os _progressistas_ eternos_ syriza, podemos, bloco de esquerda e derivados - observador

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  • 7/25/2019 Os _progressistas_ Eternos_ Syriza, Podemos, Bloco de Esquerda e Derivados - Observador

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    29/01/2016 Os "progressistas" eternos: Syriza, Podemos, Bloco de Esquerda e derivados - Observador

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    Gabriel Mith Ribeiro Email

    EXTREMA-ESQUERDA

    Os progressistas eternos: Syriza,Podemos, Bloco deEsquerdae derivados

    6/2/2015, 8:03 51 113 PARTILHAS

    O que est em curso uma loucura civilizacional pensada,

    programada, estudada, publicada. No seu mago est osistema universitrio, o Cavalo de Troia do Ocidente.

    BLOCO DE ESQUERDA EXTREMA-ESQUERDA PODEMOS SYRIZATpicos

    Nos tempos em que a TSF era uma rdio que no me obrigava a desligar

    ou a mudar de estao antes de Bruno Nogueira, Pedro Ado e Silva e

    Pedro Marques Lopes, Ricardo Arajo Pereira e de me saturar de umFrum TSF em tom paroquial costumeiro ou da ladainha matinal de

    Fernando Alvesque liga-tudo-com-tudo-via-poesia-para-acabar-sempre-

    amarrado-ao-politicamente-correto aprendi uma tese recorrente em

    Carlos Amaral Dias, parceiro de Carlos Magno, quando em conjunto

    faziam o programa Freud e Maquiavel. A tese defendia que no centro

    no se passa nada de importante. O que verdadeiramente importante

    passa-se nas periferias. Nada melhor do que a frica para percebermos astentaes da Europa.

    OPINIO

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    H dcadas, um pas africano enveredou por um ciclo progressista radical

    dirigido pelo Syriza da poca. Rumo a um futuro glorioso livre dos vcios

    do capitalismo (a senhora Merkel daquele contexto), as massas foram

    convocadas a participar ativamente no exerccio do poder popular,

    sintomas ainda vivos atravs da aprovao de programas polticos,oramentos participativos, decises e candidaturas cidads ao sabor

    dos apetites de novas massas.

    Apesar de num tempo remoto no ter sido assim e da persistncia do

    autoritarismo, no passado recente o sistema judicial do territrio africano

    regulava-se pela formalidade processual, autonomia institucional,

    funcionava no interior dos tribunais, a lei tinha algum valor. At que

    irrompeu a revoluo. Entre outras manifestaes, nasceu uma eufrica

    justia popular prenhe de urgncias de mudana. Era preciso combater a

    opresso e responder aos profundos anseios da populao. Nada como

    transferir o exerccio da justia para a praa pblica, libert-lo de

    formalidades legais e processuais que o povo no compreendia, proibir a

    advocacia, fazer entrar em cena o espetculo pblico da violncia,

    legalizar os castigos corporais. A nova justia era direta, exemplar,

    persuasiva pela violncia, simples, sem sombras de corrupo. Nunca

    como nos anos da revoluo a populao sentiu a justia to perto.

    Praticamente no havia crimes. O homem novo da sociedade nova estava

    a chegar.

    Insensvel, a realidade acabou por se impor. O ciclo da orgia

    revolucionria esgotou-se. Pouco mais de uma dcada passada, os

    governantes do pas africano sentiram necessidade de retomar

    formalidades governativas antes abjuradas. Descobriram que a justia

    teima em no voltar ao antigamente. Parte da populao, agora bem mais

    desconfiada e desprotegida, no se adapta. revelia das recicladas novas

    boas intenes dos ps-revolucionrios, em momentos imprevisveis, as

    antigas massas do vida ao recalcado poder popular. Fazem-no porconta prpria, queimando vivos suspeitos de agresso criminal,

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    fenmeno nunca visto antes da revoluo. Os linchamentos tm lugar em

    subrbios onde hoje o discurso das pessoas comuns sobre o mundo

    continua fortemente influenciado pela ao do grande heri dos anos

    revolucionrios, morto h quase trs dcadas.

    Espasmos de regresso civilizacional que deixam atnitas as elites. Como

    sempre progressistas, persistem na procura de justificaes no

    colonialismo, no capitalismo, no Ocidente, nos ricos.

    Indissocivel da anterior, os tempos eufricos de mudana legaram

    outra herana s geraes que se sucedem: a desregulao da relao

    cultural com a propriedade, um referente-chave dos equilbrios sociais. Apropriedade comunitria africana tradicional e a propriedade individual,

    esta h muito progressivamente introduzida pelos colonos europeus, no

    se atropelavam. Mas ambas foram abruptamente deslegitimadas pelos

    revolucionrios. Passou a valer apenas a utopia da propriedade coletiva

    do estado, estranha a tradies e prticas preexistentes. Na ressaca desta

    engenharia progressista, a colheita tambm chegou. A criminalidade

    disparou como nunca entre a gente comum, hoje ainda mais

    condicionada pela pobreza e cujo inconsciente coletivo mantm latente os

    princpios dos dias anteriores do poder popular: a propriedade um

    roubo, um produto da opresso.

    O tempo passa, os lugares mudam, porm a condio humana continua

    tentada pelo abismo. Para j, o verdadeiro Syriza limita-se

    informalidade dos que no usam gravata, oblitera as mulheres de cargos

    de liderana ministerial, exibe o poder num conselho de ministros para

    espetculo pblico em direto nas televises, os seus lderes evidenciam

    tiques de quem pode romper acordos formais com outros estados

    democrticos soberanos, paira o fantasma de se poder mexer na questo

    sensvel da propriedade e, no menos, manifesto o desejo de romper

    com o passado imediato. Sintomas da propenso para a regresso

    civilizacional prpria da violncia revolucionria.

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    Talvez seja tempo de os europeus ocidentais provarem do veneno que os

    seus intelectuais ajudaram a espalhar pelo mundo. Esperemos pela

    Grcia das prximas dcadas para ver at que ponto desabrocharo na

    vida quotidiana as sementes de um iderio progressista exponenciado

    pelo exerccio do poder, sobretudo se alimentadas pela imagem do novoheri revolucionrio, mesmo que v dando sinais de domesticao.

    Entre os europeus ocidentais, o exorcismo do passado faz com que a

    extrema-direita de hoje viva sujeita a forte escrutnio pblico. mal

    tolerada em sociedades muito conscientes de que determinados aspetos

    das suas utopias esto para alm dos limites da razoabilidade, do

    humanismo, da decncia e tem espao apenas fora do aparelho do estado.

    Risco maior o de o equivalente no acontecer com a extrema-esquerda.

    O seu lastro histrico de irresponsabilidades, crimes, genocdios, purgas,

    perverses civilizacionais no menos evidente. Porm, h dcadas que a

    extrema-esquerda se reproduz em rdea solta no bero mais ameaador:

    no interior da mquina do estado onde as utopias radicais so sempre

    nefastas. Dever-se-ia ter aprendido mais com o nazismo.

    O que est em curso no so meros lapsos ou incidentes. produto de

    uma loucura civilizacional pensada, programada, estudada, publicada. No

    seu mago est o sistema universitrio, o Cavalo de Troia do Ocidente.

    Em tempos de sociedades do conhecimento, a partir dele que o resto

    condicionado com muitas vantagens e srias desvantagens.

    O facto que as sociedades vo acumulando lixo intelectual custa do

    muito que gastam com o ensino. Os Syriza, Podemos, Bloco de Esquerda

    e Derivados so frutos de sementes plantadas em viveiros universitrios,

    privilgio felizmente impensvel de ser concedido ao alter-ego, a

    extrema-direita. E como no existem economias sem crises cclicas

    qualquer sistema dinmico que envolva infindveis relaes humanas

    tem ciclos de ascenso, declnio e renovao permanentes , e supondo

    que se continue a fingir que o ensino superior no constitui um srio

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    problema poltico, a cada novo ciclo de crise econmica o Ocidente

    pagar um preo crescentemente pesado pela sua indolncia

    sovietizao das suas sociedades.

    Alm dos estragos praticamente irreparveis no domnio das atitudes ecomportamentos no ensino bsico e secundrio, considerando a

    repercusso social que isso acarreta em tempos de escolarizao

    massificada, a fertilidade da semente no deixa dvidas. Hoje, qualquer

    ideia de cidadania que caia fora do etreo ncleo progressista soa a

    errada, a ataque dignidade da condio humana, a ataque aos

    desfavorecidos, a ataque s minorias. O simples bom senso deveria

    recomendar o contrrio. Cidadania responsvel define-se pelo que est

    longe dos Syriza, Podemos, Bloco de Esquerda e derivados, universidades

    progressistas, comunicao social de causas.

    Descontando os clssicos, se os livros de gerao recente ainda podem ser

    estimveis, entre-se numa qualquer das grandes livrarias, como as FNAC

    ou as Bertrand, percorra-se os escaparates das cincias sociais,

    humanidades e literaturas para se perceber como se reproduz at

    nusea este estado de demncia civilizacional. Para que o enunciado no

    fique sem contedo, recomendo um dos ltimos ensaios para consumo

    massificado publicado pela Fundao Francisco Manuel dos Santos,

    financiada por capitalistas. O ttulo Confiana nas instituies

    polticas (2015, n50). Ana Maria Belchior a autora, universitria

    especialista em cincia poltica.

    O contedo do livro segue uma lgica intrigante. Na identificao de

    responsabilidades pela desconfiana das sociedades nas suas instituies

    polticas, o leitor vai sendo empurrado para o interior dos partidos

    polticos moderados do centro. Em Portugal, os maus exemplos

    preferenciais vm de atitudes de governantes do PSD. Os do PS so mais

    poupados. Na perspetiva do ensaio, as presses de fora das foras

    polticas moderadas ficam invisveis ou funcionam como se no tivessem

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    os mesmos ou piores efeitos no desgaste das instituies, presses vindas

    dos eufemsticos movimentos sociais, sindicatos, universidades

    progressistas, jornalismo de causas, entre outros, e como se esta

    panplia fosse apenas cvica ou despolitizada quando sabemos serem as

    mil e uma caras do radicalismo poltico, o seu habitat natural. Depois, otexto ultrapassa em pose de altivez assptica o crescimento da extrema-

    direita na Europa para terminar na glorificao nada subtil da

    academicamente designada esquerda-libertria (p.78). Pginas adiante,

    ficamos ainda melhor iluminados atravs da explicao da ideia de

    democracia forte, atribuda a Benjamin Barber, caraterizada pelo ()

    slido envolvimento da participao dos cidados () contra a ()

    democracia fraca ou magra (a democracia representativa liberal)

    (p.82).

    Em suma, a cincia poltica atesta, num tipo de escrita pensado para o

    grande pblico, as virtudes da democracia forte, bem como que o seu

    potencial paira nos antpodas das atuais tendncias liberais, as dos

    partidos polticos moderados. Na prtica, mais uma argumentao

    panfletria escondida numa duvidosa sustentao terica e numa

    objetividade estatstica servida em doses macias.

    Neste filme de terror, s uma estulta ingenuidade faz com que no se

    perceba que existem instituies a que as sociedades atribuem

    responsabilidades fundamentais, por isso muitas delas so pblicas,

    vidas de empurrar os sistemas sociais e os sistemas polticos ocidentais

    borda fora desta sociedade e desta democracia liberais em prol de

    outras, as alternativas de tipo forte, eufemismos que vo preparando o

    caminho de regresso s democracias populares e s justias populares

    inspiradas no sempiterno socialismo cientfico.

    Bolseiro de ps-doutoramento em Estudos Africanos, autor de O Ensino

    da Histria