os quadrinhos como forma de propaganda ideolÓgica

34
FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - FATECS CURSO: PUBLICIDDE E PRPAGANDA ÁREA: COMUNICAÇÃO SOCIAL OS QUADRINHOS COMO FORMA DE PROPAGANDA IDEOLÓGICA CELSO DE SOUSA CAMPOS FILHO RA:20583462 PROF. ORIENTADOR: ALEXANDRE RIBEIRO Brasília/DF, JULHO de 2009

Upload: asqz

Post on 21-Nov-2015

229 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

OS QUADRINHOSCOMO FORMA DEPROPAGANDA IDEOLÓGICACELSO DE SOUSA CAMPOS FILHO

TRANSCRIPT

  • FACULDADE DE TECNOLOGIA E CINCIAS SOCIAIS APLICADAS - FATECS CURSO: PUBLICIDDE E PRPAGANDA REA: COMUNICAO SOCIAL

    OS QUADRINHOS COMO FORMA DE

    PROPAGANDA IDEOLGICA

    CELSO DE SOUSA CAMPOS FILHO RA:20583462

    PROF. ORIENTADOR: ALEXANDRE RIBEIRO

    Braslia/DF, JULHO de 2009

  • 2

    CELSO DE SOUSA CAMPOS FILHO

    OS QUADRINHOS COMO FORMA DE

    PROPAGANDA IDEOLGICA

    Monografia apresentada como um dos requisitos para concluso do curso de Publicidade e Propaganda do UniCEUB Centro Universitrio de Braslia. Prof. Orientador: Alexandre Ribeiro.

    Braslia/DF, JULHO de 2009

  • 3

    CELSO DE SOUSA CAMPOS FILHO

    OS QUADRINHOS COMO FORMA DE PROPAGANDA IDEOLGICA

    Monografia apresentada como um dos requisitos para concluso do curso de Publicidade e Propaganda do UniCEUB Centro Universitrio de Braslia.

    Banca Examinadora

    ______________________ Prof. Alexandre Ribeiro

    Orientador

    ______________________ Prof. Bruno Assuno Nalon

    Examinador

    ______________________ Prof. rsula Betina Diesel

    Braslia/DF, JULHO de 2009

  • 4

    Resumo

    O presente trabalho tem por objetivo analisar as Histrias em quadrinhos

    (HQs) do gnero de super-aventura, onde os personagens principais so os super-

    heris e sua importncia semitica dentro de um contexto de uma sociedade

    globalizada. Nesse sentido, abordo a forma como os quadrinhos tm impacto sobre

    a sociedade e como ele pode ser usado como uma ferramenta de propaganda

    ideolgica. Dessa forma, possvel lanar um olhar crtico sobre as histrias em

    quadrinhos e estabelecer parmetros sobre o papel dos mesmos e sua real

    importncia dentro meios de comunicao de massa. O trabalho trata tambm do

    histrico dos quadrinhos e como ele evoluiu de acordo com os valores e

    necessidades da sociedade onde estava inserido. A anlise feita principalmente

    entre os perodos da Segunda Guerra Mundial, no auge da Guerra Fria e termina na

    primeira dcada do sculo XXI.

  • 5

    SUMRIO

    INTRODUO..............................................................................................................................6 Metodologia.................................................................................................................................8

    1. Histria das histrias em quadrinhos de super-heris....................................................9 1.1 A Era de Ouro.........................................................................................................................9 1.2 A Era de Prata.......................................................................................................................11 1.3 Os quadrinhos no fim do sculo XX......................................................................................12 2. Semitica................................................................................................................................16 3. Ideologia.................................................................................................................................18 3.1 Ideologia nos Quadrinhos......................................................................................................20 4. Propaganda............................................................................................................................23 5. Discusso...............................................................................................................................25 6. Concluso...............................................................................................................................31

    7. Referencias.............................................................................................................................34

  • 6

    Introduo

    Contextualizao

    Tema: Os quadrinhos como forma de propaganda ideolgica

    Criadas no fim do sculo XIX, as histrias em quadrinhos (HQs) foram

    amplamente divulgadas como meio de comunicao de massa difundido e influente

    ao longo do sculo XX e incio deste sculo XXI. Tendo alcanado leitores de todas

    as faixas etrias. O objeto de interesse do projeto foca-se nas histrias em

    quadrinhos de super-heris, como Super-Homem (DC Comics) e Capito Amrica

    (Marvel Comics).

    Esses tipos de quadrinhos tiveram seu incio entre o final da dcada de trinta

    fim da dcada de quarenta, poca em que atualmente se denomina como era de

    ouro dos quadrinhos. Onde os heris tinham como principal caractersticas serem

    os smbolos da virtude, sem defeitos, havia um distanciamento claro entre o heri e,

    por assim dizer, o resto da humanidade.

    Em meados dos anos cinqenta iniciou-se a era de prata dos quadrinhos.

    Essa denominao veio junto com o incio da repaginao dos antigos heris,

    dando mais profundidade psicolgica aos mesmos, humanizando-os, aproximando

    as histrias em quadrinhos e seus cones da realidade vivida pelo leitor. Gerando

    assim uma verossimilhana que ajudaria na identificao do leitor com o heri.

    Hoje, os quadrinhos seguem essa tendncia iniciada com a era de prata,

    abordando, no s o fator herosmo, como salvar pessoas, cidades e o mundo, mas

    tambm fatores muito mais humanos, que vo desde alcoolismo a problemas

    mentais e sociopatia grave.

    Fator importante a ser citado, o uso recorrente dos heris nas guerras

    travadas pelos Estados Unidos, seja como forma de propaganda ideolgica,

    caracterstica vista principalmente no perodo da Guerra Fria, onde o contexto da

    bipolarizao poltica e econmica mundial foi amplamente utilizado pelas empresas

    responsveis pelos quadrinhos. Seja como forma de smbolos patriticos, utilizados

    principalmente na Segunda Guerra Mundial e mais recentemente na invaso norte-

    americana ao Iraque. Onde os heris estadunidenses representam o lado correto, o

  • 7

    lado do bem por assim dizer do conflito. E, obviamente, os oponentes representam

    o oposto nesta dicotomia criada pelas HQs, representados aqui pelos nazistas e

    por Saddam Hussein respectivamente.

    Justificativa

    O projeto tem relevncia na medida em que trata de um fenmeno da mdia,

    que so as historias em quadrinhos (HQ), sobre a tica da comunicao e seus

    impactos sociolgicos. O que, consequentemente, leva ao aprofundamento e uma

    reflexo sobre qual a verdadeira importncia dos quadrinhos como um meio de

    comunicao.

    Outro fator importante so os valores sociais e culturais trabalhados pelas

    histrias em quadrinhos que atravs de um meio pblico, as prprias revistas, e que

    trabalha com o imaginrio do leitor, age como um facilitador para que esses valores

    no s sejam aceitos, mas incorporados ao cotidiano da sociedade como valores

    originais da mesma e intrnsecos a ela.

    Outro aspecto que vale ser mencionado a projeo disso no futuro, ou seja,

    at onde essa propaganda ideolgica que as culturas sofrem podem influenciar ou

    alterar o prprio desenvolvimento cultural do receptor da mensagem. O que,

    hipoteticamente, poderia gerar uma aglutinao, com o pas alheio perdendo parte

    de sua identidade cultural e, tambm, parte de suas caractersticas nicas inerentes

    de uma sociedade estabelecida e em desenvolvimento.

    Conclui-se que o projeto se justifica porque instiga uma reflexo sobre as

    historias em quadrinhos e tambm uma crtica do leitor desse tipo de literatura

    moderna e ps-moderna sobre a mesma. O que gera um distanciamento de quem

    l as referidas HQs, o que possibilita uma anlise critica sobre o material de leitura.

    E no apenas uma leitura suprflua e pueril voltada somente para o entretenimento,

    onde o leitor tem o nico papel de receptor de informao.

  • 8

    Objetivos:

    Objetivo geral:

    Fazer uma contextualizao histrica dos quadrinhos que usam a mitologia do

    heri, com os avanos culturais da sociedade ocidental. E estabelecer como tais

    heris se tornaram cones de propaganda ideolgica.

    Objetivos especficos:

    Definir em parmetros de que maneira essa ferramenta da indstria cultural foi,

    e parte de um processo que difunde ideologia;

    Traar o real espectro das HQs e sua real importncia dentro de um contexto

    heterogneo de uma sociedade constantemente bombardeada com valores

    muitas vezes no pertencentes ela.

    Metodologia

    O mtodo utilizado para o desenvolvimento do projeto foi a anlise terica do

    tema proposto. Utilizou-se vrios autores relacionados ao tema, os meios utilizados

    foram a pesquisa bibliogrfica tradicional com a utilizao de livros referenciais de

    acordo com o tema proposto, e a pesquisa digital com uso de artigos da internet de

    sites que elucidavam pontos principalmente no aspecto histrico envolvido na

    monografia.

  • 9

    1. Histria das histrias em quadrinhos de super-heris

    As histrias em quadrinhos tm seu incio, segundo lvaro de Moy (1993),

    em meados do sculo XIX com o professor suo Rudolph Tpffer, quem ele

    considera um dos percussores da literatura em estampas. A partir disso muito se

    avanou em termos narrativos e tcnicos at o desenvolvimento dos quadrinhos de

    super-heris, como o Super-Homem, Capito Amrica e Batman.

    O gnero comum a esses super-heris e a todos os outros super-heris a

    super-aventura que descrita pelo Especialista e Mestre em Filosofia/UnB; Doutor

    em Sociologia pela UnB, Nildo Viana como histrias em que os personagens,

    principalmente os protagonistas, tem habilidades sobre-humanas que vo muito

    alm, no s do homem comum, mas tambm do que era estabelecido como heri

    comum, mesmo no quadrinhos. Exemplos: Tarzan, Akim, Targo, Tex Willer, Tintin,

    Asterix, etc.

    Os surgimento dessa vertente que se utilizada das super-aventuras nos

    quadrinhos movimentou a indstria cultural, que percebeu nesse novo meio de

    comunicao de massa um novo negcio a ser explorado comercialmente como se

    notou com a criao da DC Comics em 1935 e posteriormente a Marvel Comics em

    1939. Essas duas empresas e seus selos secundrios mantm sobre seu controle

    os direitos autorais dos super-heris mais conhecidos do mundo.

    1.1 A era de ouro

    A primeira vez que o termo Era de Ouro foi mencionado referindo-se aos

    quadrinhos dos anos 40 foi feita por Richard A. Lupoff, em um artigo chamado Re-

    Birth, em abril de 1960. Nos gibis, o termo foi usado pela primeira vez em 1963, na

    revista Strange Tales #114, da Marvel Comics. A revista trazia na capa o retorno do

    Capito Amrica, vindo de um perodo que naquele momento foi considerado a Era

    de Ouro dos quadrinhos.

  • 10

    Apesar dos conflitos inerentes para se definir com clareza um perodo dentro

    do mundo dos quadrinhos, dificuldade devida aos mltiplos ttulos e autores, h um

    consenso quanto ao incio dessa era especfica. A primeira edio em que o

    Superman aparece. Todas as obras seguintes, no mesmo estilo, constituram um

    novo gnero. Este conjunto denominado Era de Ouro dos quadrinhos de super-

    heris.

    Nessa mesma poca os quadrinhos obtiveram seu primeiro pico de vendas

    utilizando-se da forma como se conhece hoje, de forma separada dos jornais onde

    eles tiveram seu incio, afirmava-se assim o estabelecimento de um novo meio de

    comunicao, de uma nova mdia. Segundo Guilherme Smees (2009)

    Durante a Segunda Guerra Mundial, os quadrinhos de super-heris

    atingiram seu apogeu. Foi durante esta poca histrica que ocorreu o

    maior nmero de vendas por exemplar. Em 1943, os quadrinhos vendiam

    25 milhes de cpias por ms. Apenas o ttulo do Capito Marvel era

    responsvel por mais de 1,5 milho. A guerra agia como um fator

    catalisador sobre as vendas de quadrinhos. Os leitores viam nas revistas

    da poca seus grandes super-heris lutando contra os inimigos da

    Amrica.

    Com o termino da Guerra tem-se incio o declnio da Era de Ouro. Como diz

    Guilherme Smees, colunista do site especializado em quadrinhos

    www.fanboy.com.br (2009):

    Contudo, em 1945, a guerra acabara, e no fora nem Superman nem o

    Capito Amrica quem acertara um direto de direita na face de Hitler, mas

    seres humanos normais. Os soldados aliados haviam vencido a guerra

    sem a ajuda de superpoderes e, de volta para casa, no estavam mais

    interessados em superaventuras patriticas, mas na manuteno de suas

    famlias. As pessoas comearam a perder o interesse pelas revistas de

    super-heris. Personagens como Tocha Humana, Namor, Flash e

    Lanterna Verde deixaram de ser publicados por volta de 1949. Apenas

    Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Arqueiro Verde e Aquaman

    resistiram.

    Contudo em meados dos anos cinqenta inicio dos anos 60 um novo meio de

    abordagem dos heris surgiu. Tem incio a Era de Prata.

  • 11

    1.2 A Era de Prata

    Para Guilherme Smees (2009) a era de ouro comea com um novo enfoque na

    maneira de se criar os heris, j que o contexto que essa era estava inserido

    (Guerra Fria) tinha suas caractersticas peculiares que a diferiam da anterior.

    Guilherme Smees afirma (2009):

    Se nos anos de ouro muitos dos heris tinham suas histrias calcadas no

    mstico e no mitolgico, no final da dcada de 50, com a corrida espacial e

    a iminncia de uma guerra nuclear entre a URSS e os EUA, parecia mais

    apropriado que os heris fossem produtos legtimos da cincia, mesmo

    que fantsticos demais.

    O que confirma que no s os quadrinhos estavam em constante mudana,

    mas sim a sociedade como um todo. O que levou ao incio de uma nova forma de

    se pensar os quadrinhos. Agora, a fico cientfica ganha fora. Com todo o

    universo das histrias em quadrinhos (os poderes dos super-heris e viles, as

    engenhocas dos mesmos) buscando explicaes atravs da cincia, mesmo que

    tal explicao fosse salpicada de fatores fantsticos, exemplo disso so os motes

    de obteno dos super-poderes do Homem-Aranha (picado por uma aranha

    radioativa).

    Era de Prata comeou no ano de 1955 segundo Mike Conroy, com a

    introduo de Jonn Jonnz, o caador de Marte. Por ele ser o primeiro super-heri

    criado pela editora, hoje com o nome de DC Comics, nessa nova Era. Guilherme

    Smees, no entanto tambm afirma que (2009):

    A maioria dos autores, no entanto, prefere estabelecer como incio da

    nova era Showcase#4 (1956), a estria do novo Flash, Barry Allen. J os

    entusiastas da Marvel Comics defendem que Fantastic Four#1 (1961),

    uma resposta para a Liga da Justia da National, iniciou os anos de prata.

    Eles vo alm: essa edio iniciaria a Era Marvel dos quadrinhos.

  • 12

    Ilustrao 1. Liga da Justia. FONTE: (http://www.blogencapetado.theblog.com.br)

    1.3 Os quadrinhos no fim do sculo XX

    Com a influncia dos quadrinhos independentes, o caminho estava aberto

    para obras como Batman, o Cavaleiro das Trevas e Watchmen, que, para o bem ou

    o mal, redefiniram os modelos de quadrinhos de super-heris. Foi o tempo em que

    os heris agregaram a violncia em seu comportamento, e a grande parte deles

    apresentava at mesmo traos de crueldade. Os protagonistas eram sombrios,

    portavam grandes armas esse portavam de maneira agressiva, rangendo os dentes

    nas capas. Nesse perodo, a arte passou a ser mais valorizada. Grandes

    desenhistas passaram a receber grandes quantias por seus trabalhos e os fs

    compravam revistas em grandes quantidades. Outro fator importante que Guilherme

    Smees destaca o papel das mulheres nesse novo cenrio (2009).

  • 13

    As bad girls estavam na moda: a melhor herona era aquela que tivesse os

    maiores atributos. Ainda, multiplicavam-se artistas que faziam uma

    interpretao duvidosa da musculatura dos personagens, no

    conseguindo repetir seu porte e disposio por mais de dois quadrinhos.

    Ilustrao 2: Batman. FONTE: (http://hqproject.files.wordpress.com)

    Esse perodo tambm foi a poca de obras de excelente qualidade, como,

    por exemplo, Sandman de Neil Gaiman que deu incio a uma nova era dos

    quadrinhos. Assim nasceu um selo exclusivo para quadrinhos com temas adultos:

    Vertigo, na DC Comics. Junto ao Homem-Animal de Grant Morrison e do John

    Constantine de Jamie Delano, a diviso da editora encontrou um novo pblico alvo

    que buscava mais coerncia nas histrias e personagens que fossem mais bem

    trabalhados no mbito psicolgico, que tivessem mais profundidade.

  • 14

    Outra caracterstica foi a retomada de alguns aspectos do mundo dos

    quadrinhos das Eras passadas e o rearranjo de alguns ttulos das duas principais

    editoras norte-americanas como diz o colunista do site Fanboy (2009).

    No ano 2000 foi realizado uma espcie de resgate do papel icnico dos

    super-heris, j explorado em obras anteriores, como Marvels e Reino do

    Amanh. Como Superman - Paz na Terra e Batman - Guerra ao Crime. As

    editoras pensaram um passo atrs e tentaram ajustar o elenco de algumas

    equipes com formaes que lograram sucesso no passado. A Liga da

    Justia voltava com seus sete integrantes mais notrios e passava a ser

    escrita por Grant Morrison, aclamado pela crtica por suas obras na

    Vertigo. Tambm tinha gosto de volta ao passado o retorno dos heris que

    morreram no Massacre. Os Vingadores, por exemplo, voltavam a ser

    desenhados por seu artista clssico, George Perez. Os X-Men davam as

    boasvindas novamente para Noturno, Colossus e Kitty Pryde. O

    Superman assumia um polmico visual azul e eltrico, para depois se

    dividir em dois, o azul e o vermelho. A transformao fazia referncia a

    uma histria da Era de Prata, publicada em Superman#162 (1963) que se

    passava em um mundo imaginrio.

    Nesse nterim os quadrinhos encontraram um grande apogeu na dcada de

    1980 e incio da dcada de 1990. No entanto, nessa mesma dcada o declnio

    ocorreu com a reduo do numero de vendas e uma nova adaptao ao mercado

    se faz necessria. Nesta primeira dcada do sculo XXI os quadrinhos ganham

    nova fora com os lanamentos, tanto da Marvel Comics quanto da DC Comics de

    grandes sries que envolvem todos, ou pelo menos grande parte dos heris das

    editoras. Exemplos disso so as series Invaso Secreta (Marvel) e Crise Infinita e

    Crise Final (DC).

  • 15

    Ilustrao 3. Invaso Secreta. FONTE: ((http://www.miolos.com.br)

  • 16

    2. Semitica

    A anlise dos quadrinhos, principalmente do gnero das super-aventuras,

    exige uma anlise semitica dos seus protagonistas para entender a relao entre o

    pblico leitor e consumidor dos quadrinhos e as revistas, e o processo de

    comunicao como um todo, que vai desde o que o roteiristas, criadores e editoras

    querem passar como mensagem atravs de seus super-heris at como essa

    mensagem compreendida. Mas antes se faz necessrio se definir o que

    semitica. Segundo L. Santaella (2009):

    O nome semitica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo."

    "Semitica, portanto, a cincia dos signos, a cincia de toda e

    qualquer linguagem... A Semitica a cincia que tem por objeto de

    investigao todas as linguagens possveis, ou seja, que tem por objetivo

    o exame dos modos de constituio de todo e qualquer fenmeno de

    produo de significao e de sentido.

    Definido o conceito de semitica segue-se a necessidade de dispor

    significado aos quadrinhos, principalmente aos heris que esto contidos neles. Isto

    se d atravs dos signos que segundo Pierce se caracterizam por meio de

    smbolos, ndices e cones,

    Outro fator importante dentro do universo de estudo do projeto e, que faz

    parte da esfera de competncia semitica como j foi citado a noo da

    importncia dos smbolos. Segundo Pierce (2000, p. 52 64):

    Um Smbolo um signo que se refere ao Objeto que de nota em virtude

    de uma lei, normalmente uma associao de idias gerais que opera no

    sentido de fazer com que o Smbolo seja interpretado como se referindo

    aquele objeto.

    Ou seja, o smbolo se estabelece a partir de um conceito pr-definido pelo

    homem (que Pierce trata como lei) que aceito como um representante, mesmo

    sem nenhuma relao anloga com o objeto ou idia abstrata que se quer

    representar. Nesses termos possvel compreender a relao que estabelecida

  • 17

    entre os heris e seus pases de origem, exemplo disso quando se diz que o

    super-homem o defensor da liberdade e do estilo de vida norte-americano

    (American way of life).

    Percebe-se nos quadrinhos uma carga simblica explicita, exemplo disso so

    as cores usadas para retratar os heris e viles, at o uso de animais para se referir

    aos mesmos. Outro aspecto como essa simbologia atua na formao axiolgica

    dos quadrinhos, denotando as histrias em quadrinhos do gnero de super-

    aventura e, consequentemente, aos super-heris um carter icnico. Pierce afirma

    que (2000, p. 52 64):

    Um cone um representmen cuja qualidade representativa uma sua

    Primeiridade como primeiro. Ou seja, a qualidade que ele tem com a coisa

    o torna apto a ser um representmen (signo). Assim, qualquer coisa

    capaz de ser um Substituto para qualquer coisa com a qual se assemelhe.

    Sendo assim, possvel afirmar que ao analisar a forma como o mundo dos

    quadrinhos retratado nas Comics Books norte-americanas os heris tem o papel

    de, como se refere o prprio Peirce, de representmen dos prprios pases ao qual

    so coligados. Em uma anlise mais profunda, pode-se dizer ainda que eles so a

    representao ideolgica de tais pases. Representantes dos interesses de uma

    classe dominante seja ela qual for, e mantedores e defensores do status quo

    vigente, assim como afirma Jacques Marny (1978) em Sociologia das Histrias aos

    quadrinhos (p.198) A histria aos quadrinhos encheu-se duma srie de intenes,

    de desgnios pr-concebidos, de aluses polticas, sociais e at metafsicas. O que

    estabelece uma necessidade de uma leitura crtica e no apenas ldica dos

    quadrinhos.

    Com o contexto semitico em relao aos quadrinhos definido importante

    ressaltar como essa carga semitica tem um efeito considervel em uma esfera

    importante da indstria cultural. Como j foi citado, um perodo de exploso de

    vendas foi o da segunda grande guerra, nesse perodo que foi criado os heris

    mais semiticos, icnicos, mais carregados de uma simbologia ideolgica, Capito

    Amrica e Super-homem por exemplo. O que justifica a anlise semitica dos

    quadrinhos, que busca considerar esses aspectos visuais e verbais dentro de um

    manifestao de uma mdia de massa.

  • 18

    3. Ideologia

    Tratar de um meio de comunicao de massa como os quadrinhos exige uma

    reflexo sobre qual a natureza da mensagem que a indstria cultural especialmente

    a indstria responsvel pela criao e distribuio dos mesmos passa aos seus

    leitores. Outro fator que agrava a necessidade dessa reflexo, que os quadrinhos

    muitas vezes tm o pblico alvo crianas, apesar de que no fim sculo XX incio do

    sculo XXI esse pblico alvo tenha ganhado abrangncia entre os adultos.

    inegvel o contedo ideolgico contidos nos quadrinhos, mas antes torna-

    se necessrio definir o que ideologia. Segundo a enciclopdia Barsa (1994, p.

    568)

    Define-se como ideologia o sistema de idias que d fundamento a uma

    doutrina poltica ou social, adotada por um partido ou grupo humano. Foi

    Karl Marx quem formulou a mais completa teoria sobre a origem e o papel

    da ideologia nas diversas formas de organizao social. Para Marx,

    ideologia um conjunto de idias e conceitos que corresponde aos

    interesses de uma classe social, embora no obrigatoriamente professado

    por todos seus membros. H uma ideologia da burguesia, como h uma

    ideologia do proletariado. A ideologia de certa classe decorre da posio

    que ela ocupa num modo de produo historicamente determinado.

    Outro desdobramento a ser analisado como o estado dissemina a sua

    ideologia de forma a resultar num apelo pblico, ou seja, a ideologia do estado se

    torna tambm a ideologia da sociedade, pelo menos da maioria dela ou da parte da

    sociedade que d sustentao ao mesmo. Para tanto o estado se vale de

    estratgias clssicas, como afirma ALTHUSSER,L no seu livro Aparelhos

    Ideolgicos do Estado (1998, p. 78) :

  • 19

    Acreditamos, portanto ter boas razes para afirmar que, por trs dos jogos

    de seu Aparelho Ideolgico de Estado poltico, que ocupava o primeiro

    plano do palco, a burguesia estabeleceu como seu aparelho de Estado n

    1, e portanto dominante, o aparelho escolar, que, na realidade, substitui o

    antigo aparelho ideolgico de Estado dominante, a Igreja, em suas

    funes. Podemos acrescentar: o par EscolaFamlia substitui o par

    IgrejaFamlia.

    Ao se falar em uma substituio nos modos como o aparelho ideolgico do

    estado desenvolvia seus mecanismos de propagao, pode-se notar tambm que

    esse processo est em evoluo de acordo com a sociedade nele inserida,

    principalmente quando ALTHUSSER diz: Podemos acrescentar: o par Escola

    Famlia substitui o par IgrejaFamlia. Conclui-se que para o estado obter xito em

    seu objetivo de propagar sua ideologia ele precisa se adaptar aos valores que a

    sociedade aceita naquele momento.

    No trecho citado primeiramente, o fator religiosidade representado pela Igreja

    Catlica tinha uma grande influncia e relevncia dentro do pensamento da

    sociedade, ela representava um papel de autoridade inquestionvel, e o estado

    valia-se dessa posio do clero para difundir sua ideologia e manter o poder.

    Em um segundo momento com o declino de poder da Igreja e com o incio da

    era da razo com o renascimento e posteriormente o Iluminismo a instituio de

    ensino (escola) preenche esse papel que antes era da Igreja. Mas a relao de

    influncia com o estado, apesar de agora se dar de maneira diferente, permanece.

    Agora o estado se vale da educao formal como aparato ideolgico, j que muitas

    vezes ele, estado, tem influncia se no controle, sobre o contedo programtico

    escolar.

    Com o advento dos meios de comunicao de massa essa relao tende

    tambm a evoluir, com aparelho ideolgico de estado usando esses meios de

    comunicao para difundir ainda mais sua ideologia e um dos meios utilizados

    foram os quadrinhos, principalmente na Segunda guerra Mundial. Dado esse

    contexto a revista Cultura e Vozes 1969 ano 63 n 7 chega a citar os quadrinhos

    como um Arma Ideolgica.

  • 20

    3.1 Ideologia nos Quadrinhos

    Definido o conceito de ideologia e como o estado se valia das estruturas de

    influncia de cada poca para divulgar suas ideologias, necessrio agora

    identificar essa ideologia nos quadrinhos. J que segundo Jacques Marny, em

    relao aos Estados Unidos (1978):

    O pblico que l os comics enorme e atinge pelo menos metade da

    populao, ou seja, 100 milhes de indivduos. (O nmero abrange o

    pblico dos suplementos dominicais ilustrados.)

    Isso nos d a dimenso em que os quadrinhos se encontravam no sculo

    XX. E sua importncia como veculo de comunicao de massa para o pblico

    estadunidense. Os quadrinhos do gnero de super-aventura ganharam em

    importncia no fim da dcada de 30 como o incio da segunda guerra mundial. Com

    a sociedade e alguns sistemas de governo em grave crise A classe mdia euro-

    americana ansiava por literatice empacotada e no por crticas violentas ao seu

    sistema de vida. (revista de cultura e vozes). E os quadrinhos de super-heris da

    poca atendiam a esse anseio com seus heris smbolos da virtude. Isso justifica a

    criao e o sucesso do Super-Homem e Capito Amrica por exemplo. Heris de

    extremo carter ideolgico. Como nota-se com o comentrio do professor Nildo

    Vianna da UEG Universidade Estadual de Gois e Doutor em Sociologia/UNB

    (2009):

    O caso do Capito Amrica ainda mais esclarecedor. A sua origem, na

    fico, ocorre durante a Segunda Guerra Mundial. Steve Rogers era um

    soldado que foi exposto a uma experincia cientfica que pretendia criar

    super-soldados norte-americanos para combater os seus inimigos na

    Segunda Guerra Mundial. Um soro foi criado para fornecer uma fora

    sobre-humana aos soldados e a experincia com Steve Rogers

    apresentou os resultados esperados. O super-heri foi reforado por um

    uniforme que inspirado na bandeira dos Estados Unidos e um

    escudo poderoso. Ele foi responsvel por inmeras vitrias do exrcito

    norte-americano.

  • 21

    Isso nos d um parmetro de como os heris so utilizados na cultura

    americana, principalmente em perodos de guerras ou conflitos. A importncia

    desses heris tamanha que eles entram discusses polticas e so levados a um

    patamar elevado como modo propagandstico, de chegar ao absurdo do ministro da

    propaganda nazista, Joseph Goebbels dizer que o Super-Homem Judeu em

    uma clara tentativa de personificar o heri para os alemes como o inimigo. Como

    justifica Sonia M. Bibe luyten (editora brasiliense): por isso, por exemplo, que

    elas foram proibidas durante a segunda guerra mundial pelo Eixo, e os pases do

    bloco comunista se recusam a aceitar as histrias do ocidente (p.8). Ela classifica

    tambm as histrias em quadrinhos como excelente veculo de mensagem

    ideolgica e de crtica social, explicita ou implicitamente (p.7).

    Conclui-se que as Histrias em quadrinhos so veculos potencialmente, mas

    no necessariamente ideolgicos, que mediante as necessidades que se

    apresentam eles so muitas vezes utilizados por seu pas de criao como forma de

    propaganda de sua ideologia. Que essa caracterstica recorrente, principalmente

    em perodos onde o pas (nesse caso os EUA) se encontra engajado em algum

    conflito, obteve seu auge na Segunda Guerra Mundial com o Super-Homem e

    Capito Amrica lutando contra o nazismo, continuou na Guerra Fria, onde um bom

    exemplo o Homem de Ferro, que ligado principalmente a guerra do Vietn. E

    continua no incio do sculo XXI com governo de George W. Bush que enviou para

    os soldados HQs do Capito Amrica para Bagd e do Homem-Aranha onde

    aparece o recm-eleito presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

  • 22

    Ilustrao 4: Homem-Aranha. FONTE: (www.ambrosia.com.br)

  • 23

    4. Propaganda

    Estabelecidos o conceito de ideologia, o fator que se sucede : como essa

    ideologia vai ser disseminada. nesse contexto que entra a propaganda. Existem

    muitos exemplos no decorrer da histria do uso dessa ferramenta para difundir os

    ideais dos governos. Nome notrio nesse segmento o de Joseph Paul Goebbels,

    ministro da Propaganda Nazista, apesar de representar um governo imoral e

    desumano, analisando unicamente pelo ponto de vista da comunicao, um dos

    maiores exemplos de propaganda ideolgica na modernidade.

    Segundo Nelson Jahr Garcia (1982) em seu livro O que propaganda

    Ideolgica o autor destaca esse tipo de propaganda das outras possveis espcies

    de propaganda, (como a comercial e a eleitoral por exemplo): Sua funo a de

    formar a maior parte das idias e convices dos indivduos e, com isso, orientar

    todo o seu comportamento social.(p.10) Ou seja, a propaganda ideolgica visa

    estabelecer um molde nico de pensamento, principalmente quando se olha sob a

    tica poltica.

    Para dar publicidade a ideologia em si, preciso uma anlise da sociedade e

    quais meios de comunicao so ideais para difundir a mesma. Atendo-se ao

    exemplo anterior, Goebbels, segundo Carlos Gilberto Werneck Agostino utilizo-se

    de vrias mdias para sua propaganda (2009).

    Atravs de um controle extremamente centralizado de diversas reas de

    influncia no universo da cultura, a propaganda nazista utilizou os

    recursos da imprensa e das novas mdias, como o rdio e a televiso.

    Uma ateno especial foi conferida ao cinema, no s pela importncia

    que Goebbels conferia a este veculo como arma poltica, quanto em

    funo de seu gosto pessoal pela arte cinematogrfica.

    Alm disso, foi ele o inventor da saudao Heil Hitler utilizadas para saudar

    o lder poltico alemo.

    O conjunto desse fator (propaganda) adicionado a realidade social da poca,

    mostra-se como exemplo perfeito dos efeitos de uma propaganda ideolgica.

    Nelson Jahr Garcia explicita esses efeitos (1986, p. 8-15):

  • 24

    Por toda parte e em todos os momentos so propagadas idias que

    interferem nas opinies das pessoas sem que elas se apercebam disso.

    Desse modo, so levadas a agir de uma ou outra forma que lhes

    imposta, mas que parece por elas escolhida livremente. Obrigadas a

    conhecer a realidade somente naqueles aspectos que tenham sido

    previamente permitidos e liberados, acabam to envolvidas que no tm

    alternativa seno a de pensar e agir de acordo com o que pretendem

    delas.

    Apesar de no se valerem de formas to arbitrrias de censura para

    propagar suas idias, na outra extremidade os aliados tambm se utilizavam dos

    meios de comunicao para propagar sua ideologia. Um meio novo utilizado por

    eles eram os quadrinhos de super-heris que, como j foi dito, estavam em

    ascenso na poca.

    Os quadrinhos eram particularmente suscetveis a virarem um aparelho

    ideolgico do estado, nesse caso utilizado principalmente pelos Estados Unidos.

    Aspectos facilitadores presentes nas HQs, aliados uma grande comercializao

    dos mesmos, os colocava em posio privilegiada para tal fim. O que gerou uma

    leva de criao de heris com esse perfil, tendo como smbolo mximo o Capito

    Amrica.

    Ilustrao 3. Capito Amrica. FONTE: (http://cinecido.files.wordpress.com)

  • 25

    5. Discusso

    Primeiramente importante destacar que a anlise a qual o projeto se

    prope, no visa criticar o utilizador, no caso o Estado, de tal tcnica e sim

    analisar a eficcia do uso dos quadrinhos de super-heri como forma de

    propaganda ideolgica.

    A partir do que foi dito sobre propaganda ideolgica importante

    ressaltar o impacto da mdia de massa nesse ramo especfico da propaganda.

    Pois foi o advento dessa forma que o homem encontrou de se comunicar que

    possibilitou a mensagem chegar ao receptor de maneira abrangente, e,

    tambm, reduziu drasticamente a relao de tempo entre o envio da

    mensagem e sua captao. O que abriu novas possibilidades em uma rea

    inteiramente nova, que os governos com o passar do tempo aprenderam a se

    utilizar para difundir seus ideais.

    Nesse nterim, na primeira metade do sculo XX surgiram s histrias

    em quadrinhos do gnero de super-aventura ou de super-heris, mais

    precisamente em 1939 com o primeiro nmero do Superman. Esse cone dos

    quadrinhos foi seguido por uma enxurrada de outros, agora, assim como ele,

    super-heris, que como o prprio nome j diz, relega ao portador dessa

    alcunha uma capacidade extraordinria, no somente alm dos humanos

    normais, mas alm tambm dos heris figurativos que j existiam na poca,

    como Tim-Tim criado por Georges Prosper Remi (conhecido como Herg) em

    1929.

    Esses novos heris caram nas graas do pblico que via nos super-

    poderes e na maneira fantasiosa e absurda de como eles resolviam os

    problemas da sociedade, como a nica maneira de se lidar com um mundo

    conturbado como era o da poca, incio da Segunda Guerra Mundial. Isso

    explica em certa dose porque o pblico aceitou e comprou a idia de um ser

    super-poderoso, que, apesar de na poca de sua criao no possuir

    exatamente essas caractersticas, voa, invulnervel, com um olhar capaz de

    enxergar atravs de paredes e derreter coisas e que possui como fraqueza um

    dos objetos mais inusitados, um meteorito verde (kriptonita). Que um pedao

  • 26

    do seu planeta natal que explodiu. Isso mostra quo peculiar so tanto o

    pblico dessa ento nova mdia de massa quanto seus leitores.

    Apesar de peculiar eles eram muitos, como j foi citado na poca da Era

    de ouro dos quadrinhos 25 milhes de exemplares eram vendidos por ms, o

    que denota a importncia e desse meio de comunicao de massa e, tambm,

    a fatia considervel de populao que as histrias em quadrinhos alcanavam,

    j que muitas delas foram inicialmente veiculadas em jornais da poca. Jornais

    que por ter como caracterstica ser mais acessvel alcanava potencialmente

    um pblico de todas as classes sociais e de todas as idades.

    Ao se considerar os quadrinhos como mais uma ferramenta da indstria

    cultural, subjugada a mesma e passvel de ser utilizada para outros fins, sejam

    eles quais forem, importante perguntar: por que os quadrinhos de super-

    heris so um meio de propaganda ideolgica pertinente e eficiente?

    Utilizando-se do referencial j citado (II Guerra Mundial), j foi dito que

    os quadrinhos tinham uma excelente vendagem e uma abrangncia potencial

    igualmente abrangente, mas no s isso faz o veculo, no caso as prprias

    HQs, serem crveis, terem certa influncia sobre a sociedade. No do ponto de

    vista da aceitao pelo pblico como j foi explicitado, mas sim do ponto de

    vista desse mesmo pblico no s aceitar o que ele l nos quadrinhos, mas sim

    admitir o contedo do mesmo como verdade e aglutinar essa

    verdade/mensagem das HQs como dele prprio. Isso se d devido ao apelo

    emocional das histrias em quadrinhos.

    Ao se criar um enredo onde o mundo dos super-heris semelhante ao

    nosso, desde os fatos histricos at as personalidades pblicas, o pblico se

    identifica com essas histrias atravs da verossimilhana. Apesar desse

    gnero de histrias em quadrinhos ter, tambm, um aspecto fantstico (o que

    atrapalha na verossimilhana), os cones/heris dessas revistas representam

    valores incutidos dentro da prpria sociedade, principalmente os valores da

    sociedade vigente em comando. Quer melhor exemplo da Doutrina Monroe a

    Amrica para os Americanos que o prprio Capito Amrica, defensor dos

    ideais e da liberdade norte-americana.

  • 27

    Ou seja, ao se passar uma mensagem com vis ideolgico atravs dos

    quadrinhos, veculo que apela para o fantstico e para o lado emocional do

    leitor, as travas racionais de crtica ficam de certa maneira sublimadas, tal

    coisa ocorre devido grande massa tender a ver e entender os quadrinhos

    como um meio de entretenimento, dispensando muitas vezes uma anlise

    crtica do mesmo. O conjunto dessas caractersticas deixa as HQs em posio

    vantajosa como ferramenta para se difundir ideologias. Foi o que o correu na

    Era de Ouro de ouro dos quadrinhos com seus super-heris perfeitos.

    Com o declnio da Era de Ouro, os quadrinhos tiveram de mudar sua

    postura, pois com fim da segunda grande guerra o perodo

    nacionalista/patritico arrefeceu, a guerra tinha sido vencida no pelos heris

    das HQs, mas sim pelos soldados, a mtica sobre os super-heris e o apelo

    que eles causavam sofria em um primeiro momento de falta de objeto. Era

    necessrio uma reformulao.

    E essa reformulao veio com a Era de Prata, apesar de inicialmente de

    forma no to flagrante os heris comearam a ser, por a sim dizer,

    humanizados, mas sem perder suas caractersticas fantsticas. Eles

    comearam a ter problemas mais mundanos, foi a poca de Stan Lee e suas

    principais criaes na Marvel Comics. Essa nova caracterstica veio atender ao

    um novo anseio do pblico leitor e da sociedade. O que trouxe aos quadrinhos

    uma verossimilhana ainda maior com a realidade.

    Tendo os quadrinhos se adaptado a sua nova realidade, houve tambm

    o retorno do objeto ideolgico com que os quadrinhos comeavam a trabalhar:

    era o incio da Guerra Fria e do conflito armado no Vietn. Assim como ocorreu

    na Segunda Guerra Mundial os quadrinhos serviram como arma ideolgica de

    guerra colocando os Estados Unidos como o lado do bem em contrapartida

    com a Unio Sovitica que representava o lado mau do conflito.

    Novamente o uso dos quadrinhos como forma de propaganda ideolgica

    ganhava novo flego, mas ao mesmo tempo principalmente em meados de

    1970 os quadrinhos underground comeavam a ganhar fora e influenciar as

    grandes editoras para que houvesse uma mudana mais radical na forma de se

    estereotipar (ou desestereotipar) a representao dos super-heris nos

    quadrinhos. Foi a partir da que uma nova leva de quadrinhos comeou a ser

  • 28

    criada, onde o autor das HQs ganha importncia na concepo, no s dos

    heris, mas tambm na maneira como esse super-heri representado.

    Aqui comea uma mudana de paradigma, onde os super-heris como

    forma de propaganda ideolgica, no servem somente como aparato do Estado

    ou de uma classe dominante, mas sim como forma de crtica a esse Estado ou

    classe. Surge uma anti-ideologia que estava estabelecida nos quadrinhos.

    Agora, teoricamente as HQs serviam como arma ideolgica de qualquer um.

    Esse perodo foi marcado pelo estouro das Graphic Novels. Aqui vale-se

    destacar dois autores: Frank Miller e Alan Moore. Os dois, maneira de cada

    um, revolucionaram a indstria dos quadrinhos e seus protagonistas, os super-

    heris.

    O primeiro redefiniu heris importantes do mundo dos quadrinhos como

    o Batman e Demolidor, tornando-os mais dark, ou seja, heris no to

    mocinhos assim. No caso do Batman, por exemplo, esse heri comea a

    beirar a loucura, tornado-se um psictico sem escrpulos no combate ao crime.

    Outro ponto tambm e a representao do mundo em que esses heris esto

    inseridos. A retratao bem mais vvida, o aspecto recorrente abordado o

    do submundo, que extrapolado e colocado como o cenrio do todo. Esse

    submundo repleto de gangsteres, prostitutas, assassinos profissionais e

    diversos elementos assustadores que o caracteriza, ou seja, no importa

    aonde a cena se passa, se num beco ou na manso Wayne, tudo se

    transforma em um simulacro da realidade aplicado a esse contexto.

    O segundo se vale das mesmas caractersticas, no que se diz respeito

    caracterizao dos heris e do mundo onde eles habitam. Mas h um

    diferencial, a principal obra de Alan Moore: Watchman. Essa obra um

    verdadeiro divisor de guas dos quadrinhos, o mote principal dessa histria,

    que nunca tinha sido abordado antes, gira entorno do impacto na histria

    mundial se realmente existissem super-heris no mundo real. Watchman faz

    uma crtica dura ao modo de vida norte-americano, e ridiculariza os super-

    heris como malucos que saem de suas casas para combater o crime

    fantasiados de forma extravagante.

    Esse foi um dos picos do uso dos quadrinhos como forma de

    propaganda ideolgica, os anos 80 do sculo XX estavam inseridos num

    contexto histrico muito pessimista em relao ao futuro, com crises

  • 29

    econmicas e guerras. Agora, apesar de no representar mais o Estado e nem

    uma classe dominante, o simples uso dos quadrinhos como forma de criticar o

    sistema transforma-o em um meio de propaganda ideolgica, como foi dito

    anteriormente, agora qualquer um pode propagar seu pensamento. E quem

    toma esse posto, antes ocupado pelo Estado, so os autores das histrias em

    quadrinhos e as editoras que por ventura a eles estejam associados.

    Outro aspecto importante a simbologia e a carga semitica contida nos

    quadrinhos. Esse aspecto pode ser visto de maneira clara em dois dos

    principais super-heris da editora Marvel e DC respectivamente: Capito

    Amrica e Super-Homem.

    Ao se analisar os trajes desses dois heris nota-se claramente o uso das

    cores da bandeira norte-americana, isso associado ao comportamento

    escoteiro dos dois, caracterizados pela defesa da liberdade americana e do

    way of life estadunidense os transforma, aplicando a definio de Pierce, em

    signos com alta carga simblica e icnica, um representmen ideal para ser

    utilizado como forma de propaganda ideolgica (Eixo vs Aliados, Capitalismo

    vs Comunismo) de vis poltico.

    Ilustrao 6. Super-Homem. FONTE: (http://noliquidificador.files.wordpress.com)

  • 30

    Essa caracterstica no se limita somente aos dois heris, mas a muitos

    outros. Como o Batman, Mulher Maravilha, Homem de Ferro, Homem-Aranha,

    dentre muitos. Mesmo os quadrinhos underground apresentam tais

    caractersticas, apesar se muitas vezes utiliz-las de maneira a criticar o

    sistema e criar um conflito dentro do enredo. Exemplo disso so os embates de

    opinio que ocorre entre o personagem Questo, representando o Capitalismo

    e o Arqueiro Verde representando o comunismo na histria de Frank Miller

    intitulada Batman o Cavaleiro das Trevas.

  • 31

    6. Concluso

    A anlise dos dados e da teoria apresentados no referencial confirma a

    tese proposta inicialmente, que as histrias em quadrinhos so um meio de

    comunicao utilizado para propaganda ideolgica, e ela eficiente nesse

    quesito.

    Ao se estabelecer a trajetria dos quadrinhos e traar um paralelo

    comparativo com o contexto histrico em que as HQs necessariamente esto

    inseridas, nota-se um vnculo existente entre eles. A relao entre os

    momentos vividos pela sociedade e as histrias em quadrinhos tem forte

    impacto sobre as publicaes, e, conseqentemente, sobre os super-heris

    que as protagonizam.

    Para tal fim, no entanto necessrio se utilizar de meios que aproximem

    o heri do leitor. Nesse aspecto os quadrinhos se valem da verossimilhana

    que eles possuem com a realidade, por serem representados como uma

    simulao do nosso prprio mundo, e do uso de ferramentas sutis que faam

    que os heris se tornem no s simples personagens dentro de uma histria de

    fico, mas que representem tambm, de forma simblica, toda uma ideologia

    que expresse o sentimento de determinado grupo, seja ele um pequeno grupo

    da elite local, seja os sentimentos e valores de toda uma nao.

    Nesse ponto os quadrinhos se destacam, pois os heris no

    representam tudo isso que foi dito simplesmente, mas essa representao se

    d de maneira utpica, o que acarreta na elevao dos super-heris a

    categoria de dolos. Agora os heris se tornam motivos de adorao dos fs.

    Mesmo na classe dos quadrinhos que visam fazer uma crtica, seja ela

    qual for, os ditos super-heris mesmos que humanizados se encaixam no

    perfil desejado para que ele cumpra o papel destinado a ele. Isso se v tanto

    no Capito Amrica na sua defesa dos ideais americanos, quanto no Batman

    de Frank Miller, eles foram criados para serem cones representantes de suas

    pocas. Uma se caracterizava pelo momento patritico inflamado pela segunda

    guerra, o outra pelo momento de crise de identidade marcante da dita dcada

    perdida, como ficou conhecida a dcada de 1980. As nicas coisas diferem

    esses heris so o propsito e o momento da histria em que eles foram

  • 32

    concebidos. Ou seja, a inteno de se propagar uma ideologia permanece,

    mesmo que essas sejam dspares, no entanto o meio utilizado, as histrias em

    quadrinhos, cumprem seu papel de veculo da grande massa que tem um

    impacto relevante na propagao ideolgica.

    Com relao aos objetivos que o trabalho se props todos eles foram

    confirmados. O objetivo geral se confirmou na medida em que a anlise histrica

    feita, corroborada pelo referencial terico, admite a concluso da existncia de uma

    iconografia dos quadrinhos. Estabelecida essa iconografia, os representantes

    (super-heris) foram utilizados de maneira a atender aos anseios ideolgicos de

    quem os tinha em mos, anseios que se casavam, na maioria das vezes, com o

    interesse comercial das grandes empresas responsveis pela publicao dos

    mesmos. Em resumo, os quadrinhos e seus super-heris foram e so usados como

    ferramentas ideolgicas, ao mesmo tempo em que atendem ao apelo comercial de

    quem os publicam.

    Os objetivos especficos seguem a mesma relao do objetivo principal. Foi

    analisado que apesar de ser uma ferramenta de difuso ideolgica os parmetros

    para tal difuso se modificam e se adaptam seguindo uma relao direta com o

    contexto histrico vivido no momento, e com a relao que a sociedade tem com tal

    contexto histrico e de que forma ela reage segundo essas caractersticas. Isso

    determina de que maneira os quadrinhos sero utilizados como forma de

    propaganda ideolgica. E quem, utilizando-se desse meio (os quadrinhos), tem

    mais probabilidade de se encaixar no perfil para utiliz-lo de maneira que atenda

    seus interesses.

    A anlise feita permite concluir que o real espectro das HQs e sua

    importncia dentro de um cenrio global foram, por muito tempo, negligenciados a

    um segundo plano. Isso se deve pela errnea avaliao que dominou durante um

    longo perodo que consistia em avaliar os quadrinhos como coisa de criana. Ou

    seja, uma pueril forma de entretenimento onde no era necessria uma maior

    anlise pelos acadmicos, quanto mais uma analise crtica pelos leitores.

    Com a evoluo do pensamento passou-se a dar mais importncia aos

    quadrinhos, e, hoje, ele tratado com a real importncia que merece, pelo menos

    no meio acadmico. Onde sua real importncia dentro de um contexto heterogneo

    de uma sociedade foi admitida e motivo de anlise. Conclui-se que a real

    importncia dos quadrinhos est no processo de influncia que ele exerce sobre a

  • 33

    sociedade onde o mesmo circula. O que denota a importncia das HQs dentro do

    contexto de uma anlise crtica feita sobre ela.

    Conclui-se ento que o trabalho atingiu seus objetivos e que o tema

    apresentado: Os quadrinhos como forma de propaganda ideolgica, se confirma.

    Isso se d devido aos autores e referencia bibliogrficas utilizadas referendarem a

    hiptese apresentada.

  • 34

    7. Referncias

    DC Comics. [Home Page]. 2009. Disponvel em . Acesso em: 10

    abr. 2009.

    MARVEL Comics. [Home Page]. 2009. Disponvel em .

    Acesso em: 10 abr. 2009.

    SMEES, Guilherme. [Home Page]. 2009. Disponvel em . Acesso em: 17

    abr. 2009.

    AGOSTINO, Carlos Gilberto. [Home Page]. 2009. Disponvel em .

    Acesso em: 23 abr. 2009.

    SANTAELLA, L. [Home Page]. 2009. Disponvel em . Acesso em: 14 mai.

    2009.

    VIANA, Nildo. [Home Page]. 2009. Disponvel em . Acesso em : 25 abr.

    2009.

    MARNY, Jacques. Sociologia das histrias aos quadradinhos. Lisboa: Civilizao. 1978.

    IDEOLOGIA e Centro nas Histrias em Quadrinhos. Revista de Cultura e Vozes, Petrpolis, n. 7, set. 1973. QUADRINHOS/poltica. Revista de Cultura e Vozes, Petrpolis, n. 7, set. 1973. LUYTEN, Snia M. B. O que histrias em quadrinhos. 2. ed. So Paulo: Brasiliense, 1985 GARCIA, Nelson Jahr. O que propaganda ideolgica. 6.ed. So Paulo: Brasiliense, 1986. p. 8 - 15. BARSA, enciclopdia. Definio de Ideologia. So Paulo: Britnica, 1994. PIERCE, Charles S. Semitica. 3. Ed. So Paulo: Perspectiva, 2000. p. 52 64 ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideolgicos de Estado. 7 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. p. 78. LVARO, Moy. Histria da Histria em Quadrinhos. Porto Alegre, L&PM Editores, 1986.