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CENTRO-OESTE Ano 7 nº 82A dezembro 2007 CENTRO-OESTE EDIÇÃO ESPECIAL REGIONAL ENTREVISTA PRATINI DE MORAES: GRÃOS VIRAM CARNE, O MAIOR NEGÓCIO INTERNACIONAL BRASILEIRO DE FRONTEIRA AGRÍCOLA A FRONTEIRA INDUSTRIAL ENERGIA NOVOS INVESTIMENTOS NO ETANOL E NO BIODIESEL ECOTURISMO NO PANTANAL E NO CERRADO, RIQUEZA QUASE INEXPLORADA

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CENTRO-OESTE

Ano 7nº 82Adezembro2007

CENTRO-OESTE

EDIÇÃO ESPECIAL REGIONAL

ENTREVISTA PRATINI DE MORAES: GRÃOS VIRAM CARNE, O MAIOR NEGÓCIO INTERNACIONAL BRASILEIRO

DE FRONTEIRAAGRÍCOLAA FRONTEIRAINDUSTRIAL

ENERGIANOVOS INVESTIMENTOS

NO ETANOL E NO BIODIESEL

ECOTURISMONO PANTANAL E NO CERRADO,RIQUEZA QUASE INEXPLORADA

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DESAFIOS E OPORTUNIDADESDO NOVO CENÁRIOA expansão econômica do Centro-Oeste aumentou ademanda por profissionais. Com investimentos em capitalhumano, a Indústria contribuirá para manter a prosperidade

Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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A REGIÃO CENTRO-OESTE PASSOU POR GRANDES

transformações no passado recente. É uma das quemais cresceram no País: entre 1985 e 2004, oProduto Interno Bruto (PIB) aumentou 110%,bem acima da média nacional de 63%. Integra aregião o Mato Grosso, estado brasileiro com omelhor desempenho no período, cujo PIB cresceu315% ao longo de duas décadas.

O desenvolvimento do Brasil Central foi inicial-mente resultado de investimentos em agropecuária.Depois, vieram empresas que agregaram valor àsmatérias-primas. Mais tarde, fornecedores de insu-mos. A estrutura econômica ganhou musculatura,tornando-se mais complexa em múltiplos setores.Hoje, o mercado vai além do campo e da própriaregião. Produzem-se no Centro-Oeste carros, cami-nhões e medicamentos. Novas fábricas exigemnovos profissionais. Atento a novas demandas, oSENAI passou a formar trabalhadores para o pólofarmacêutico de Anápolis (GO).

Os empreendimentos no Centro-Oeste devemser vistos como parte das expressivas mudanças queocorreram na estrutura produtiva do Brasil. O per-curso de evolução da indústria é dinâmico e se alterano tempo. Em seis décadas, os ciclos de expansão dosetor foram colocando novos desafios à medida que seampliou a complexidade da matriz industrial e houvecrescente incorporação de tecnologias, que modifica-ram o perfil requerido para a força de trabalho.A mobilidade do capital produtivo é outro fator ebeneficiou o Centro-Oeste, que tem hoje taxas maissignificativas de emprego. Essa nova geografia produ-tiva criou demandas por escolaridade onde o sistemaeducacional público exibia infra-estrutura mais frágil.

Para atender ao novo perfil profissional requeri-do, a CNI lançou o programa Educação para NovaIndústria, 2007 – 2010, uma arrojada iniciativaque ampliará em 30% as matrículas dos cursos doSENAI e do SESI, com recursos da ordem deR$ 10,5 bilhões nesse quadriênio. A meta é atingir16,2 milhões de matrículas, 7,1 milhões em educa-ção básica e continuada (SESI) e 9,1 milhões emeducação profissional (SENAI). Também os docen-tes serão formados e os laboratórios modernizados,à luz das novas competências técnicas e pedagógicas.

A consolidação de novas regiões industriais é algonotável no Centro-Oeste. Goiás, além do pólo far-macêutico mencionado, abriga montadoras de veí-culos e de máquinas agrícolas. No sudoeste doEstado, há forte presença da agroindústria. No norte,de grandes projetos de mineração. No oeste de MatoGrosso do Sul, há investimentos na produção deferro-gusa e projetos na área de siderurgia. No leste,há planos de implantar um pólo de papel e celulose.

Há, ainda, a exigência de se antecipar àsdemandas. É imprescindível prever um ambientede geração de conhecimento fundado no acessoamplo às tecnologias da informação e comunica-ção (TICs). No caso do Distrito Federal, compopulação de renda e escolaridade altas, essa pers-pectiva é clara. Há planos para a criação da CidadeDigital, que deverá gerar 40 mil empregos.

O Brasil como um todo está alcançando taxas decrescimento mais altas, que o Centro-Oeste já temexperimentado. Mas a sustentação desse crescimen-to depende de que nos preparemos para os desafiose as oportunidades da globalização. E a chave doprocesso será a qualidade do capital humano.

ARMANDO MONTEIRO NETO

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www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE);Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio GouvêaVieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José deFreitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures(PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), JorgeParente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis BenevidesGadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI);1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO);2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL);1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT);2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza FlexaRibeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge MachadoMendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Pradode Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), JoãoFrancisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio AndréGuareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), FranciscoRenan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco(SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio deBorges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCALTitulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC);Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP),Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL

ISSN 1519-7913Revista mensal do Sistema IndústriaDiretor executivo - Edgar LisboaDiretor institucional - Marcos Trindade

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

e Gerência de Jornalismo da UNICOMSBN Quadra 1, Bloco C, 14º andar Brasília - DF - CEP 70040-903 Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550e-mail: [email protected]ção IW Comunicações - Iris Walquiria Campos RedaçãoEditor: Paulo Silva Pinto Editores-assistentes: Enio Vieira e Luciano MilhomemEditor de arte: Flávio CarvalhoRevisão: Shirlei NatalinePublicidade FSB ComunicaçõesMagno Trindade - [email protected] Visconde de Pirajá, 547 - Grupo 301Rio de Janeiro - RJ - CEP 22410-003 Tels.: (21) 2512.9920 / 3206.5061Gilvan Afonso - [email protected] Quadra 06 - Conj. A - Bloco E sala 713Brasília - DF - CEP 70322-915 Tel.: (61) 3323-1072Cel.: (61) 8447-8758Impressão - Gráfica CoronárioCAPA: FSB DESIGN - FÁBRICA DA MITSUBISHI - DIVULGAÇÃOAs opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

6 EntrevistaO ex-ministro Marcus Pratini de Moraes acredita que o Centro-Oestecontinuará a crescer com vigor, mas alerta para a falta de investimentosem infra-estrutura

12 CapaO Centro-Oeste cresceu acima da média nacional nas últimas duas décadas,agregando valor aos produtos agrícolas e mais tarde consolidando novossetores industriais

18 Mato GrossoEstado é o que teve o maior crescimento do Produto Interno Bruto(PIB) no País entre 1985 e 2004, graças aos investimentos na agropecuáriae na agroindústria

24 Mato Grosso do SulA febre aftosa é página virada na história do estado, que agora celebrainvestimentos na produção de carne, etanol, siderurgia, papel e celulose

30 GoiásA economia goiana alcança novo patamar de diversificação, com fábricasde carros, caminhões e medicamentos

36 Distrito FederalBrasília descobre sua vocação industrial e busca gerar emprego e renda forado serviço público, ainda responsável pela maior fatia da economia local

42 EnergiaInvestimentos estrangeiros e nacionais garantem aumento na produção deetanol e biodiesel. Mas produtores de grãos temem o avanço da cana

46 EcoturismoCom o Pantanal Mato-grossense, o rio Araguaia e parques nacionais,a região tem imenso potencial para o ecoturismo, ainda pouco explorado

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EM 1967, NO GOVERNO COSTA E SILVA, O ECONOMISTA MARCUS PRATINI

de Moraes, então com 27 anos, ocupou interinamente o cargo de minis-tro do Planejamento. Era uma época, ele relata, em que a política dedesenvolvimento do Brasil Central ainda tinha como foco ocupar os gran-des vazios demográficos.

Nas quatro décadas seguintes, Pratini voltaria à Esplanada dosMinistérios mais três vezes: como titular da pasta da Agricultura entre 1970e 1974 (governo Médici), das Minas e Energia em 1992 (governo Collor)e da Agricultura de 1999 a 2002 (governo Fernando Henrique Cardoso).Ao deixar Brasília, tornou-se presidente da Associação Brasileira dasIndústrias Exportadoras de Carne (Abiec), com sede em São Paulo, ondeele falou a Indústria Brasileira.

A economia do Centro-Oeste, afirma o ex-ministro, tem motivos paracontinuar a crescer acima da média nacional por um bom tempo. Nesteano, o Brasil colherá uma safra recorde de grãos – metade da qual virá dosestados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Os problemas deinfra-estrutura incomodam, é verdade, mas, graças à ampliação do valoragregado, isso não impedirá a região de ampliar as exportações. Soja emilho são cada vez mais usados para alimentar o gado, que alcança noexterior preço dez vezes superior ao do peso equivalente em grãos. O for-necimento de energia não é algo que preocupe por ora, enquanto o con-sumo ainda é baixo. O problema, alerta Pratini, é que têm sido insuficien-tes as ações para evitar a escassez na próxima década.

POR PAULO SILVA PINTO

Apesar dos gargalos, o Centro-Oeste continuará acrescer acima da média nacional, segundo ex-ministro.Mas é preciso garantir o fornecimento de energia

Força paramanter o ritmo

EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO CENTRO-OESTE

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Indústria Brasileira – Como o senhor avalia o desem-penho da economia do Centro-Oeste nos anos recentes?Marcus Vinicius Pratini de Moraes – O agrone-gócio do Centro-Oeste demonstrou uma pujançaextraordinária, apesar dos altos custos de transfe-rência da produção para os portos. Mas o merca-do interno da região tam-bém cresceu bastante. OCentro-Oeste foi benefi-ciado pelo conjunto deprogramas que a genteanunciou em 2000 [quan-do Pratini de Moraes eraministro da Agricultura],viabilizando uma rápidarenovação do estoque de máquinas agrícolas, ofinanciamento da armazenagem na área do produ-tor e o financiamento de irrigação. Houve tam-bém medidas de suporte à produção de algodão eà fruticultura. A exportação de carne bovina doBrasil passou de R$ 800 milhões em 1999 paraR$ 4 bilhões de dólares no ano passado.

IB – Há perspectivas de a produção agrícola do Paíscontinuar crescendo a esse ritmo?MVPM – A safra de 2007 vai ser superior à safrarecorde de 2002/2003. Houve problemas desdeentão por conta do aumento dos juros e da queda

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do orçamento para sanidade animal, item que foipraticamente abandonado pelo governo federaldurante quatro anos. Tinha um orçamento deR$ 80 milhões que foi reduzido quase a zero.Enquanto isso, o orçamento do Ministério daReforma Agrária triplicou. Houve erro de priori-dade por parte do governo. Mas agora o agronegó-cio se recuperou desses problemas.

IB – Quanto dessa safra recorde virá do Centro-Oeste?MVPM – Aproximadamente a metade. O Centro-Oeste foi a região que teve o maior crescimento doProduto Interno Bruto (PIB) no País na década de1990 e na primeira metade desta década.

IB – Há espaço para o Centro-Oeste continuarcrescendo acima da média nacional?MVPM – Há e muito. Estão crescendo na regiãoos investimentos em soja, algodão e pecuária.Há também grande crescimento de projetos naárea de cana, etanol e açúcar, em todos os estadosdo Centro-Oeste. No Mato Grosso do Sul, porexemplo, há 42 projetos. Nem todos serão execu-tados, evidentemente. Mas a metade disso já pro-porcionará um aumento enorme de produção. Há

projetos importantes em Goiáse no Mato Grosso também.

IB – Os biocombustíveis serão oprincipal vetor de crescimento?MVPM – Eu creio que, nestasegunda metade da década, oetanol deve ser o principal res-ponsável pelo crescimento. Mas

os outros segmentos continuarão crescendo tam-bém: soja, carnes, algodão e milho.

IB – Mesmo com o câmbio desfavorável?MVPM – Sim, porque o pessoal continua investin-do. É claro que o ritmo de crescimento não seráigual ao do início da década, porque a rentabilida-de caiu muito e o preço da terra cresceu, em partedevido à concorrência provocada pela cana. Mascontinuará crescendo. Há a confiança de que asituação do câmbio se corrigirá. Ninguém esperaque o dólar volte a R$ 3, mas níveis acima de R$ 2são necessários para assegurar a rentabilidade.

Nesta segundametade da década,o crescimento virásobretudo do etanol

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IB – E se não houver correção no câmbio?MVPM – Vai se corrigir naturalmente. Com ataxa atual, o Brasil vai perder exportações. No anoque vem, o País já deve ter saldo negativo em tran-sações correntes. A balança comercial tambémtende a cair muito. Isso não é nenhum desastre edeverá levar à mudança do câmbio, pelo fato de oregime ser flutuante. Não acredito em medidasartificiais. Mas também acho que nós estamospagando um preço muito alto por termos baixadoa taxa de juros muito lentamente.

IB – A produção de grãos do Centro-Oeste é a maisonerada pelos custos de transporte no País?MVPM – É, mas esse problema se reduzirá namedida em que crescer a produção de proteínaanimal no Centro-Oeste, onde estão sendo cons-truídos praticamente todos os novos frigoríficosdo País. Há um grande aumento na capacidadede abate, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,principalmente, mas também em Goiás. A capa-cidade de abate deverá dobrar até 2010, uma vezconcluídos todos os projetos em curso. Isso vaiaumentar o consumo de grãos dentro da própriaregião, com a ampliação da criação de gado semi-confinado. Em vez de transportar soja, e milho,que valem pouco mais de US$ 200 a tonelada,embarca-se carne, que vale US$ 2.000 a tonela-da. Dependendo do corte, pode ser bem mais. A tonelada do filé-mignon chega a valer US$ 20 mil.Essa mudança reduzirá muito a participação dofrete no valor da exportação.

IB – A agregação de valor está ocorrendo também emoutros segmentos industriais?MVPM – Sim. A grande revolução do Centro-Oeste, na década de 1990, foi na área agrícola.Nessa primeira década de 2000, é de industrializa-ção de produtos agrícolas, principalmente na pro-dução de proteína animal. Também se agrega valorcom a expansão de cana e as novas usinas, que nãoproduzem só álcool e açúcar, mas também fertili-zantes e energia elétrica, a partir dos resíduos.A expansão da cana contribuirá também paramelhorar as condições de alimentação do gadobovino. Será cada vez mais difícil falar em agricul-tura e pecuária separadamente: os produtores vão

trabalhar na produção de proteína vegetal e na suatransformação em proteína animal. Além disso, jáhá na região várias fábricas de equipamentos agrí-colas, de colheitadeiras de cana, de fertilizantes,inseticidas e outros agroquímicos. A cadeia produ-tiva está se completando, deixando de depender deprodutos de fora do Centro-Oeste.

IB – Há reação de algumas regiões produtoras degrãos contra o avanço da cana, caso de Rio Verde(GO). Esse conflito é preocupante?MVPM – Não, eu acho que há um pouco de exa-gero nessas questões. É algo que ocorre em áreasmuito localizadas, onde a cadeia produtiva já estácompleta. Rio Verde, por exemplo, é grande produ-tor de soja e também de suínos e aves. De modogeral, há espaço para a expansão da cana no Centro-Oeste. Em um hectare dessa cultura, se produz hojecem toneladas. Com o avanço da genética e da tec-nologia, chegaremos a 150 toneladas. Nesse mesmohectare, se produz no máximo quatro toneladas desoja ou, numa lavoura muito boa, oito toneladas de

ENTREVISTA

A cadeia produtiva secompleta, deixa dedepender de produtosde fora da região

MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES

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milho. Hoje, no Brasil, a agricultura ocupa 46milhões de hectares. A cana ocupa 6 milhões de hec-tares para produção de 500 milhões de toneladas.Se o Brasil dobrar a produção de cana, vai usar mais6 milhões de hectares, ou menos. Como o País tem90 milhões de hectares aptos para a agricultura noSul, no Sudeste e no Centro-Oeste, há muito espa-ço para crescer. O País tem quatro coisas importan-tes: terra, sol, água e tecnologia, às quais se agregama extraordinária pujança, coragem e empreendedo-rismo dos nossos agricultores. Ao lado de tudo isso,há o mercado global. O Brasil é a última fronteiraagrícola. E o mundo precisa do Brasil para comer.Eu vejo um horizonte extremamente otimista. A preocupação evidentemente é com a infra-estru-tura brasileira, que ainda é inadequada.

IB – E o Centro-Oeste é o mais punido pelos proble-mas de infra-estrutura.MVPM – Sim, por ter crescido muito rapidamen-te. Esse é um problema bom. É a crise de crescimen-to: a roupa do rapaz que passa de 12 para 14 anos.Fica curta a manga, o sapato não serve. O que épreocupante, porém, é que nós estamos tratando deinfra-estrutura com muita lentidão. É fundamentalque haja uma ação do Poder Público mais efetiva.

IB – Isso é o desejável. O que o senhor acha quevai acontecer?MVPM – O que vai acontecer, e que já aconteceumuito no Mato Grosso, é o setor privado fazerestradas. É necessário implementar os programasde licitação e de privatização de estradas. Isso jádeslanchou, mas no Brasil tudo anda muito lenta-mente. Vai para a Justiça e não sei mais o quê. Nas décadas de 1970 e de 1980, o setor públicotomou iniciativas. O Juscelino fez a Belém-Brasília.Não tinha nada lá. Os militares asfaltaram a rodovia.

Naquela época, havia uma antecipação: o Centro-Oeste começou a crescer com aqueles projetos fei-tos no cerrado. Naturalmente, não faz mais sentidoo setor público agir como agiu 30 anos atrás, mas énecessário recuperar a eficiência.

IB– A infra-estrutura é o pior problema do Centro-Oeste?MVPM – Sim: o transporte rodoviário, o transpor-te ferroviário e, em segundo plano, a energia elétrica.Na energia elétrica, parece que as coisas estão aconte-cendo agora, vão sair esses projetos do Rio Madeira.

IB – E de novo no caso da energia, o Centro-Oeste é espe-cialmente punido pela atual escassez de infra-estrutura.MVPM – A dependência de energia elétrica não étão grande ainda porque o agronegócio consomepouca energia, mas, ao serem instalados frigorífi-cos e unidades de produção de equipamentos decarne, o consumo de energia elétrica crescerá bas-tante. Isso dependerá, é claro, da velocidade docrescimento do PIB da região e do País. O Brasilnão tem sido muito ambicioso: se contenta com4% ou 5% ao ano. A China acaba de anunciar queo seu crescimento neste ano é de 11%, a maiortaxa desde 1993. Por isso, o Brasil tem desempre-go e está exportando muita mão-de-obra. Quemfor a um frigorífico na Irlanda verá que a maiorparte do pessoal é formada de brasileiros. Nós esta-mos exportando técnicos na área de calçados e naárea de curtumes para a China, o grande competi-dor hoje do Brasil nesse terreno. Na siderurgia,também estamos exportando muitos profissionais.

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O Brasil exportaprofissionais de

frigoríficos porquecresce pouco

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IB – Na sua avaliação, o Brasil poderia crescer10% ao ano?MVPM – Eu acho que 10% não deve ser o nossoobjetivo, porque os gargalos se agravariam. Mascrescer 6% a 8% é perfeitamente possível. É claroque, para isso, nós precisaríamos aumentar o inves-timento, o que não se faz porque os gastos públicosestão crescendo muito. Neste ano, a receita tributá-ria da União cresceu 12%, e os gastos cresceram12,8%. Se diminuísse seus gastos correntes, ogoverno poderia investir um pouco mais e/ou dimi-nuir a carga tributária, porque o crescimento eco-nômico provocaria maior aumento da receita tribu-tária da União. Se a receita tivesse crescido mais seisou sete pontos percentuais, não haveria mais neces-sidade da CPMF [Contribuição Provisória sobre aMovimentação Financeira].

IB – O crescimento do Centro-Oeste terá comomaior indutor o mercado interno ou externo?MVPM – O mercado interno vai ser cada vezmais importante, inclusive o mercado interno daregião Centro-Oeste, onde apopulação está crescendomuito. Mas não há dúvida deque a exportação, que foi omotor inicial, continuará aser importante. Isso irádepender fundamentalmentedo nosso acesso ao mercadoglobal. A grande tarefa dosetor público hoje é abrir mercados, e é precisouma ação cada vez mais enérgica para isso.

IB – Quais as perspectivas do agronegócio brasileirono comércio internacional?MVPM – Há uma mudança na geografia comer-cial do mundo. Hoje, as nossas exportações doagronegócio crescem a uma taxa de 23% para ospaíses emergentes e 13% para os países da OECD[sigla em inglês da Organização para aCooperação e o Desenvolvimento Econômico,uma espécie de clube dos países mais ricos]. Osnovos mercados são os países emergentes. Antes,os três motores principais eram os Estados Unidos,União Européia, e Japão. Agora são a China, aÍndia, a Rússia, o Leste Europeu, o Sudeste

Asiático, o Oriente Médio, mesmo a África, oNorte da África, em particular. No caso de carnebovina, o nosso maior mercado ainda é a UniãoEuropéia, de 27 países, que comprou no ano passa-do US$ 1,4 bilhão. Mas a Rússia como país é

maior: comprou US$ 702milhões do Brasil. Para osEstados Unidos e o Japão,não vendemos carne fresca,só carne industrializada. Atéhoje, eles têm restrições sani-tárias injustificadas. Só semuda isso estabelecendo res-trições nossas para eles tam-

bém. A única coisa que funciona na diplomaciacomercial é o toma-lá-dá-cá.

IB – Como está a internacionalização das empresasbrasileiras no setor de carnes?MVPM – Os frigoríficos brasileiros têm lá foradois terços da capacidade de abate que eles têmaqui dentro. Carne é o primeiro grande negóciointernacional do Brasil.

IB – A febre aftosa ainda é um problema para asexportações brasileiras de carne?MVPM – Não. A febre aftosa é utilizada como argu-mento em um novo círculo de protecionismo, que éo protecionismo sanitário. Trata-se de uma doençaque não pega nas pessoas. É desculpa.

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ENTREVISTAMARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES

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O mercado da regiãojá conta muito, mas asexportações continuam

a ter importância

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A conquista do interiorHá poucas décadas, a preocupação era povoar o Centro-Oeste. Agora, aregião é uma das que tem maior crescimento industrial no País

POR PAULO SILVA PINTO, ENIO VIEIRA E LUCIANO MILHOMEM

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CAPA

AS RIQUEZAS DO CENTRO-OESTE TORNARAM-SE

conhecidas já no final do século 17, graças aosbandeirantes paulistas que descobriram ouro efundaram as vilas de Cuiabá e Goiás. Dificuldadesde acesso limitaram, porém, o crescimento daregião, que até pouco tempo atrás ainda era umterritório selvagem, a ser desbravado. Faz 50 anos,no governo Juscelino Kubitschek, veio um grande

impulso com a construção de Brasília e as estradasque, de um lado, ligaram a nova capital aos portosdo Sudeste e, de outro, rasgaram o cerrado emdireção à Amazônia. “Era uma época em que haviauma antecipação por parte do Estado”, explica oex-ministro da Indústria e Comércio e daAgricultura Marcus Pratini de Moraes (veja entre-vista na página 6).

SAPEZAL (MT) na Chapada dos Parecis: aexpansão dafronteira agrícolatrouxe para aregião frigoríficos,fábricas defertilizantes e de máquinas

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FEIRA emRondonópolis (MT),

com 250 expositores:mercado aquecidopara a indústria de

máquinas agrícolas

Nos anos recentes, tem sido o empreendedorismoprivado, muito mais que o Estado, o responsável pelodesenvolvimento econômico da região. Primeiro vie-ram agricultores, muitos da Região Sul, atraídos pelasterras baratas. Depois, a agroindústria. Em seguida,indústrias de insumos e equipamentos agrícolas. E,mais tarde, indústrias de outros setores, atraídas porcustos de produção menores e incentivos fiscais. Nadescentralização da indústria automobilística, Goiásconquistou duas montadoras: a Mitsubishi, que seinstalou dez anos atrás em Catalão, e a Hyundai, comuma fábrica recém-instalada em Anápolis.

Entre 1985 e 2004, nenhum estado brasileirocresceu mais do que o Mato Grosso. O ProdutoInterno Bruto (PIB) ficou nesse período 315%maior, de acordo com a antiga série histórica doInstituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE).O Centro-Oeste como um todo cresceu 110%,ficando atrás apenas do Norte, com 172%, masacima da média nacional de 63%. Quando se obser-va isoladamente o setor industrial, os números tam-bém são bastante favoráveis, sobretudo no períodomais recente. O Valor da Transformação Industrial(VTI) cresceu 62% na região entre 1996 e 2015. O VTI do Mato Grosso cresceu 150% no período.

O caso de Rio Verde, no sul deGoiás, é emblemático do processode industrialização regional. Hádez anos, a Perdigão se instalou nacidade, investindo R$ 412 milhõesem sua unidade. Os produtores deaves e suínos investiram em con-junto R$ 288 milhões em mega-granjas, criando assim um dosmaiores pólos do setor no País. Naseqüência, vieram investimentos defornecedores de papel e plásticos.

Apesar dos avanços recentes,os estados do Centro-Oeste têmparticipação pequena na produ-ção industrial brasileira (vejaquadro na página ao lado). Maso ritmo recente de crescimento eos novos investimentos anuncia-dos indicam que há grandepotencial de crescimento.

Há projetos econômicos emtodas as áreas, a começar pela mineração, que tor-nou o Centro-Oeste conhecido séculos atrás. Osprincipais planos estão no norte de Goiás, onde aAnglo American e a Votorantim pretendem investirmais de US$ 1 bilhão no total. Há também casos deempresas que estão agregando valor ao que sai dosolo. A EBX, do empresário Eike Batista, produzdesde setembro ferro-gusa em Corumbá (MS) etem planos de instalar uma siderúrgica na cidade.

Outro setor simbólico para o Brasil Central é apecuária. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO CENTRO-OESTE

Produto Interno Bruto (PIB)Variação entre 1985 e 2004, em %

FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE)

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disputam a posição de liderança no número debovinos no País (veja quadro com a concentraçãopor municípios na página 17). Mas também nessesetor há mudanças radicais em curso, com umatendência de acabar com o sistema em que o gadofica solto na vastidão dos pastos. Em vez disso,vários criadores têm optado pela criação semi-intensiva, em que se aproveita a grande produçãode grãos do Centro-Oeste para alimentar o gado.Eles conseguem, assim, aumentar muito a produ-tividade por hectare, e levar a carne para o merca-do de outros estados e mesmo de outros países.

Segundo o ex-ministro Pratini, embora os cus-tos de produção da criação semi-intensiva sejam

mais elevados, a vantagem para o exportador éindiscutível: conseguem-se preços ao menos dezvezes maiores do que os grãos no mercado interna-cional. Pratini, que é presidente da AssociaçãoBrasileira da Indústria e Exportação de Carne(Abiec), afirma que será cada vez mais comumencontrar produtores que se dedicam de formaintegrada à produção de proteína vegetal e suatransformação em proteína animal.

A carne já se tornou o maior negócio interna-cional do Brasil, segundo Pratini, com a expan-são dos frigoríficos brasileiros por meio da com-pra de empresas em outros países. O caso maisconhecido ocorreu neste ano com a compra pela

Friboi da empresa norte-ameri-cana Swift, tornando-se o maiornegócio do mundo no setor decarnes. A Friboi tem hoje sedeem São Paulo, mas surgiu hácinco décadas, quando o funda-dor da empresa, José BatistaSobrinho, implantou um frigo-rífico para atender a demanda daconstrução de Brasília.

Além de se expandir para forado País, os frigoríficos estão inves-

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CAPA

INAUGURAÇÃODE BRASÍLIA em1960: marco naarrancada daregião para odesenvolvimento

A participação dos estados do Centro-Oeste e a variação em dez anos, em %

Valor de Transformação Industrial

1996 2000 2005 2005/1996

Mato Grosso 0,5 0,5 1,2 150,04

Mato Grosso do Sul 0,4 0,3 0,5 47,81

Goiás 1,1 1,1 1,7 48,35

Distrito Federal 0,2 0,3 0,2 2,39

Média Centro-Oeste 62,15

Variação média Brasil 44,2

FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE)

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tindo pesadamente no Centro-Oeste para aumen-tar a produção e torná-la mais sofisticada. MatoGrosso do Sul, o estado mais afetado pela febreaftosa em 2005, reconquistou a participação nomercado internacional e prepara-se para abrigar omaior frigorífico do País, que o Grupo Bertin vaiinaugurar no mês que vem em Campo Grande.A unidade poderá empregar até 5.000 pessoas e,além de processar carne, produzirá também couropadrão exportação, o chamado wet-blue, e biodie-sel a partir do sebo dos animais abatidos. A indús-tria de carne na região Centro-Oeste se torna maiscomplexa com casos assim, de verticalização deempresas, mas também por meio de investimentosde fornecedores. A Dânica Termo-Industrial,fabricante de painéis termoisolantes para câmarasfrigoríficas, instalou neste ano uma fábrica emLucas do Rio Verde, no norte do Mato Grosso.

Na agroindústria, os principais investimentoshoje são na produção de biocombustíveis (vejareportagem na página 42). Fabricar biodiesel éuma nova etapa natural em uma região que pro-duz metade da safra de grãos do País, e onde já sedescobriu até mesmo como fazer combustível apartir de sebo animal. A Caramuru, indústria de

processamento de soja, começou a produzir bio-diesel em sua unidade de São Simão (GO) hácinco meses, depois de investir R$ 32 milhões.“O biodiesel poderá ser uma alternativa ao gásnatural, que tem sofrido crises de oferta”, aposta opresidente da empresa, César Borges.

É difícil, porém, competir em eficiência com oetanol produzido a partir da cana-de-açúcar. EmGoiás, há 100 projetos aprovados para a instalaçãode usinas de álcool, o que poderá elevar a produ-ção em 150% no prazo de cinco anos. Nem sem-pre esse movimento é bem-vindo. No municípiode Rio Verde, um dos maiores produtores de sojado estado, decidiu-se implantar um zoneamentoque limita a área plantada de cana. A idéia é evitara substituição total de uma cultura por outra, oque prejudicaria os investimentos já realizados pelaindústria de processamento dos grãos de soja.Mesmo com esse tipo de restrição, porém, especia-listas afirmam que há muito espaço para o cresci-mento da produção de cana e de álcool.

Em meio a tantas boas notícias, fica a impres-são às vezes de que não há problemas no Centro-Oeste. Mas há, e são, em grande medida, conse-qüência do rápido crescimento. A oferta de ener-

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO CENTRO-OESTE

O GADO ESTÁfaz tempo na

região, que agoraganha os maiores

frigoríficos do País

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gia ainda não é um obstáculo grave ao desenvolvi-mento, mas poderá ser, na medida em que o cres-cimento industrial fizer com que a demanda cres-ça muito. No estado de Mato Grosso, por exem-plo, a produção industrial cresceu 10,3% nesteano até setembro, e o consumo de energia pelaindústria cresceu bem mais: 20,3%.

Os gargalos já se fazem presentes, porém, emoutras áreas da infra-estrutura, principalmente naárea de transportes. Para fazer frente a isso, o MatoGrosso já colocou em prática as Parcerias Público-Privadas (PPPs), que foram responsáveis pelaconstrução de dois mil quilômetros de estradas.Além da falta de infra-estrutura física, há tambémcarência de recursos humanos em alguns setores.Anápolis (GO), onde se implantou um pólo deprodução de fármacos, principalmente genéricos,resolveu esse problema por meio de parcerias queuniram empresas e o SENAI para a formação deprofissionais (veja reportagem na página 30).

Em meio a tantas atividades florescentes, pode-se ter a idéia equivocada de que o potencial da regiãoé aproveitado plenamente. Não é o que acontece noDistrito Federal, cuja transferência para o Centro-Oeste trouxe desenvolvimento à sua volta cinco

décadas atrás . “Como Brasília foi originalmenteplanejada para desempenhar, exclusivamente, opapel de sede político-administrativa, perdemosvaliosas oportunidades de industrialização”, observao vice-governador do Distrito Federal, PauloOctavio Pereira, empresário da construção civil.Entre várias iniciativas para mudar isso, o governolocal pretende atrair investimentos de empresas naárea da tecnologia da informação, com a instalaçãodo Parque Tecnológico Capital Digital.

Outra oportunidade perdida, e essa afeta todoo Brasil Central, está no setor de turismo. Comuma natureza exuberante, não há dúvidas do gran-de potencial da região para atrair turistas do Brasile mesmo de fora do País. Para isso, porém, é pre-ciso investir mais em serviços e na atração de visi-tantes. Há muito espaço para crescer (veja reporta-gem na página 46). No Mato Grosso, estado ondeestão o Pantanal, a Chapada dos Guimarães, aAmazônia e o Rio Araguaia, o turismo representaapenas 1,14% do PIB. No Ceará, esse percentual équase quinze vezes maior.

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CAPA

Concentração de gadoDos dez municípios com o maior número deanimais, oito estão no Centro-Oeste

3 - Ribas do Rio Pardo

1 - Corumbá

5 - Cáceres

7 - Vila Bela da Santíssima Trindade

6 - Juara 2 - São Félix do Xingu

9 - Marabá

8 - Camapuã

10 - Água Clara

4 - Três Lagoas

10 - 5350053501 - 169500169501 - 356520356521 - 723871723872 - 1889553Sem efetivo

Efetivo de bovinos

BR-364, em Goiás,perto da divisa como Mato Grosso:infra-estrutura é um dos maioresproblemas doCentro-Oeste

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO CENTRO-OESTE

O tigre do Centro-OesteA agropecuária cresce e traz fornecedores industriais para o estado,que cresce a ritmo asiático

POR LUCIANO MILHOMEM

SILOS COM GRÃOS: osnegócios no campo também

se tornam mais complexos

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A NATUREZA DIVERSIFICADA E ABUNDANTE PERMITE

ao estado de Mato Grosso ostentar riqueza na pro-dução de grãos, carnes, açúcar, álcool, algodão,couro, madeira, entre outros produtos, sem contara extração mineral, como ouro e diamante. Essascommodities têm se valorizado nos últimos anoscom a demanda da China, e graças a isso os mato-grossenses têm sido beneficiados por taxas de cres-cimento econômico semelhantes à do país asiático.

Mato Grosso teve o maior crescimento entretodos os estados brasileiros de 1985 a 2004, segun-do o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). O Produto Interno Bruto (PIB) mato-grossense registrou um aumento de 315%. É odobro do desempenho médio da região Centro-Oeste no período, de 110%, que já foi bem maiordo que o do País como um todo. O Mato Grossocresceu cinco vezes mais que a média brasileira de63% nos 20 anos pesquisados.

O desempenho positivo é comemorado noestado, sobretudo, porque sucede um período dedificuldades. “Tivemos uma crise em 2005, quepiorou em 2006. Já em 2007, vivemos um pro-cesso de recuperação. A expectativa agora é deque, em 2008, o Mato Grosso apresente índicesde crescimento superiores aos da China”, apostao presidente da Fiemt, Mauro Mendes. Razõespara otimismo ele tem. Indicadores econômicosdo segundo quadrimestre deste ano são de fatoanimadores para o estado.

Cresceram a arrecadação de impostos, a gera-ção de empregos formais e o consumo de ener-gia elétrica pela indústria. Houve também supe-rávit na balança comercial. E, segundo aFederação da Agricultura e Pecuária de MatoGrosso (Femato), o estado possui hoje o maiorrebanho do País. Tem mais de 26 milhões decabeças de gado (com tendência ao crescimento)e capacidade de abate instalada de 19 mil bovinos por dia.

Em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) doMato Grosso cresceu 10,2%, um desempenhosuperior ao da China. “Ainda não temos todos osdados de 2007, mas os indicadores deste ano estãomuito próximos aos de 2004. Contando com osreflexos da política de incentivos fiscais do gover-no estadual, que só vão aparecer nos próximosdois anos, esse crescimento certamente vai se equi-parar ou ultrapassar o da China”, analisa o assessoreconômico da Fiemt, Carlos Vitor Timo. Desde1978, ano em que começou a reforma e a abertu-ra chinesa, a economia do país asiático vem man-tendo ritmo de crescimento da ordem de 9% aoano. O PIB brasileiro, por sua vez, cresceu emmédia 1,6% ao ano na década de 1980 e 2,6% aoano na década de 1990.

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EM VEZ de gadosolto no pasto, acriação passa a

ser semi-intensiva

Os indicadores econômicos de Mato Grosso,divulgados pela própria Fiemt em outubro passado,mostram que a arrecadação estadual de impostos,entre janeiro a agosto deste ano, aumentou 10%em termos reais. O Imposto sobre Circulação deMercadorias (ICMS) também cresceu em 7% emtodo o estado no mesmo período. A indústria, res-ponsável por 20% do PIB mato-grossense, cresceuainda mais: 10,3% de variação real.

O consumo de energia elétrica pelas indústriasdo estado também acumulou crescimento de20,3% entre janeiro e agosto deste ano. A Fiemtdestaca, nessa conta, a indústria de extração e tra-tamento de minerais, que alcançou aumento de67,5%. Tudo isso apesar de Mato Grosso ter tari-fa de energia entre as mais elevadas do país, e tam-bém as mais altas alíquotas de ICMS.

Outro indicador do crescimento econômicodo estado revela-se na geração de empregos for-mais, medido pelo saldo de admissões e demissõespor setores de atividade. Em 2006, foram criadas14.644 vagas. Em 2007, 35.464 vagas: umaumento de 142%. Segundo a Fiemt, esses núme-ros poderiam ser ainda melhores se houvessemenos encargos sociais sobre a folha de salários.

O superávit na balança comercial mato-gros-sense vem mantendo em 2007 desempenho ligei-ramente superior ao de 2006 – o que pode sercomemorado diante da queda no saldo comercialdo País como um todo. Até setembro passado,registrava um saldo de US$ 3,21 bilhões, 5,4%acima dos US$ 3,04 bilhões de 2006, referentes aomesmo período. Mas esse desempenho ainda émenor do que o de anos anteriores, devido ao cres-cimento de 86% das importações. A valorizaçãodo real frente ao dólar, comparando-se setembrode 2007 com o mesmo mês do ano passado, fezdiferença na balança comercial do estado.

O milho foi o grande destaque das exportaçõesmato-grossenses neste ano. Até setembro passado,registrou-se a produção de 1,98 milhão de toneladas,com faturamento de US$ 337,7 milhões. O produ-to ocupa a quarta posição entre os mais comerciali-zados na pauta de exportações do estado, atrás ape-nas da soja, do farelo de soja e da carne bovina.Na liderança, a soja ostenta uma produção médiaestadual superior a 13 milhões de toneladas por ano.

Mato Grosso atravessa fase decisiva. “Agora, éhora da agregação de valor: transformar proteínavegetal em proteína animal”, observa Timo.

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PECUARISTA PRECISA INVESTIR EM GESTÃOA qualidade em gestão do pecuarista mato-grossenseprecisa melhorar, segundo o Diagnóstico da Pecuária deCorte, que a Federação da Agricultura e Pecuária de MatoGrosso (Femato) lançou no último dia 22 de novembro.O trabalho, verdadeira radiografia de toda a cadeiaprodutiva da pecuária de Mato Grosso, identificou 50problemas para os quais sugere soluções. A prioridadedeve ser o setor primário, ou seja, o produtor.

“Há um problema de gestão no âmbito dapropriedade, do gerenciamento da fazenda no dia-a-dia”,revela o coordenador da Comissão Técnica de Pecuáriade Corte da Famato, Luiz Carlos Meister. Segundo ele, “aagricultura está melhor. O custo do grão, por exemplo, éestabelecido em sacas. Há formas mais fáceis de avaliar.Já a pecuária é mais complexa. Seu ciclo pode ter atéquatro anos. É uma gestão mais complicada, o quepode provocar perdas com maior facilidade”, esclarece.

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Segundo o assessor econômico da Fiemt, os produ-tores mato-grossenses estão, no momento, interes-sados em converter grãos, como o milho e a soja,em ração, e ração, em frango e boi. Com ele, con-corda o coordenador da Comissão Técnica dePecuária de Corte da Famato, Luiz Carlos Meister,para quem “a integração entre lavoura epecuária é oportuna” e traz benefícios.

Esse ciclo produtivo vem despertan-do o interesse de indústrias de grandeporte, que estão se instalando em MatoGrosso, como Bertin, Friboi, Perdigão eSadia. Com isso, a cadeia de produção decarnes amplia-se no estado. “Aonde umaempresa grande vai, as outras vão atrás”,afirma o assessor da Fiemt, que mencio-na também o desembarque, em terrasmato-grossenses, de fábricas de câmarasfrigoríficas e de carrocerias refrigeradaspara o transporte de carne, dispostas aabastecer esse mercado em expansão.

A dinamarquesa Dânica Termo-Industrial, líder na América Latina emprojeto, fabricação e montagem de siste-mas termoisolantes, chegou ao estado há

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um ano, com a instalação de uma fábrica de cober-turas térmicas e painéis termoisolantes para câmarasfrigoríficas e para construção civil na cidade de Lucasdo Rio Verde, a 350 km de Cuiabá. O investimentona montagem da filial, segundo a empresa, foi de R$ 9 milhões, e cerca de 90% da mão-de-obra da uni-dade mato-grossense da Dânica é da própria região.

Enquanto a palavra de ordem no Mato Grossoé agregar valor, mais uma tendência se manifestano estado: a diversidade na produção, conciliandointeresses considerados conflitantes por algunsanalistas: a produção de alimentos e a de combus-tíveis. É o caso dos grandes produtores de soja, queestão ampliando suas plantas de esmagamento dogrão e construindo, ao lado delas, usinas de bio-diesel. A idéia é aproveitar ao máximo a matéria-prima. O mesmo vem ocorrendo com alguns fri-goríficos, que preservam a gordura animal tam-bém de olho na produção de biodiesel. “São ativi-dades complementares”, explica Timo.

Os entraves à aceleração do crescimento doMato Grosso, como em outros estados do Centro-Oeste, estão especialmente na infra-estrutura, prin-cipalmente na área de transportes, um problemapara o escoamento da produção. O custo da energiatambém preocupa, assim como a falta de mão-de-obra qualificada. “Se não houvesse esses gargalos, osresultados da economia mato-grossense seriam

Outro problema identificado no diagnóstico daFemato, inspirado em trabalho semelhante realizadoem 2000 mediante parceria entre CNI, CNA e Sebrae,são as divergências entre produtores e frigoríficos.Um terceiro problema já é bastante familiar a todosos produtores da região: a questão logística, maisespecificamente do escoamento da produção.

Primeiro diagnóstico do gênero realizado noestado, “do animal no pasto à carne no prato”,segundo Meister, o trabalho aponta sugestões desolução ao governo. Chega em boa hora. Segundoa Femato, no estado detentor do maior rebanho dopaís, estimado em mais de 26 milhões de cabeçasde gado, a capacidade instalada de abate diário debovinos está em franca ascensão. Até julho de2008, essa capacidade, que hoje é de 19 mil boisao dia, deverá chegar a 31 mil cabeças diárias.

GRAÇAS AOSGRÃOS, o estadotem conseguidoaumentar osuperávit nabalança comercial

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Indústria Brasileira – Qual sua avaliação do cres-cimento da produção industrial do Mato Grosso nosúltimos anos?Mauro Mendes – O crescimento tem sido bas-tante expressivo e há uma grande tendência deaceleração nos próximos anos. Esse crescimentoé alimentado pela evolução do setor de alimen-tos – com a grande potencialidade que o estadotem de produzir matérias-primas animais evegetais. Isso tem propiciado grande avanço dosetor, alavancando todas as demais cadeias liga-das ao segmento.

IB – Quais setores têm demonstrado sinaisde fortalecimento?MM – A indústria de alimentos, de geração deenergia, biocombustíveis e, certamente, seremostambém um grande produtor de etanol nos pró-ximos anos.

IB – Quais setores têm encontrado mais obstáculospara se desenvolver no estado?

Segundo o presidente da Fiemt, MauroMendes, o robusto crescimento da economiade Mato Grosso tem sido puxado pelo setorde alimentação. Ele espera que o Plano deAceleração do Crescimento (PAC) ajude oestado a superar obstáculos na área de infra-estrutura, o que dificulta o escoamento daprodução local.

MM – Todos os setores que dependem da infra-estrutura e da logística, que são algumas de nos-sas grandes deficiências. Porém, mesmo com taisdificuldades, mas com muita competência edeterminação do empresariado, esses obstáculostêm sido superados. O Mato Grosso tem conse-guido apresentar bons indicadores de crescimen-to nos últimos anos.

IB – O senhor acha que o Plano de Aceleração doCrescimento (PAC) trará benefícios para o estadoem curto e médio prazos?MM – Como a deficiência na infra-estrutura éum dos nossos maiores obstáculos, se o PACtiver a capacidade de realmente resolver essegrande gargalo, nós teremos no estado um ciclovirtuoso nos próximos anos. Mato Grosso temuma enorme capacidade de produzir e não temo mesmo perfil de consumo. Portanto, muito doque o estado produz terá de ser transportadopara outras regiões do Brasil e do mundo, atri-buindo à infra-estrutura papel importante nessecontexto. Se o PAC tiver a capacidade de resol-ver esse entrave, Mato Grosso será um estadocom crescimento fantástico.

IB – Quais os principais desafios para a indústriamato-grossense atualmente?MM – É consolidar o processo de desenvolvi-mento, vencendo as principais barreiras que estãohoje na infra-estrutura e nas questões ambientais.

IB – As perspectivas são otimistas, então?MM – Mato Grosso deverá apresentar, até ofinal deste ano, um forte crescimento, acima damédia brasileira. Em 2008, certamente, voltare-mos a ser um dos estados com o maior cresci-mento do PIB, pois, neste momento, temosgrandes projetos em andamento na área de ener-gia, infra-estrutura, além de novos empreendi-mentos industriais que estão se estabelecendono estado. O setor de mineração apresenta tam-bém grandes perspectivas e, juntamente comoutros investimentos já iniciados, Mato Grossoapresentará, no ano de 2008, um crescimentoigual ou superior ao da China.

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ainda mais expressivos”, acredita Timo. “Nossa espe-rança é o Programa de Aceleração do Crescimento(PAC). Os projetos de Mato Grosso são imprescin-díveis para o atual modelo de crescimento.”

O vice-coordenador do Programa de Agrone-gócios e Desenvolvimento Regional da Universi-dade Federal de Mato Grosso, professor Manuelde Carvalho, também ressalta a deficiência eminfra-estrutura e os limites de geração de energiano estado. “Com esse crescimento, vamos precisarcada vez mais de energia”, lembra.

PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADASOs problemas relacionados à infra-estrutura, afirma osecretário estadual de Indústria, Comércio, Minas eEnergia, Alexandre Furlan, estão “sendo trabalhadoshá muito tempo”. Ele menciona, como exemplo, aparceria público-privada (PPP) que resultou na cons-trução de dois mil quilômetros de rodovias no estado.

Furlan, que também é primeiro-tesoureiro daCNI, destaca ainda os resultados dos investimentosdo Fundo Estadual de Transporte e Habitação(Fethab), criado em 2002 para financiar o planeja-mento, execução, acompanhamento e avaliação dosserviços nos setores de transporte e habitação emtodo o estado. O imposto é cobrado sobre o valor doóleo diesel, frete, produção agrícola e pecuária mato-grossenses. Atualmente, segundo a Secretaria deEstado de Infra-estrutura, cerca de 30% dos recursos

desse fundo destinam-se à construção de casas popu-lares e 70% a obras nas rodovias estaduais.

Desde 2003, o estado mantém o Programa deDesenvolvimento Industrial e Comercial de MatoGrosso (Prodeic), que permitiu vários investimen-tos com base na redução do ICMS. No aspectofiscal, o professor Carvalho chama a atenção paraa necessidade de ter cuidados na concessão deincentivos fiscais a empresas atraídas ao estado, demodo a garantir a sustentabilidade de arrecadação.“Faço um balanço positivo dos incentivos para ocrescimento de Mato Grosso, mas é importanteter cuidados”, afirma. Furlan explica que a conces-são de incentivos não representa risco à sustenta-bilidade das contas do governo do estado porqueo ICMS gerado pelo produto da indústria repre-senta 15% do valor do ICMS total. O restanteprovém principalmente a partir de combustíveis,energia, telecomunicações etc.

“Nenhuma das empresas que estão se instalandoem Mato Grosso viria para cá sem incentivos fiscais.Se elas não vêm, você não tem imposto”, garanteFurlan. Segundo o secretário, entre 2004 e 2007,122 empresas investiram mais de R$ 878 milhõesno estado e geraram quase 10 mil empregos diretose mais de 28 mil indiretos. No mesmo período, ogoverno estadual concedeu cerca de R$ 5 bilhõesem incentivos. “Seguimos critérios rigorosos de sele-ção dos projetos”, explica Furlan.

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UNIDADE DADÂNICA TERMO-INDUSTRIAL emLucas do RioVerde: a indústriachega às cidadesmais novas

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A FÁBRICA deferro-gusa da

EBX na Bolíviafoi transferida

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A ECONOMIA DE MATO GROSSO DO SUL CONHECEU

situações extremas nos últimos dois anos. Em2005, um caso de febre aftosa fechou as portas domercado internacional à carne produzida no estadoe derrubou as exportações locais. O ano de 2007trouxe a reviravolta positiva com o anúncio de 95projetos que somam investimentos de R$ 20 bilhõespara expansão e instalação de indústrias. São fri-goríficos, usinas de álcool, de biodiesel, siderúrgi-cas e um complexo de papel e celulose previstospara os próximos anos. Com esses empreendi-mentos, a indústria sul-mato-grossense terá cadavez mais peso em uma economia que historica-mente se ancorou na agropecuária.

A industrialização do estado foi um movimentoiniciado nos anos 1990. O que estimulou as indús-trias foi uma política de redução de tributos parainvestimentos e a necessidade de as empresas estaremmais perto das matérias-primas. O governo estadualmantém o programa MS Empreendedor, que consis-te na isenção do Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços (ICMS) por um prazo de até15 anos. O benefício tributário é dado aos setoresempresariais e não a empresas específicas. Com talestímulo, a participação de Mato Grosso do Sul naindústria de transformação do Brasil aumentou de0,23% em 1985 e para 0,42% em 2004, segundo osdados mais recentes do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE).

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Voltapor cimaIndústrias de carnes, etanol,siderurgia, papel e celulose elevamos investimentos em Mato Grossodo Sul, que se recuperou dasperdas provocadas pela febre aftosa

POR ENIO VIEIRA

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COURO WET-BLUE para o

mercado externopassa a ser

produzido noestado, seguindoexemplo gaúcho

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As mudanças levaram o setor industrial deMato Grosso do Sul a aumentar de 17,6% para26,9% sua participação no Produto Interno Bruto(PIB) estadual, entre os anos de 1985 e 2006, peloscálculos da Secretaria de Fazenda. A parcela daagropecuária caiu de 38,6% para 23,6%. Foi umamudança estrutural que levou o PIB sul-mato-gros-sense a crescer a uma taxa de média de 4,3% ao anode 1985 a 2004. O estado teve desempenho bemacima dos 2,5% registrados pela economia brasilei-ra no mesmo período. Essa industrialização melho-rou a renda per capita do estado que, em 2004, setornou a 10ª maior do ranking brasileiro.

Industrializar-se, porém, não significa dar as cos-tas à agropecuária. Como no restante do Centro-Oeste, as empresas de Mato Grosso do Sul apostamna estratégia de aumentar o valor agregado das com-modities agrícolas e minerais. O superintendente deIndústria e Comércio do governo estadual, JonatasCamargo, diz que o setor de carnes busca a “vertica-lização”, produzindo enlatados, hambúrgueres ealmôndegas. Em vez de vender a carne in natura, épossível fazer um produto mais elaborado no estado,com vistas à exportação. Isso começa a ocorrer como ferro e o manganês de Corumbá (MS), que fica nooeste do estado. O etanol também é outra apostapara os próximos anos.

A indústria de carne bovina sofreu um golpe duroem 2005 após a descoberta de focos de aftosa no esta-do. “Antes desse problema, chegamos a representar60% da exportação de carne do Brasil”, diz Camargo.Segundo ele, a questão da aftosa foi resolvida imedia-tamente e espera-se agora a volta das vendas ao mer-cado europeu nos próximos meses. Sob efeito dosembargos à carne no exterior, as exportações totais deMato Grosso do Sul caíram 12,6% em 2006. Só avenda externa de carne desossada fresca e congeladateve queda de 83% no ano passado, saindo de US$ 284 milhões em 2005 para US$ 47,6 milhões.

EXPORTAÇÃO EM ALTADe janeiro a setembro de 2007, a situação foi reverti-da um pouco com as vendas externas, subindo 36%no total e 25% no segmento de carne bovina. Emnovembro, uma missão da Comunidade Européiavisitou Mato Grosso do Sul e realizou uma inspeçãopara dar o sinal verde às exportações de carne. Antes,o Ministério da Agricultura concedeu o certificado aoestado como área livre de aftosa, ainda que sob a con-dição de vacinar periodicamente o rebanho.

O parque industrial de frigoríficos no estado tem34 unidades, sendo dez aprovados para exportar aoMercado Comum Europeu, mantendo condiçõessanitárias rigorosas, e seis que exportam para outras

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regiões do mundo. “O que coloca o estado na frente éa seleção do gado. Há dez anos, começamos o abate denovilho precoce, que tem a carne mais macia e segueos padrões dos mercados mais exigentes”, afirma o pre-sidente do Sindicato de Frios, Carnes e Derivados deMato Grosso do Sul (Sicadems), Ivo Scarpelli.Segundo ele, o foco dos frigoríficos são os mercados deSão Paulo, do Rio de Janeiro e a exportação.

O maior projeto de carne bovina no Brasil é anova unidade do grupo Bertin, em CampoGrande, que entra em operação no mês que vem.Esse frigorífico será o segundo maior do mundo,atrás apenas de uma unidade de processamento decarne em Chicago, nos Estados Unidos. A capaci-dade de abate é de 4.000 cabeças de gado por dia,o que pode demandar a contratação de até 5.000funcionários. O sebo retirado dos bois deverá serusado na produção de biodiesel, e o couro irá paraa fabricação de wet-blue (couro mais elaborado).Com sede em São Paulo, a empresa virou um dosgigantes do setor junto com o Friboi e anunciourecentemente um complexo de abate, biodiesel ecouro em Mato Grosso.

O presidente da Fiems, Sérgio Longen, acreditano potencial do uso de todos os produtos da cadeiade gado bovino. A proposta é realizar o processa-mento integralmente no Mato Grosso do Sul,

podendo atender à indústria de calçados, de móveise até a automobilística, que utilizam couro no aca-bamento de produtos. “Estamos trabalhando paraque nos próximos anos o setor coureiro-calçadista setorne uma realidade. Esse segmento tem um expres-sivo potencial de crescimento por termos no estadoa matéria-prima em grande quantidade”, diz.

Mato Grosso do Sul sempre dividiu a liderançacom o vizinho Mato Grosso no ranking de maiorrebanho bovino no País. Os dois estados respondemcada um por 12% do total de 204,51 milhões de cabe-ças, de acordo com levantamento do IBGE em 2004.

PROCESSAMENTO DE MINÉRIOA siderurgia vem surgindo como uma possibilidadede agregar valor à produção das commodities mine-rais. A cidade de Corumbá possui jazidas de miné-rio importantes. Em setembro deste ano, a MMXinaugurou a primeira etapa de seu projeto de ferro-gusa. Foram investidos R$ 202 milhões pelo empre-sário Eike Batista, controlador da MMX. A empre-sa deve gerar 246 empregos diretos e 1.260 indire-tos. A próxima fase poderá entrar em operaçãodaqui a cinco anos com a fabricação de aço. Apesarde estar na região de várzea pantaneira, Corumbátem morros com minérios, incluindo uréia, que éum insumo para fertilizantes agrícolas.

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A INCERTEZA no fornecimento do gás bolivianoimpede o estado decrescer ainda mais

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O presidente da Fiems, Sérgio Longen, defendeque a Reforma Tributária em discussão no go-verno federal permita manter os incentivos con-cedidos pelos estados para atrair investimentos.

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Indústria Brasileira – Como a Fiems avalia aproposta de Reforma Tributária, que acaba comincentivos fiscais?Sérgio Longen – Centro-Oeste, Norte e Nordesteprecisam de condições para atrair e manter indús-trias competitivas. Os estados com pouca densida-de demográfica podem oferecer limitações de mer-cado consumidor, mão-de-obra qualificada einfra-estrutura, o que faz com que seja primordiala criação de condições atrativas ao investimento.A Fiems é a favor da manutenção dos incentivos.Precisamos debater e encontrar meios para que aguerra fiscal não se sobreponha aos interesses pro-dutivos e para que não haja tamanha discrepânciana carga tributária de estados vizinhos.

IB – Quais setores devem despontar na indústria deMato Grosso do Sul?SL – Alimentação, metal-mecânico, vestuário e tece-

O governo de Mato Grosso do Sul trabalhapara atrair empresas e formar um pólo siderúrgico.Em abril de 2007, o grupo mineiro Siderunacomeçou a produção de ferro-gusa na primeira dastrês etapas de sua unidade na capital do estado.

Em julho, foi a vez do lançamento do projeto daFergosul, mais uma processadora de ferro-gusa,que prevê um investimento de R$ 350 milhõesnos próximos anos. “A consolidação do pólo desiderurgia dependerá também da uma ferrovia

que ligue Corumbá, CampoGrande e Bauru, no interiorde São Paulo, e reduza oscustos de transporte”, obser-va o superintendente do IELde Mato Grosso do Sul,Bergson Amarilla.

Localizada na divisa como estado de São Paulo, TrêsLagoas está recebendo umvolume expressivo de investi-mentos. Segundo a prefeitaSimone Tebet, o municípiotem a vantagem de contarcom uma infra-estrutura pri-vilegiada de hidrelétrica, ter-melétrica, gasoduto (Bolívia-Brasil) e hidrovia do RioParaná, além da ponte que dáacesso ao interior paulista. Acidade tem 90 mil habitantes

INCENTIVOS FISCAISPRECISAM SER MANTIDOS

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CENTRO DECAMPO GRANDE:

mercado local jáfunciona como

motor para odesenvolvimento

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lagem. Os esforços são para que os produtos aqui pro-duzidos tenham maior valor agregado, principalmen-te no setor de carne, que já iniciou esse processo. Oideal é a carne sair daqui já industrializada. Esperamosque seja assim nas áreas de soja, milho e couro.

IB – O setor de carnes ainda sofre os efeitos dafebre aftosa?SL – A impossibilidade de comercializá-la trouxeprejuízos irrecuperáveis. No início de novembro,o Ministério da Agricultura deu ao estado o statusde área livre com vacinação. Aguardamos a visto-ria da Organização Mundial de Sanidade Animal,que deve reconhecer o status de área livre de afto-sa. Esse fato já traz expectativa e otimismo de reto-mada do mercado internacional.

IB – O que muda no estado com investimentos degrande porte?

SL – A expansão da siderurgia e do etanol e avinda do setor de celulose e papel mostram umestado industrializado, ou em processo de indus-trialização. Os municípios se preparam paracapacitar mão-de-obra. Com a instalação damaior fábrica de celulose e papel do País, refor-çamos a mudança de nossa matriz econômica eavançamos para consolidar a industrialização.

IB – O Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) atende às demandas do Mato Grosso do Sul?SL – Não fomos atendidos em setores essenciais,como ferrovia, linhas de transmissão e geração deenergia elétrica, eclusas de hidrovias, estradas,saneamento básico. São obras que ajudariam odesenvolvimento sustentável. O setor de etanolpode gerar energia elétrica (por meio da queimado bagaço), mas não consegue vendê-la por faltade linhas de transmissão.

e é o ponto de passagem para quem entra no ter-ritório de Mato Grosso do Sul. “Conseguimos tra-zer duas fábricas de calçados, uma de biscoitos euma unidade da Metalfrio, que já está na quartaetapa de operação. A posição geográfica da cidadeé muito importante”, diz ela.

CELULOSE EM TRÊS LAGOASO principal investimento do estado está em TrêsLagoas. É o complexo de papel e celulose emconstrução. Braço do grupo Votorantim no setor,a VCP colocará R$ 3 bilhões numa unidade decelulose que produzirá a partir de 2009. Trata-sede um projeto tão grande que, no cálculo dogoverno local, equivale a 13% do PIB de MatoGrosso do Sul. Ao mesmo tempo, a InternationalPaper (IP) erguerá uma unidade de papel na cida-de. Representantes da Fiems e do governo esta-dual têm se reunindo periodicamente com as duasempresas para que elas priorizem fornecedoreslocais de serviços e de material, como uniformes.Outra idéia é também usar a base florestal de TrêsLagoas para criar um pólo moveleiro no estado.

Um dos principais gargalos do Centro-Oesteé a infra-estrutura, e o caso sul-matogrossense éum exemplo perfeito, de modo especial no que

diz respeito à energia elétrica. Segundo Camargo,do governo estadual, o preço da energia é alto emfunção dos investimentos para levar a rede elétri-ca a localidades muito distantes. O estado tem2,2 milhões de habitantes, esparsamente distri-buídos em grandes vazios demográficos – a popu-lação é igual à do Distrito Federal, em uma área61 vezes maior. A tarifa residencial paga pelos sul-mato-grossenses é a mais alta do Brasil, deacordo com dados da Agência Nacional deEnergia Elétrica (Aneel). Esperava-se que o gaso-duto Bolívia-Brasil derrubasse os preços da ener-gia, mas a crise bilateral apagou essa esperança.

A expectativa agora é que o complexo do eta-nol contribua para baixar os custos de energia, emvista da quantidade de bagaço de cana a ser produ-zido. “Os projetos das usinas de álcool têm condi-ções de fornecer 2.000 MW na co-geração debagaço”, assinala Camargo. Para uma comparação,o complexo de hidrelétricas do Rio Madeira, emRondônia, tem um potencial de 6.450 MW.Segundo a Aneel, as indústrias do Centro-Oesteenfrentam um custo mais elevado de energia elé-trica do que o restante do País. A tarifa industrialna região é de R$ 220,58 por MW/hora, acima damédia nacional de R$ 216,88.

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Salto transformadorPrimeiro, veio o aprimoramento da agroindústria. Depois, as fábricas demáquinas, de medicamentos e montadoras de automóveis e caminhõesPOR ENIO VIEIRA

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A INDÚSTRIA DE GOIÁS ESTÁ VIVENDO UM MOMENTO

de dinamismo com novos investimentos. É algodiferente do que ocorreu na década de 1990,quando grandes empresas se instalaram no estadoem busca da proximidade de matéria-prima agrí-cola. O atual movimento abre o leque de setores

industriais, que se desenvolvem em diversas regiõesdo estado. Ao norte, estão as mineradoras deníquel. A cadeia do etanol se espalha na parte sul.O segmento de aves e suínos está se consolidandorobustamente no sudoeste, em torno do comple-xo montado pela Perdigão nos últimos dez anos.

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Em Anápolis, que fica entre Goiânia e Brasília,encontram-se o pólo farmacêutico e a fábrica decaminhões da marca Hyundai.

A explicação para esses investimentos está naagressiva política de incentivos fiscais e na descentra-lização industrial que levou as empresas a se expandirfora da Região Sudeste desde os anos 1980. Foi ocaso inicial da agroindústria de tomate e soja, que saiude São Paulo e foi para Goiás. Os incentivos criarama conhecida guerra fiscal entre governos estaduais, aqual deve ser extinta com a Reforma Tributária queo governo pretende enviar ao Congresso Nacional.A estratégia deu resultados: a participação da indús-tria no Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás passou de 28,7% em 1998 para 35,5% em 2004.

No período de 1999 a 2005, a economia goiana cres-ceu 4,4%, o dobro da média brasileira de 2,6%.

O incentivo fiscal de Goiás é um financiamen-to de 73% do Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços (ICMS). As empresas têmsete ou 15 anos para pagar, com juros fixos de 2,4%ao ano. Como a inflação está acima desse nível, ataxa real de juros fica negativa. “Para os próximosanos, uma das apostas é o crescimento da metal-mecânica que pode surgir a partir dos projetos demineração e automobilístico”, diz gerente de atra-ção de investimento da Secretaria de Indústria eComércio de Goiás, Sérgio Duarte de Castro. Paraabrigar as empresas, o estado possui uma estruturade 46 distritos industriais espalhados pelo interior.

PEÇAS PARACOLHEITADEIRASde cana naunidade daJohn Deere, emCatalão: no rastroda plantação

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Segundo o coordenador técnico da Fieg,Welington Vieira, os investimentos mais expressi-vos ocorrem na mineração e no etanol. Há 100projetos aprovados de usinas de álcool, o que podeelevar em 150% a capacidade de produção em umprazo de cinco anos. As mineradoras devem inves-tir R$ 4 bilhões em três anos, principalmente nosprojetos de ferroníquel da Anglo American e daVotorantim. Esse movimento abre perspectivasboas para manter o desempenho positivo daindústria goiana em 2007. As vendas cresceram18,52% de janeiro a agosto, e o emprego subiu11,85%. O ano deve terminar com 15 mil novospostos de trabalho, acima dos 10 mil de 2006.

Grandes empresas de mineração estão investin-do pesado em Goiás. A Anglo American tem umprojeto em andamento de US$ 1,2 bilhão paraproduzir ferroníquel a partir de 2010, em BarroAlto, no norte do estado. A construção da fábricaserá no primeiro semestre de 2008 e empregará3.500 pessoas. A Votorantim é outra companhiaque se prepara para abrir uma unidade de ferroní-quel, em Niquelândia, próxima a Barro Alto. A produção começa em 2009, e os investimentossomam R$ 738 milhões. A empresa da família

Ermírio de Moraes decidiu investir com a perspec-tiva de que a demanda mundial de metais perma-necerá alta nos próximos anos. O apetite da Chinapor minérios tem apontado nessa direção.

Um dos setores industriais mais dinâmicos é ofarmacêutico, que deve crescer em 17% neste ano.As empresas se concentram em Anápolis, a terceiramaior cidade do estado, com 298 mil habitantes.Hoje, 34 indústrias estão no pólo local, sendo 23delas (como Teuto e Neoquímica) produzindoremédios e as 11 demais com distribuição. Cerca de8.000 profissionais trabalham nas empresas. “Desde1999, temos um trabalho agressivo para fortalecer o pólo com incentivos fiscais e melhorias na infra-estrutura de água e energia elétrica”, diz IvanTeixeira, presidente do Sindicato das IndústriasFarmacêuticas de Goiás (Sindifargo).

Com o crescimento do setor farmacêutico nacidade, o gargalo é a carência de profissionais qua-lificados. Segundo Teixeira, as empresas decidiramprocurar o SENAI anos atrás para resolver o pro-blema e montaram um curso de tecnólogo, quefizesse a ponte entre as atividades do químico e dofarmacêutico. Foi criado também o Instituto deGestão Tecnológica Farmacêutica, uma escola pri-

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FÁBRICA DECAMINHÕES da

Hyundai emAnápolis, símbolode diversificaçãoda indústria local

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vada que tem a participação dos laboratórios farma-cêuticos. A escola já formou 100 profissionais emáreas como a de metrologia. Especializadas emmedicamentos similares e genéricos, as empresaslocais aplicaram R$ 60 milhões em novos produtosno ano passado e R$ 100 milhões para melhoriasde instalações, informa o executivo do Sindifargo.

Anápolis recebeu nos últimos dois anos uminvestimento de grande porte com a instalação deuma unidade de caminhões da Hyundai. O grupoCaoa, concessionária de carros em São Paulo,obteve a licença da marca coreana e investiuR$ 500 milhões na primeira fase do projeto, quefunciona desde abril de 2007. O presidente da

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Indústria Brasileira – Como a Indústria de Goiásatravessa o atual período de câmbio valorizado?Paulo Afonso Ferreira – Goiás é um grandeexportador de commodities (grãos, carnes e mine-rais). Os preços internacionais desses produtosvêm compensando a perda cambial. A questão docâmbio é grave, pois a redução da demanda inter-nacional pode deprimir os preços e provocar perdade competitividade para nossas indústrias. A polí-tica econômica deve atrair os capitais produtivos,e não os capitais especulativos que atualmente cir-culam pelo País.

IB – Qual o peso dos incentivos tributários na indus-trialização de Goiás?PAF – Não seria fácil atrair indústrias para Goiássem atrativos que compensem os custos com

O presidente da Fieg, Paulo Afonso Ferreira, dizque o governo federal deve ter uma política paradesenvolver a indústria fora dos grandes centrosurbanos. Para ele, essa é a alternativa à guerra fis-cal entre os estados para atrair investimentos.

logística para se chegar aos portos. Os incentivostiveram, e ainda têm, um papel importante naindustrialização. Consideramos os incentivos jus-tos e legítimos. As regiões Sul e Sudeste tiveram odesenvolvimento sustentado por incentivos dogoverno federal, os quais não foram oferecidos aosestados de desenvolvimento recente.

IB – Como a Fieg avalia a Reforma Tributária, quetenta acabar com a guerra fiscal?PAF – A interiorização da indústria é muito boa,reduzindo as pressões sobre grandes centros urba-nos, fixando populações em suas regiões de ori-gem e aproveitando vantagens comparativas decada região. A posição da Fieg é pela permanênciae regulamentação dos incentivos fiscais. É precisouma política para desconcentrar espacialmente aindústria, por meio de mecanismos técnicos efinanceiros alocados pela União.

IB – Qual a tendência da indústria goiana nos pró-ximos anos?PAF – Continuará crescendo acima da médianacional, sustentada principalmente em alimen-tos. A indústria goiana é bastante diversificada,indo de carnes a medicamentos. Os setores commaior potencial são automóveis e autopeças, eta-nol, metalurgia, construção civil e embalagens.Segmentos voltados ao mercado externo conti-nuarão em ritmo acelerado, sobretudo carnes.

IB – O Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) beneficia Goiás? PAF – Não. Temos poucas estradas federais, algu-mas em estado precário. A ferrovia Norte-Sul sóestá viabilizada até Tocantins. Não há perspectivade hidrovias em larga escala, e as obras do aeropor-to de Goiânia encontram-se paralisadas.

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A previsão é que a Caramuru fature R$ 1,2 bilhão,em 2007, e R$ 1,5 bilhão, no próximo ano, coma recuperação de preços da soja. A primeira fábri-ca da empresa foi instalada em Itumbiara para óleode soja. A segunda unidade fica em São Simão(GO), às margens do Rio Paranaíba, de onde sepode alcançar a hidrovia do Rio Tietê. “Utilizamosa hidrovia e ferrovias. Hoje, 80% da nossa produ-ção chegam ao Porto de Santos por meio de ferro-vias”, afirma Borges.

A consolidação da agroindústria criou impor-tantes pólos no Centro-Oeste, como as cidades deRondonópolis (MT) e de Rio Verde (GO). Estaúltima começou a receber, dez anos atrás, um pro-jeto da Perdigão. A empresa investiu R$ 412 mi-lhões na unidade local, e os produtores integradosaplicaram R$ 288 milhões em megagranjas queabrigam um número enorme de aves e suínos.“Houve um efeito secundário da Perdigão, que foia vinda de fornecedores de papelão, plástico etransporte para atender à demanda da empresa”,salienta o presidente da Comigo, AntônioChavaglia, lembrando que o distrito industrial dacidade tem 280 pequenas granjas instaladas.

A Comigo é uma cooperativa local, fundada nosanos 1980, que escolheu um caminho parecido ao

empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, res-salta que essa é a única montadora de capital 100%nacional no Brasil. A meta do Caoa é investirR$ 1,2 bilhão até 2010, quando a produção atualde 10 mil unidades por ano poderá atingir 130 milveículos. Há dez anos, a Mitsubishi abriu uma uni-dade em Catalão, no sul do estado.

TRANSFORMANDO COMMODITIESO crescimento de novos setores ocorre simultanea-mente com a sofisticação de áreas tradicionais. EmGoiás, a agroindústria se desenvolveu muito nosúltimos 20 anos na busca por maior valor agregadodas cadeias produtivas de grãos (soja, milho), carnes,leite, tomates e, agora, etanol. É comum ouvir dosindustriais uma frase que virou um lema no estado:“por que exportar grãos se podemos transformá-losem óleo vegetal ou carne animal?”. A Caramurudescobriu esse caminho 30 anos atrás. Originária doParaná, ela se transferiu para a região de Itumbiara,no sul goiano. Hoje, opera com soja e biodiesel, e éespecialista em logística de transporte.

“Há 30 anos, não se armazenava milho a gra-nel em Goiás. Criamos os armazéns e ajudamos amudar o perfil do agronegócio no Centro-Oeste”,conta o presidente da empresa, César Borges.

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da Caramuru. Segundo Chavaglia, a empresa inves-tiu R$ 100 milhões nos últimos dez anos e, nesteano, iniciou o envasamento de óleo de soja em gar-rafas PET. A Cargill, multinacional de grãos, tam-bém abriu uma unidade de esmagamento de soja nacidade. As vantagens comparativas de Rio Verdeestão na oferta de matéria-prima, acesso a rodovias erecursos humanos qualificados na universidade locale na escola técnica de agropecuária. “Houve umadiversificação econômica e com uso de tecnologiatanto no campo como na cidade”, diz ele.

A Perdigão criou uma integração completa daprodução no sudoeste goiano com a compra de umfrigorífico em Jataí, a 80 quilômetros de Rio Verde,e montagem da unidade de abate de perus e ches-ters em Mineiros, que fica a 200 quilômetros.Nesta última, o investimento será de R$ 240 mi-lhões e mais R$ 270 milhões por parte dos integra-dos que construirão 200 modelos (granjas) de cria-ção de aves. A fábrica entrou em funcionamento nomês de março deste ano, gerando 400 empregosdiretos. Quando estiver pronta a unidade deMineiros, serão ao todo 2.000 funcionários.

No setor de alimentos, Goiás viu o surgimentode dois pesos-pesados da indústria. A partir dos anos1980, a Arisco cresceu expressivamente com base em

incentivos fiscais dados para a cadeia produtiva dotomate no estado. Essa política tributária foi tãoagressiva que derrubou os concorrentes instalados naregião de Jundiaí (SP). A empresa continua no esta-do, sobretudo na região metropolitana de Goiânia,mas há sete anos está sob o controle da Unilever, quemanteve a marca original. O ex-controlador daArisco, João Alves de Queiroz Júnior, partiu paraoutro segmento e tem investido no setor de limpezacom sua nova empresa, a Hypermarcas.

O COMPRADOR DA SWIFTO segundo grande caso de sucesso goiano na área dealimentos é o do frigorífico Friboi, do grupo JBS. O fundador José Batista Sobrinho chegou a Brasíliana época da construção da capital para abrir um aba-tedouro de bois. Anos depois, a empresa fixou suabase em Anápolis. A expansão definitiva veio em1995 com uma estratégia de aquisição de outrascompanhias do setor. Há dois anos, começou umprocesso de internacionalização por meio de um fri-gorífico na Argentina. Em 2007, houve mais umsalto: abertura de capital na Bolsa de Valores de SãoPaulo (Bovespa) e aquisição da norte-americana Swiftpor US$ 1,4 bilhão para se tornar uma das maiorescompanhias de carne bovina no mundo.

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Em busca dofuturo industrialO Distrito Federal quer impulsionar a manufatura e os serviçospara ter menor dependência econômica do setor público

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AOS 47 ANOS, BRASÍLIA BUSCA UMA NOVA IDENTIDADE.O Distrito Federal é visto apenas como a capital daRepública em todo o País e mesmo entre brasilien-ses – o gentílico se aplica a quem nasceu em qual-quer ponto dessa unidade da Federação, onde nãoexistem municípios, e também a quem vem defora para ficar. Na avaliação dos empresários locais,porém, o Distrito Federal poderá se tornar um dosprincipais centros econômicos brasileiros.

O setor público predomina na economia local e a influencia de forma direta e indireta. Dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),de 2004, mostram que a administração pública é res-ponsável por 59,31% do Produto Interno Bruto(PIB) do Distrito Federal. A indústria, o comércio eos serviços reunidos respondem por 40,31% (o PIBdistrital é de R$ 41,9 bilhões). Os órgãos governa-mentais empregam 17,8% dos trabalhadores ocupa-dos. A indústria, a construção civil, o comércio e osserviços empregam, juntos, 75,7% do total.

Para o professor de finanças públicas dodepartamento de Ciências Contábeis e Atuariais

OS BRASILIENSESQUEREM naeconomia local amodernidadeevocada pelaarquitetura deNiemeyer

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CAMELÓDROMOpróximo da

Esplanada dosMinistérios,

eliminado nesteano: a cidade

precisa criarempregos nosetor privado

da Universidade de Brasília (UnB), RobertoPiscitelli, o ritmo da economia do Distrito Federalvaria em função do serviço público porque depen-de dos rendimentos dos servidores. O própriosetor de serviços é dependente da demanda damáquina pública. Piscitelli também destaca o fatode a remuneração do servidor público brasilienseatingir até o dobro da dos trabalhadores do setorprivado: “Isso gera maior demanda por serviços,como os de empregados domésticos, por exem-plo”. A renda mais alta na administração públicaexplica-se pelo fato de os cargos e funções teremnível mais elevado na Capital Federal. Há tam-bém diplomatas de outros países nas embaixadase escritórios de organismos internacionais.

Piscitelli afirma que há vários desajustes noDistrito Federal por conta do rápido crescimen-to demográfico – a população, segundo o IBGE,é hoje de 2,3 milhões de habitantes. Um dosprincipais é a elevada taxa de desemprego total,de 18,1% segundo dados de agosto deste ano.Segundo o professor, a renda na cidade é mal-distribuída e concentrada, com uma classemédia forte e vários bolsões de miséria. Ele esti-ma que, na periferia, a taxa de desemprego possachegar a 30% da população.

Segundo o professor, o cresci-mento demográfico gerou tam-bém demanda maior por serviços.Piscitelli salienta que, enquantoos serviços cresceram, a indústria“minguou”. Ele critica também aelevada carga tributária: “Faltousensibilidade ao governo, que sesentia desobrigado de gerar recur-sos próprios em Brasília”. O pro-fessor acredita que o atual gover-no local tenha maior capacidadede transformar esse quadro, masalerta para a importância de seoferecerem garantias e continui-dade ao processo de industrializa-ção da cidade.

Os governos locais, segundoele, sempre desconheceram avocação econômica da cidade.Hoje, essa vocação parece clara e

diversificada. Segundo a Fibra, as cadeias produti-vas com maior número de empreendimentos sãoprincipalmente: tecnologia da informação ecomunicação, madeiras e móveis, vestuário e con-fecções, gráfica, construção civil, alimentação,grãos, metalurgia e mecânica.

O processo de crescimento da indústria brasi-liense desperta duas preocupações na Fibra: cercade 80% do que se consome no Distrito Federaltem origem em outros estados ou no exterior, e aparticipação percentual do PIB Industrial vemcaindo. Em 1980, o PIB Industrial representava17,8% da economia local. Hoje, representa poucomais de 7%. “É preciso reverter essa tendência”,ressalta o presidente da Fibra, Antônio Rocha.

Segundo o Centro Internacional de Negóciosdo Distrito Federal (CIN-DF), baseado em dadosdo Ministério da Indústria e do Comércio, dejaneiro a agosto deste ano, o Distrito Federalexportou o equivalente a US$ 51,82 milhões eimportou US$ 744,5 milhões, o que representaum saldo negativo de U$ 692,727 milhões.

Gerente do CIN-DF, programa de exportaçõesda Fibra, Luciana Furtado esclarece que o déficit seexplica, em parte, pelas importações do governofederal, sobretudo de medicamentos do Ministério

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da Saúde (MS). Essas compras “caem na conta doDistrito Federal e causam a disparidade”, afirma. OMS sozinho responde por 59,57% das importa-ções, seguido do Ministério da Justiça (8,25%).Outros motivos para o aumento da importação,segundo Furtado, são a queda do dólar e a altarenda per capita da capital.

O agronegócio, especialmente a produção deaves, está na base das exportações do DistritoFederal. À frente das empresas exportadoras deBrasília, está a Sadia, responsável por 75,28%do total, seguida da Multigrain (9,35%) e daBrazilian Hatching Eggs (6,35%).

Pujante desde a construção de Brasília, o setorimobiliário demonstra hoje sinais de desaquecimen-to. Segundo o vice-presidente da comissão de indús-tria imobiliária do Sindicato da Indústria daConstrução Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), André Oliveira, “faltam terrenos” para construir.

O setor imobiliário, que responde, segundo aFibra, por aproximadamente 14% da atividadeindustrial do Distrito Federal, “espera que ogoverno abra novas áreas de construção”. Nomomento, as imobiliárias brasilienses, detentorasda maior fatia do mercado, investem em ÁguasClaras e outras cidades de Brasília fora do chama-do Plano Piloto, a área com urbanismo em forma

de avião tombada pelo Patrimônio Histórico. “O boom da construção civil no Brasil não incluio Distrito Federal”, lamenta Oliveira.

Justamente para sanar problemas como a quedado PIB Industrial e o déficit, mesmo que relativo,na Balança Comercial do Distrito Federal, a Fibracriou, no ano passado, o Plano Estratégico deDesenvolvimento Industrial do DF (PDI/DF), ins-pirado no Mapa Estratégico da Indústria, daCNI. A proposta é promover e fortalecer a indús-tria local. Com a iniciativa, a Fibra espera ampliarde 7,7% para 14,1% a participação do setor indus-trial no PIB local até 2015, o que representaria aconsolidação e a sustentabilidade da economia locale contribuiria para reduzir as desigualdades sociais.

O Plano é resultado do trabalho de especialistasde diversas áreas, que mapearam o cenário econô-mico e a conjuntura da indústria local. Eles propu-seram, então, estratégias que envolvem, entreoutras iniciativas, atração de novos investimentosindustriais; ampliação de linhas de crédito, finan-ciamento e investimento para a atividade industrial;promoção do empreendedorismo, da integraçãoeconômica regional e do acesso das indústrias locaisàs compras governamentais; racionalização e redu-ção da carga tributária; combate à economia infor-mal e aprimoramento da infra-estrutura.

ESTÃO NA CAPITALos maiores saláriosdo setor público noPaís, responsáveispela alta renda percapita e o poderosomercado deconsumo local

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Indústria Brasileira – Como a Fibra avalia e reageà atual situação econômica do DF?Antônio Rocha – Concluímos o Plano deDesenvolvimento Industrial, o PDI. A idéia eramapear a participação da indústria no PIB doDistrito Federal. Nessa análise, verificamos que nossaparticipação hoje é de 7,8% do PIB. O objetivodesse trabalho é justamente diminuir as restrições àcompetitividade das empresas do Distrito Federalcom relação a outros estados, fortalecer a cadeia pro-dutiva delas, atrair investimentos e chegar em 2015com uma participação próxima a 14%. Criamostambém o programa DF Industrial. O objetivo deleé buscar competitividade, o que envolve a questão dacarga tributária, negociação que está sendo trabalha-da. Sobre a atração de investimentos, temos vocaçãopara indústrias como as de informação, fármacos,biotecnologia, semicondutores. Nossa ação é justa-mente mostrar que Brasília tem vários indicadores

Com o Plano de Desenvolvimento Industrial nasmãos, o presidente da Fibra, Antônio Rocha,acredita que o Distrito Federal pode atrair in-vestimentos que permitam dobrar a participa-ção da indústria no Produto Interno Bruto(PIB) local até 2015.

ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS

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é região privilegiada do ponto de vista político, popu-lacional (apenas o eixo Brasília-Goiânia tem aproxi-madamente quatro milhões de habitantes), de escoa-mento da produção, logístico e educacional (Brasíliapossui taxa de escolaridade estimada em 88%).

O que falta, então, para a indústria crescer?“A cidade precisa de uma política estável”, afirmaRocha, para quem a característica marcante nosprogramas de desenvolvimento industrial do gover-no do DF, nas últimas décadas, foi a concessão deterrenos. “Esse tipo de incentivo está próximo doesgotamento”, alerta o empresário. “Este governo,porém, tem demonstrado desejo enorme de que osetor produtivo possa deslanchar.”

O vice-governador e secretário de Desenvolvi-mento Econômico e Turismo do DF, Paulo OctavioPereira, concorda com as críticas à falta de estímulo àindústria brasiliense nos últimos anos. “Como Brasí-lia foi originalmente planejada para desempenhar,exclusivamente, o papel de sede político-administra-tiva, perdemos valiosas oportunidades de industriali-zação”, observa. Para o secretário, “somente nos anos1990, quando se tornaram evidentes os sinais deesgotamento da capacidade do Estado de absorvermão-de-obra, é que os governos passaram a estimu-lar a livre iniciativa e atrair investimentos para o DF”.

A Fibra tem bons argumentos para convencera investir no Distrito Federal, entre eles a rendaper capita da população. O PIB anual per capitado Distrito Federal é, segundo o IBGE, deR$ 19.071,00 – a média nacional é de R$ 10.520,00.O presidente da Fibra lembra também a qualidade damão-de-obra local. Para a entidade, que está produ-zindo um DVD especialmente para “vender Brasíliano exterior como cidade atrativa”, o Distrito Federal

A FALTA DETERRENOS limita

a construçãocivil, apesar da

alta demandapor imóveis

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O crescimento populacional também pesoupara o atual quadro econômico, em sua opinião.Ele destaca que o Distrito Federal passou a receber,anualmente, de 1992 a 2004, cerca de 45 milnovos trabalhadores em busca de emprego, segun-do dados do Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).“Como absorver tanta gente?”, indaga. “A respos-ta estava na industrialização e no incentivo aoempreendedorismo, em todos os níveis”, afirma.

ESTÍMULO À INOVAÇÃOSegundo Paulo Octavio, o governo do DistritoFederal tem projetos para estimular a inovação,aproveitar a energia, facilitar a logística, ampliar atransparência dos processos, garantir a competiti-vidade e vencer os entraves econômicos, como aproposta para a criação de um banco de investi-mentos, que pretende aproximar os investidoresdas carteiras de projetos previamente encubados ecom viabilidade econômica garantida.

Brasília possui quase duas mil empresas de tec-nologia da informação, segundo o 1º Censo doSetor de Tecnologia da Informação e Comunicação(TIC) do DF realizado de janeiro a setembro de2004. Representa quase 50% do total de indústrias

atrativos para receber investimentos nesses setores.Mais que isso. O atual governo do Distrito Federaltem demonstrado desejo enorme de que o setor pro-dutivo, principalmente a indústria, possa deslanchar.

IB – A que o senhor atribui a queda de dez pontospercentuais na fatia industrial do PIB do DistritoFederal desde 1980?AR – No início de Brasília, havia uma grande ânco-ra, a construção civil. A participação dessa indústriaera bastante significativa. Depois de consolidadas asobras, foram surgindo outros segmentos. Mas aindústria, de certa forma, não cresceu. Para crescer,temos que buscar atrativos, investimentos, empresas-âncoras, para desencadear a própria cadeia produti-va. Não temos grande extensão territorial, mas temosvantagens competitivas, como qualificação profissio-nal, a renda per capita da população, os equipamen-tos públicos aqui instalados, federais e locais etc.

IB – O senhor considera a carga tributária deBrasília ainda alta?AR – Outros estados criaram incentivos parainvestimento melhores do que o DistritoFederal. Cada setor tem seu caso específico. Emalguns setores, Brasília ainda não é competitiva.Goiás, por exemplo, tem carga tributária menorque a daqui. Por causa da proximidade, aconte-ce de uma gráfica se instalar em Goiás e depoisvender para Brasília.

IB – Antes do atual governo havia uma políticaindustrial para o DF?AR – Não havia. Aliás, a sugestão dessa políti-ca foi criada na Fibra. Então, fizemos o PDI,analisamos todos os cenários, as restrições, osgargalos e a competitividade. Depois, criamos oDF Industrial, que ainda depende de muitasações do governo distrital.

instaladas no DF. A maioria são micro e pequenasempresas, que atuam, sobretudo, no mercado locale têm, como principais clientes, empresas privadasdo Distrito Federal e o governo federal.

O censo também ouviu os empresários sobre oParque Tecnológico Capital Digital, projeto depólo de tecnologia da informação, que prevê a ins-talação e a operação de empresas de tecnologia emuma área de 123 hectares com infra-estrutura econdições privilegiadas. Segundo o levantamento,a maioria das empresas do setor aprova o projeto.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias daInformação do Distrito Federal (Sinfor-DF),Jeovani Salomão, os representantes do setor apóiamintegralmente o parque: “Ele pode transformar aeconomia da cidade, com a abertura de empresasque criam sinergia entre si e com a área acadêmica.Esse é um desejo do setor como um todo”.

O vice-governador concorda com o otimismode Salomão. “Prevemos a geração de cerca de 40mil empregos com a implantação do ParqueCapital Digital”, afirma Paulo Octavio. Aprovadoem lei de 2003, o parque deverá ser instalado, nospróximos meses, na Rodovia DF-003, próximo àGranja do Torto, uma das residências oficiais dopresidente da República.

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APÓS GANHAR ESPAÇO EM GRÃOS E CARNES NAS

últimas décadas, a agroindústria do Centro-Oestetem nos biocombustíveis um novo nicho para cres-cer. Atualmente, 47 usinas de etanol estão em cons-trução e 36 unidades em estudo. A região tornou-sea alternativa para investir fora de São Paulo, que con-tinuará o maior centro produtor de álcool no País. Asterras têm preço mais atraente, e os governos esta-duais oferecem incentivos fiscais vantajosos. Além deempresas nacionais, desembarcam nos estadosinvestidores globais interessados em energia reno-

vável. É o caso de fundos do financista húnga-ro George Soros e do indiano Vinod

Khosla, um dos fundadores daSun Microsystems.

A fronteira dosbiocombustíveisProjetos de etanol e biodieselavançam no Centro-Oeste cominvestimentos locais e estrangeiros.Crescimento acelerado, porém,traz preocupações

POR ENIO VIEIRA

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Em escala menor, aparecem os projetos de biodie-sel que devem utilizar um dos principais produtos daregião, a soja, como matéria-prima. Os investimentospartem de grupos nacionais como Caramuru eJaraguá Participações, este em parceria com um gran-de fundo inglês de bioenergia. O entusiasmo com osbiocombustíveis, no entanto, enfrenta obstáculos.Depois de uma série de anúncios de investimentos,alguns projetos de etanol estão sendo reavaliados.Houve queda de preços do álcool, as barreiras paraentrar no mercado europeu são ainda grandes, e acarência de infra-estrutura dificulta o transporte doCentro-Oeste até os portos para a exportação.

Goiás e Mato Grosso do Sul vivem uma corri-da do etanol que provoca reações fortes. A mais extrema ocorreu em Rio Verde, no sudoes-te goiano, onde o prefeito local conseguiu aprovaruma lei que limita o plantio de cana a 10% dos500 mil hectares do município. A medida devecair na Justiça, mas colocou um freio na expansãoda lavoura canavieira. Por sua vez, cidades vizinhas(Jataí, Montevidéu e Paraúna) receberão os inves-

timentos do grupo Cosan. “Os críticos da canaafirmam que querem impedir a implantação deuma monocultura, mas a soja ocupa uma área dezvezes maior que a da cana”, pondera o presidentedo Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcooldo Estado de Goiás (Sifaeg), André Rocha. Doespaço de terras goianas, segundo ele, 50% estãocom a pecuária, 8% com soja e 0,7% com a cana.

Em Mato Grosso, que está mais voltado ao bio-diesel, a questão ambiental virou um obstáculo. Umanorma do Conselho Nacional de Meio Ambiente(Conama) proíbe canaviais na bacia do Rio Paraguai,que forma o Pantanal. O secretário de Secretaria deIndústria, Comércio, Minas e Energia de MatoGrosso, Alexandre Furlan, conta que a AssembléiaLegislativa prepara uma lei para definir quais os limi-tes do Pantanal e assim esclarecer dúvidas legais. “O resultado é que alguns empreendimentos entra-ram em compasso de espera”, afirma Furlan, tam-bém primeiro-tesoureiro da CNI. Segundo ele, exis-tem dez projetos em consulta no governo estadual, oque mostra o interesse dos investidores.

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ENERGIA

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Em julho de 2008, uma das maiores usinas de biodiesel no Brasilentrará em funcionamento em Porangatu, que fica no extremo nortede Goiás. O grupo paulista Jaraguá Participações e o fundo inglês TEPse associaram para formar a Bionasa com um investimento deR$ 256 milhões. A escolha da cidade se deve à localização, entre arodovia Belém-Brasília e o futuro trecho da ferrovia Norte-Sul. “Era o ideal do ponto de vista logístico. A produção será todadirecionada ao mercado internacional, dentro das especificações daUnião Européia”, diz o presidente da empresa, Francisco Barreto. As regras européias incluem, por exemplo, o veto a qualquer misturacom combustível fóssil. Não se pode transportar o álcool ou biodieselem caminhões que normalmente transportam derivados de petróleo.

O Centro-Oeste tem grande potencial com biodiesel graças àprodução de soja, uma das principais matérias-primas para oproduto. A Bionasa utilizará como insumos óleo de girassol,gordura animal (sebo) e soja. Para garantir o fornecimento, aempresa já está fechando contratos com 1.500 produtoresagrícolas de Goiás, Bahia, Mato Grosso, Tocantins e TriânguloMineiro. “Será uma produção de ´safrinha´, que é no meio do anoe não prejudica a safra tradicional de grãos no verão”, ressaltaBarreto. A Petrobras vem garantindo a compra do biodiesel.

Mato Grosso está bem avançado nos projetos com biodiesel ecaminha para ter uma capacidade de 830 milhões de litros em 25indústrias, o mesmo volume de etanol produzido hoje no estado.Apenas a Barralcool, em Barra do Bugres (MT), produzirá 27milhões de litros com pinhão manso e girassol. Essa usina tem aparticularidade de fabricar tanto o biodiesel como o álcool.

O governo mato-grossense baixou a alíquota interestadual doImposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para7% para incentivar ainda mais o segmento no estado.

BIODIESEL PARA A EUROPA

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A grande questão é se a cana tomará o espaçodos grãos. O diretor do Sindicato da Indústria daFabricação do Açúcar e do Álcool do Estado deMato Grosso do Sul, Isaias Bernardini, lembraque o estado tem dez milhões de hectares compastagens e dois milhões de plantação de soja.“Desse total de pastos, só os 10% hoje degradadosvão para a cana e não ameaçam os grãos.” MatoGrosso do Sul tem 22 usinas em construção, cominvestimento médio de R$ 200 milhões por uni-dade. Os empreendimentos de maior porte são dogrupo francês Louis Dreyfus, que comprou trêsusinas e constrói mais uma, e da Adeco (que temSoros como sócio), com três unidades.

O gargalo da cadeia do etanol no Centro-Oeste está no transporte. Para melhorar a logís-tica, a Petrobras planeja dois alcooldutos: umdeles irá de Senador Canedo (GO), próximo aGoiânia, a Paulínia (SP), e outro será no eixoCampo Grande-Maringá (PR)-Paranaguá (PR).Ambos constam do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC), lançado pelo governo fede-ral, e com previsão de investimento de US$ 2 bi-lhões. “Os dutos tornarão o etanol mais compe-titivo na exportação”, assinala Bernardini. Umadas demandas na região é que o duto de CampoGrande seja levado até Cuiabá, o que estimula-ria os investimentos de Mato Grosso.

A Transpetro, subsidiária da Petrobras, diz quesó investirá no ramal até Mato Grosso se o estadoaumentar sua produção dos atuais 800 milhões para

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GEORGESOROS apostano Brasil para aprodução dealternativas aopetróleo

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POSTO NATAILÂNDIA vendebiodiesel,combustível quejunto com o etanoltem aumento nademandainternacional

dois milhões de litros de etanol por ano. Os investi-dores querem a garantia do duto para aplicar recur-sos em usinas. “É a situação do cachorro correndoatrás do próprio rabo, e os investimentos não des-lancham”, diz o diretor-executivo do Sindicato dasIndústrias Sucroalcooleiras (Sindalcool-MT), Jorgedos Santos. Mato Grosso consome 15% do álcoolproduzido, e o restante é vendido fora do estado.Para ele, o duto é fundamental porque o transporteé feito hoje por caminhão para estados da RegiãoNorte como Acre e Pará, encarecendo o produto.

As usinas de Goiás poderão contar para expor-tações, além do alcoolduto, com a ferrovia Norte-Sul, que deverá unir os 1.500 km que separamAnápolis do Porto de Itaqui, no Maranhão. Nãohá data, porém, para a conclusão da ferrovia.Independentemente da obra, a economia goianadeve receber 23 usinas, hoje em construção, até2013, que vão se juntar às 17 existentes. A estima-tiva é que se dobre a capacidade produtiva de eta-nol com um investimento de R$ 3,3 bilhões.O governo estadual já aprovou 100 projetos quesolicitaram incentivos fiscais e se concentram maisna área centro-sul do estado.

“No médio prazo, será difícil expandir a pro-dução no estado de São Paulo, por falta de terras.Com isso, Goiás ganhará espaço nos próximosdois ou três anos”, afirma Rocha, do Sifaeg. As usi-nas paulistas respondem por 61% da produçãonacional de álcool. Goiás tem uma fatia de 5%.Alguns investidores optaram por mais de um esta-do do Centro-Oeste. O ex-presidente da PetrobrasHenri Phillipe Reichstul tem projetos nas cidadesde Mineiros e Perolândia, ambas em Goiás, e AltoTaquari, no Mato Grosso, o ponto final daFerronorte. Tendo Khosla como um dos sócios,ele montou o fundo de investimento Brenco eespera aplicar US$ 2 bilhões em bioenergia.

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Ecoturismo no Centro-Oeste dá sinaisde crescimento, mas ainda tem grandepotencial inexplorado

POR LUCIANO MILHOMEM

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ECOTURISMO

O PANTANAL, A CHAPADA DOS GUIMARÃES E A CHAPADA DOS

Veadeiros são bons motivos para levar ao Centro-Oeste via-jantes de todo o Brasil e mesmo de outros países. Mas essasatrações de primeira grandeza ainda chamam mais atençãopelo potencial do que pela importância econômica.Comparados com outras atrações turísticas brasileiras, comoas praias nordestinas, os atrativos do Centro-Oeste ainda têmmuito espaço a conquistar.

Enquanto a participação do turismo no PIB da Bahia é,segundo a Secretaria de Turismo do estado, da ordem de 7,7%(dado de 2004) e no Ceará, de aproximadamente 15% em2007, no Mato Grosso essa participação é pouco maior que 1%.

A boa notícia é que há muito espaço a ser ocupado no cora-ção e no bolso de quem está à procura de um destino para asférias. As empresas ligadas ao turismo no Brasil deverão ter cres-cimento de 16% no faturamento em 2007, em relação a 2006,segundo o mais recente Boletim de Desempenho Econômico doTurismo, do Ministério do Turismo (Mtur) e da FundaçãoGetúlio Vargas (FGV).

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No caso do Centro-Oeste, grande parte dosroteiros está na vertente do ecoturismo. É um tipode destino em ascensão, apesar da infra-estruturaprecária em algumas localidades e, no geral, da faltade promoção e divulgação. Atento a esse quadro, oMtur desenvolve, desde 2003, política específicapara o ecoturismo. Segundo a coordenadora-geralde Segmentação do Turismo, Jurema Monteiro, apolítica baseia-se em três ações principais: estímuloao estabelecimento de entidades mais fortes derepresentação do setor, apoio à estruturação deroteiros e suporte à comercialização (apresentarmais e melhor o produto ao consumidor).

No Mato Grosso, há muita expectativa quantoao crescimento do lazer ligado à natureza. O estadoabriga grande parte dos três maiores ecossistemasdo continente: Pantanal, Amazônia e Cerrado. Nãopor acaso, dos mais de 530 mil visitantes que o esta-do recebe anualmente, 45% procuram lazer, segun-do a secretaria estadual de Turismo. E lazer, nessecaso, significa turismo na natureza.

O Pantanal proporciona caminhadas, focagensnoturnas de jacarés, passeios de barco e a cavalo,observação de pássaros, safáris fotográficos. Mas aChapada dos Guimarães, a 65 quilômetros deCuiabá por estrada asfaltada, compete pela popu-laridade dos visitantes do estado. E chega a vencer.Estima-se que receba acima de 50% do total deturistas de Mato Grosso, interessados em seusmirantes, nas cachoeiras que conduzem ao ParqueNacional da Chapada, com seus 33 mil hectares,ou na Cidade de Pedra, galeria de estátuas esculpi-das pelo vento e pela erosão.

Ao norte de Mato Grosso, estão preciosos tre-chos da Amazônia, como o Sítio Arqueológico daPedra Preta e a Cachoeira de Sete Quedas, além doRio Araguaia, com mais de dois mil quilômetros deextensão. O rio envolve a Ilha do Bananal, a maiorilha fluvial do mundo, onde há cultura indígena.

Ainda que, em termos econômicos relativos, oturismo mato-grossense ainda represente pouco,tem números respeitáveis a apresentar: R$ 309 mi-lhões de faturamento anual, que ajudam a manterquase 5.000 estabelecimentos comerciais ligados aoturismo e a empregar perto de 15 mil pessoas, segun-do a Secretaria de Turismo do Estado. Dados dasecretaria apontam para um total de R$ 4 milhões de

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investimentos em turismo neste ano. Considerandoque, segundo o próprio órgão, a taxa de ocupaçãomédia dos hotéis no Mato Grosso, em 2006, foi de51%, o investimento pode ser insuficiente. Daí o inte-resse em atrair mais estrangeiros. A estratégia da secreta-ria é ampliar a participação em feiras internacionais.

No vizinho Mato Grosso do Sul, há três destinosconsolidados: a outra parte do Pantanal, Bonito e aSerra da Bodoquena. Com sua multiplicidade deespécies de mamíferos, aves, répteis, peixes e borbole-tas, o Pantanal, maior área alagável do mundo,tem flora variada e exuberante.

A cidade de Bonito e a Serra da Bodoquena,complexo turístico com aproximadamente 200quilômetros de extensão, oferece mais de 60 opçõesde passeio, como a Gruta do Lago Azul, com suasfamosas areias coloridas, e o Aquário Natural, deáguas tão cristalinas que permitem a visão de pei-xes ornamentais e plantas aquáticas.

De acordo com a Secretaria de Turismo doestado, houve saldo positivo para o turismo localem 2006. Com base no Boletim de OcupaçãoHoteleira, a secretaria calcula 830.287 hóspedes,com permanência média de três dias nos 78municípios estaduais, um aumento de 12,81%em relação ao ano anterior.

CAVERNAS E ÁGUAS QUENTESCânions, rios, cachoeiras, cavernas, trilhas.O turismo ecológico em Goiás oferece váriasopções além das areias do Rio Araguaia e dascélebres Caldas Novas e Rio Quente, maiormanancial hidrotermal do mundo. A Chapada dosVeadeiros abriga desde poços de água profundosaté altitudes de 1.600 metros. O complexo possui61 mil hectares de campos e trilhas que condu-zem a centenas de cachoeiras.

Quem procura cidades históricas podem ira Goiás, a primeira capital do estado. OuPirenópolis, cidade cravada na Serra dosPirineus, também cercada de quedas d’água,que atrai tanto quem busca turismo ruralquanto adeptos do ecoturismo e do turismode aventura. Perto dali, no município deCocalzinho, a Caverna dos Ecos chama aatenção por guardar o maior lago subterrâ-neo da América do Sul. FO

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HISTÓRIA ECACHOEIRAS napaisagem goiana,

que inclui a cidadede Goiás e a

Chapada dosVeadeiros

Outro orgulho dos goianos, o Parque das Emastem 131.868 hectares de reserva com fauna e floraexuberantes e relevo marcado por corredeiras. OParque Estadual de Terra Ronca (um dos maiorescomplexos de cavernas da América Latina), oParque Municipal do Itiquira (com a maior cachoei-ra de queda livre do Centro-Oeste) e o ParqueEstadual da Serra Dourada (famoso pelas trilhas)completam o circuito de parques goianos.

Técnico em turismo, proprietário da Itakamã,empresa de Brasília especializada em ecoturismo eturismo de aventura, Maurício Martins acreditaque o segmento cresce na região. Ele mesmo ini-ciou seu negócio há apenas dois anos e o viu cres-cer em cerca de 50%. Mas faz uma queixa: “Faltauma política de impacto mínimo no meio ambien-te, como maior controle do número de visitantes”.O biólogo do Centro de Excelência em Turismo daUniversidade de Brasília (CET/UnB) Rogério Diasconcorda: “Se a atividade turística em ambientenatural não envolver preservação, ela será apenasturismo de natureza, não ecoturismo”.

Brasília é via de acesso aos principais pólos turísti-cos do Centro-Oeste mas, em solo brasiliense, mesmoas opções estão todas dentro ou bem próximas doperímetro urbano. O Parque Nacional de Brasília,conhecido como Parque da Água Mineral, contém,em seus 30 mil hectares, piscinas de água mineral cor-

rente e trilhas. Parte dele é aberta ao público.O maior atrativo local são mesmo as cachoeiras,

como o famoso Poço Azul, no Rio da Palma. Comoa maioria das quedas d’água do Distrito Federal, ficaem propriedade particular, que costuma cobrar taxados visitantes. Também conhecida é a queda livre de12 metros da Cachoeira Tororó, no córrego Caxeta.Já Mumunhas, a três quilômetros do Poço Azul, éna verdade uma série de cachoeiras, assim comoPipiripau, próxima à cidade de Planaltina.

Em Brasília, ecoturismo pode confundir-se comturismo rural. Segundo o Sebrae-DF, a cidade temhoje 80 empreendimentos desse segmento, o dobrodo que havia quando o órgão realizou o primeirodiagnóstico do setor em 2000. São hotéis-fazenda,pousadas, restaurantes de comidas típicas, pesque-pague, centros de treinamento eqüestre. Ótimasopções para quem busca contato com a naturezasem perder o conforto do meio urbano.

O orçamento para investimento em turismono Distrito Federal, em 2007, foi da ordem de R$ 3 milhões. Para a gestão 2008-2010, há planosde investimentos de R$ 30 milhões por ano, infor-ma a Subsecretaria de Assuntos Especiais eTurismo. “O investimento para o segmento deecoturismo dependerá do Plano Plurianual, mas oturismo rural e o ecoturismo estão entre as priori-dades”, garante a subsecretária, Solete Foizer.

50 INDÚSTRIA BRASILEIRA DEZEMBRO 2007

FOLH

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO CENTRO-OESTE