os devaneios de um caminhante solitário

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  • 7/25/2019 os devaneios de um caminhante solitrio

    1/3

    OS DEV NEIOS DE UM P SSE NTE

    SOLIT RIO JEAN JACQUES

    ROUSSE U

    por E TRIZ CERIZ R IUFSC

    Di s se a ver dade : se a l -

    guem sa be de cois

    as

    contr

    ri

    as

    ao qu e aca bo de expor [ os sem

    e l as

    mil veze

    s provadas so

    s ~

    be de mentiras e i ~ p o s t u r s e

    se e

    s t

    a pe ssoa

    se

    re cu sa a e s

    c la rec e r e apr ofu nda - l a s en

    quanto

    eu

    ainda

    e stou vivo , e

    porque

    nao

    apreeia a s t i ~ a

    nem a

    verdade.

    Quanto a mim,

    de

    c l

    aro

    em vo z a l

    ta

    e s em r e

    ce i o : quem quer que me smo s em

    te r lido minhas

    obras examinar

    com os seus proprios olhos 0

    puder

    ainda assim

    julgar-me

    urn

    homem

    desonesto

    e

    urn

    ho

    mem que deve

    ser s upr i mi do .

    As

    Confissoes

    de Jean

    Jacques

    Rousseau

    p. 595 .

    om

    estas palavra s o u ~

    seau termin a As

    o n f i ~ s o e s

    escr i to

    entre

    1776 e l 770 que

    assim

    como seu

    Dialogues

    de

    Rousseau

    juge

    de Jean-Jacques

    m

    antem

    a mesma

    p r e o c u p a ~ a o

    em

    se

    expl i

    car

    frente

    a

    seus

    com

    temporaneos

    mostrando

    a sua

    vers30

    dos

    fatos ocor r iJos

    min ar

    0

    meu ear at

    er

    , meus co s

    tu mes , mi nh a s i nel i uacde s ,

    meus prazere

    s

    meus habitos e

    sua

    io

    t ranscorrer

    t umul tuad a v

    id

    a .

    o

    entanto e ste l ivro

    Os devaneios de um

    passeante

    ex a

    ue eu sou n

    atura1mente

    ,

    e t ~ O ~

    DLL

    E

    IU S

    o ~

    Nq

    2, 145-147,

    Jut IDez 83

    145

  • 7/25/2019 os devaneios de um caminhante solitrio

    2/3

    num

    reencon

    tro con

    sigo me

    s

    mo: ha 0 en

    contro

    e a desco

    be r t

    a de

    t

    e r a s i

    prop r i

    o

    como companhc

    i r

    o. So zin ho

    so l i t a r i o - que nos chega com

    doi s seculos de a t r a so , mas

    nao s em tempo - me smo se in

    s e r i ndo na

    t r i log ia

    das

    0

    bras de Rousseau , onde ou

    sou u t i l iz

    ar c omo

    teuat ica

    cen t

    ra

    l 0 s e c ol oca r no

    text

    o , apr e se nt a uma ca-

    rac

    t e r l s

    t ica mui

    to pecu

    -

    l i a r : nos mostra u

    Rous seau vivendo u momento

    unico e

    def

    ere nc i ado dos

    t

    ant

    os

    ja

    de s

    cr

    i to

    s

    por

    el e, qua l se

    ja

    0 da

    busca

    do en

    tendiment

    o de

    s i pro

    pri o .

    Mas eu afa stad o de

    l e s e de tud o, qu e sou eu

    mesmo? Ei s

    0

    que fal ta

    pr

    ocu ra r . Infe

    l i zmente

    e s

    t

    a

    procura deve

    se

    r pr e

    cedida

    por

    urn ex ame da minha

    s i

    t u

    f uma i de i a que devo

    ne

    cessaria

    mente pa s s a r par a

    c hegar dele s a mi m

    24)

    Pel a

    pri

    m

    ei

    r a ve z s e

    rompe a di r

    e t

    a e

    depen dent e com 0 ex t e r i o r ,

    ma ntida no s outros do i s l i

    vros . Aos 64 anos, Rous seau

    nao tem m

    ai

    s a

    e s p e

    de

    ser entendid

    o pel os ou t ros

    e a

    perd

    a do e l o de

    com

    0

    exter ior s e

    re ver t e

    pelo re sto da minh a vid a visto

    qu e soment c em mim en contro

    con

    a

    e s p e

    e a paz,nao

    devo

    nem q

    uero

    oc

    upar-me

    senao

    comi go mesmo . . . 26)

    Es t a pa r e c e

    se r vivid a como l ibe rtacao ,

    ge

    ra ndo

    urn

    e

    stado

    de t r n s e

    n d ~ n -

    c

    ia

    em Rous

    sea

    u . 0 text o

    f l

    ui

    tao sol ta e be lam ente , qu e

    desa

    marra

    e l i be r a Rous s ea u pa r a es

    te e ncon t ro con s igo

    pro

    p r io e

    inevitav

    elment

    e com

    0

    eu

    in te r i

    or de cada um de s eus le i to res .

    om a de descre

    ver

    es t

    e e s t a do de

    es

    p l r i t o

    tao

    singular , Rous s

    eau

    t em 0 se gu

    in

    t e

    projeto:

    mant

    er

    um r egi

    s t r

    o

    f ie l de minh as caminh a da s so l i t a

    r ias e dos devan

    eios

    que a s pr e

    cn chem, qu ando de i xo mi nha ca be

    in te i r

    am

    ente

    l i vr e e minh a s

    idei

    as s eg

    uire

    m sua in

    cl

    in acao ,

    s em

    resis tencia

    e s em emba ra

    c o s i 31

    Ese

    , ao

    termi

    na r As Con

    f i s s oe s , de

    monstrav

    a uma

    ca inab al a vel de t e r s

    ide

    sempr e

    verdadeiro

    e hone s t o co ns

    ig

    o e

    co m

    05

    outro s,

    em seus Dev

    aneio

    s

    mi t e

    que

    0

    con

    hece

    r - t e a t i

    m

    es

    mo do T

    emplo

    de e

    lfos

    nao

    e ra uma maxima t ao f ac i l de

    seguir

    quan to julg

    ar a na s minh as

    Con f i s s o e s

    v

    5

    6

    Ao todo s ao dez passc ios ,

    csc

    r i tos a pa r t i r de e

    re f lexo e s ap a r e nteme

    nte

    co r r i

    FIlagmetI-t0.6; Il.

    VLLE/U

    FS

    F

    oJUarIOPOU 6

    Ny

    2, 145-1 4 7,

    Ju t

    / Vez . 1986

    146

  • 7/25/2019 os devaneios de um caminhante solitrio

    3/3

    u ~

    co m urn t om de quem

    a l ia , a maturidad e

    das

    enc

    ias

    viv idas , 0 sen

    tim

    ento e

    qu

    ei

    ras , onde Rousseau de i xa

    f l u i r 0 pensamento s obr e a men

    t i ra , ver

    dade,

    f e l ic

    idade

    ,

    ju

    ventude,

    velhi c e, amor , pe

    la bo ta n i c a , na t u r

    ez

    a , s oc i eda

    de e t ant os outro s .

    Tendo

    est

    e s temas como

    pont o de par t i da,

    sua

    meta e

    urn profundo merg

    ulh

    o em seu in

    t e r ior : os ve rdadeiros e pr i

    a

    pai

    xao ne c e s s a r i

    as a

    r a zao.

    Es te l ivro e urn t r i bu t o

    ao ser do homem e Rousseau

    s e

    m

    ntem f i e l a i s t o , a te

    sua morte . Con

    tu

    do na o sin to

    meu s

    ufi

    c ien temen te

    cont e n te co m e sta s

    par a me j u l ga r o m p

    t ~

    i r repr

    een slve l . Pesando com

    tan t o cuidado 0 que

    devia

    aos

    ou t r os , t ere i exami nad o 0 que

    devia a mim mesmo? 5e e prcc i

    so se r j us t o para com os ou

    t ros e preciso se r sin cero

    para con

    s i

    go mesmo , e uma ho-

    menagem que

    0

    homem de be rn de

    ve

    pre

    s t

    ar

    a sua pr

    opria

    nid ade .

    66)

    Este

    ul

    t imo l ivro e er r i

    to

    po r Rousseau , nos c hega nu

    rn be la d u ~ o de Fu

    lv

    ia Mo

    re t to

    pr

    o f e s

    sor

    a de i t e r t ~

    r a Fra ncesa da Universid

    ade

    Esta dua l Pauli

    sta.

    Sua t r d u ~ o de

    monstra um

    r i

    gorosa

    p r e o c

    em 0 esti lo do autor , conser

    vando sua 6eni al i i de , ao mesmo tem

    po emque poss i b i l i t a aos l ei tores

    de hoje , 0 ente ndiment o da moder

    ni dade e cont e

    mp

    oraneidade do pensa

    mento de Rousseau.

    S re

    st

    a nos rende

    rmo

    s ao

    seu convi t e de saborear essas dell

    ci as int

    eri

    ores que as almas aman

    tes

    e doces encontram na contemp l a

    (31)

    Entrcgue-i

    l

    -nos inte.iranente

    5 docu r a de co nve rsa r comminha

    a lma . . . 26)

    pa r t e

    t ao

    qu an t o

    i mag i n :

    meiro

    s m

    otivo

    s da

    maior

    de min

    has

    nao

    sao

    c

    la

    ro s pa r a mi m mesmo ,

    havia

    po r mu i to tempo

    do

    .

    81 )

    Va i po

    uco

    a pouco ~

    do 0 te r ren o, corta ndo are sta s

    e entend endo pa s sada s

    so b no vos prisma s ; r e

    la

    t

    iviz

    a

    suas an t igas verd ade

    s,

    ~

    i ndo densas ana l i s e s sobr e as

    f o r m

    de s i mesmo e

    dos se

    res

    humanos . Tudo aqu i

    vi ve num f lu xo

    con

    t f n uo que

    nao

    permi

    te a nad a mante r uma

    f orma co ns t a n t e. Tudo se t r a ns

    forma ao nosso r e dor . me s

    mos muda mos e ning uem

    pode e

    ta r c e

    rto

    de amar a r n a

    0

    qu e

    ana

    h o j e i 7

    Os temas abordaGos

    nao

    dife rem mu i t o daqu e le s s ob r e

    os

    quai s t r atou em suas outr a s

    ob ra s , mas a

    lg

    o u dou ;Rous s eau

    mos

    t r

    a s ua sens ib i l i da de

    m is

    n .

    V

    LL

    EU SC o n i a NQ

    2, 145-147,

    Ju /Vez 86

    147