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ARTIGOS 60 ISSN 2238-0205 Geograficidade | v.5, n.1, Verão 2015 OS LUGARES DA MEMÓRIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: IMAGENS POÉTICAS DE BELO HORIZONTE (MG) The places of Carlos Drummond de Andrade’s memory: poetic images of Belo Horizonte (Minas Gerais) Flora Sousa Pidner 1 Lucas Zenha Antonino 2 Maria Auxiliadora da Silva 3 1 Mestre em Geografia (UFMG), Integrante do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço Urbano (PEU/UFBA), Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia pela Universida- de Federal da Bahia (UFBA). fl[email protected]. Instituto de Geociências, UFBA, sala 305b, Rua Barão de Geremoabo, s/n, Campus Ondina, Ondina, Salvador, BA. 40170-115. 2 Mestre em Geografia (PUC-MG), Integrante do Grupo de Pesquisa Geografar (UFBA). [email protected]. Instituto de Geociências, UFBA, sala 305b, Rua Barão de Geremoabo, s/n, Campus Ondina, Ondina, Salvador, BA. 40170-115. 3 Doutora em Geografia pelo Université de Strasbourg, França, Coordenadora do Grupo de Pesquisa Produção do Espaço Urbano (PEU/UFBA), Professora do Programa de Pós-Gradu- ação em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). [email protected]. Instituto de Geociências, UFBA, sala 305b, Rua Barão de Geremoabo, s/n, Campus Ondina, Ondina, Salvador, BA. 40170-115. Resumo O texto promove o diálogo entre a Geografia e a Literatura, abordando o espaço na arte poética. Os poemas escolhidos foram “O fim das coisas e Triste horizonte”, de Carlos Drummond de Andrade, que representam lugares de Belo Horizonte para a memória do poeta. O lugar é pensando como uma categoria que se refere a uma dimensão espacial em que há a produção de identidades, de pertencimento e de afetividade, ao mesmo tempo em que é onde se desenrola o cotidiano. O autor revela seu sofrimento diante das transformações pelas quais a cidade passou, contrapondo-se a elas, sobretudo por considerar que as suas identidades espaciais morreram diante da metropolização. A morte das coisas, tal como anunciada pelo poeta, está inserida nos processos sociais e históricos que transformam as cidades, os cotidianos, os lugares e, assim, a vida. Os lugares da memória do poeta ficaram representados através desses poemas. Palavras-chave: Geografia. Literatura. Poesia. Abstract The paper promotes a dialogue between Geography and Literature, which addresses the space through the poetic art. The poems selected “O Fim das Coisas” (“The End of the Things”) and “Tristes Horizontes” (“Blues Horizons”) by Carlos Drummond de Andrade. These texts represent places in Belo Horizonte (Minas Gerais) to the memory of the poet. The place is identified as a category that refers to a spatial dimension in which occurs the productions of identities, of belonging and of affectivity. At the same time, the place is where the everyday life is developed. In these poems the authors reveals his suffering in front of the transformation by which the city of Belo Horizonte passed; he puts himself radically against these changes, especially, because he consider that the city’s spatial identities died during the process of metropolization. The death of things, as announced by the poet, is embedded in the social and historical process and movements that transformed the cities, the everyday life, the places, and therefore, the life. The places of memories of the poet remained represented through the poems. Keywords: Geography. Literature. Poetry.

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Os lugares da memória de Carlos Drummond de Andrade: imagens poéticas de Belo Horizonte (MG)Flora Souza Pidner, Lucas Zenha Antonino, Maria Auxiliadora da Silva

Geograficidade | v.5, n.1, Verão 2015

OS LUGARES DA MEMÓRIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: IMAGENS POÉTICAS DE BELO HORIZONTE (MG)The places of Carlos Drummond de Andrade’s memory: poetic images of Belo Horizonte (Minas Gerais)

Flora Sousa Pidner1 Lucas Zenha Antonino2 Maria Auxiliadora da Silva3

1 MestreemGeografia(UFMG),IntegrantedoGrupodePesquisaProduçãodoEspaçoUrbano(PEU/UFBA),DoutorandadoProgramadePós-graduaçãoemGeografiapelaUniversida-deFederaldaBahia(UFBA)[email protected].

InstitutodeGeociências,UFBA,sala305b,RuaBarãodeGeremoabo,s/n,CampusOndina,Ondina,Salvador,BA.40170-115.2 MestreemGeografia(PUC-MG),IntegrantedoGrupodePesquisaGeografar(UFBA)[email protected]. InstitutodeGeociências,UFBA,sala305b,RuaBarãodeGeremoabo,s/n,CampusOndina,Ondina,Salvador,BA.40170-115.3 DoutoraemGeografiapeloUniversitédeStrasbourg,França,CoordenadoradoGrupodePesquisaProduçãodoEspaçoUrbano(PEU/UFBA),ProfessoradoProgramadePós-Gradu-açãoemGeografiapelaUniversidadeFederaldaBahia(UFBA)[email protected].

InstitutodeGeociências,UFBA,sala305b,RuaBarãodeGeremoabo,s/n,CampusOndina,Ondina,Salvador,BA.40170-115.

Resumo

OtextopromoveodiálogoentreaGeografiaeaLiteratura,abordandoo espaço na arte poética.Os poemas escolhidos foram “O fim dascoisas e Triste horizonte”, de Carlos Drummond de Andrade, querepresentamlugaresdeBeloHorizonteparaamemóriadopoeta.O lugarépensandocomoumacategoriaqueserefereaumadimensãoespacialemqueháaproduçãodeidentidades,depertencimentoedeafetividade,aomesmotempoemqueéondesedesenrolaocotidiano.Oautorrevelaseusofrimentodiantedastransformaçõespelasquaisacidadepassou,contrapondo-seaelas,sobretudoporconsiderarqueas suas identidades espaciais morreram diante da metropolização.Amorte das coisas, tal como anunciada pelo poeta, está inseridanos processos sociais e históricos que transformam as cidades, oscotidianos, os lugares e, assim, a vida.Os lugares da memória dopoetaficaramrepresentadosatravésdessespoemas.

Palavras-chave:Geografia.Literatura.Poesia.

Abstract

ThepaperpromotesadialoguebetweenGeographyandLiterature,whichaddressesthespacethroughthepoeticart.Thepoemsselected“OFimdasCoisas”(“TheEndoftheThings”)and“TristesHorizontes”(“Blues Horizons”) by Carlos Drummond de Andrade. These textsrepresentplaces inBeloHorizonte (MinasGerais) to thememoryofthepoet.Theplaceisidentifiedasacategorythatreferstoaspatialdimensioninwhichoccurstheproductionsofidentities,ofbelongingandofaffectivity.Atthesametime,theplaceiswheretheeverydaylife isdeveloped. Inthesepoemstheauthorsrevealshissuffering infrontofthetransformationbywhichthecityofBeloHorizontepassed;heputs himself radically against these changes, especially, becausehe consider that the city’s spatial identities diedduring theprocessofmetropolization.Thedeath of things, asannouncedbythepoet,isembeddedinthesocialandhistoricalprocessandmovementsthattransformed the cities, the everyday life, the places, and therefore,the life.Theplaces of memories of thepoet remained representedthroughthepoems.

Keywords:Geography.Literature.Poetry.

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Introdução

A“[...]vidanacidadeéefervescente.Nãohácomorepresentá-ladeumaúnicaforma,diantedeinfinitaspossibilidadesderepresentação”(HISSA;MELO,2008,p.294).Éapartirdessaideia,ampliando-aparaatotalidadedoespaço,quesebuscaempreenderestudosnaGeografiaapartirdediferentesformasderepresentaçãodoespaço,paraalémdaCartografia.“Nãosedeveesquecerqueéasociedadequeproduz,consome e ressignifica o espaço, e aGeografia, uma das possíveisleiturasdoespaço,éumapráticaquetambémpodesefazeratravésdodiscursoliterário”(PINHEIRO;SILVA,2004,p.25).ALiteraturatorna-se, então, uma rica fonte de expressões espaciais, por ser pensadainerentementearticuladaaoespaço,àgeografiadoslugaresqueestãonossujeitose,portanto,nosartistas,nosespectadoresenosleitores.Délio Pinheiro e Maria Auxiliadora da Silva (2004, p. 22) tambémsublinhamque “na história, os dois fenômenos – escrita e cidade –ocorremquasesimultaneamente”.Aintençãoéleraescritadacidadee a escrita textual sobre a cidade aomesmo tempo. Dessa forma,tambémépossívelafirmarque“artistassemprecriaramgeografias,seentendemosqueaproduçãoculturalétambémumapráticaespacial”(MARQUEZ,2009,p.24).É nessa perspectiva que o diálogo entre Geografia e arte tem

crescido nos últimos anos. Literatura, artes plásticas, música,fotografiae cinema têmsidoabordadosnoâmbitodaGeografia.Aideiaé“[...]articularashistóriasdasartescomasgeografiasdasartes”(SOULAGES,2010,p.67).Nessaperspectiva,aarteea ciência têmpotenciaisparaaproximar,paraexpandirouniversodossujeitos,parageraração.Alémdisso,quandose“[...]entendeamanifestaçãoartísticacomo

potênciacriadorademundos,constituindo realidade,deum lado,e

revelandopartedaessênciadomundo,deoutro”(MARANDOLAJR.,2010,p.22),caminha-separaumdiálogofrutíferoentreGeografiaeLiteratura,sendoostextospoéticosumaformaderepresentaçãoqueenriquecemoconhecimentogeográfico.Ditoaindadeoutra forma,“aexperiênciapoética supõeasexperiênciashumanascrucialmentebásicas, vividas ou intuídas, delicadas e violentas, singulares euniversais”(WISNIK,2005,p.33).Taisrelaçõesexistenciaishumanassão chamadas, por Dardel (2011, p. 31), de geograficidade, quesignificaamaneirade sereestarnomundoeque tem“[...] aTerracomolugar,baseemeiodesuarealização”.A articulação teórico-metodológica entre Geografia e Literatura

pode ser tecida de diferentes maneiras. A proposta deste texto éproduzirumintercâmbioentreessessaberesapartirdeoutrodiálogo,entre dialética e fenomenologia. Concorda-se com Ângelo Serpa(2013, p. 169) quando este autor afirma que “a fenomenologia nãoexclui a contradição da dialética, justamente porque busca rompercomafamiliaridadecomomundoparaapreendê-loerevelá-locomoparadoxo”. Milton Santos (2002), anteriormente, também elabora,coerentemente,abordagensdialéticasefenomenológicas,sobretudoem sua obra “A natureza do espaço”, cujo subtítulo expressa essacomposição:técnica e tempo, razão e emoção.Noseiodeumadastriplicidadesdialéticas–espaçoconcebido,espaçopercebidoeespaçovivido – construída por Henri Lefebvre (2000), há uma importanteinfluência fenomenológica, sobretudo por parte de Merleau-Ponty,paraaelaboraçãodeconceitodeespaço vivido(SERPA,2013).GastonBachelard (1998) falaem dialéticaparase referiraosconceitosquetrabalhaempares,taiscomovisíveleinvisível,interioreexterior,casaeuniverso,etc.Essessãoalgunsautoresquerevelamaricapossibilidadedearticulaçãoentreessesmétodos.

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A categoria de análise geográfica eleita para a elaboraçãodessas articulações aqui propostas é o lugar, palavra-conceito quepermite uma abordagem teórico-metodológica ao mesmo tempofenomenológicaedialética (SERPA,2013).NoâmbitodaGeografia,o lugar é uma categoria de análise que dá sustentação ao estudodoespaço,oobjetodeestudodessaciência.Emoutraspalavras,ascategoriasgeográficassão,dealgumamaneira,desdobramentosdoobjetodeestudo(HISSA,2001).É interessantedestacarquea literatura também fazmovimentos

paraestabelecimentosdediálogos.Calvino(1990b,p.84)expressouumdosprocedimentosqueseguiaparaproduzirseustextosliterários:“[...] numdesses livros científicos emque costumometer o nariz àprocuradeestímulosparaaimaginação”.Oautorcontinuaressaltandoseu aprendizado com a ciência para construir imagens literárias.A literatura também não se enclausura.O próprio escritor italianoreafirmaque“[...]ograndedesafioparaaliteraturaéodesabertecerem conjunto os diversos saberes e os diversos códigos numa visãopluralísticaemultifacetadadomundo”(CALVINO,1990b,p.127).Nestetexto,ospoemasdeCarlosDrummonddeAndrade,“Ofim

dascoisas”4e“TristeHorizonte”5,foramescolhidosparaarealizaçãodeumdiálogoentreGeografiaeLiteratura,poisrepresentamlugares da memóriadopoetae,assim,revelamasuarelaçãocomoespaçoda cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais.Drummond nasceu em Itabira, interior de Minas Gerais, em 1902.ViveumuitosanosemBeloHorizonte,maspassougrandepartedesuavidanoRiodeJaneiro,paraondesemudouem1934etambém

4 Essepoemafoipublicado,pelaprimeiravez,nolivro“Algumapoesia”,em1930,sendoolivrodeestreiadoautor,numapequenatiragemnãocomercialdeapenasquinhentosexemplares.

5 EssepoemafoiescritoporDrummondnadécadade1970efoipublicadonolivro“Dis-cursodeprimaveraealgumassombras”.

ondefaleceu,em1987.ParaWisnik(2005),Drummondéopoetaquemaisutilizaeexploraapalavramundoeseussignificadospossíveis.“Váriasdimensõesdemundosimpõem-seaí,desdelogo.Aprimeiraéametrópole,istoé,acidade-mundomoderna,emqueadimensãoda pessoa é ao mesmo tempo potencializada e ultrapassada pelaonipresença dos meios técnicos e pela mercantilização” (WISNIK,2005, p. 25). É a Belo Horizonte em processo demetropolização olugardosdoispoemasaquiexplorados.

O fim das coisas

Eisoprimeiropoema:

O fim das coisas

FechadooCinemaOdeon,naRuadaBahia.Fechadoparasempre.Nãoépossível,minhamocidadefechacomeleumpouco.Nãoamadureciaindabastanteparaaceitaramortedascoisasqueminhascoisassão,sendodeoutrem,eatéaplaudi-la,quandoforocaso.(Amadurecereiumdia?)Nãoaceito,porenquanto,oCinemaGlória,maior,maisamericano,maisisso-e-aquilo.QueroéoderrotadoCinemaOdeon,omiúdo,fora-de-modaCinemaOdeon.Aesperanasaladeespera.AmatinêcomBuckJones,tombos,tiros,tramas.Aprimeirasessãoeasegundasessãodanoite.Adivinaorquestra,mesmonãodivina,costumeira.OjornaldaFox.WilliamS.Hart.Asmeninas-de-famílianaplateia.Aimpossível(sonhada)bolinação,pobresátiroempotencial.Exijoemnomedaleiouforadalei

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quesereabramasportasevolteopassadomusical,waldemarpissilândico,sublimeagoraqueparasempresubmergeemfuneraldesombrasnesteprimeirolutulentodejaneirode1928.

(ANDRADE,2013,p,109)

AspalavrasdeDrummondnopoema“Ofimdascoisas”endereçamo leitor às ideias de identidade e de pertencimento construídos narelaçãoentreosujeitoeoespaço.Essas ideiasestãopresentes,porexemplo, no pronome possessivo minhas. O autor se apropria doCinemaOdeon – uma dessas coisas –, sabendo que ele não é seu,sobas referênciasdapropriedadeprivada.Entretanto, tal cinemaéseu, soboutras referências–nãomercantis–pensadasapartirdossentimentosdeidentidadeedaconstituiçãodeumaafetividadeentreosujeito(poeta)eoespaço(cinema).Se,nessaperspectiva,oespaçoédosujeito–oCinemaOdeonédeDrummond–osujeitotambémédoespaço–opoetatambémédoCinema.Afinal,oquesãooslugares,senãonósmesmos?Aomesmotempoemqueoslugaressãoprodutoshumanos, esse espaço da vivência cotidiana também é fonte paraassignificaçõesqueossujeitosproduzemacercadesimesmosedomundo.Drummondrevela,emseupoema,qualidadesdesipróprio,quese

constituemapartirepormeiodasuavivênciaespacial.Essarelaçãoentre sujeito e espaço, construída ao longo da história de vida dosujeito,tambémsefundamentanasintersubjetividades6,poisosujeitoésempreindividualecoletivo,simultaneamente.Osujeitoincorpora

6 Intersubjetividadeéumconceitocentralnafenomenologia,desdeainauguraçãodes-temétodocomHusserl(2000),passandoporMerleau-Ponty(2006)eporSartre(2005).Afenomenologiaéumafilosofiaradicalmentehumanista,queconsideraooutroeaconstruçãodossujeitosépensadaintersubjetivamente.Ouniversalnafenomenologiaéodiálogoentreossujeitos.

ao seu seros lugaresdevivência, tal comooCinemaOdeonparaopoeta,atravésdoverboconviver,quetambémincluiasrelaçõescomoutrossujeitos.Olugarédefinidopelapresençadocorpodoshomensnoespaço.

Merleau-Ponty(2006)éumfenomenólogoqueexploraosatributosdocorpoesuapercepçãodoespaço-tempo.AnaFaniCarlos(1996,p.20)éinfluenciadaporsuasideiasesublinhaesseencontro:“Éatravésdeseucorpo,deseussentidosqueele[osujeito]constróieseapropriadoespaçoedomundo.Olugaréaporçãodoespaçoapropriávelparaa vida – apropriada através do corpo, dos sentidos, dos passos deseusmoradores–éobairro,éapraça,éa rua”.Ocorpodoespaçointegra-se às experiências do corpo do sujeito e cria a dimensão

subjetivaquecompõeamemória:“Ocorpoé[...]umamemóriasábia

queregistraossinaisdoreconhecimento:elemanifesta[...]umsaber-

fazerquesinalizaaapropriaçãodoespaço”(MAYOL,2008,p.55).Essa

apropriaçãodoespaçoéomovimentodeinterligaçãoentreahistória

individualdosujeitoeahistóriacoletiva.No“[...]corpo[...]secoloca

a possibilidade de transbordamento, de desfiguração das fronteiras

entre o individual e o social” (DIÓGENES, 2003, p. 189). Augustin

Berque (1998,p.87) tambémdácentralidadeao corponoprocesso

de percepção da paisagem, dialogando comMerleau-Ponty (2006):

“[...] não é somente a visão, mas todos os sentidos, não somente

a percepção, mas todos os modos de relação do indivíduo com o

mundo”.Éumcorpoposicionado,quetemfunçãoe,que,portanto,

nãoéneutro.

Apartirdastransformaçõessocioespaciaisdoslugares,emespecial

os lugares das cidades metropolitanas, como é o caso de BeloHorizonte,quesepropõeapensarasnoçõesreferentesao lugardamemória.“OcinemaOdeoninauguradoem1906,aindacomoteatro

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Paris,naregiãocentraldeBeloHorizonte,assimcomomuitasoutrassalas de cinema da cidade, hoje se restringe à memória” (SENRA,2009,p.1).MiltonSantos (2002,p. 102)afirmaque: “a cadaevento,a forma

serecria.Assim,aforma-conteúdonãopodeserconsideradaapenascomo forma, nem apenas como conteúdo”. O lugar contém umahistória acumulada, tambémexpressana suapaisagem,que é umadasfontesparaasuaespecificidade.Afrustraçãodopoeta,expressaem seus escritos, é a perda dessa forma-conteúdo passada, quepreenchia o seu lugar Belo Horizonte de significado. Ele nãomaispoderáfrequentaroCinemaOdeon,comonasuamocidade.Eleagoraéumelementodasuamemóriaenãomaisdoespaçodacidade.OCinemaOdeoneraumfragmentodacidadedeBeloHorizonte.A

cidadetambémestavaali,nessecinema,nessefragmentodoespaçoem que ricas vivências e encontros se realizavam. Entretanto, oenredodacidadesemodificoue,assimcomooscotidianos,oslugaresda cidade vivem novas funções, novos hábitos, novas articulaçõesespaciaiseaprópriacidadeganhaatribuiçõesmetropolitanasquesesobrepõemaesseseupassado.Seoslugaressão“[...]umaporçãodoespaçoemqueoshomenssereconhecem.Reconhecemasuahistória,oseuambiente,oseuuniversoderelações,experiências,lembranças,desejos,conflitos,vivências”(MELO,2006,p.65-66),opoetaosperdeemBeloHorizonte,transformando-aemumacidadeemruínasparasi,pois“acidade,comoestadodearte,ésubstituídapeloideáriodafuncionalidade,ouseja,maisracionalidadeemenosemoção”(NUNES,2007,p.32).

Triste Horizonte

Nopoema“Tristehorizonte”,ogritodeangústiaedefrustraçãodeDrummonddiantedesuasperdasespaciaissãoaindamaioresemais

incisivasdoquenopoema“Ofimdascoisas”.Estepoemafoiescritoposteriormentee,assim,osprocessosreveladospeloprimeiropoemaestavam em pleno movimento de acentuação. Um poema crítico,contundentee,aomesmotemponostálgico,emqueele,maisumavez,valorizaosseuslugares da memória.“Tristehorizonte”éumpoemalongoquerevelacomooautorsechocacomastransformaçõesquetomamBeloHorizontecomoemumassalto.Atrajetóriaédacidadeprovinciana àmetrópole, em que o fechamento doCinemaOdeone a abertura doCinemaGlória, “maior, mais americano,mais isso-e-aquilo” eram apenas uma expressão dessasmudanças, vistas pormuitoscomooprogressodacidade.ParaJoséMiguelWisnik (2005,p.40),“BeloHorizonte[está]numlugardefronteiraentreaprovíncia,aprovínciadaprovíncia,acapitaldacapitaleascapitaisdascapitais”paraopoeta.Eisoprimeirotrechodotextopoético:

Triste Horizonte

PorquenãovaisaBeloHorizonte?asaudadeciciaecontinua,[branda:Voltalá.

Tudoébeloecantantenacoleçãodeperfumesdasavenidasquelevamaoamor,nosespelhosdeluzepenumbraondese[projetamospurosjogosdeviver.Anda!Voltalá,voltajá.

Eeurespondo,carrancudo:Não.Nãovoltareiparaveroquenãomereceservisto,oquemerece[seresquecido,serevogadonãopodeser.

Nãoopassadocor-de-coresfantásticas,BeloHorizontesorrindo[púberenúbilsensualsemmalícia,lugardelerosclássicose[amarasartesnovas,lugarmuitoespecialpelagraçadoclima[epelogosto,quenãotempreço,defalarmaldoGovernono[lendárioBardoPonto.

Cidadeabertaaosestudantesdomundointeiro,inclusive[Alagoas,“maravilhademilharesdebrilhosvidrilhos”[mariodeandradementecelebrada.

Não,Mário,BeloHorizontenãoeraumatolicecomoasoutras.Eraumaprovincianasaudável,decarneslevespesseguíneas.Era[umremanso,eraumremansoparafugiràspartesagitadas

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[doBrasil,sorrindodoRiodeJaneiroedeSãoPaulo:tão[prafrentex,asduas!enóslá:macio-amesendadosnacalmae[naverdebrisairônica...

Esquecer,queroesqueceréabrutalBeloHorizontequese[empavonasobreocorpocrucificadodaprimeira.

(ANDRADE,1978,p.21-22)

NodiálogoqueDrummondestabelece,poeticamente,comMáriode Andrade, ele revela que um novo encontro com a cidade seriadesconcertante.Opresenteeopassadoseencontrariamdentrodele,secontrastariameoangustiaria.Olugarquesefazpresenteapenasnamemória é fontede inquietaçãopara ele, que sente como se astransformaçõesdacidadetivessemdesrespeitandoasuamocidade,mais do que isso, como se tivessem subtraindoda sua constituiçãoenquantosujeitoarelaçãoespacialqueconstruiunamocidade.ABeloHorizonte-metrópolequeDrummondnega,nãoéparaseraplaudida,poiselasefez“sobreocorpocrucificadodaprimeira”,daprovinciana,daquelaqueéamadaporele,mesmoqueapenasnamemória.O cotidiano cada vez mais acelerado, mais agitado também o

incomoda, já que essa intensificação dos ritmos cotidianos estáimbricadanaconstituiçãodanovaBeloHorizonte,éumacaracterísticada cidade metropolitana. É acompanhado pela aceleração datransformaçãodapaisagem,poisacidadeseexpandiueseverticalizoubastante,sobretudoapartirdadécadade1940.Osistemaviáriofoiampliado,novosloteamentosforamabertoseomercadoimobiliáriose consolidou, dando centralidade à renda da terra para se pensarnasmoradiasenosacessosaosespaçosdacidade.“Comoresultadodo processo em movimento, Belo Horizonte nas décadas de 1960e1970ganhaocorpoeos conteúdosdeumaautênticametrópole”(SENRA,2009,p.6).Essastransformaçõesespaciais–quenãopodemser compreendidas apenas na escala local, pois atravessaram e

atravessamascidadesemtodoomundo,cadaumaàsuamaneira–atingemolazer,oentretenimentoeotempodestinadoaodescanso,quetambémsetornaprodutivoeprogramado.

Nocentro,designadoaquiealhures,encontra-seoprocessodere-produçãodasrelaçõesdeprodução,processoquesedesenrolasobosolhosdecadaum,queserealizaacadaatividadesocial,inclusiveaquelasaparentementemais indiferentes (os lazeres,a vida cotidiana,ohabitar eohábitat, autilizaçãodoespaço)(LEFEBVRE,2008,p.21).

Uma indústria do lazer se consolida. “Concomitante, observa-se tambéma redução dos espaços de sociabilidade aos espaços deconsumo.Oqueacabaporcondicionaraacessibilidadeàculturaeaolazer aopoder econômico, forjandonichosde reunião entre iguais”(SENRA,2009,p.6)7.Nacontinuidadedopoema,oautorutilizaasreferênciascatólicas

queforamesãoapropriadasenquantotoponímiasdasruasedosbairrosdacidade.Asreferênciasreligiosasseimprimemnoespaço,atravésdasignificaçãoqueossujeitosencaminhamparaele.Opoetainterpelaossantoseamãodivina,questionando-os:“Terãoendoidecido?”.Essainquietaçãorevelaumatensãonasuareligiosidadeeopoetasesenteabandonado.ParaDrummond,ossantosseesqueceramdeprotegera cidade dessas transformações que ele considera avassaladoras equedestroemoseulugar,relegando-oàmemória.Opoetapontuaoselementosqueservemà reproduçãoampliadadocapitalque foramintroduzidos no espaço da cidade, tornando-a cidade-mercadoria ecomoissooincomoda.Taisprocessossãoinerentesàmetropolização:

7 Osshoppings centerseatransferênciadamaiorpartedassalasdecinemaparaessescentrosentramnessecontextodemetropolizaçãodeBeloHorizonteapartirdadécadade1980,apósaescritadospoemase,porisso,elesnãoserãotrabalhadosnestetexto.

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Quero não saber da traição de seus santos. Eles a protegiam,agora protegem-se a simesmos. São José, no centromesmoda cidade, explora estacionamento de automóveis. São Josédendroclastanãodeixadepésequerumpé-de-pauondeamarraroburrinhonumaparadanocaminhodoEgito.SãoJosévaientrarfeionocomérciodeimóveis,vendendoseusjardinsreservadosa Deus. São Pedro instala supermercado. Nossa Senhora dasDores, amizade da gente na Floresta, (vi crescer sua igreja àsombradoPadreArtur) abre cadernetadepoupança, lojasdeacessóriosparacarros,papelaria,aviário,pães-de-queijo.TerãoendoidecidoessesmeussantoseadoloridamãedeDeus?Ou foiemnomedelesquepastoresdeixamdepastorearparafaturar?NãoescutemavozdeJeremias(eéoSenhorquefalaporsuabocadevergasta):“Euvosintroduzinumaterrafértil,edepoisdeláentrardesaprofanastes.Aidospastoresqueperdemedespedaçamorebanhodaminhapastagem!Eisqueosvisitareipara castigar a esperteza de seus desígnios”. Fujo da ignóbilvisãodetendasobstruindoasalamedasdoSenhor.(ANDRADE,1978,p.21-22)

Dessa forma,Drummondpreferemanter as referências espaciaisque tem de Belo Horizonte em suamemória, como um respeito asimesmo.Jáqueelenãopodeimpediradinâmicadacidade,eleseimpedeounãosepermitevê-la,comoumaformadepreservaroseulugar,jáqueelenãopodeestarneleesentir-sejuntodele,anãoserrecorrendoàprópriamemória.Paraopoeta,todasastransformaçõesdeBeloHorizontesãochocantes,causamsensaçãodeestranhamento,de desamparo e desconstroem sua identidade. Em outro trecho, oautorcontinua:

Tento fugir da própria cidade, reconfortar-me em seu austeropíncaro serrano. De lá verei uma longínqua, purificada BeloHorizontesemescutarorumordosnegóciosabafandoalitaniados fiéis. Lá o imenso azul desenha ainda as mensagens deesperança nos homens pacificados – os doces mineiros queteimamemexistirnocaosenotráfico.Emvãotentoaescalada.Cassetetes e revólveres me barram a subida que era alegriadominicaldeminhagente.Proibidoescalar.

Proibidosentiroardeliberdadedestescimos,proibidoviveraselvagemintimidadedestaspedrasquesevãodesfazendoemformadedinheiro.Estaserratemdono.Nãomaisanaturezaagoverna.Desfaz-se,comominério,umaantigaaliança,umritodacidade.Desisteoulevabala.Encurraladostodos,aSerradoCurral,osmoradorescáembaixo.Jeremias me avisa: “Foi assolada toda a serra; de improvisoderrubaram minhas tendas, abateram meus pavilhões. Vi osmontes, e eis que tremiam.E todosos outeiros estremeciam.Olheiterra,eeisqueestavavazia,semnadanadanada”.Sossegaminha saudade.Nãome cicies outra vezo impróprioconvite.Nãoqueromais,nãoquerover-te,meuTristeHorizonteedestroçadoamor.(ANDRADE,1978,p.21-22)

A crítica do poema também é direcionada àmineração daSerradoCurral.Hoje,esseelementodapaisagem, imponente,se reduzaumacasca.Avertentevoltadaparaacidadeestáintacta,comoumaforma de forjar a permanência da identidade da cidade e dos seusmoradoresparacomaSerradoCurral,masooutro lado temoutraface, é propriedade privada, é uma paisagem que nega a ideia datoponímiadacidade:BeloHorizonte.Opoetaatérevelaquenãomaispodeescalá-la,nãomaispodeobservareapreciaracidadelá de cima,poisamineraçãoeapropriedadeprivadaprevalecerameoexpulsaramdesseseulugar8.ASerradoCurralfoiescolhidacomoumadasfronteirasdacapital

mineira, desde o seu início, quando Belo Horizonte ainda era umprojetomodernonofimdoséculoXIX,umdesenhoqueantecedeuàocupaçãodoespaçoquehojeéacidade.Aserraéumabarreirafísica,umafronteiranatural.Aomesmotempo,seéfronteiraésocial,porque

8 Desde2012foiinstaladonaSerradoCurralumparquequeéadministradopelaFunda-çãodeParquesMunicipaisegerenciadopelaempresaConstrutoraBHForte.Tomba-dapelaLeiOrgânicadoMunicípioepeloInstitutodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional(IPHAN)em1960,essaserraé,segundoesseórgão,omarcogeográficomaisrepresentativodeBeloHorizonte.

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aescolhaporessafunçãonãofoidanatureza,daforma-relevo,foidasociedadequelhedeuumconteúdo.Nesseprocesso,aSerradoCurralassumeumadimensãosimbólicadaenacidade.Umaforma-relevoquenãoseencerrana sua forma física,poisengendradanumcontextosocioespacialqueadefinecomoumgeossímbolo,umelementodapaisagemsignificadosimbolicamente,ouseja,“[...]umaformadelinguagem,uminstrumentodecomunicaçãopartilhadoportodose,emdefinitivo,olugarondeseinscreveoconjuntodavisãocultural”(BONNEMAISON,2002,p.124).A cidade não se expandiu para além dessa fronteira –

indissociavelmente natural e social –, não a ultrapassou, maso significadourbanoaalcançou,apartirdamineraçãoe,dessemodo, da sua destruição em busca deminérios. Essa Serra doCurral casca, essa primeira aparência da paisagem do pontode vista de quem está na cidade, dissimula os processos demineraçãoqueadestruírampor trás.Umacontradição,pois “onomeédefiniçãoessencial,éparteconstituintedoobjetodequenomeia”(CAUQUELIN,2007,p.161).Entretanto,hoje,portrásdoBeloHorizontesimbólico,sóháumburacodeixadopelaatividademineradora,umvazio.Umvazioquetambémseprojetanopoetaenosbelo-horizontinos.AfotografiadeFernandoRabelo9(Figura1),feitaemfevereiro

de2014,éreveladora,poisinverteopontodevistafrequenteda

9 FernandoRabeloautorizouapublicaçãodafotografia.Eleébelo-horizontinoeviveusuainfâncianoChileenaFrançaduranteoexíliodopai.Aindaadolescente,iniciousuacarreirafazendoflagrantesdocotidianodeParis,ondecursoufoto-grafia.Comaanistiapolítica,FernandoretornouaoBrasil.Trabalhouparaosprin-cipaisjornaisdopaís,comoFolhadeSãoPaulo,OGlobo,JornaldoBrasiledepoiscomoEditordeFotografia.Éautordo livroTributoàLagoa,umacoletâneadeimagenssobreaLagoaRodrigodeFreitas,noRiodeJaneiro.Possui trabalhosqueretratamoutrasartes,comoamúsica,erealizouaexposição“FoconaMPB”.FernandovivenoRiodeJaneirodesde1990etemproduzido,atualmente,umasériedefotografiasdeBeloHorizonte.

paisagem de Belo Horizonte e descortina a Mina deÁguas Claras,situadaatrásdaSerradoCurral.Emumprimeiromomento,porestaremprimeiroplanonaimagem,

a mina se apresenta aos olhos do espectador da fotografia. Umacrateramarcanteeexpressiva,comumlagotípicodeantigosespaçosdemineração.Umapartedaencostareveladesmoronamentodosolo.A cidade, com todas as suas construções, com suas verticalidadesdestacadas,estánoplanodefundoda imagem,eosolhostambéma tateiam,mesmoqueposteriormente.O conjuntodapaisagem seforma.Oespantoéimediatoparaumbelo-horizontinoouparaquemconheceacidadeeestádesacostumadoavê-ladessepontodevista.Talfotografiatrazumatentativademultiplicarospontosdevista,

como defendiaHumboldt, em busca da compreensão da paisagem(CLAVAL,2007)etambémcomointuitodeaprofundarainterpretação

Figura 1–MinadeÁguasClaras.FronteiramunicipalentreBeloHorizonteeNovaLima.Fonte:Rabelo(2014).

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dosarranjosespaciaisaosquaisasformasestãoinseridas.Afotografianão revela,assim,apenasa forma,ovisível,aaparência.A imageméquestionadoraenosremeteaações,asujeitos,aempresas,aumadinâmica socioespacial que constrói e transformapaisagens.Assim,a cidade não émenos importante na composição da fotografia porestarnoplanodefundo,poisasuapresençaexpressaastensõesentrecidadeemina,entreBeloHorizonteesuafronteira-horizonte-casca eéessarelaçãoinvertidaporumpontodevistaqueoautor-fotógrafoFernandoRabeloconfiguraepõeacento10.Outrasquestõesqueestãoalémdovisíveltambémvêmàtona,como

arelaçãohistóricadoestadodeMinasGeraiscomamineração,queestánatoponímiadopróprioestado.Amineraçãorasgaapaisagemmineirae escavaaalmadomineiro,espaçoesujeitoatravessadosporumaatividadeeconômica,tambémpercebidapeloautordospoemasemsuacidadenatal,Itabira,cujapaisagemfoibrutalmentemodificada11.NaimagemestátambémotristehorizontedeDrummond.Aminaeseusdesmoronamentosseagigantamdiantedosnossos

olhosenospermitemperceberagrandezadesseproblemaambiental,muitasvezes,escamoteado,passandodespercebidonosautomatismoscotidianos.MasDrummond jáodenunciava.OquesentiriaeoquediriaopoetadiantedessaimagemdeFernandoRabelo?A escrita dos poemas é uma reação da memória do poeta, que

buscafixarosmomentoseosespaçosvividosporele.Amemóriatraz

10Todafotografiaéprodutodeumaintencionalidadedofotógrafo.Oconceitodeinten-cionalidadefoiproduzidonoâmbitodafenomenologiaporHusserl(2000).Eleérea-propriadoporMiltonSantos(2002)etambémpodeserexploradaparapensarmosaspráticasartísticascomoaLiteraturaeaFotografia.

11OpoemamaisconsagradodeDrummond(2002,p.68)sobreItabirachama-se“Confi-dênciadoItabirano”:“AlgunsanosviviemItabira/PrincipalmentenasciemItabira./Porissosoutriste,orgulhoso:deferro./Noventaporcentodeferronascalçadas,/Oitentaporcentodeferronasalmas[...]/Tiveouro,tivegado,tivefazendas/Hojesoufuncio-náriopúblico/Itabiraéapenasumafotografianaparede./Mascomodói!”.

umaespéciedefantasmadotempoedoespaço.Drummondclamapelaspermanênciasecomonãoépossívelalcançá-las,eleasregistrapoeticamente. A forma de permanência encontrada por ele é arepresentaçãodoslugares da memóriaatravésdospoemas,enquantoFernando Rabelo eterniza aquilo que é negado por Drummond, ocontrapontoaopoemanaimagemfotográfica.Essasmudanças,quesetransformamemperdasparaDrummond,

sãoo ladocrueldacidadeparaeleeépor issoqueeleoptaporumtomdramático.Assim,“[...]oprogressocomasuaforçademolidoraéquepossibilitaqueamemóriaaflore”(LIMA,2000,p.184).Énessecontextoqueosignificadoeaspolíticasdepatrimônio,porexemplo,foramconstruídos.Nospoemas,oautoracabaporinterpretaracidadeesuastransformações,aorevelarosseussentimentosinterligadosàsuamemóriaqueafloramdevidoaessasmudançaseexpressaoqueparaele,emBeloHorizonte, seriapatrimônio,mesmoquenãosejaalvodaspolíticaspatrimoniaisdeproteçãodapaisagem.Trata-sedeumlamentoqueaproximaDrummonddeoutropoetadamodernidade,CharlesBaudelaire,quemanifestaumpesar,poisavelhaParisnãoexistiamais:“asformasdeumacidademudammaisdepressa,lamentavelmente,queocoraçãodeummortal”(BAUDELAIRE,1976,p.85).Aefemeridade,atransitoriedadeeabuscapelasegurançasão

característicasdamodernidade,dohomemmodernoedascidades,

queéproduzidacomoo espaçodotempomoderno.Apaisagemdas

cidadesmaterializa asmarcas dessas características: elas carregam

o passado, elas representam o presente e são os alicerces para o

futuro.O lugar tambémé feitodoencontrodopassadoedo futuro

no presente e é esse encontro que os poemas de Drummond aqui

exploradosexpressam.O conceito de rugosidade elaborado por Milton Santos (1986;

2002)ajuda-nosarefletirsobreesseencontrodetemposnoespaço

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e sobre as memórias. “Chamemos de rugosidade o que fica dopassado como forma, espaço construído, paisagem, o que resta doprocessodesupressão,acumulação,superposiçãocomqueascoisassesubstituemeacumulam-seemtodososlugares”(SANTOS,2002,p.140).Arugosidaderepresentaasuperposiçãoeaconvergênciadetemporalidades na paisagem e a metamorfose histórica de formase de conteúdos sociais. Essas temporalidades inscritas nos lugaresparticiparam e ainda participam do cotidiano, ao mesmo tempoem que as ações cotidianas erguem e destroem os objetos quecompõemapaisagem.Asrugosidadesexpressamoscontextossociaispreexistentes,numaimagemdepalimpsesto(MELO,2006).Historicamente, a produção e a transformação de paisagens não

significam um simples depósito de objetos, um em cima do outro.Háosobjetosquepermanecem,osquesãomodificados,osquesãodestruídos, há ruínas.Todos convivem num determinadomomentodapaisagem.Cadarugosidadeexpressaumaforçaidentitáriaqueserefereàidentidadedolugaredossujeitosmaterializadosnapaisagem.Numlugar,superfíciesantigaserecentessetocamemumemaranhadodefunçõessociais.

Ahistóriaéhistóriasobrehistória,escritasobreescrita,espaçosobre espaço. O espaço pode ser interpretado, portanto,como uma superposição de grafias, de natureza social, feitade superfícies complexas, já que não se consegue apagarcompletamente as grafias anteriores (HISSA; MELO, 2008, p.297).

No convívio contemporâneo, funções e formas passadas – asrugosidades – misturam-se aos objetos e às funções produzidosno cotidiano presente, influenciando a produção do espaço atual.“O processo social está sempre deixando heranças que acabamconstituindoumacondiçãoparaasnovasetapas”(SANTOS,2002,p.

140).Ditodeoutraforma,“otrabalhojáfeitoseimpõesobreotrabalhoa fazer” (SANTOS,2002,p.141).Nessesentido,o lugar tambémsetransforma, quer na sua aparência física expressa pela paisagem,querportodososmovimentossociaisinscritosnessaespacialidadeeexperimentadoscotidianamente.Olugarnuncaésempreomesmo,mesmoquandoasuapaisagem

não se modifica com intensidade e rapidez. “Sobre o caráter doslugares,pode-sedizerquesãoespaçosafetivamentevivenciadosoucompartilhadosnumtempoespecífico”(MELO,2006,p.15).OtempoespecíficoqueospoemasserefereméodamocidadedeDrummond.Entretanto, a Belo Horizonte do poeta não volta mais, nem suapaisagem,nemtodasasfunçõesatribuídasaelanaquelemomento,nem os cotidianos e, assim, nem os lugares constituídos naqueleperíodo,talcomoosqueDrummondregistraemseuspoemas.Aomesmotempo,nemmesmoo sujeito semantém imobilizado

em suas subjetividades. Mesmo que o Cinema Odeon não tivessesidofechado,mesmoseo fim de outras coisas tratadaspelopoetaem“TristeHorizonte”nãotivesseacontecidonosespaçosdacidade,DrummondnãoconseguiriareviverosmomentosquepassouemBeloHorizonte,poiscadavezqueexperimentamosumavivêncianoespaçoelase realizadeumamaneiradiferente.Osujeito tambémjánãoémaisomesmo,comooadultonãoémaisacriança,semdeixardesê-la.Acriançaeoadultosubsistem(LEFEBVRE,1983).Amocidadedopoetaestánopoetaadulto,assimcomoaBeloHorizonteprovincianaestánametrópole,masnemosujeito,nemacidadesãoosmesmos,tambémporquetodonovoencontroentreossujeitoseoespaçoeentreosprópriossujeitosérepletodetransformaçõesedepermanências.Assim,sempreháonovoquesubsistecomoantigoequeosupera.Para Merleau-Ponty, as recordações podem ser constituídas e

reconstruídas o tempo todo. “Antes de qualquer contribuição da

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memória, aquilo que é visto deve presentemente organizar-se demodo a oferecer um quadro em que eu possa reconhecer minhasexperiênciasanteriores”(MERLEAU-PONTY,2006,p.44).Opassadose renovanoatopresentedeperceber,quandoa sensaçãoanteriorpodeserrepensada,reconstituída,jáqueestáemumanovasituação.Amemóriaéresgatadapelopresente:“[...]foiprecisoqueaexperiênciapresenteprimeiramenteadquirisseformaesentidoparafazervoltarjustamente esta recordação e não outras” (MERLEAU-PONTY,2006, p. 45). Merleau-Ponty valoriza então um tempo sincrônicona interpretação da memória e o passado só tem sentido quandointerpretadoàluzdacontemporaneidade.Como já discutido, o lugar também se transforma, quer na

sua aparência física expressa pela paisagem, quer por todos osmovimentos sociais inscritos nessa espacialidade e experimentadoscotidianamente,querpelasprópriastransformaçõesdossujeitosqueovivenciam.“Cadanovatotalizaçãocrianovosindivíduosedáàsvelhascoisasumnovoconteúdo”(SANTOS,2002,p.120).Novossignificadossãoatribuídos,cotidianamente,aoslugares,àssuaspaisagenseaossujeitos,emumaunidadedialética.

Considerações finais

Nos poemas “O fim das coisas” e “Triste Horizonte” o espaçoé um componente essencial, assim como suas transformações,seu movimento, suas contradições. Drummond, com sua práticaculturalcrítica,elaboraumconhecimentoespacialdacidadedeBeloHorizonte,deseusfragmentosespaciaisque,aomesmotempo,sãoumatotalidade.BeloHorizonteémundo,comoopróprioDrummondgostadedenominar.Umacidade-mundovivenciadaporumsujeito-mundo: um lugar.Tambémnos ensinaMiltonSantos (2002,p. 314)

a esse respeito quando afirma que “cada lugar é, à suamaneira, omundo”.Muitos lugaresdamemóriadopoetaaindaestãovivosnacidade

de Belo Horizonte de maneira ressignificada. A dinâmica espacialé incessante e, para Drummond, esse movimento é doloroso. Nosreferidospoemas,Drummondrevelaaangústiaqueastransformaçõeshistórico-espaciais impõem aos sujeitos, que as vivenciamcotidianamente nos lugares. No seu caso, a Belo Horizonte amadalhe escapa e amemória revivida no presente desenvolve nele uma“[...] consciência agudae reflexivado limite” (WISNIK, 2005, p. 23).Um limiteenquantosujeito,plenodeemoções, frenteàsmudançasespaciais,queofazpreferirtrancafiaracidadeàsuamemória.É importante registrar que o poeta não esteve mais em Belo

Horizonte após a escrita do poema “Triste Horizonte”, em 1976.Ele preferiu não vivenciar a Belo Horizonte metropolitana, que oangustiavaequejátraziasuamemóriaàtonasódepensarnela.ComoafirmaDardel(2011,p.34),“Acor,omodelado,osodoresdosolo,oarranjovegetalsemisturamcomaslembranças,comtodososestadosafetivos,comasideias”.VivenciaraBeloHorizontemetrópoleseriaumsofrimentoaindamaisatrozparaopoeta.“NapoesiadeDrummond[...]aatençãodosujeitoécontinuamenteinterpeladaporaquiloquelheescapa,que lheextrapolaos limites,queempenhaotodoepõeosujeitoemcausa” (WISNIK,2005,p.23).Osujeito-poetaseexpõeemcausa,mastambémcolocaossujeitos-leitoresemcausa.Háumaintersubjetividadeentreautoreleitorqueseencontrampormeiodotextopoético.Comoelemesmocolocaparatodosnósem“Ofimdascoisas”:

Nãoamadureciaindabastanteparaaceitaramortedascoisasqueminhascoisassão,sendodeoutrem,

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eatéaplaudi-la,quandoforocaso.(Amadurecereiumdia?)

(ANDRADE,2013,p,109)

Amplia-seessaemblemáticaperguntaparatodosossujeitosdiantedasperdasdosseuslugares:Amadureceremosumdia?

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