os efeitos da crise nas empresas - página...

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Ano 9 nº 98 abril 2009 ENTREVISTA JENS LUNDSGAARD: REFORMA TRIBUTÁRIA PROPORCIONARÁ AO PAÍS AUMENTO DE RENDA E INVESTIMENTOS OS EFEITOS DA CRISE NAS EMPRESAS E MAIS O CRESCIMENTO DAS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS O CENTENÁRIO DE ROBERTO BURLE MARX

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Ano 9nº 98abril2009

EntrEvistA Jens Lundsgaard: reforma TribuTária proporcionará ao país aumenTo de renda e invesTimenTos

Os EfEitOs dA crisE nAs EmprEsAs

E mAisO crEscimEntO

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Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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A revistA IndústrIa BrasIleIra pAssou por uma grande transformação em 2003, quan-do deixou de ser um simples house organ. abrir o foco editorial foi parte de um am-plo processo de renovação empreendido pela própria cni, e que se centrou na maior efi-ciência e transparência da gestão, imprimin-do novo tônus à representação industrial.

nesses seis anos, Indústria Brasileira consolidou-se como veículo de suporte à de-fesa de interesses do setor produtivo. É hoje lócus de discussão de temas essenciais para toda a sociedade, incluindo a defesa de uma política fiscal responsável e de reformas nas instituições que permitam às empresas e ao País maior competitividade. suas reporta-gens têm fomentado discussões na mídia e têm sido objeto de editoriais em inf luentes veículos nacionais, como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo. graças à qualidade editorial, conquistou duas vezes prêmios da associação brasileira de comu-nicação empresarial (aberje).

o êxito permite agora mais um ousado passo.

a credibilidade de uma publicação exige anos de trabalho consistente. conquistá-la é essencial para o sucesso editorial, mas não suficiente. É preciso estar atento aos anseios da sociedade e dos leitores. Pesquisa recém-realizada com representantes de empresas industriais indicou o interesse crescente pela internet como meio de acesso a informações.

assim, Indústria Brasileira deixa de ser impressa, com esta edição do mês de abril, para assumir formato on-line arrojado. a mudança tem por objetivo maior interati-vidade com o público-alvo, a partir do uso das múltiplas ferramentas da internet. em junho, estará disponível para leitura no en-dereço www.cni.org.br/revista. a decisão permite igualmente a diminuição dos cus-tos de produção, algo de grande importân-cia para todo o setor industrial em períodos de crise como o atual.

as mudanças não param por aí. com-pletam-se com a chegada, em agosto pró-ximo, de uma publicação temática, editada trimestralmente e distribuída a formadores de opinião. a proposta é expandir o conhe-cimento sobre os documentos e insumos produzidos pela entidade e seus conselhos temáticos. Por essas instâncias passa grande parte das discussões dos assuntos de maior relevância para o desenvolvimento: infraes-trutura, educação, política econômica, meio ambiente, relações do trabalho, integração nacional e internacional e educação. são questões que compõem a agenda da indús-tria, que se confunde com a própria agenda da sociedade.

Indústria Brasileira segue com o pro-pósito de produzir análises relevantes sobre temas de interesse do País, ao mesmo tempo em que se torna acessível a um número maior de leitores, dentre os mais qualificados.

Novo cicloIndústria Brasileira deixa de ser um veículo impresso para estar disponível em projeto on-line arrojado. A publicação renova-se para aumentar a interatividade com seu público e diminuir custos de produção

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DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE); Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José de Freitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures (PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), Jorge Parente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis Benevides Gadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI); 1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO); 2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL); 1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT); 2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge Machado Mendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Prado de Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), João Francisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio André Guareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), Francisco Renan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco (SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio de Borges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCAL Titulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC); Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP), Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL Gerente executivo - Marcus Barros Pinto Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550 e-mail: [email protected]

ISSN 1519-7913 Revista mensal do Sistema Indústria

Coordenação editorial IW Comunicações - Iris Walquiria Campos

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

Redação Editor: Paulo Silva PintoEditora-assistente: Daniela Schubnel Editora de arte: Ludmila Araujo Revisão: Shirlei Nataline Colaboraram nesta edição: Carlos Haag, Flávio Castelo Branco, Luiza Pastor, Marcelo de Ávila, Paulo Delgado e Simone Cavalcanti

Publicidade Moisés Gomes - [email protected] Tel.: (61) 3323-1072

Impressão - Gráfica Coronário

Capa - Sean Davey/Australian Picture Library/Corbis

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

16 Capa efeitos da crise ainda se espalham como reação em cadeia no brasil;

exportações, mineração e bens duráveis são setores mais atingidos

22 Empresas consumidor dita os preços dos produtos, mesmo quando empresas

buscam novas estratégias para redução de custos operacionais

28 Reforma Tributária texto proposto pelo governo vai trazer crescimento econômico

e competitividade às empresas, segundo especialistas do brasil e do exterior

32 Negócios internet estimula modelo de negócios ousado, em que se atrai

consumidores por meio da distribuição gratuita de produtos

38 Educação Profissional em busca da competitividade, empresas apostam nas universidades

corporativas, que em 20 anos subiram de 10 para quase 500, no brasil

ARTIgo

50 CENA ECoNômICA Paulo delgado defende novas regras para contratos de trabalho, com

respeito à legitimidade, à legalidade e à cidadania trabalhista

SEçõES

6 LuPA

10 ENTREvISTA Jens lundsgaard, economista da ocde, diz que brasil esticou demais a

carga tributária e conta experiência dos países ricos

26 TENdêNCIAS ECoNômICAS desaceleração inédita na produção industrial deverá levar a crescimento

nulo do Produto interno bruto brasileiro em 2009

44 CuLTuRA Mostra em homenagem ao centenário do paisagista roberto burle Marx

revela outras faces de sua arte e circula por brasil e exterior

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GloBal Forum NordesteJoão Pessoa terá entre 15 e 17 de abril o Global Forum América Latina – Call For Action Nordeste. o evento faz parte de uma sequência de encontros que tem como objetivo debater e popularizar a inovação na educação para a sustentabilidade, e contará com o apoio das Federações de indústrias de todos os estados nordestinos. serão três dias de interação, onde os participantes terão a oportunidade de trocar experiências, discutir propostas inovadoras e criar uma rede que permitirá a formação de alianças empresariais. o encontro terá a coordenação do professor de administração norte-americano ronald Fry, que aplicará a metodologia Appreciative Inquiry (investigação apreciativa), criada por david copperrider na case western reserve University, de cleveland. a metodologia permitirá aos participantes investigar e refletir de forma coletiva, o que os auxiliará na construção e no desenvolvimento de projetos. serão apresentados também cases do Prêmio sesi de Qualidade no trabalho. Mais informações pela página eletrônica do evento (www.globalforum.com.br).

automação INdustrIalo senai gaúcho inaugurou no mês passado a escola móvel de automação industrial, que vai permitir à entidade oferecer ensino técnico de alta qualificação mesmo em localidades remotas do rio grande do sul. a escola tem sala de aula e oficina climatizada para 12 participantes, incluindo para pessoas com necessidades especiais. na lista de equipamentos, há computadores e bancadas didáticas de acionamento elétrico, dinâmico e estático. a escola móvel já tem programação completa até o final de 2009: vai a bento gonçalves, nova Prata, sapiranga e igrejinha. atualmente o senai do estado conta com nove unidades móveis sobre rodas, incluindo a recém-inaugurada, e mais 32 kits que podem ser transportados para qualificação de profissionais dentro das empresas.

matrIz eNerGétIca exemplaro relatório Desenvolvimento com Menos Carbono: Respostas Latino-americanas ao Desafio das Mudanças Climáticas, do banco Mundial, revela que o brasil conta com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e pode contribuir com suas políticas de redução do desmatamento. o documento foi divulgado no dia 18 de março, na sede da Fiesp, e demonstra também que, além de mais de 80% da energia produzida no País ser proveniente de fontes renováveis, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar pode reduzir de 70% a 90% as emissões de gases do efeito estufa, se comparado à gasolina. a íntegra da pesquisa está disponível para consulta na página eletrônica do banco Mundial (http://siteresources.worldbank.org/braZilinPoreXtn/resources/relatoriocarbono.pdf).

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Fórum NacIoNal da INdústrIa o Fórum nacional da indústria, órgão consultivo da diretoria da cni, examinou os desdobramentos da crise internacional sobre a economia brasileira. em comunicado divulgado após o encontro, realizado no dia 17 de março, os industriais avaliaram que as condições de crédito permanecem insatisfatórias, tanto em volume como em custo. o documento divulgado destaca também que é imprescindível adotar medidas de desoneração de investimento e de exportações e que o congresso deve eleger como prioritários projetos que contribuam positivamente para o ambiente institucional e de negócios.

escassez de áGuaa indústria está preocupada com o abastecimento de água das áreas muito povoadas do País, caso do sul, sudeste e áreas metropolitanas das demais regiões, onde a demanda já excede a oferta. a proposta da cni é que as estratégias de implantação do Plano nacional de recursos Hídricos (PnrH) priorizem zonas em conflito de uso da água ou em risco de desabastecimento. de acordo com o gerente-executivo de competitividade industrial da cni, augusto cesar Jucá, é necessária também uma mudança de cultura do uso do recurso. o modelo brasileiro de gestão de receitas provenientes da cobrança pelo uso da água é um avanço. no entanto, é preciso aprimorar a gestão do que é arrecadado. a cobrança do seu uso pela indústria já está implantada em duas bacias hidrográficas – Paraíba do sul / Piracicaba e capivari / Jundiaí, ambas localizadas na região sudeste – e adota os conceitos do usuário-pagador e do poluidor-pagador, para combater o desperdício. o Plano nacional de recursos Hídricos foi construído com a participação da sociedade civil, do estado e de usuários, tendo a indústria, responsável por 18% do consumo de água no brasil, como um dos principais integrantes.

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mBa para o setor púBlIcoo iel do acre lançou o primeiro Mba em gestão de Projetos para o setor público do estado, que teve sua aula inaugural no dia 31 de março. o objetivo é fortalecer a área técnica governamental, aumentando a capacidade de avaliação de oportunidades e a viabilidade técnica de projetos e programas. o novo curso, resultado de parceria com a Fundação getúlio Vargas (FgV), conta com apoio do governo do acre. a capacitação foi contratada pela secretaria de Planejamento (seplan), que já identificou a necessidade do curso para 250 funcionários que não estão na primeira turma. as aulas serão realizadas em rio branco, nas instalações do sistema Fieac. até julho, devem ser abertas novas turmas. o iel do estado oferece também outras pós-graduações com turmas abertas para a comunidade, como o Mba: gestão empresarial, gerenciamento de Projetos, gestão de negócios imobiliários e da construção civil, direito civil e Processual civil. Mais informações sobre este curso e outros pelo telefone (68) 3212-4271 ou por e-mail ([email protected]).

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edItal de INovaçãoestão abertas as inscrições para a 6ª edição do edital senai sesi de inovação. empresas de todo o País têm até o dia 30 de abril para, em conjunto com o sesi e o senai do seu estado, apresentar suas propostas. o edital, criado pelo senai, terá neste ano a participação do sesi e passará a contemplar também projetos que envolvem tecnologias sociais. Juntas, as entidades aportaram r$ 10 milhões para apoio aos projetos, além de r$ 2,5 milhões destinados a bolsas de desenvolvimento tecnológico industrial, cujos recursos são provenientes de convênio firmado em 2008 com o Ministério da ciência e tecnologia (Mct), por meio do conselho nacional de desenvolvimento científico

e tecnológico (cnPq). em edições anteriores, 70 projetos se tornaram realidade, permitindo o aperfeiçoamento de produtos ou processos, abertura de novos mercados, redução de custos, aumento da produtividade e geração de novos empregos. são vários casos de sucesso de desenvolvimento de produtos inovadores, como o revestimento de fibra de coco, que possui alto valor agregado e é ecologicamente correto; e a paçoca de soja, inédita, de alto valor nutritivo. de acordo com o gerente-executivo da Unidade de tecnologia do senai, orlando clapp Filho, o edital é um eficaz instrumento de auxílio na redução dos efeitos da crise econômica mundial. “a criatividade das empresas brasileiras somada ao desenvolvimento tecnológico e à transferência de tecnologia permitem inovação de produtos e processos, e se configuram em importantes agentes do aumento da competitividade industrial”, diz. o prazo para julgamento das iniciativas começa em 4 de maio e se encerra em 10 de junho. até o dia 16 de junho, serão divulgados os selecionados. os recursos serão liberados até 17 de agosto. saiba mais pelos sites do sesi e do senai.

Novo escrItórIoo iel paulista inaugurou, no dia 17 de março, seu segundo escritório, para atender ao aumento na demanda por cursos internacionais de capacitação executiva em gestão. “a procura por esses cursos praticamente dobrou desde o início da crise. estamos atendendo a demandas de empresas que precisam de ferramentas eficazes para apoiar a tomada de decisões”, disse o superintendente do iel, carlos cavalcante, durante a cerimônia de inauguração. com as novas instalações, que se somam ao escritório que o iel mantém hoje na sede da Fiesp, a instituição ganha um espaço mais adequado também para as entrevistas e dinâmicas de grupo do processo de recrutamento de estagiários. o novo escritório fica na alameda Ministro rocha azevedo, nº 38. os telefones são (11) 32631021 e 32630036.

aGeNda INterNacIoNal de eveNtosa rede de centros internacionais de negócios (cin) da cni pretende organizar 52 missões empresariais prospectivas neste ano, além de 236 seminários e cursos de capacitação em comércio exterior e 20 encontros internacionais de negócios. em abril, estão programadas missões para a cosmoprof, em bolonha, na itália; alimentária, em lisboa, Portugal; Hannover, na cidade de mesmo nome, na alemanha, e para o salão internacional do automóvel, em Milão, na itália, além de outras promovidas pelos cins dos estados. Mais detalhes na página eletrônica da rede cin: www.cin.org.br, pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (61) 3317-9457.

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arte arGeNtINao sesi de são Paulo apresenta até 14 de junho, na galeria de arte do sesi, na avenida Paulista 1313, a exposição 1961 – A Arte Argentina na Encruzilhada: Informalismo e Nova Figuração. o evento tem organização artística do Museo nacional de bellas artes, de buenos aires, e apoio da Pinacoteca do estado de são Paulo. obras de acervos particulares de diversos colecionadores argentinos estarão expostas gratuitamente. ao todo fazem parte da mostra 53 peças, entre telas, colagens e esculturas, produzidas de 1959 a 1962, 9 fotos e 16 catálogos de exposições do mesmo período.

INvestImeNto em INovação precIsa crescero empresário brasileiro investe pouco em inovação. a informação é da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2008, realizada há nove anos no País pelo instituto brasileiro de Qualidade e Produtividade (ibQP), e que conta com apoio do sesi e do senai do Paraná. entre os países que realizaram a pesquisa em 2008, o brasil conta com uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos novos e de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano no mercado. em uma lista de 43 países, considerando os empreendimentos iniciais com até três anos e meio no mercado, o brasil ocupa o 42º no ranking. Quando avaliados os negócios com mais de três anos e meio no mercado, o brasil ocupa o 38º lugar. do total de empresários ouvidos pela pesquisa, somente 3,3% afirmam que seus produtos podem ser considerados novos para os clientes.

QualIFIcação proFIssIoNal No paraGuaIo senai capacitou 10 mil jovens paraguaios para o mercado de trabalho na região do alto Paraná, na fronteira com o brasil. a ação é resultado de um convênio de cooperação técnica entre os governos brasileiro e paraguaio, que funciona há sete anos e foi renovado até 2011. Prevê a transferência de conhecimento e infraestrutura técnica, tecnológica e pedagógica do senai paranaense para a escola do serviço nacional de Promoção Profissional (snPP), em Hernandarias, município do Paraguai a 20 quilômetros de Foz do iguaçu. o convênio torna possível a formação de profissionais nas áreas de eletroeletrônica, metalmecânica, construção civil, informática, confecção e mecânica diesel. até 2011, a previsão é de formar mais 5.000 trabalhadores.

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Jens LundsgAArd

a resposta certaPara economista da OCDE, o Brasil dará exemplo a países desenvolvidos e sairá fortalecido da crise se o Congresso aprovar a Reforma Tributária

por daNIela schuBNel e paulo sIlva pINto

A ideiA de que A crise trAz oportuNidAdes tem sido repetidA como um mantra nos últimos seis meses, desde o agravamento dos problemas financeiros globais. Mesmo assim, muita gente não tem escutado a men-sagem, alerta Jens lundsgaard, economista-chefe do centro de adminis-tração e Política tributária da organização para cooperação e desenvol-vimento econômico (ocde). a entidade reúne 30 países desenvolvidos, responsáveis por 65% do Produto interno bruto (Pib) mundial.

a crítica de lundsgaard é dirigida exatamente a alguns dos integran-tes da ocde, que têm errado, na sua opinião, ao ajudar empresas ine-ficientes. Para ele, a resposta correta à crise é fazer com que os mercados se reorganizem. algo que o brasil conseguirá, explica, se o congresso aprovar a proposta de reforma tributária. ele afirma que o atual sistema de impostos brasileiros é ineficiente, injusto e defasado. Fica atrás do que existe em muitos países da américa latina.

caso a reforma seja aprovada, as empresas brasileiras serão mais efi-cientes e poderão crescer significativamente quando a demanda interna-cional for retomada. “em cinco anos haverá ganhos claros para o brasil”, disse lundsgaard em entrevista a Indústria Brasileira realizada no início de março. ele esteve no brasil como um dos palestrantes do seminário internacional de reforma tributária, promovido pela cni e pela comis-são especial de reforma tributária da câmara dos deputados.

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Jens LundsgAArd

Indústria Brasileira – O sistema tributário do Brasil é tão ruim quanto parece para nós, brasileiros?Jens Lundsgaard – É um sistema que definitiva-mente precisa de melhoras, não tão difíceis de implementar. a experiência da maior parte dos países membros da or-ganização para cooperação e desenvolvimento econômico (ocde) mostra que mudan-ças no sistema tributário incor-rem em trocas muitas vezes difíceis: você substitui um objeto de taxação por outro. a economia pode ficar mais eficiente, mas há consequências sociais ne-gativas. aqui, o que me surpreende, é que esse con-flito não existe.

IB – Como assim não há conflitos?JL – os principais elementos dessa reforma são bons para todos. não existem perdedores potenciais de fato no longo prazo. o coração da questão tributária no brasil é a taxação de produtos e serviços, cumu-lativa, que traz inúmeros problemas. Um deles é não permitir que a competência aflore, que os empre-

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sários foquem a realização e a estruturação de suas operações pelas vias econômicas mais eficientes. o icMs [imposto sobre a circulação de Mercadorias e serviços] não opera completamente como um iVa [imposto sobre Valor agregado], uma vez que existe a guerra fiscal entre os estados.

IB – Por que um IVA genuíno favoreceria o crescimento?JL – Há uma tendência de aprofundamento na glo-balização, o que torna as cadeias de fornecedores mais segmentadas. então, para ser realmente eficien-te, rentável e competitivo, é preciso terceirizar. no brasil isso é difícil, pois há um grande número de isenções para produtos e serviços que são produzidos em etapas intermediárias na própria empresa.

IB – O senhor diz que ninguém perde com a Refor-ma, mas alguns governadores não veem assim. Eles estão errados?JL – se observarmos a questão crescimento versus equidade, em dimensões sociais, aí não há troca. existirão complicações relacionadas à forma de dis-tribuição da renda para os estados. entretanto, está claro que o sistema atual não é ótimo para ninguém, e os ganhos dessa reforma são tão grandes que os

perdedores poderão facilmente ser compensados. ela é necessá-ria para que o brasil cresça. de tempos em tempos, as socie-dades têm de fazer concessões para, adiante, obter ganhos. o cerne da questão é que os ga-nhos dessa reforma serão am-

plamente distribuídos pela sociedade.

IB – Outras reformas não são assim?JL – não. Para explicar melhor isso, vou dar o exem-plo da reforma tributária que acabou de ser apro-vada no meu País, a dinamarca. Foi um processo muito difícil, politicamente, porque lá você tem taxas marginais de impostos extremamente altas [a progressividade do imposto de renda é mais acen-tuada do que no brasil]. Pessoas com salários apenas um pouco acima da média pagam um percentual marginal de impostos em torno de 63%. somado a isso temos taxas muito altas sobre o consumo, levan-

São raras as reformas como a brasileira, em que não se privilegia determinado grupo

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EntrE vista

do a uma totalidade de taxas de impostos marginais superior a 70%. isso não é bom. no entanto, para mudar a equação, é óbvio que pessoas com ganhos acima da média serão beneficiadas. de um ponto de vista estreito, você pode afirmar que essas pessoas se-rão beneficiadas às custas das que têm salários mais baixos. Por isso essa reforma é difícil: os ganhos concentram-se em um grupo.

IB – O sistema tributário brasileiro é pior que a média dos outros países?JL – a taxação de produtos e serviços pode trazer muita renda para o País, sem distorções. Mas isso só acontece se for bem estruturada. sob essa perspecti-va, o sistema tributário brasileiro não é muito bom. aliás, é bem ruim. É importante observar a renda que advém da taxação sobre o consumo, e quais são as alíquotas-padrão do iVa. o canadá, por exem-plo, consegue um valor justo de renda, com alíquotas não muito altas. ou seja, a base do iVa é ampla: não possui muitas distorções e produz muita renda. É di-ferente de um país como a França, que possui níveis muito elevados de iVa, mas não produz tanta renda.

IB – Por que a distorção no caso da França?JL – Há isenção sobre muitos produtos e serviços. na américa latina, o iVa está funcionando muito bem. sem uma alíquota muito alta, estão gerando grande arrecadação, na Venezuela, guatemala. o iVa é algo relativamente novo, não existia há 50 anos. Muitos dos países da ocde mudaram seus sistemas tributários nos últimos 40 anos. nem tudo o que fizeram deu certo. as contribuições para a se-guridade social, por exemplo, cresceram muito, o que está sendo revisto. Mas o iVa tem passado em todos os testes práticos. ninguém está voltando atrás. to-dos os países da ocde, com exceção dos estados Unidos, adotaram o iVa.

IB – Um obstáculo para os Estados Unidos adotarem o IVA é justamente o fato de que são uma federação, como o Brasil. Há muitos exemplos de países federativos que tenham adotado o IVA com sucesso?JL – Pode-se considerar a União européia [Ue] como um tipo de federação, que é muito maior do que os estados Unidos, e possui uma lei única, euro-

péia, sobre o iVa. a Ue funciona como um merca-do interno, em que o iVa funciona plenamente, sem os problemas que vemos no brasil, de guerra fiscal entre os estados.

IB – O que deu errado na Reforma Tributária que o Brasil fez em 1967?JL – não conheço a reforma em detalhes, mas podemos considerar o icMs um tipo de iVa, ainda que imperfeito. Mesmo que o brasil tivesse implantado um verdadeiro iVa há mais de 40 anos, teria de reformá-lo agora. os sistemas tri-butários dos países da ocde mudaram muito desde então. É surpreendente que o brasil tenha feito sua última reforma há tanto tempo, sem aperfeiçoá-lo depois, porque houve mudanças na natureza dos negócios, nas preferências políticas etc. Por exemplo: o custo dos transportes bai-xou dramaticamente, graças a uma inovação, os navios-contêiner. também em 1967 não havia empresas se planejando globalmente, com fábri-cas baseadas em diferentes continentes, como existe hoje. o sistema tributário deve permitir essa integração.

IB – Há críticas em relação à não introdução do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] no cálculo do IVA que consta da proposta da Reforma Tributária. O que o senhor pensa disso?JL – Penso que é uma questão de simplificação. a reforma é um grande passo adiante. como não há uma reforma desde 1967, isso pode fazer com que as pessoas fiquem muito ambiciosas, buscando algo perfeito, e o resultado é que nada acontece. não recomendo que se faça uma coisa excessivamente complicada. em cinco anos haverá ganhos claros para o brasil.

Não é mais possível ter um sistema tributário criado em 1967. O mundo mudou bastante

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Jens LundsgAArd

IB – As estimativas do Ministério da Fazenda quanto aos ganhos para o PIB são realistas?JL – não conheço os detalhes, mas me parecem sen-satas. a diferença entre o nível de renda do brasil em relação à média dos países da ocde é grande. a ren-da do brasil pode crescer muito. Para isso são neces-sários melhores fatores de produção, o que depende muito da educação. também é preciso mudar a natu-reza da economia, reorganizar os negócios, para que se possam usar todos os enormes recursos que existem no brasil, tanto humanos como naturais. o brasil ra-pidamente alcançará os países mais ricos do mundo se você deixar os mercados se reorganizarem.

IB – Considerando especificamente os países emergentes, nós temos um sistema tributário melhor ou pior do que, por exemplo, Índia ou Rússia?JL – É preciso considerar que a carga tributária no brasil é muito alta em relação ao Pib. nos países da ocde os níveis ficam pouco acima de 40%. sué-cia e dinamarca estão em torno de 50%, e México lá embaixo, com 20%. o brasil é não somente o mais alto entre os países latino-americanos: é o mais alto com uma larga margem. também é mais alto do que muitos países da ocde, como Japão e estados Uni-dos. china e Índia têm níveis de carga tributária bem menores que o do brasil, que esticou ao máximo o que pode recolher de tributos. Uma carga tributária do tamanho da que existe no brasil encoraja a sonega-ção de impostos. a percepção de muitos é que os im-postos que pagam não estão sendo usados de uma boa forma, enquanto na maioria dos países latino-ame-ricanos as pessoas estão satisfeitas. Muitos países da ocde testaram os limites de arrecadação ao máxi-mo e acabaram aprendendo. suécia e dinamarca hoje claramente querem reduzir sua carga tributária, para melhorar a percepção de que é justa. Há problemas nesses países com profissões específicas, como traba-

lhadores da construção civil que vão para o mercado informal. no brasil, a carga tributária não é horizon-talmente uniforme; empresas com o mesmo perfil negociam separadamente suas alíquotas. em um país pobre não pode haver a mesma pressão tributária que em um país rico. ainda que não seja um país pobre, o brasil tem muitas partes pobres. também não pode-mos esquecer que se trata de um país que não foi uma democracia por muito tempo. Provavelmente haveria um sentimento maior de justiça, de equidade, se as alíquotas de impostos fossem mais baixas.

IB – A maior parte das pessoas no Brasil concorda com isso, mas aí está o problema: espera-se que a Reforma Tributária diminua a carga, e não é essa a ideia da atual Reforma.JL – essa é uma questão complicada. a carga tributá-ria total, comparada ao Pib, provavelmente não bai-xará tanto num primeiro momento, particularmente devido ao momento difícil que estamos atravessan-do, de uma recessão econômica mundial. nós não sabemos a profundidade dessa crise, e nem quanto tempo vai durar. sabemos que será muito profunda. e quanto mais profunda for, mais as receitas fiscais vão diminuir. o brasil, como todos os países, vai ficar com o equilíbrio fiscal pressionado. e não po-derá se dar o luxo de cortar taxas para estimular a economia. o foco para baixar os tributos deveria ter uma abordagem mais estruturada e gradualista. na maior parte dos países da ocde, o que se fez foi ampliar a base, para poder baixar as alíquotas. É ex-traordinário como o imposto de renda das empresas baixou nos países da ocde, e apesar disso a receita aumentou bastante. isso se consegue acabando com isenções. no brasil, pode-se trazer as pessoas para a economia formal. a redução das contribuições para a seguridade social, que consta da atual proposta de reforma, claramente vai nessa direção. Mas temos de ser realistas: trazer as pessoas para o setor formal não ocorrerá só com a redução dos tributos. deverá haver também um entendimento, uma vontade de respei-tar a lei e entrar para o mercado formal, e para isso é necessário entendimento político. Um fator muito importante para o crescimento econômico é a com-petição. as empresas devem competir em termos iguais para que os mais eficientes vençam. Quando

A carga tributária é excessiva no Brasil, mas

será difícil reduzi-la durante a crise

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EntrE vista

se tem muita informalidade, não há competição em termos iguais.

IB – Os prazos para a implementação da Reforma não são excessivamente longos?JL – se for muito rápido haverá um sentimento de que não foi uma boa reforma, porque a máquina pú-blica não será capaz de implementá-la corretamente. existem sempre prós e contras quanto à velocidade da implementação de qualquer reforma. Mas de novo voltamos ao ponto de que o ótimo não deveria ser ini-migo do bom. não podemos desistir da reforma só por causa do debate sobre a velocidade de sua imple-mentação. Um dos principais argumentos em defesa de maior velocidade é a preocupação que a reforma pare no meio do caminho, não se complete, em fun-ção de mudanças políticas que possam acontecer. Um argumento a favor de maior paciência, porém, é que o brasil está crescendo rapidamente, é uma socieda-de que está mudando bastante, e que portanto ainda precisa construir instituições. e o sistema tributário não pode ser visto como um “leão”, deve ser percebido como uma instituição mais legítima. então acho que talvez, por isso, o gradualismo seja uma boa solução.

IB – A crise mundial poderia ser um obstáculo para que a reforma seja aprovada no Brasil?JL – Fico muito feliz com essa pergunta. aqui é pre-ciso fazer uma crítica a alguns países da ocde. Vou demonstrar isso com um exemplo: no início dos anos 1990 a Finlândia enfrentou uma crise econômica enor-me, com enormes similaridades em relação ao que está acontecendo globalmente. Havia problemas no setor financeiro e perdas nas demandas de expor-tação. como reagiram os finlan-deses? decidiram que tinham que sair mais fortes, inovar, criar novos produtos e tecnologias. É surpreendente que em muitos países da ocde o debate não esteja ocorrendo hoje dessa forma. as pessoas não se perguntam como po-demos sair mais fortes da crise. Preocupam-se com o curto prazo, e algumas soluções encontradas trarão problemas no longo prazo. tentam salvar empresas que não deveriam salvar, pois não produziram lucro

em muitos anos, e estão na verdade tentando resistir às mudanças que vêm com a crise. essa é uma fonte de preocupação para as políticas econômicas, em alguns casos, nos países da ocde. todos temos que pensar de que maneira reagimos à crise, de uma forma que possamos ficar mais fortes. no brasil, essa reforma é tão importante agora quanto antes da crise. o desa-fio continuará o mesmo: melhorar as condições para a reorganização do sistema produtivo. isso precisa ser resolvido agora para que, quando a economia mundial

se recuperar, as empresas brasi-leiras estejam lá fora, competin-do e reagindo às novas deman-das e oportunidades. Melhorar o icMs, acabando com a guerra fiscal entre os estados, trará uma grande vantagem para o brasil. nos países da ocde, a neces-

sidade de reorganização em resposta à crise está sendo subestimada. as crises podem trazer saltos positivos, mudanças extraordinárias em alguns padrões. Países de baixa renda, hoje, se souberem tomar as melhores decisões, poderão sair desta crise com um crescimento verdadeiramente forte.

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O sistema tributário precisa ser visto como instituição legítima,

não como um leão

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CApA

como a indústria atravessa a criseOs setores de bens de capital e bens duráveis, concentrados no Sul e Sudeste, sofrem mais com a retração econômica. Os de alimentos e construção, menos

por sImoNe cavalcaNtI

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seis meses depois do AgrAvAmeNto dA crise fiNANceirA globAl, Não restAm mais dúvidas de que seus efeitos foram internalizados no País e se disseminaram de norte a sul, ainda que de modo desigual em diferentes regiões e setores. os mais atingidos foram os negócios sensíveis ao crédito e à demanda externa, cuja redução provocou uma freada brusca na produção. a mineração sofreu bastante com a queda dos embarques para o exterior, e também, ainda que de forma menos acentuada, a agroindústria exportadora. no caso do setor de bens duráveis, o aperto do crédito foi especialmente prejudicial, atingindo a operação do negócio e também a capacidade de compra do consumidor. Fabricantes de máquinas e equipamen-tos, os chamados bens de capital, enfrentam esse duplo problema do crédito e mais um: a queda na deman-da pelos produtos de seus clientes, que assim adiam planos de investimentos. Por conta das intrincadas relações entre os negócios, os impactos da crise es-

tão longe do fim. “a reação em cadeia ainda se espalha pelo brasil”, explica

isabella nunes, técnica do instituto brasileiro de geografia e estatística (ibge), responsável pelo levantamento mensal sobre a produção da indústria.

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MMONTADORAS tiveram produção

24% menor no primeiro

bimestre de 2009 em comparação

com o mesmo período de 2008

os efeitos indiretos da crise vão muito além da pro-ximidade geográfica. a retração da agroindústria em goiás, por exemplo, fez recuar a fabricação de máqui-nas agrícolas e insumos, como fertilizantes e adubos, nos estados do rio grande do sul, Paraná e Minas gerais. segundo a associação nacional dos Fabrican-tes de Veículos automotores (anfavea), houve declínio de 1,8% nas vendas internas de máquinas agrícolas no primeiro bimestre deste ano frente ao mesmo período de 2008. na mesma base de comparação, a fabricação de veículos automotores no País recuou 24,1%.

a queda na indústria automobilística puxou consi-go os segmentos de borracha, de metalurgia e o quími-co dos demais estados fornecedores de matéria-prima para o setor, como santa catarina, rio de Janeiro, bahia, ceará, Pernambuco e amazonas. Para ter uma ideia de alguns desses prejuízos, nove empresas catari-nenses que representam cerca de 30% do total insta-lado no estado apresentaram recuo de 39,8% no fa-turamento de janeiro ante um crescimento de 16,2% no mesmo mês do ano passado, segundo o sindicato nacional da indústria de componentes para a indús-tria de Veículos automotores (sindipeças).

outro exemplo desse efeito dominó pode ser visto na produção de celulose. o menor volume de compras por outros países, como a china (as exportações totais do produto recuaram 5,2% em janeiro, na compa-

ração anual), provocou uma diminuição no nível de atividade das fábricas no espírito santo, na bahia e no rio grande do sul. em pouco tempo, os fornecedores de equipamentos da indústria também sentiram retra-ção nas encomendas.

Um dos setores menos afetados pela situação atual foi o de alimentos, segundo nunes, do ibge, graças ao que ela classificou como “sistema híbrido de demanda”: um mercado consumidor de 190 milhões de pessoas e uma porta aberta ao exterior para escoamento do excedente. Por um lado, os níveis de renda do brasileiro não sofre-ram grandes mudanças, dando suporte ao consumo in-terno. Por outro, os pedidos dos mercados internacionais por alimentos não caíram como os de outras commodities (minério de ferro, por exemplo), o que contribuiu para manter as vendas e preservar a sua cadeia produtiva.

de acordo com informações da associação brasileira das indústrias de alimentos (abia), a produção aumen-tou 4,18% em 2008, ante um crescimento de 3,76% em 2007. as vendas reais fecharam o ano 1,62% mais ele-vadas, ainda que o percentual de expansão tenha sido menor do que o registrado no período anterior (2,48%).

a crise atual é grave por ter atingido de uma só vez dois propulsores econômicos: o crédito interno e os volumes transacionados do brasil com o mundo. Pesquisa realizada por Indústria Brasileira com as Federações de indústrias de todo o País apontou o

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problema no sistema de financiamentos como um dos responsáveis pela retração industrial.

o encarecimento dos empréstimos para a indústria é consequência da escassez global de crédito, devida, principalmente, à maior aversão ao risco no sistema fi-nanceiro. além da redução da oferta, houve aumento na demanda, pois empresas brasileiras que antes captavam no exterior passaram a procurar empréstimos no merca-do interno. segundo andré rebelo, gerente do depar-tamento de Pesquisas e estudos econômicos (depec) da Fiesp, 25% da oferta externa de crédito desapareceram.

o movimento resfriou os ânimos de uma indús-tria que crescia a uma taxa média mensal de 6,4% en-tre janeiro e setembro do ano passado. o colapso que se seguiu afetou fortemente o setor de bens duráveis, como veículos, geladeiras e outros equipamentos, que depende mais da disponibilidade de financiamento, tanto para o consumidor como para seu próprio fun-cionamento, na compra de insumos e equipamentos.

aliada à dificuldade de obtenção de recursos, a re-dução da confiança do empresariado em relação ao fu-turo levou à queda da produção de máquinas e equipa-mentos nas regiões sul, sudeste e norte. isso se tornou perceptível nas contas nacionais, em que se vê a brusca queda nos níveis de investimento da economia.

o conjunto desses setores arrefeceu os fornos das side-rúrgicas e o fornecimento de aço no País. de acordo com o instituto brasileiro de siderurgia (ibs), a produção des-pencou 39% em fevereiro passado na comparação com igual período de 2008. “Há uma convicção de que a que-da na produção verificada em dezembro foi exagerada. isso justificou certa elevação da produção em janeiro. no entanto, consideramos que o final de 2008 e o primeiro semestre deste ano serão os piores momentos”, afirma o presidente da Fiemg, robson braga de andrade.

“o principal problema é o crédito, que ficou escasso e caro”, enfatiza o presidente da Fiep, rodrigo da ro-cha loures, baseando-se em pesquisa realizada com 510 pessoas de 200 empresas de todos os setores industriais paranaenses. do total de participantes, 70% responde-ram ainda estar sofrendo com a crise. os empresários locais perderam, em média, 16% do faturamento.

a falta de crédito também foi sentida de maneira “drástica” pelas fábricas instaladas na região amazô-nica, explica antonio silva, presidente da Fieam (Fe-deração das indústrias do estado do amazonas). os

setores mais atingidos, segundo ele, foram os de mo-tocicletas, eletroeletrônico, metalúrgico e plástico, que reduziram o ritmo da atividade desde outubro e che-garam a níveis bem mais baixos em janeiro. o desem-penho da indústria amazonense, como um todo, caiu 23,1% em relação a janeiro do ano passado, a maior queda desde 2002.

“entramos no ciclo vicioso da economia por conta do impacto abrupto dessa turbulência”, afirma Fernan-do Montero, economista-chefe da corretora convenção e ex-secretário-adjunto de Política econômica do Minis-tério da Fazenda. a contração da demanda internacio-nal foi extremamente rápida. os ventos de bonança dos

Governos estaduais respondem à criseOs governos estaduais têm visto sua arrecadação despencar por conta da queda na produção. Em Minas Gerais, por exemplo, houve retração da receita com tributos de 12% em dezembro e de 18% em janeiro. O governador mineiro, Aécio Neves, ampliou o prazo de recolhimento do ICMS e autorizou o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) a ampliar linhas de financiamento.

Em outros estados onde a produção industrial também é significativa há empenho na adoção de medidas para mitigar a crise. A exemplo do governo federal, que anunciou maior volume de recursos para obras de infraestrutura no PAC, o governador de São Paulo, José Serra, afirmou que destinará R$ 20,6 bilhões dos cofres do Tesouro do estado para as áreas de transportes, saneamento, habitação, educação e segurança.

O objetivo, segundo Serra, é favorecer a demanda neste início de ano para evitar que a economia caia em uma espiral negativa. “Se a economia entrar na espiral da crise, o impacto será negativo mesmo depois que a causa desapareça”, afirmou Serra, lembrando que aproximadamente 40% do recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é proveniente das indústrias.

O governador paulista também prorrogou até o final deste ano a redução, de 18% para 12%, da alíquota do ICMS que incide sobre vinhos, perfumes, cosméticos, produtos de couro e de higiene pessoal, instrumentos musicais, brinquedos e alimentos.

O estado do Amazonas suspendeu de janeiro a março a cobrança da alíquota de 25% do ICMS referente à energia elétrica para o setor de motocicletas. O segmento também ganhou ampliação dos incentivos fiscais que subiram para 75% pelo prazo de 90 dias. O consumidor também foi diretamente beneficiado, por meio da isenção do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) até o final do ano.

No Mato Grosso, o governo criou um programa para dar prioridade ao licenciamento ambiental de todos os projetos que possam demandar investimento da iniciativa privada. Além disso, o governo está acelerando a construção de casas populares, rodovias e outras obras.

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últimos cinco anos haviam inflado investimentos em infraestrutura, em especial nos países asiáticos, levando o preço das commodities metálicas ao maior patamar já visto, mas o quadro mudou de forma drástica no final do ano passado e no início deste ano. tal situação levou os estados do espírito santo e Minas gerais, grandes produtores e exportadores de minério de ferro, a amar-gar as maiores quedas regionais de produção. segundo o ibge, a retração em janeiro ante o mesmo período de 2008 foi de 33,2% e 28,9%, respectivamente.

Prova disso são os embarques previstos para a econo-mia capixaba, que devem ser reduzidos em 30% e che-gar a Us$ 7 bilhões, em comparação com os Us$ 10 bi-lhões registrados em 2008. cinco produtos representam 94% da pauta: mineração, aço, celulose, café e rochas. entre os estados, o espírito santo é o que tem a maior proporção de comércio internacional em relação ao seu Produto interno bruto (Pib), cerca de 50%.

em Minas, além dos problemas enfrentados pelo setor extrativo mineral, diz braga de andrade, da Fiemg, a me-talurgia básica ainda sofre com a redução das encomendas no mercado doméstico. como resultado da menor pro-dução, a demanda de energia no mês de janeiro caiu 25% no estado. “os setores mais tradicionais, como alimentos e bebidas, têm sentido menos, já que não são tão dependen-tes do crédito para a concretização da venda final”, disse.

ainda que o setor de alimentos tenha sido menos atingido que os demais, estados em que a agroindústria é voltada ao comércio exterior vêm sofrendo com a cri-se de modo significativo. É o caso de tocantins e Mato grosso do sul, entre outros. segundo o presidente da Fieto, eduardo Machado, os frigoríficos do tocantins sentiram a diminuição do consumo internacional e nacional. “isso desencadeou uma série de problemas”, afirma. no Mato grosso do sul, 12 frigoríficos de carne bovina e de aves fecharam as portas. com isso, 15 mil trabalhadores foram demitidos. de acordo com o presidente da Fieac, João Francisco salomão, a crise financeira reduziu o valor da arroba no acre, de r$ 67,00 em dezembro para r$ 60,00 em março. “os frigoríficos estão exportando menos, já que os princi-pais consumidores, como os países da União européia, estão comprando menos. além disso, os embarques de castanha e madeira também foram reduzidos”, diz.

entre as unidades da Federação, a menos atingida é o distrito Federal, que tem sobretudo indústrias de micro,

a crise na avaliação dos empresáriosNa comparação com dezembro de 2008, os impactos da crise sobre a sua empresa

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No primeirosemestrede 2009

No segundosemestrede 2009

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Face à crise internacional, quais as medidas já adotadas pela empresa com relação a seus trabalhadores?*

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Outros

Suspensão do contrato /bolsa qualificação

Contratação de novosempregados

Criação de programa dedesligamento voluntário

Redução da jornada de trabalho e salários

Adoção de banco de horas

Concessão de férias coletivas

Suspensão de contrataçõesplanejadas

Demissão de empregados /suspensão de serviços terceirizados

Qual deve ser o foco das ações governamentais para contornar os efeitos das crise?*

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Outros

Aumento da oferta definanciamento para investimento

Facilitação do uso decréditos tributários

Ampliação do prazo derecolhimento de tributos

Aumento da oferta de financiamento para capital de giro

Redução dos juros e dospread bancário

Redução de tributos

FONTE: CNI*A SOMA DOS PERCENTuAIS SuPERA 100% DEVIDO à POSSIBILIDADE DE MúLTIPLAS ASSINALAçõES.

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pequeno e médio porte, com foco na demanda local, que não tem diminuído. “o fato de concentrar a adminis-tração pública federal dá ao consumidor um poder de compra acima da média nacional e garantia do emprego estável”, explica o presidente da Fibra, antonio rocha. trata-se, porém, de um caso excepcional no País.

Pesquisa da cni revelou que 83% dos empresários ainda sentem os impactos da crise em seus negócios. a percepção de 79% dos consultados é que os três primei-ros meses do ano estão sendo até mesmo piores do que dezembro de 2008. a pesquisa foi feita na primeira quin-zena de março com 431 empresas de todos os portes em 30 setores industriais de 24 estados e o distrito Federal (veja gráficos na página ao lado).

apesar da constatação dos problemas, há otimismo. Para 35% dos industriais, a turbulência será superada no ano que vem. Há 12% mais pessimistas, que esperam recuperação só depois de 2010. Mas 31% responderam acreditar que os problemas relacionados à situação serão superados neste ano mesmo.

a projeção da tendências consultoria é que a produ-ção industrial brasileira, em seu conjunto, registre uma retração de 5% neste ano na comparação com 2008. ca-mila saito, da equipe de economistas da empresa, explica que a região sudeste terá desempenho pior do que a mé-dia apontada, pois concentra grande parte da indústria de máquinas e equipamentos, de veículos de transporte e de metalurgia. os três estados do sul também têm participa-ção desses três segmentos, e um agravante: a agricultura da região já vinha sendo atingida por problemas climáticos.

a região norte é um caso à parte. segundo saito, a produção dos três segmentos, também presentes ali, será compensada pela indústria extrativa mineral. depois do choque na queda da produção, nos últimos meses, ha-verá um incremento, graças aos projetos para extração e transporte do gás natural, que integram o Programa de aceleração do crescimento (Pac) do governo federal. “isso fará a diferença nos números globais dessa região”, afirmou a economista. ainda assim, a perspectiva anual da região é de desempenho negativo.

salomão, da Fieac, afirma que há muitos investi-mentos sendo feitos na área de infraestrutura e sane-amento com recursos do banco nacional de desen-volvimento econômico e social (bndes) e do banco Mundial, o que tem compensado em parte a queda na produção da agroindústria. segundo o presidente, o go-

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A RENDA DO CONSUMIDOR não teve perda, o que garante a demanda por produtos alimentícios

verno estadual tem centenas de obras contratadas e em processo de licitação até 2010. com a construção civil aquecida, todos os setores da cadeia acompanham: ma-deireiro, mobiliário, cerâmico, mineral, provocando, assim, a melhora dos índices da indústria no estado.

o centro-oeste – especialmente goiás – e o nor-deste mostrarão menor desaceleração que o conjunto da economia brasileira. segundo camila saito, da tendências, a agroindústria, com predominância nas duas regiões, terá recuperação da demanda e puxará o aquecimento. “o agronegócio será um dos menos afetados pela turbulência, o que pode levar as regiões a ter uma alta moderada de sua produção.”

Montero, da convenção corretora, complementa o raciocínio, explicando que os estados do nordeste são os mais beneficiados pelos programas de transfe-rência de renda do governo federal. isso fará com que o consumo não se restrinja tanto quanto em outros estados onde o rendimento da população deriva, so-bretudo, da iniciativa privada.

além disso, diz, há boas perspectivas para o futuro próximo da economia brasileira. de acordo com Monte-ro, o brasil tem o que chama de amortecedores para enca-rar a crise: juros com espaço para redução, investimentos públicos com espaço para aumento, crédito direcionado, inflação sob controle e a renda do trabalhador estável, por enquanto. rebelo, da Fiesp, lembra que, com a maior restrição ao crédito, as opções de compra do consumidor vão mudar. “se fica mais difícil comprar um bem durável, sobra mais dinheiro para os alimentos”, afirmou.

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empresAs

lipo operacionalReduzir custos é uma preocupação das empresas eficientes em qualquer cenário. Mas não há como negar que momentos de incerteza incentivam novos esforços

por luIza pastor, de são paulo

em tempos de iNstAbilidAde ecoNômicA, A demanda do consumidor costuma ser a mais difí-cil incógnita nas planilhas de custos de qualquer empresa. beirando o imponderável, o comporta-mento dos mercados precisa ser balizado à luz de informações voláteis e influenciadas por fatores os mais variados, que se materializam em tempo real, impactando todo o planeta. aliviar os custos fixos se torna, assim, mais do que em qualquer outro momento, prioridade absoluta das áreas de planeja-mento de produção.

“reduzir os custos de produção é uma preocu-pação constante da nossa empresa, não é algo que se dá apenas em função deste momento de dificul-dades internacionais”, conta ricardo Monteiro, gerente da reckit & benckiser, fabricante de pro-dutos de higiene doméstica. com marcas de alto preço como os tira-manchas Vanish e a linha de multiuso Veja, que têm boa parte de seus insumos cotados em dólar, a empresa optou por apostar na capacidade de seu consumidor perceber os diferen-ciais das marcas em termos de resultados. “temos consciência de que não é a indústria que define o preço real de um produto. o consumidor é quem diz quanto está disposto a pagar pelo que é ofereci-do. se ele achar que não vale, não vendemos. nosso produto, no caso de Vanish, por exemplo, sai pelo mesmo preço de quatro caixas de sabão em pó de boa qualidade, suficientes para um mês de lava-

gens, em média”, contabiliza ele. “só que o Vanish traz soluções que outros produtos não conseguem oferecer e ele também deve durar um mês para esse mesmo consumidor. Uma versão com menor quan-tidade seria mais cara por causa da embalagem, que encarece o produto final”, acrescenta.

a saída para a reckit & benckiser, assim, foi promover uma ampla reformulação de processos na produção, bem como a revisão do aproveitamento de gás e energia elétrica. a renegociação dos pre-ços dos insumos também foi adotada como regra, principalmente no caso das commodities, cotadas em dólar. com essas medidas, a empresa acredi-ta poder manter a curva de crescimento de vendas de dois dígitos que vem registrando nos últimos anos. “Historicamente, temos crescido pelo menos duas vezes mais que a nossa categoria no mercado e, mesmo que não cheguemos a tanto desta vez, ainda deveremos ter um aumento de dois dígitos em 2009”, garante Monteiro.

agregar tecnologia aos processos produtivos é uma das soluções mais adotadas em grandes em-presas como a general electric (ge). comemoran-do que 2008 foi o primeiro dos 90 anos de história da empresa no brasil em que o faturamento, de Us$ 3,3 bilhões, superou o do México, João ge-raldo Ferreira, vice-presidente de Marketing para a américa latina, ressalta como principal elemento do que define como “atitude interna responsável”

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o investimento na modernização das linhas de pro-dução como principal fator de redução de custos.

“no ano passado, inauguramos duas unidades no brasil, uma em contagem (Mg), para expan-dir a produção de locomotivas de grande porte, e outra em sorocaba (sP), para equipamentos de tra-tamento de água. em ambas procuramos adotar as últimas vertentes tecnológicas, de modo a via-bilizar a maior redução de custos possível”, explica Ferreira. a mesma estratégia está sendo seguida em outra unidade que será inaugurada ainda este ano, para fabricar equipamentos para a linha de health care, também em contagem. outra medida ado-tada pela empresa nesse sentido foi a redução da periodicidade das reuniões de diagnósticos opera-cionais, que antes ocorriam trimestralmente e ago-ra são mensais, e as de monitoramento, que de três semanas passaram a ser semanais. “esse monitora-mento mais atento gerou adequação dos processos. não é filosofia da empresa reduzir custos cortando funcionários, mas adaptando nossos quadros às de-mandas detectadas junto ao mercado.”

se algumas empresas ousam falar em revisão de processos produtivos com otimização das plan-

tas e remanejamento do quadro de funcionários, a maioria dos segmentos prefere não comentar as soluções encontradas para evitar ou minimizar o impacto sobre os custos. o receio manifestado por seus porta-vozes é que o consumidor entenda, equi-vocadamente, que a produção pode estar utilizan-do matéria-prima de qualidade inferior ou insumos menos confiáveis, afetando a imagem das marcas.

preocupação com a ImaGem

“se dissermos ao mercado que estamos procuran-do fornecedores alternativos, na Índia por exemplo, para compensar o aumento dos custos provocado pela alta do dólar, nosso consumidor pode achar que os medicamentos a que ele está acostumado não são mais tão confiáveis quanto eram com os insumos tradicionais”, confidencia o executivo de uma multinacional farmacêutica que admite ter trocado recentemente algum fornecedor em pelo menos 30% de sua linha de medicamentos.

no mesmo caso da indústria farmacêutica está a de alimentos, em especial os fabricantes de pro-dutos diferenciados, aqueles que alcançam os pre-ços mais altos nas prateleiras dos supermercados. “a troca de conservantes pode alterar o prazo de validade dos produtos. Mesmo que fazendo uma alteração com respeito à margem de segurança, sem alterar a qualidade do produto, o consumi-dor, ao saber disso, pode ficar desconfiado”, diz o diretor de uma das líderes de mercado na área de laticínios. nesse mercado, como no caso anterior, a renegociação de preços e a busca de alternativas de fornecedores de insumos tem sido incansável, com impacto significativo na ponta da produção do agronegócio. “nós dissemos aos produtores que eles precisariam reduzir suas margens de lucro, pois as nossas também foram reduzidas pela falta de capacidade do mercado de absorver repasses de altas como as de energia, câmbio e salários”, afirma o executivo.

tradicionalmente grandes consumidores de energia, alguns fabricantes de cimento também estão fazendo malabarismos para equilibrar suas planilhas de custos a um preço viável para um mercado interno francamente aquecido pelas obras D

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FERREIRA, da GE: reuniões

para avaliação de processos

passaram a ser mais frequentes

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w w w.cni.org.br indústr i a br asileir a 25

empresAs

de infraestrutura e habitacionais em andamento no País. dando seguimento a uma política que vem sendo adotada já há algum tempo, mas que em função das dificuldades atuais se faz ainda mais relevante, muitos fabricantes estão aumentando a produção de um tipo de cimento, o cP3, vendido internacionalmente com o selo de “cimento verde”, por adicionar em sua composição resíduos não-or-gânicos, oriundo em geral da indústria siderúrgica. “essa medida não veio com a crise, mas se trata de um ganho ambiental significativo. É também o caso da queima de pneus usados. isso reduz os cus-tos com combustível nas nossas fábricas, um dos principais componentes dos preços. são soluções das quais ninguém gosta de falar, por terem vários outros problemas de imagem embutidos”, ressalta o gerente de produção de uma grande cimenteira.

entre as principais medidas que as empresas podem adotar para reduzir seus custos neste mo-mento, a revisão do consumo energético parece ser a mais viável no curto prazo. especializado exata-mente em desenvolver soluções diferenciadas e ino-vadoras para o mercado de geração de energia, o grupo energia tem registrado grande procura entre seus clientes por soluções que viabilizem economia

nesse insumo. “o que sempre dizemos a quem nos pergunta é que este é um momento privilegiado para promover o aumento da eficiência energética das empresas. isso pode ser feito com uma simples troca das lâmpadas e do sistema de iluminação, ou, envolvendo investimentos maiores, com a troca de equipamentos, para a qual há linhas de financia-mento oferecidas pelo bndes [banco nacional de desenvolvimento econômico e social]”, explica rubens brandt, um dos sócios da empresa.

Um exemplo típico de troca de equipamentos, conta brandt, é a substituição de moendas a vapor por outras mais modernas, movidas a energia elé-trica. “esses equipamentos têm financiamento bai-xo e o ganho pode chegar a 20% no custo final das usinas de açúcar e álcool”, avalia. ainda no quesito energia, brandt recomenda a todo tipo de indústria analisar bem os seus dejetos, de modo a identificar possíveis fontes de processamento de energia pró-pria. e a negociação de contratos de fornecimento por prazos médios, superiores a cinco anos: “este é um momento histórico em que a energia está com custo baixo, por causa da redução do ritmo da eco-nomia. as empresas devem aproveitar para fechar contratos de forma muito vantajosa”, resume.

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FábRICAS de cimento estão usando cada vez mais resíduos de siderúrgicas

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tEndência s Econômica s AtividAde eConômiCA

crescimento do Pib em 2009 deverá ser nuloProduto Interno Bruto inicia o ano com um carregamento negativo de 1,5 ponto percentual, resultado da brusca queda no final de 2008

por marcelo de ávIla e FlávIo castelo BraNco

A crise fiNANceirA muNdiAl provocou redução expressiva no ritmo de crescimento mundial. a mu-dança no cenário macroeconômico ocorreu de forma rápida e disseminada na economia brasileira. a indús-tria foi o componente do Produto interno bruto (Pib) que mais sentiu a perda de atividade econômica. esse setor registrou recuo de 20,1% da produção, segun-do a Pesquisa industrial Mensal de Produção Física (PiM-PF), medida pelo instituto brasileiro de geo-grafia e estatística (ibge), no acumulado do quarto trimestre de 2008, ou seja, entre os meses de setembro e dezembro (indicador dessazonalizado).

Mesmo havendo crescimento de 2,3% da produ-ção industrial no primeiro mês de 2009 frente ao mês anterior, o indicador em relação ao mesmo mês do ano passado ainda é negativo em 17,2%. isso repre-senta a maior queda, nessa base de comparação, desde fevereiro de 1991.

o comércio ampliado segundo a Pesquisa Mensal de comércio (PMc), do ibge, que também é com-

posto por veículos e motocicletas, partes e peças e ma-teriais de construção, seguiu uma trajetória semelhan-te a da indústria. após recuar 11% no quarto trimestre do ano (indicador dessazonalizado), o comércio cres-ceu 4,4% em janeiro, na comparação com o mês ante-rior. no entanto, o quadro não é tão negativo quanto na indústria: na comparação anual, ou seja, janeiro de 2009 frente a janeiro de 2008, o comércio registrou crescimento de 3%.

o contraste entre o comportamento do comércio e o da indústria se explica pelo elevado nível de estoques indesejados que se formou no quarto trimestre do ano passado. o indicador de estoque efetivo-planejado (sondagem industrial cni) das empresas industriais atingiu o maior patamar da série histórica, iniciada em 1999: 56,4 pontos (indicadores acima de 50 pontos indicam acúmulo indesejado de estoques).

embora os resultados, tanto da indústria quanto do comércio, referentes ao início do ano possam le-var a uma interpretação de recuperação da queda do

produção industrial e volume de vendas do comércio ampliado Número índice

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Comércio ampliado

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FONTE: PIM-PF/IBGE. ELABORAçãO: CNI

Indicador de estoques efetivo-planejado Valores acima de 50 pontos indicam estoques indesejados

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maior patamar da série histórica

FONTE: SONDAGEM INDuSTRIAL CNI

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quarto trimestre, é importante notar que a fraca base de comparação em ambos os casos e a redução do im-posto sobre Produtos industrializados (iPi) na venda de automóveis determinaram esse comportamento aparentemente positivo.

as dificuldades extremas com o crédito e a retra-ção da demanda mundial afetaram negativamente as expectativas dos empresários e dos consumidores no brasil. em consequência, o investimento e a demanda interna e externa – componentes de demanda agre-gada que alavancaram a forte expansão nos últimos anos – retrocederam de forma expressiva, comprome-tendo o crescimento.

no caso dos investimentos, o indicador dessazo-nalizado da Formação bruta de capital Fixo recuou 9,8% no quarto trimestre de 2008 (contas nacio-nais/ibge), frente ao trimestre anterior – o maior recuo em mais de uma década. a queda dos investi-mentos se deve, basicamente, a três razões: a) maior ociosidade do parque industrial; b) expectativa de menor demanda; e c) dificuldades de acesso às linhas de financiamento.

a percepção da necessidade de aumentar a capa-cidade produtiva é condição básica para induzir os empresários a investirem na produção. no entanto, o oposto ocorreu nos últimos meses: a utilização da capacidade instalada na indústria (indicadores indus-triais cni) registrou queda de 4,6 pontos percentuais desde outubro último, de forma a atingir 78,4% (no indicador dessazonalizado) – o menor patamar desde novembro de 2003. com maior ociosidade do parque industrial, a produção de máquinas e equipamentos

utilização da capacidade instalada na indústria Em %

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FONTE: INDICADORES INDuSTRIAIS CNI

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FONTE: PIM-PF/IBGE

(PiM-PF/ibge) intensificou a queda para 24,4% em janeiro, comparativamente com o mesmo mês do ano anterior. esse desempenho afasta a possibilidade de crescimento da produção de bens de capital em 2009.

do lado da demanda, o consumo das famílias re-cuou 2% no acumulado do quarto trimestre do ano passado (contas nacionais/ibge) – a primeira queda em 21 trimestres seguidos. somada à queda da expec-tativa dos consumidores, a deterioração do mercado de trabalho limitará a dinâmica da recuperação da demanda interna. a cni prevê crescimento da taxa de desemprego neste ano em detrimento dos empre-gos formais. em outras palavras, a piora do mercado de trabalho se dará quantitativamente – pelo menor crescimento da ocupação – e qualitativamente – pela maior expansão de emprego informal.

no tocante à demanda externa, a ocorrência de recessão em diversos países desenvolvidos e o me-nor crescimento dos emergentes, como china e Ín-dia, resultará em queda das exportações brasileiras em 2009.

com a mudança de cenário interno e externo as projeções para os indicadores macroeconômicos estão sendo revistas. É alta a probabilidade de um Pib negativo no primeiro trimestre do ano, na com-paração com o trimestre anterior. a recuperação da atividade econômica deverá ocorrer, de forma mais clara, só a partir do segundo semestre. Porém, mes-mo se a economia crescer 1,5% ao longo dos quatro trimestres de 2008, o Pib atingirá o mesmo nível do registrado no ano passado, o que representa cresci-mento nulo em 2009.

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confluência de interessesEspecialistas do País e do exterior afirmam que a reforma do sistema de impostos, em tramitação no Congresso, aumentará a competitividade das empresas brasileiras, ainda que o texto não seja o ideal

por daNIela schuBNel

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reformA tributáriA

AprovAdA No fiNAl do ANo pAssAdo pelA comissão especial da câmara dos deputados que trata do assunto, a proposta de reforma tributária pode ser votada nos próximos meses pelo Plenário da casa e seguir para o senado. nos últimos 15 anos, é o maior avanço que se conseguiu em relação a esse tema dentro do congresso nacional. Mesmo com deficiências reconhecidas, a Proposta de emenda consti-tucional (Pec) 233/08 alcança pela primeira vez amplo apoio entre os diversos atores que participam da discussão. empresariado, parla-mentares e especialistas no assunto presentes ao seminário internacional de reforma tributá-ria, promovido no início de março, em brasília, pela cni e a comissão especial da câmara, foram unânimes quanto à urgência para o en-frentamento dessa questão.

a aprovação do texto em tramitação no congresso nacional terá o efeito de reformu-lar toda a economia do País, com ganhos de competitividade e de crescimento econômi-co e elevação dos níveis de renda, na opinião dos especialistas do centro de administração e reforma tributária da organização para a cooperação e o desenvolvimento econômico (ocde) Jens lundsgaard (veja entrevista na página 10), david Holmes e richard Perris, presentes no evento. Para a ocde, instituição que reúne os países produtores de 65% da ri-queza mundial, o brasil esticou demais a pres-são tarifária, o que favorece a sonegação e pre-judica o crescimento. em meio à crise global, eles afirmam que não haverá espaço para redu-zir a carga tributária. Mas elogiam a reforma por solucionar a excessiva complexidade do sis-tema, a acumulação de diferentes tributos com a mesma natureza sobre produtos e serviços e a guerra fiscal entre os estados, que prejudica o crescimento econômico.

as resistências ao texto são principalmente de governadores de estado, temerosos de perder receita, embora a reforma estabeleça mecanis-mos compensatórios. “nossas especificidades não podem nos levar ao imobilismo, devemos extrair lições da experiência internacional. É

crucial trazer o sistema brasileiro de volta aos padrões internacionais e tornar nossos tribu-tos assemelhados aos dos países competidores nos mercados globais”, afirmou o presidente da cni, armando Monteiro neto, ao abrir o en-contro, que reuniu 150 participantes em 11 pai-néis. em sua avaliação, o texto em tramitação no congresso, embora não seja o ideal, inclui avanços importantes na área de desoneração dos investimentos e das exportações. Monteiro neto enfatiza que a crise financeira internacio-nal reforça ainda mais a necessidade de mudar o sistema tributário e alavancar a competitivi-dade. “a complexidade e as disfunções do atu-al sistema geram estímulos à informalidade e comprometem a capacidade de expansão das empresas. o brasil deve empreender agora as mudanças que poderão remover obstáculos à retomada do crescimento. É hora de agir.”

FortalecImeNto

os especialistas da ocde e a equipe econômi-ca do governo federal endossam a avaliação da cni. “existe um espaço claro para a reforma tributária no brasil. o País sairá fortalecido da crise e crescerá sem problemas sociais. to-dos querem um brasil forte”, diz o economista dinamarquês lundsgaard. “a crise torna ainda mais importante a reforma tributária. ainda que as mudanças se deem no longo prazo, elas afetam de modo imediato as perspectivas e o nível de investimentos no País”, avalia bernard appy, secretário-extraordinário de reformas econômico-fiscais do Ministério da Fazenda.

as vantagens enxergadas pela ocde na proposta em tramitação é a substituição do atual modelo, de taxação de produtos e servi-ços via imposto de circulação de Mercadorias e serviços (icMs), pelo princípio da taxação de valor agregado – utilizado em todos os países da ocde, com exceção dos estados Unidos –, que amplia a base de tributação diminuindo as alíquotas pagas pelos contribuintes. Para lunds-gaard, a adoção do imposto de Valor agregado Federal (iVa-F) proposta na reforma promo-

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verá a reorganização do sistema produtivo bra-sileiro, enfraquecido por causa da guerra fiscal e da cumulatividade do icMs. a avaliação é que o iVa-F estimulará a competitividade e a busca da excelência pelas empresas, considerados im-prescindíveis para o crescimento econômico e a elevação dos níveis de renda do País. “com a reforma, o País sairá mais fortalecido da crise e rapidamente alcançará os países mais ricos do mundo”, diz o especialista.

no congresso nacional, no entanto, a an-tecipação do debate eleitoral pode prejudicar as pretensões do governo de votar a reforma tributária ainda neste semestre, ou mesmo neste ano. a oposição avalia que a candidatura à Presidência da ministra-chefe da casa civil, dilma rousseff, já está nas ruas e pode, por isso, inviabilizar o acordo realizado no final de 2008, que previa colocar o texto em vota-ção em março. o clima político atual dificulta qualquer votação no congresso. Medidas pro-visórias (MPs) não votadas em 45 dias trancam a pauta, bloqueando a votação de qualquer ou-tra matéria. Há atualmente sete MPs aguar-dando votação.

outro impedimento também é essencial: a resistência dos estados, que não querem o fim da guerra fiscal, pois entendem que beneficia as regiões pontualmente. a reforma transfere a tributação do atual icMs (transformado em iVa-F), do estado de origem para o de destino. Muitos entendem que sofrerão perdas no início, pois o novo imposto demorará oito anos para ser implantado. o Fundo de equalização de receitas (Fer), que será criado para equilibrar as possíveis perdas, também só introduzirá as reposições a partir de 2012, caso a reforma seja aprovada neste ano.

Para a indústria, no entanto, o texto inclui as bases fundamentais para garantir competi-tividade ao setor e o crescimento econômico desejado. a redução do número de tributos, o estabelecimento de um cronograma de redução da contribuição patronal ao inss (de 20% para 14%), a extinção do salário-educação e o uso de créditos sobre compra de bens de consumo no

Temer, Holmes, Appy, Palocci

e Mabel: Reforma é

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reformA tributáriA

iVa-F são algumas delas. o iVa-F substituirá a contribuição para o Financiamento da segu-ridade social (cofins), a contribuição para o Programa de integração social (Pis) e o salário educação. a tributação do icMs no destino é um dos pontos-chave da proposta, é a forma de desonerar as exportações, segundo Monteiro neto. “a empresa exportadora acumula créditos nas suas operações de compra de insumos, de matérias-primas, e esses créditos não são efeti-vamente compensados”, explica.

sImplIFIcação

em palestra no seminário, bernard appy negou a possibilidade de perdas para os estados. “Mes-mo no curto prazo o impacto esperado pelos especialistas é positivo, tanto sobre as expecta-tivas dos agentes produtivos para o ambiente de negócios quanto sobre o clima de investimen-tos, cuja tendência é uma elevação sensível.” também presente ao evento, o ex-ministro da Fazenda e presidente da comissão especial da câmara, antonio Palocci (Pt-sP), usou de bom humor ao resumir os benefícios da reforma: “simplificação, simplificação e simplificação.” Para Palocci a reforma não é definitiva, mas soluciona vários problemas, promovendo equi-líbrio entre setores como agricultura, comércio e indústria. “a implantação se dá ao longo de uma década, preparando e fortalecendo o País para enfrentar os próximos ciclos econômicos. Pior do que resolver os problemas no longo pra-zo é não resolvê-los”, diz.

Palocci e o relator da proposta, sandro Ma-bel, insistem que, mesmo não sendo a melhor proposta, esta é a possível de ser realizada, no atual momento político. “o ótimo é inimigo do bom”, não se cansa de repetir Mabel. “os em-presários entendem que é melhor aprovar uma reforma que não é a ideal, mas a que produzi-rá avanços para todos”, afirma. Mabel susten-ta que o consumidor final será beneficiado em 20% de desoneração e vai poder comprar mais. “Quem realmente perderá com essa reforma é o sonegador”, resume.

o presidente da câmara, Michel temer, diz que a reforma será importante para a constru-ção de um sistema tributário bem alinhavado. “no brasil ainda vigora um enorme desprezo por uma ordem jurídica estável nos tributos, o que afugenta investidores”, critica. Marconi Pe-rillo (Psdb-go), primeiro vice-presidente do senado, acredita que a reforma será aprovada nos próximos dois anos: “É muito difícil incen-tivar o empreendedorismo quando, para cada dez horas trabalhadas, quatro são gastas com o pagamento de impostos.”

durante o seminário, a economista Mizabel derzi, professora da Universidade Federal de Minas gerais (UFMg), e o advogado tributa-rista Heleno torres criticaram o fato de as pro-postas tramitarem no congresso sob a forma de emenda à constituição. os juristas defendem que elas sejam apresentadas por meio de legis-lação infraconstitucional, como projetos de leis ordinárias ou complementares. a professora da UFMg também sugere que se pense em um sistema tributário para as médias empresas, a exemplo do supersimples, criado para as micro-empresas. “nos fundamentos o projeto é ade-quado”, diz torres. o tributarista acredita que a proposta trará segurança para o contribuinte, mas alerta para riscos como a elevação da carga tributária caso sejam aprovados alguns disposi-tivos como a tributação por impacto ambiental.

o consultor roberto nogueira Ferreira criticou no debate o fato de o imposto sobre Produtos industrializados (iPi) não entrar no cálculo do iVa-F, e sustenta que a proposta acarretará a elevação da carga tributária. assim como Ferreira, o economista clóvis Panzarini, da cP consultores associados, critica o dispo-sitivo que mantém a cobrança “por dentro” do icMs, fazendo com que o tributo incida sobre a sua própria base de cálculo – uma correção também defendida pela cni. Panzarini acres-centa que a reforma deverá criar limites para a competência do conselho nacional de Políti-ca Fazendária (confaz). “se isso não acontecer, poderemos ter milhares de novas normas, com-plicando em vez de simplificar a legislação.”

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o preço da gratuidadeCom os novos negócios da internet, consumidores se acostumam a serviços oferecidos de graça, impondo dificuldades a empresas tradicionais. Mas há quem consiga implementar medidas criativas para superar o problema

Há umA velHA piAdA sobre o empresário que distribui seus produtos de graça. o consumidor per-gunta: “como você consegue ter lucro?” ele responde: “eu ganho no volume.” de fato, trabalhar assim não

faz o menor sentido. Mas uma coisa engraçada tem acontecido: distribuir produtos de graça tornou-se um legítimo modelo de negócios, na internet e muito além. cada vez mais gente está de olho nisso. o jor-

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negóCios

nalista chris anderson vai lançar um novo livro em julho: De graça – O passado e o futuro de um preço radi-cal. trata-se de uma sequência da reportagem de capa que ele publicou no ano passado na revista Wired, com sede em são Francisco, nos estados Unidos: “de graça! Por que Us$ 0,00 é o futuro dos negócios.”

anderson, editor da Wired e ex-repórter da revis-ta The Economist, também escreveu em 2006 o livro A cauda Longa - Do mercado de massa para o mercado de nicho (editora elsevier, 256 páginas, r$ 65,00), em que demonstrou que empresas como a amazon e a netflix cresceram com a distribuição de catálogos gigantescos de produtos, vendidos individualmente em pequenas quantidades. Hoje, essas empresas es-tão entre as poucas a prosperar em meio à recessão.

anderson não está sozinho ao explorar o que se vem chamando de freeconomics (trocadilho com o ter-mo freakonomics, ou economia esquisita, em tradução livre, cunhado por steven levitt e stephen dubner no livro que tem esse título, com explicações inusi-tadas para fenômenos econômicos e sociais). o em-presário e investidor Fred wilson, da Union square Ventures, popularizou outro termo, freemium, para descrever um modelo de negócios em ascensão, mui-to usado por empresas da internet e por produtores de software. a estratégia é arregimentar um grande número de consumidores por meio da oferta gratuita de um produto, mas cobrar pelas versões mais sofis-ticadas, que subsidiam as mais simples.

até negócios em que a distribuição de produtos gratuitos não se aplica podem tirar proveito da com-preensão das forças por trás do conceito de freecono-mics, repensando os modelos de precificação de seus produtos e serviços. o especialista em tecnologia Jeff Jarvis, autor do livro What would Google do? (O que o Google faria?, não publicado em português), ques-tiona se poderia existir um modelo para a indústria automotiva que substituísse, ao menos em parte, o faturamento da venda do carro ao consumidor. seria possível fazer como o google, distribuindo carros em troca de anúncios? a questão é perceber que o preço não precisa estar vinculado ao custo de produção, explica Kevin werbach, professor de éti-ca da wharton, escola de negócios da Universida-de da Pensilvânia. isso leva as empresas a pensar de modo criativo, o que pode fazer novas possibilidades

emergirem, até mesmo para produtos que não estão na internet, propõe werbach: “não há uma razão fundamental que impeça a gasolina de ser gratuita, se os consumidores pagarem uma taxa anual pelo uso do carro. do mesmo modo, o carro poderia ser de graça, e seu custo, junto com o da gasolina, seria embutido em uma taxa anual. nenhum desses mo-delos faz sentido hoje, mas podem vir a fazer.”

segundo werbach, a better Place, uma empre-sa que está começando a produzir carros elétricos, tem planos de oferecer seus produtos por um valor abaixo do custo de produção, e lucrar com a venda de baterias de reposição. É exatamente o que fazem os fabricantes de impressoras, que cobram preços baixos pelas máquinas, mas têm altas margens na venda de cartuchos de tinta. “no caso dos carros, parece loucura vendê-los com prejuízo. Mas se isso faz parte de um pacote maior de serviços, pode-se alocar o preço de um modo ou de outro.”

a ideia de distribuir produtos de graça não é nova, existe praticamente desde o início da história dos negócios, explica o professor de marketing da wharton John Zhang, autor de vários livros sobre estratégia de preços. “no supermercado, você ganha amostras de produtos e acaba pagando uma caixa inteira. algumas casas noturnas não cobram entra-da das mulheres, mas cobram dos homens. ‘grátis’ é um dos termos mais fortes do mundo dos negócios. ao vê-lo, mesmo quem não quer um produto passa a querer. os especialistas em marketing não perdem a oportunidade de usá-lo.”

ANDERSON, editor da revista Wired, lançará novo livro, em que aposta no crescimento da oferta de produtos gratuitos

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“grátis” é de fato um termo que tem alto poder de acelerar o crescimento de uma curva de demanda. “a demanda por algo gratuito é imensamente maior do que a de algo que é oferecido por um preço muito baixo”, explica Kartik Hosanagar, professor de ope-rações e gerenciamento de informações da wharton, com pesquisas na área de precificação e tecnologia. o investidor e empresário Josh Kopelman, que fun-dou a empresa Half.com, cunhou o termo “o centavo da diferença”. a ideia que está por trás disso coincide com a explicação de Hosanagar: cobrar até mesmo um centavo por um produto reduz muito a demanda em relação a algo que tem custo zero.

não é à toa que muitas empresas têm trabalhado com o conceito de gratuidade em suas várias verten-tes, afirma o professor de marketing da wharton stephen Hoch. “cosméticos parecem nunca estar à venda. as marcas anunciam: ‘compre este produto, e leve outro de graça’. isso protege o preço normal”, comenta Hoch. a adobe, produtora de softwares, distribui gratuitamente o adobe reader para que as pessoas possam visualizar arquivos no formato PdF, mas cobra licença de uso do adobe acrobat, necessário para criar esses arquivos. “se cobrasse pelos dois produtos, o uso do software nunca teria decolado”, explica Hosanagar, da wharton.

claro que os produtos gratuitos nunca são gra-tuitos de fato, simplesmente são pagos de outra ma-neira. Faz tempo que se usam subsídios cruzados como estratégia de venda. o exemplo clássico é de

um século atrás, quando a gilette começou a vender aparelhos de barbear por baixo preço, criando assim demanda por suas lâminas descartáveis – quando os fabricantes de impressoras implementaram a estra-tégia de subsidiar a venda das máquinas e ganhar nos cartuchos, tiveram em que se inspirar.

existem mercados de dois segmentos, em que a receita vem de dois tipos distintos de consumido-res. nesses casos, a conta será paga principalmen-te pelo grupo menos elástico do ponto de vista de preço, no linguajar econômico, ou seja, menos sen-sível a variações de preço. “Funciona assim no caso das casas noturnas que aceita mulheres de graça e cobra dos homens: a decisão de ir ou não ir, no caso deles, não será afetada pelo preço”, exemplifi-ca Zhang, da wharton.

Wall street JourNal veNde vINhos

Jornais e revistas tradicionalmente cobram dos leito-res e dos anunciantes, que querem atingir os leitores. Há também publicações que são distribuídas de gra-ça, com os custos de produção pagos apenas pelos anunciantes. com o advento da internet, e a pro-fusão de conteúdo gratuito, a demanda por infor-mação tornou-se extremamente elástica – sensível a qualquer valor acima de zero. Muitos editores estão revisando seus modelos de negócios, introduzindo até mesmo o comércio em suas páginas eletrônicas. Zhang cita o caso do diário norte-americano The Wall Street Journal, que passou a vender vinhos (em www.wsjwine.com).

a grande novidade do mundo gratuito, natu-ralmente, é a internet, que leva para perto de zero o custo marginal de distribuição (para entregar um produto a mais). conforme afirmou ander-son em um artigo no The Wall Street Journal em fevereiro, “produtos digitais, de música, a wikipe-dia, podem ser distribuídos com custo marginal próximo a zero, fazendo do preço uma corrida ao fundo”. a facilidade de conseguir produtos baratos na internet significa que os custos também estão evaporando, abrindo ainda mais oportunidades por produtos a custo zero.

além de minimizar os custos de produção, a internet favoreceu outras tendências que levaram o

PESQUISADORES do Google:

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negóCios

preço – e a expectativa dos consumidores quanto ao preço – próximas a zero. o mercado interativo tornou-se mais sofisticado – o google consegue oferecer pesquisa online de graça porque tem um mecanismo que une anunciantes ao que as pessoas procuram: quem quer informações sobre carros, acaba esbarrando em anúncios de carros. “esse tipo de coisa não podia ser feita antes, porque o custo de transação era muito alto”, explica Hosanagar. as empresas da internet, como google, Yahoo e Facebook, têm se empenhado em construir audi-ências gigantescas, que podem render ganhos fu-turos, ainda que os anúncios não cubram os custos dos serviços.

outra novidade introduzida pela internet é que o custo de entrada é muito baixo para criar uma loja virtual, um site ou um blog. novos players, muitos deles não preocupados com lucro imedia-to, competem com empresas já estabelecidas, que podem ter altos custos fixos operacionais e inves-timentos a serem amortizados. esse baixo custo

de entrada contribuiu para o que a revista norte-americana BusinessWeek chama de “economia do trabalho gratuito”: “Há sites úteis e sofisticados que são construídos a custo zero, com exceção do tem-po que as pessoas empregam em fazê-los.” além disso, a tecnologia digital tem permitido a cópia de material submetido a direitos autorais – música, fil-mes, fotos e textos – que são ou foram produtos de empresas tradicionais. isso tudo mudou as expecta-tivas dos consumidores.

a busca de conteúdo online tem provocado, se-gundo Hoch, efeitos catastróficos, tanto pelo tama-nho quanto pela rapidez. “ninguém previu isso. os efeitos no mercado fonográfico foram devastadores. no caso da indústria editorial, continuam sendo. a ideia de que se pode ganhar no volume de vendas é uma falácia”, aponta. a venda de cds nos esta-dos Unidos caiu de Us$ 13 bilhões em 2001 para Us$ 7 bilhões no ano passado, enquanto os down-loads legalizados estão gerando apenas Us$ 1,5 bi-lhão em faturamento anual.

A YAHOO oferece jogos gratuitos na internet, mas cobra para mostrar relatórios detalhados aos jogadores

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Jornais e revistas, constrangidos com altos custos fixos e de distribuição, têm sido atingidos pela cultura da gratuidade online e também pela facilidade com que seus produtos – caros para produzir, mas fáceis de copiar – são sequestrados por blogs e sites. a maior parte dos jornais tem respondido com oferta gratuita de seu conteúdo integral. o problema é que os anúncios que con-seguem vender para as páginas eletrônicas estão longe de cobrir seus altos custos fixos. em feverei-ro, a revista norte-americana Time publicou uma reportagem de capa com o título “como salvar seu jornal”, assinada por walter isaacson, um dos mais experientes jornalistas da mídia impressa.

ele ataca duramente o conceito do freeconomics: “não é um modelo de negócios que faça sentido.” sua proposta é que os jornais procurem meios de proteger a propriedade intelectual de seus textos, cobrando dos leitores que queiram consumi-los. Zhang, da wharton, concorda: “os jornais estão baixando o nível, nivelando-se aos concorrentes de baixa qualidade. deveriam se mover para o topo do mercado, explorando suas vantagens e peculiaridades.” isaacson defende um sistema que permita aos leitores fazer micropagamentos para acessar textos online. Mas é mais fácil dizer isso do que fazer. esse tipo de coisa já foi tentada sem sucesso, em parte porque o efeito psicológi-co do “centavo de diferença” é algo difícil de su-perar. “É preciso tomar muito cuidado para não deixar as pessoas se viciarem por produtos grátis. se você parte para a estratégia, terá de aceitar que esse será o preço para sempre”, diz Hoch. ele faz mais um alerta: “Quem quer vender produtos por baixo preço tem de garantir que terá baixos cus-tos também.”

tem sido cada vez mais alto o impacto da cul-tura da gratuidade da internet nos tradicionais negócios que não estão na internet. tarefas que eram desempenhadas por pessoas são agora ofe-recidas em sites de acesso gratuito. o contador anódino se metamorfoseou no turbotax online, o corretor de ações virou outro site e o agente de viagens agora é uma ferramenta de busca.

o google tem usado ganhos dos anúncios na página de buscas para financiar outros serviços gratuitos na internet, atrapalhando concorrentes que se acostumaram com a ideia de que esse tipo de serviço deve ser pago. google docs, um con-junto gratuito de aplicações usadas em escritório (com planilhas e processadores de texto), concorre com softwares da Microsoft que custam centenas de dólares. em resposta, a Microsoft promete que novas versões gratuitas de seus softwares serão oferecidas no futuro.

as empresas têm experimentado uma vas-ta gama de estratégias de preço. alguns veem a possibilidade de trabalhar com o modelo “free-mium”, oferecendo gratuitamente uma versão bá-sica do produto, mas cobrando por funções mais

JORNAIS têm altos custos

fixos e estão entre os negócios

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negóCios

Do original “How About Free? The Price Point That Is Turning Industries on Their Heads”, repu-blicado com autorização de Knowledge@Wharton (http://knowledge.wharton.upenn.edu), o jornal online sobre pesquisa e análise de negócios de The Wharton School da Universidade da Pensilvânia. A Wharton mantém parceria com o IEL para a formação de executivos.

sofisticadas. o Yahoo libera gratuitamente para milhares de jogadores o acesso a simulações de jogos de futebol americano, mas cobra pelas es-tatísticas e relatórios de desempenho. todo ano, empresas como a H&r block and intuit ofere-cem uma versão online gratuita para a declaração de imposto de renda, mas cobram por declara-ções mais complexas, em que a restituição a que o contribuinte tem direito é maior.

Há quem esteja sendo especialmente criativo ao lidar com a cobrança na internet. em 2007, a banda radiohead disponibilizou seu álbum In Rainbows para download, propondo que os usu-ários pagassem o que achavam justo. segundo a empresa de pesquisa comscore, 38% das pessoas que baixaram o álbum pagaram Us$ 6 em mé-

dia. Mais tarde, o álbum foi lançado como cd e vendeu mais do que os dois cds anteriores da banda. “as empresas têm de adaptar seus modos de garantir receita às novas tecnologias. nem to-dos podem competir com os produtos gratuitos. Mais do que nunca, porém, há modos criativos de empregar a nova estratégia”, avisa Zhang.

Para werbach, um dos grandes problemas das empresas é achar que o modelo de negócios é algo estabelecido para sempre. “negócios nunca foram estáticos, e hoje são ainda menos do que no passado. o grande desafio criado pela internet é ter tornado possível mudanças muito rápidas na alocação de re-cursos em alguns setores. não é fácil enfrentar esse tipo de transformação. Mas assim é a vida. e em geral as empresas de sucesso não gostam disso.”

A bANDA Radiohead ofereceu o álbum para download e convidou o consumidor a pagar o preço que quisesser

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empresas da era do conhecimentoEm duas décadas o número de universidades corporativas no Brasil subiu de 10 para quase 500, graças à aposta das empresas na qualificação profissional como fator de competitividade

por daNIela schuBNel

efetividAde; foco No clieNte e NA solução de problemas; trabalho pouco especializado e di-fuso, com foco circular, em grupos e projetos; co-nhecimentos e competências que rapidamente se

tornam obsoletos. necessidade de aprendizagem contínua, por toda a vida profissional. são frases que sintetizam as necessidades e características de um fenômeno que se expandiu rapidamente no

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eduCAção profissionAL

brasil da virada para o século 21: a educação que acontece dentro das corporações, para suas finali-dades específicas. são as universidades corporati-vas, instâncias formadas pelas próprias empresas para formar seus profissionais de acordo com as necessidades e estratégias a serem desenvolvidas em determinado momento.

também chamado de educação corporativa, dependendo do modelo seguido, o conceito das universidades de empresas se baseia na aprendiza-gem contínua e na gestão do conhecimento nas organizações como o diferencial competitivo e a condição essencial para o sucesso do negócio, mas também – e principalmente – para sua continui-dade. evoluiu dos departamentos de recursos hu-manos das empresas, onde se aplicavam técnicas de treinamento e desenvolvimento (t&d) para suprir eventuais carências de aprendizagem dos funcionários. Fundamentada na teoria do capital Humano, a educação corporativa se vale da educa-ção focada nas estratégias necessárias aos negócios num determinado momento como fator primor-dial para o sucesso das empresas e do crescimento da economia.

os primeiros modelos tiveram início nos es-tados Unidos, há mais de 50 anos. a primeira universidade corporativa de que se tem registro é crotonville, criada em 1956 pela general electric (ge). as aproximadamente 400 instituições do gê-nero existentes no país, nos anos 1980, chegaram a 1.600, em 1998, de acordo com levantamento da Corporate University Xchange, que também calcu-lou em dois mil, em média, o total de instituições do tipo em todo o mundo. a entidade, que reúne informações sobre o setor fundada em 1997, esti-ma que no próximo ano 2010 o número de uni-versidades corporativas supere o de universidades tradicionais nos estados Unidos.

no brasil a experiência começou apenas em 1992, com a academia accor, do grupo hoteleiro francês de mesmo nome. até o final da década ha-via dez instituições, ligadas principalmente às gran-des empresas, como brahma, Mcdonald’s, grupo Martins, banco de boston, datasul, alcatel, al-gar, siemens e Visa. Hoje, catalogadas no Portal de educação corporativa, ligado ao Ministério do

desenvolvimento, indústria e comércio exterior (Mdic), existem apenas 88, mas a associação brasileira de educação corporativa (abec) estima em mais de 500 o número de instituições do tipo.

até o final deste ano, a professora Marisa Ébo-li, da Faculdade de economia, administração e contabilidade (Fea) da Universidade de são Paulo (UsP), finalizará um estudo, realizado com conjunto com a abec, que pretende mostrar o panorama geral do segmento no brasil. a ideia é consolidar o número total de universidades e en-tidades de educação corporativa, assim como suas características, e estabelecer um ranking dessas instituições. “esse é um grande desafio, não pas-saremos deste ano”, diz Marisa, uma das maiores especialistas brasileiras no tema. a necessidade vem da constatação de que as universidades cor-porativas não são apenas um modismo no brasil, vieram para ficar.

estratéGIa de NeGócIos

“a educação corporativa está diretamente relacio-nada à estratégia de negócios de uma empresa; a gestão de pessoas é voltada para as competências necessárias para viabilizar essas estratégias”, diz a professora da Fea. “Houve uma mudança con-ceitual. antes a capacitação era vista como uma atividade pontual, para suprir eventuais defasagens dos profissionais, era entendida como custo. Hoje é vista como investimento, e passou a integrar os planos estratégicos das empresas”, avalia carlos cavalcante, superintendente do iel nacional, cuja finalidade é promover a capacitação empresarial.

“o mundo globalizado de hoje demanda uma nova percepção das empresas e de seus profissio-nais. Vivemos uma terceira revolução no mundo do trabalho, a era pós-industrial, ou sociedade do conhecimento. as novas tecnologias trouxeram a necessidade de as empresas se adaptarem para serem competitivas”, avalia Mariana raposo, ge-rente-executiva de educação do sesi, onde coor-denou o projeto da Unisesi, universidade corpo-rativa que funcionou de 1999 a 2005. desde então a instituição optou por descentralizar a iniciativa, deixando a cargo de cada departamento regional

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a definição das ações de educação corporativa, de acordo com as necessidades locais.

Uma das bases da educação corporativa hoje, segundo Mariana, é a Educação ao Longo da Vida, conceito presente no relatório delors, formu-lado na década de 1990 pela organização das nações Unidas para educação, ciência e cultu-ra ( Unesco), que definiu os pilares da educação para o século 21: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos. a partir dele ficou estabelecido que os profissionais precisam dominar competências básicas e espe-cíficas para atuar em qualquer posto de trabalho. as básicas são comunicação eficiente; raciocínio lógico e matemático; conhecimento de fenôme-nos físicos e sociais; trabalho em equipe e solução de problemas. “os conhecimentos específicos são descartáveis, em cinco anos já mudaram, por isso a necessidade de aprendizagem contínua. as uni-versidades corporativas surgiram nesse contexto de necessidade de suprir as defasagens das competên-cias básicas e desenvolver as específicas relaciona-

das ao seu negócio”, explica a gerente-executiva de educação do sesi.

Mariana raposo identifica um descompasso entre o que as universidades tradicionais ensinam e o que as empresas precisam. “a instituição esco-la é mais lenta para se adaptar às necessidades da sociedade do conhecimento.” esse descompasso, no entanto, não é visto pela maior parte dos espe-cialistas como antagonismo entre esses dois polos educacionais. coordenador do laboratório Ábaco, de Pesquisas em tecnologias interativas da educa-ção, da Universidade de brasília (Unb), o professor gilberto lacerda dos santos auxiliou o desenvolvi-mento, entre várias, de uma das experiências mais bem-sucedidas do País, a Universidade dos cor-reios. “são entidades que funcionam em tempos diferentes, com objetivos diferentes, mas que se complementam. os conhecimentos são mutantes, evoluem o tempo todo. a universidade tradicional funciona cada vez mais como educação inicial, a corporativa dá a formação continuada com o foco no que a organização precisa”, diz lacerda.

universidade da Indústria

Criada em 2005 pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), a universidade da Indústria (unidus) é considerada uma das experiências mais bem-sucedidas de universidade corporativa voltada para o setor no Brasil. Nasceu da necessidade do desenvolvimento de novas competências e a formação de gestores mais capazes, tanto na indústria quando no sistema Fiep, constatada nos Encontros de Planejamento Compartilhado realizados em 2004. “Atuamos em rede, não temos corpo docente próprio; as universidades são nossas parceiras, nós vamos buscar o que há de melhor no mundo, em termos de vanguarda”, conta o diretor da unindus, Henrique Ricardo dos Santos.

A unindus é a única instituição no Brasil credenciada pela Case Western Reserve university, de Cleveland, nos Estados unidos, a oferecer o curso de Investigação Apreciativa, metodologia criada pela instituição americana voltada para a mudança das organizações. Também oferece o curso de Biologia Cultural, do Instituto Matriztico, chileno, para o desenvolvimento de lideranças mais conscientes, e os de Foco Estratégico e de Autogestão de Lideranças, da Oxford Leadership Academy, inglesa. Em 2008 formou a primeira turma do MBA Indústria, especialização em gestão com ênfase em empresas industriais, realizado em parceria com universidades.

A parceria com a Case Western levou a unindus a trazer ao Brasil o Global Forum, movimento que nasceu na Organização das Nações unidas (ONu) há quase uma década, com o objetivo de estimular as empresas a pensarem como poderiam contribuir para a obtenção das Metas do Milênio. Os ataques de 11 de setembro de 2001 motivaram a Case Western a criar o Business as an Agent of World Benefit (BAWD), movimento que utiliza a metodologia da Investigação Apreciativa para analisar o papel das empresas como agentes de benefício para um mundo melhor. Os dois se juntaram na realização do primeiro BAWD - Global Forum, em Cleveland, em 2006.

O segundo Global Forum aconteceu em junho de 2008, em Curitiba, por iniciativa da Fiep, e o terceiro em São Paulo, em agosto, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2009 a Fiep e a unindus estão ajudando a universidade Corporativa da Indústria da Paraíba (ucip), que voltou a funcionar em 2008, e o sistema indústria do estado a realizar o Global Forum Nordeste, que acontecerá do dia 14 ao dia 17 deste mês em João Pessoa. “Esse encontro terá um impacto muito grande para a nossa região. É a primeira vez que o Nordeste todo se junta para pensar propostas de sustentabilidade”, diz a diretora-executiva da ucip, Denise Pinto.

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eduCAção profissionAL

“as experiências mais bem-sucedidas, tanto nos estados Unidos quanto na europa, são as de parcerias entre as universidades corporativas e as tradicionais”, afirma Marisa Éboli, da UsP. Mesma opinião tem o diretor-executivo da abec, Marcos baumgartner, que chama atenção para a diferença entre os modelos existentes. “algumas empresas têm sistemas estruturados de educação corporativa, nem todas possuem universidades. isso acontece devido à necessidade de capacitação baseada nas competências para o seu negócio”, re-pete baumgartner.

a própria abec surgiu a partir de estímulo do governo federal, que realizou em 2003 a 1ª oficina de educação corporativa. “o Mdic se deu conta que a educação corporativa estava alavancando a competitividade das empresas brasileiras no mer-cado internacional e sentiu a necessidade de um interlocutor junto ao setor”, conta baumgartner. a entidade foi oficializada em 2004, a partir da união de oito grandes empresas fundadoras: Vale, Petrobras, isvor Fiat, embratel, Unimed, instituto albert einstein, caixa econômica Federal e ele-tronorte. em 2008 instituiu, junto com o Mdic, o Prêmio educor, de Melhores Práticas em edu-

cação corporativa. neste ano, além de copatroci-nar o banco de dados elaborado pela Fea-UsP, a entidade pretende editar o Guia de Boas Práticas, sobre educação para as empresas, e também está trabalhando, junto com o Mdic, para a criação de um selo de certificação que reconheça as me-lhores iniciativas.

internacionalmente a pioneira nesse tipo de ati-vidade virou sinônimo de competência em sua área. a tradição de ceos (sigla para diretor-executivo, em inglês) da ge é uma das mais reconhecidas em todo o mundo. charles coffin, que sucedeu no cargo ninguém menos que thomas edison, o fundador da empresa, é considerado pela revista Fortune o ceo “número 1” de todos os tempos. criador da pedra fundamental da cultura da cro-tonville, coffin desenvolveu o conceito de “meri-tocracia baseada em avaliação de performance”. a empresa hoje está presente em mais de 100 países e seus 315 mil funcionários já realizaram 3,5 mi-lhões de cursos on-line, desde a implantação da intranet na empresa.

no brasil, a Valer, universidade corporativa da Vale, existe desde 2003, mas a partir de 2007 passou a adotar o modelo de educação corporativa

A UNINDUS, no Paraná, oferece desde o ano passado o MbA IndústriaD

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pela gestão do conhecimento. “a ideia é capturar conhecimentos-chave, organizá-los e disponibili-zá-los por meio de mídias e tecnologias específicas para isso”, explica Juliana bonomo, gerente-geral de Planejamento e Fomento. assim, a partir do ano passado, a estrutura da Valer se dividiu em duas grandes áreas: a educação continuada dos funcionários e a de fomento externo, que imple-menta ações educativas para os moradores das lo-calidades onde a empresa atua.

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a Vale estima que todos os seus 38 mil funcio-nários já tiveram acesso a algum tipo de curso, presencial ou on-line. a abordagem é multidisci-plinar e transversal, com o objetivo de formar o que a Vale classifica como “cidadania corporativa”. atividades como arte, cultura, segurança e meio ambiente fazem parte dos currículos da Valer. “o fator crítico, dentro do nosso plano estratégico de crescimento, é a qualificação de pessoas, de prefe-rência locais, até para atender às premissas de sus-tentabilidade da empresa”, define cíntia Magno, gerente-geral de educação continuada.

a Valer também tem atuação integrada ao instituto tecnológico da Vale, e estabelece parce-rias com centros de renome internacional, como o Massachusetts institute of technology (Mit), nos estados Unidos; a escola de Minas de Paris, na França; e o international institute for Mana-gement development (iMd), na suíça, além de instituições brasileiras como o senai, o ibMec e universidades federais, para oferecer cursos de es-pecialização em temas estratégicos, que não cons-tam do currículo das universidades tradicionais. as engenharias ferroviária, portuá ria e de minas são algumas das áreas onde a Valer investe em cursos customizados para seus executivos. neste ano oferecerá, pela primeira vez, especialização em engenharia de Projetos. “a Vale lida com projetos que variam, por exemplo, de Us$ 20 milhões a Us$ 1 bilhão. se atrasa um cronograma o impac-to é enorme”, diz cíntia. a empresa não divulga valores orçamentários, mas afirma que o volume de aquisição de negócios aumentou oito vezes, nos

últimos cinco anos, e os investimentos em pessoal aumentaram de 11 a 12 vezes.

o banco do brasil também estima que todos os seus mais de 90 mil funcionários já tenham passado por algum tipo de formação educacional. Há mais de 40 anos o banco promove iniciativas educacionais, mas em 2002, quando as universi-dades corporativas começaram a se consolidar no brasil, fundou a Unibb. além dos específicos para o desenvolvimento dos funcionários, a instituição também oferece cursos extensivos à comunidade, aos clientes e aos parceiros do banco do brasil. alguns exemplos são o curso de Planejamento Financeiro e de ação Voluntária, que podem ser feitos on-line.

“a universidade tradicional forma o cidadão para atuar em diversas áreas, como a academia, a pesquisa. a gente forma o profissional com o ob-jetivo de melhorar o seu desempenho, o da orga-nização e o dos negócios, dentro da premissa que a educação é e deve ser sempre um processo per-manente, e que deve chegar a todos os nossos fun-cionários”, afirma anysiê Pires, gerente-executiva de gestão de Pessoas do banco do brasil. assim que é admitido, o funcionário tem contato com uma ação de educação, o Projeto bem-Vindo ao bb, onde conhece a organização, seus processos de funcionamento e o código de ética. a entidade oferece ainda 186 diferentes tipos de cursos inter-nos, que são ministrados por dois mil educadores, bolsas de inglês e espanhol, e bolsas para cursos universitários. Já patrocinou mais de 20 mil cur-sos de graduação (com gastos divididos com os funcionários), 10 mil Mbas, 4.000 cursos de pós-graduação lato sensu e 170 stricto sensu (mestrado e doutorado).

a Universidade corporativa dos correios (Unico) também foi inaugurada em 2002, com o objetivo de unificar as ações educacionais então existentes na empresa e estendê-las a todos os seus empregados, parceiros e prestadores de serviço. Possui hoje 60 profissionais que atuam nas áreas de gestão de educação e educação empresarial, a primeira responsável pelo processo de educação corporativa, e a segunda por captar as necessidades da empresa e colocá-las em prática. com sede em

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brasília, mas presente em todas as diretorias regio-nais dos correios, a Unico atua na formação dos profissionais de todas as instâncias da empresa: dos carteiros e atendentes das agências aos executi-vos. a instituição se baseia no conceito de learning organization – empresa que aprende. desenvolvi-mento gerencial para o nível estratégico, educação corporativa à distância e formação de gestores de centros operacionais e agências estão entre os prin-cipais programas da universidade, que comemorou seu sexto aniversário, em dezembro de 2008, com a realização do 1º congresso nacional de instru-tores dos correios.

a Universidade corporativa Petrobras foi criada em 2004, mas a formação de profissionais brasileiros para atuar no segmento teve início em 1939, época do conselho nacional do Petróleo (cnP), antes mesmo da criação da empresa. em 1955 foi criado o centro de aperfeiçoamento de

Pesquisas de Petróleo ( cenap), órgão dedicado à formação de pessoal e também a pesquisas, que até se tornar universidade passou por diversas transformações. Hoje é a maior instituição cor-porativa de ensino do País e uma das maiores do mundo. Possui cinco escolas e atende a todos os 74 mil funcionários da empresa, incluindo os que estão no exterior. todos têm acesso inclusive a cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado nas melhores escolas estrangeiras. somente em 2007 a instituição patrocinou a participação da quase totalidade de seus funcionários – 62.471 – em cursos, seminários e palestras. em 2008 a UP inaugurou nova sede, na cidade nova, cen-tro do rio, a primeira obra de grande porte do estado a receber a certificação internacional le-adership in energy and environmental design (leed), que confere o grau de sustentabilidade de um empreendimento.

NOVA SEDE da Universidade da Petrobras, na Cidade Nova, no Rio

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CuLturA

Muito além dos jardinsNo centenário de Burle Marx, exposição que percorrerá o Brasil e os Estados Unidos explora a obra do paisagista que foi também pintor, escultor, designer e tapeceiro

por carlos haaG

NA primeirA metAde do século pAssAdo, A exuberância da flora brasileira era coisa para inglês ver. a elite brasileira via no excesso de paixão pelo selvagem algo de mau gosto. Mas roberto burle Marx (1909-1994) ousou valori-zar as plantas e flores tropicais, elevando algo efêmero como um jardim à categoria de obra de arte imortal. “ele criou a paisagem tropical que conhecemos hoje. ao organizar plantas nativas segundo princípios de vanguarda artística, em especial o cubismo e o abstracionismo, criou uma gramática moderna para o design de pai-

sagem, reconhecida no brasil e no exterior”, ex-plica o arquiteto lauro cavalcanti, curador da mostra A Permanência do Instável, homenagem ao centenário do pintor, arquiteto, paisagista au-todidata, gravador, escultor, ceramista, decora-dor, designer de jóias, litógrafo e tapeceiro. nas palavras da pintora tarsila do amaral (1886-1973), burle Marx era o “poeta dos jardins”, apelido que deu ao amigo em 1932 ao visitar suas estufas e se deparar com “plantas esquisi-tas”. ele foi autor de 3.000 projetos de paisagis-mo em 20 países.

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o acervo da mostra, em cartaz até o final des-te mês no Paço imperial, no rio de Janeiro, reúne mais de 300 itens, entre pinturas, guaches, cená-rios para balés e óperas (paixões musicais do filho de imigrantes alemães), tapeçarias (incluindo-se uma de 26 metros de comprimento por três me-tros de largura, feita para a Prefeitura de santo andré, no abc Paulista), gravuras, painéis em cerâmica e jóias. Há também um verdadeiro jar-dim, projetado por ele para uma área interna do Museu nacional de belas artes e reconstituído, pela primeira vez, por Haruyoshi ono, amigo, sócio e atual responsável pelo escritório burle Marx & cia. ltda. a exposição, que ocupa todo o espaço histórico do Paço, ainda este ano (a data ainda não foi decidida) passará por são Paulo, abrigada na oca do Parque do ibirapuera, pro-jetada pelo colega e amigo oscar niemeyer. de-pois, deverá percorrer recife e brasília, para, em março do ano que vem, ser exibida no the Hous-ton Museum of natural science e no Museu de arte Moderna de são Francisco, ambos nos esta-dos Unidos. “ele merece todas as homenagens no seu centenário, porque foi um precursor. Falava que tratava seus jardins como se fossem pinturas, em que, em vez de pigmentos, usava espécimes”, afirma cavalcanti, para quem o paisagista sabia que estava imprimindo a estética de sua geração. “ele criava algo permanente com materiais com-pletamente efêmeros, que têm um ciclo de vida, e daí o nome da mostra A Permanência do Instá-vel”, explica. era também um homem irrequieto e percorreu o mundo em busca de novos espé-

cimes botânicos: há mais de 50 deles batizados com seu nome pelo globo.

as celebrações do centenário deverão incluir também a implantação do Parque burle Marx, em brasília, ainda sem data prevista devido aos cortes orçamentários anunciados pelo governo do distrito Federal. a área de 280 hectares pró-xima ao setor noroeste, novo bairro em fase de implantação, deverá ser visitada por mais de dez mil pessoas diariamente. com um custo de r$ 18 milhões, o espaço abrigará ciclovias, pistas de cor-rida, pavilhões e construções emolduradas por jardins, com projeto do arquiteto Jaime lerner. o parque é um dos últimos redutos de mata nativa do cerrado no distrito Federal. ao lado do Par-que da cidade sarah Kubitscheck, dos anos 1960, consolidará o chamado “cinturão verde” proposto no projeto original de lúcio costa para brasília.

BrasIlIeNses restauram Quadra

sem esperar ações do estado, um grupo de mora-dores e arquitetos resolveu participar das celebra-ções no seu próprio quintal ao renovar o paisagismo da super Quadra sul 308, feito por burle Marx. curiosamente, nem o escritório do paisagista tinha os originais do projeto, que foram encontrados, por acaso, por um engenheiro, morador da Quadra, que descobriu a documentação digitalizada no arquivo do banco do brasil, onde trabalha. os custos, orça-dos em r$ 300 mil, serão divididos pelos morado-res. “a obra dele faz parte da concepção de brasília e estava em sintonia com o que meu pai idealizou.

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PINTURAS e guaches estão

entre as mais de 300 peças

da mostra A Permanência do

Instável, que está no Rio e vai para

São Paulo, Recife, brasília e

Estados Unidos

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e jardins tropicais no enid Haupt conservatory, um espaço do the new York botanical garden. são 11 galerias repletas da flora brasileira, cujos espécimes fo-ram levados para os estados Unidos por profissionais do escritório de burle Marx no rio de Janeiro, junto com um mosaico do paisagista feito em 1991 com 1.315 cerâmicas pintadas.

No rIo, 88 JardINs tomBados

a prefeitura do rio preferiu investir na conserva-ção do legado do modernista ao tombar 88 jardins feitos por burle Marx, 22 dos quais localizados em imóveis privados, como a casa do empresário ro-berto Marinho, que morreu em 2003, no cosme Velho. outros estão em lugares públicos como o edifício gustavo capanema, no centro do rio, o Hospital da lagoa e a sede do banco nacional de desenvolvimento econômico e social (bndes), que forma um conjunto com o entorno do con-vento de santo antônio, no largo da carioca, também na área central. Há obras muito conhe-cidas, como o calçadão de copacabana e o Parque do Flamengo, e outras que poucos atribuem ao paisagista, como o projeto para a avenida Presi-dente Vargas. o escritório de burle Marx elogia a iniciativa, mas avisa que ainda é pouco: segundo técnicos, há o dobro de obras na cidade e o célebre calçamento e canteiro central de copacabana está “visivelmente descuidado e deformado, exigindo cuidado imediato”. outra área importante que

Paisagismo para eles não era enfeite ou macete para arrumar obra inacabada”, diz Maria elisa costa, fi-lha do arquiteto e urbanista lúcio costa.

a grandiosidade do paisagismo de burle Marx se percebe por outra iniciativa de revitalização da obra do artista em seu centenário: a renovação da Praça dos cristais, por causa do formato das esculturas de pedra que decoram a área também conhecida como Praça cívica do Quartel general do exército, localizada no setor Militar Urbano, em brasília. doze lagos circun-dam a praça, idealizada por burle Marx e oscar nie-meyer, que ficou esquecida em meio aos vários monu-mentos da capital federal. Foi uma pesquisadora da Universidade de brasília que chamou a atenção para a obra escondida. a partir do projeto original, se notou que os poços, então cobertos de terra, abrigaram, no início da capital, lagos artificiais. são 102 mil metros quadrados de praça antes abandonados que foram restaurados e receberam, além de melhorias técnicas, mais de quatro mil peixes ornamentais, na sua maio-ria carpas. ao criar o paisagismo da Praça dos cristais, burle Marx catalogou 53 tipos de plantas, muitas de-las não nativas do cerrado, que acabaram morrendo. a exceção honrosa é um buriti de 12 metros que está no local há 38 anos. o novo espaço ganhou também 400 novas mudas. Mas as homenagens não estarão restritas ao brasil. além de uma mostra de pinturas no city club of tokyo, em cartaz no Japão, o pai-sagista foi lembrado pelo discípulo norte-americano raymond Jungles, na exposição The Orchid Show – Brazilian Modern, que reúne milhares de orquídeas

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EM GUACHE sobre papel, projeto do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, realizado em 1953: uma das parcerias com Niemeyer

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sem aproveitamento, deverá ser transformada num imenso parque com teleférico (que permitirá uma “viagem” aérea pela flora cultivada pelo modernis-ta), mercado verde, borboletário, um aquário (ini-cialmente previsto para ser construído no projeto do Parque do Flamengo, uma ideia abandonada e que agora deverá ser reavivada no novo espaço), um mangue didático, para educação ambiental, um serpentário, uma escola de jardinagem, um viveiro para multiplicar espécies vegetais a serem utilizadas no reflorestamento da bacia hidrográ-fica de guaratiba, bem como um centro de es-tudos roberto burle Marx, que abrigará o acervo pessoal e uma biblioteca para consulta pública.

avô era prImo de Karl marx

nascido em são Paulo, em agosto de 1909, filho de cecília burle, pernambucana, e de wilhelm Marx, um judeu alemão criado em trier, cidade natal de Karl Marx (1818-1883), primo de seu avô, roberto burle Marx adquiriu a paixão pelas plantas com a mãe, pianista e cantora, que o ensinou a cultivar canteiros. a família, em dificuldades financeiras, se mudou em 1913 para o rio de Janeiro. aos sete anos, o menino roberto iniciou a sua coleção de plantas. Um problema nos olhos do aprendiz de jardineiro fez com que a família fosse para a ale-manha em busca de tratamento, onde ficaram por 18 meses, entre 1928 e 1929. lá, roberto visitou as estufas do Jardim botânico de dahlem, em berlim, dividindo seu tempo entre exposições de arte e ópe-ras (era um apaixonado pelo canto e por wagner), voltando ao brasil decidido a estudar pintura. em 1930 ingressou na escola nacional de belas artes, a partir de uma sugestão do amigo lúcio costa, seu vizinho no leme. aprendeu a desenhar com o alemão leo Putz e com cândido Portinari, de quem foi assistente, ajudando-o na pintura dos mu-rais do Ministério da educação e saúde (o Palácio gustavo capanema), no rio, entre 1937 e 1938. sua pintura, que desenvolve a partir dos anos 1940, é influenciada pelo expressionismo alemão, mas o jovem também se abriu às influências do cubismo. Mais tarde, não se esquecerá desse amor pela geo-metria em seus jardins. sem se prender a nenhum

também marca uma efeméride é o sítio roberto burle Marx, comprado em 1949 pelo artista e por seu irmão, guilherme siegfried, doado ao estado (via instituto do Patrimônio Histórico e artístico nacional, iphan) após a sua morte. ao longo de 45 anos, o paisagista organizou e preservou uma das mais importantes coleções de plantas vivas do mundo: são 3.000 espécies de plantas no sítio lo-calizado na região da estrada da barra de guara-tiba. a direção do sítio, aberto à visitação pública, pretende implementar um projeto de aproveita-mento da área frontal ao local, onde burle Marx plantou várias árvores, algumas cinquentenárias, sem saber que a região pertencia ao exército. Hoje,

O CAlçADãO DE Copacabana, no

Rio, uma das mais conhecidas obras

de burle Marx

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movimento estético, passeou pelo abstracionismo e estudou de “tudo um pouco”, como dizia. ganhava dinheiro fazendo arranjos de plantas para a casa de amigos e parentes e vendendo mudas de flores.

lúcio costa, vendo o talento do colega, con-vidou-o, em 1932, para fazer o seu primeiro pro-jeto paisagístico, a casa da família schwartz, em copacabana. a “vitrine” atraiu a atenção do go-vernador lima cavalcanti, de Pernambuco, que o convidou para ser diretor de Parques e Jardins no recife, para onde se mudou entre 1934 e 1937. o estado novo, com suas pretensões de urbani-zação nacionalista, foram fundamentais para a profissionalização de roberto, que recebeu várias encomendas estatais para o Ministério da educa-ção, o aeroporto santos dumont, a associação brasileira de imprensa, e residências como as dos empresários castro Maya e roberto Marinho.

burle Marx tornou-se modernista depois de conhecer o arquiteto suíço le corbusier em sua

temporada carioca. em 1942, foi convidado por rodrigo Mello Franco para projetar os jardins da Pampulha, em belo Horizonte. cada vez mais, passou a ordenar os espaços como massas de formas e cores, uma bela sintonia entre pintu-ra e arquitetura de jardins. também se encantou pelos elementos minerais, usando-os junto com os vegetais, integrando cores, formas e texturas. basta lembrar dos famosos matacões usados nos jardins do santos dumont, no jardim de bo-tafogo ou no Parque do Flamengo. Participou ativamente da construção de brasília e viajou muito pelo brasil em busca de novas plantas, muitas das quais foram preservadas graças ao seu trabalho. “Um jardim é uma obra viva, que resulta da combinação de formas e cores, como na pintura ou nos sons musicais. Mas tudo é fruto de muita disciplina e amor pela natureza”, afirmou. a paixão pelo instável incluía, para ele, a sua permanência.

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JARDIM particular de Olivo Gomes, em São José dos Campos (SP), de 1950

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Paulo Delgado, sociólogo, ex-deputado federal (PT-MG)

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A tempestAde desAprovA o itiNerário do rio. tempo de atualizações e mudanças. Muitos não se dão conta da inundação e da injustiça das leis. não notam que profissões perdem utilidade ao mesmo tempo em que surgem novas especializações, habi-lidades e colocações. É hora de prestar atenção às re-gras que protegem mal a minoria e deixam a maioria na informalidade, no subemprego e no desemprego.

Para que a sociedade funcione, é preciso que seja clara e compreensível a legitimidade e legalidade de contratar e oferecer trabalho. e que os dois lados tenham prazer no que fazem. É necessário criar um modelo institucional protegido com autonomia ci-vil para a formulação de novas formas de contrato. isso pressupõe abrir novos horizontes de emprego com regulação independente por setores de ativida-de, territórios legais de adesão e evasão voluntária e livre, mantendo-se e aperfeiçoando-se o Fundo de garantia do tempo de serviço (Fgts). a lei de fer-ro da contratação que há hoje, somada à tributação excessiva e à lerdeza burocrática, é um freio no cres-cimento do País. a incapacidade de compreensão do oceano das modalidades de trabalho é o princi-pal fator do desemprego e informalidade entre nós, agravado pelo culto ao deus financeiro que gerou a crise que atravessamos.

dar uma conotação negativa à terceirização, flexibilização e negociação foi a maneira conser-vadora de interditar a atualização da nossa legis-lação trabalhista. não é hora de negar tudo, mas sim de repensar muita coisa. o setor público pode estimular o predomínio do número de cidadãos autônomos, fruto do aumento de contribuintes.

basta deslocar a trincheira da tributação excessiva de poucos para a da participação na produção e cir-culação da riqueza de muitos. e assim gerar mais emprego e riqueza no setor privado do que receita e emprego públicos.

num mundo de redes sociais, produção parti-lhada, multifuncionalidade e inovação, a emprega-bilidade pressupõe liberdade profissional, autonomia intelectual e cidadania trabalhista. se um operário pode ser presidente e não precisa que um fiscal de sindicato ou procurador do trabalho o acompanhe na assinatura de uma lei, por que insistir na hipossu-ficiência do trabalhador? Proteger o empregado con-tra si e não deixá-lo procurar e manter livremente seu emprego é dizer que ele sabe menos do que um oficial da justiça.

claro que nenhuma mudança deve ser unila-teral. Mas é bom lembrar que as leis trabalhistas existem para a defesa dos trabalhadores e também para as necessidades da gestão empresarial. ou al-guém imagina que é possível aumentar o número de empregos sem que os empresários efetivamente queiram contratar? o desinteresse em aceitar a nova realidade do trabalho se vale muito da dispersão das autoridades, temerosas de enfrentar o mundo moderno, e descuidadas da busca de eficiência do estado provedor.

ninguém escolhe a vida precária. Um cha-mado à solidariedade, responsabilidade e visão de futuro vale mais do que insistir na obediên-cia a regras ultrapassadas, que fazem do ambiente trabalhista e tributário o relógio parado do nosso desenvolvimento.

proteção sem tutelANum mundo de versatilidade e inovação, gerar empregos exige liberdade profissional, autonomia intelectual e cidadania trabalhista