os instrumentos da comunicação ao longo da história

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Os Instrumentos da Comunicao ao Longo da Histria: da Oralidade ao Virtual - Parte 1

por No Gino Porto Gomes

Sobre o autor[1]Ir paraSegunda PginaA comunicao um fenmeno presente em todo o desenvolvimento da histria e foi considerada tradicionalmente como marco inicial do processo histrico e o fim da pr-histria. O seu surgimento ocorreu com os sumrios na Mesopotmia (atual regio do Iraque, no Oriente Mdio). Os primeiros escritos consistiam em registros feitos em tabletes cuneiformes, que incidiam em pequenas barras feitas de argila, onde eram marcados smbolos que representavam ideias ou quantidades. A escrita cuneiforme marcou o processo de transio entre a oralidade e a escrita. Le Goff explica que essa passagem muito importante:[...] a passagem do oral ao escrito muito importante, quer para a memria, quer para a histria. Mas no devemos esquecer que: 1) oralidade e escrita coexistem em geral nas sociedades e esta coexistncia muito importante para a histria; 2) a histria que tem como etapa decisiva a escrita, no anulada por ela, pois no h sociedades sem histria. [...] (LE GOOF, 1990, p.53)A relevncia da escrita para o desenvolvimento da Histria deve ser embasada no entendimento da noo de que a oralidade tambm um elemento para o entendimento do processo histrico. Mas essa posio recente, e povos sem escrita ou agrafos num passado recente eram considerados "povos sem cultura", indignos de serem mencionados como seres histricos. Com a Lingustica, a Filologia, a Arqueologia, a Etnografia e a Antropologia Cultural isto caiu por terra. Esta relao entre a comunicao e o desenvolvimento histrico se faz necessria na medida que tanto a oralidade como a escrita so elementos identitrios de grupos e pases.Neste sentido, a escrita pode ser entendida como reflexo de uma conjuntura histrica, que serve tambm como elemento de reflexo da produo do conhecimento histrico. Partindo da premissa de que a escrita da Histria tambm um espelho de quem escreve, mas no somente o resultado final, a prpria seleo de suas fontes demonstra este contexto.Eric Havelock, explica que constitui um erro polarizar a relao entre o escrito e o oral, segundo Havelock: "[...] A relao entre elas tem o carter de uma tenso criativa, contendo uma dimenso histrica - afinal, as sociedades com cultura escrita surgiram a partir de grupos sociais com cultura oral [...]" (Havelock in OLSON; TORRANCE, 1996: 18). Segundo este autor:Essa tenso pode por vezes, manifestar-se como tendncia em favor de uma oralidade resgatada e, em outras ocasies e contrariamente, como tendncia em favor de sua total substituio por uma sofisticada cultura escrita. (p.18)Esta ultima considerao lembra a ideia positivista de se valorar o escrito de tal forma que somente este tipo de registro fosse o nico, vlido, o que contrariado pelo autor, pois com a introduo da Histria Oral, por exemplo, a narrativa entendida atravs de documentos que, embora mais subjetivos, recuperram a memria individual como parte do acervo cultural de seu grupo ou circunstncia.Ian Tattersall coloca a linguagem num primeiro nvel como elemento cultural do desenvolvimento humano assim como tambm faz Chartier, pois este ltimo tambm valoriza outras formas de comunicao como a oralidade. Outro autor que tambm aprecia outras formas de comunicao Jacques Le Goff, como explicam Ligiane Aparecida da Silva e Rosilene de Lima[2](2009):[...] Le Goff defende que a cultura dos homens com a escrita diferente da cultura dos povos sem escrita, todavia, no radicalmente divergente. Os povos sem escrita cultivam suas tradies por meio de narrativas mitolgicas, transmitidas s demais geraes pelos homens memria, personagens responsveis pelo cultivo da histria de seu povo. No entanto, essa prtica no lana mo de estratgias de memorizao, no uma prtica mecnica, diferentemente da escrita. [...] (LIMA; SILVA p.7)Ou seja, a linguagem um fenmeno no s escrito, mas visual e oral tambm. Dentro do nosso objeto de estudo, os blogs, podemos encontrar outros tipos de registros alm dos escritos. Muito comum colocar num post[3]vdeos que esto alocados no site Youtube ou em outros sites que disponibilizam elementos em flash[4]. Tambm h postagens onde h em vez de um texto uma nica imagem. J outros tipos de posts so uma mescla entre o escrito e a imagem, sendo que o elemento iconogrfico funciona como uma ilustrao do assunto tratado, ou uma ironia. A comunicao oral tambm se d nas postagens com elementos visuais, no caso dos vdeos e igualmente em posts com elementos em flash que s executam udios.Neste plano terico no pode ser deixado de lado o conceito de tempo. Para Le Goff: "[...] o tempo da histria, enriquece os mtodos do historiador e alimenta um novo nvel da histria, a histria lenta" (LE GOFF, 1990: 56). Jos DAssuno Barros faz algumas consideraes interessantes sobre a forma como se define o tempo na historiografia:J se disse que "a Histria o estudo do homem no Tempo". A definio foi proposta por Marc Bloch por volta de meados do sculo XX, mas hoje parece to bvia que j deve ter sido mencionada inmeras vezes em obras de historiografia, e certamente na maioria dos manuais de Histria. No entanto, quando Marc Bloch a props, estava confrontando esta definio a uma outra que tambm parecera perfeitamente bvia aos historiadores do sculo XIX: "a Histria o estudo do Passado Humano". (BARROS, 2006, p. 461)As noes de Histria, de espao e de tempo so fundamentais para a compreenso do processo histrico da comunicao, pois o seu desenvolvimento ocorre de mltiplas maneiras, tambm realizada em contextos prprios. O mesmo autor refora a ideia de Marc Bloch ao afirmar que:Quando se diz que "a Histria o estudo do homem no tempo", rompe-se com a ideia de que a Histria deve examinar apenas e necessariamente o Passado. O que ela estuda na verdade so as aes e transformaes humanas (ou permanncias) que se desenvolvem ou se estabelecem em um determinado perodo de tempo, mais longo ou mais curto (BARROS, p. 461).O entendimento errneo e ultrapassado de que o historiador s enxerga o passado, combatido por Marc Bloch, refora o entendimento de que o passado, numa metfora, uma das tantas matrias-primas para a elaborao do conhecimento histrico. preciso que haja uma interao entre o pretrito e a atualidade, pois o conhecimento histrico um produto gerado de uma reflexo desta tenso que, como explica Bloch, busca examinar as aes humanas independentemente de sua temporalidade.Maximiliano Martin Vicente (2009, p. 93) afirma que "[...] embora, no passado, o tempo presente e o imediato fossem relegados dos domnios da histria, ambos aparecem e so aceitos, h algum tempo como terreno frtil para os historiadores." Tambm este autor aponta para a aproximao entre a Histria com a comunicao e no inicio de sua obra faz um apontamento bastante importante:Uma relao de afinidade e de conflito. Talvez essa seja a melhor frmula para definir a conexo entre a histria e a comunicao. A similaridade decorre da proximidade e da convergncia, tanto na hora de enfrentar seus dilemas quanto na de procurar solucion-los. Ambas convivem com embates internos semelhantes, nem sempre bem resolvidos (VICENTE, p. 16).A discusso proposta por Vicente muito importante para a construo do objeto desta pesquisa, pois mesmo com os seus "embates internos", ambas direcionam-se para a ao humana. Se h ao humana, existe pensamento, se tem pensamento h ideias e estas fazem parte de um contexto prprio. No caso dos blogs, podemos catalog-los como sendo um fenmeno de tempo presente, pois h um pequeno recuo no tempo-espao cronolgico, neste caso de uns 15 anos, j que o fenmeno dos blogs tem uma datao que parte do inicio da segunda metade da dcada de 1990, em torno de 1995.Como explicam Airtiane Rufino, Hamilton Rodrigues Tabosa e Jefferson Veras Nunes a palavra em do latimcomunicaree tem o significado de trocar informaes, partilhar, tornar comum. Estes mesmos autores tambm falam da dificuldade de se buscar uma definio do que comunicao. Por isso que fao um breve balano histrico das formas de comunicao que ns conhecemos iniciado com a questo do surgimento da escrita, precedida pela oralidade. Sigo para o surgimento da imprensa e destacamos tambm a contribuio de Martinho Lutero para a difuso do conhecimento no sculo XVI.No h como negar a importncia da escrita e da oralidade, sem dvida so elementos bsicos no processo histrico da comunicao. Mas junto destas formas, encontra-se o visual. A iconografia outra forma de fonte histrica. Assim como o registro em mdias mveis, como pelculas, filmes, vdeo, cmeras digitais, desde os primeiros filmes de Chaplin at as primeiras imagens da televiso no Brasil na dcada de 1950, tudo se transformou em documento. Mas sempre reforando a noo de que se existem sociedades que escrevem, h tambm antecedentes que transmitiram os seus saberes pela oralidade, e esta no deve ser excluda. Tambm na ps-modernidade o virtual ocupar seu lugar.1 DE GUTENBERG INVENO DA INTERNETUm marco histrico no campo da comunicao o advento da imprensa no sculo XV, numa poca de grandes transformaes econmicas, sociais, polticas. Talvez dos conceitos que traduzem melhor o perodo conhecido como advento da Idade Moderna, o de transio seja, num primeiro momento, o mais explicativo, pois havia uma mudana no pensamento religioso com os processos de Reforma e Contra-Reforma[5]em que a ciso do Cristianismo provocou alteraes no cenrio religioso europeu. No mbito social, eclode a burguesia, classe formada inicialmente pelos moradores dos burgos (ou cidades) que existiam em volta dos feudos e que, com o fim do feudalismo, acabam ascendendo por ocasio do nascimento do mercantilismo.Estes burgueses, influenciando novos ajustes no contexto poltico, cenrio em que, ingenuamente, os que ascenderam graas ao comrcio acabam colocando o poder central nas mos dos reis, figuras decorativas na nobreza medieval, estabelecendo o regime poltico denominado de "Absolutismo". No mbito cultural, houve o exuberante surgimento do movimento de arte renascentista[6]e no cientfico, a revoluo astronmica, que deslocou o centro do mundo, da Terra, para o sistema solar, com o sol, e que ficou conhecida como a revoluo copernicana, para a qual contriburam Giordano Bruno, Keppler, Galileu, Coprnico, entre outros menos expressivos.A segunda palavra que tambm pode traduzir este momento histrico de grandes inovaes cientificas e culturais a ideia das permanncias de elementos do pensamento medieval, como a influncia ainda muito arraigada da Igreja Catlica no modo de pensamento europeu.Aps o delinear deste cenrio histrico, retornamos para o embate no sentido de entendermos o que comunicao e seu incremento com a imprensa. Pois se a ideia de Gutenberg era espalhar com maior quantidade a informao, o advento da imprensa pode ser caracterizado como um grande avano na comunicao, quando ela se torna uma comunicao que pode atingir um grande nmero de pessoas, a massa.Martino in Hohlfeldt (2008) faz uma distino bastante salutar, quando diz que h dois termos que podem promover certa confuso, o primeiro termo "participao" no sentido platnico, onde este termo expressa a ideia de semelhana, como o prprio autor constata o fato de duas coisas possurem as mesmas propriedades, isso no implica numa relao comunicativa, fazendo uma analogia com a propriedade do verde entre as folhas das arvores e a esmeralda. Martino aponta para a necessidade de entendermos a comunicao como uma "ao em comum". Segundo Martino: "O termo comunicao refere-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de conscincia." (MARTINO in HOHLFELDT, 2008, p.15)Peter Burke faz um levantamento histrico desde Gutenberg at os dias atuais na sua obra "Uma Histria Social da Mdia: de Gutenberg Internet" e que servir como base desta reflexo histrica. No seu primeiro captulo, "A revoluo da prensa grfica em seu contexto", Burke promove uma reflexo sobre a "revoluo da prensa grfica" introduzida por Gutenberg culminando at as Revolues Francesa e Industrial. O referido autor j no prefcio faz uma considerao relevante, ao afirmar que o seu objetivo com esta obra o de: "[...] mostrar a importncia do passado em relao ao presente, trazendo a histria para o interior dos estudos de mdia, e a mdia para dentro da histria." (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 10).Para Vicente (2009), importante que seja compreendido a forma como so analisadas estas transformaes, e sua fala aponta para a relao entre:[...] o acontecimento tal como entendido e abordado pela historiografia tradicional e pelos meios de comunicao. Entretanto, ambos aceitam que o acontecimento deriva do fato entendido como o episdio desencadeador de mudanas no status quo da sociedade.[...] (2009, p.43)Volto a Burke, que ao iniciar no seu primeiro captulo apontando para a participao de Gutenberg e de que sua inveno de 1450, j tinha sido realizada no Oriente (China e Japo) desde o sculo VIII. Segundo este historiador, a prensa grfica [...] talvez inspirado pelas prensas de vinhos de sua regio natal, banhada pelo rio Reno que usava tipos mveis de metal. (idem, 2006, p. 24)Anteriormente havia citado a participao de Martinho Lutero no processo conhecido como "Reforma Protestante". Durante a Idade Mdia o ndice de analfabetismo era extremamente elevado, praticamente quem tinha acesso leitura era o alto clero. As missas eram rezadas em latim, sem que o seu pblico compreendesse o que padre pronunciava na cerimnia religiosa. Lutero, ao criar a Igreja Evanglica Protestante, iniciou na Alemanha um processo de traduo da Bblia, antes praticamente inacessvel para a grande populao. Para promover a leitura bblica se valeu da inveno de Guntenberg.

Figura 1 - A prensa de Gutenberg (1450)Segundo Luciane Muniz Ribeiro Barbosa[7](2007), a propagao da Bblia por Lutero teve como causa e consequncia:[...] a criao de escolas que tenham a Bblia como o centro do ensino e que formem bons cristos para atuarem na sociedade, quer seja como pastores comuns na pregao do Evangelho ou como autoridades da vida secular (BARBOSA, 2007, p. 167).Juntamente com a propagao da Bblia, somou-se outro resultado: o do letramento e mais erudio por parte dos fiis protestantes em relao aos catlicos. Podemos dizer tambm que a tipografia de Gutenberg associada prtica de Lutero promoveu o primeiro fenmeno de ampla repercusso em termos de comunicao. Como demonstra Peter Burke:A prtica da impresso grfica se espalhou pela Europa com a dispora dos impressores germnicos. Por volta de 1500, haviam sido instaladas mquinas de impresso em mais de 250 lugares na Europa 80 na Itlia, 52 na Alemanha e 43 na Frana. As prensas chegaram a Basilia em 1466, a Roma em 1467, a Paris e Pilsen em 1486, a Veneza em 1469, a Leuven, Valncia, Cracvia e Buda em 1473, a Westminster (distinta da cidade de Londres) em 1476 e a Praga em 1477. Todas essas grficas produziram cerca de 27 mil edies at o ano de 1500,o que significa que estimando-se uma mdia de 500 cpias por edio cerca de 13 milhes de livros estavam circulando naquela data em uma Europa com cem milhes de habitantes. Cerca de dois milhes desses livros foram produzidos somente em Veneza, enquanto Paris era outro centro importante, com 181 estabelecimentos em 1500. (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 24)Burke ainda ressalta que no mundo rabe a impresso grfica permaneceu forte e que somente na regio da Rssia atual que no teve repercusso, devido a condies histricas peculiares e na Turquia a prtica da impresso era reprimida, como explica o autor: "[...] em meados do sculo XVI, os turcos pensavam ser pecado imprimir livros religiosos" (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 25).O mesmo autor se vale de uma fala da historiadora estadunidense Elizabeth Eisenstein, que assegura que: [...] a impresso grfica era "a revoluo no reconhecida", e seu papel como "agente de mudana" [...] (BRIGGS; BURKE, 2006, p. 30). Tambm aponta que se na Idade Media a falta de livros era um problema, no sculo XVI, foi o oposto. A impresso grfica possibilitou um registro nunca antes imaginvel, estavam asseguradas para a posterioridade as obras do Renascimento, por exemplo, e isto causou uma sensao de uma revoluo, que Peter Burke desconstri quase encerrando o captulo:O livro de Elizabeth Eisenstein permanece sendo uma sntese valiosa. [...] o que vemos aquilo que o crtico britnico Raymond Williams (1921-88) chamou uma vez de "Longa Revoluo". Trata-se de uma questo intrigante: ser que uma revoluo lenta pode afinal ser considerada uma revoluo?Um segundo problema o do agente. Falar da impresso grfica como agente de mudana dar muita nfase ao meio de comunicao,[..]Talvez seja mais realista ver a nova tcnica como aconteceu com outros meios de comunicao em sculos posteriores (a televiso, por exemplo) como um catalisador, mais ajudando as mudanas sociais do que as originando ( 2006,p.30-31),Se ainda havia uma resistncia quanto ao uso da internet no campo da pesquisa acadmica no final da dcada de 1990, tambm, ao mesmo tempo, surgiu um pensamento semelhante quando do nascimento dos primeiros jornais no sculo XVIII, a sociedade tambm sofreu pela ansiedade dos seus efeitos, assim como no advento da prpria tipografia quando escribas e lderes religiosos se mantiveram contrrios a este novo instrumento/prtica/fenmeno.Segundo a descrio deste mesmo autor o fenmeno da impresso grfica teve como forte aliado o transporte. Mas foi o telgrafo, ou seja, com a digitalizao do alfabeto no cdigo Morse no incio da primeira metade do sculo XIX que a distancia deixou ser um entrave para a comunicao, hoje realizada de forma instantnea, seja pelo envio de um e-mail[8], um recado em uma rede social[9], ou a atualizao de um site[10]A distncia que era diminuda pelo telegrama suprida pelo advento da inveno do telefone. Claudia Augusto Dias (1999, p.269) assevera: "[...] Milhares de anos depois, o homem se deparou com outras duas revolues: a revoluo da imprensa e a revoluo do computador." Dias ainda expe um esquema bastante interessante que demonstra este fato.

Figura 2 - As diferentes fases da comunicao da informao. DIAS, Claudia Augusto (1999)Esta autora assevera que a transio da "Era da Escrita para a Era da Imprensa" semelhante transio entre a fase da imprensa e a "Revoluo do Computador" expresso usada pela mesma autora, caracterizada por ser [...] uma transformao to profunda para o indivduo e para a sociedade [...] (DIAS, 1999, p. 269). Essa "transformao profunda" percebida pelo ritmo do tempo e pela instantaneidade, estamos vivendo um tempo aonde no se vai mais ao banco pessoalmente, seus clientes utilizam servios bancrios pela internet. Vivemos uma poca do predomnio do virtual. Manuel Castells publica no incio da dcada de 2000 uma obra que se tornou uma referncia no estudo do desenvolvimento da Era Tecnolgica intitulada "A galxia da Internet: reflexes sobre a Internet, os negcios e a sociedade", nesta obra retoma a histria da formao da Internet desde a Arpanet[11]no final de 1960 at o incio de sua popularizao na dcada de 1990.Em seu primeiro captulo, Castells faz um apontamento importante, segundo ele a internet s se tornou um fenmeno possvel graas ao conceito de rede, a internet, que surgiu de um projeto do Departamento de Defesa norte-americano com o intento de superar a tecnologia sovitica, dentro de um contexto de Guerra Fria[12]cria a Arpanet para desenvolver uma rede interativa de computadores, e isto ocorre de fato somente na dcada de 1990, como o referido autor descreve: "[...] o que permitiu a internet abarcar o mundo foi o desenvolvimento da www. Esta uma interface de compartilhamento de informao desenvolvida em 1990 por um programador ingls, TIM Bermers-Leee" (CASTELLS, p. 18).Guilherme Paiva de Carvalho Martins[13]faz apontamentos sobre a obra de Castells, segundo Martins (2006, p. 544):[...] conclui que a Era da Internet traz novos desafios para a humanidade. Tais desafios esto correlacionados com a instabilidade no emprego, a deteriorao do meio ambiente, a necessidade de regulao dos mercados e direcionamento da tecnologia, as desigualdades, a excluso social e a educao. Castells critica o sistema educacional atual, sustentando que, na sociedade em rede, seria preciso instituir uma nova pedagogia, fundada na interatividade e no aprimoramento da capacidade de aprender e pensar. Contudo, apesar de ser visualizada como um desafio para a sociedade em rede, a questo da educao no um tema central do livro, como o prprio autor reconhece na introduo [...]Os desafios da Internet referidos so problemas contemporneos, do sculo XXI, e que no devem deixar de ser mencionados. A crtica de Castells sobre a educao se faz necessria na medida em que a incluso digital s ocorre de fato, quando junto com equipamentos novos agregada uma nova concepo pedaggica. O fragmento textual nos d a dimenso das inmeras possibilidades em que a Internet pode ser examinada. De fato, a internet marca grande passo na histria da comunicao mundial, pois possibilita o acesso aos espaos de expresso e interao, mas questes como as mencionadas nesta fala necessitam ser analisadas igualmente.2 Virtual: uma nova possibilidadeO primeiro passo para uma liberdade de publicao de ideias se deu ainda no sculo XVIII, com o Iluminismo. Como movimento cientifico e cultural, os seus idealizadores almejavam a difuso do conhecimento e seu fcil acesso, j que at aquele momento a Igreja era detentora do poder sobre o conhecimento e, consequentemente, a cincia oficial era vinculada a esta instituio. Com o nascimento do movimento iluminista, houve um rompimento entre cincia e religio. Esta ruptura evidente e est bem exposta nos escritos de Voltaire (1712- 1778). Mas a ao que mais traduz este movimento de popularizao do conhecimento , sem dvida, a criao da Enciclopdia, um projeto audacioso cujo intento maior era o de colocar disposio de todos acesso ao conhecimento por via impressa.Quando se menciona o exemplo da Enciclopdia como um primeiro momento para a popularizao do conhecimento, estamos diante de um processo que continuaria a aumentar as possibilidades comunicativas ao longo dos sculos seguintes. Podemos afirmar que a internet um passo atual para a popularizao do conhecimento, e com a vantagem de ser um veculo de saberes que possibilita a preservao sem a materialidade fsica.No sculo XIX, um fenmeno que contribuiu para a comunicao entre locais distantes foi a inveno do cdigo Morse (data), depois, a do telefone, causando grande impacto nas sensibilidades da poca. Assim a internet, a partir do final do sculo XX, trouxe, sua maneira, inmeras possibilidades de integrao a um pblico cada vez mais globalizado.A sociedade mundial vive a presena da tenso entre o real e o virtual, que pode ser entendida inclusive como uma dicotomia. Pierre Lvy, na sua obra "O que virtual?", faz uma discusso filosfica bastante necessria sobre este conceito e suas relaes. Lvy demonstra uma inteno de refletir sobre a relao entre virtual e real, e suas primeiras consideraes so enfticas:[...] a palavra virtual empregada com frequncia para significar a pura e simples ausncia de existncia, a "realidade" supondo uma efetuao material, uma presena tangvel. O real seria da ordem do "tenho", enquanto o virtual seria da ordem do "ters" ou da iluso, o que permite geralmente o uso de uma ironia fcil para evocar as diversas formas de virtualizao [...] (LVY, p.15, 1997).O autor, ao divergir da pretensa dicotomia entre real e virtual[14], prope uma anlise do efeito do novo. Se filosoficamente, "[...] o real assemelha-se ao possvel; em troca, o atual em nada se assemelha ao virtual [...]" (p.16). Este mundo real colocado como um resultado e que como tal deve ser transformado em uma nova realidade futura.Nesta reflexo interdisciplinar entre a Filosofia e a Histria importante ressaltar que este fenmeno que, para Lvy, denominado processo de virtualizao leva abstrao real das coisas. O que no cabe ao historiador julgar seus mritos e possibilidades de verificao, e sim buscar alguma resposta para as causas deste acontecimento, seu sentido no processo, e sua ampla utilizao, fenmeno ocorrido em muito pouco tempo. Em ltima anlise, temos que abarcar como parte dos elementos do contexto histrico da expanso da internet as dvidas, as sensaes conflitantes e at mesmo a recusa, uma no aceitao justificada, por parte das geraes mais velhas e de um grupo significativo de jovens. Lvy (p.16, 1997) faz um apontamento bastante importante:[...] o virtual no se ope ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possvel, esttico e j construdo, o virtual como o complexo problemtico, o n de tendncias ou de foras que acompanha uma situao, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resoluo: a atualizao. [...]O que Lvy demonstra que h uma transformao permanente das coisas, e ns, como historiadores, podemos tentar entender a velocidade de como isso se d, mas tambm analisar as sensaes que esse processo pode provocar. Sua fala nos conduz para este entendimento: que falsa a ideia de que o real uma oposio natural ao virtual. Na verdade, o virtual para Lvy no somente a digitalizao que exemplificamos anteriormente, mas todo o processo de construo do novo em movimento, da possibilidade de existncia. Esta construo, que no fsica, se torna presente em nosso cotidiano.Ir paraSegunda Pgina

[1]Bacharel e licenciado em Histria pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Membro do GT Acervos: histria,memria e patrimnio vinculado ANPUH Seo Rio Grande do Sul (ANPUH-RS). Professor da rede pblica estadual do Rio Grande do Sul.[2]Ligiane Aparecida da Silva e Rosilene de Lima expuseram este texto na I Jornada Internacional de Estudos Antigos e VII Jornada de Estudos Antigos e Medievais. Realizado entre os dias 16 a 18 de setembro de 2009 promovido pela Universidade Estadual de Maring (UEM) e pelo Programa de Ps-Graduao em Educao, Departamento de Fundamentos da Educao, Departamento de Teoria e Prtica da Educao, Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao, Pr-Reitoria de Ensino e GTSEAM - Grupo Transformao Social e Educao nas pocas Antiga e Medieval[3]Post ou postagem em portugus so os artigos so todos os textos que publica nos blog. So compostos por duas partes ttulo e corpo do artigo e podem incluir imagens, vdeos ou outros contedos multimdia.[4]Flash a tecnologia mais utilizada na Web ou internet que permite a criao de animaes vetoriais. O interesse no uso de grficos vetoriais que estes permitem realizar animaes de pouco peso, ou seja, que demoram pouco tempo para ser carregadas.[5]A Reforma Protestante foi um movimento idealizado e preconizado pelo padre Martinho Lutero, onde este arquitetou mudanas na estrutura na Igreja Catlica, aos quais ficaram conhecidas como "As 95 teses de Lutero". As ideias de Lutero no foram aceitas pela cpula da Igreja que decidiu excomung-lo. Este por sua vez, fundou uma nova Igreja com o propsito de resgatar os valores do Cristianismo, tendo este movimento dado origem a formao de outros movimentos cristos, como Calvino que criou o Calvinismo na Frana, Henrique VII com a fundao da Igreja Anglicana na 2w33Inglaterra. Com a perda de fiis, a Igreja Catlica lanou um conjunto de medidas para conter a perda de seguidores a este movimento dado nome pelos historiadores de "Contra-Reforma"[6]O Movimento Renascentista pode ser definido como um movimento cientifico e cultural que perdurou entre os sculos XVI e XVIII. O segmento de maior notoriedade sem dvida, o das artes, mas este movimento influenciou um novo pensamento cientfico e social, este ltimo aspecto pode ser caracterizado pelo renascimento das cidades aps o trmino do Feudalismo (sistema econmico e social da Idade Mdia).[7]Como consta em seu Currculo Lattes possui: graduao em Pedagogia (2004) e Mestrado em Educao pela Faculdade de Educao da USP (2007). Atualmente aluna do Doutorado na FEUSP, bolsista FAPESP e pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Polticas Pblicas de Educao da FEUSP. Tem experincia na rea de Educao, com nfase em Polticas Pblicas, atuando principalmente nos seguintes temas: Direito Educao, Polticas Educacionais, Homeschooling, Estado e Educao, Igreja e Estado, Martinho Lutero. Disponvel em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=C147899. Acesso em: 28 nov. 2012.[8]Segundo o Dicionrio On-Line Babylon E-mail significa Electronic-mail, correio eletrnico, endereo eletrnico.Onde mensagens privadas entregues atravs de contas individuais. Este endereo indica o "lugar" onde voc tem uma caixa postal. Atravs do e-mail possvel enviar e receber mensagens, solicitar arquivos, informaes, fazer pesquisas e enviar comandos para operar computadores remotos que realizam tarefas para o usurio. Disponvel em: http://dicionario.babylon.com/e-mail. Acesso em 12 jul 2012[9]O Publicitrio e CEO da Agncia DigitalMarkketing.com em um breve artigo intitulado "Redes Sociais, um conceito mais antigo do que voc pode imaginar!" aponta que o termo surgiu na Sociologia e foi sendo aprimorado pelo matemtico Euler, que foi o responsvel pela teoria das redes e foi o criador da teoria dos grafos. Grafo um conjunto de ns, conectados por arestas que, em conjunto, formam uma rede. Artigo disponvel em: http://www.digitalmarkketing.com/2010/08/12/redes-sociais-um-conceito-mais-antigo-do-que-voce-pode-imaginar/#.T9eEcxf8sdo Acesso em 12 jul 2012[10]Uma espcie de "casa" virtual de uma pessoa, empresa ou instituio. um grupo de documentos HTML relacionados e arquivos associados que residem em um servidor (no caso, computador hospedeiro). A maioria dos sites tem uma home page como ponto inicial, funcionando frequentemente como uma espcie de ndice geral do site. Folha On-Line - Informtica On-Line. Saiba o que significam os termos mais complicados da informtica. Disponvel em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/sos_dic_qrst.shtml#R Acesso em 12 jul 2012[11]ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) Rede de longa distncia criada a partir de 1965 pela Advanced Research Agency (Agencia de Pesquisas Avanadas - ARPA, atualmente Defense Advanced Projects Research Agency, ou DARPA) em consrcio com as principais universidades e centros de pesquisa dos EUA, com o objetivo especfico de investigar a utilidade da comunicao de dados em alta velocidade para fins militares. conhecida como a rede-me da Internet de hoje e foi colocada fora de operao em 1990 [...] Fonte: Dicionrio da Internet. Disponvel em: http://dicionariodainternet.com.br/cgi-bin/wiki.pl?ARPANET Acesso em: 10/06/2012[12]A expresso Guerra Fria foi usada para designar o estado de forte tenso poltico-militar entre o bloco Ocidental liderado pelos Estados Unidos e o bloco de Leste liderado pela antiga Unio Sovitica (URSS) que se viveu durante quase toda a segunda metade do sculo XX, iniciada logo aps o final da Segunda Guerra Mundial[13]Doutor em Sociologia pela Universidade de Braslia (UNB)[14]A Humanidade vive em tempos em que cada vez mais o virtual est presente. Desde compras via internet crescem cada vez mais, os vales transporte esto num carto e no mais em fichas ou bilhetes, enfim so inmeros fatos que corroboram para uma virtualizao das relaes. Na condio de estudante de Histria, pensamos que preciso refletir seriamente sobre isso. Primeiramente o processo de virtualizao leva-nos a abstrao real das coisas.