os métodos de investigação reflexológicos e psicológicos

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  • 7/31/2019 Os mtodos de investigao reflexolgicos e psicolgicos

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    Os mtodos de investigao reflexolgica do homem j chegou a um

    ponto de inflexo no seu desenvolvimento. A necessidade (e a inevitabilidade)

    dessa mudana deve-se, por um lado, desproporo entre a imensa tarefa de

    estudar todo o comportamento humano que a reflexologia levanta e, por outro,

    os meios modestos e limitados que para sua soluo proporciona o

    experimento clssico da formao do reflexo condicionado (secretor ou motor).

    Essa desproporo cada vez mais evidente, na medida em que a

    reflexologia passa do estudo das relaes mais bsicas do homem com o meio

    ambiente (a atividade que renes as formas e fenmenos mais primitivos)

    investigao de interaes mais complexas e variadas, sem as quais no se

    pode descifrar o comportamento humano em suas leis mais importantes.Nesse sentido, alm do bsico e primitivo, a reflexologia tem dado uma

    afirmao geral breve, aplicado igualmente a todas as formas de

    comportamento, de que estas so constitudas por um sistema de reflexos

    condicionados. Mas esta afirmao demasiado geral no tem levado em conta

    as particularidades especficas de cada sistema, nem as leis que regem a

    combinao dos reflexos condicionados no sistema de conduta, nem as

    complexadssimas interaes e os reflexos de uns sistemas sobre outros, enem sequer esboou um caminho para a soluo cientfica dessas questes.

    Da o carter declarativo e esquemtico dos trabalhos reflexolgicos onde se

    esperam resolver os problemas do comportamento do homem em vertentes

    mais ou menos complexas.

    A reflexologia clssica permanece em suas investigaes dentro de um

    princpio cientfico universal darwiniano, reduzindo tudo ao mesmo

    denominador. E precisamente porque este princpio muito geral e unversalno fornece um meio direto para julgar sobre as suas formas particulares e

    individuais. Afinal, a cincia concreta do comportamento humano tambm lhe

    resulta impossvel limitar-se a ele, o mesmo que uma fsica concreta no pode

    se limitar to somente ao princpio da verdade universal. Escalas so

    necessrias, aparatos e mtodos especiais para conhecer o mundo terreno

    concreto, material, limitado, com a base de um princpio geral. Igual acontece

    com a reflexologia. Tudo induz a cincia do comportamento do homem a sairdos limites do experimento clssico e buscar outros meios de conhecimento.

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    No s coloca-se o problema como manifesta-se claramente uma tendncia

    ampliao da metodologia reflexolgica, como que se perfilam as linhas que se

    deve seguir nesta ampliao: uma maior aproximao e, em ltima instncia, a

    fuso definitiva com os procedimentos de investigao estabelecidos h muito

    pela psicologia experimental. Embora isso possa parecer paradoxal em relao

    oposio destas disciplinas, e embora no haja uma unanimidade entre os

    prprios reflexlogos e apreciem de formas muito diversas a psicologia

    experimental, esta fuso, ou seja, a criao de uma metodologia nica da

    investigao do comportamento humano e, por conseguinte, de uma disciplina

    cientfica nica, pode ser considerada como um fato que est se produzindo

    diante de nossos olhos.

    A breve histria desta aproximao a seguinte. Inicialmente, a

    excitao eltrica da pele se realizava na sola do p, com o que se provocava

    um reflexo de defesa da mesma ou em toda ela. Posteriormente, V. T.

    Protopov introduziu uma importante modificao no procedimento: substituiu o

    p pela mo, supondo que seria muito mais vantajoso escolher a mo como

    crterio precisamente por ter esta um aparelho de resposta mais elaborado,

    mais adaptado que o p para as reaes de orientao com a influncia do

    meio ambiente. E apoia com argumentos extraordinariamente convincentes a

    grande importncia que para a reao tem a escolha adequada do aparato de

    resposta. claro que se escolhemos em um gago ou emum surdo seus rgos

    artiulatrios como aparato de resposta, ou aquela extremidade de um co que

    corresponda a um centro motor cortical que se tenha removido ou, em geral,

    um dispositivo pouco e mal adaptado ao tipo de reao que corresponda (como

    o p de uma pessoa para os movimentos prensores), avanaremos muito

    pouco no estudo da rapidez, da exatido, a perfeio da orientao, embora se

    mantenham intactas a funo analisadora e combinatria do sistema nervoso.

    Com efeito, nossos experimentos deixam claro disse Protopopov que a

    formao dos reflexos condicionados conseguida mais rapidamente com as

    mos, como tambm se obtm a diferena e se mantm de uma maneira mais

    consistente (1923, p. 22). Neste sentido, a metodologia da experimentao

    reflexolgica comea a parecer-se notavelmente com a psicologia. O sujeito

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    pode colocar com facilidade a mo sobre a mesa e os dedos se poem em

    contato com a placa atravs da qual passa a corrente eltrica.

    Portanto, se no estudo dos reflexos do homem vamos mais alm do

    princpio geral y nos colocamos o objetivo de estudar os distintos tipos dereao que determinam o comportamento, a escolha do rgo que reagir

    ser um fator decisivo.

    Como afirmou Protopopov, o homem e o animal dispem de numerosos

    aparatos de resposta, mas sem dvida respondem aos excitantes

    heterogneos do meio ambiente com aqueles mais desenvolvidos e melhor

    adaptados ao caso em questo (Ibidem, p. 18). O homem foge do perigo com

    os ps, se defende com as mo, etc. Naturalmente, se pode desenvolver no pum reflexo combinado de defesa, mas o que temos que investigar no s a

    funo combinatria que realiza por si mesmo os grandes hemisfrios (=

    princpio geral L. V.), mas tambm estabelecer o grau de rapidez, exatido e

    perfeio da orientao, o aparato de resposta escolhido para a observao

    no ser indiferente (Ibidem).

    Mas quando dizemos tambm devemos dizer Protopopov se v forado

    a reconhecer que tampouco se pode deter aqui a reforma. O homem possuium aparato referente muito mais desenvolvido que a mo no mesmo mbito

    motor e com ajuda dele estabelece uma comunicao mais ampla com o

    mundo que o rodeia: me refiro aqui aos rgos articulatrios. Considero

    perfeitamente possvel e conveniente que as investigaes reflexolgicas

    passem desde de agora a utilizar a locuo como objeto, considerando-a como

    um eixo particular das condies de comunicao que determina a inter-

    relao do homem com o meio circundante atravs de sua esfera motriz(Ibidem, p. 22). Que se considere a fala como um sistema de reflexos

    condicionados algo que no necessrio repetir, pois para a reflexologia isto

    constitui uma verdade quase evidente. So tambm evidentes as vantagens

    que proporcionar reflexologia a utilizao da fala para ampliar e aprofundar

    o crculo de fenmenos para serem estudados.

    Portanto, em relao ao aparato de resposta, no existem desacordos e

    divergncias com a psicologia. Pavlov apontava as vantagens que tem aescolha precisamente do reflexo de secreo salival nos ces, sabendo que

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    a menos arbitrria. Isso era extraordinariamente importante durante a tentativa

    de descubrir o princpio mesmo dos reflexos condicionados, da salivao

    psquica que se produz ao ver a comida. Mas as novas tarefas exigem novos

    meios, os avanos obrigam a mudanas de rota.

    O segundo e mais importante fato consiste que a prpria metodologia da

    reflexologia tropeou em determinados fatos que qualquer criana conhece

    perfeitamente. O processo de diferenciao do reflexo no indivduo no se

    conseque rapidamente. Transcorre muito tempo antes de o reflexo se formar e

    passar de generalizado para diferenciado, isto , para que o homem aprenda a

    reagir unicamente ao excitante principal e para que a reao se iniba ante dos

    outros. , portanto, (a nfase minha) que se atuar sobre o sujeito com aspalavras adequados se pode favorecer tanto a inibio como a excitao das

    reaes condicionadas. Se lhe explicar que um determinado som aparecer

    combinado com a corrente eltrica e os restantes no, a discriminao se

    produzir de imediato. Com ajuda da palavra como excitante podemos

    provocar a inibio e o reflexo condicionado pode-se provocar o reflexo

    condicionado da corrente, basta dizer para no tirar a mo.

    Por conseguinte, se coloca a palavra adequada na metodologia doexperimento para formar a discriminao. Esse mesmo procedimento serve

    no s para conseguir a inibio, como tambm para despertar a atividade

    reflexa. Se dizemos a palavra ao sujeito para tirar a mo depois de um

    determinarmos um sinal, o efeito no ser diferente quando tira a mo pela

    corrente atravs da placa. Protopopov supe que sempre provocamos a reao

    desejada. evidente que, a partir do ponto de vista reflexolgico, o fato de tirar

    a mo mediante um acordo verbal estabelecido com o sujeito um reflexo

    condicionado. E toda a diferena entre esta reao condicionada e a outra

    elaborada a partir do reflexo da corrente se limita a que neste caso estamos

    lidando com um reflexo condicionado secundrio, enquanto que o outro se

    tratava de um primrio. Mas tambm reconhece Protopopov que esta

    circunstncia favorece esta metodologia. indubitvel, diz ele, que no futuro a

    investigao reflexolgica sobre o homem realizar fundamentalmente com

    ajuda dos reflexos condicionados secundrios. E no uma realidade evidente

    que sero precisamente os reflexos de ordem superior os que desempenharo

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    um papel importantssimo, tanto quantitativa como qualitativamente, no

    comportamento do homem durante a experimentao e que sero

    precisamente eles que explicaro o comportamento em sua esttica e

    dinmica? Mas, com estas suposies: a excitao e a limitao

    (discriminao) da reao com ajuda de instrues verbais e a utilizao de

    toda classe de reaes, includa a verbal, da palavra, entramos totalmente no

    campo da metodologia da psicologia experimental.

    Em seu histrico artigo citado, Protopopov se detm por duas vezes

    neste ponto. A organizao dos experimentos neste caso... absolutamente

    idntica a que se utiliza h muito tempo na psicologia experimental para

    investigar as denominadas reaes psquicas simples. A continuao do textoentra as mais diversas modificaes na organizao dos experimentos, por

    exemplo, cabe tambm para fins reflexolgicos denominado experimento

    associativo... E, fazendo-o, no s preciso ter em conta o objeto presente

    mas descobrir tambm vestgios de excitaes anteriores, incluindo as inibidas

    (ibidem).

    Apesar do grande estudo que merecem os experimentos psicolgicos, o

    passo do experimento reflexolgico clssico e a diversidade da experimentaopsicolgica, ainda fechada para os fisiologistas, e apesar de traar com

    audcia novos caminhos e mtodos para a reflexologia, Protopopov deixa no ar

    dois pontos muito importantes, que cuja fundamentao e defesa faremos a

    seguir.

    O primeiro ponto refere-se tcnica e aos mtodos de investigao, e o

    segundo ponto, aos princpios e objetivos das duas cincias. Ambos esto

    estreitamente ligados entre si e com os dois guarda relao com um equvocoimportante que obscurece o problema. A aceitao desses dois pontos a serem

    esclarecidos imposta tanto pelas concluses logicamente inevitveis das

    teses reflexolgicas e aceitas, como tambm, que em breve levantaremos, a

    conduo da evoluo adotada por este mtodo.

    O que ainda falta e impede que a metodologia experimental fisiolgica e

    reflexolgica coincidam e se fundem definitiva e totalmente? Tal como afirma

    Protopopov, s falta uma coisa: o interrogar o sujeito, seu informe verbal sobreo curso de alguns aspectos dos processos e reaes, aos que os

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    experimentadores no podem chegar seno atravs do testemunho do prprio

    indivduo objeto do experimento. aqui onde parece estar encerrada a

    essncia da discrepncia, uma discrepncia que a reflexologia no hesita em

    converter em uma questo decisiva e de princpio.

    Esse fato esta relacionado com o segundo ponto, o relativo aos objetivos

    de ambas as cincias. Protopopov no fala nem uma vez sobre o interrogatrio

    do sujeito.

    1.M. Bjterev (1923) disse repetidamente que do ponto de vista

    reflexolgico, a investigao subjetiva s admissvel quando se

    realiza sobre si mesmo. Sem embargo, o interrogatrio do sujeito

    necessrio precisamente do ponto de vista da integridade dainvestigao reflexolgica. De fato, o comportamento do sujeito e

    a fixao nele de novas reaes reflexas so determinadas no

    s pelas reaes (manifestas, totalmente terminadas, aparentes e

    claramente perceptveis), como tambm pelos reflexos no

    manifestados externamente, semi-inibidos, retidos. Bjterev

    mostra, com I. M. Schenov, que o pensamento no seno um

    reflexo inibido, retido, um reflexo interrompido em seus doisteros, concretamente no pensamento com palavras, que o caso

    mais comum de reflexo verbal contido.

    Surge a pergunta: por que admitimos o estudo dos reflexos verbais em

    sua integridade e inclumos nesse campo as mximas expectativas e no

    tomamos em considerao esses mesmos reflexos quando no se manifestam

    externamente, mas que sem dvida existe objetivamente? Se pronuncio em

    voz alta a palavra 'tarde' para que o experimentador oua, surgida porassociao, considerada como uma reao verbal, um reflexo condicionado.

    Mas se pronuncio a palavra para mim, sem que se oua, a penso, ento para

    de ser um reflexo e se altera sua natureza? E, onde est o limite entre a

    palavra pronunciada e a no pronunciada? Se move os lbios, se eu emito um

    balbucio, que o experimentador no percebe, que deve se fazer em tal caso?

    Poder pedir-me que repita em voz alta a palavra ou considerar que isso um

    mtodo subjetivo, introspeco ou outra coisa proibida? Se isso vivel (e nelecoincidiria quase tudo) por que no pode me pedir que diga em voz alta a

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    palavra pronunciada mentalmente, isto , murmurando sem mover os lbios, na

    medida em que foi e seguiu uma reao motriz, um reflexo condicionado sem o

    qual no h pensamento? E aqueles j interrogatrio, testemunho verbal e

    declarao do sujeito a respeito das reaes no manifestas, no captadas

    pelo ouvido do experimentador mas que indubitavelmente tinham existncia

    objetiva com anterioridade (e a reside toda a diferena entre os pensamentos

    e a linguagem, s nisso!). Termos muitos meios de confirmar que existiam de

    fato com todas as categorias de sua realidade materia, e, o que mais

    importante, elas mesmas se ocuparam de nos convencer de sua existncia.

    Ser colocado de manifesto com tanta fora e claridade no curso posterior da

    reao que obrigaram o experimentador a tom-las em conta ou renunciar em

    geral o estudo do curso das reaes em que esto inseridas. E existem muitos

    desses processos de reaes, de desenvolvimento de reflexos condicionados

    onde no se introduzem reflexos inibidos (= pensamentos)?

    Portanto, ou renunciamos estudar o comportamento da personalidades

    em suas formas transcendentais ou introduzimos obrigatoriamente em nossos

    experimentos o controle desses reflexos no manifestados. A reflexologia est

    obrigada a ter tambm em conta os pensamentos e a totalidade da psique se

    quiser compreender o comportamento. A psique unicamente um movimento

    inibido, e no s o que objetivamente se pode tocar e que qualquer um pode

    ver. O que se v s atravs do microscpio, do telescpio ou dos raios X

    tambm objetivo. O prprio Bjterev afirma que os resultados das

    investigaes levadas a cabo pela escola de Wurtzburgo no mbito do

    pensamento puro, nas esferas superiores da psique, coincidem em essncia

    com o que sabemos dos reflexos condicionados. M. B. Krol disse claramente

    que os novos fenmenos descobertos pelos investigadores de Wurtzburgo no

    campo do pensamento sem imagens e no-verbal no so outra coisa que os

    reflexos condicionados pavlovianos. E que o trabalho to minucioso que

    requerido precisamente para a anlise dos informes e testemunhos verbais dos

    sujeitos s para chegar a concluso de que o ato mesmo do pensamento

    escapa pela introspeco, que eoncontramos aqui, preparado, no tem lugar

    em informes ou, o que o mesmo, um reflexo puro!

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    Escusado ser dizer que o papel desses informa e interrogatrios

    verbais, e o valor que lhe so concedidos tanto pela investigao reflexolgica

    como pela psicolgica de carter cientfico, no coincidem integralmente com

    as atribuies que lhes davam os psiclogos subjetivistas. Como devem ser

    considerados pois pelos psiclogos objetivistas e qual seu papel e sua

    importncia em um sistema de experimentao rigorosa e cientificamente

    verificveis?

    Os reflexos no existem isoladamente, nem atuam de uma maneira

    dispersa, mas se estruturam em complexos, em sistemas, em complicados

    grupos e formaes que determinam o comportamento do homem. As leis que

    regem a estruturao dos reflexos em complexos, os tipos que adotam estasformaes, as variedades e formas de interao dentro deles e de interao

    entre a totalidade dos sistemas, todas elas so questes de primordial

    importncia dentro dos graves problemas com que se enfrenta a psicologia

    cientfica do comportamento. A doutrina dos reflexos s est em seus incios e

    todavia no investigou em todos os seus mbitos. Mas podemos falar da

    indubitvel interao entre sistemas isolados de reflexos, da influncia de uns

    sistemas em outros e inclusive aproximarmos de uma explicao dos traos,

    por enquanto gerais e brutos, que regem o mecanismo dessa influncia. O

    mecanismo seria este: em um reflexo qualquer, sua prpria parte reativa

    (movimento, secreo) se converte em excitante de um novo reflexo do mesmo

    sistema ou de outro sistema.

    Embora no se tenha podido encontrar esta formulao em nenhum

    reflexlogo, sua verdade to patente que sua ausncia s explicada porque

    todos a subentende e a aceita tacitamente. O co reage ao cido clordrico

    secretando saliva (reflexo), mas a prpria saliva constitui um novo excitante

    para o reflexo da deglutio ou para a expulsar para fora. Em uma associao

    livre, em resposta palavra rosa, que atua como excitante, pronuncio

    capuchina. Se trata de um reflexo, que por sua vez um excitante da palavra

    seguinte: rannculo. (Tudo isso ocorre dentro de um mesmo sistema ou de

    sistemas prximos, que colaboram). O uivo de um lobo provoca em mim, como

    excitante, reflexos somticos e mmicos de temor; a mudana na respirao, as

    palpitaes do corao, tremores, a garganta seca me fazem concluir: Eu

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    tenho medo. Portanto, um reflexo pode desempenhar um papel de excitante a

    respeito de outro reflexo do mesmo sistema ou de um sistema diferente e

    provocar tambm como excitante externo (de outros). E, nesse sentido, pode-

    se considerar que a prpria relao entre reflexos est submetida a todas as

    leis de formao dos reflexos condicionados. De acordo com uma lei dos

    reflexos condicionados, um reflexo entre em conexo com outro convertendo-

    se, em determinadas circunstncias, em seu excitante condicionado. Esta a

    primeira lei, evidente e fundamental, da relao entre os reflexos.

    Este mecanismo o que permite compreender os traos muito

    aproximados e gerais do valor (objetivo) que pode ter a investigao cientfica

    dos testemunhos verbais dos sujeitos em prova. Os reflexos no manifestados(fala silenciosa), os reflexos internos, inacessveis percepo direta do

    observador, muitas vezes podem se manifestar indiretamente, de forma

    mediada, atravs de reflexos acessveis observao a respeito dos quais

    desempenham o papel de excitantes, atravs da presena de reflexo completo

    (a palavra) estabelecemos o correspondente excitante, que neste caso

    desempenha um duplo papel: de excitante a respeito ao reflexo completo e de

    reflexo a respeito ao excitante anterior. Seria um suicdio para a cincia que,

    dado o enorme papel que desempenha precisamente a psique, isto , o grupo

    dos reflexos inibidos, na estrutura da conduta, renunciar a aceder a ela atravs

    de um caminho indireto: sua influncia em outros sistemas de reflexos.

    (Recordemos a doutrina de Bjterev sobre os reflexos internos, externo-

    internos, etc. E mais se levamos em conta que com frequncia dispomos de

    excitantes internos, que no esto vista; que permanecem ocultos nos

    processos somticos e que, sem embargo, podem ser desvelados atravs dos

    reflexos produzidos por eles. A lgica neste caso a mesma e idntica ao

    funcionamento dos pensamentos e sua manifestao material).

    Interpretado desse modo, o informe do sujeito no constitui de modo

    algum em ato de introspeco que vem a fechar sua gota de amargura em um

    barril de mel da investigao cientfica. No se trata de introspeco. Nem o

    sujeito adota de modo algum a posio do observador nem ajuda o

    experimentador a buscar reflexos ocultos. O exame se mantm at o final

    como objeto do experimento, mas tanto nele como no prprio informe se

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    introduz mediante perguntas algumas variaes, transformaes, se introduz

    um novo excitante, um novo reflexo que aporta elementos de juzo sobre as

    partes no esclarecidas das perguntas anteriores. Parece como se se

    sobmetivesse o experimento a um duplo objetivo. Mas tambm a prpria

    conscincia toma como conscincia nossos atos e estados devem ser

    interpretados como um sistema de mecanismos transmissores de uns reflexos

    a outros que funcionam corretamente, em cada momento consciente. Quanto

    maior seja o ajuste com que qualquer reflexo interno em qualidade de excitante

    provoque uma nova srie de reflexos procedentes de outros sistemas e se

    transmita a outros sistemas, mais capazes seremos de termos em conta em

    ns mesmos nossas sensaes, de comunic-las e viv-las (sentir, fixar numa

    palavra, etc.). Ter em conta significa transferir uns reflexos a outros. O

    inconsciente psiquicamente reside em uns reflexos no serem transmitidos a

    outros sistemas. Podem existirem graus de conscincia, ou seja, interaes

    entre sistemas dentro do mecanismo do reflexo que atua, de diversidade

    infinita. A conscincia das prprias sensaes no significa outra coisa que o

    fato que atuam como objeto (excitante) de outras sensaes. A conscincia a

    sensao das sensaes, assim como as sensaes simples so a sensao

    dos objetos. Mas precisamente a capacidade do reflexo (sensao do objeto)

    de ser um excitante (objeto de sensao) de um novo reflexo (nova sensao)

    converte-o a este mecanismo de conscincia de uma transmisso de reflexos

    de um sistema a outro.

    Isso equivale mais ou menos denominao que Bjterev faz com

    reflexos subordinados e no subordinados. Em particular, esta interpretao da

    conscincia est confirmada pelos resultados das investigaes da escola de

    Wurtzburg, que estabeleceu entre outras coisas a impossibilidade de observar

    o prprio ato de pensar (no se pode pensar o pensamento), porque escapa

    percepo; ou seja, no pode atuar como objeto de percepo (excitante) para

    si mesmo, porque se trata de fenmenos de ordem e natureza distintos dos

    tantos processos psquicos que podem ser observados e percebidos (da

    mesma maneira que podem atuar como excitantes para outros sistemas). E,

    em nossa opinio, o ato da conscincia no um reflexo, como tampouco pode

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    ser um excitante, mas um mecanismo de transmisso entre sistemas de

    reflexos.

    Com esta interpretao, que estabelece uma diferena metodolgica

    radical e de princpio entre o informe verbal do sujeito e a introspeco, mudaradicalmente, como bvio, a natureza cientfica do slogan como qualidade de

    sistema de excitantes condicionados, provocar previamente os reflexos de

    orientao necessrios que determinaram o curso ulterior da reao e dos

    reflexos de orientao dos mecanismos transmissores, precisamente daqueles

    mecanismos que se colocam em jogo no curso do experimento. Neste caso, o

    slogan que se dirige aos reflexos secundrios, reflexos de reflexos, no se

    diferenciam basicamente em nada dos reflexos primrios. No primeiro caso:basta dizer a palavra que pronunciou em seu interior. No segundo: tire a mo.

    Prossigamos. O mesmo interrogatrio no consiste em tirar da lngua do

    sujeitos suas vivncias. A questo radicalmente distinta em princpio. A

    pessoas submetida a prova no mais uma testemunha que diz ter

    testemunhado um crime (seu antigo papel), mas que o prprio criminoso, e, o

    que mais importante, no momento do crime. No se trata de um interrogatrio

    depois do experimento; uma parte orgnica, integrante, do mesmo, e no sediferencia em nada daquele, salvo na utilizao dos prprios dados no curso do

    experimento.

    O interrogatrio no uma superestrutura do experimento, mas o

    mesmo experimento que ainda no terminou e que prossegue. Da o

    interrogatrio se construir no como uma palestra, um discurso, como o

    interrogatrio de um fiscal, mas como um sistema de excitantes, em que se

    tenha levado em conta exata cada som e se escolham rigorosamente to saqueles sistemas de reflexos brilhantes, que no experimento podem ter

    certamente indubitvel valor cientfico e objetivo.

    Por isso porque todo sistema de modificaes (a surpresa, o mtodo

    gradual, etc.) do interrogatrio de grande importncia. Devem criar um

    sistema y uma metodologia de interrogatrio estritamente objetivos, como parte

    dos excitantes introduzidos no experimento. E evidente que a introspeco

    no organizada, o mesmo que a maioria dos testemunhos, no podem ter umobjetivo. Precisa-se saber o que perguntar. Quando os vocbulos, as

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    definies, os termos e os conceitos so vagos no podemos relacionar,

    atravs de um procedimento objetivamente confivel, o testemunho que o

    sujeito oferece do leve sentimento de dificuldade com o reflexo-excitante

    objetivo, provocado por este testemunho. Mas seu testemunho: perante a

    palavra trovo pensou em relmpago pode ter um valor completamente

    objetivo para o estabelecimento indireto do fato de que a palavra trovo

    reagiu com o reflexo no manifestado relmpago.

    Por conseguinte, necessria uma reforma na utilizao do

    interrogatrio e dos slogans e no controle dos testemunhos do sujeito. Eu

    sustento que possvel criar em cada caso individual uma metodologia objetiva

    que transforme o interrogatrio do sujeito em um experimento cientficorigorosamente exato.

    Aqui, gostaria de destacar dois aspectos: um, que limita o que disse

    anteriormente, e outro, que amplia seu valor.

    O sentido limitador destas afirmaes claro por si s: esta modificao

    do experimento aplicvel a uma pessoa adulta normal, capaz de

    compreender e falar nossa linguagem. Mas no a um recm-nascido, nem a

    um enfermo mental, nem a um criminoso que oculta algo, faremos uminterrogatrio. E no o faremos precisamente porque o emaranhamento de um

    sistema re reflexos (conscincia) e a tranmisso destes ao sistema verbal, ou

    no est bem desenvolvido neles ou est interrompido por doena, ou inibida e

    retida por outros complexos de reflexos mais potentes. Mas no caso de um

    adulto normal que consentiu voluntariamente em realizar a prova, o

    experimento insubstituvel.

    De fato, fcil distinguir no homem um grupo de reflexos, cuja

    denominao correta seria a de sistema de reflexos de contato social (A. B.

    Zalkind). Se trata de reflexos que reagem a excitantes que por sua vez so

    criados pelo homem. A palavra ouvida um excitante, a palavra pronunciada

    um reflexo que cria esse mesmo excitante. Estes reflexos reversveis, que

    originam uma base para a conscincia (emaranhamento de reflexos) servem

    de fundamento para a comunicao social e para a coordenao coletiva do

    comportamento, o que indica, entre outras coisas, a origem social daconscincia. De toda a massa de excitantes, destaca claramente para mim um

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    grupo: o dos estmulos sociais, que procedem das pessoas; e se destacam

    porque eu mesmo posso reproduzir esses excitantes, porque para mi se

    converte muito rpido em reversveis e, por conseguinte, em comparao com

    os restantes, determinam meu comportamento de forma distinta. Eles me

    fazem parecer, a mim mesmo, me identificam comigo mesmo. No sentido

    amplo da palavra, na fala onde reside a fonte do comportamento e da

    conscincia. A fala constitui, por um lado, um sistema de reflexos de contato

    social e, por outro, o sistema preferido dos reflexos da conscincia, ou seja,

    que servem para refletir a influncia de outros sistemas.

    Por isso reside a a raiz para a soluo do enigma do eu do outro, do

    conhecimento da psique dos outros. O mecanismo da conscincia do ummesmo (autoconhecimento) e do reconhecimento dos outros idntico, temos

    conscincia do ns mesmos, porque temos dos outros pelo mesmo

    mecanismo, porque ns somos com respeito a ns o mesmo que os outros

    com respeito a ns. Nos reconhecemos a ns mesmos s na medida em que

    somos outros para ns mesmos, isto , porquanto somos capazes de perceber

    de novo os reflexos prprios como excitantes. Entre o mecanismo que me

    permite repetir em voz alta a palavra pronunciada mentalmente e o de que

    possa repetir isso com outra palavra, no h basicamente diferena alguma:

    em ambos os casos se trata de um reflexo-excitante reversvel. Po isso, no

    contato social entre o experimentador e o sujeito onde esse contato se

    desenvolve com normalidade (uma pessoa adulta, etc.). O sistema de reflexos

    do sujeito oferece ao experimentador a autenticidade de um fato cientfico,

    sempre e quando se cumpram as condies de certeza, necessidade e

    globalidade que caracterizam um sistema de reflexos em estudo.

    O segundo aspecto, que amplifica o exposto anteriormente, pode ser

    expressado do seguinte modo. O interrogatrio do sujeito com o fim de estudar

    e controlar de um modo totalmente objetivo os reflexos no manifestados,

    uma parte necessria em qualquer investigao experimental de uma pessoa

    normal em estado de viglia. No falamos aqui do testemunho introspectivo de

    sensaes subjetivas, que Bjterev tinha direito em conceder um valor

    unicamente complementrio, colateral, auxiliar, mas de uma fase objetiva da

    experimentao, uma fase de verificao dos dados obtidos nas fases

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    anteriores, da qual quase nenhum experimento pode prescindir. Com efeito, a

    psique em geral desempenha nos organismos superiores e no homem um

    papel de complexidade reflexa crescente e o fato de no estudar isso significa

    renunciar a anlise (precisamente a uma anlise objetiva e no unilateral,

    subjetiva ao revs) do comportamento humano. No houve nenhum caso de

    provas realizadas com sujeitos normais em que o fator dos reflexos inibidos, da

    psique, no tenha determinado de uma forma ou de outra o comportamento do

    sujeito e tenha podido portanto ser eliminado do fenmeno em estudo ou no

    tido absolutamente em conta. No h nenhum ato do comportamento durante o

    experimento que, junto dos reflexos percebidos, no se escapem outros que

    no esto ao alcance da vista ou do ouvido. Isto , no h nenhum caso que

    possamos renunciar esta parte do experimento, apenas a ttulo de verificao.

    Se um sujeito diz que no compreendeu o slogan, no tomaria este

    reflexo verbal como a prova inequvoca de que seu excitante no provocou os

    reflexos de orientao que necessita? E se perguntar: compreendeu o

    slogan?, acaso essa precauo no implica recorrer palavra emitida em sua

    totalidade como reflexiva de reflexos, como prenhe de uma srie de reflexos

    inibidos? E quando uma reao tenha demorado muito, no leva em conta o

    experimentador uma declarao do sujeito desse tipo: Recordei um assunto

    desagradvel para mim? Etc. Na medida em que se trata de um mtodo

    imprescindvel, podemos encontrar milhares de casos eu que no se utiliza

    cientificamente. E acaso no seria til dirigir ao sujeito depois de uma reao

    demorada mais do que o normal ao levar em conta outras experincias para

    perguntar Estava pensando em outras coisas durante o experimento?, para

    obter a resposta: Sim, estava pensando todo o tempo se tenho estado bem em

    outras coisas. e no nesses lamentveis casos til e necessrio recorrer ao

    testemunho do sujeito. Para determinar os reflexos de orientao, para ter em

    conta os reflexos ocultos necessrios que causamos em ns mesmos para

    verificar que no tenha reflexos estranhos e para outros mil objetivos

    necessrio recorrer a uma metodologia de interrogatrio cientificamente

    elaborada, em lugar de se utilizar de palestra e conversas que inevitavelmente

    infiltram no experimento. Mas bvio que esta metodologia requer complexas

    modificaes para cada caso.

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    fundamento da atividade nervosa e a psicologia, a superestrutura. E como o

    simples, o elementar, compreensvel sem o complexo, ao mesmo tempo que

    impossvel analisar o ltimo sem o primeiro, da a nossa posio ser a

    melhor, pois o sucesso de nossas investigaes no depende em absoluto de

    outras. Creio que, pelo contrrio, nossas investigaes devem dar mais

    importncia para a psicologia, para constiturem posteriormente o principal

    fundamento da psicologia (Ibidem, p. 105). Qualquer filsofo corroborar que a

    reflexologia o princpio geral, o fundamento. Resta agora, enquanto estavam

    construindo a base, comum para os animais e o homem, quando se tratava do

    simples e do elementar, no era necessrio contar com o psquico. Mas isso

    era um fenmeno temporrio: quando os vinte anos de experincia da

    reflexologia passou a trinta, a situao vai variar. E eu parti da tese de que a

    crise da metodologia comea nos reflexlogos precisamente quando passam

    dos fundamentos; do elementar e do simples, para uma estrutura superior, para

    o complexo e sutil.

    Bjeterev (1923) se mostra todavia mais decidido, mais determinado ou,

    dito de outra maneira, adota uma postura mais inconsequente e

    intrinsecamente contraditria. Seria um grande erro pensar, reconhecer, que os

    processos subjetivos so por natureza fenmenos completamente suprfluos

    ou colaterais (epifenmenos), j que sabemos que nela tudo o que suprfluo

    se atrofia e se destri, enquanto que a nossa prpria experincia nos diz que

    os fenmenos alcanam o mximo desenvolvimento em processos mais

    complexos de atividade correlativa.

    possvel excluir o estudo daqueles fenmenos que alcanam seu

    mximo desenvolvimento nos processos mais complexos de atividade

    correlativa, numa cincia que precisamente faz dessa atividade correlativa o

    objeto do seu estudo? Mas Bjterev no deseja uma psicologia subjetiva, mas

    que a exima da reflexologia. Porque evidente para qualquer pessoa que aqui

    cabe adotar uma das seguintes alternativas: o bem explicar a totalidade da

    atividade correlativa sem a psique, um fato reconhecido por Bjterev, em cujo

    caso, esta ltima se converte em um fenmeno colateral, coisa que ele mesmo

    nega; ou essa bem explicao impossvel, em cujo caso se deve admitir a

    psicologia subjetiva, deslindando-a da cincia do comportamento, etc. Em lugar

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    de optar por uma ou outra alternativa, Bjterev fala da mtua relao de ambas

    as cincias, de sua possvel aproximao no futuro; mas como ainda no

    chegou esse momento, supe que por enquanto podemos manter no mbito de

    umas relaes mtuas estreitas entre ambas as disciplinas cientficas.

    Bjterev fala ainda da possvel e inevitvel construo no futuro de uma

    reflexologia que se ocupe especificamente do estudo dos fenmenos

    subjetivos. Mas se a psique inseparvel da atividade correlativa e alcana

    seu mximo desenvolvimento precisamente em suas formas superiores, como

    possvel estud-los em separado? Isso seria possvel se se reconhecesse

    que as duas faces do problema tm uma natureza e uma essncia

    diferenciadas, como tem sustentado insistentemente a psicologia. Mas Bjterevrejeita a teoria do paralelismo e a interao psicolgica e afirma precisamente a

    unidade dos processo psquicos e nervosos.

    Fala muitas vezes da correlao entre os fenmenos subjetivos (psique)

    e os objetivos, mantendo-se veladamente sempre no mbito do dualismo. Para

    este, a psicologia experimental no aceitvel precisamente porque recorre

    introspeco para estudar o mundo interior, a psique. Bjterev prope que sua

    investigao seja analisada sem levar em conta os processos da conscincia.No que se refere aos mtodos disse claramente que a reflexologia utiliza

    mtodos objetivos especficos. Por certo, a respeito dos mtodos vimos que a

    prpria reflexologia reconhece que coincidem plenamente com os da

    psicologia.

    Em resumo, duas cincias que tm o mesmo objeto de anlise: o

    comportamento do homem, que utilizam para tanto os mesmos mtodos,

    continuam, no obstante, apesar de tudo, sendo duas cincias distintas. O queas impede de fundir-se? Fenmenos subjetivos ou psquicos, repetem aos

    quatro cantos os reflexlogos. E em que consistem os fenmenos subjetivos: o

    psquico?

    Entre os possveis enfoque sobre esta questo, que decisiva, a

    reflexologia adota a posio do mais puro idealismo e dualismo, cuja

    denominao correta seria a de idealismo inversa. Para Pavlov se trata de

    fenmenos sem causa e que no ocupam lugar; para Bjterev carecem deexistncia objetiva alguma, j que s podem ser estudados dentro deles

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    mesmos. Mas, tanto Bjterev como Pavlov sabem que estes fenmenos regem

    nossa vida. No obstante, veem-nos, no psquico, algo distinto, que dever ser

    investigado independentemente, dos reflexos, como se dever ser investigados

    separadamente do psquico. Estamos, naturalmente, diante de um

    materialismo de puro-sangue: renunciar psique. Mas s um materialismo

    em um mbito: o seu. Fora dessa rea, atua como idealismo de puro-sangue,

    separando a psique e seu estudo do sistema geral de conduta do homem.

    A psique no existe fora do comportamento, assim como este no existe

    sem aquela, embora apenas seja porque se trata do mesmo. Na opinio de

    Bjterev, os estados subjetivos, os fenmenos psquicos, existem na tenso da

    corrente nervosa, no reflexo (anotem isto!) da concentrao, ligado retensoda corrente nervosa, quando se estabelecem novas ligaes. Que fenmenos

    to misteriosos so estes? No est claro aqui que tambm eles so reaes

    do organismo, mas refletidos por outros sistemas de reflexos, a linguagem, a

    emoo (reflexo mmico-somtico) e outros? O problema da conscincia dever

    ser levantado e resolvido pela psicologia na medida em que se trata de uma

    interao, um reflexo, uma autoexcitao, de diferentes sistemas de reflexos.

    consciente o que se transmite em qualidade de excitante a outros sistemas e

    produz neles uma resposta. A conscincia o aparato de resposta.

    por isso que os fenmenos subjetivos unicamente esto ao meu

    alcance, s eu os percebo como excitantes de meus prprios reflexos. Neste

    sentido tem muita razo W. James, que mostrou em uma brilhante anlise que

    nada nos obriga a admitir o fato da existncia da conscincia como algo

    independente do mundo, apesar de no negar nem nossas vivncias nem a

    conscincias destas. Toda a diferena entre a conscincia e o mundo entre o

    reflexo ao reflexo e o reflexo ao excitante reside s no contexto dos

    fenmenos. O mundo est no mbito dos excitantes; a conscincia, no de

    meus reflexos. Nesta janela um objeto (o excitante de meus reflexos); a

    mesma janela, com as mesmas qualidades, minha sensao (um reflexo

    transmitido a outros sistemas). A conscincia o reflexos dos reflexos.

    Ao afirmar que tambm a conscincia deve ser interpretada como uma

    reao do organismo a suas prprias reaes, se v obrigado a ser maisreflexlogo do que o prprio Pavlov. O que vai se fazer; se se quer ser

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    coerente, s vezes tem que estar contra a indeciso e ser mar papista que o

    papa e mais monrquico que o rei. Os reis no so sempre bons monrquicos.

    Quando a reflexologia exclui os fenmenos psquicos do crculo de suas

    investigaes como algo que no de sua competncia atua igual psicologiaidealista, que estuda a psique prescindindo de tudo o mais, como um mundo

    encerrado em si mesmo. Na verdade, raramente tem excludo a psicologia de

    seu mbito o aspecto objetivo dos processos psquicos e no s tem se

    fechado no crculo da vida interior, como se fosse uma ilha desabitada de

    esprito. Os estados subjetivos, isolados do espao e de suas causas, no

    existem por si mesmos. E, portanto, tampouco pode existir uma cincia os

    estude. Estudar o comportamento da pessoa sem a psique, como quer areflexologia, to impossvel como estudar a psique sem o comportamento.

    No possvel portanto sitiar essas duas cincias distintas. E no preciso ser

    muito perspicaz para dar-se conta de que a psique essa mesma atividade

    correlativa, que a conscincia uma atividade correlativa dentro do prprio

    organismo.

    O estado atual de ambos os ramos do saber sugere claramente que a

    integrao de ambas as cincias no s necessria como tambm frutfera. Apsicologia est vivendo uma sria crise no Ocidente e na URSS. Para James

    no mais um monte de matrias brutas. N. N. Langue compara a situao da

    psicologia com a de Pramo nas runas de Troia (1914, p. 42). tudo est

    derrubado, esse o resultado da crise e no s na Rssia. Mas tambm a

    reflexologia foi a um beco sem sada, depois de ter levantado os fundos. Uma

    cincia no pode prescindir da outra. necessrio e urgente elaborar uma

    metodologia cientfica comum, um levantamento comum dos problemas mais

    importantes que cada cincia em separado no pode fazer, no s levantar,

    como sequer resolver. E se no parece claro que possa construir a

    superestrutura salvo que se disponha de fundaes, tampouco os construtores

    disso, uma vez que tenham terminado, possam colocar uma s pedra sem

    comprovar as diretrizes e o tipo de edifcio que querem levantar.

    Temos de falar claro. Os enigmas da conscincia, da psique, no podem

    ser elucidados com subterfgios, nem metodolgicos nem tericos. No podedar um rodeio para deixar a conscincia de lado. James perguntou se a

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    conscincia existia e respondeu que a respirao sim, disso estava seguro,

    mas sobre a conscincia, a colocava em dvida. Mas esta abordagem da

    questo gnosiolgica. Psicologicamente a conscincia um fato indubitvel,

    uma realidade primordial e um fato, no secundrio, nem casual, de enorme

    importncia. Ningum o discute. Podemos adiar o problema, mas no elimin-

    lo por completo. Na nova psicologia as coisas no marcharam bem depende

    que nos elevemos audaz e claramente o problema da psique e da conscincia

    e basta que no o resolvamos experimentalmente apenas, mas seguindo um

    procedimento objetivo. Quando surguem os riscos conscientes dos reflexos,

    qual o seu significado biolgico, so perguntas que temos de levantar, e

    temos de nos preparar para resolv-las experimentalmente. O problema reside

    simplesmente em levantar corretamente a questo, e a soluo chegar mais

    cedo ou mais tarde. Em um arrebato energtico, Bjterev atinge o

    pampsiquismo, ao atribuir dimenso pessoal a plantas e animais; em outro

    lugar no se decide em rejeitar a hiptese da alma. A reflexologia no

    abandonar esse estado de primitiva ignorncia sobre a psique enquanto se

    manter afastado dela e continuar fechado no estreito crculo do materialismo

    fisiolgico. Ser materialista em fisiologia no difcil. Mas provar ser

    materialista na psicologia e, se no conseguir, continuar sendo idealista.

    Recentemente o problema da introspeco e de seu papel na

    investigao psicolgica tem se agudizado extraordinariamente sob a influncia

    de dois fatores:

    Por um lado, a psicologia objetiva que, antes aparentemente tenha em

    um primeiro momento rejeitado o plano da introspeco, considerando-a um

    mtodo subjetivo, ultimamente aventura algumas tentativas para encontrar um

    valor objetivo no que de denomina de introspeco. J. Watson, a Weiss e

    outros tm comeado a falar de uma conduta verbal e re lacionam a

    introspeco com o funcionamento deste aspecto verbal de nosso

    comportamento; outros falam de conduta interna, de conduta verbal

    manifesta, etc.

    Por outro lado, a nova tendncia da psicologia alem, a denominada

    psicologia da gestalt (W. Khler, K. Koffika, M. Wertheimer e outros), quealcanou nos ltimos trs, quatros anos enorme importncia, tem intervido com

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    processos conscientes so unicamente processos parciais de grandes

    configuraes; por isso, e continuando com sua posio, aps a parte

    consciente de um processo maior ou seja, a configurao aps os limites

    de sua conscincia, submetemos nossas teses para a comprovao funcional

    com fatos objetivos. Os psiclogos que reconhecem que a introspeco no

    constitui o mtodo fundamental, principal, da psicologia, se limitam a falar s

    daquela introspeo real, autntica, ou seja, comprovada atravs de

    consequncias extradas funcionalmente dela e confirmada por fatos.

    Vemos, por conseguinte, que se, por um lado, a reflexologia russa e o

    behaviorismo norte-americano tentam encontrar uma introspeco objetiva,

    os melhores representantes da psicologia emprica buscam tambm umaintrospeco real, fidedigna.

    Para responder a pergunta de em que consistiria tal coisa pelo que h

    de intentar sistematizar todas as formas de introspeco e estudar cada uma

    delas em separado.

    Podemos distinguir cinco formas principais.

    1. A instruo pessoa submetida a prova. Isso , naturalmente, em

    parte uma introspeco, j que pressupe a organizao

    consciente, interna, do comportamento dessa pessoa. Quem

    intente evit-la nos experimentos com sujeitos humanos cometer

    um erro, porque substituir as consignas manifestas, e que

    portanto se tinha em conta, pela instruo da pessoa em questo,

    pela consigna inculcada pelas circunstncias do experimento, etc.

    duvidoso que atualmente tenha algum que negue a

    necessidade da consigna.

    2. Manifestaes da pessoa submetida a prova, relativas ao objeto

    externo. Por exemplo, quando se mostram os crculos: este

    azul, aquele, branco. Este tipo de introspeco, que se comprova

    sobre o todo recorrendo mudana funcional de toda uma srie

    de excitantes e declaraes (no um crculo azul, mas uma

    srie de crculos que escurecem paulatinamente), tambm pode

    resultar fidedigna.

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    3. As declaraes da pessoa submetida a prova sobre suas prprias

    reaes internas: Di-me, sinto-me bem, etc. uma forma

    menos fidedigna de introspeco, ainda que resulta aceitvel

    comprovao objetivo e pode ser admitida.

    4. A descoberta de uma reao oculta, a pessoa submetida a prova

    diz um nmero que lhe ocorreu; conta como est colocada a

    lngua dentro de sua boca; repete uma palavra que tem pensado,

    etc. Esta a variedade de descoberta indireta da reao, que

    defendemos no presente artigo.

    5. Finalmente, a descrio detalhada por parte da pessoa submetida

    prova de seus estados internos (metodologia de Wurtzburgo).Constitui a variedade de introspeco menos fidedigna e mais

    inacessvel para comprovao. Aqui, a pessoa submetida prova

    coloca-se na situao de observador auxiliar; o observador

    (observer, como dizem os psiclogos ingleses) passa a ser neste

    caso o sujeito e no o objeto do experimento; o experimentador

    limita-se ao papel de indagador e protocolista. Aqui, em lugar de

    fatos, oferecem-se teorias preparadas.Tenho a impresso de que o problema do valor cientfico que cabe

    atribuir introspeco tem de se resolver de forma anloga a como resolvemos

    a do valor prtico dos testemunhos da vtima e do culpado na instruo de um

    sumrio. So parciais, isso o sabemos a priori e por isso encerram elementos

    de falsidade; inclusive pode ocorrer que sejam totalmente falsos. Por isso,

    absurdo se fiar deles. Mas isso significa que no devemos os escutar em geral

    durante o processo e prescindamos de interrogar s testemunhas. Issotampouco seria inteligente. Escutamos ao processado e vtima, verificamos,

    confrontamos, recorremos a provas materiais, a documentos, impresses,

    depoimentos de testemunhas, aqui tambm h testemunhos falsos, e desse

    modo estabelecemos o fato.

    No h que esquecer que existem muitas cincias que no podem

    estudar o assunto recorrendo observao direta. Os historiadores e os

    gelogos restabelecem fatos que j no existem, atravs de mtodos indiretose, no entanto, estudam, em fim de contas, fatos que existiram e no

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    impresses e documentos que tm ficado e se conservaram. O psiclogo

    encontra-se com frequncia na mesma situao que o historiador e o

    arquelogo e atua ento como o detetive que pesquisa um crime que no

    presenciou.