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10 a 12 de novembro de 2015

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REALIZAÇÃO

Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências – UFSCar Programa de Pós-Graduação em Filosofia Departamento de Filosofia – UNICAMP Programa de Pós-Graduação em Filosofia Departamento de Filosofia – USP Grupo de Pesquisa Filosofia Crítica e Modernidade – FiCeM

COMISSÃO ORGANIZADORA

Profa. Dra. Marisa Lopes (UFSCar) Profa. Dra. Yara Frateschi (UNICAMP) Discentes: Lili Pontinta Cá Marcelo Ferreira Junior

APOIO

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO

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EXPEDIENTE:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS REITOR: Prof. Dr. Targino de Araújo Filho VICE-REITOR: Prof. Dr. Adilson Jesus Aparecido de Oliveira CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DIRETORA: Profa. Dra. Wanda Aparecida Machado Hoffmann VICE-DIRETOR: Prof. Dr. Arthur Autran Franco de Sá Neto DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS CHEFE: Profa. Dra. Monica Loyola Stival VICE-CHEFE: Profa. Dra. Eliane Christina de Souza COORDENAÇÃO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA COORDENADOR: Prof. Dr. Luiz Damon Santos Moutinho VICE-COORDENADOR: Prof. Dr. Fernão de Oliveira Salles dos Santos Cruz ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA Vanessa Cristina Migliato Barbara Moreira EDITORAÇÃO E REVISÃO Marcelo Ferreira Junior IMAGEM Anicet Charles Gabriel Lemonnier: Lecture de la tragédie de "l'orphelin de la Chine", de Voltaire, dans le salon de madame Geoffrin (1812). Musée de la Malmaison.

Campus São Carlos Rodovia Washington Luís, km 235 - SP-310 Monjolinho, São Carlos - São Paulo - Brasil

CEP: 13565-905 Telefone: (16) 3351-8368

www.dfmc.ufscar.br

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 06 RESUMOS ...................................................................................................................... 07 Rousseau e suas autobiografias: além do autorretrato Adriano Eurípedes Medeiros Martins (IFTM) ................................................................ 07 Kant, Rousseau e o ponto de fuga da perfectibilidade: contrato social ou moralidade? Bruno Nadai (UFABC) ..................................................................................................... 08 Lei natural e natureza da lei: a questão da justiça em Rousseau Ciro Lourenço Borges Júnior (Doutorando – USP) ......................................................... 08 Kant e Rousseau: disciplina como educação negativa da razão pura Diego Kosbiau Trevisan (Doutorando – USP/Johannes Gutenberg-Universität Mainz) 09 Rousseau racionalista: três leituras Emanuele Tredanaro (UFLA) .......................................................................................... 10 Rousseau revisitado: sobre o conflito entre autonomia e autenticidade Felipe Gonçalves Silva (UFRGS) ..................................................................................... 11 Rousseau e Nietzsche como críticos da civilização ocidental Fernando Mattos (UFABC) ............................................................................................. 11 Sobre a legitimidade e segurança da ordem civil em Rousseau Flávio Reis (Doutorando – USP) ..................................................................................... 11 "Former la nation pour le gouvernement": réflexions sur les Affaires de Corse. François Calori (Université Rennes) ............................................................................... 12 Os rumos da modernidade no embate entre Hume e Rousseau Gabriel Guedes Rossatti (Doutorando – UFSC) ............................................................. 12 A potência legislativa como expressão da soberania popular n’o Contrato social de Jean-Jacques Rousseau Guilherme do Couto de Almeida (Mestrando – UFSCar) .............................................. 13 A atualização da teoria política de Jean-Jacques Rousseau Inara Luisa Marin (CEBRAP) ........................................................................................... 14 A tarefa do retor: reflexões a partir de uma leitura de A retórica de Rousseau Jean D. Soares (Doutorando – PUC-Rio) ........................................................................ 14

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Fichte leitor de Rousseau: "Estado de natureza" e a crítica da civilização Ocidental João Geraldo Martins da Cunha (UFLA) ......................................................................... 15 As bases da crítica social e do desenvolvimento civilizatório: o homem natural de Jean Jacques Rousseau Johnatas Ximenes Milani (Graduando – UNICAMP) ...................................................... 15 Crítica à sociedade comercial: ecos da obra de Jean-Jacques Rousseau em Adam Smith Julia Fleider Marchevsky (Mestranda – USP) ................................................................ 16 Sujeito de direito e liberdade republicana em Rousseau Juliana Fischer de Almeida (Mestre – PUC-PR) ............................................................. 17 Rousseau e a educação das mulheres: a formação cívica da mulher na República de Genebra Katia Proença (Mestranda – UFPel) ............................................................................... 17 Liberdade, (In)determinação e Perfectibilidade: notas sobre plasticidade e paradoxos nas antropologias de Pico Della Mirandola e de Jean-Jacques Rousseau Leonardo Oliveira Moreira (Doutorando – USP) ........................................................... 18 A soberania da vontade geral em Do Contrato social Lili Pontinta Cá (Mestranda – UFSCar) ........................................................................... 18 Hölderlin, leitor de Rousseau Luana Geronimo Aversa (Graduanda – UFSC) ............................................................... 19 Da saída do estado de natureza Luís Nascimento (UFSCar) .............................................................................................. 20 Soberania do povo, direitos do homem (e deliberação pública) em Rousseau Luiz Repa (USP/CEBRAP) ................................................................................................ 20 Perfectibilidade: da igualdade originária ao “furor de distinção” entre os homens segundo Rousseau Marcelo Ferreira Junior (Graduando – UFSCar) ............................................................ 21 Jean-Jacques Rousseau e a contemporaneidade Maria Valderez de Colletes Negreiros (UNESP) ............................................................. 21 O homem é um animal que medita Marisa Lopes (UFSCar) ................................................................................................... 22 Soberania e uso público da razão: Kant leitor de Rousseau Maurício Keinert (USP) .................................................................................................. 23

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Rousseau: a escrita e o desejo Pedro Paulo Pimenta (USP) ........................................................................................... 23 O desenvolvimento da arte de escrever e o progresso da civilização em Rousseau e Voltaire Priscila Aragão Zaninetti (Mestranda – UFSCar) ............................................................ 23 Pensador republicano ou nacionalista revolucionário? Rousseau nas lentes de Schmitt e Arendt. Raphael Neves (Pós-doutorado – UFSCar) .................................................................... 24 Considerações sobre crítica ao Iluminismo e liberdade social em Rousseau Ricardo Crissiuma (Doutorando – UNICAMP) ............................................................... 25 A soberania popular revisitada: como fica o paradoxo de Rousseau na democracia hoje? Rúrion Melo (USP) ......................................................................................................... 26 Labor moderado e ociosidade passageira: trabalho e sedentarização no Segundo Discurso Thiago Vargas Escobar Azevedo (Doutorando – USP) ................................................... 26 O comércio das santas leis em Rousseau Thomaz Kawauche (Pós-doutorado – USP) ................................................................... 27

Qual Rousseau? As leituras de Arendt, Habermas e Salinas Fortes Yara Frateschi (UNICAMP) ............................................................................................. 27

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APRESENTAÇÃO

Diversas são as obras de Rousseau que despertam o interesse de filósofos, cientistas

políticos, teóricos do direito e da educação. Especialmente a obras ditas políticas são

acolhidas não apenas pela beleza literária de sua densa exposição teórica, mas

igualmente pela atualidade de seus temas, como soberania popular, democracia

radical, autonomia, direitos do homem. O Colóquio Rousseau pretende congregar

trabalhos exegéticos e trabalhos que refletem sobre a atualidade e vitalidade dessas

obras para a compreensão de temas contemporâneos de interesse filosófico.

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RESUMOS

Rousseau e suas autobiografias: além do autorretrato

Adriano Eurípedes Medeiros Martins (IFTM) [email protected]

O sujeito que escreve sobre si mesmo e sua obra: eis a essência de uma obra

autobiográfica. Para alcançarmos nossos objetivos propomos um estudo que se inicia pela abordagem da relação público-autor. Aqui os elementos ‘para quem’ e ‘para quê’, apesar de significativos, serão secundários em face do autor que as escreve. Defendemos que o autor é uno com sua obra. Assim, Rousseau ao se defender nas Confissões (1764-1770) está defendendo, por exemplo, o Contrato Social. Tal situação se repetirá com outras quatro obras confessionais e autobiográficas: Cartas ao Sr. Malesherbes (1762); Profissão de Fé do Vigário Saboiano (1762); Diálogos de Rousseau Juiz de Jean-Jacques (1772) e Devaneios de um caminhante solitário (1776-78). Sendo o autor nosso ponto fulcral é assumir que sua vida e obra têm muito a nos elucidar nessa perquirição em que tudo converge para o mesmo sujeito, a saber, Rousseau por ele mesmo: é a tríplice identidade do sujeito, objeto e interlocutor. Neste ambiente, questões que perpassam pela sua infância em uma família desfeita, suas paixões juvenis por mulheres mais velhas, sua duradoura relação conjugal com uma mulher de espírito hodierno, o educador que não educou ninguém, a frustração por um amor tardio não correspondido por uma mulher jovem e inacessível socialmente, a dedicação à carreira musical da qual nutriu grandes expectativas de sucesso e reconhecimento e que logo foi abandonada em favor de sua profícua e conturbada carreira literária, e, por fim, o interesse pela jardinagem e herbologia como fuga e oásis de um homem que não quer mais os homens, mais ainda se quer muito e tem muito a dizer-se e defender-se. Tal situação pode ser ilustrada com um, talvez ‘o’, tema fundamental ao pensamento rousseauniano em qualquer aspecto que se queira analisa-lo, isto é, a natureza humana. No seu conjunto de obras autobiográficas constatamos um relato verossímil de si mesmo que vai além do simples desabafo. Compreendemos que o autor busca transmitir e defender um conhecimento filosófico sobre aquilo que exista de universal na natureza humana em geral. Mas, para que tal ocorresse, o gênero literário teve que recepcionar este tipo impar de escritos e torná-lo próximo dos aspectos fundamentais que caracterizam uma obra filosófica. Por fim alertamos: esta não foi uma transposição suave e tranquila. Tal perspectiva da autobiografia como uma narrativa com qualidade filosófica nos enseja compreender quatro aspectos – implícitos e explícitos – da mesma: I) aspecto formal: (a) uma narrativa; e (b) em prosa; II) assunto: sua vida individual na qualidade de uma história de sua personalidade; III) situação do autor: identidade entre o autor e o narrador; IV) posição do narrador: (a) identidade do narrador com a personagem principal; (b) viés retrospectivo da narrativa. Deste esquema interpretativo destaca-se que não é citada a “verdade”. Esta só se poderá aferir se equacionarmos, em sentido prévio, a questão da referencialidade do relato autobiográfico. Tarefa que por si só tem sérias dificuldades

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internas para alcançarmos uma definição que seja minimamente satisfatória ao contexto da filosofia do cidadão de Genebra.

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Kant, Rousseau e o ponto de fuga da perfectibilidade: contrato social ou moralidade?

Bruno Nadai (UFABC)

[email protected]

É certo que Kant toma de Rousseau um dos conceitos centrais de sua filosofia prática, o conceito de perfectibilidade. Daí que o conceito em Kant esteja marcado por aquela mesma ambiguidade essencial que o caracteriza em Rousseau: para ambos autores, a faculdade humana do auto-aperfeiçoamento é a origem de todas as virtudes e vícios da vida em sociedade; ela é, para ambos, a diferença específica que aparta o homem das demais criaturas naturais e, enquanto tal, a origem dos primeiros desenvolvimentos que levaram o homem a abandonar a sua condição natural inicial e fonte dos males e dos bens do estado presente. A um diagnóstico extremamente pessimista sobre a influência da perfectibilidade na vida em sociedade, Rousseau opõe a solução normativa da instituição do contrato social por meio da criação de um novo homem, que abandona sua existência meramente natural e é investido de uma existência moral. Diferentemente, Kant considera a instituição de um contrato social um momento meramente preparatório para uma tarefa mais difícil, sem a qual os efeitos destrutivos da perfectibilidade diagnosticados por Rousseau não poderiam ser contidos: a promoção da moralidade no mundo. Como entender e explicar as torções conceituais no conceito de perfectibilidade que permitem, diante do mesmo diagnóstico, propor soluções normativas tão distintas?

***

Lei natural e natureza da lei: a questão da justiça em Rousseau

Ciro Lourenço Borges Júnior (Doutorando – USP) [email protected]

No capítulo do Contrato Social destinado à apresentação da definição de lei (II, VI), Rousseau não apenas retoma sua crítica aos teóricos do direito divino e natural como também reafirma sua concepção de que o direito é fruto de uma convenção cujo fundamento é a lei. Desta forma, ainda que a justiça venha de deus ou emane da razão, considerando humanamente as coisas, as leis da justiça são vãs sem as leis civis e a obrigação entre os homens que dela decorre. Numa palavra, o que Rousseau

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parece determinar neste capítulo é aquilo que uma forte tradição de comentadores defende, a saber, o abandono da concepção de direito e lei naturais como fundamento do Estado e, portanto, a inserção de Rousseau entre os pensadores convencionalistas (ou mesmo, positivistas) do direito.

Assim, pretendemos com essa exposição apresentar como o longo desenvolvimento acerca da “natureza da lei”, apresentada no capítulo IV, livro II, do Manuscrito de Genebra e apenas sumariamente retomada na versão final do Contrato Social, pode oferecer uma perspectiva diferente sobre a ideia de lei natural em Rousseau, assim como sua importância como fundamento da justiça entre os homens. Em suma, para Rousseau, é preciso antes determinar o que é uma lei para o Estado para então esclarecer o que pode ser uma lei natural e, neste mesmo sentido, saber se ela pode ou não ser justa; não porque ele abandone a ideia de lei natural ou considere a justiça apenas sob seu aspecto convencional, mas porque tanto a lei como a justiça seriam, como o direito natural, um “sentimento verdadeiro mas muito vago”. Desta forma, apenas a ideia de lei, primeiro e enorme passo no sentido de uma racionalização das relações humanas pode oferecer uma pista sobre o que seria, de fato, essa lei e justiça naturais, isto é, somente uma definição da natureza da lei e uma real compreensão da generalidade da vontade que a institui possibilitariam, enfim, chegarmos a “noções distintas” da lei natural e da justiça universal.

Afirmando, enfim, no Manuscrito de Genebra, que a lei é anterior à justiça, Rousseau não pretende afirmar que esta é estritamente convencional, mas, diferentemente do estado de natureza em que ela se confunde com a ordem imutável das coisas, e também nas sociedades anteriores ao pacto social em que ela é inútil sem uma obrigação associada; após a instituição da lei, a justiça pode ser “conduzida ao seu fim” por meio de uma “lei fundamental e universal do maior bem de todos”, de modo que essa lei da razão (que é também uma lei natural) tem sua definição por meio de uma regra geral e igualmente aplicável a todos: “toda ação justa tem necessariamente por regra a maior utilidade comum; a isso não há exceção”.

***

Kant e Rousseau: disciplina como educação negativa da razão pura

Diego Kosbiau Trevisan (Doutorando – USP/Johannes Gutenberg-Universität Mainz) [email protected]

A presença do pensamento de Rousseau na formação da filosofia moral e

política de Kant, por meio respectivamente da noção de autonomia como princípio supremo da moralidade e de vontade geral como base normativa da comunidade jurídica, já foi por várias vezes ressaltada e discutida na bibliografia secundária sobre o tema. O objetivo da presente comunicação, entretanto, é identificar e desenvolver a influência de Rousseau sobre Kant em um outro âmbito e, poder-se-ia dizer, em outro nível arqueológico da história de formação da filosofia kantiana, a saber, na própria ideia da Crítica como disciplina ou legislação negativa da razão humana. Contra certa leitura que interpreta o conceito de disciplina na Crítica da Razão Pura meramente à

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luz da recepção kantiana da tradição lógica alemã do século 18 (Baumgarten, Wolff e Meier), defende-se que a concepção de disciplina como educação negativa preparatória para o uso positivo, autônomo e emancipado da razão remonta à recepção de Rousseau por parte de Kant nas décadas de 1760 e, sobretudo, 1770, momento em que a ideia de uma Crítica da Razão Pura começava a se consolidar no desenvolvimento intelectual de Kant.

***

Rousseau racionalista: três leituras

Emanuele Tredanaro (UFLA) [email protected]

“Rousseau est-il racionaliste?” Essa é a pergunta que, em 1948, abre a primeira

análise de Robert Derathé dedicada ao pensador que tornar-se-á o foco de sua futura pesquisa. Derathé insere-se em um debate já amadurecido ao longo de aproximadamente quatro décadas, e impulsionado de forma explícita por Ernst Cassirer em 1932. Derathé faz própria a indicação que, desde 1912, Victor Delbos oferecia aos intérpretes rousseaunianos, ao assinalar a unilateralidade da leitura que tradicionalmente identificava em Rousseau le philosophe de la sensiblerie, o filósofo guiado pelo sentimento e pela paixão. Embora não chegue às mesmas conclusões de Cassirer das quais abertamente distingue suas próprias, Derathé recupera o ponto central da leitura cassireriana, isto é, que a pedra de toque do sistema filosófico de Rousseau consiste em seu racionalismo. Mesmo assim, para Derathé, não pode ser desconsiderada a relevância da esfera sentimental, pena a perda da natureza multifacetada do modus philosophandi próprio de Rousseau. Ao contrário da interpretação de Cassirer que reconduzia – ou reduzia – fortemente tal tensão entre racionalismo e sentimentalismo àquela presente em Kant. Este debate, por outro lado, prolonga-se após o fim da segunda guerra mundial, encontrando na posição expressa por de Eric Weil em 1952, uma resposta decididamente afirmativa à pergunta inicial. Não é por acaso que seja um discípulo de Cassirer a levar às extremas consequências a tese ainda amenizada nas páginas do mestre. Nesta comunicação cumpriremos uma incursão nas interpretações que Cassirer, Derathé e Weil (mas, evidentemente, não apenas eles) propõem acerca do racionalismo de Rousseau, tentando apontar como o confronto com o kantismo torna-se eixo essencial para a fecundidade de todas elas, além de critério de explicação de suas diferentes perspectivas hermenêuticas.

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Rousseau revisitado: sobre o conflito entre autonomia e autenticidade

Felipe Gonçalves Silva (UFRGS) [email protected]

Leituras contemporâneas salientam em Rousseau muito mais que a defesa do

autogoverno democrático, mas uma pluralidade de princípios normativos que nos remetem, por exemplo, à tensão entre autonomia e autenticidade na constituição do indivíduo moderno. Partiremos de leituras propostas por Axel Honneth e Alessandro Ferrara para defender que, contrariamente a um eventual deslocamento do ideal democrático, a possível integração entre autonomia e autenticidade exige processos profundos de democratização social capazes de alcançar não apenas a esfera pública, como também as instituições e os hábitos da vida íntima.

***

Rousseau e Nietzsche como críticos da civilização ocidental

Fernando Mattos (UFABC) [email protected]

O objetivo da comunicação é fazer uma comparação, apontando semelhanças e

diferenças, entre os diagnósticos do Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, de Rousseau, e da Genealogia da Moral, de Nietzsche, a respeito da decadência da civilização ocidental. Se, de um lado, Rousseau aponta a propriedade privada como um elemento decisivo dessa degradação, Nietzsche, de outro, vê no valor da igualdade o principal fator de mediocrização do ser humano. Ambos, contudo, parecem ver no progresso moderno, e no distanciamento do homem em relação à natureza, um grave problema a ser superado. Tais são algumas das questões que motivarão nossa breve reflexão sobre o assunto.

***

Sobre a legitimidade e segurança da ordem civil em Rousseau

Flávio Reis (Doutorando – USP) [email protected]

A comunicação examinará, em O Contrato Social, a relação entre os conceitos

rousseauístas da legitimidade e estabilidade da ordem civil. Pretende-se utilizar a leitura proposta por John Rawls que, ao enfatizar o “problema da estabilidade”, apresenta a filosofia de Rousseau como uma tentativa de solucionar os problemas

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filosóficos de uma concepção deontológica. O objetivo é mostrar que, no pensamento do próprio Rousseau, a relação entre legitimidade e segurança revela problemas filosóficos que colocam em questão as próprias tentativas contemporâneas de formular princípios políticos capazes de garantir a estabilidade de regimes democráticos.

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"Former la nation pour le gouvernement": réflexions sur les Affaires de Corse.

François Calori (Université Rennes 1)

[email protected]

“Les plus sages en pareil cas, observant des rapports de convenance, forment le gouvernement pour la nation. Il y a pourtant beaucoup mieux à faire, c’est de former la nation pour le gouvernement”. En répondant aux sollicitations du capitaine Buttafoco et en élaborant un projet de constitution pour la Corse, Rousseau décrit ainsi la tâche qu’il se prescrit: “former la nation pour le gouvernement”. A la suite des travaux récents du «Groupe Rousseau» sur ce texte, nous essaierons de comprendre cette formule et la façon dont elle est mise en œuvre par Rousseau dans son projet, en la rapportant aux principes politiques fondamentaux du Contrat Social, mais aussi à l’autre texte de «philosophie politique appliquée» que sont les Considérations sur le gouvernement de Pologne.

***

Os rumos da modernidade no embate entre Hume e Rousseau

Gabriel Guedes Rossatti (Doutorando – UFSC) [email protected]

Muito antes de David Hume (1711-1776) e Jean-Jacques Rousseau (1712- 1778)

se conhecerem pessoalmente (entre o final de 1765 e o início de 1766) com consequências desastrosas para ambos, eles tinham desenvolvido pontos de vista bastante diferentes, senão antitéticos acerca de uma das questões mais importantes presente em diferentes contextos ao longo do século XVIII na Europa, a saber, a questão do progresso das ciências e das artes. Com efeito, a questão era importante dado que dizia respeito aos próprios fundamentos daquilo que viria a ser denominado de “modernidade” e, mais particularmente, ao estabelecimento de valores capitalistas, questão ou problemática esta que ambos Hume e Rousseau, como era típico no XVIII, trataram sob o nome de “comércio”. Meu propósito é, portanto, (1) reconstruir os

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argumentos de Hume e Rousseau sobre as relações entre comércio, artes, ciências e moralidade, ou seja, no fundo reconstruir suas concepções acerca dos rumos que a “modernidade” deveria tomar, para (2), a partir desses elementos, propor uma interpretação do desentendimento entre ambos, no sentido de que, de acordo com os seus próprios argumentos sobre tais questões, as diferenças entre eles eram demasiado profundas para que fossem capaz de estabelecer uma relação (intelectual) amigável. Estes dois pontos levam-me, em seguida, a (3) discutir tais questões à luz do mundo contemporâneo. Em outras palavras, o objetivo deste trabalho é problematizar as implicações tanto da compreensão de Hume de que as “sociedades modernas” deveriam tomar uma direção liberal-desenvolvimentista, quanto a visão de Rousseau, que prega muito mais um viés naturalista, senão mesmo ecológico (com ênfase na agricultura como modo de produção). Trata-se, em suma, de problematizar tais concepções de sociedade (e de política) à luz dos rumos da nossa situação contemporânea mundial.

***

A potência legislativa como expressão da soberania popular n’o Contrato social, de Jean-Jacques Rousseau

Guilherme do Couto de Almeida (Mestrando – UFSCar)

[email protected]

Trata-se de identificar na obra O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau, elementos teóricos que atestem o exercício do poder de legislar como expressão de soberania popular. Busca-se analisar os fundamentos que apontam para a legitimidade da elaboração da lei pelo povo e dos mecanismos dessa atividade legislativa para o fortalecimento do vínculo criado pelo pacto social e a realização do bem comum. A ideia norteadora reside na identificação de instrumentos necessários à elaboração da lei que aliem justiça e utilidade para a conservação do corpo político formado pelo pacto social, bem como na análise do próprio conceito de lei apresentado por Rousseau, como produto da deliberação pública do corpo político e expressão de sua soberania. A busca é por caracteres que emprestem legitimidade aos instrumentos normativos regulatórios da vida dos súditos do Estado, resguardada, por óbvio, sua liberdade civil advinda do pacto e a manutenção da igualdade entre si. Em outras palavras, é o exercício da potência legislativa do corpo político nascido do pacto (o Soberano, o Legislador, o próprio povo) que se pretende analisar. Por que Rousseau considera que o exercício do poder de legislar por representação deturparia a expressão da soberania popular? Qual é o traço dessa representação que se materializaria como elisão da liberdade adquirida no pacto social? Por que a privação do exercício direto da soberania (em especial o poder de legislar) poderia entregar o povo ao despotismo?

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A atualização da teoria política de Jean-Jacques Rousseau

Inara Luisa Marin (CEBRAP) [email protected]

Diversas personalidades co-habitaram em Jean-Jacques Rousseau escritor,

crítico, filósofo, copista, compositor, preceptor, legislador. Mas o que marca a singularidade de seus trabalhos são os inúmeros paradoxos que o atravessam. Tantos paradoxos poderiam sugerir uma obra esquizofrênica. Não é o caso. Entre sua obra e sua vida, a proximidade e a coerência dialogam todo o tempo, na tentativa de pensar a cisão própria do homem vivendo em sociedade, já que nada mais pode garantir a unidade entre indíviduo e cidadão encontrada na antiguidade. A presente exposição pretende, a partir de um recorte de textos bem restrito, mudar o foco da discussão política em Rousseau, colocando-o sobre conceitos como piedade, autopreservação, intersubjetividade e reconhecimento ao invés de outros como liberdade, vontade geral, soberania, leis e razão. De um ponto de vista interno às obras esta leitura deve servir para realocar este último grupo de conceitos numa perspectiva diferente; de um ponto de vista externo, o primeiro grupo de conceitos pode nos permitir inferir novas relações com as noções de negatividade, crítica e intersubjetividade. Este recorte visa mostrar como os paradoxos levantados por Rousseau ainda são centrais para as discussões sobre política e teoria em nossos dias.

***

A tarefa do retor: reflexões a partir de uma leitura de A retórica de Rousseau

Jean D. Soares (Doutorando – PUC-Rio)

[email protected]

Ao ter de "manipular" a linguagem para se dirigir ao outro, para quem sabe efetuar alguma comunicação, o retor lança a palavra como quem envia um tiro, como quem desesperadamente, mesmo de maneira serena, acaba por manifestar sua vontade de tomar o leitor através de uma voz, ainda que escrita. Assim, ele cria a arma pela qual a linguagem exerceria sua violência primeva, na luta por tornar o som uma propriedade privada de sentidos. A tarefa do retor seria essa: a de ter de lidar, inevitavelmente, com a violência da linguagem. Considerando esse ponto incontornável como pressuposto de partida, buscaremos na leitura de A retórica de Rousseau, de Bento Prado Jr., algumas maneiras de lidar com essa tarefa, através do autor proposto, mas de modo a indicar caminhos que deem conta de lidar com os dilemas éticos inerentes à vontade violenta do lugar de enunciação, de quem muitas vezes só quer dizer-a-verdade.

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Fichte leitor de Rousseau: "Estado de natureza" e a crítica da civilização Ocidental

João Geraldo Martins da Cunha (UFLA)

[email protected]

Rousseau começa o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens criticando os "filósofos que examinaram os fundamentos da sociedade" na medida em que não conseguiram propriamente caracterizar o "estado de natureza". Como a razão desse erro teria sido a tentativa de buscar fatos ou "verdades históricas" para descrevê-lo, o genebrino propõe um método alternativo que deve caracterizar seu Discurso a partir de "raciocínios hipotéticos e condicionais". Quarenta anos mais tarde, nas suas Lições sobre a destinação do sábio, Fichte denuncia uma contradição na crítica radical de Rousseau à civilização Ocidental e o cerne desta crítica, curiosamente, residiria no fato de que este último teria misturado argumentos com sentimentos em sua tentativa de caracterizar um "estado de natureza". Neste trabalho, proponho analisar comparativamente o "método" defendido por Rousseau e a crítica que Fichte lhe dirige a fim de apontar, de modo bastante esquemático, alguns aspectos relativos ao método filosófico no campo político, notadamente no que diz respeito ao clássico tópico da crítica à civilização ocidental.

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As bases da crítica social e do desenvolvimento civilizatório: o homem natural de Jean-Jacques Rousseau

Johnatas Ximenes Milani (Graduando – UNICAMP)

[email protected]

Esta apresentação busca expor as primeiras análises de um projeto de pesquisa que busca compreender as causas da desigualdade entre os homens tais quais expostas por Rousseau no Segundo Discurso. A exposição que faremos diz respeito aos aspectos da natureza humana, tais quais apresentados na primeira parte da obra, que permitem a Rousseau, por um lado, encontrar um critério para julgar a sociedade de seu tempo e, por outro, encontrar os elementos que possibilitaram o desenvolvimento civilizatório do homem. Para tanto, acompanharemos, através da apresentação dos aspectos físico, metafísico e moral do homem, sua caracterização dos princípios pertencentes à natureza humana: o amor de si, a piedade, a liberdade e a perfectibilidade. Sendo o amor de si e a piedade as características constituintes do critério de julgamento social, e a liberdade e a perfectibilidade, as características que possibilitaram o desenvolvimento civil do homem. A partir disso, compreenderemos como foi possível a Rousseau afirmar que os homens são naturalmente independentes, autossuficientes e piedosos, e de que modo lhes foi possível o

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afastamento do estado de natureza e o empreendimento de um novo modo de vida. Somente assim nos será possível acompanhar a exposição do processo civilizatório do homem, tal como apresentada por Rousseau na segunda parte do Segundo Discurso, e compreender as origens da desigualdade entre os homens.

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Crítica à sociedade comercial: ecos da obra de Jean-Jacques Rousseau em Adam Smith

Julia Fleider Marchevsky (Mestranda – USP)

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Adam Smith tem sua imagem comumente associada à afirmação da doutrina do laissez-faire e a defesa da sociedade comercial. Estudos mais recentes têm se esforçado em explorar as dimensões políticas e éticas de sua obra para conseguir revisar tal imagem do autor, considerando sua obra em conjunto e buscando compreender o lugar de Smith no Iluminismo do século XVIII. Neste contexto, esta apresentação objetiva demonstrar como Smith estabelece algumas críticas à sociedade comercial e como estas possivelmente poderiam ecoar na obra de Jean-Jacques Rousseau. Um indício de que há fundamento para se buscar estabelecer conexões entre os dois autores é uma carta de Smith para a edição da Edinburgh Review, de maio de 1756, a qual contém um comentário e traduções de trecho do Discurso sobre a Origem e o Fundamento da Desigualdade entre os Homens. Os trechos traduzidos contêm diversas críticas à sociedade comercial, conteúdo que parece ter recebido bastante atenção de Smith ao escrever suas obras, principalmente a Teoria dos Sentimentos Morais. O filósofo escocês, ao invés de contestar cada condenação de Rousseau à sociedade comercial, possivelmente tenha incorporado algumas das críticas do filósofo genebrino ao seu pensamento. Para ambos os filósofos, a valorização das riquezas traz prejuízos para a sociedade, principalmente no que concerne à corrupção da moralidade, pois ao se estimar demasiadamente a riqueza, necessariamente se deprecia outras virtudes e se acaba por privilegiar os ricos em detrimento dos pobres, o que culmina em uma indesejável desigualdade de poder político. Deve-se ressaltar que a conclusão deste trabalho não é argumentar que Smith foi um crítico da sociedade comercial tal qual Rousseau, o que seria um absurdo, mas que Smith também foi um crítico de seu tempo e, inclusive, influenciado por um dos maiores críticos do século XVIII: Rousseau.

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Sujeito de direito e liberdade republicana em Rousseau

Juliana Fischer de Almeida (Mestre – PUC-PR) [email protected]

O objetivo deste trabalho é apresentar a liberdade de Rousseau como

possibilidade de fundação, legitimação e manutenção de um Estado de Direito Republicano e após definir a natureza da República, a partir de filósofos, intérpretes e críticos, apontando, inclusive, para autores como Petit, para demonstrar as noções conceituais existentes acerca da República. O Estado de Direito fundado no princípio de um Estado Legítimo com vistas à liberdade, que busca manter-se sobre a base desse alicerce que, positivamente, é o que faz nascer, fundar a República. A proposta desse tema se sustenta na teoria da liberdade de Jean-Jacques Rousseau e traça os princípios que devem orientar uma administração legítima, enfatizando a liberdade como caminho para realização deste Estado legítimo. Essa tese tem a possibilidade de formular uma aplicação do princípio da liberdade republicana na seara de discussão da filosofia do direito, com uma preocupação estrita nos aspectos do direito sobre o princípio da liberdade. A preocupação com o tema da liberdade rousseauniana pode contribuir para o conceito atual acerca da liberdade no Estado de direito. Enfatiza-se que esse modelo principiológico é estritamente republicano, ou seja, a noção de bem comum no pensamento republicano de Rousseau representa, justamente, a possiblidade de fazer nascer um debate profícuo sobre a liberdade republicana. Evidentemente, é isso o que pode legitimar o estado de direito, pois, como diz Rousseau, a boa administração independe da forma de governo. Todavia, é a República, aquela que legitima e que é ensinada por ele. Desta forma, tem-se no pacto social, aquilo que funda a base legítima para preservar os homens como são, colocando-os sob as mesmas condições e fazendo com que todos usufruam dos mesmos direitos. Sendo assim, o pacto social fundado no princípio da liberdade é o que garante os termos descritos, objetivamente. É um importante pensamento que possibilita encontrar nos debates atuais sobre a liberdade no contexto republicano. Portanto, queremos investigar como o estado de direito se comporta na atualidade, diante do princípio da liberdade, questionando o lugar do sujeito de direito no Estado de Direito.

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Rousseau e a educação das mulheres: a formação cívica da mulher na República de Genebra

Katia Proença (Mestranda – UFPel)

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O trabalho nasce com o intuito de pesquisar o modo como é tratada e caracterizada a educação da mulher na pedagogia de Jean-Jacques Rousseau (1712-

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1778). Pretendo relacionar os ideais de Rousseau sobre a educação das meninas com as ações que as mulheres deveriam desempenhar na República pensada por este autor, bem como caracterizar a formação da mulher a partir da educação cívica. Falar de uma educação cívica das mulheres na sociedade política pensada por Rousseau implica decifrar o modo de sua participação nas decisões do soberano que orienta as ações políticas. Porém, implica mais amplamente restaurar o poder que as mulheres, como seres sensitivos, tinham em relação aos demais membros da República, mormente na formação dos futuros governantes.

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Liberdade, (In)determinação e Perfectibilidade: notas sobre plasticidade e paradoxos nas antropologias de Pico Della Mirandola e de

Jean-acques Rousseau

Leonardo Oliveira Moreira (Doutorando – USP) [email protected]

Busca-se, nessa comunicação, apresentar uma análise comparativa entre os

conceitos de liberdade e (in)determinação, tomados do otimismo da antropologia de Pico Della Mirandola, e o conceito de perfectibilidade na antropologia de Rousseau. Nesse sentido, partimos da hipótese de que há consonâncias e divergências entre a plasticidade e os paradoxos em ambas as antropologias. De modo que, nossa tarefa limita-se a pontuar tais convergências e dissonâncias no fito de jogar uma luz sobre a compreensão do complexo plano conceitual que se desdobra entre tais antropologias.

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A soberania da vontade geral em Do Contrato social

Lili Pontinta Cá (Mestranda – UFSCar) [email protected]

Em Do Contrato social, a sociedade é apresenta como fruto de uma convenção

entre os homens. Rousseau usa a metáfora do corpo para mostrar que, na convenção, os homens se uniram em um corpo, cuja vontade – a vontade geral – busca o bem comum de seus membros. Devido a isso, o exercício da soberania se origina e reside tão somente nessa vontade. Ela é a força motriz do Estado, porquanto o homem social é livre para reger sua vida com outrem. Como os homens unidos exercem a soberania em vista do bem comum sem se prejudicarem? Isto é, como fica a questão dos interesses particulares nessa união? Pensamos que a única base de administração legítima e segura capaz de concordar interesses e a justiça no fato de o genebrino

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alicerçar a sociedade convencional no direito. Pretende-se aqui analisar como se dá o exercício da soberania na sociedade rousseauista sem prejuízo dos interesses individuais.

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Hölderlin, leitor de Rousseau

Luana Geronimo Aversa (Graduanda – UFSC) [email protected]

O trabalho pretende apontar elementos que indicam como a teoria da

linguagem de Rousseau antecipa uma dialética hölderliana do ser. Se, para muitos, Rousseau fraqueja em uma leitura ingênua da sociedade e dos homens, clamando por uma volta ao estado selvagem da humanidade; seus escritos também podem abrigar uma leitura mais complexa que denota a tensão permanente entre natureza e cultura, e não o favorecimento da primeira frente à segunda.

Embora Rousseau condene a escrita em seus textos, este parece ser mais um movimento retórico do autor, do que uma atitude fatalista frente a ela, na medida em que assume a relação necessária entre fala e escrita. Escreve Bento Prado Jr.: “Uma fala abrigada de qualquer escrita não seria uma fala, se colocaria no limite fictício do grito desarticulado e puramente natural. Inversamente, uma fala que fosse pura consoante, de pura articulação, tornar-se-ia uma escrita pura, álgebra ou língua morta. A morte da fala é, então, o horizonte e a origem da linguagem”. A morte esconde sua própria reserva, ou, em outras palavras, “mesmo no momento mais feliz da expressão o verme já está dentro da fruta”, esta é a essência da própria linguagem.

Tal perspectiva nos possibilitaria superar as leituras que veem Rousseau como eternamente fadado à sua própria contradição. Na medida em que seria a própria existência dessa contradição irresoluta que nos possibilitaria assumir a impossibilidade de uma natureza ou de uma cultura puras, permitir-nos-íamos permanecer na tensão e não buscar sua síntese. E, para ilustrar a impossibilidade da síntese, vemos a linguagem como o espaço da ferida, mas também o da cicatrização, e, a natureza, por sua vez, como origem e destino da humanidade. Um lugar para onde devemos retornar, agora de forma consciente e refletida, fazendo uso da própria linguagem. Como afirma Bento Prado: “Hölderlin, leitor de Rousseau, nos aproxima, talvez do coração desta teoria quando – para além dos dualismos que opõem a linguagem à força, a inocência aos perigos- descobre, na própria essência da linguagem, a dupla determinação que faz dela, ao mesmo tempo, o mais perigoso dos bens e o mais inocente dos jogos”.

Rousseau poderia, portanto, ter dado um primeiro passo para uma dialética hölderliana, onde a recriação poética é apenas possibilitada pela partição do ser? Em outras palavras, o ser só pode ser recriado na medida em que ele se parte e se perde, porque antes disso é vazio, como se fosse necessário romper-se para preencher-se? Ou ainda, apenas com a perda da totalidade é que se torna possível recorrer a ela? O poeta, por sua vez, seria aquele que dá conta de reunificar os dois extremos, a cultura

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e a natureza, sendo necessária sempre uma rememoração poética para alcançar a totalidade? Quais as relações entre a força da poesia de Holderlin e a força da linguagem de Rousseau?

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Da saída do estado de natureza

Luís Nascimento (UFSCar) [email protected]

A partir do Segundo Discurso, a presente comunicação busca analisar as

complexidades presentes na ideia de estado de natureza apresentada na referida obra de Rousseau.

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Soberania do povo, direitos do homem (e deliberação pública) em Rousseau

Luiz Repa (USP/CEBRAP)

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A partir da reconstrução da filosofia política proposta por Habermas em Facticidade e validade, segundo a qual Rousseau e Kant foram os primeiros pensadores a estabelecer uma relação de dependência recíproca, uma co-originariedade entre os conceitos de soberania do povo e direitos do homem, pretende-se examinar como se dá efetivamente essa dependência na obra política do primeiro, em especial no Contrato social. Procura-se examinar em particular dois pontos interligados: o forte condicionamento ético do processo político e a ausência de procedimentos públicos de deliberação, o que leva Habermas a afirmar que há em Rousseau uma “democracia da opinião não pública”.

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Perfectibilidade: da igualdade originária ao “furor de distinção” entre os homens segundo Rousseau

Marcelo Ferreira Junior (Graduando – UFSCar)

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A noção de perfectibilidade presente no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens é de extrema relevância para o pensamento de Rousseau, permeando, com sutileza, vasta parte de sua obra e constituída de diversos modos nas reflexões do filósofo. Pretendemos analisar, em linhas gerais, o papel que essa noção ocupa enquanto característica distintiva da essência humana, bem como a sua primeira consequência: a desigualdade primordial entre os homens; isto é, a formação de uma espécie de consciência distintiva de si. Mas para que se estabeleça a perfectibilidade enquanto tal, como essa característica, retornaremos à ideia de um Estado de Natureza, com todos os aspectos e singularidades que essa ideia assume em Rousseau, explicitando, através disso, como se articula e se desenvolve o conceito-chave da perfectibilidade inscrita na natureza humana.

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Jean-Jacques Rousseau e a contemporaneidade

Maria Valderez de Colletes Negreiros (UNESP) [email protected]

Pensar Rousseau no Século das Luzes e no tempo presente em que escreveu

suas ideias e seus pensamentos é traçar o quadro representativo de suas obras que provocaram, por meio de nuanças, confrontações, ambiguidades e paradoxos, uma expressão singular de uma época crítica e criadora. Rousseau é um pensador que caminha, passeia, devaneia e a escrita expressa a ideia de uma contemporaneidade que lhe é característica e que revolucionou uma pratica de filosofar. O sentido do tempo presente em Rousseau simboliza tanto as imagens da natureza, do herborizar e da botânica como similitude das palavras quanto às ideias em imagens que devem permanecer sempre em constante mutação como contorno abstrato desse tempo. Nesse movimento filosófico pretendemos interrogar o que ocasionou a mudança da percepção do tempo na perspectiva de criar uma imagem do tempo como forma de investigação e crítica do presente. Traduzir a relação do Filósofo com o seu tempo representa também entender que a sua figura inaugura uma nova dimensão no interior do Tempo cosmológico pelo ato de apreender o próprio Tempo no conceito. O Tempo apreendido no discurso, o Tempo do conceito revela-se como uma espécie de “agora permanente”. Tempo presente ou, mais exatamente, da presença do sentido intemporal e da contemporaneidade de Rousseau. A leitura de suas obras sugerem temas que perfazem a contemporaneidade da época que foram escritas, no entanto

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estes temas se atualizam metaforicamente num prisma para que os leitores reflitam e compreendem o seu momento presente. A prática filosófica de Rousseau está em articular pensamento e experiência que é o exercício do sentir e do raciocinar que o conduz a caminhar e passear na natureza, e em escrever para provocar “efeitos” que devem produzir sobre o leitor suas palavras. O pensamento busca e encontra na arte da escrita os significados que deseja de seus discursos, e para serem eficazes introduzem os leitores em cada frase: “Juntei algumas notas a esse trabalho, de acordo com meu hábito preguiçoso de trabalhar em intervalos irregulares. Essas notas, por vezes, distanciam-se bastante do assunto e não servem, por isso, para serem lidas com o texto. Coloquei-as, pois no fim do Discurso, no qual me esforcei por seguir o caminho mais reto e da melhor maneira que pude fazer”. A leitura da “Advertência sobre as Notas”, que Rousseau coloca no final do Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, contribuirá para nossa análise da contemporaneidade dos temas contidos nestas “Notas”, dentre eles a oposição entre a natureza do homem e a história dos homens, entre natureza e a corrupção da civilização, a filosofia se não é universal mas europeia deve se distinguir no Filósofo que viaja e Rousseau esboça um itinerário das viagens para que ele a elabora diferente. Propomos indagar se estas ideias podem elucidar o pensamento de Rousseau na nossa época presente traduzindo reflexões interessantes nessa era imagética.

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O homem é um animal que medita

Marisa Lopes (UFSCar) [email protected]

“L’homme qui medite est um animal dépravé”. Eis uma das frases do Discurso

sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens que sempre suscita polêmica seja por seu valor de face antirracionalista, seja pelo pretenso prenúncio da corrupção trazida pelo advento da sociedade civil.

Pretendo, nesta comunicação, apresentar uma hipótese interpretativa segundo a qual dizer que o homem que medita ou reflete é um animal depravado se justifica apenas na medida em que meditar não é um atributo animal. Natural para o animal é a vida regrada pelos instintos e funções adaptadas a um ambiente hostil, em que a força, a robustez, a agilidade, a habilidade e a coragem são os dons indispensáveis à manutenção de sua existência e subsistência. A meditação aparece como um desvio à ordem da economia animal, daí seu caráter “patológico”. O homem enquanto animal que medita já não se submete às leis da natureza, ele as dá a si mesmo.

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Soberania e uso público da razão: Kant leitor de Rousseau

Maurício Keinert (USP) [email protected]

É bastante conhecida a influência que Rousseau exerceu sobre Kant, em

particular por meio do seu conceito de autonomia. Essa comunicação discutirá o modo como Kant leu e refletiu a noção de soberania em Rousseau, em especial a relação que ele estabeleceu entre “homem” e “cidadão”. A hipótese dessa comunicação é que Kant, em seu opúsculo Resposta à pergunta: que é o esclarecimento?, pensa a relação entre os usos público e privado da razão levando em consideração aquela diferença estabelecida por Rousseau no Contrato Social, em especial ao levar em consideração a seguinte passagem: “aquele que recusar obedecer à vontade geral a tanto será constrangido por todo o corpo, o que não significa senão que o forçarão a ser livre...”.

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Rousseau: a escrita e o desejo

Pedro Paulo Pimenta (USP) [email protected]

Trata-se de examinar, a partir de uma análise do argumento geral do Ensaio

sobre a origem das línguas, as implicações políticas da crítica da gramática geral por Rousseau. Pretende-se com isso mostrar que essa crítica redobra, no plano da articulação do pensamento - que, para esse autor, se dá na linguagem -, as teses expostas no Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens.

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O desenvolvimento da arte de escrever e o progresso da civilização em Rousseau e Voltaire

Priscila Aragão Zaninetti (Mestranda – UFSCar)

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O progresso das línguas desenvolve uma linguagem mais apropriada às novas necessidades de povos comerciantes e ilustrados, a conquista de clareza e exatidão são indícios de que a comunicação entre os homens, agora, envolve a racionalidade crescente dos povos civilizados. Mas estamos tratando, inicialmente, de Jean-Jacques Rousseau, mas especificamente da sua obra Ensaio sobre a origem das línguas e, portanto, à questão do progresso não está pressuposto o seu elogio. Para que a

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linguagem se tornasse simples e metódica, para que ela fosse o meio através do qual o homem comunica as suas idéias, ela foi antes a linguagem apaixonada que, falando ao coração, comunicava os seus sentimentos e, assim, satisfazia a necessidade que a originou, a necessidade humana de agir sobre o outro.

Essa mesma necessidade origina também uma linguagem não falada, a linguagem dos gestos que por ser a capacidade de mostrar aos olhos que, tomando por inteiro o objeto sobre o qual se pretende comunicar, excita a imaginação e suspende o espírito; satisfaz ainda mais prontamente aquela necessidade: o outro será mais afetado por aquilo que de mim for comunicado através de imagens. É a linguagem dos gestos, portanto, que recebe o elogio de Rousseau e se, em relação à linguagem falada, o tom parece mudar para a crítica, isso se dá porque, para o filósofo, o avanço do progresso das línguas, da racionalidade está vinculado à crescente diluição da vivacidade dos homens selvagens e de suas primeiras línguas: a imediaticidade e a força do grito da natureza dão lugar à opacidade e a frieza das línguas que o seguiram.

Apesar do desenvolvimento da arte da escrita não ser uma decorrência da arte da fala, ele também está inserido em um plano que combina o seu progresso com os estágios de sociabilidade percorridos pelo homem: os povos selvagens pintaram objetos, os povos bárbaros elaboraram sinais das palavras e das proposições e os povos civilizados inventaram o alfabeto. Essa concepção de escrita que abarca as invenções humanas para além do alfabeto se distingue da concepção de Voltaire, no Ensaio sobre os costumes, obra na qual o desenvolvimento da escrita é compreendido como aquilo que inaugura a história de um povo e o insere no processo civilizatório, anterior a ele os homens são bárbaros e suas invenções, seus monumentos são documentos muito imprecisos, atravessados pela imaginação e pela fábula, pela ilusão e pelo preconceito.

Mas é exatamente a excitação da imaginação que concede a primazia da linguagem figurada, o melhor tempo da história humana para os bárbaros e a superação da ilusão que dá nome às coisas que circundam o homem. São, portanto, os desdobramentos dessa distinção entre a concepção da escrita em Rousseau e em Voltaire, inseridos cada qual em contextos argumentativos que permitem tanto a crítica, quanto a exaltação dos desenvolvimentos da civilização, que pretendemos abordar como objeto para o presente trabalho.

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Pensador republicano ou nacionalista revolucionário? Rousseau nas lentes de Schmitt e Arendt.

Raphael Neves (Pós-doutorado – UFSCar)

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Carl Schmitt e Hannah Arendt têm visões opostas em relação às revoluções e à constituição, porém ambos convergem em uma leitura reducionista de Rousseau. O propósito deste trabalho é mostrar como a leitura de Rousseau, de Sieyès e do poder constituinte que Schmitt faz em sua Verfassungslehre (Teoria da Constituição) de

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algum modo converge com a interpretação que a própria Arendt tem da Revolução Francesa, ainda que ela apresente uma resposta diferente ao “paradoxo da constituição”. Ao final, uma leitura que aproxime Rousseau de Arendt, afastando-o de Schmitt, permite desfazer algumas distorções e recuperar o sentido republicano de sua filosofia política.

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Considerações sobre crítica ao Iluminismo e liberdade social em Rousseau

Ricardo Crissiuma (Doutorando – UNICAMP)

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O objetivo da exposição é, em um primeiro momento, reconstituir brevemente a dupla crítica de Rousseau a dois pilares do projeto iluminista. Por um lado, Rousseau tenta desconstruir a promessa do doux commerce de trazer segurança e paz pela promoção da ação baseada no interesse, acentuando a colisão entre as máximas particulares de ação ditadas pelo interesse próprio e a “razão pública”; por outro, contesta a premissa de que o desenvolvimento das ciências e das artes levará à satisfação dos carecimentos e à felicidade dos indivíduos das sociedades esclarecidas, devido à substituição dos carecimentos naturais por carecimentos sociais dados pela descoberta de “comodidades antes desconhecidas”.

A resposta que Rousseau dará a esse quadro de dissociação entre indivíduo e sociedade, como procuraremos mostrar em um segundo momento, não pode ser confundida nem com uma ânsia a um regresso ao estado de natureza nem com o projeto de uma replicação das repúblicas antigas, fundando-se, antes, em um esboço daquilo que Neuhouser vai chamar de liberdade social. O cerne do projeto rousseauísta de liberdade social para as sociedades modernas não passa por tolher o aumento e diversificação dos carecimentos proporcionado pelo progresso das ciências e das artes, mas em evitar que a multiplicação de carecimentos redunde em uma estrutura social que conduza a dominação de um indivíduo por outro.

Por fim, partindo da recepção da obra de Rousseau na Alemanha, procuraremos apontar os limites da concepção rousseauísta de liberdade social na medida em que ela não desenvolveria devidamente o espectro de pulsões sociais dos indivíduos que garantiriam a formação de relações sociais baseadas na reciprocidade, que vai abrir a perspectiva de se pensar em quadro de diferentes esferas de eticidade.

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A soberania popular revisitada: como fica o paradoxo de Rousseau na democracia hoje?

Rúrion Melo (USP)

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Rousseau apresenta no Contrato social uma formulação radical de autonomia de acordo com a qual só é livre aquele que obedece a si mesmo. O paradoxo que o contrato social vem resolver permite que obediência e liberdade não se oponham conceitualmente no exercício soberano da vontade geral, de modo que o cidadão possa assumir os papéis de súdito e de soberano simultaneamente. Porém, sociedades complexas e pluralistas ainda poderiam ser pensadas de acordo com essa fórmula rousseauniana de autogoverno? Qual é o papel que o conceito de soberania popular poderia exercer para uma compreensão atual dos desafios de nossa democracia? O presente trabalho procura investigar tais questões em dois momentos. Primeiro, retomaremos os conceitos de autonomia e de soberania popular em Rousseau. Em seguida, com base nas teorias contemporâneas da democracia, procuraremos revisitar o conceito de soberania popular com a finalidade de examinar seus limites bem como seu potencial crítico para a compreensão de processos políticos do presente.

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Labor moderado e ociosidade passageira: trabalho e sedentarização no Segundo Discurso

Thiago Vargas Escobar Azevedo (Doutorando – USP)

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Lemos no Discurso sobre a origem da desigualdade, de Jean-Jacques Rousseau, que, deixando o puro estado de natureza, quadro no qual a indolência ou o faire niente participam como atributos antropológicos fundamentais para que o homem permaneça neste primeiro período, os indivíduos encontram-se em uma situação na qual os obstáculos naturais se põem como embaraços à sobrevivência. Se antes a natureza caracterizava-se como pródiga e generosa (propiciando a fruição de uma ociosidade paradisíaca), com os acidentes naturais passa a tornar-se hostil e avara, escondendo suas produções e obrigando os homens a exercer diversas atividades em busca de sua subsistência. Tendo em vista as diferenças climático-geográficas que compõem as diversas localidades, os indivíduos são impulsionados a agir para transformar o meio no qual vivem, executando diferentes trabalhos. Buscaremos examinar mais precisamente que espécie de trabalho será exercido no período das famílias. A comunicação, portanto, pretende apresentar algumas reflexões sobre as relações entre trabalho moderado e natureza, tendo como fio condutor a seguinte questão: se a preguiça é um elemento fundamental na dinâmica do primeiro estado de natureza, toda espécie de trabalho seria anti-natureza?

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O comércio das santas leis em Rousseau

Thomaz Kawauche (Pós-doutorado - USP) [email protected]

No Contrato Social, pode-se compreender a religião civil, de maneira figurada,

como um comércio entre os deuses e os homens, tendo-se nas leis um objeto de troca e no legislador uma espécie de intermediário. Trata-se aqui de examinar a hipótese do legislador como intermediário de um comércio impossível. Considera-se nessa reflexão, por um lado, os atributos sobrehumanos desse personagem que guia o povo na criação do sistema legislativo, e por outro lado, a prescrição de uma profissão de fé intimamente ligada à legislação que assegura a unidade do Estado. Ora, tal recurso aos sentimentos religiosos é problemático na medida em que parece incompatível com o Estado laico descrito no Contrato Social. Com efeito, embora Rousseau não defenda a submissão da política à teologia, é inegável que, à primeira vista, seus esforços para afirmar a autonomia do corpo político parecem inúteis diante da necessidade de uma entidade semidivina que, com o intuito de assegurar a preservação do Estado, demanda de todos os cidadãos a crença na providência e em sua justiça futura.

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Qual Rousseau? As leituras de Arendt, Habermas e Salinas Fortes

Yara Frateschi (UNICAMP) [email protected]

Trata-se de analisar a leitura que Luis Roberto Salinas Fortes faz de Rousseau e

testar as suas potencialidades e limitações. Para tanto, deverei confrontá-la com duas outras interpretações, a de Arendt e a de Habermas. Focarei no modo como cada um desses autores interpreta o tema da soberania popular e a vincula ao exercício da cidadania para, finalmente, avaliar o potencial democrático da leitura de Salinas.