os juizados especiais solucionam causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor...
TRANSCRIPT
Os Juizados Especiais solucionam causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo. O procedimento é simplificado, orientando-se pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação.
Os Juizados Especiais foram criados pela Lei 9.099, de 26 de Setembro de 1995. A Lei 12.153, de 22 de dezembro de 2009 estendeu a competência dos Juizados Especiais para o julgamento de ações da Fazenda Pública e deu prazo de dois anos para os tribunais se estruturarem.
Durante esse período as varas que têm competência para julgar os processos envolvendo a Fazenda Pública ficaram responsáveis por julgar as causas relacionadas na Lei 12.153/2009, seguindo o procedimento dos Juizados Especiais.
Com a publicação da Resolução 700/2012, essas causas passam a ser julgadas nos Juizados Especiais, a partir de 23 de junho de 2012.
Nas comarcas onde não houver Juizados Especiais, as ações continuam a ser julgadas nas varas competentes para julgar processos da Fazenda Pública.Os Juizados Especiais da Fazenda Pública, na Justiça do Estado de Minas Gerais, julgam as causas no valor máximo de quarenta salários mínimos, relativas a:
multas e outras penalidades decorrentes de infrações de trânsito; transferência de propriedade de veículos automotores terrestres; imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISSQN); imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços (ICMS); imposto sobre propriedade predial e territorial urbana (IPTU); fornecimento de medicamentos e outros insumos de interesse para a saúde humana, excluídos cirurgias e
transporte de pacientes.
A Resolução nº 700/2012 foi publicada na edição do DJe de 13/06/2012.
Siscom - Novos Procedimentos
Novas orientações para distribuição dos feitos cíveis e da Fazenda Pública, marcação de audiência e Juntada de Petição nos Juizados Especiais:
Novos Procedimentos do Jesp
Unidade Jurisdicional da Fazenda Pública da comarca de Belo Horizonte
Em 21 de junho de 2012 foi instalada a Unidade Jurisdicional da Fazenda Pública do Sistema de Juizados Especiais da comarca de Belo Horizonte. O local e a competência exclusiva da unidade para tratar dos feitos da Fazenda Pública foram fixadas pela Portaria-Conjunta 243/2012, publicada na edição do Dje de 21/06/2012.
A competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública está relacionada às causas no valor máximo de 40 salários mínimos, relativas a multas e outras penalidades decorrentes de infrações de trânsito e transferência de propriedade de veículos automotores terrestres.
Feitos envolvendo Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN), Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestação de Serviços (ICMS), Imposto Sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e fornecimento de medicamentos e outros insumos de interesse para a saúde humana, excluídos cirurgias e transporte de pacientes, também poderão ser ajuizados na Unidade Jurisdicional da Fazenda Pública.
I - Introdução
No dia 22 de dezembro do ano de 2009, foi publicada a Lei nº 12.153, que “dispõe sobre os
Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios e dos Municípios”. Pois bem, o presente trabalho busca tecer breves comentários
acerca desta Lei tão inovadora no ordenamento jurídico pátrio.
II – Competência para criação
O art. 1º da Lei nº 12.153/2009 traz a competência para a criação dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública. Nota-se, pela leitura do dispositivo, que existe a chamada competência
concorrente entre a União e os Estados. Acontece que o referido art. 1º dispõe que a União só
terá competência para criar os juizados no Distrito Federal e nos Territórios, enquanto que os
Estados criarão os juizados especiais para conciliação, processo, julgamento e execução, nas
causas de sua competência.
Em seu parágrafo único, o referido dispositivo demonstra, de forma clara, a organização dos
Juizados Especiais nos Estados e no Distrito Federal, que se subdividem em Juizados Especiais
Cíveis, Juizados Especiais Criminais e – a dita novidade – os Juizados Especiais da Fazenda
Pública.
III – Competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública
A competência dos novos Juizados Especiais da Fazenda Pública segue a mesma linha dos
Juizados Especiais Cíveis Federais, ou seja, aquelas causas até o limite de 60 salários mínimos.
Acontece que, além do critério do valor da causa, a Lei nº 12.153/2009 prevê o critério intuitu
personae. Nesse diapasão, todas aquelas causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 salários mínimos, serão julgadas pelo
novel Juizado Especial da Fazenda Pública. Saliente-se, ademais, que a referida competência,
segundo a própria Lei, é absoluta, podendo ser argüida por qualquer das partes e a qualquer
momento.
De mais a mais, a própria Lei nº 12.153/2009 prevê, de forma taxativa, as hipóteses em que não
se enquadra na competência do referido Juizado. Veja-se:
1. As ações de mandado de segurança;
2. Ações de desapropriação;
3. Ações de divisão e demarcação;
4. Ações populares;
5. Ações por improbidade administrativa;
6. Execuções fiscais;
7. Demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;
8. Causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios,
autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;
9. Causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores
públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
No que toca às obrigações vincendas, o § 2º, do art. 2º, prevê que a soma das 12 parcelas
vincendas e de eventuais parcelas vencidas não poderá exceder o limite de 60 salários mínimos.
IV – Tutela de urgência e irrecorribilidade das decisões interlocutórias
A nova Lei nº 12.153/2009 prevê, ainda, a tutela de urgência, podendo, até, ser deferida ex
officio pelo juiz, corroborando o entendimento já pacificado na jurisprudência pátria. Uma questão
que se tornou pertinente na nova legislação foi a irrecorribilidade das decisões interlocutórias,
com exceção daquelas que (in)deferem as tutelas de urgência. Tal previsão deve ser visto com
cautela, pois há outros meios de se buscar a revisão do ato praticado pelo magistrado, dentre
eles, o write of mandamus. Com relação às sentenças, não há dúvidas ou entredúvidas de que o
recurso de apelação é o remédio cabível para a reapreciação da matéria, em respeito do duplo
grau de jurisdição previsto constitucionalmente.
V – Partes no Juizado Especial da Fazenda Pública
Como dito anteriormente, a competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública é em razão
da pessoa. Portanto, a Fazenda Pública deve ser necessariamente parte na ação. Assim, e
seguindo o disposto no art. 5º da Lei nº 12.153/2009, podem ser réus os Estados, o Distrito
Federal, os Territórios e os Municípios, bem como autarquias, fundações e empresas públicas a
eles vinculadas.
Quanto ao pólo ativo da ação, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno
porte, assim definidas na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, podem ser
partes na ação.
VI – Atos processuais
A Lei nº 12.153/2009 é taxativa ao afirmar que os dois principais atos de comunicação
processual, qual seja, a citação e a intimação, seguirão o disposto no Código de Processo Civil.
Desta forma, a Fazenda Pública deverá ser citada por oficial de justiça, fugindo, portanto, da
regra contida no referido código, que é a citação pelo correio. Quanto à intimação, o Código de
Processo civil é peremptório ao afirmar que o ente fazendário será intimado na pessoa de seu
procurador.
Assim, percebe-se que o Poder Público permanece com tais prerrogativas. Lembre-se, de mais a
mais, que isso se deve ao fato de a Fazenda Pública possuir certa burocracia na administração
de seus documentos, respeitando, assim, o princípio da isonomia, segundo o qual a lei deve tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida, é claro, de suas desigualdades.
VII – Prazos processuais
É sabido que a Fazenda Pública possui alguns prazos diferenciados, a exemplo daqueles
contidos no art. 188 do Código de Processo Civil. Porém, a nova Lei dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública prevê que não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato
processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos.
Portanto, ao contrário do que dispõe o art. 188 do Código de Processo Civil, que prevê o dobro
para recorrer, a Fazenda Pública terá o prazo normal.
VIII – Poderes dos representantes judiciais
A Lei nº 12.153/2009 autoriza os representantes judiciais dos réus (Fazenda Pública) a conciliar,
transigir ou desistir nos processos da competência dos Juizados Especiais, nos termos e nas
hipóteses previstas na lei do respectivo ente da Federação.
Um ponto negativo para a Fazenda Pública foi a imposição da Lei a entidade ré fornecer ao
Juizado a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa, apresentando-se até
a instalação da audiência de conciliação.
IX – Desnecessidade do reexame necessário
Conforme o que dispõe o art. 475 do Código de Processo Civil, a sentença que for contra a
Fazenda Pública estará sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório. Acontece que, além
daquelas dispensas previstas no próprio Código de Processo Civil, a Lei nº 12.153/2009 dispõe
que nas causas que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.
X – Cumprimento de sentença ou acordo
O processo de execução contra a Fazenda Pública é especial. Com base no art. 100 da
Constituição Federal, a execução das decisões contra as Fazendas Públicas Federal, Estadual e
Municipal será processada mediante a expedição de precatórios. Esse sistema foi alterado pelas
Emendas Constitucionais nº 32/2000 e 37/2002.
Quanto ao procedimento previsto na Lei nº 12.153/2009, após o trânsito em julgado da sentença
ou acordo, o juiz encaminhará um ofício à autoridade citada para a causa, com cópia da sentença
ou do acordo, a fim de que seja cumprida a decisão de obrigação de fazer, não fazer ou entrega
de coisa certa, sob pena de ser determinado o seqüestro do numerário suficiente ao cumprimento
da decisão, dispensada, nesta hipótese, a audiência da Fazenda Pública.
Noutro norte, tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, o pagamento será efetuado no
prazo máximo de 60 dias, contado da entrega da requisição do juiz à autoridade citara para a
causa, independentemente de precatório, na hipótese de pagamentos de obrigações definidas em
lei como de pequeno valor (art. 100, § 3º, da Constituição Federal). Ao revés, se a condenação
exceder o valor definido como obrigação de pequeno valor, o pagamento far-se-á mediante
apresentação de precatórios, nos moldes do caput do art. 100 da Constituição Federal. É de bom
alvitre relembrar que “os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculando os
precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa” (Súmula 144 do STJ).
Seguindo a mesma linha do art. 87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), a
Lei nº 12.153/2009 prevê que, até que se dê a publicação das leis que definam as obrigações de
pequeno valor, os valores serão de 40 salários mínimos, quanto aos Estados e ao Distrito
Federal; e de 30 salários mínimos, quanto aos Municípios.
Frise-se, ademais, que são vedados o fracionamento, a repartição ou a quebra do valor da
execução, de modo que o pagamento se faça maneira distinta, ou seja, uma parte através de
precatórios e outra parte mediante pagamento no prazo máximo de 60 dias. De forma a receber o
valor independentemente de precatórios, a parte exeqüente, nos casos em que a condenação
exceder o valor definido como de pequeno valor, terá a opção de renunciar ao crédito do valor
excedente.
Depositado o valor da condenação, a parte autora poderá, independentemente de alvará judicial,
sacar o devido em qualquer agência do banco depositário. Caso a parte não possa ir
pessoalmente à agência, ser-lhe-á facultada sacar mediante procurador, que somente poderá ser
feito na agência destinatária do depósito, mediante procuração específica, com firma
reconhecida, da qual constem o valor originalmente depositado e sua procedência.
XI – Organização do Juizado Especial da Fazenda Pública
Os Juizados Especiais da Fazenda Pública serão instalados pelos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, podendo, ainda, serem instalados Juizados Especiais Adjuntos,
cabendo ao Tribunal designar a Vara onde funcionará.
Assim como a Lei nº 9.099/1995, a Lei nº 12.153/2009 prevê a designação de conciliadores e
juízes leigos, sendo aqueles, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e estes, entre os
advogados com mais de 2 anos de experiência. Nota-se que a única diferença é em relação aos
juízes leigos, que, conforme o art. 7º da Lei nº 9.099/1995, serão entre advogados com mais de 5
anos de experiência.
É de bom alvitre registrar que os juízes leigos, enquanto no desempenho de suas funções,
estarão impedidos de exercer a advocacia perante todos os Juizados Especiais da Fazenda
Pública instalados em território nacional.
Quanto às Turmas Recursais, elas são compostas por juízes em exercício no primeiro grau de
jurisdição, na forma da legislação dos Estados e do Distrito Federal, com mandato de 2 anos, e
integradas, preferencialmente, por juízes do Sistema dos Juizados Especiais. Ademais, a
designação dos juízes das Turmas Recursais obedecerá aos critérios de antiguidade e
merecimento, não sendo admitida a recondução, salvo quando não houver outro juiz na sede da
Turma Recursal.
XII – Pedido de uniformização de jurisprudência
Quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de
direito material, caberá pedido de uniformização de jurisprudência, respeitando, assim, o princípio
da segurança jurídica das decisões. Quando a divergência for entre Turmas Recursais do mesmo
Estado, referido pedido será apreciado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a
presidência de desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça respectivo. Outrossim, caso haja
juízes domiciliados em cidades diversas, a reunião poderá ser feita por meio eletrônico.
Outra questão interessante é quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal
interpretações divergentes. Neste caso, o pedido de uniformização de jurisprudência será julgado
pelo Superior Tribunal de Justiça, que terá, inclusive, competência para julgar os pedidos
referentes às decisões que estiverem em desacordo com suas súmulas.
Caso haja vários pedidos de uniformização de jurisprudência sobre questões idênticas e
recebidos subseqüentemente em quaisquer das Turmas Recursais, os mesmos ficarão retidos
nos autos, aguardando pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça acerca do tema. Se
porventura houver plausibilidade do direito invocado e havendo fundado receio de difícil
reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento da parte, medida liminar
determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.
XIII – Conclusão
Diante das palavras trazidas à baila, que, diga-se de passagem, podem ser encontradas no
próprio corpo da Lei nº 12.153/2009, pode-se concluir que a criação de Juizados Especiais da
Fazenda Pública irá contribuir, e muito, com a celeridade da prestação jurisdicional, assim como
ocorre com os Juizados Especiais Cíveis e Juizados Especiais Criminais. Além do mais, nota-se
que as prerrogativas processuais da Fazenda Pública foram, em certos casos, desconsideradas.