

Informação, pouco se tem discutido, bem como os efeitos gerados sob o aspecto tributário,

concorrencial, de propriedade industrial, de relações de trabalho e de consumo, e importação e

exportação.

Isto acontece pela falta de conhecimento multidisciplinar do direito da maioria

dos operadores do Direito, que focam em alguma especialização, deixando de lado as demais

38 SILVA, Marcos Paulo Félix da. Títulos de Crédito no Código Civil de 2002 – Questões Controvertidas. Curitiba: Editora Juruá.

32

áreas do Direito. Para piorar ainda mais essa carência, são raros os profissionais, que se

interessam pelos avanços da tecnologia e a legislação vigente em nada contribui para regular

esses contratos.

Como sabemos, um computador é formado por hardware e por software. O

hardware corresponde à conjugação física que uma vez “montada” executam funções

específicas ou conjuntas, enquanto que o software é a expressão de um conjunto organizado

de instruções em linguagem codificada, contido em suporte físico de qualquer natureza,

baseado em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins

determinados.

Dessas duas frentes de negócios são muitas as empresas no mundo focadas na

produção de hardware e outras tantas em software, investindo milhões de dólares em

pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias para facilitar o dia-a-dia das pessoas e das

empresas, a fim de minimizarem os custos de produção, bem como levar diversão e

entretenimento.

Neste sentido, podemos associar os negócios de hardware às operações de

venda de mercadorias, enquanto o software às operações de prestação de serviços, ou de

cessão ou licença de direitos.

Com relação aos negócios interempresariais gerados na venda de

computadores, acessórios e equipamentos correlatos, inexiste grandes problemas de ordens

contratuais, pois estão entre os tradicionais existentes, tais como de Compra e Venda, de

Distribuição, de Fornecimento, de Agenciamento e Intermediação, de Representação

Comercial, entre outros.

Porém, no que tange à prestação de serviços, e cessão ou licença de direitos,

pode-se dizer que praticamente não existe previsão dos direitos e obrigações entre os

contratantes de todas as operações que envolvem tecnologia no Código Civil/2002, na Lei nº

9.609/98 (Lei de Software), e mesmo na Lei nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais).

33

A Lei de Software dedica de forma absolutamente precária apenas três artigos

(9º, 10º e 11º), que tratam de licença de uso, comercialização, e de transferência de

tecnologia, aos contratos interempresariais.

Por sua vez, aspecto tributário, até em função da voracidade do Governo ávido

por arrecadação, houve grandes evoluções na definição dos tipos de serviços na área de

tecnologia, que melhor demonstram a carência no aspecto do Direito Civil e de Propriedade

Intelectual.

Até o advento da Lei Complementar nº 116/2003, o Decreto-lei nº 406/68

previa no item 25, da Lista de Serviços apenas os serviços de “análises, inclusive de sistemas,

exames, pesquisas e informações, coleta e processamento de dados de qualquer natureza”.

A nova lei veio dispor logo no início da nova lista os seguintes serviços: 1.01

Análise e desenvolvimento de sistemas; 1.02 Programação; 1.03 Processamento de dados e

congêneres; 1.04 Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos;

1.05 Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação; 1.06 Assessoria

e consultoria em informática; 1.07 Suporte técnico em informática, inclusive instalação,

configuração e manutenção de programas de computação e bancos de dados; e 1.08

Planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas.

Porém, cada um desses serviços reserva diversas características próprias que

acabam sendo definidas pelo lado mais forte da relação contratual (às vezes o cliente, às vezes

as empresas de TI) sem que haja equilíbrio nessa contratação. Além disso, nem sempre são

previstas todas as garantias necessárias para uma boa execução do contrato, sendo utilizados

nas cláusulas até mesmo termos ou conceitos impróprios ou inadequados, o que acaba

desaguando no Poder Judiciário para solução destes conflitos, justamente por falta de cuidado

na elaboração de tais instrumentos.

Podemos citar os contratos de outsourcing, de middleware, de alocação de

profissionais, de utilização de conteúdo, de hospedagem, acordos de nível de serviço (SLA),

de gestão de processos e de projetos de tecnologia (PMO), de cleaning, de armazenamento de

dados, entre outros.

34

Além disso, é comum em alguns países, a proposição de contratos virtuais que

em alguns casos violam normas constitucionais, mas são mantidas pelas multinacionais em

função das políticas internas, muito embora os departamentos jurídicos destas tenham a plena

convicção de que a anulação será certa no Poder Judiciário.

Um erro muito comum entre os operadores do direito é a elaboração de

contratos de prestação de serviços, quando deveriam fazer de licenciamento de uso de

software, ou de cessão de direitos de uso, e isto acaba gerando reflexos no aspecto de

propriedade intelectual ou ainda nas relações de trabalho existentes dentro da própria empresa

de informática, pois quem contrata a prestação de serviços torna-se proprietário do software, e

internamente dependendo da contratação feita a propriedade pode pertencer ao empregado,

conforme o artigo 4º, e §2º, da Lei de Software, o que pode gerar ao cliente final diversos

transtornos futuros.

Diante disso, é certo que os advogados das empresas de tecnologia devem estar

atentos à elaboração dos contratos, pois pode prevalecer mais o pacta sunt servanda do que o

rebus sic standibus, principalmente porque o Poder Judiciário vem pressupondo que nas

relações interempresariais (B2B), o “prejudicado” deve estar bem assessorado juridicamente.

4. Tendências Jurisprudenciais:

Importante destaque deve ser dado ao tratamento de tal tema por parte de nossos tribunais, o

que trazemos a seguir as principais decisões acerca do assunto:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXECUÇÃO.

DUPLICATAS. A SENTENÇA EXTINTIVA PODE

SER DESCONSTITUÍDA, POIS A DUPLICATA

“VIRTUAL” É TÍTULO EXECUTIVO. APELO

PROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70020453569,

DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. PAULO ROBERTO

FÉLIX, JULGADO EM 13/08/2008)

35

...................................

Apelante alega que, indeferindo a inicial, extinguiu-se a execução proposta em

face do apelado por ausência de título executivo. Porém, segundo votos do relator, a execução

de título extrajudicial foi aparelhada com cópia das notas fiscais e comprovantes de entrega

das mercadorias, sendo que duplicata extraída por meio eletrônico, devidamente protestada

por indicação, é título executivo.

“EMBARGOS DO DEVEDOR. EXECUÇÃO

APARELHADA COM NOTAS FISCAIS E BOLETOS

BANCÁRIOS DE PAGAMENTOS PROTESTADOS,

CONSTITUINDO VERDADEIRA DUPLICATA

‘VIRTUAL’. POSSIBILIDADE.” Considerando que a

embargante não nega a existência de relação comercial

com a empresa sacadora, bem como sua inadimplência,

advém a possibilidade de emissão de duplicata. Título que

surge de lançamento contábil, sendo desnecessária,

portanto, a impressão via papel da cártula. Indicações

presentes nos boletos bancários que não são negadas pela

sacada, autorizando, como decorrência, o seu aponte e

posterior execução. Existência da chamada duplicata

virtual. APELO DESPROVIDO.” (APELAÇÃO CÍVEL

Nº 70019965987, 20ª CÂMARA CÍVEL DO TJRS, DES.

JOSÉ AQUINO FLORES DE CAMARGO,JULGADO

EM 20-06-2007).

...................................

Neste mesmo sentido já decidiu o também Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Sul, conforme a ementa acima. É atual e corriqueira a prática da emissão digital da

duplicata, encaminhando-se, por instituição financeira, um boleto bancário para pagamento do

valor correspondente.

36

Sendo assim, os tribunais têm aceito a execução do título sem a apresentação

da duplicata original. E nestes casos a jurisprudência consolida esta possibilidade, mostrando-

nos que é possível compatibilizar a legislação vigente com as práticas comerciais atuais.

Fonte:www. tjrs.com.br/jurisprudencias

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DO DEVEDOR.

EXECUÇÃO. DUPLICATAS VIRTUAIS INACEITAS.

PROTESTO POR INDICAÇÃO. IMPRESTABILIDADE.

PRESSUPOSTO INAFASTÁVEL. INTERESSE

PROCESSUAL AUSENTE. NULIDADE FLAGRANTE

DA EXECUCIONAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO

ACERTADA. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 267, IV

E VI C/C 618, I, DO CPC. SENTENÇA MANTIDA.

RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

"As faturas de venda mercantil, bem assim os boletos

bancários, por não preencherem os requisitos legais

concernentes aos títulos de créditos, não são hábeis a

instruir o processo de execução." (Ap. Cív. n.

2000.023254-8, de Catanduvas, Rel. Juiz Túlio Pinheiro,

DJ de 29.09.03).

"Boletos bancários, ainda que acompanhados dos

respectivos instrumentos de protesto e dos

correspondentes comprovantes de entrega das

mercadorias ou produtos a quem os transportou, não se

alçam à condição de títulos representativos de dívida

líquida e certa. A executividade de documentos

reveladores de uma transação de compra e venda

mercantil exige a presença das duplicatas sacadas em

razão dela ou das pertinentes triplicatas, na hipótese de

retenção indevida daquelas.” (Ap. Civ. n. 2000.014759-1,

37

de Tijucas, 3ª Câmara de Dir. Comercial, Rel. Des.

Trindade dos Santos, j. em 23/10/2003).

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação

Cível n. 2007.037197-9, da comarca de Criciúma (3ª Vara

Cível), em que é apelante Masisa do Brasil Ltda, e apelada

Peruchi Indústria e Comércio de Móveis Ltda:

ACORDAM, em Primeira Câmara de Direito Comercial,

por votação unânime, conhecer do recurso interposto e

negar-lhe provimento. Custas legais.

RELATÓRIO

Perante a 3ª Vara Cível da Comarca de Criciúma, Peruchi

Indústria e Comércio de Móveis opôs embargos à

execução dita como lastreada em duplicatas mercantis que

lhe foi direcionada por Masisa do Brasil Ltda arguindo,

preliminarmente, a carência de ação por ausência de título

executivo e inexistência de liquidez, certeza e

exigibilidade do débito, sustentando, no tocante ao mérito,

inexistir prova da relação comercial entre as partes,

pugnando pela extinção do pleito executório instaurado.

Em sentença lançada aos autos, foram acolhidos os

embargos opostos, restando extinta a ação de execução,

nos termos dos arts. 618, I e 267, IV, do CPC, por

ausência de pressuposto processual de desenvolvimento

válido e regular do processo, ante a inexistência de título

executivo, com a condenação da embargada no pagamento

das custas processuais e honorários advocatícios, estes

arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais) vindo esta a

opor embargos de declaração, visando suprir omissão

38

apontada no julgado, no concernente à incidência de juros

e correção monetária sobre a verba honorária e que

mereceram acolhidos para, nos moldes dos arts. 406, do

CCB e 161, § 1º, do CTN, fixar os juros moratórios em

1% ao mês devidos, juntamente com a correção monetária

a contar da data da prolação da Sentença.

Irresignada, a embargada interpôs recurso de apelação,

visando a reforma do decisum objurgado, sustentando

estar a execucional devidamente instruída com as notas

fiscais emitidas, bem como com os comprovantes de

entrega da mercadoria e, ainda, com os instrumentos de

protestos por falta de pagamento das duplicatas sem

aceite, entendendo desnecessária "a juntada de um

documento que não mais existe em sua forma física" (sic),

mas sim por meios eletrônicos ou magnéticos, pugnando,

pelo regular seguimento do processo de execução e, por

derradeiro, pelo provimento do recurso.

Em não ofertadas contrarrazões, ascenderam os autos a

esta Corte e, distribuídos a este Órgão Fracionário,

vieram-me os autos conclusos.

VOTO

Trata-se de recurso de apelação, manejado por credora

contra Sentença que, acolhendo os embargos opostos por

sua devedora, veio a julgar extinta a execução aparelhada

que lhe foi proposta, com espeque nos artigos 618, I c/c

267, IV, ambos do Código de Processo Civil.

Nada obstante assevere a apelante, com veemência,

visando a desconstituição do provimento judicial

invectivado tenha sua vestibular, no pleito executório, sido

instruída não só com as notas fiscais, como também com

39

os comprovantes de entrega da mercadoria e, ainda, com

os instrumentos de protesto por falta de pagamento das

duplicatas sem aceite verberando, ademais que, "o

documento físico da duplicata não mais existe, sendo que

todos os meios de cobrança podem ser realizados de

maneira digital".(sic), não há como possa merecer

acolhimento o recurso interposto porquanto, em que pese

comprovada a existência de ato negocial de natureza

mercantil realizado com a ora apelada a verdade é que,

primeiramente, ao contrário do que procura em vão a

apelante fazer crer, o ordenamento jurídico pátrio até

então vigente, não confere aos denominados "boletos

bancários" a condição de duplicata virtual sendo que, ao

depois, nenhum dos demais documentos no qual veio a

alicerçar sua execução forçada se erige à condição de

título executivo hábil à sua instauração.

Impende salientar ainda que, se o crédito reclamado tem

origem em compra e venda mercantil à prazo

representada, segundo assevera a ora apelante por

duplicata mercantil inaceita e impaga pela sacada a

licitude e, mais ainda, a validade do protesto levado a

efeito não poderia ter descurado a norma cogente ínsita no

art. 14, da Lei n. 5.474/68 estabelecendo,

peremptoriamente que, Nos casos de protesto, por falta de

aceite, de devolução ou de pagamento, ou feitos por

indicações do portador o instrumento de protesto deverá

conter os requisitos enumerados no artigo 29 do Decreto

nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908, exceto a transcrição

mencionada no inciso II, que será substituída pela

reprodução das indicações feitas pelo portador do título.,

o que mereceu ignorado posto que, ausente no instrumento

de protesto, sequer alusão à remessa da cambial à sacada

40

para aceite ou para pagamento, não havendo presumir-se

tenha a mesma retido consigo a cambial o que, só então,

viabilizaria a própria lavratura do protesto cambiário, de

todo írrito, pois levado a efeito ao verdadeiro arrepio das

normas legais que disciplinam a matéria.

Consigne-se ainda, por mais se rebele a apelante que, por

força do disposto no art. 7º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 5.474/68,

tanto o protesto cambiário, como o manejo da execução

forçada somente prescindem da apresentação da duplicata

representativa do crédito reclamado quando disponha o

credor ou, ainda, a Instituição Financeira cobradora, de

comunicação escrita feita pelo sacado ao apresentante do

aceite e da retenção da cambial que lhe foi encaminhada.

Caso contrário, tal qual ocorre no caso vertente, impõe-se

ao credor a inarredável obrigação de proceder a

apresentação do título cambiário, não só quando da

lavratura do protesto como também e, principalmente,

quando da propositura da execução forçada, em estrito

cumprimento ao enunciado no art. 15, II, "c", da Lei n.

5.474/68.

Em situações análogas e, ao se deparar com a matéria,

assim também já restou assentado por esta Corte, verbis:

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO. INICIAL

INSTRUÍDA COM BOLETO BANCÁRIO E

INSTRUMENTO DE PROTESTO. AUSÊNCIA DE

TÍTULO EXECUTIVO. JUNTADA DA DUPLICATA

APÓS OS EMBARGOS DO DEVEDOR. EMENDA DA

INICIAL. IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS PARA O

PROTESTO POR INDICAÇÃO NÃO PREENCHIDOS.

AÇÃO EXTINTA. RECURSO IMPROVIDO.

41

Anular-se-ia a hipótese de extinção do processo com

fulcro no art. 618, I do Código de Processo Civil, se, em

qualquer fase do processo fosse possibilitada a aplicação

do art. 616 do Codex Processual, mesmo após a oposição

dos embargos do devedor, a fim de corrigir a incerteza,

inexigibilidade ou iliquidez do título, sob pena de

indeferimento da inicial. (Ap. cív. n. 2002.013036-8, de

Criciúma, Rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, j. em

6/5/2004).

No mesmo sentido, colhe-se da jurisprudência do Egrégio

Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

INEXISTÊNCIA DE NOVOS ARGUMENTOS

CAPAZES DE INFIRMAR A DECISÃO ORA

AGRAVADA. MANUTENÇÃO PELOS PRÓPRIOS

FUNDAMENTOS. AÇÃO DE EXECUÇÃO. TÍTULO

EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. INEXISTÊNCIA DOS

REQUISITOS INDISPENSÁVEIS. EXTINÇÃO DA

EXECUÇÃO POR ILIQUIDEZ DO TÍTULO. (STJ. Ag.

Reg. no Resp. n. 765487/TO, 2005.010111349-4, Rel.

Min. Luis Felipe Salomão, j. em: 24/11/2009).

Diante de toda a argumentação aduzida, em reconhecendo

haver a execucional sido instaurada sem que alicerçada em

título executivo, erigido por Lei em pressuposto de sua

admissibilidade que, ausente, rende ensejo à carência de

ação por parte daquele que alega ostentar a qualidade de

credor, tendo como corolário lógico a nulidade ab initio,

do pleito executório, conheço do recurso interposto e lhe

nego provimento, mantendo hígida e inalterada a Sentença

guerreada, pois em harmonia com os ditames ínsitos nos

42

artigos 267, IV e VI c/c 598 e 618, I, todos do Código de

Processo Civil.

DECISÃO

Nos termos do voto do relator, à unanimidade,

conheceram do recurso interposto e negaram-lhe

provimento, nos termos da fundamentação.

O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo

Exmo. Desembargador Ricardo Fontes, com voto, e dele

participou o Exmo. Desembargador Salim Schead dos

Santos.

Apelação Cível n. 2007.037197-9, de Criciúma

Relator: Des. Rodrigo Antônio

...................................

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE

EXECUÇÃO - DUPLICATA VIRTUAL – BOLETO

BANCÁRIO – PROTESTO POR INDICAÇÃO –

COMPROVANTE DE ENTREGA DAS

MERCADORIAS – EMENDA DA INICIAL PRA

JUNTAR DUPLICATA – DESNECESSIDADE.

01.A praxe comercial moderna vem substituindo as

duplicatas em papel pelas duplicatas escriturais ou

virtuais.

02.A legislação atual permite os chamados títulos virtuais

- artigo 889, §3º, do novo Código Civil.

03.Os cartórios de protesto podem aceitar as indicações

contidas num meio magnético e efetuar o protesto,

validando o procedimento em relação às duplicatas

escriturais. Interpretação do artigo 8º, parágrafo único da

Lei 9.492/97.

43

04. O protesto por indicação e o comprovante da entrega

das mercadorias dão a executividade do título virtual.

05. Agravo de Instrumento provido. Sentença cassada.

Unânime.

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma

Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos

Territórios, ROMEU GONZAGA NEIVA - Relator,

HAYDEVALDA SAMPAIO - Vogal, LECIR MANOEL

DA LUZ - Vogal, sob a Presidência da Senhora

Desembargadora HAYDEVALDA SAMPAIO, em

proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR

PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do

julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 1º de abril de 2009

Certificado nº: 1053A726000200000A2F

07/04/2009 - 14:11

Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA

Relator

Frise-se que a doutrina não é uniforme em admitir as

duplicatas escriturais ou virtuais.

Não corroboro, com a devida vênia, da corrente que

entende ser a duplicata virtual documento inexistente.

Celso Barbi Filho explica o procedimento da praxe

comercial moderna, que vem substituindo as duplicatas

44

em papel pelas duplicatas escriturais ou virtuais. Confira-

se :

“Com isso, os empresários passaram a não emitir as

duplicatas, encaminhando borderôs aos bancos, com os

números dos supostos títulos, correspondentes aos das

respectivas notas fiscais fatura, seus valores e

vencimentos, juntamente com a identificação dos sacados.

Os bancos, por sua vez, emitem boletos de cobrança com

os dados recebidos dos sacadores, encaminhando-os pelo

correio aos sacados para pagamento na rede bancária. Se

determinado boleto não é pago, os bancos utilizam sua

primeira via como instrumento que contém as informações

necessárias para se requerer o protesto por indicações do

portador (art. 13, §1º, Lei de Duplicatas). Tirado o

protesto, a certidão deste juntamente com o comprovante

de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço

presta-se adequadamente à execução ou ao pedido de

falência na forma do art. 15, II e §2º da Lei 5.474/68.”

(BARBI FILHO, Celso. “Execução judicial de duplicatas

sem os originais dos títulos”. Revista de Direito Mercantil,

Industrial, Econômico e Financeiro 37/178, n. 115, São

Paulo, jul.-set. 1999)

Ademais, tenho que a legislação atual permite os

chamados títulos virtuais, não podendo deixar de ser

mencionado o artigo 889, §3º, do novo Código Civil, que

prescreve:

“O título poderá ser emitido a partir dos caracteres

gerais criados em computador ou meio técnico

equivalente e que constem da escrituração do emitente,

observados os requisitos mínimos previstos neste artigo”.

45

Maria Helena Diniz, quando comenta o dispositivo

retromencionado, ensina que:

“Admite-se, portanto, juridicamente a emissão de títulos

de crédito com base em dados de computador, extraindo-

se, por exemplo, elementos para cobrança, atendendo,

assim, à moderna técnica de administração, muito comum

nas operações bancárias e ao fenômeno da

“descartularização”, ou melhor, desmaterialização do

título de crédito, freqüente no campo de utilização das

duplicatas, e já reconhecido pelo art. 34 da Lei 6.404/76.

Deveras, algumas empresas, no desconto e na cobrança

de duplicata, estão-se limitando à emissão de nota-fiscal

fatura (Lei n. 5.474/68, art. 1º, c/c art. 19, §7º, da

Convenção de Genebra de 1970) por computador, cujos

caracteres são transmitidos pelo sistema “on line” ou por

meio de disquetes à instituição bancária, tendo por escopo

remeter o aviso de cobrança ao sacado ou a guia de

compensação bancária. A duplicata e letra de câmbio

poderão ser, observa Fiúza, representadas por “slips”

(boletos bancários ou outros documentos, criados por

meios eletrônicos, que contenham os requisitos básicos

representativos da obrigação de pagar quantia líquida e

certa em data determinada a credor devidamente

legitimado).” (DINIZ, Maria Helena. Código Civil

Anotado. 9ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2003. p.

561).(sem grifos no original).

Portanto, conclui-se que os cartórios podem aceitar as

indicações contidas num meio magnético e efetuar o

protesto, validando o procedimento em relação às

duplicatas virtuais.

46

O Prof. Luiz Emygdio F. da Rosa Jr. defende a força

executiva das duplicatas virtuais, sob os seguintes

argumentos:

“Tratando-se de duplicata virtual, entendemos que a

conjunção do instrumento de protesto, lavrado por

indicações feitas por meio magnético ou de gravação

eletrônica de dados, com a prova da entrega da

mercadoria, acrescida do fato do sacado não ter dado

expressamente as razões da recusa do aceite, constitui

título executivo extrajudicial por força do §2º do art. 15

da LD e do inciso VII do art. 585 do CPC. A única

diferença para o título executivo referido no §2º do art. 2º

da LD, reside em que na duplicata virtual o protesto é

feito mediante indicações por meio magnético ou registro

eletrônico de dados, e não mediante papel. Como se pode

observar, a própria LD, no §2º do art. 15, dispensa a

cártula para a execução do crédito decorrente de uma

situação jurídica preexistente (compra e venda mercantil),

e, assim, a ausência da cártula, do papel, não tem o

condão de impedir a execução do crédito decorrente de

compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. O

fato do art. 13, §1º, da LD, ao dispor sobre o protesto por

indicações, referir-se à recusa de devolução pelo sacado

da duplicata apresentada nos termos do art. 6º, não

constitui óbice ao protesto da duplicata virtual, não só

porque a prática empresarial hodierna não se vale mais

da apresentação da duplicata para aceite, como também

porque ocorre a apresentação do extrato da duplicata

virtual para pagamento. Por outro lado, não havendo

aceite expresso ou ordinário, nada impede que o sacado,

em embargos, impugne os registros magnéticos geradores

47

da duplicata virtual, da mesma forma como pode

impugnar os dados da duplicata papelizada. Desse modo,

“o direito positivo brasileiro, graças à extraordinária

invenção da duplicata, encontra-se suficientemente

aparelhado para, sem alteração legislativa, conferir

executividade ao crédito registrado e negociado apenas

em suporte magnético”.

Agravo de Instrumento 20090020017817AGI,

Acórdão 351.249,

Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA

...................................

O recurso de agravo de instrumento evidencia uma situação não pacificada

quanto aos títulos de crédito virtuais.

Portanto, afirma-se que o Juiz a quo profere que a inicial deve ser emendada, já

que há necessidade apresentação do título de crédito. O magistrado de 1º instância

fundamenta-se na ausência do princípio da cartualidade. Neste entendimento, o título deve

ser incorporado,ou seja, apresentação do título em papel é inerente para o exercício de tal

direito.Título este, inexistente

Como reza no presente recurso, há na 5 ª Turma sua divergência de tal

posicionamento:

“Não há dúvidas nos autos que foram emitidos boletos

bancários para pagamento pelo Banco SAFRA S/A . É o

que a praxe comercial moderna vem adotando,

substituindo as duplicatas em papel pelas duplicatas

escriturais ou virtuais.Frise-se que a doutrina não é

uniforme em admitir as duplicatas escriturais ou virtuais.

Muitas são as críticas, principalmente porque se parte do

pressuposto de que as duplicatas nunca foram emitidas,

48

não foram enviados ao sacado para aceite e que os

protestos por indicação estão sendo feitos sem qualquer

título físico existente.Não corroboro, com a devida vênia,

da corrente que entende ser a duplicata virtual documento

inexistente.”39

Em suma, neste embate de fundamentação para realizar a tutela jurisdicional

caracteriza-se mitigado o princípio cartualidade, porque o papel é o meio. Em nosso

entendimento, a cartualidade tendo o papel como meio, dentro de pouco tempo, será

inexistente. Porém, o meio do título não faz jus a seguinte afirmação: sem o papel em que se

evidencia o aceite e o endosso perece o direito.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE

NULIDADE DE TÍTULO E INEXIGIBILIDADE DE

CRÉDITO. BOLETO BANCÁRIO. RECURSO

DESPROVIDO.

Confirmada a aquisição de mercadorias a crédito e seu

recebimento, embora após o decurso do prazo para tanto, o

pagamento é medida que se impõe.

O boleto bancário serve para realização do protesto do

título que representa, nos casos de retenção indevida e

título virtual.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação

Cível n. 2007.014474-3, da comarca de Fraiburgo (1ª

Vara), em que é apelante Brasil Frutas Comércio e

Importação Ltda, e apelado Thermofibra Industrial Ltda:

ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Comercial,

por votação unânime, conhecer do recurso e negar-lhe

provimento. Custas legais.

A jurisprudência tem como assente que a existência do

39 5ª Turma Cível do TJDF.AI. 20090020017817AGI. Acordão 351.249

49

respectivo comprovante de entrega das mercadorias supre

a ausência de aceite da duplicata, conferindo exigibilidade

ao título.

Acerca do aceite, colhe-se da doutrina do eminente Fábio

Ulhôa Coelho:

“O aceite por presunção decorre do recebimento das

mercadorias pelo comprador, quando inexistente recusa

formal. Trata-se da forma mais corriqueira de se vincular

o sacado ao pagamento da duplicata. Caracteriza-se o

aceite presumido, mesmo que o comprador tenha retido

ou inutilizado a duplicata, ou a tenha restituído sem

assinatura. Desde que recebidas as mercadorias, sem a

manifestação formal de recusa, é o comprador devedor

cambiário, independentemente da atitude que adota em

relação ao documento que lhe foi enviado.

Com a utilização do meio magnético para fins de registro

do crédito, o aceite por presunção tende a substituir

definitivamente o ordinário, até mesmo porque a

duplicata não se materializa mais num documento escrito,

passível de remessa ao comprador". (COELHO, Fábio

Ulhôa. Curso de Direito Comercial. 6. ed. rev. e atual. v.

I. São Paulo: Saraiva, 2002. pp. 458/459).”

Com ele consoa Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior:

“A lei anterior não considerava a duplicata título

executória quando não continha a assinatura do

comprador, e, por isso, o legislador, visando proteger o

comerciante, criou a figura do aceita tácito ou presumido,

que ocorre quando, cumulativamente, estejam presentes

os seguintes elementos: a) haja sido protestada por falta

50

de pagamento; b) esteja acompanhada de documento

hábil comprobatório da entrega e recebimento da

mercadoria; c) o sacado não tenha, comprovadamente,

recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos

motivos previstos nos arts. 7º e 8º da LD". (ROSA

JÚNIOR, Luiz Emygdio. Títulos de crédito. 2. ed. rev. e

ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 691).”

É nesse contexto que se deve admitir o protesto por

indicação de duplicatas virtuais, mediante a apresentação

de boletos bancários, que se constituem papéis tradutores

de obrigações mercantis regulares.

Nesse sentido é da jurisprudência do Egrégio Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL -

DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO

CUMULADA COM SUSTAÇÃO DE PROTESTO -

DUPLICATA - CONTRATO PERFEITO - OBRA

CONCLUÍDA - RECUSA DE ACEITE NÃO

MOTIVADA EXPRESSAMENTE - ACEITE

PRESUMIDO DIANTE DE PROVA DOCUMENTAL

- ÔNUS DA PROVA - RECURSO ADMITIDO E

IMPROVIDO. (Apelação Cível n. 99.009421-9, de

Biguaçu. Rel. Des. Cercato Padilha).

Sendo, a duplicata, um título de aceite obrigatório,

somente será permitido ao aceitante recusar a

assinatura nas taxativas hipóteses legais.

Comprovada a realização dos serviços contratados e

não tendo o aceitante provado a ocorrência de nenhum

dos motivos de negativa de aceite, não há como se

negar que o título é hígido e, conseqüentemente,

51

exigível o crédito nele representado.

E ainda:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CAUTELAR DE

SUSTAÇÃO DE PROTESTO - DUPLICATAS -

FALTA DE PAGAMENTO - COMPROVANTE DE

ENTREGA DAS MERCADORIAS - ACEITE

PRESUMIDO - PROTESTO DEVIDO - RECURSO

PROVIDO. (Agravo de instrumento n. 2004.032665-2,

de Joinville. Relator: Des. Sérgio Roberto Baasch Luz).

Ocorre o aceite presumido quando o protesto se dá por

falta de pagamento e existe comprovante de que o

devedor tenha recebido as mercadorias, e o sacado não

tenha recusado o aceite no prazo legal. E ainda, não há

que se falar em sustação do protesto, se este se der pela

falta de pagamento (art. 21, § 3º da Lei n. 9.492/97).

Idêntica posição é adotada pelo Egrégio Tribunal de

Justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. ANULAÇÃO DE DUPLICATA

MERCANTIL. PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO

DE CRÉDITO. (TJRS. Apelação Cível nº

70005016134. Nona Câmara Cível, Relª Iris Helena

Medeiros Nogueira).

Como a duplicata é título causal e lastreia-se em

contrato de compra e venda ou de prestação de

serviços, essa relação subjacente precisa ser

comprovada para que expresse dívida contraída pelo

sacado não aceitante. O aceite da duplicata pelo sacado

é obrigatório e corresponde a uma declaração

cambiária sucessiva. Pode, por fim, ser expresso ou

52

tácito.

Em caso de aceite tácito ou presumido, é necessário

que estejam presentes os seguintes elementos: a) haja

sido protestada por falta de pagamento; b) esteja

acompanhada de documento hábil comprobatório da

entrega e recebimento da mercadoria; c) o sacado não

tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo,

nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º

da lei das duplicatas. Não comprovados tais requisitos,

a apresentação do título a protesto é indevida.

Apelação provida".

Segundo Fábio Ulhôa Coelho, o progresso extraordinário

da informática e do tratamento eletrônico das informações

acabam por transformar a substância do direito cambiário:

“De fato, o meio eletrônico vem substituindo paulatina e

decisivamente o meio papel como suporte de informações.

O registro da concessão, cobrança e cumprimento do

crédito comercial não fica, por evidente, à margem desse

processo, ao qual se refere a doutrina pela noção de

desmaterialização do título de crédito. Quer dizer, os

empresários, ao venderem seus produtos ou serviços a

prazo, cada vez mais não têm se validado do documento

escrito pra registro da operação. Procedem, na verdade, à

apropriação das informações, acerca do crédito concedido,

exclusivamente em meio eletrônico, e apenas por esse

meio as mesmas informações são transmitidas ao banco

para fins de desconto, caução de empréstimos ou controle

e cobrança do cumprimento da obrigação pelo devedor.

[...]

É certo que as informações arquivadas em banco de dados

eletrônico são a base para a expedição de alguns

documentos (em papel) relativos à operação. Os bancos

53

emitem, a partir delas, o instrumento para quitação da

dívida, em qualquer agência de qualquer instituição

financeira do país (a "guia de compensação bancária"); os

cartórios de protesto dos grandes centros geram a

intimação do devedor, e lavram o instrumento de protesto,

igualmente a partir das informações que lhes são

transmitidas em meio eletrônico. Nenhum desses papéis,

contudo, é título de crédito. Assim, quando a obrigação

registrada por processo informatizado vem a ser

satisfatoriamente cumprida, em seu vencimento, ela não

chega sequer na hipótese de descumprimento do dever

pelo adquirente das mercadorias ou serviços, tendo em

vista a executividade da duplicata virtual. (Curso de

direito comercial: direito da empresa. 12. ed. rev. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2008, p. 389).”

Apelação Cível n. 2007.014474-3, de Fraiburgo

Relator: Des. Domingos Paludo

...................................

APELAÇÃO CÍVEL – PEDIDO DE FALÊNCIA –

DUPLICATA VIRTUAL – BOLETO BANCÁRIO –

PROTESTO POR INDICAÇÃO – COMPROVANTE

DE ENTREGA DAS MERCADORIAS –

INDEFERIMENTO DA INICIAL AFASTADO.

1.A praxe comercial moderna vem substituindo as

duplicatas em papel pelas duplicatas escriturais ou

virtuais.

2.A legislação atual permite os chamados títulos virtuais,

ex vi o artigo 889, §3º, do novo Código Civil.

3.Os cartórios de protesto podem aceitar as indicações

contidas num meio magnético e efetuar o protesto,

validando o procedimento em relação às duplicatas

54

escriturais. Interpretação do artigo 8º, parágrafo único da

Lei 9.492/97.

4. O protesto por indicação e o comprovante da entrega

das mercadorias dão a executividade do título virtual e

favorecem o pedido de falência.

5. Apelo provido.

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da Sexta Turma

Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

Territórios, SANDRA DE SANTIS – Relatora, ANA

MARIA DUARTE AMARANTE BRITO e JAIR

SOARES - Vogais, sob a Presidência da Senhora

Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE

BRITO em CONHECER, DAR PROVIMENTO AO

RECURSO, UNÂNIME, de acordo com a ata do

julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 04 de agosto de 2005.

Desembargadora ANA MARIA DUARTE

AMARANTE BRITO

Presidenta

Desembargadora SANDRA DE SANTIS

Relatora

...................................

Não há dúvidas nos autos, pois confessado pelo próprio apelante, que foram

emitidos boletos bancários para pagamento pelo Banco de Boston. É o que a praxe comercial

moderna vem adotando, substituindo as duplicatas em papel pelas duplicatas escriturais ou

virtuais.

55

Celso Barbi Filho explica o procedimento:

Com isso, os empresários passaram a não emitir as

duplicatas, encaminhando borderôs aos bancos, com os

números dos supostos títulos, correspondentes aos das

respectivas notas fiscais fatura, seus valores e

vencimentos, juntamente com a identificação dos sacados.

Os bancos, por sua vez, emitem boletos de cobrança com

os dados recebidos dos sacadores, encaminhando-os pelo

correio aos sacados para pagamento na rede bancária. Se

determinado boleto não é pago, os bancos utilizam sua

primeira via como instrumento que contém as informações

necessárias para se requerer o protesto por indicações do

portador (art. 13, §1º, Lei de Duplicatas). Tirado o

protesto, a certidão deste juntamente com o comprovante

de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço

presta-se adequadamente à execução ou ao pedido de

falência na forma do art. 15, II e §2º da Lei 5.474/68.” 40

A doutrina não é uniforme em admitir as duplicatas escriturais ou virtuais.

Muitas são as críticas, principalmente porque se parte do pressuposto de que as duplicatas

nunca foram emitidas, não foram enviados ao sacado para aceite e que os protestos por

indicação estão sendo feitos sem qualquer título físico existente.

Não compartiho dessa opinião, com a devida vênia da jurisprudência

predominante deste Tribunal. Tenho que a legislação atual permite os chamados títulos

virtuais, não podendo deixar de ser mencionado o artigo 889, §3º, do novo Código Civil, que

prescreve: “O título poderá ser emitido a partir dos caracteres gerais criados em computador

40 FILHO, Celso Barbi. Execução judicial de duplicatas sem os originais dos títulos. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro 37/178, n. 115, São Paulo, jul.-set. 1999.

56

ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os

requisitos mínimos previstos neste artigo”.

Maria Helena Diniz, quando comenta o dispositivo retromencionado, ensina

que:

Admite-se, portanto, juridicamente a emissão de títulos de

crédito com base em dados de computador, extraindo-se,

por exemplo, elementos para cobrança, atendendo, assim,

à moderna técnica de administração, muito comum nas

operações bancárias e ao fenômeno da

“descartularização”, ou melhor, desmaterialização do

título de crédito, freqüente no campo de utilização das

duplicatas, e já reconhecido pelo art. 34 da Lei 6.404/76.

Deveras, algumas empresas, no desconto e na cobrança

de duplicata, estão-se limitando à emissão de nota-fiscal

fatura (Lei n. 5.474/68, art. 1º, c/c art. 19, §7º, da

Convenção de Genebra de 1970) por computador, cujos

caracteres são transmitidos pelo sistema on line ou por

meio de disquetes à instituição bancária, tendo por escopo

remeter o aviso de cobrança ao sacado ou a guia de

compensação bancária. A duplicata e letra de câmbio

poderão ser, observa Fiúza, representadas por slips

(boletos bancários ou outros documentos, criados por

meios eletrônicos, que contenham os requisitos básicos

representativos da obrigação de pagar quantia líquida e

certa em data determinada a credor devidamente

legitimado).” 41

Cabe ressaltar ainda que a Lei 9492/97, que trata da regulamentação dos

serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos, estabelece no parágrafo

41 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 9ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2003. p. 561.

57

único do artigo 8º que “poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas

Mercantis e de Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de

dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a

cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas”.

Depreende-se, portanto, que os cartórios podem aceitar as indicações contidas

num meio magnético e efetuar o protesto, validando o procedimento em relação às duplicatas

escriturais.

Resta, então, analisar se as duplicatas escriturais são títulos executivos hábeis a

autorizar o pedido falimentar, nos termos do artigo 1º da Lei de Falências:

Art. 1º Considera-se falido o comerciante que, sem

relevante razão de direito, não paga no vencimento

obrigação líquida, constante de título que legitime a ação

executiva.

.............................................................................

§ 3º - Para os efeitos desta Lei, considera-se obrigação

líquida, legitimando o pedido de falência, a constante dos

títulos executivos extrajudiciais mencionados no art. 15 da

Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968."

O Prof. Luiz Emygdio F. da Rosa Jr. defende a força executiva das duplicatas

virtuais, sob os seguintes argumentos:

“Tratando-se de duplicata virtual, entendemos que a

conjunção do instrumento de protesto, lavrado por

indicações feitas por meio magnético ou de gravação

eletrônica de dados, com a prova da entrega da

mercadoria, acrescida do fato do sacado não ter dado

expressamente as razões da recusa do aceite, constitui

título executivo extrajudicial por força do §2º do art. 15 da

LD e do inciso VII do art. 585 do CPC. A única diferença

58

para o título executivo referido no §2º do art. 2º da LD,

reside em que na duplicata virtual o protesto é feito

mediante indicações por meio magnético ou registro

eletrônico de dados, e não mediante papel. Como se pode

observar, a própria LD, no §2º do art. 15, dispensa a

cártula para a execução do crédito decorrente de uma

situação jurídica preexistente (compra e venda mercantil),

e, assim, a ausência da cártula, do papel, não tem o condão

de impedir a execução do crédito decorrente de compra e

venda mercantil ou de prestação de serviços. O fato do art.

13, §1º, da LD, ao dispor sobre o protesto por indicações,

referir-se à recusa de devolução pelo sacado da duplicata

apresentada nos termos do art. 6º, não constitui óbice ao

protesto da duplicata virtual, não só porque a prática

empresarial hodierna não se vale mais da apresentação da

duplicata para aceite, como também porque ocorre a

apresentação do extrato da duplicata virtual para

pagamento. Por outro lado, não havendo aceite expresso

ou ordinário, nada impede que o sacado, em embargos,

impugne os registros magnéticos geradores da duplicata

virtual, da mesma forma como pode impugnar os dados da

duplicata papelizada. Desse modo, “o direito positivo

brasileiro, graças à extraordinária invenção da duplicata,

encontra-se suficientemente aparelhado para, sem

alteração legislativa, conferir executividade ao crédito

registrado e negociado apenas em suporte magnético”.

Finalmente, relembre-se que ao nos referirmos à duplicata

virtual e a sua executividade, não estamos defendendo a

tese da execução com base na duplicata porque esta, sendo

virtual, inexiste, da mesma forma que não se pode falar

em execução da duplicata protestada por indicações

quando o sacado recusa devolvê-la ao credor. Nossa

59

posição é a de que no caso da duplicata virtual, o título

executivo extrajudicial corresponde ao instrumento de

protesto feito por indicações do portador, mediante

registro magnético, como permitido pelo § único do art. 8º

da Lei nº 9.492/97, acompanhado do comprovante de

entrega e recebimento da mercadoria pelo sacado, ou da

prova do vínculo contratual e da efetiva prestação de

serviços, como conseqüência de uma situação jurídica

preexistente (compra e venda ou prestação de serviços),

com o inadimplemento pelo devedor da obrigação de

pagar, e sem que tenha dado no prazo legal as razões para

a recusa de aceite e de pagamento. Não se esqueça ainda

que a própria LD já excepciona o princípio da literalidade

no §2º do art. 15, quando permite a execução de título

resultante da combinação do instrumento de protesto por

indicações com a prova da entrega e recebimento da

mercadoria pelo sacado. 42

Também defende a executividade da duplicata em meio magnético o Prof.

Fábio Ulhoa Coelho:

“... o direito positivo brasileiro, graças à extraordinária

invenção da duplicata, encontra-se suficientemente

aparelhado para, sem alteração legislativa, conferir

executividade ao crédito registrado e negociado apenas

em suporte magnético.

... O direito em vigor dá sustentação, contudo, à execução

da duplicata virtual, porque não exige especificadamente

a sua exibição em papel, como requisito para liberar a

prestação jurisdicional satisfativa. Institutos assentes no

direito cambiário nacional, como são o aceite por

42 ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Títulos de Crédito. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. pp. 740/742.

60

presunção, o protesto por indicações e a execução da

duplicata não assinada permitem o empresário, no Brasil,

possa informatizar por completo a administração do

crédito concedido.

... O instrumento de protesto da duplicata, realizado por

indicações, quando acompanhado do comprovante da

entrega das mercadoria, é título executivo extrajudicial. É

inteiramente dispensável a exibição da duplicata, para

aparelhar a execução, quando o protesto é feito por

indicações do credor (LD, art. 15, §2º). O registro

magnético do título, portanto, é amparado no direito em

vigor, posto que o empresário tem plenas condições para

protestar e executar. Em juízo, basta a apresentação de

dois papéis: o instrumento de protesto por indicações e o

comprovante da entrega das mercadorias.” 43

O Superior Tribunal de Justiça tem admitido, nas hipóteses de retenção da

duplicata pelo sacado para aceite, que o protesto por indicação, acompanhado do documento

comprobatório da remessa e entrega das mercadorias, e mesmo diante da inexistência do

título, adquire força executiva e, portanto, ampara o pedido de falência. É o que decorre da

regra do artigo 15, §2º, da Lei 5.474/68, modificada pela Lei 6458/77.

43 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2002. pp. 464/466

61

Conclusão:

Com o advento dos avanços tecnológicos, e de seus meios práticos de

efetivação, surgem novos costumes que exigem do ordenamento jurídico brasileiro, a

necessidade de adequação.

A casuística “juridico-moderna”, exige bem mais do que interpretações “de

vanguarda” ou decisões absolutistas quanto à aniquilação de fundamentos clássicos; exige a

adequação equânime dos princípios basilares ante às novas convenções aderidas pela

sociedade pós-moderna.

O capitalismo acelerado e as modificações práticas geram ao ordenamento

jurídico, por vezes, uma nova apresentação, efetivação e aplicabilidade, já que firma-se nas

relações e conflitos sociais, sendo que estes tendem a serem “flutuantes”, imprevisíveis e

mutáveis.

A necessidade dos Títulos de Crédito Eletrônicos nas relações

interempresariais é notória e evidencia uma nova leitura do Direito Comercial vigente,

desvinculando-se, por vezes, de importantes primazias à efetivação dos títulos de crédito

como a da Cartularidade, Literalidade ou a da Autonomia.

Veja a discussão “pós-moderna” em pauta, apresenta a significância extrema

de um princípio contra as novas práticas cambiais, o que não exaure o iminente “cenário

moderno” que se vivencia, vez que não por retroceder restando a adequação de novas

convenções.

A evolução das práticas cambiais acaba por aprimorar os princípios diante das

necessidades e aplica fundamentos imprescindíveis, moldando-os ao “universo virtual”.

O tema mister, de pronto, não resta por argüições cabais nem absolutas, já que

não há medida exata para os costumes humanos, mas corrobora por um Direito Comercial

vivaz e moldado às iminências das referidas relações, pautados nos princípios exigidos e

aplicando-os relativamente ao efetivo cumprimento contratual-cambial.

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