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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/CEARÁ- SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES Fortaleza 2014

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Page 1: OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS … › biblioteca... · profissional que vou levar para minha vida. Muito obrigada por ter abraçado minha causa. Aos meus pais, Eudes

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS

OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS

CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/CEARÁ-

SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES

Fortaleza

2014

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GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS

OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS

CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/ CEARÁ-

SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES

Monografia apresentada ao curso de

graduação em Serviço Social da Faculdade

Cearense – FAC, como requisito para

obtenção do título de bacharelado.

Orientadora: Profª Ms. Valney Rocha Maciel

Fortaleza

2014

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

.

V331d Vasconcelos, Germana Silva dos Santos

Os desafios no funcionamento dos Conselhos tutelares de

Fortaleza/Ceará – Sob a ótica dos conselheiros tutelares /

Germana Silva dos Santos Vasconcelos. Fortaleza – 2014.

93f. Orientador: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Direitos da criança e do adolescente – Direito Social. 2.

Conselho Tutelar – Desafios. 3. Controle social – Participação

popular. I. Maciel, Valney Rocha. II. Título

CDU 364:37

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GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS

OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS

CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/ CEARÁ-

SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES

Monografia como pré-requisito para

obtenção do título de bacharelado em

Serviço Social, outorgado pela

Faculdade Cearense- FAC, tendo sido

aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de Aprovação: 17/07/2014

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Profª. Ms Valney Rocha Maciel (Orientadora)

______________________________________________________

Profª. Ms Rubia Cristina Martins Gonçalves

________________________________________________________

Profª. Ms Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo

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DEDICATÓRIA

DEDICO este trabalho aos meus pais, ao meu marido e ao meu filho.

Pai e Mãe, quero neste momento, agradecer-lhes primeiramente por terem me

dado a vida, pelo amor que sempre me dedicaram e por me proporcionarem a

riqueza do estudo. Obrigada pela confiança que sempre depositaram em mim.

Mãe, você colaborou em todos os momentos com palavras de incentivo, sempre

entusiasmada com a construção da minha vida profissional. Pai, o seu significado

neste trabalho é impossível descrever, pois a realização deste sonho, mais que

nunca, é uma vitória sua. Ao meu filho e ao meu marido, pessoas indispensáveis

nesta realização, pois me acompanharam dia a dia nessa caminhada, acreditando

na minha capacidade e me doando forças nos momentos de desânimo; grandes

amores da minha vida, dedico a vocês também esta vitória.

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AGRADECIMENTOS

Neste momento de felicidades e realização pessoal e profissional, é quase

impossível agradecer a todos aqueles, que não foram poucos, que contribuíram

de alguma forma com minha conquista.

Portanto, em primeiro lugar agradeço a Deus, ser iluminado, que está presente

todos os dias de minha vida, dando-me força para a realização dos meus sonhos.

A minha mestra, Valney Rocha, professora orientadora, que me doou

ensinamentos e caminhou comigo passo a passo na realização deste trabalho,

sempre me incentivando, me escutando; mostrou-se um exemplo de pessoa e de

profissional que vou levar para minha vida. Muito obrigada por ter abraçado minha

causa.

Aos meus pais, Eudes Santos e Adriana Silva, que amo muito. Agradeço de

forma grandiosa por tudo, por serem pessoas iluminadas na minha vida, pois sem

eles nada aconteceria. São meus exemplos de vida, que me incentivaram a seguir

em frente e chegar a esta etapa de minha vida.

Ao meu marido, Emmanuel Vasconcelos, pessoa que está sempre ao meu lado,

compartilhando amor, tristezas e alegrias; agradeço por tudo, principalmente pela

compreensão aos momentos em que não pude estar com vocês e dar-lhes

atenção. Meu maior incentivador, que me cobrou quando necessário e que me

acolheu nos momentos em que achava que não iria conseguir. Muito obrigada

pelo apoio nos momentos decisivos neste trabalho.

Ao meu filho, Robert Silva, meu presente de Deus e amor da minha vida.

Agradeço, meu filho, por você ficar do meu lado e entender minha ausência em

alguns momentos, por entender as luzes acesas nas madrugadas em que fiquei

acordada fazendo este trabalho. Não me abandonou nunca. Obrigada, filho, você

soube da sua forma contribuir para que eu finalizasse esta etapa de minha vida.

Aos meus irmãos, Gerlane Silva e Jefferson Silva, e aos meus queridos

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sobrinhos, Mayara Santos, Matheus Santos e Erik Santos; meus incentivadores

de alegrias. Pessoas essenciais nesta caminhada. Amo muito vocês.

Aos meus amigos Bruno Fernandes e Aline Souza, que muito torceram pelo meu

crescimento profissional, sempre me apoiando e incentivando. Meu carinho e meu

muito obrigada por tudo!

Aos meus colegas Conselheiros Tutelares que, de diferentes maneiras,

contribuíram para a realização deste trabalho, e especialmente os colegas e

amigos Marlene Bezerra e Marcos Paulo Cavalcante, que me acompanharam e

ajudaram ao longo desses quatro anos, na árdua tarefa que é ser Conselheira

Tutelar.

Aos funcionários e amigos do Conselho Tutelar, que não mediram esforços para

me ajudar na coleta de dados para pesquisa.

Aos meus colegas de sala, que sempre me ajudaram nos trabalhos de equipe.

Aos professores da banca, pelo acolhimento e disponibilidade sempre generosa.

De forma geral, aos amigos e colegas que me ajudaram a transformar um projeto

em realidade.

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"Só sabe o valor do ECA

Quem vivia a perecer

À busca de um auxílio

Pra poder se defender

Sem ele o público em questão

Vivia sem solução

Sem saber o que fazer.”

(Trecho do ECA em cordel, de Manoel Messias Belizário Neto)

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RESUMO

O presente trabalho versa sobre os direitos da criança e do adolescente,

tendo como foco a análise dos desafios no funcionamento dos Conselhos

Tutelares da cidade de Fortaleza, como órgão protetor e garantidor de direitos

desse segmento; essa análise será realizada sob a ótica dos Conselheiros

Tutelares. O estudo será desenvolvido a partir da análise da evolução histórica

das legislações que interpretava esse público como objetos de proteção até as

bases para atual legislação que os vê como sujeitos de direitos, assim analisando

o processo de construção dos direitos da criança e do adolescente através do

ECA. Prossegue com a análise destacando o surgimento e o papel do Conselho

Tutelar e a discussão das categorias, à luz de alguns autores que analisam esse

órgão como espaço de participação social, de controle Social e base de garantia

de direitos sociais, por meio da pesquisa empírica, serão examinados nos

expedientes dos Conselhos Tutelares suas dificuldades e desafios. Buscando a

partir do estudo, constar que as violações de direitos não decorrem somente de

um único plano, o da família, pois esta, muitas vezes, também é vítima do sistema

estatal. Percebemos de um modo geral que esses desafios podem ser pontuados

da seguinte forma: O número reduzido de conselheiros tutelares; Deficiência da

rede de proteção; Faltam políticas públicas para criança e adolescente;

Terceirização dos profissionais de apoio administrativo e técnico; Falta de

formação continuada para todos os profissionais; Infraestrutura dos conselhos

fragilizada. Com isso busca-se demonstrar o quanto são necessárias a

qualificação e estruturação de melhores condições de trabalho no Conselho

Tutelar.

Palavras-chave: Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Tutelar;

Desafios; Direitos Sociais; Controle Social; Participação popular.

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ABSTRACT

The present work deals with the rights of children and adolescents,

focusing on the analysis of the challenges in the operation of the Guardianship

Councils of the city of Fortaleza, as protector and guarantor of national rights in

this segment, this analysis will be performed from the perspective of Directors

Guardianship . The study will be developed from the analysis of the historical

evolution of laws that interpreted this audience as objects of protection until the

foundation for current legislation which sees them as subjects of rights, thus

analyzing the process of building the rights of children and adolescents through

ECA. Proceeds with the analysis highlighting the emergence and role of the

Guardian Council and the discussion of the categories, the light of some authors

discusses this body as a space for social participation, social control and basis for

securing social rights, through empirical research will be examined in the

expedients of Guardianship Councils difficulties and challenges. Searching from

the study, noted that the violations of rights does not derive only from a single

plane, the family, as this often is also a victim of the state system. Generally

realized that these challenges can be scored as follows: The small number of

council members; Deficiency protection network; Lack public policies for children

and adolescents; Outsourcing of professional, administrative and technical

support; Lack of continuous training for all professionals; Fragile infrastructure of

advice. Thus we seek to demonstrate how the qualification is required and

structuring better working conditions in the Guardian Council.

Keywords: Rights of Children and Adolescents; Guardian Council; Challenges;

Social Rights; Social Control; Popular participation.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CEDCA- Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente

CEDECA- Centro de Defesa da Criança e do Adolescente

CF – Constituição Federal

COMDICA- Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CONANDA- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CRAS- Centro de Referência de Assistência Social

CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CT- Conselho Tutelar

DCA- Delegacia da Criança e do Adolescente

DCECA- Delegacia de Combate à Exploração sexual de Criança e Adolescente

DDH- Disque Direitos Humanos

DDM- Delegacia de Defesa da Mulher

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBENS - Fundações Estaduais do Bem-estar do menor

FMCA- Fundo Municipal da Criança e do Adolescente

FUNCI- Fundação da Criança e da Família Cidadã

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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SCDH- Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos

SDH-PR- Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

SER - Secretaria Executiva Regional

SGD- Sistema de Garantia de Direitos

SIPIA- Sistema de Informação para a Infância e Adolescência

STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social

PPCAAM- Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de

Morte

UECE- Universidade Estadual do Ceará

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................14

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................18

1.1 Aproximação com o tema.........................................................................................18

1.2 Metodologia..............................................................................................................19

1.3 Campo da pesquisa - os Conselhos Tutelares de Fortaleza....................................22

1.4 Perfil dos sujeitos da pesquisa.................................................................................27

2. AS BASES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O

SURGIMENTO DO CONSELHO TUTELAR: DISCUTINDO ESSE ESPAÇO DE

PARTICIPAÇÃO POPULAR, CONTROLE SOCIAL E EFETIVAÇÃO DE DIREITOS

SOCIAIS ........................................................................................................................32

2.1 Os Paradigmas de Proteção que antecederam o atual cenário...............................32

2.2 Os Conselhos de Direitos. .......................................................................................39

2.3 O Conselho Tutelar. .................................................................................................45

2.3.1 Atribuições do Conselho Tutelar ...........................................................................46

2.3.2 As competências dos conselheiros ......................................................................49

2.3.3 Processo de escolha dos conselheiros Tutelares ................................................50

2.4 Conselho Tutelar como espaço de Participação popular, Controle Social e Garantia

de Direitos Sociais..........................................................................................................52

2.4.1 Participação popular .............................................................................................52

2.4.2 Controle Social .....................................................................................................55

2.4.3 Direitos Sociais......................................................................................................58

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3. CONSELHO TUTELAR NA PRÁTICA, SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS

TUTELARES: POSSIBILIDADES E LIMITES UM DESAFIO CONSTANTE NO

FUNCIONAMENTO DO ÓRGÃO ..................................................................................61

3.1 Definição de Conselho Tutelar e análise da atuação dos Conselheiros Tutelares,

segundo os entrevistados.....................................................................................................61

3.2 Avaliação dos principais protagonistas sobre o processo Municipal de escolha dos

conselheiros tutelares.....................................................................................................63

3.3 Quais as denúncias de violações de direitos mais recebidas e a percepção dos

conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações de

direitos das crianças e adolescentes..............................................................................64

3.4 Mudanças nos conselhos tutelas de Fortaleza nesse último mandato ..................67

3.5 Desafios enfrentados pelos conselhos tutelares de Fortaleza para implementação

do ECA e exercício de sua função.................................................................................69

3.6 O que pensam os conselheiros sobre o plantão do Conselho

Tutelar ...........................................................................................................................73

3.7 Prioridades pontuadas pelos conselheiros, para um adequado funcionamento dos

Conselhos Tutelares de Fortaleza .................................................................................75

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................79

REFERÊNCIAS .............................................................................................................86

APÊNDICES...................................................................................................................90

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INTRODUÇÃO

As políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos de crianças e

adolescentes no Brasil são recentes. Na trajetória histórica de defesa dos direitos

desse segmento, aparecem três paradigmas de proteção: assistência caritativa,

filantropia e proteção integral. Inicialmente a assistência caritativa, onde o Estado

não intervém, e os pais eram responsáveis pela proteção e punição dos filhos,

quando esses não queriam assumir suas responsabilidades, as instituições

acolhiam as crianças e adolescentes abandonados e estes formavam a roda dos

expostos.

No segundo modelo, a filantropia substitui a caridade, nessa época o

Estado passou a regular a vida das crianças e adolescentes, através de leis e

normas, instituindo a doutrina da situação irregular, com o código de menores,

que considerava esse segmento como objetos de proteção e controle.

Para adequar-se à Convenção Internacional dos Direitos da Criança, que

reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, foi instituído o

terceiro paradigma que vivemos hoje, foi introduzido inicialmente na Constituição

Federal de 1988, e regulamentado na lei 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e

do Adolescente-ECA.

O ECA representa uma política de proteção de atendimento integral aos

direitos da criança e do adolescente; essa política segue o princípio da

democracia participativa, definindo que as responsabilidades devem ser

compartilhadas.

Compartilhar responsabilidades significa organizar as atribuições

necessárias á realização de uma tarefa distribuindo-as de forma

diferente, mas com igual compromisso, aos diversos atores da vida

social. Assim, a família, a sociedade e o Estado têm responsabilidades

conjuntas [...] ainda que suas atribuições, nessa responsabilidades,

sejam diferentes. Ao compartilharem suas responsabilidades, cada um

dos atores precisa cumprir o que lhe é atribuído e também acompanhar

— articulando, controlando, avaliando e reivindicando- o exercício efetivo

das atribuições dos demais. (BRASIL, 2002, p. 61)

Para isso o ECA ordena a criação de mecanismos e espaços públicos que

garantem a intervenção e participação ativa e direta da sociedade, no controle

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social das ações públicas e efetivação dos direitos sociais para esse segmento.

Surgem então os Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares

Os Conselhos de Direitos são espaços de discussão, de composição

paritária entre governo e sociedade civil para, de forma democrática, entre outras

competências, definir e deliberar políticas públicas para crianças e adolescentes.

O Conselho Tutelar, objeto de estudo desta investigação, é um órgão

colegiado formado por cinco conselheiros, escolhidos pela sociedade para zelar

pela efetivação dos direitos das crianças e adolescentes, atuando sempre que

esses direitos sejam ameaçados ou violados. Vale ressaltar que em alguns casos

são aplicados às medidas de proteção ou medidas pertinentes aos pais ou

responsáveis.

O Conselheiro Tutelar para desenvolver tais atribuições, necessita de uma

infraestrutura completa, como: espaço privativo e adequado para atendimento,

equipamentos, profissionais qualificados e uma rede de retaguarda para o

exercício e funcionamento adequado do órgão.

É possível acompanhar, frequentemente, as reivindicações dos

conselheiros tutelares por melhores condições de trabalho, nas redes de

comunicação social da cidade. De acordo com a lei 9.843 de 11 de novembro de

2011, que rege a organização e funcionamento dos Conselhos Tutelares.

Art. 2 § - o poder Executivo providenciará todas as condições

necessárias para o adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares,

assegurando-lhes tanto local de trabalho privativo que possibilite o

atendimento seguro e sigiloso, bem como equipamentos, material e

pessoal necessários para o apoio administrativo de forma padronizada.

A presente pesquisa tem como objetivo geral investigar quais os

desafios no funcionamento dos conselhos tutelares de Fortaleza, sob a ótica dos

conselheiros tutelares. E os objetivos específicos da pesquisa foram: a) Traçar o

perfil dos sujeitos da pesquisa, conhecer os motivos que os levaram a serem

candidatos a membro do Conselho Tutelar e qual a experiência na defesa dos

direitos de crianças e adolescentes; b) Pesquisar a dinâmica de funcionamento do

Conselho Tutelar; c) Identificar quais e problemas que os conselheiros enfrentam

no seu dia a dia para o exercício adequado de sua função d) Mostrar as

contradições, diferentes visões, influenciadas pela política partidária, que rodeiam

a realidade vivenciada pelos Conselhos Tutelares de Fortaleza.

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As motivações que impulsionaram a pesquisadora a investigar sobre os

desafios do Conselho Tutelar estão relacionadas à sua vivencia como conselheira

tutelar de Fortaleza há cinco anos, sua prática profissional do dia a dia, e

enfrentamento aos desafios para desenvolver suas atribuições conferidas no

ECA, ou seja, a efetivação e garantia dos diretos das crianças e adolescentes

desta capital; influenciaram também na escolha do objeto em estudo as reuniões

de colegiado do Conselho Tutelar, que mostravam superficialmente as

dificuldades enfrentadas pelos colegas, o que instigou a necessidade de observar

de perto cada equipamento.

Para a realização deste trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica, com o

objetivo de adquirir conhecimento do contexto histórico dos paradigmas de

proteção jurídico social que antecederam a atual legislação, para isso discutimos

com Freyre ( 2005), Basto (2006), Freitas (2011) e Simões (2011).

À luz de alguns autores, estudamos as categorias, consideradas aqui como

bases fundamentais do Conselho Tutelar. Para discutirmos a categoria

participação popular, lemos Nogueira (2004), Freire (2007), Campos e Maciel

(1997), Meirelles (2005). Na categoria controle social discutimos com Carvalho

(1995), Machado (2004), Rodrigues e Azzi (2007), Raichelles (1998). Por fim a

categoria; direitos sociais nos reportamos, a Bobbio (2004), Carvalho (2008),

Couto (2010) e Telles (1999).

Conjuntamente foi realizada a pesquisa documental, para conhecer e

apreciar a criação dos mecanismos da política de proteção integral, nos

deportamos à Constituição Federal (1988), ao documento da Convenção sobre os

direitos da criança (1989) e ao ECA (1990), bem como a leis e resoluções que

deram origem e regem a organização e funcionamento dos conselhos de direitos

e Conselhos Tutelares de Fortaleza.

Essas etapas da investigação tiveram inicio durante a disciplina de

fundamentos de Trabalho de Conclusão de Curso, no decorrer de um semestre,

de julho a dezembro de 2013.

A pesquisa de campo foi realizada no período de Abril e Maio de 2014,

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através de visita aos seis Conselho Tutelares, com a devida permissão e

assinatura do termo de consentimento, foram aplicados questionários e

entrevistas semiestruturadas, com um conselheiro representando cada

equipamento.

Este trabalho foi dividido em três capítulos: primeiro capitulo, intitulado

"Procedimentos Metodológicos" propomos discorrer sobre as motivações e

envolvimento com o tema, a metodologia da pesquisa, apresentamos o campo da

pesquisa, que são os Conselhos Tutelares de Fortaleza e, em seguida, o perfil

dos sujeitos da pesquisa, bem como o que os levou a ser conselheiros e sua

trajetória de vida na defesa dos direitos de criança e adolescentes.

No segundo capitulo, "As bases do Estatuto da criança e do

adolescente e o surgimento do Conselho Tutelar: discutindo esse espaço de

participação popular, controle social e efetivação de direitos sociais" versa

sobre uma discussão teórica do contexto histórico dos paradigmas de proteção à

criança e ao adolescente, que antecederam o atual cenário. Apresentamos

também os Conselhos de Direitos em nível nacional, estadual e municipal e o

Conselho Tutelar, expondo as atribuições, as competências e o processo de

escolha dos conselheiros. Por fim são apresentadas algumas considerações

teóricas, sobre as categorias: participação popular, controle social e garantia de

direitos sociais.

O terceiro e ultimo capitulo, nomeado "Conselho Tutelar na pratica, sob

a ótica dos conselheiros tutelares: possibilidades e limites um desafio

constante" traz a analise dos significados do Conselho Tutelar, da atuação dos

conselheiros; uma avaliação do processo municipal de escolha; a percepção dos

conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações de

direitos das crianças e adolescentes; quais as, ultimas mudanças nos conselhos

tutelas de Fortaleza; os desafios enfrentados pelos conselhos tutelares para o

exercício de sua função; O que pensam os conselheiros sobre o plantão do

Conselho Tutelar; e prioridades para os Conselhos Tutelares de Fortaleza na

percepção dos conselheiros. Concluindo, descrevemos as considerações finais

acerca da pesquisa, na percepção da pesquisadora.

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1. Procedimentos Metodológicos

1.1 Aproximação com o tema

A pesquisadora é pedagoga, até 2007 trabalhava como professora de

educação infantil e participava de um projeto com crianças em uma associação de

moradores, a comunidade bastante carente sempre enfrentou dificuldades para

garantir os direitos das crianças e adolescentes, o desejo de fazer algo para

garantir os direitos desse segmento, foi fundamental para a pesquisadora ser

candidata à conselheira tutelar do Município de Fortaleza, em 2008, foi eleita pela

primeira vez.

Atualmente está exercendo seu segundo mandato, lotada na Secretaria

Executiva Regional- SER III; no dia a dia do conselho tutelar há muitas

dificuldades de atender de imediato as demandas, por diversos motivos, pois

diariamente chegam inúmeras denúncias de escolas, hospitais, Centro de

Referência de Assistência Social - CRAS, Centro de Referência Especializado de

Assistência Social - CREAS, Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, Disque

Direitos Humanos - DDH, DISQUE 100, por telefone e demanda espontânea que

chegam a quinze por dia.

Um dos motivos está na resolução nº 75 de 22 de outubro de 2011, do

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA define

que o número necessário de Conselhos Tutelares de uma cidade depende de seu

número de habitantes, sendo um conselho para cada cem mil habitantes e isso

não é obedecido em Fortaleza, como a capital tem uma população de 2.551.806

habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística-IBGE,

chegando a uma margem de 408.698, população por conselho; o recomendado

era contar com no mínimo 25 Conselhos Tutelares.

Posso citar também, apesar de muitos avanços na defesa dos direitos da

criança e do adolescente nacionalmente, a falta de políticas públicas eficazes e a

falta de estrutura do órgão, pois quando recebemos um caso de emergência,

frequentemente nos faltam condições para realizar o atendimento,

encaminhamento e acompanhamento adequado, falta vaga em instituições de

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acolhimento, faltam programas e projetos sociais.

Por ser um espaço público e de controle social, chegam ao Conselho

Tutelar demandas de responsabilidade de outros órgãos, ou seja, que não são de

competência do conselho, como casos: de habitação, de segurança, de saúde, de

educação, de transporte, violência contra idosos e deficientes, etc., que deveriam

ser analisados e encaminhados por profissionais especializados, que teriam a

sensibilidade de fazer a investigação e intervenção, orientar e defender os direitos

sociais da família por completo; percebe-se que muitas pessoas não têm seus

direitos garantidos por falta de informação e orientação.

Como diz Velho (1978) "o fato de dois indivíduos pertencerem a mesma

sociedade não significa que estejam mais próximos do que se fossem de

sociedades diferentes, porém aproximados por preferências, gostos" (VELHO,

1978, p.38) Por isso quero conhecer a realidade, dificuldades e as percepções

dos colegas conselheiros tutelares acerca dos desafios no funcionamento dos

conselhos tutelares do município de Fortaleza, tendo em vista, que nas reuniões

de colegiado percebo que cada conselheiro tem uma visão diferenciada acerca

das dificuldades, razões e meios de solucionar os problemas enfrentados, ou

seja, possibilidades de garantir um adequado funcionamento e consequentemente

a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes do nosso município.

1.2 Metodologia

Por tratar-se de uma aproximação com a dinâmica de funcionamento dos

Conselhos Tutelares de Fortaleza, com foco nos desafios e sua realidade

estrutural, uma análise especificamente sob a ótica dos conselheiros tutelares,

será realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, pois como diz Queiroz "as

técnicas qualitativas procuram captar a maneira de ser do objeto pesquisado, isto

é, tudo o que o diferencia dos demais" (QUEIROZ, 1999, p.17).

O método escolhido está relacionado ao objetivo a ser alcançado, ou seja,

a investigação dos desafios tentando compreender as dificuldades, os

significados, os motivos, sendo assim, por intermédio da pesquisa qualitativa foi

possível observar os significados dos relatos das entrevistas e analisar conforme

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a realidade em que esses sujeitos estão inseridos, dados que não podem ser

quantificados, como diz Minayo,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se

ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou

não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e

das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui

como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só

por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro

e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. O

universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das

relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da

pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em número e

indicadores quantitativos. (MINAYO, 2012, p.21)

Sobre a pesquisa qualitativa Queiroz (1999) afirma que,

A qualidade, composta pelos aspectos sensíveis de uma coisa ou de um

fenômeno naquilo que a percepção pode captar, constitui assim o que é

fundamental em qualquer estudo ou pesquisa, pois é o ponto de partida

para qualquer deles. (QUEIROZ, 1999, p.15)

Para a realização desta pesquisa foi feita uma pesquisa bibliográfica,

Conforme MINAYO:

O pesquisador que assumir tal objeto de pesquisa deve partir para uma

busca bibliográfica sobre cada uma das expressões citadas e trabalhá-la

historicamente, com as divergências e convergências teóricas, para só

depois colocar sua posição e suas hipóteses. (MINAYO, 2010, p.20)

A fim de compreender melhor a história das políticas públicas para

infância e juventude, e uma análise do Conselho Tutelar como espaço de

participação popular, espaço de controle social e espaço de base da garantia dos

diretos sociais. Como afirma Gondim (1999),

"Contudo, a preparação de um bom projeto de pesquisa requer um

volume razoável de leituras, capaz de subsidiar uma revisão de literatura

que dê conta dos principais autores que estudam o tema, tanto em

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termos teóricos, como empíricos". (GONDIM, ano, p. 32)

Uma ampla pesquisa documental, com o objetivo de adquirir conhecimento

sobre as leis municipais que deram origem e regem o funcionamento dos

Conselhos Tutelares de Fortaleza e as resoluções do Conselho Municipal dos

Direitos da Criança e do Adolescente ─ COMDICA, que regem e acompanha o

funcionamento desse órgão.

Por fim, a pesquisa de campo, pois segundo Velho (1999),

"A observação participante, a entrevista aberta, o contato direto, pessoal,

com o universo investigado constituem sua marca registrada. Insiste-se

na ideia de que para conhecer certas áreas ou dimensões de uma

sociedade é necessário um contato. Uma vivência durante um período

de um tempo razoavelmente longo, pois existem aspectos de uma

cultura de uma sociedade que não são explicitados, que não aparecem à

superfície e que exigem um esforço maior, mais detalhado e

aprofundado de observação e empatia. (VELHO, 1999, p. 123-124)

Cada Conselho Tutelar é composto por cinco conselheiros, totalizando trinta

conselheiros em Fortaleza dos quais a intenção era entrevistar seis, um de cada

equipamento, mas devido à agenda dos convidados do Conselho V, isso não foi

possível a tempo, por esse motivo entrevistei cinco conselheiros, que

representaram seus respectivos locais de trabalho, durante o mês de maio,

realizei visitas institucionais, de acordo com o tempo disponível de cada

conselheiro e dos equipamentos, pois três conselhos passam por reformas

estruturais.

O cenário da pesquisa foram os cinco Conselhos Tutelares, localizados nos

bairros: Otávio Bonfim, Mucuripe, João XXIII, Serrinha e Dias Macedo. Locais

onde realizei de forma organizada, o que Oliveira (2000) descreve como

faculdades do entendimento sociocultural: a percepção e o pensamento, pois para

Oliveira,

“o olhar e o ouvir constituem a nossa a percepção da realidade

focalizada na pesquisa empírica, o escrever passa a ser parte quase

indissociável do nosso pensamento, uma vez que o ato de escrever é

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simultâneo ao ato de pensar." (OLIVEIRA, 2000, p.31-32)

Usamos como critério para atingir nossos objetivos a marcação das

entrevistas com 50% dos entrevistados que apoiam a atual gestão municipal, e

com 50% de conselheiros que criticam esse modelo de administração, nestas

oportunidades com a devida permissão de acordo com a assinatura dos termos

de consentimento livre e esclarecido, aplicamos questionários e entrevistas

semiestruturadas.

Foram abordadas questões que englobam a realidade dos sujeitos

entrevistados, com o objetivo de conhecer o perfil dos entrevistados, qual a sua

trajetória na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, conhecer sobre a

dinâmica do seu dia a dia como conselheiro tutelar e suas percepções quanto aos

desafios postos na sua atuação diária na garantia de direitos de crianças e

adolescentes.

O registro de informações foi realizado através do uso de um gravador e

com anotações. Logo após, as entrevistas foram transcritas. E a partir destes

registros é que foi possível compreender as percepções de cada sujeito e fazer as

devidas análises finalizando com uma comparação entre a realidade

pesquisada e as informações do levantamento bibliográfico e documental.

1.3 Campo da pesquisa ─ os Conselhos Tutelares de Fortaleza

A Prefeitura Municipal de Fortaleza organiza sua administração de forma

descentralizada, possuindo sete Secretarias Executivas Regionais, onde nas seis

primeiras estão localizados os conselhos tutelares do município. A última,

nomeada como regional do centro da cidade, não tem a mesma função que as

demais.

Em Fortaleza a implantação do primeiro Conselho Tutelar aconteceu em 12

de maio de 1994, com lei 7.526, de acordo com os artigos 131 a 140, do ECA, o

município iniciou apenas com um equipamento, na área de abrangência da

Secretaria Executiva Regional I. Na publicação do município, sobre o resgate da

trajetória do COMDICA (2010) Isabel Lopes, gestora da FUNCI na época,

relembra que:

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"Foi um marco importantíssimo perceber uma instância do COMDICA

dando suporte para a área da infância a um grupo de pessoas que foram

escolhidas, votadas, e que pudesse estar ouvindo e representando a

sociedade no momento dos conflitos, das proposições. Esse foi

realmente um marco, trabalhávamos até duas horas da manhã. As

eleições foram um processo de aprendizagem muito grande, porque era

a mesma estrutura de uma eleição acrescida da boa vontade das

pessoas de ter esse espaço. Foi um momento de muita doação e muito

marcante em Fortaleza. Para a montagem desse Conselho foi um

verdadeiro parto, conseguir suporte financeiro e técnico, uma construção

muito difícil. As pessoas não entendiam todo aquele novo movimento.

Foi um desafio, mas um desafio bom, onde podemos ver nascer cada

conselho. As primeiras eleições eram muito pela capacidade

técnica." (p.64)

Os primeiros conselheiros eleitos de Fortaleza foram: Luiz Narciso Coelho

de Oliveira, José das Graças Costa e Silva, Maria Jose Vieira Dantas, Cicero

Venâncio dos Santos e Tancredo Sá Bandeira, empossados em 30 de junho de

1995.

Passou-se quatro anos para a criação do segundo conselho tutelar, este foi

criado pelo Decreto Nº. 10.465, de 21 de janeiro de 1999, esse conselho ficou

localizado na SER V. No ano seguinte uma Resolução do COMDICA nº. 31, de

2000, conforme a Lei 10.886 de 16 de outubro de 2000 dispõe sobre a criação do

terceiro conselho tutelar, que passou a atuar na SER IV. Mais dois conselhos

foram criados pelo Decreto Nº 10.989, de 02 de julho de 2001, passando a atuar

nas SER III e VI. O sexto conselho foi criado em 2003 conforme a Lei 8.775 de 09

de outubro de 2003, para cobertura da SER II.

Atualmente contamos com seis Conselhos Tutelares no Município,

localizados nos bairros: Otavio Bomfim, Mucuripe, João XXII, Serrinha, Conjunto

Ceará e Dias Macedo, pertencentes a seis Secretarias Executivas Regionais.

No âmbito municipal, a lei de criação já foi reformulada por várias vezes, a

primeira foi em 09 de setembro de 2003, com lei n° 8.775, sofreu alterações nos

artigos 3º, 4º e 5º. Dispondo sobre a organização e funcionamento dos Conselhos

Tutelares.

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A Lei Municipal Nº. 8775, de 2003, altera a lei anterior e estabelece que o

CT funcione em 02 (dois) turnos, em uma jornada de 08 (oito) horas diárias, e em

regime de plantão de 12 (doze) horas. O plantão do Conselho Tutelar funciona na

sede do Conselho Tutelar I, no período noturno de 19h às 07h da manhã, aos

sábados domingos e feriados de 07h às 19 horas, com uma equipe composta por

dois conselheiros, dois educadores e um motorista, somente no período tem um

vigilante para o equipamento.

Em 06 de dezembro de 2007, a lei nº 9.315 alterou a redação do § 4º do

artigo 10 da lei 8.775, dispondo da organização e funcionamento dos Conselhos

Tutelares. Em 11 de novembro de 2011, a lei nº 9.843 dispõe sobre a organização

e o funcionamento dos Conselhos Tutelares e o Regime Jurídico dos conselheiros

tutelares de Fortaleza. conforme a seguir:

Art. 12 O funcionamento e a organização interna do Conselho Tutelar,

respeitado o disposto nesta Lei e no Estatuto da Criança e do

Adolescente, serão disciplinados por meio de regimento interno.

Parágrafo Único - Ato do secretário de Direitos Humanos de Fortaleza, a

referendo do Conselho Tutelar, instituirá o regimento referido no caput

deste artigo.

Art. 13 - O Regimento Interno do Conselho Tutelar será único,

independentemente das unidades territoriais existentes, e observará o

conteúdo desta Lei, prevendo ainda:

I - regulamentação do regime de plantão, observado o disposto nesta

Lei;

II - a necessidade de as decisões emanadas por cada unidade do

conselho serem colegiadas, discutidas em reuniões, salvo casos de

atendimentos emergenciais, que devem ser ratificados a posteriori pelo

colegiado;

III - a instituição de uma Coordenação do Conselho Tutelar, formada

exclusivamente por conselheiros tutelares, a qual visará:

a) disciplinar a organização interna do Conselho Tutelar;

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b) padronizar os instrumentais de atendimento;

IV - a forma de distribuição interna dos casos a serem avaliados, bem

como o modo de decisão coletiva dos casos que lhes foram submetidos;

V - uniformização da prestação do serviço;

VI - forma de representação externa em nome do Conselho Tutelar de

Fortaleza;

VII - procedimento para solução dos conflitos de atribuição entre os

conselheiros tutelares;

VIII - O envio semestral de dados acerca da situação da infância e

adolescência referentes aos atendimentos realizados pelo Conselho

Tutelar ao COMDICA para formulação de políticas públicas.

A resolução nº 92/2012 do COMDICA dispõe sobre o Regime Interno do

Conselho Tutelar de Fortaleza, estabelecendo em seus capítulos as regras para o

funcionamento do Conselho Tutelar de Fortaleza, as proibições, da organização,

da redistribuição e do procedimento Tutelar. Vale ressaltar que o regimento é

obrigatório, como consta no artigo 79 da lei 9.843, que diz, "A instituição do

Regime Interno do Conselho Tutelar de Fortaleza, na forma do parágrafo único do

artigo 12 desta lei, dar-se-á no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da publicação

desta lei".

No prazo de seis meses as discussões aconteceram e foi publicado o atual

regimento, que depois de analisar é perceptível que não está consoante com a lei

que o rege, existe atualmente a necessidade de alterações para se adequar às

mudanças administrativas e das alterações do ECA.

As últimas alterações do ECA aconteceram no dia 25 de julho de 2012, foi

aprovada nacionalmente através da Lei nº 12.696 uma nova redação para os

artigos. 132, 134, 135 e 139, que amplia o mandato dos Conselheiros Tutelares

de três para quatro anos e unifica a eleição em todo país. Em Fortaleza o

mandato dos atuais conselheiros foi acrescido de 10 (dez) meses.

A lei 9.843, já mencionada acima, criou também a supervisão dos conselhos

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tutelares, que é composta por um coordenador, assistente social e educadores

sociais, com a função de apoio administrativo aos conselhos.

Os conselheiros recebem um salário equivalente ao nível de DGS 5, que é

cerca de 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) e têm assegurados na lei Federal

seus direitos: a cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas,

acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal, licença-

maternidade, licença-paternidade e gratificação natalina.

Os conselhos são vinculados administrativamente à Secretária de Cidadania

e Direitos Humanos — SCDH, com o apoio das Secretarias Executivas Regionais,

que de acordo com a Lei Orçamentária Municipal deve garantir os recursos

previstos para assegurar a manutenção, materiais e profissionais para um

adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares.

Um marco histórico nos Conselhos Tutelares de Fortaleza acontece nessa

gestão (2013), pois foi implantada, em todos os conselhos a equipe técnica,

composta por um advogado, uma psicóloga e uma assistente social, que tem a

função de respaldar a atuação dos conselheiros no dia a dia.

Outro fator importante é que Conselhos III e VI estão passando por uma

grande reforma estrutural nos equipamentos (ver fotos anexo...), frutos de

reuniões com o atual prefeito, o Conselho II está mudando de endereço para

adequar-se às disposições estabelecidas na lei Municipal e no Regimento Interno.

Infelizmente ainda não foi tomada nenhuma medida quanto ao Conselho I, que

também acolhe o plantão do Conselho Tutelar. Na sede não tem acessibilidade

para cadeirantes, nem tampouco apresenta estrutura mínima para atendimento ao

público.

Porém a população Infante juvenil não deixa de ser atendida, o que pode

ser constatado nos livros de atendimentos de cada Conselho Tutelar, porém não

existem dados estatísticos, pois segundo o coordenador da supervisão dos

conselhos, Sr. Eudes Curió: não existe uma base de dados, pois não é produzido

pelos conselhos, e não é função da supervisão solicitar esses documentos dos

conselhos, esse é o papel do COMDICA.

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1.4 Perfil dos sujeitos da pesquisa

Com o objetivo de conhecer o perfil dos entrevistados, seus dados

pessoais, qual a sua trajetória de vida na defesa dos direitos das crianças e

adolescentes, conhecer sobre a dinâmica do seu dia a dia como conselheiro

tutelar, aplicamos através de visitas institucionais pré-agendadas, realizadas no

mês de maio do corrente ano, nos seis conselhos tutelares de Fortaleza,

entrevistas semiestruturadas e questionário.

De acordo com os princípios éticos, buscarei fornecer as informações

preservando as identidades das pessoas envolvidas, utilizando para isso nomes

de escritores infantis para referenciar os entrevistados, a escolha de utilizar

nomes de escritores tem relação com a possibilidade desses profissionais terem a

oportunidade de escrever histórias diferentes na vida das crianças e

adolescentes, na medida que se efetiva um direito violado.

MONTEIRO LOBATO- Sexo masculino, tem 38 anos, solteiro, instrutor de

informática, natural de Fortaleza, sua escolaridade é superior incompleto em rede

de computadores, antes de ser conselheiro trabalhava ministrando curso de

informática para crianças e adolescentes, tem um filho.

Foi candidato e eleito por duas vezes, concluiu o primeiro mandato e está

há dois anos no segundo. Quando indagado do motivo que o levou a se

candidatar a conselheiro tutelar de Fortaleza, explica;

Sempre fui muito de ajudar as pessoas e de lutar pelos direitos das

pessoas, trabalho com crianças e adolescentes há mais de 20 anos, vi

que como conselheiro poderia ajudar mais a ele e suas famílias.

(Monteiro Lobato)

Sua experiência na defesa dos direitos de crianças e adolescentes é fruto de

trabalhos com projetos sociais na comunidade onde reside.

Trabalho social com as famílias coordenava um grupo junino com

crianças e adolescentes da minha comunidade e sempre enfrentamos

problemas para garantir os direitos deles. (Monteiro Lobato)

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RUTH ROCHA- Sexo feminino, tem 38 anos, solteira, sua profissão é

contadora, é natural de Fortaleza, sua escolarização é superior completo em

ciências contábeis, antes de ser conselheira trabalhava em um escritório de

contabilidade. Não tem filhos.

Foi candidata e eleita por duas vezes consecutivas, relata que se

interessou pela candidatura de conselheira, depois de sofrer na pele as barreiras

que existem na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

Na época, foi uma menina que eu atendi, eu acabei levando ela pro

hospital e tratei ela lá na minha casa. Ela foi estuprada e teve uma

doença, ele teve um papiloma, eu passei um mês com ela na minha

casa, tratando dela. E aí todas as vezes que eu ia para o hospital com

ela, as portas sempre eram fechadas, eu sempre tinha que recorrer ao

Conselho Tutelar, então foi isso que me levou a querer ser conselheira.

(Ruth Rocha)

Sobre sua experiência na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, a

entrevistada respondeu;

Atendimento nas comunidades, eu fazia muitos atendimentos, ia ver

como estava a situação, era essa a experiência. (Ruth Rocha)

EVA FURNARI- sexo feminino tem 57 anos, é casada, profissão:

Educadora social é natural de Fortaleza, sua escolarização: superior completo em

pedagogia, tem dois filhos, foi candidata por 04 vezes, por duas vezes ficou na

suplência, assumiu como suplente durante um ano e já está no segundo mandato

como titular.

Ela relembra que foi sua experiência profissional como educadora social,

que efetivamente a levou a querer ser conselheira tutelar de Fortaleza, no dia do

seu trabalho passava por diversas situações, e tinha um sonho de ter mais

condições de lutar pela efetivação dos direitos.

É, devido a minha experiência de muitos anos trabalhando com criança e

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adolescentes, eu sempre tinha a vontade de ser conselheira tutelar

pensando eu que sendo conselheira, eu teria mais chances, condições

de atuar melhor em relação à defesa da criança e do adolescente, né.

Então por isso que eu me candidatei, inclusive tentei tantas vezes, fui

três vezes suplente e duas como titular e me sinto realizada, pois acho

um trabalho prazeroso. (Eva Furnari)

Retomando sobre sua experiência na defesa dos direitos de criança e

adolescentes, como educadora social, ressalta como era a instituição onde

exercia seu trabalho.

Minha experiência é de 23 anos no Lar Fabiano de Cristo, que uma

instituição, que pra mim é uma universidade na área de assistência

social, muito boa, aliás maravilhosa, tem um trabalho importante porque

trabalha com a prevenção e atuação com projetos em relação educativa

social, visando o crescimento da família, com visitas domiciliares,

palestras, acompanhamento familiar, com visitas domiciliares, reuniões,

oficinas, tem também capacitação, a questão da profissionalização. O

mais importante é que o Lar Fabiano de Cristo tem uma atuação com

toda as faixas etárias, crianças, pré-adolescentes, adolescentes, adultos

e idosos, então pra mim realmente é trabalho muito bonito, essa é minha

experiência. (SER III)

ANA MARIA MACHADO - sexo feminino, tem 54 anos, é divorciada, sua

profissão instrutora de trânsito, é natural de Fortaleza, concluiu o ensino médio,

tem 02 filhos, foi candidata por duas vezes e está assumindo seu primeiro

mandato há dois anos.

Declara que decidiu ser conselheira para;

Para contribuir com a proteção e defesa dos direitos das crianças e

adolescentes. (Ana Maria Machado)

Sobre sua trajetória de vida referente à escolha de ser candidata a

conselheira tutelar, ela explica que teve muito próximo do trabalho social com

famílias, mais especificamente na inserção dessas famílias em programas sociais,

que garantiam benefícios do governo federal, nesse contato decidiu abraçar a

causa.

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Em primeiro lugar, trabalhei na SER I, no setor de serviço social e era

responsável pelo cadastro único, desde a implantação que englobou o

bolsa escola, auxilio gás, e outros benefícios que depois juntos tornaram-

se bolsa família, foi aí que tive um contato direto com famílias carentes,

crianças e adolescentes totalmente desamparados pelo poder público,

então isso me fortaleceu na vontade trabalhar e lutar pelos direitos e

defesa deles. (Ana Maria Machado)

MARIANA MASSARANI- sexo feminino, tem 45 anos, é casada, trabalhava

como instrutora educacional, é natural de Chorozinho, escolaridade: superior

incompleto em serviço social, está cursando atualmente no segundo semestre,

tem um filho, foi candidata por duas vezes, na primeira não chegou a assumir

nem ficou na suplência, na segunda tentativa foi eleita e está assumindo o

mandato há dois anos.

A entrevistada já trabalhava com a questão social referente à criança e ao

adolescente, explica o motivo que contribuiu a enfrentar a candidatura de

conselheira tutelar de Fortaleza:

O meu pensamento era de mudar a história da criança e do adolescente,

tentar mudar, até também porque eu trabalhei como instrutora

educacional, e eu tinha vontade de conhecer o trabalho do Conselho,

para tentar diante, estando à frente do trabalho do conselho tutelar,

mudar alguma coisa na situação da criança e do adolescente, ter

autonomia, a verdade é essa, ter autonomia para os encaminhamentos.

(Mariana Massarani)

Ao comentar sobre sua trajetória de vida anterior ao Conselho Tutelar na

defesa dos direitos infantojuvenis, a entrevistada acrescenta que o trabalho nas

ruas de Fortaleza lhe trouxe uma experiência e foi decisiva na empreitada do

processo municipal de escolha do conselho tutelar.

A minha experiência foi como instrutora educacional de rua, eu

trabalhava como amarelinho, um projeto que tinha da ação social na

época, a gente trabalhava com abordagem às crianças e aos

adolescentes em situação de moradia de rua, nas áreas de

vulnerabilidade social, principalmente ali na Praia de Iracema, durante os

trabalhos a gente observava as crianças se prostituindo, pedindo,

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morando na rua, e a gente tentava fazer alguma coisa, às vezes levava

eles para um abrigo, para tomarem banho, fazer suas higienes pessoais,

se alimentar. Mas só isso não era suficiente, por isso quis muito ser

conselheira tutelar. E essa foi minha experiência anterior. (Mariana

Massarani)

Com relação à escala de atendimento, é comum em todos os conselhos, os

conselheiros têm dois dias de atendimento interno, um dia para visita domiciliar,

um dia para realizar audiências e um dia para ministrar palestras nos órgãos que

solicitam via ofício aos conselhos. A forma de atendimento às denúncias também

segue a mesma linha, o passo a passo é especificado no livro Orientações

técnicas sobre a atuação do Conselho Tutelar (2012).

Diante dos depoimentos sobre os motivos que os levaram a se candidatar

e ser membro do Conselho Tutelar percebemos, de um modo geral, que todos

têm uma ligação com atendimentos sociais e políticos, seja no meio profissional

ou na comunidade onde residem, os conselheiros têm uma forte ligação política

com a população, o que faz um número expressivo de pessoas participar do

processo de escolha dos conselheiros.

Podemos constatar nas falas de alguns, ao dizer: “... eu fazia muitos

atendimentos...", "... principalmente crianças e adolescentes de minha

comunidade."

Outra percepção é que a maioria dos entrevistados demonstrou certa

decepção ao não conseguirem realizar muitos dos seus sonhos que idealizavam

ao exercer a função de conselheiro, “... como conselheiro podia ajudar mais

eles...", "... o meu pensamento era de mudar a história...", “... tinha a vontade de

ser conselheira, pensando eu que sendo conselheira teria mais chance, mais

condições de atuar...”.

Vale ressaltar que além da nítida decepção de alguns, ainda existe o

desejo de mudar, de lutar e de ver a efetivação do ECA e do respeito ao Conselho

Tutelar, ou seja, a garantia dos direitos, "eu ainda acredito muito num Conselho

Tutelar diferente". (Mariana Massarani)

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2. AS BASES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O

SURGIMENTO DO CONSELHO TUTELAR: DISCUTINDO ESSE ESPAÇO DE

PARTICIPAÇÃO POPULAR, CONTROLE SOCIAL E EFETIVAÇÃO DE

DIREITOS SOCIAIS

2.1 Os Paradigmas de Proteção que antecederam o atual cenário.

Na trajetória histórica da infância e adolescência no Brasil os Conselhos

Tutelares, ganham importância e significado diante das lutas em defesa dos

direitos de crianças e adolescentes, apesar de ser recente, pois nasceu depois da

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na década de 90.

Contudo, as ações de proteção a esse segmento começaram muito antes, através

de três paradigmas de proteção jurídico - social. Que serão discutidas a seguir :

O primeiro foi o modelo da Soberania paterna, onde os pais eram os

responsáveis pela proteção e punição, associada ao caritativismo religioso que

acolhia os infantes, entre os anos de 1500 e 1800, onde o Estado não via razão

para interferir na família. Falar desta época como diz Freyre era como um

“sistema econômico, social, político” (FREYRE, 2005, P. 36).

As crianças e adolescentes eram inteiramente governados pela família, que

determinava a profissão e o casamento para os filhos, como afirma Bastos “

existia uma unicidade [...] dada pela sociedade orquestrada pela família”

(BASTOS, 2006, p.105 ) e a eles cabia se submeter ou resistir fugindo dos

castigos e se tornando “infantes expostos”, pobres e abandonados que eram

acolhidos por instituições de caridade.

“...encontramos treze rodas de expostos no Brasil: três criadas no

século XVIII (Salvador, Rio de Janeiro, Recife),uma no início do Império

(São Paulo); todas as demais forma criadas no rastro da Lei dos

Municípios que isentava a Câmara da responsabilidade pelos expostos,

desde que na cidade houvesse uma Santa Casa de Misericórdia que se

incumbisse desses pequenos desamparados. Neste caso estiveram as

rodas de expostos das cidades de Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas

(RS), de Cachoeira (BA), de Olinda (PE); de Campos (RJ), Vitoria (ES),

Desterro(SC) e Cuiabá (MT).” (P.66)

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No caso dos bebês abandonados pelos pais, formavam a “roda dos

expostos” que tinha finalidade a conversão religiosa, o higienismo, o aprendizado

dos bons costumes. Assim afirma Freitas (2011),

“A roda de expostos, como assistência caritativa, era, pois, missionária.

A primeira preocupação do sistema para com a criança nela deixada era

de providenciar o batismo, salvando a alma da criança: a menos que

trouxesse consigo um escritinho – que fato muito corrente- que

informava à rodeira de que o bebê já estava batizado.” P.54

Ainda de acordo com Freitas (2011), esse sistema foi inventado na Europa

medieval, como um meio de garantir o anonimato do abandono, estimulando o

expositor a deixar o bebê que não desejava na roda, ao invés de abandoná-lo

pelos caminhos, bosques, lixo, portas de igreja ou de casa de família, evitando

que esse bebê fosse vítima da fome do frio ou de animais

“A roda de expostos foi uma das instituições brasileiras de mais longa

vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. Criada

na Colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu

manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente na recente

década de 1950! Sendo o Brasil o último país a abolir a chaga da

escravidão, foi ele igualmente o último a acabar com o triste sistema da

roda dos enjeitados.”(p.53)

No século XX, as rodas dos expostos foram desaparecendo, dando espaço

para o segundo paradigma o Estado de Bem-Estar Social a ação filantrópica, a

filantropia substituindo a caridade, esse modelo perdurou de 1850 até 1970,

momento em que o Estado tem a ideia de assegurar o bem- estar das crianças e

adolescentes, e passa a regular a vida social com a criação de normas e leis.

Em 1927, no Brasil foi instituído o Código de Menores, esse código

constituía uma postura de culpar a família pelo problema ou realidade situacional

do “menor”, e construía espaços de acolhimento institucional. Segundo a

professora Márcia Souza do Curso Escola de Conselhos – UECE, o Estado

diferenciava pobres “úteis” e “inúteis” especializando dois tipos de instituições:

uma para a criança, os filhos das famílias mais favorecidas da sociedade, de

situação regular e outra para o menor, que era a criança ou adolescente

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socialmente abandonado.

Criando a doutrina da situação irregular, o judiciário operava com as varas

de família para crianças e com o juizado de menores para os abandonados com o

Código de Menores, onde eles eram objetos de medidas judiciais e a “proteção”

era realizada pela filantropia social.

De acordo com Freitas (2011), a Lei Federal 4.512 de dezembro de 1964,

cria a Fundação Nacional do Bem-estar do menor, com competência de formular

e implementar a política nacional de bem-estar do menor. Em 1967 foi instituído

em âmbito estadual as Fundações Estaduais do Bem-estar do Menor – FEBEMs,

que eram administradas pela secretária de justiça, com o objetivo de prevenir a

marginalização.

No ano de 1979, o código de menores foi reformulado, as mudanças não

alteraram a imagem das crianças e adolescentes pobres concebidas como

marginais, objetos de controle e repressão social. Um verdadeiro retrocesso para

o sistema.

O terceiro paradigma, que é o que vivemos atualmente, vê os direitos das

crianças e adolescentes, associado à ação emancipatória cidadã, com direitos

que merecem ser respeitados, a partir dos anos 1980, através dos movimentos

sociais no contexto de redemocratização do país, aconteceram muitas mudanças,

como o rompimento com as categorias menor carente e menor abandonado e a

constituição do conceito de crianças e adolescentes sujeitos de direitos. Como

confirma Simões (2011),

No final dos anos 1970, com o inicio do processo de abertura e de

democratização, iniciam-se movimentos de reforma institucional,

entrados na crítica ao conceito de menor, em prol da concepção integral

e universal da criança e do adolescente, como sujeito de direitos.

(SIMÕES, 2011, p.226)

Esse modelo foi desenvolvido inicialmente pelas alternativas comunitárias,

como uma resposta ao modo como a sociedade estava tratando de forma

perversa e ineficiente a reeducação desse público era desenvolvido programas de

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proteção, educação de rua, trabalhando eles no contexto em que estavam

inseridos, rompendo com a política da institucionalização, mais perceberam que a

proteção não bastava ser alternativas e que o caminho para reformular as

políticas era a alteração das leis.

No Brasil esse paradigma se consolidou com a inclusão dos direitos das

crianças e adolescentes na Constituição Federal – CF de 1988, introduzindo um

novo ordenamento social e político ao definir como princípios fundamentais,

dentre outros, cidadania, dignidade da pessoa humana,.

Com destaque aconteceu a Convenção das Nações Unidas em 20 de

novembro de 1989, sobre os direitos da criança, entendendo como criança todos

os seres humanos menores de 18 anos e declara detalhadamente o papel dos

Estados para assegurar a proteção da criança.

Art.2 1 – Os Estados partes respeitarão os direitos enunciados na

presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita

à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo,

idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional,

étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou

qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus

representantes legais.

2 – Os Estados partes tomarão todas as medidas apropriadas para

assegurar a proteção da criança contra toda forma de discriminação ou

castigo por causa da condição, das atividades, das opiniões

manifestadas ou das crenças de seus pais, representantes legais ou

familiares.

Foi uma amplo processo de mobilização social para elaboração do ECA, no

cenário de redemocratização do país, reelaboração da Carta Magna, em meio aos

movimentos sociais, que tinham como bandeira a Criança e Constituinte e

Criança Prioridade Nacional, a segunda teve papel fundamental para inclusão da

prioridade absoluta na Constituição brasileira, a sociedade civil elaborou uma

emenda popular, que teve 250 mil assinaturas e foi apresentado no congresso em

1987.

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Através dessa campanha veio a criação do Fórum Nacional Permanente de

Entidades não Governamentais de defesa dos Direitos da Criança e do

Adolescente ─ Fórum DCA, sendo um instrumento para participação da

sociedade civil no Congresso Nacional, a doutrina da proteção integral quase na

íntegra foi introduzida nos artigos 227 e 228, como prevê o art. 227, que se refere

aos deveres da sociedade em geral, que diz:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à

criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

(BRASIL,1988, art. 227).

As relações entre sociedade e Estado foram redefinidas, no processo

de redemocratização, na elaboração das leis Estaduais e municipais, pós-

constituição federal, percebeu-se que em alguns não havia os direitos das

crianças e adolescentes assegurados, o Fórum DCA articulado com outras

organizações da sociedade civil criaram um projeto de lei que se chamou Normas

Gerais de Proteção à Infância e à Juventude, este projeto foi apresentado em

1989 na Câmara dos deputados, depois de muitas discussões, em face das

diversidades de compreensão dos direitos da criança, foi criado um grupo de

trabalho, este grupo ficou conhecido como grupo de redação do Estatuto, era

composto por lideranças dos movimentos sociais, promotores, advogados, juízes

e alguns especialistas em políticas sociais.

Dessa forma o projeto final foi apresentado na Câmara e Senado, foi

realizado um amplo debate nacional, muitas audiências públicas e culminou com

a aprovação pelo Senado em 25 de abril de 1990, na Câmara em 28 de junho,

homologado pelo Senado em 29 de junho e sancionado pelo Presidente da

República em 13 de julho de 1990, a Lei 8.069 o ECA, que estabelece uma

política de atendimento integral aos direitos das Crianças e Adolescentes, pois

são sujeitos de direitos a pessoa em condições peculiares de desenvolvimento.

O ECA está dividido em dois livros, sendo que o primeiro é a parte

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geral, e segundo Edson Seda (2006) "detalha como o intérprete e o aplicador da

lei haverão de entender a natureza e o alcance dos direitos elencados na norma

constitucional", este livro divide-se em três títulos: das disposições preliminares;

dos direitos fundamentais e da prevenção.

O segundo livro é a parte especial, expõe as normas gerais da política de

atendimento aos direitos das crianças e adolescentes, dividindo-se em sete

títulos: da política de atendimento; das medidas de proteção; da prática de ato

infracional; das medidas pertinentes aos pais ou responsáveis; do Conselho

Tutelar; do acesso a justiça e dos crimes e das infrações administrativas.

Seguem-se aos dois livros as disposições finais e transitórias.

A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente se

constitui no artigo 86 do ECA;

Art. 86 A política de atendimento dos direitos da criança e do

adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações

governamentais e não governamentais, da união, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios” ( BRASIL, 1990, art.86).

A política se desdobra em quatro linhas de ação, conforme o artigo 87, e

prever o Sistema de Garantia de direitos - SGD, que se configura de acordo com

a publicação da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social - STDS (2012),

como um conjunto articulado de pessoas e instituições que atuam para garantir os

direitos de crianças e adolescentes, o sistema é composto pela família, sociedade

civil, Estado, Conselhos de Direitos, Conselho Tutelar e as instâncias do poder

público (Ministério Público, Juizado da Infância e da Juventude, Defensoria

Pública, Secretaria de Segurança Pública e demais secretarias do poder

executivo).

O SGD tem três eixos estruturais: a defesa, a promoção e o controle social.

Definidos pelo Guia de Atendimento de direitos de crianças adolescentes do

CEDECA/Ceará - Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente,

como:

Eixo de Promoção de direitos: se dá por meio do desenvolvimento da

política de atendimento dos direitos de crianças e adolescentes,

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integrante da política de promoção dos direitos humanos. Essa política

deve se dar de modo transversal, articulando todas as políticas públicas.

Nele estão os serviços e programas de políticas públicas de atendimento

dos direitos humanos de crianças e adolescentes, de execução de

medidas de proteção de direitos e de execução de medidas

socioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção

desses direitos são as instâncias governamentais e da sociedade civil

que se dedicam ao atendimento direto de direitos, prestando serviços

públicos e/ou de relevância pública, como ministérios do governo federal,

secretarias estaduais ou municipais, fundações, ONGs, etc. Exemplo:

Conselhos de Direitos, incluídos toda área da assistência social,

educação e saúde. Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as

violações de direitos e responsabilizar o autor da violência. Tem entre os

principais atores, os Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual e

Federal (centros de apoio operacionais, promotorias especializadas),

Judiciário (Juizado da Infância e Juventude, Varas criminais

especializadas, comissões judiciais de adoções), Defensoria Pública do

Estado e da União, e órgãos da Segurança Pública, como Polícia civil,

militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias e

Centros de defesa de direitos, etc. Eixo de Controle Social: é

responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das

ações de promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e

adolescentes, bem como, dos demais eixos do sistema de garantia dos

direitos. O controle se dá primordialmente pela sociedade civil

organizada e por meio de instâncias públicas colegiadas, a exemplo dos

conselhos. (Grifo original) (CALS, 2007, p.12-13)

No artigo 88, do ECA, são estabelecidas as diretrizes da política de

atendimento, no inciso II ordena a criação de conselhos municipais, estaduais e

nacional dos direitos da criança e do adolescente, e definindo-os como órgãos

deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurando a

participação popular paritária por meio de organizações representativas, de

acordo com as leis federal, estaduais e municipais;

Cabendo ao município criar uma política municipal, mediante lei, devendo

estabelecer diretrizes municipais de atendimento a crianças e adolescentes, a

criação dos Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares e o Fundo Municipal

dos direitos da criança e do adolescente. Apresentaremos a seguir

resumidamente as competências e atribuições dos conselhos de direitos nos

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níveis Nacional, Estadual e Municipal e Conselho Tutelar.

2.2 Os Conselhos dos Direitos

Os Conselhos são espaços públicos, democráticos de discussão entre o

Estado e sociedade civil, tem composição plural e paritária, com poder

deliberativo e consultivo para definir, formular e controlar políticas públicas para a

população infantojuvenil, nesses espaços todos os cidadãos devem ser vistos

como iguais para participar e reivindicar pelos direitos, representando assim

canais de participação popular.

De acordo com o ECA, em seu artigo 89, "A função de membro do

conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança

e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será

remunerada."

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente -

CONANDA, é a instância máxima na esfera nacional, para formulação,

deliberação e controle das políticas públicas para crianças e adolescentes, foi

criado pela Lei Federal nº 8.242 de 12 de outubro de 1991, o CONANDA é

vinculado à Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República,

composto por 28 conselheiros, dos quais 14 representam o Governo Federal, e

foram indicados pelos ministros e 14 de entidades não governamentais, eleitos

para um mandato de dois anos.

Além de definir políticas públicas para crianças e adolescentes, o

CONANDA também fiscaliza ações de promoção dos direitos da infância e

adolescência nos níveis estadual, distrital e municipal, e gerencia o Fundo

Nacional da Criança e do Adolescente - FNCA. As assembleias do Conselho se

dividem em quatro temáticas: política pública, orçamento e finanças, formação e

mobilização e direitos humanos e assuntos parlamentares.

De acordo como Art. 2, da lei 8242.91, o CONANDA tem as seguintes

competências:

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Art. 2º Compete ao Conanda:

I - elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento dos

direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de execução,

observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas nos arts.

87 e 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e

do Adolescente);

II - zelar pela aplicação da política nacional de atendimento dos direitos

da criança e do adolescente;

III - dar apoio aos Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da

Criança e do Adolescente, aos órgãos estaduais, municipais, e entidades

não-governamentais para tornar efetivos os princípios, as diretrizes e os

direitos estabelecidos na Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990;

IV - avaliar a política estadual e municipal e a atuação dos Conselhos

Estaduais e Municipais da Criança e do Adolescente;

V -(Vetado)

VI - (Vetado)

VII - acompanhar o reordenamento institucional propondo, sempre que

necessário, modificações nas estruturas públicas e privadas destinadas

ao atendimento da criança e do adolescente;

VIII - apoiar a promoção de campanhas educativas sobre os direitos da

criança e do adolescente, com a indicação das medidas a serem

adotadas nos casos de atentados ou violação dos mesmos;

IX - acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária

da União, indicando modificações necessárias à consecução da política

formulada para a promoção dos direitos da criança e do adolescente;

X - gerir o fundo de que trata o art. 6º da lei e fixar os critérios para sua

utilização, nos termos do art. 260 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de

1990;

XI - elaborar o seu regimento interno, aprovando-o pelo voto de, no

mínimo, dois terços de seus membros, nele definindo a forma de

indicação do seu Presidente.

Outra atribuição do CONANDA é definir as diretrizes para regulamentar a

criação dos conselhos de direitos e tutelares. A resolução nº 105 de 2005 do

CONANDA trata dos parâmetros para criação e funcionamento dos Conselhos

dos Direitos da Criança e do Adolescente, cumprindo o estabelecido no artigo 204

e 227 da CF, que diz,

Art. 2. Na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios

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haverá um único Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente,

composto paritariamente de representantes do governo e da sociedade

civil organizada, garantindo-se a participação popular no processo de

discussão, de liberação e controle da política de atendimento integral dos

direitos da criança e do adolescente, que compreende as políticas

sociais básicas e demais políticas necessárias à execução das medidas

protetivas e socioeducativas.

No âmbito estadual, temos o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e

do Adolescente - CEDCA. No Estado do Ceará o CEDCA foi criado pela Lei

Estadual n 11.889 em 20 de dezembro de 1991(alterada pela lei estadual nº

12.934, de 16 de julho de 1999), exerce suas funções em conformidade com as

diretrizes do ECA e da Constituição Federal, para atingir seus principais objetivos

que são :

1-Controle social das ações públicas governamentais e não

governamentais; 2- Normalização da Política de Atendimento dos

Direitos da Criança e do Adolescente (ramo autônomo da Política

Pública – art. 86, Estatuto cit.); 3- Articulação, mobilização e

advocacy, de relação a todo o Sistema de Garantia dos Direitos da

Criança e do Adolescente (conselho tutelar, conselhos dos direitos,

ministério público, justiça, defensoria pública, polícia, serviços de

proteção especial e socioeducativos, programas de saúde,

assistência social, educação, cultura etc.).

O CEDCA tem sua composição formada por 20 conselheiros, dos quais 10

representando órgãos governamentais indicados por seus titulares e 10 eleitos

em fórum de entidades não governamentais. Após a indicação e eleição os

nomes são encaminhados ao Governador do Estado que os nomeia através de

Ato, publicado no Diário Oficial do Estado, para um mandato de um ano, que pode

ser renovado por igual período.

A resolução nº 90/2006, define detalhadamente os objetivos, metas e

meios para a execução de ações de atendimento aos direitos das crianças e

adolescentes no Ceará. Os objetivos são:

I. Garantir os direitos de crianças e adolescente; II. Implementar o

sistema de garantia de direitos, que protejam e promovam por meio

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das políticas públicas; III. Desenvolver a política de promoção dos

direitos da criança e do adolescente, visando uma política especial,

autônoma e intersetorial; IV. Reduzir os níveis de ameaça e violação

dos direitos de crianças e adolescentes; V. Reforçar as demais

políticas públicas, no esforço para melhorar a qualidade de vida de

todas as crianças e adolescentes e de suas famílias.

No município de Fortaleza o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e

do Adolescente - COMDICA, foi criado através do artigo 267 da Lei Orgânica do

Município, “Fica criado o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e

do Adolescente", e regulamentado no dia 07 de novembro de 1990, pela Lei n

6.729, o que não significou sua imediata instalação, sendo instalado no ano

seguinte em 13 de setembro de 1991. E a posse da primeira Comissão Executiva

aconteceu em 20.02.1992, para o biênio 1991 e 1992, composta apenas por 16

membros, em caráter provisório.

O COMDICA é um órgão paritário e deliberativo, composto por

representantes da sociedade civil e do poder público, que se destina, no

âmbito do município de Fortaleza, a formular políticas públicas e

controlar ações de interesse da infância e da adolescência, As

organizações da sociedade civil escolhem seus representes, através de

um fórum, para um mandato de dois anos ratificado pelo Chefe do Poder

Executivo. (FORTALEZA, 2010, p.30)

Os membros da primeira comissão executiva teve João Alves de Melo

como presidente, Vera Alves de Lima como vice-presidente, Jane Guedes Horta,

1ª secretaria, e Graça Gadelha 2ª secretaria. No livro resgate da trajetória do

COMDICA (2010), as atribuições que lhe são conferidas são:

Deliberar e controlar políticas públicas que assegurem a efetivação dos

direitos da criança e do adolescente, garantindo a participação popular;

Participar da elaboração do orçamento do município;

Estabelecer normas e diretrizes básicas para as politicas de

atendimento integral á criança e ao adolescente em Fortaleza;

Registrar entidades de atendimento à criança e ao adolescente e

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inscrever seus programas;

Viabilizar e fortalecer as ações articuladas necessárias á garantia da

proteção integral das crianças e dos adolescentes;

Acompanhar e contribuir com os Conselhos Tutelares no sentido de

zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente;

Gerir o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente-

FMDCA. (FORTALEZA, 2010, p.31).

A lei municipal n 8.228 de 29 de dezembro de 1998, reestrutura o

COMDICA, e redefine sua composição passando desde então a serem formado

por 22 conselheiros, 11 da esfera não governamental e 11 representando a esfera

governamental do município de Fortaleza, dividido da seguinte forma: seis

pessoas representam as seis Secretárias Executivas Regionais, uma pessoa da

câmara municipal, uma da SCDH, uma da secretaria de saúde, e dois da

secretaria de educação, para um mandato de dois anos. De acordo com o Art. 2,

desta lei, as competências do COMDICA são:

I - promover, assegurar e defender os direitos da criança e do

adolescente, nos termos da Constituição Federal, da Constituição do

Estado do Ceará, das Leis Federais nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e

nº 8.242, de 12 de outubro de 1991, da Leio Orgânica do Município de

Fortaleza e desta lei;

II – estabelecer diretrizes básicas e normas de proteção integral à

criança e ao adolescente, no âmbito do município de Fortaleza;

III – acompanhar e avaliar o empenho das atividades, programas e

projetos do Poder Público Municipal e das entidades civis conveniadas

que atuam junto à criança e ao adolescente, através de comissões

escolhidas pelo colegiado e para fins de otimização das ações;

IV – informar acerca da realidade existencial da criança e do adolescente

no município de Fortaleza, quando oficialmente solicitado;

V – sensibilizar os Poderes constituídos e a sociedade civil quanto à

problemática do menor e com a prévia deliberação do órgão;

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VI – propor a adoção de políticas públicas municipais que visem, em

cumprimento ao art. 227 da Constituição Federal, ao apoio à criança e

ao adolescente, no concernente ao direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

além de colocá-los a salvo de toda forma de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, tudo na

conformidade dos recursos humanos e financeiros de que o Município

possa dispor para tais fins;

VII – estimular a participação da comunidade nas ações e serviços de

sua área de competência, através do Fórum de Defesa da Criança e do

Adolescente, encaminhando possíveis denúncias aos órgãos

competentes;

VIII – elaborar, propor e aprovar prioridades para a programação e

execução orçamentária e financeira do Fundo Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente, de que trata a Lei nº 7.235, de 6 de novembro

de 1992, vinculado a SMDS;

IX – elaborar o Regimento Interno e suas normas de organização e

funcionamento, submetendo-o a aprovação, por decreto, do chefe do

Poder Executivo;

X – colaborar com a Fundação da Criança da Cidade (FUNCI), e demais

entidades, órgãos e instituições que tenham como objetivo institucional a

defesa e a proteção dos direitos da criança e do adolescente, desde que

cadastrados no COMDICA;

XI - gerir o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,

observada a Lei federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do

Adolescente) e a Lei nº 7.235, de 6 de novembro de 1992 (BRASIL, Lei

Municipal nº 8.228, de 29 de dezembro de 1998).

Além de todas essas funções, o COMDICA em conformidade com o Art.

139, do ECA, é responsável pelo processo municipal de escolha dos conselheiros

tutelares.

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2.3 O Conselho Tutelar

A estrutura legal do Conselho Tutelar é definido no ECA, de acordo com

o "Art. 131 – O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não

jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos

da criança e do adolescente." Ser permanente, de acordo com o dicionário (2001)

significa ser contínuo, duradouro, ininterrupto.

O Conselho Tutelar é permanente no sentido de que uma vez implantado,

não poderá ser extinto, ou seja, não depende da vontade do governante ou de

qualquer outra autoridade, o que muda são seus membros que são escolhidos

pela sociedade para um mandato de quatro anos. Assim é definido nas

orientações técnicas sobre a atuação do conselho tutelar, como um órgão público

municipal, que tem sua origem na lei municipal, integrando-se de forma definitiva

no conjunto das instituições municipais, estaduais e federal e subordinando-se

somente ao ordenamento jurídico brasileiro.

É um órgão autônomo, porque tem liberdade e independência na sua

atuação, ou seja, suas decisões não são submetidas a outros setores da

administração pública. Tem a missão de zelar pela efetivação dos direitos

violados e para isso aplica as medidas de proteção e as pertinentes aos pais,

quando achar necessário sem interferência alguma.

E ser um órgão não jurisdicional quer dizer que o conselho tutelar não

pertence ao poder judiciário para punir quem não cumprir suas determinações,

ou jugar os conflitos, sua função é aplicar as medidas de proteção, se essas

medidas não forem respeitadas o conselheiro pode representar no poder

judiciário.

Conselho Tutelar é um órgão colegiado encarregado de zelar pelo

cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Zelar é fiscalizar, é estar

atento e sempre disposto a lutar pela sua efetivação. Isso não significa dizer que

o Conselho tem o papel de atender os direitos, e sim fiscalizar para que não

aconteça omissão ou violação dos pais ou responsáveis legais nem tampouco do

poder público. Para Roberta Santos, em sua Dissertação de Mestrado (2007) o

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Conselho Tutelar se constitui como:

Com base na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e

do Adolescente, o Conselho Tutelar é um órgão representativo da

sociedade civil, responsável por garantir estratégias politicas e espaço

de participação, fiscalização e controle do Estado, para fazer cumprir os

direitos da criança e do adolescente. (p.01)

Konsen (2000) vai dizer que existem razões de resistência em estruturar e

regular o funcionamento dos Conselhos Tutelares nos municípios, essas razões

vão além de vontade política e a falta de informação sobre a função tão

importante que desenvolve este órgão. Diante das minhas leituras, na minha

futura investigação pretendo pesquisar: quais os desafios no funcionamento dos

Conselhos Tutelares de Fortaleza, sob a ótica dos conselheiros tutelares.

2.3.1 Atribuições do Conselho Tutelar

O Conselho tutelar atende escuta reclamações, reivindicações e

solicitações feitas por crianças, adolescentes, famílias, cidadãos e comunidades,

orientar, aconselhar, encaminhar e acompanhar os casos. Aplica as medidas

protetivas pertinentes a cada caso, medidas pontuadas no art. 101 do ECA. Para

se efetivar a garantia dos direitos o Conselho Tutelar faz requisições de serviços

necessários à efetivação do atendimento adequado de cada caso. Contribui para

o planejamento e a formulação de políticas e planos municipais de atendimento à

criança e ao adolescente. No art. 136 do ECA pode-se encontrar a definição das

atribuições do Conselho Tutelar:

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts.

98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas

previstas no art. 129, I a VII;

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço

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social, previdência, trabalho e segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de

descumprimento injustificado de suas deliberações.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua

infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou

adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre

as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato

infracional;

VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou

adolescente quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta

orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da

criança e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos

direitos previstos no art. 220. 3º inciso da Constituição Federal;

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou

suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de

manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

O Conselho Tutelar é um órgão de correção as violações de direitos e atua

para promover sua defesa, para isso pode requisitar serviços públicos essenciais

para o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. As medidas de

proteção às crianças e adolescentes são aplicadas sempre que esses diretos

sejam ameaçados e violados, tanto pela ação, omissão da sociedade do Estado

dos pais ou responsáveis ou pela sua própria conduta.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a

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autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes

medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de

responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de

ensino fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à

criança e ao adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em

regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e

tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional;

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;

IX - colocação em família substituta.

As medidas pertinentes aos pais ou responsáveis que é aplicada pelo

conselheiro tutelar em determinados, ou seja, quando é necessário, está de

acordo com o artigo 129 do ECA, a escolha dos incisos será de acordo com cada

caso.

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à

família;

II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e

tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua

frequência e aproveitamento escolar;

VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento

especializado;

VII - advertência;

VIII - perda da guarda;

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IX - destituição da tutela;

X - suspensão ou destituição do poder familiar.

2.3.2 As competências dos conselheiros

A lei estabelece que haverá em cada município, no mínimo, um Conselho

Tutelar. No caso de Fortaleza, atualmente contamos com apenas seis,

distribuídos nas SERs, sendo que a competência desses conselhos não

ultrapassa o território do município, ou região administrativa.

Para cada caso, entretanto, o que vai determinar a competência é o

domicílio dos pais ou responsáveis, ou, à falta destes, o lugar onde se encontre a

criança ou adolescente. Isso não impede que a execução das medidas de

proteção cabíveis seja aplicada e posteriormente o caso é encaminhado ao

Conselho competente.

De acordo com a resolução nº 92/2012 do COMDICA, que trata do

Regimento Interno do Conselho Tutelar de Fortaleza, as competências dos

conselheiros são:

Art. 29 Compete a cada Conselheiro Tutelar, em sua atuação

profissional, entre outras atividades:

I. Desempenhar as atividades de sua competência com vistas à solução

dos casos recebidos, observando o disposto nos arts. 95 e 136 da Lei

Federal nº 8.069/90.

II. Proceder imediatamente à verificação dos casos que lhe sejam

distribuídos, devendo, para tanto, realizar as providências de caráter

urgente e preparar relatório escrito em relação a cada caso para

apresentação à sessão colegiada.

III. Participar da escala de plantão e comparecer à sede do Conselho nos

horários previstos para sua escala de atendimento.

IV. Auxiliar o Coordenador e o Secretário Geral nas suas atribuições

específicas, especialmente na recepção de casos e no atendimento ao

público.

V. Discutir, sempre que possível, com outros Conselheiros as

providências urgentes que lhe cabem tomar em relação aos casos de

sua responsabilidade.

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VI. Discutir cada caso de forma serena e respeitando as eventuais

opiniões divergentes de seus pares.

VII. Tratar com respeito e urbanidade os membros da comunidade,

principalmente as crianças e os adolescentes, reconhecendo-os como

sujeitos de direitos e a condição peculiar de pessoas em

desenvolvimento dos mesmos.

VIII. Realizar, sempre que necessário, visitas domiciliares ou

institucionais dos casos que estiver acompanhando, a fim de melhor

orientar suas decisões.

IX. Alimentar o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência –

SIPIA, ou outro que o suceda, visando a organização e o

acompanhamento dos casos que chegam ao Conselho Tutelar.

X. Zelar os equipamentos e materiais do Conselho Tutelar, cuidando do

bom uso dos mesmos.

XI. Denunciar eventuais irregularidades praticadas por qualquer dos seus

pares, no exercício de suas atribuições ou por qualquer pessoa, no trato

dos equipamentos e materiais disponíveis ao Conselho Tutelar.

XII. Executar outras tarefas que lhe forem destinadas na distribuição

interna das atribuições do órgão.

2.3.3 Processo de escolha dos conselheiros Tutelares.

O processo de escolha é conduzido e organizado pelo COMDICA, é

homologado, obedecem às resoluções municipais específicas, e em conformidade

com o ECA. Vale ressaltar que todo o processo deve ser fiscalizado pelo MP.

A lei federal estabelece como condição mínima para um cidadão candidatar-se

a membro do Conselho Tutelar alguns requisitos, como reconhecida a idoneidade

moral, idade superior a 21 anos e residir no município, devendo também estar

definidos na Lei municipal:

Cabe ao município, e somente a ele, a prerrogativa de definir esse processo

de escolha, de acordo com a nova redação do ECA.

Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho

Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a

responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público.

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§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar

ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4 (quatro)

anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da

eleição presidencial. § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá

no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. §

3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado

ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou

vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno

valor.

No município de Fortaleza o processo é regulamentado pela lei 9.843, que

estabelece os requisitos seguintes;

Art. 32 - São requisitos para candidatar-se a um mandato de membro do

Conselho Tutelar de Fortaleza;

I- reconhecida idoneidade moral;

II - idade igual ou superior a 21 (vinte e um) anos;

III - residir e ter domicílio eleitoral no município de Fortaleza há mais de 1

(um) ano;

IV - apresentar frequência e aproveitamento satisfatório em curso

preparatório de habilitação para candidatos à função de conselheiro

tutelar, a ser regulamentado por Resolução do COMDICA;

V - comprovar experiência profissional ou em regime de voluntariado de

no mínimo 2 (dois) anos em trabalho direto na área da criança, do

adolescente e família, nos últimos 5 (cinco) anos anteriores ao pleito,

mediante documento contendo as atribuições desenvolvidas;

VI - ser aprovado na prova de conhecimentos gerais e específicos sobre

o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da legislação pertinente

à área da criança e do adolescente e da família;

VII - não ter sido penalizado com a destituição da função de conselheiro

tutelar nos 5 (cinco) anos antecedentes à eleição;

VIII - apresentar, no momento da inscrição, certificado de conclusão de

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curso equivalente ao ensino médio;

IX - apresentar declaração de 2 (duas) entidades governamentais ou não

governamentais que prestem serviço na área há mais de 2 (dois) anos e

sejam registradas no COMDICA ou conselho referente, comprovando

reconhecida experiência no trato das questões pertinentes à defesa e

atendimento à criança e ao adolescente;

X - não haver sido condenado em sentença penal transitada em julgado,

nem haver sido beneficiado com a transação penal de que trata a Lei nº

9099/95.

Dentre os requisitos, há alguns que são impedimentos, tais como: servir ao

mesmo Conselho, marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou

nora, irmãos, cunhados, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta enteado. O exercício

efetivo da função de conselheiro constitui serviço público relevante, estabelece

presunção de idoneidade moral.

2.4 O Conselho Tutelar como espaço de Participação popular, Controle Social e

Garantia de Direitos Sociais.

Diante do objeto de pesquisa que trata de um órgão representativo da

sociedade civil, optamos por analisar as categorias: Participação popular, Controle

Social, e Direitos Sociais, que serão relacionadas com as características básicas do

Conselho Tutelar e será discutida à luz de alguns autores que pesquisam os temas.

É dever do Conselho Tutelar como representante da sociedade civil,

garantir estratégias políticas e espaços de participação na formulação, fiscalização e

no controle das ações e decisões do Estado, para a efetivação dos direitos da

criança e do adolescente.

2.4.1 Participação popular

No contexto histórico brasileiro o uso do termo participação popular nos

espaços públicos é um fenômeno recente, de acordo com Nogueira (2004), a

participação mudou de significado com o passar dos anos, pois era vista como

problema para a formulação e implementação de políticas.

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Processos participativos ou, mais genericamente, mecanismos de

consulta popular, negociação e formação ampliada de consensos,

agiriam "contra" o crescimento econômico, na medida em que

dificultariam a tomada rápida de decisões e, com isso, prolongariam

indevidamente o tempo de formulação e de implementação de políticas.

Pouco a pouco, a opinião prevalecente foi-se deslocando para o lado

oposto, com o correspondente reconhecimento de que a participação [...]

seria particularmente relevante no fornecimento de sustentabilidade às

políticas públicas e ao próprio desenvolvimento. Os processos

participativos converteram-se, assim, em recurso estratégico do

desenvolvimento sustentável e da formulação de políticas públicas.

(Nogueira, 2004, p. 117-118).

Conforme Nogueira (2004), o tema da participação tem forte conteúdo

ideológico e comporta diferentes conceitos e definições. Assim sendo, decidimos

concordar com a perspectiva freireana, por definir que a participação popular não

deve significar a omissão do Estado.

Os grupos populares certamente têm o direito de organizar-se [...]. Têm

o direito inclusive de exigir do Estado, através de convênios de natureza

nada paternalista, colaboração. Precisam, contudo, estar advertidos de

que sua tarefa não é substituir o Estado no seu dever de atender às

camadas populares. (Freire, 2007, p. 78)

Para Campos e Maciel (1997) a participação popular representa a

construção de uma nova cultura política no Brasil, que confere visibilidade aos

grupos sociais excluídos tradicionalmente do exercício decisório e de usufruir

satisfatoriamente dos bens produzidos por eles mesmos, ou seja, os

trabalhadores.

Essa conquista é fruto da CF de 1988, diz que todo poder emana do povo

que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, essa nova

concepção jurídica estabelece, combinando com o art. 204 “a descentralização

político-administrativa e a participação da população, por meio de organizações

representativas, na formulação das políticas” (BRASIL, 1988, art. 204).

Segundo Nogueira a partir dos anos 1990, no processo de

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redemocratização dos pais, a participação popular aparece nos discursos de

novos autores sociais como “expressão de práticas sociais democráticas

interessadas em superar os gargalos da burocracia pública e em alcançar

soluções positivas para os diferentes problemas comunitários" (Nogueira, 2004, p.

121).

O Conselho Tutelar é um espaço de participação popular, por ser uma

conquista de sujeitos sociais para todos os outros sem distinção de classe, etnia,

religião e etc. De acordo com Meirelles,

"é na lógica da descentralização, ampliação dos espaços públicos de

decisão e fortalecimento da participação popular que emergem os

Conselhos Tutelares, como órgãos representativos da sociedade civil, no

âmbito municipal, eleitos por meio de sufrágio universal, dentro dos

limites determinados pelas leis eleitorais do país, de voto secreto e

facultativo" (Meirelles, 2005 p. 85)

A sociedade civil tem um papel fundamental para ações de defesa e

efetivação dos direitos infantojuvenis, pois através da participação popular a

sociedade elege seus representantes políticos, nesse cenário elege através do

voto facultativo os conselheiros tutelares, e por meio das formas de participação

registram suas denúncias, que relatam as violações de direitos de criança e

adolescentes, posteriormente cobram uma resposta dos órgãos competentes.

Assim podemos afirmar que a participação é uma conquista,

Um exemplo de participação popular é o número de registros realizados

pela população no Disque Direitos Humanos-Disque 100, que é um serviço de

atendimento telefônico gratuito, que funciona 24 horas por dia, mantido

pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: a população

registra as violações de direitos, o Disque 100 recebe as denúncias, e encaminha

para a Ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República (SDH/PR), na qual analisa as mensagens e encaminha para os órgãos

responsáveis pela apuração e punição em casos de violências.

O quadro a seguir mostra o número de denúncias registradas pela

população brasileira anunciando violações de direitos de crianças e adolescentes

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realizadas no corrente ano. (nomear a fonte do quadro)

É importante que a participação popular não seja manipulada, que a

população tenha consciência do poder que possui e use este poder para construir

uma sociedade mais justa e igualitária, cobrando do poder público o seu papel.

A participação popular e o controle social estão intimamente relacionados,

pois por meio da participação na gestão pública, a sociedade civil tem o direito de

intervir na tomada das decisões administrativas, fazendo com que os governantes

formulem medidas que atendam aos interesses da população em geral e, ao mesmo

tempo, possa exercer controle sobre essas medidas, exigindo que o Estado preste

contas de sua atuação.

2.4.2 Controle social

O Conselho Tutelar é um espaço de controle social, pois atende, orienta e

encaminha todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social, conflitos e com

interesses opostos. De acordo com a publicação da Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social - STDS (2012).

“os conselhos são órgãos públicos de controle social, fundamentados no

princípio de democracia participativa. Existem para garantir a

participação da sociedade na formulação de políticas públicas e são

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voltados para a defesa e promoção dos direitos das crianças e

adolescentes.

A expressão controle social recebeu significados variados ao longo da

história das sociedades, Carvalho (1995) faz um importante resgate, "na concepção

da sociologia clássica, o termo 'controle social' tem sido usado por vários autores

para designar os processos de influência da sociedade (ou do coletivo) sobre o

indivíduo" (Carvalho, 1995, p. 9).

Carvalho (1995), afirma que Durkheim concebe o controle social como uma

conquista através das obrigações ou pressões morais expostas pelo indivíduo para a

sociedade, na qual esta ameaçada pela irracionalidade humana, pode ser protegida

por essa estrutura normativa. Já no entendimento de Bobbio, o controle social é

concebido como uma limitação do agir individual na sociedade.

Essas concepções de controle social, vistas como controle do Estado sobre

a sociedade, atravessaram séculos, havendo uma mudança significativa com a

Constituição Federal de 1988, onde controle social representa um direito

conquistado e é entendido como um direito, permitindo não só a participação da

população na elaboração, mas, também, a fiscalização das políticas públicas e a

aplicação dos recursos públicos.

Conforme Machado (2004), o controle social, não se restringe somente ao

controle financeiro da administração pública, controle social é participar da

construção e acompanhar a implementação de um projeto, ação ou política pública.

O exercício do controle social ultrapassa a dimensão da questão

financeira. Além de fiscalizar, o controle social significar propor,

monitorar, acompanhar, participar conjuntamente dos critérios de

formulação das politicas públicas, as estratégias de viabilização dessas

politicas, enfim, ter acesso á construção desse processo. (Machado,

2004, p. 7)

Essa ideia é também defendida por Rodrigues e Azzi (2007), que

reconhece o controle social como um dos elementos do processo de publicização,

e o seu exercício define como uma ação reguladora para a garantia de direitos

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sociais. (não há registro formal dessa palavra, mas como está em fonte deixei)

“Controle social” é uma categoria constitutiva dos processos

democráticos e tem sido reconhecido com um elemento integrante do

processo de publicização. O exercício do controle social pela sociedade

civil, no âmbito das politicas sociais, pode ser entendido como uma

forma de relação reguladora, que visa os interesses da sociedade civil na

garantia dos direitos sociais de cidadania. Por isso, o controle social não

pode ser confundido apenas com controle do financiamento ou do fundo

público. Ele é mais amplo, pois inclui o controle de diretrizes, da

administração da ação técnica e da destinação dos recursos.

Neste cenário é que se situa o Conselho Tutelar, como órgão colegiado,

representativo da sociedade, compostos por pessoas escolhidas pelas

comunidades, com a responsabilidade de fiscalizar e zelar pelo cumprimento dos

direitos da criança e do adolescente, se configurando como órgão público de

controle social.

A participação da sociedade civil na formulação e implementação de

políticas públicas se efetiva através do exercício do controle social, aqui

concebido pela ideia de Raicheles, como:

...o acesso aos processos que informam as decisões no âmbito da

sociedade política. Permite a participação da sociedade na formulação e

revisão das regras que conduzem a negociação e arbitragem sobre os

interesses em jogo, além do acompanhamento da implementação

daquelas decisões, segundo os critérios pactuados. (Raicheles, 1998, p.

42)

Campos e Maciel (1997) afirma que os conselhos são instâncias

privilegiadas para a participação efetiva do exercício do controle social,

assinalando o estabelecimento do Estado democrático de direito coerente com o

princípio da soberania popular.

Portanto, podemos concluir que o controle social é o controle das ações do

Estado, realizado pela sociedade civil, através da participação nos processos de

elaboração, implementação e fiscalização das políticas públicas, por meio dos

mecanismos de participação popular como, por exemplo, os conselhos de direitos

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e Tutelares, que visam à garantia dos direitos sociais.

2.4.3 Direitos sociais

A luta pelos direitos sociais no Brasil é um processo histórico, conforme

Couto (2010), a construção dos direitos pode ser analisada a partir de uma

divisão no tempo da história da sociedade brasileira, como direitos de primeira,

segunda e terceira geração. Os direitos de primeira geração são os direitos civis e

políticos fundamentados na liberdade do homem, surgiram no século XVIII e se

consolidaram no século XIX. Os direitos de segunda geração, que conhecemos

como direitos sociais baseiam-se na ideia de igualdade, se consolidaram no

século XX. E os direitos de terceira geração são fundamentados na ideia de

solidariedade, estando ligados ao desenvolvimento, meio ambiente e a paz, ou

seja, comum a todos.

De acordo com Bobbio (2004) o que hoje é definido por direitos humanos,

não são produtos da natureza, e sim frutos da civilização humana. Por isso são

históricas, mutáveis e suscetíveis as demandas de cada sociedade.

No Brasil as primeiras lutas por direitos sociais aconteceram no período

colonial, quando a sociedade era regida pela escravidão e lutou pela abolição.

A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis, o novo país

herdou a escravidão, que negava a condição humana do escravo,

herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um

Estado comprometido com o poder privado. (CARVALHO, 2008, p.45)

Mesmo depois da abolição da escravatura, o Brasil permaneceu com

concepções que limitam a garantia de direitos, ao aderir o atual sistema

econômico capitalista, com isso o povo começa a se organizar nos movimentos

sociais, em busca da emancipação humana. Nesse contexto a organização da

classe trabalhadora teve um importante papel na luta pelos direitos sociais e

surgimento das políticas sociais.

Bobbio (2004) diz ainda que, a garantia dos direitos não depende só da

boa vontade dos governantes ou de critérios que demonstrem a concessão

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absoluta desses direitos, essa garantia depende da transformação econômica de

um país, tornando possível a proteção aos homens.

De 1930 a 1964 no Brasil, o Estado reconhecia como cidadão com acesso

aos direitos sociais, ainda que limitados, somente os trabalhadores de possuíam

carteira assinada, que eram sindicalizados. Com o golpe militar que dominou de

1964 a 1969, houve uma intensa violação de direitos, os direitos políticos foram

reprimidos e os direitos sociais foram expropriados, nesse contexto de luta de

enfrentamento à ditadura, a luta pelos direitos ganhou força social e política,

incorporando pelos movimentos sociais um discurso democrático de cidadania

participativa.

Nos anos de 1970 a 1980 o regime militar se desgastou, e foi instalada a

Assembleia Nacional Constituinte, que mobilizou a população para assinar a

Constituição, que mudaria a história brasileira, para um Estado de democracia e

de direitos com o objetivo de promover a justiça social.

A Constituição de 1988 define no art. 1 os direitos individuais e coletivos,

entre os quais a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. No art. 6, expressa os direitos

sociais como: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, garantindo a quem deles necessitar sem nenhuma forma de

discriminação.

Na análise de Telles (1999), que se referencia a partir do estudo da obra de

Arendt, a autora destaca duas ideias com relação aos direitos sociais: a primeira é

que os direitos sociais na modernidade são esforços de estabelecimento da

justiça social. A segunda ideia de Telles (1999) é que a destruição desses direitos

leva à emergência de contradições e conflitos sociais, onde o indicado é analisar

os direitos sociais, com a visão dos direitos como regras de sociabilidade, sem ver

as pessoas como vítimas, mas como portadoras de direitos, para participar, para

reivindicar, se distanciando do perfil de caridade.

Com relação à garantia dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil,

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estão relacionados historicamente com a conquista da Doutrina de Proteção

Integral pela Convenção sobre os direitos da criança, aprovada pela ONU em

1989, a citada Constituição Federal de 1988, e regulamentados no ECA em 1990.

Como já exploramos no início deste capitulo.

A Constituição Brasileira relaciona em seu artigo 227, aqueles direitos

destinados a conceder às crianças e adolescentes absoluta prioridade no

atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência familiar e

comunitária, lazer, profissionalização, liberdade, integridade etc.

Em conformidade com a Constituição Federal, o ECA, no Art. 4° define a

responsabilização na efetivação dos direitos.

Art. 4 É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos

direitos referentes á vida, á saúde, á alimentação, a educação, ao

esporte, ao lazer, á Profissionalização, a cultura, a convivência familiar e

comunitária.

Dentre os órgãos competentes e responsáveis por zelar pela garantia de

todos os direitos das crianças e adolescentes, encontra-se o Conselho Tutelar;

como espaço público e de controle, tem essa dimensão de atuar na defesa dos

direitos, sempre que estes estiverem sendo ameaçados ou violados, levantando

lutas, pois representa um canal de politização dos cidadãos, sendo um espaço

privilegiado na gestão conjunta do governo e sociedade civil, atuando de forma

articulada com as políticas públicas na garantia dos direitos.

Conforme a publicação da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento

Social - STDS (2012) o conselho tutelar tem sua atuação direcionada para o

funcionamento do Sistema de Garantia de Direitos - SGD, que é um conjunto

articulado de pessoas e instituições que atuam para efetivar os direitos do

segmento infantojuvenil.

Entendemos que o Conselho Tutelar, como espaço público de participação,

"tem potencial político para se apropriar dos espaços de discussão e participação

política" (Meirelles, 2005, p. 95). Com essa função o Conselho Tutelar é capaz de

cobrar do Estado a efetivação dos direitos sociais garantidos em lei, realizando

sua verdadeira atribuição de fiscalização e controle social na busca da justiça

social.

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3. CONSELHO TUTELAR NA PRÁTICA, SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS

TUTELARES: POSSIBILIDADES E LIMITES UM DESAFIO CONSTANTE NO

FUNCIONAMENTO DO ÓRGÃO.

Durante a pesquisa de campo, tivemos a oportunidade de marcar as

entrevistas com 50% dos entrevistados que apoiam a atual gestão municipal, e

com 50% de conselheiros que criticam a administração, nosso objetivo é mostrar

as contradições, diferentes visões influenciadas pela política partidária, que

rodeiam a realidade vivenciada pelos conselhos Tutelares de Fortaleza.

3.1 Definição de Conselho Tutelar e análise da atuação dos Conselheiros

Tutelares, segundo os entrevistados.

Nos discursos dos conselheiros entrevistados, o Conselho Tutelar é

definido por diversos significados, inicialmente como órgão de suma importância

na defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes e ressaltada a

importância de um apoio mais eficaz pela prefeitura municipal de Fortaleza.

É um órgão pra mim superimportante pra sociedade. (Eva Furnari)

O Conselho Tutelar é um órgão autônomo e permanente, encarregado

pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do

adolescente e tem que ser amparado pela prefeitura desde a estrutura

até as condições adequadas de funcionamento e atendimento. (Ana

Maria Machado)

É visto também como porta de entrada, uma instituição de referência para

a sociedade. Porém são apresentadas as angústias para o atendimento das

denúncias.

Pra mim o Conselho Tutelar, ele deveria ser a porta de entrada mesmo,

em que as pessoas fossem buscar tentar solucionar os problemas, e sair

com uma solução plausível. Eu acho que hoje não é possível. (Ruth

Rocha)

O Conselho Tutelar na minha visão hoje é a porta de entrada das

denúncias, todos os tipos de denúncias o Conselho Tutelar é a porta de

entrada, agora mesmo a gente está com muita dificuldade, em atender

essas demandas, porque as dificuldades são grandes. Agora que a

gente tem muita boa vontade de atender a gente tem, eu ainda acredito

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muito num Conselho Tutelar diferente. (Mariana Massarani)

Vivarta (2005) explica que o Conselho Tutelar funciona a partir de

denúncias de violações de direitos, não executando nenhum programa, que o

órgão surgiu com a ideia de retirar essas ações que antes era de

responsabilidade do judiciário.

Aparece como uma conquista da sociedade, o que nos faz relembrar o

contexto histórico de surgimento do atual paradigma de proteção integral e do

Conselho Tutelar, amplamente discutido no segundo capitulo deste trabalho.

O Conselho é uma conquista de uma luta social, que perpassou vários

anos e continua em construção, faz parte da história brasileira. Antes as

crianças e adolescentes eram vistas como objetos de proteção e tinham

seus direitos violados de forma natural. Depois da aprovação do ECA,

eles passaram a ser respeitados e sujeitos de direitos, a implantação do

Conselho Tutelar, vem para concretizar a garantia desses direitos e

consequentemente a luta contra as violações, abusos e omissão.

(Monteiro Lobato)

Com relação às análises feitas pelos interlocutores, quanto à atuação dos

conselheiros, percebemos que existe uma disputa de poder interna entre eles, e

que um dos motivos são suas escolhas partidárias.

Com respeito à atuação dos conselheiros, bom no Conselho Tutelar tem

muita gente que quer trabalhar, tem muita gente que quer fazer o

trabalho sério, mas de certa maneira ele é impedido por diversos fatores.

O principal é a política, que acaba atrapalhando o andamento do

Conselho Tutelar. (Ruth Rocha)

Outro fator que também é citado, que contribui para a não atuação

qualificada dos conselheiros, é a falta de formação continuada para o exercício da

função.

Sobre a atuação dos conselheiros, tinha condições de ser melhor, se

realmente nesse processo de escolha, tivesse realmente uma

capacitação com antecedência, para quando começassem a atuar nos

conselhos. (Eva Furnari)

Em um dos depoimentos fica claro que alguns conselheiros deixam a

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desejar na efetivação de suas atribuições, oprimidos pela falta de estrutura e

apoio governamental e também pela falta de fiscalização dos órgãos

competentes.

A atuação dos conselheiros, às vezes a gente, é como se diz, impedido

de trabalhar por conta da falta de condições para o trabalho. Os

conselheiros às vezes por conta do não apoio das redes, deixa muito a

desejar ainda, a situação é muito precária, e o apoio das redes é

fundamental. (Mariana Massarani)

O conselheiro tutelar tem atribuição de atender, aconselhar, requisitar,

encaminhar e representar contra toda violação dos direitos da criança e

do adolescente, conforme o art. 136 do ECA, entretanto existe denúncias

de conselheiro que exerce outras atividades laborativas, não se dedicam

ao atendimento integral, que a função necessita. (Ana Maria Machado)

É válido ressaltar quer por tratar-se de um órgão público, já é de

conhecimento de todos os candidatos a conselheiro, a realidade de estrutura dos

equipamentos e as condições de trabalho no referido órgão, o que não justifica

que depois de assumir dada função o profissional deixe de exercer seu papel

justificando somente a falta de estrutura, pois seria um discurso generalizado de

todos os profissionais da rede pública.

Na visão de um entrevistado a atuação dos conselheiros é também

comprometida quando não se tem afinidade com o trabalho de atendimento

social.

O conselheiro tutelar, no cumprimento de suas atribuições legais,

trabalha diretamente com pessoas que, na maioria das vezes, vão ao

Conselho Tutelar ou recebem sua visita em situações de crises e

dificuldades — histórias de vida complexas, confusas, diversificadas.

Para isso o conselheiro tem que ter compromisso com a causa, perfil que

encontramos em alguns. (Monteiro Lobato)

3.2 Avaliação dos principais protagonistas sobre o processo Municipal de escolha

dos conselheiros tutelares.

O processo de escolha dos conselheiros tutelares é administrado pelo

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COMDICA, através de resoluções que determinam os requisitos e datas das

etapas do processo, 90% dos entrevistados criticam o processo municipal de

escolha dos conselheiros, apresentando justificativas que mostram a deficiência

da organização no processo, bem como na apuração das irregularidades.

Muito falho, um processo que é manipulado por funcionários da

prefeitura aonde muitas vezes trabalham para políticos que tem seus

próprios candidatos, até mesmo as urnas são manipuladas por essas

pessoas, não tem divulgação, quase ninguém sabe das eleições, que

não votam nas escolas que sempre votam em outras eleições

legislativas. (Monteiro Lobato)

O processo de escolha é deficiente, assim o processo realmente toda

vida tem a resoluções, sai edital é homologado juntamente com o

colegiado do COMDICA, mas eu gostaria que fosse mais transparente

em termos do processo de escolha, por que tinha que ter uma

fiscalização maior, o edital tinha que ter: primeiro um tempo mais

ampliado para que fosse realmente comprovada a questão da

experiência profissional das pessoas, que se candidatam. Que por

muitas vezes a gente sabe que tem candidatos que não têm a mínima

habilidade com a causa e isso atrapalha depois no andamento quando

exerce a função de conselheiro tutelar. (Eva Furnari)

Péssimo, porque ele, no momento do processo, eles estão vendo todas

as, como eu posso dizer, todas as irregularidades, elas não são

apuradas. Eles deixam as pessoas que mesmo que fraudaram

assumirem, pra depois eles irem atrás de tomar uma punição e eu acho

que se está irregular desde o início, então tem que se indeferido desde o

início, porque a gente sabe que depois que toma posse torna-se muito

mais difícil. (Ruth Rocha)

Contrapondo-se a essas afirmações somente uma interlocutora, vê o

processo como positivo.

Eu acho que seja transparente, eu não tenho, não vejo nenhum motivo

que não mostre transparência não, eu acredito que seja positivo, legal

dentro da lei. (Mariana Massarani)

3.3 Quais as denúncias de violações de direitos mais recebidas e a percepções

dos conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações

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de direitos das crianças e adolescentes?

A violação de direito mais denunciada nos Conselhos Tutelares de

Fortaleza, segundo os entrevistados e de acordo com os dados estatísticos da

Secretaria de Direitos Humanos de Brasília, é a negligência.

A grande maioria é negligência dos pais. (Monteiro Lobato)

Negligência dos pais (pai ou mãe) sempre por causa das drogas (crack,

cocaína e maconha) (Ana Maria Machado)

Aqui mais é na parte da negligência, eu vejo porque é o que a gente

mais atende as denúncias aqui e os casos de mães que não cuidam dos

filhos que não leva para o médico, que não estudam e a parte da

negligencia que predomina. (Mariana Massarani)

Percebemos que a sociedade não conhece as atribuições do Conselho

Tutelar, que além de lutar pela efetivação de direitos, também tem a função de

cobrar e aplicar medidas aos pais ou responsáveis que se comportam de maneira

ameaçadora, omissa ou violenta nos cuidados ou falta deles com as crianças e

adolescentes.

A maior demanda que a gente (mais) recebe atualmente é negligência

dos pais, é um problema muito sério que hoje os pais estão transferindo

a responsabilidade, muitas vezes chegam ao Conselho Tutelar e querem

entregar os filhos... (Eva Furnari)

Na sequência das demandas mais atendidas, aparece como segundo lugar

a violência física, seguido do problema social que atualmente abala todas as

classes sociais, a drogadição.

É a segunda demanda é a violação física e depois a questão da

drogadição, a drogadição é um caso sério, apesar que atualmente tem

melhorado um pouco devido já os programas que estão existindo. (Eva

Furnari)

Negligência, violência física, eu acho que são os principais problemas

atendidos no Conselho Tutelar. (Ruth Rocha)

Uma demanda que também é apontada por um entrevistado, que foi

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recentemente tipificada como crime, é a alienação parental. De acordo com a Lei

nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, a alienação parental é:

Art. 2 Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação

psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um

dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente

sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou

que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos

com este.

Agora também que está crescendo muito é a questão da alienação

parental, que é crime e muito difícil de ser comprovada, acho que na

SER II, a alienação parental está entre os três primeiros lugares nos

atendimentos. (Ruth Rocha)

Com relação à visão dos entrevistados quanto ao papel do Estado e da

família na luta contra essas violações de direitos, entendemos que muitas das

violações são resultados da omissão do sistema estatal, que não garante

condições mínimas às famílias, não implementa políticas públicas capazes de

atender as demandas da população, e essas famílias vivem em situações

vulneráveis, nesse contexto acontecem as diversas violações. Portanto, a criança

e adolescente, na maioria das vezes, são vitimados nos dois planos.

O Estado precisa, necessita em caráter de urgência ampliação de

políticas públicas, porque o que nos mais precisamos é justamente

políticas públicas que sejam abrangentes em relação à família. Porque

se você trabalha com a família, logicamente essas violações vão

diminuir, porque as crianças e adolescentes eles são vítimas, ou seja,

muitos problemas são causados por violência doméstica, e também a

questão da escolaridade é um fato que também a gente tem observado,

que as escolas em tempo integral precisam se ampliar para as crianças,

que pra adolescente já tem algumas, e se ampliar, logicamente a

situação vai ser bem melhor em termos de violações. (Eva Furnari)

É citado também pelos entrevistados que o Estado deixa a desejar na

apuração dos casos e punição dos agressores; em alguns casos atendidos pelo

Conselho Tutelar, acontece descumprimento injustificado de deliberações, ou se

constitui em infração administrativa, esses são encaminhados à autoridade do

poder judiciário e Ministério Público.

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A família, ela acha que se ela levar a criança para a escola ela já fez o

papel dela, ela não participa de nada, a escola se for botar a frequência,

e se deixar o bolsa família ser prejudicado, e que ela vai à escola, mais

se for fazer uma reunião, não aparece quase ninguém. O Estado por não

punir a mãe, negligencia a mãe violenta, muitas vezes a criança tem que

ser tirada, vai para acolhimento institucional, então eu acho que punição

para a família ainda está longe de ser concretizado. (Ruth Rocha)

Para um entrevistado falta entendimento por parte do Estado, da

importância que tem o Conselho Tutelar para a sociedade, e que pouco é

reconhecido pelo poder municipal.

O papel do Estado é muito crítico ainda, o Estado deixa muito a desejar,

tanto o Estado em si, quanto o município de Fortaleza, políticas públicas

não existem, porque eu acho que quando chega ao Conselho Tutelar é

porque faltou muita coisa da parte dos governantes. Então deixa muito a

desejar, tinha que ser feito algo urgente, infelizmente é um processo

muito demorado pra essas melhorias chegarem até a gente, é muito

difícil, eu acho que o Estado deveria ter um olhar melhor para o

Conselho Tutelar, para área da criança e do adolescente, políticas

públicas para melhores condições na área da educação, a questão do

trabalho social com as famílias, a falta acarreta situações que acabam

vindo para o Conselho Tutelar. (Mariana Massarani)

3.4 Mudanças nos conselhos tutelares de Fortaleza nesse último mandato.

Na concepção de alguns conselheiros as mudanças são significativas,

percebemos esse discurso nos conselheiros que acreditam na nova

administração.

Sim, teve, inclusive vai ser implantado o programa Cresça com o seu

filho, que esse programa vai abranger crianças de 0 a 03 anos, a

questão também das escolas, porque pela Lei de Diretrizes e Base da

Educação, a partir de três anos a criança pode estudar em horário

parcial, embora é claro, logicamente, o ideal é que fosses em horário

integral, mas tem facilitado para ter atendimento a demanda, que estava

sem nenhum tipo de assistência, a inserção dentro das escolas e creche,

isso tem melhorado. E mais um fator importante foram os editais que

saíram em relação à criação do Centro de Referência sobre drogas, que

agora nós temos comunidades terapêuticas que estão aceitando,

inclusive, criança e adolescente, porque a gente sabe que é uma

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demanda bastante elevada e muita criança e adolescente já vivem

ameaçados de morte. Para isso tem facilitado nosso acompanhamento,

pois já foi implantado o PPCAAM, isso ai vem melhorando bastante.

Mais claro precisamos avançar mais ainda, tudo isso não é suficiente.

(Eva Furnari)

O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte

– PPCAAM foi criado pelo decreto nº 6.231, de 11 de outubro de 2007, trabalha

com o público, vítima de ameaça de morte, onde a porta de entrada é o Conselho

Tutelar.

Outro avanço relatado é a reforma estrutural que está acontecendo em três

conselhos

Com a nova gestão da prefeitura estou sentindo que está havendo

avanços e melhoras na estrutura dos prédios. (Monteiro Lobato)

Contrapondo-se a esses depoimentos, alguns conselheiros criticam

declarando que a nova gestão é um retrocesso para a história do Conselho

Tutelar de Fortaleza.

Não vejo nenhum avanço, só retrocessos, porque o que a gente tinha

avançado no mandato anterior, esse foi um retrocesso geral, hoje a

gente não sabe a quem procura, a quem recorrer, a gente não sabe de

nada, é cada um fazendo seu trabalho paralelo, no final a gente não vê

um resultado positivo. A questão dos funcionários terceirizados é um

retrocesso, as transferências, porque a política ele acaba interferindo e

atrapalhando. Eles não dão formação nem para os conselheiros, nem

para os funcionários, eles têm que aprender na marra e quando eles

começam a aprender os encaminhamentos o fluxo, eles são demitidos.

O que acaba gerando um prejuízo enorme para o Conselho Tutelar.

(Ruth Rocha)

Na avaliação de uma entrevistada, existem mudanças negativas e

positivas. Vale ressaltar que ela entende os avanços como fruto da luta de todos

os conselheiros e profissionais, frisando a importância da participação nos

encontros.

Durante esse mandato, respondendo pelo nosso Conselho, eu acredito

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que sim, assim, um pouco, ainda deixa a desejar pela falta de diálogo

com os representantes do governo, mas com a reforma do prédio é um

avanço. Porém está passando por muitas dificuldades, no prédio

improvisado, mas logo vamos receber o Conselho Tutelar modelo, para a

gente atender melhor. Eu acredito que lá esse Conselho que a gente vai

receber, vamos ter internet, vamos ter impressora, telefone que às vezes

a gente quer passar um fax e não tem, ou ligar para cidade e não pode.

Eu acredito que ao receber esse Conselho modelo, vai vir com todas as

condições para a gente trabalhar. Eu acredito que isso aí foi um avanço.

Por conta da luta de todos nós, porque participamos de reuniões aqui,

nos conselhos e no Ministério Público, e a gente vai criando, eu acho

que em cada situação, que a gente participa dali vai plantando uma

semente, que em algum momento, de tanto a gente questionar algum

benefício vem, essa foi uma conquista a reforma de três conselhos.

(Mariana Massarani)

No artigo 134, parágrafo único, do ECA, diz que deve constar na lei

orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos

necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação

continuada dos conselheiros tutelares.

O Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Fortaleza – FMCA, foi

instituído pela Lei Municipal nº 7.235 em 06 de novembro de 1992 e foi decretado

pelo nº 9098 de 28 de maio de 1993. É vinculado à Secretaria e Cidadania de

Direitos Humanos e administrado pelo COMDICA. A receita é proveniente do

imposto de renda, multas de violações de direitos da criança e do adolescente,

doações, campanhas de arrecadação, convênios e recursos da secretaria.

3.5 Desafios enfrentados pelos conselhos tutelares de Fortaleza para a

implementação do ECA e exercício de sua função.

É possível avaliar nos depoimentos, que na percepção dos conselheiros

são vários os desafios enfrentados para que o ECA seja respeitado e

implementado na realidade de Fortaleza, fica claro que todos são sabedores da

árdua função de conselheiro tutelar, mas percebemos ainda que existem alguns

aspectos que não dependem dos conselheiros para o desenvolvimento adequado

de suas atividades no dia a dia do órgão, os desafios mais citados foram com

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relação ao número de conselheiros tutelares, à deficiência na rede de proteção,

formação continuada, terceirização dos profissionais de apoio administrativo e

técnico, falta de políticas públicas e infraestrutura adequada.

Com relação à deficiência na rede de proteção, foram apresentados por

40% dos entrevistados como o principal desafio do Conselho Tutelar. Vale

ressaltar que a deficiência apresentada é a falta de eficiência, interação e

exercício das atividades em rede, com encaminhamentos, retornos,

acompanhamento, estudo de caso, ou seja, a proteção integral, preconizada no

ECA.

A rede de proteção que não existe, hoje se fala em acolhimento

institucional, que claro seria o último encaminhamento, mas em

determinadas situações é a primeira medida que se tem que aplicar, e a

realidade é que não tem vagas nas instituições de Fortaleza, as crianças

que são abandonadas em hospitais são novamente negligenciadas pelo

Estado, pois têm que passar muitos dias no hospital, correndo risco de

pegar infecções e outras doenças, porque tem que se esperar uma vaga,

e pra recém-nascidos é a maior dificuldade, para realmente ser

protegida. Esse em minha opinião é o maior desafio, trabalhar sem o

apoio da rede de proteção.

É possível constatar que a falta da eficiência da rede proteção é

generalizado pelo número reduzido de equipamentos que integram a rede, na

qual sua estrutura é de responsabilidade do Estado.

O CAPS infantil, nunca terá condição de atender a demanda, pois é um

CAPS para três regionais. (Ruth Rocha)

Um problema enfrentado, também, é com as unidades de acolhimento,

que deixam a desejar, precisa ser ampliada, principalmente a questão de

faixa etária e de perfil, porque perfil de criança e adolescente

abandonado não tem abrigo especifico, só tem mais para exploração,

abuso sexual, muitas vezes esses adolescentes são colocados junto

com outras vítimas de outras violações e acabam adquirindo

conhecimento de outras realidades, que termina com um adolescente

sendo colocado no acolhimento desnecessariamente, não é o caso de

misturar, mas é que poderia ser um acompanhamento diferenciado, e

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dentro dessas unidades de acolhimento era para ter cursos

profissionalizantes, atuação socioeducativas, sociofamiliar. Ser feito o

trabalho com a família para poder evitar, justamente problemas de

criança e adolescentes em situação de rua. (Eva Furnari)

Outro entrevistado cita também a falta de apoio da rede e a dificuldade no

retorno dos encaminhamentos. Nessa fala é possível observar ainda que nem

todos os profissionais reconhecem sua autonomia, e seu poder de representar

contra qualquer indivíduo ou instituição que impedir ou embaraçar ação do

conselheiro tutelar no exercício de sua função, previsto no artigo 236 do ECA,

como crime com detenção de seis meses a dois anos.

O maior desafio é a falta de apoio da rede de proteção, eu acredito que

sim, porque é o maior desafio que a gente tem, como por exemplo ao

encaminhar um pedido de vaga para um colégio, é uma dificuldade, a

gente encaminha uma vez, a gente encaminha duas e às vezes não é

atendido ou respondido. A gente quer engajar um jovem num projeto,

não existe nenhum disponível de prontidão. Se tiver um caso com

problemas de saúde, precisando de atendimento, a gente encaminha

para um posto de saúde, e este não é atendido. O maior desafio e esse,

devemos conquistar a interação de todos que trabalham com crianças e

adolescentes, todos deveriam falar a mesma língua. Hoje é como se a

gente tivesse trabalhando sozinho, muitas vezes a gente faz

encaminhamento e o colega vê com maus olhos, e até retorna com oficio

dizendo que não pode atender, temos que vencer essas dificuldades do

trabalho em rede. (Mariana Massarani)

Na concepção de outro entrevistado, um dos desafios é falta de

qualificação dos conselheiros, que não tem oportunidade de adquirir

conhecimento sobre a teoria, para referenciar suas ações no cotidiano do

Conselho Tutelar, ou seja, não usufrui da formação continuada garantida pelo

ECA no parágrafo único do artigo 134, que diz que a lei orçamentária municipal

deve conter recursos para a formação continuada dos conselheiros.

O primeiro e mais importante desafio que necessita enfrentado é a

capacitação contínua, os conselheiros necessitam realmente a cada dia

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mais se qualificarem, para poder saber os tipos de violações, como

devem ser inseridos essas crianças e adolescentes nos programas. (Eva

Furnari)

A mesma entrevistada ressalta que outro problema, que atrapalha o

andamento adequado das atividades do órgão, é a terceirização, que além de ser,

como já sabemos, um meio de exploração dos direitos do trabalhador, para o

Conselho Tutelar representa retrocessos no acompanhamento dos casos, visto

que acontece uma quebra de vínculos com os usuários.

E também outro desafio que existe é o fato que os Conselhos Tutelares,

apesar de ter tido uma melhora, porque agora nós temos a equipe de

multiprofissionais, mas a questão é da rotatividade que tem esses

profissionais. Devido ser terceirizados. Eu acho que deveria ter

concursos públicos. Acho que facilitava mais essa questão do

acompanhamento dentro dos Conselhos Tutelares. (Eva Furnari)

A realidade estrutural dos Conselhos Tutelares é constantemente exposta

nos programas de TV e nas redes sociais, temos um número reduzido ao máximo

do que é indicado pelo CONANDA, que é um dos motivos justificáveis para o não

funcionamento do órgão, pois é humanamente impossível um profissional realizar

atividade suprindo ao mesmo tempo seis pessoas, é o que acontece em

Fortaleza.

O número de conselheiros, que é 30 para toda a Fortaleza e o

recomendado pelo CONANDA é 180. Se tivéssemos esse número de

conselheiros, aí daria para acompanharem mais de perto cada caso e

chegar mais rápido nas denúncias. Ainda falta estruturação adequada

aos prédios dos conselhos. Faltam Políticas públicas para crianças e

adolescente. Isso resolveria 80% dos problemas. (Monteiro Lobato)

Em uma entrevista ao jornal O Povo, em 21/04/2014, a Promotora de

Justiça da Infância e da Juventude, Dra. Antônia Lima, confirma que "Existe uma

fragilidade muito grande da rede de amparo. Os atuais conselhos com certeza

não estão dando conta de proteger nossas crianças". Com relação à criação de

mais conselhos, o MP já notificou a Prefeitura para a criação de mais 19

unidades, porém, segundo a promotora, a Prefeitura "só tem recursos para mais

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quatro, ou seja, a gente vai continuar aquém".

Na mesma reportagem a assessora comunitária do CEDECA, a Sra. Talita

Maciel, ressalta que.

"Os canais de denúncia existem. Mas o sistema de garantia de direitos

tem uma estrutura bastante falha. Desde os Conselhos Tutelares até a

delegacia. Há denúncias flagrantes que não são apuradas no momento

do crime e acabam perdendo a efetividade."

3.6 O que pensam os conselheiros sobre o plantão do Conselho Tutelar.

Todos os entrevistados são unânimes em afirmar que o plantão do

Conselho Tutelar de Fortaleza iniciou e está funcionando de forma fragilizada, não

tem a participação de 100% dos conselheiros, alguns declaram que cumpri suas

obrigações, para não serem penalizados por omissão, mas na realidade não se

percebe resultado positivo do trabalho que é desenvolvido. Os conselheiros

justificam por uma diversidade de motivos, uma é falta de estrutura.

Inoperante, inexistente, a gente vai, a gente participa, né, da escala, pra

gente futuramente não ser punido, pela falta de trabalho, por omissão, se

acontecer uma situação e a gente tá em casa, não vai para o plantão, lá

na frente a gente pode ser penalizado por isso, eu acho que o plantão

deixa muito a desejar. Esse plantão ali deve ser melhorado, ou

extinguido, já que não acontece. (Mariana Massarani)

O plantão é o pior possível, não tem apoio nenhum, é um local impróprio

por diversas vezes falta telefone, o transporte muitas vezes não tem

combustível, os conselheiros que se habilitam a ir ao plantão ele vai

somente para cumprir a carga horária, mas não tem como atender a

demanda, não tem condições, o plantão não tem condições de funcionar

de jeito nenhum. (Ruth Rocha)

De acordo com a lei 9.843 de 11 de novembro de 2011, no artigo 18 ,

segundo parágrafo, diz que o plantão central dos conselhos tutelares será

realizado em local fixo, de fácil acesso para a população. O plantão do Conselho

Tutelar de Fortaleza hoje funciona na sede do Conselho Tutelar I, que é

localizado no primeiro andar de um prédio na Av. Bezerra de Menezes, não tem

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acessibilidade para deficientes e a estrutura é antiga, não tem infraestrutura

própria, ou seja, o material de expediente, o transporte e os educadores são os

mesmos do dia a dia dos conselhos.

Outro fator justificável é o défice de conselheiros, dos trinta conselheiros,

oito são plantonistas no final de semana, na segunda e terça-feira da semana

seguinte só trabalham durante o dia vinte e dois conselheiros, desses, alguns

podem estar de visitas ou em atividades externas, portanto se o número de

conselheiros já não é suficiente, podemos avaliar que a situação se agrava

quando os conselheiros usufruem de suas folgas.

Muito falho, hoje Fortaleza não tem estrutura para ter plantão. Só temos

30 conselheiros em Fortaleza aonde teríamos que ter 130. Os

conselheiros que tiram o plantão têm direito a 2 folgas daí durante o dia

semanal desfalcam os conselhos. Durante o plantão não trabalhamos,

pois não temos retaguarda e depois de certo horário deixamos de ir para

as denúncias por falta de segurança. Daí nem trabalhamos a noite e nem

durante o dia nos conselhos. (Monteiro Lobato)

É interessante destacar que, nos discursos, as dificuldades enfrentadas no

plantão, vão além da falta de estrutura; na compreensão de uma conselheira

necessita de profissionais qualificados, segurança, e, o mais importante, a

retaguarda da rede de proteção. Diante do depoimento observamos que fica

impossível de se efetuar os encaminhamentos necessários de acordo com cada

caso, pois dos órgãos integrantes do sistema de garantia de direitos somente o

Conselho Tutelar trabalha em regime de plantão. Estamos no contexto da Copa

do Mundo 2014, por esse motivo foi criada uma agenda de convergência, que

articula um plantão integrado, para a Copa e os grandes eventos em Fortaleza,

hoje esse plantão funciona apenas nos dias dos jogos.

O plantão do Conselho Tutelar, eu acho que é de suma importância, se

realmente existisse, não resta dúvida de que tem uma grande valia para

a sociedade, mas atualmente, eu acho até que foi precipitado, desde o

início desse plantão, porque na realidade o plantão era pra ser um

plantão integrado, tinha que ter primeiro um ambiente adequado para o

funcionamento; segundo, os educadores sociais deveriam ser

qualificados para trabalhar com este segmento. A questão, também, da

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segurança necessita principalmente nos plantões diurnos e finais de

semana e feriados. E outro agravante mais sério é a falta de retaguarda.

O DCECA não funciona 24 horas, a DDM não funciona todo dia, nem

tampouco o juizado, a defensoria, fica assim uma situação muito difícil,

muito delicado porque muitos casos precisam desse apoio. Então

precisa realmente ter uma avaliação com relação ao plantão para poder

dar continuidade e realmente ser efetivado, mas agora devido à Copa,

tem aí um plano de convergência, que foi assinado na semana passada,

no Paço Municipal, esperamos que depois da Copa, realmente der

continuidade para esse plantão integrado, realmente funcionar, vamos

ver. (Eva Furnari)

3.7 Prioridades pontuadas pelos conselheiros, para um adequado funcionamento

dos Conselhos Tutelares de Fortaleza.

Os conselheiros idealizam um Conselho Tutelar, que tenha capacidade de

atender as demandas de forma adequada. Neste momento da entrevista

podemos perceber que alguns chegam a se emocionar ao pontuar seus desejos

para o órgão, e que quase todos não dependem dos conselheiros, mas da

organização da gestão municipal.

Primeiro, implantação de políticas públicas para crianças e adolescentes.

Segundo, aumento de número de conselheiros para no mínimo 130,

seguindo a recomendação do CONANDA e, por último, estruturação dos

prédios dos conselhos e rede de proteção. (Monteiro Lobato)

Esses pontos são mencionados por outros conselheiros, o que mostra que

são realmente cruciais para o funcionamento adequado dos Conselhos Tutelares;

é que a realidade dos seis conselhos não é muitos diferentes, todos suplicam pela

ampliação de Conselhos.

E na realidade também é necessária a ampliação do número de

conselheiros. Isso daí é fundamental, porque o número da demanda, o

número de habitantes em Fortaleza é para no mínimo de 24 conselhos, e

só tem seis, isso realmente deixa ainda a desejar, nossa demanda é

grande, nós recebemos demanda de todos os órgãos públicos e

instituições não governamentais, e isto aí fica inviável a gente dar

assistência adequada como deveria dar. Mas acredito que no próximo

processo de escolha se amplie para mais quatro em cada processo.

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Dessa forma, eu acredito que Fortaleza vai ser uma cidade padrão, vai

ter uma boa qualidade com relação às violações de direitos e nós vamos

assegurar que nossas crianças tenham momentos mais felizes, mais

dignos. Porque na realidade a gente não gostaria que aumentasse o

número de conselhos, não é para aumentar o número de denúncias e

violações, mas que os direitos dessas crianças sejam assegurados, sem

precisar de conselheiro tutelar. (Eva Furnari)

A estrutura dos prédios é pontuada como necessário, por todos os

conselheiros, atualmente está passando por reforma estrutural os Conselhos III e

VI, o Conselho II inaugura sua nova sede, na Rua da Paz, Mucuripe. Existe uma

promessa aos conselheiros que os Conselhos I e IV mudarão de endereço, pois

são prédios alugados pelo poder municipal.

Uma entrevistada faz uma crítica ao Ministério Público e ao COMDICA,

vale ressaltar que esses são os responsáveis pela fiscalização dos Conselhos e

têm o dever de lutar junto aos conselheiros pelo adequado funcionamento do

órgão, provocando e cobrando do poder municipal respostas às necessidades do

Conselho.

Primeiro eu acho que a questão estrutural, formalizar, padronizar os

Conselhos Tutelares com todos os equipamentos, com pessoal,

formação de pessoal, a rede funcionando, que seria o CAPS, CRAS,

CREAS, Conselho Tutelar, Ministério Público. O Ministério Público no

caso seria para nos fiscalizar, mas também para nos apoiar, hoje em dia

ele só quer nos punir. Se o conselheiro não tem formação para ser

conselheiro, como ele pode estar trabalhando, atuando, então só

aparece na hora de punir, o COMDICA totalmente omisso, não se

manifesta, agora de acordo com a nova lei, tem a comissão disciplinar,

que ninguém sabe o funcionamento, basta uma ligação, abre-se uma

denúncia, então eu acho que sem apoio e estrutura, está muito longe do

Conselho Tutelar ser o ideal para qualquer pessoa. (Ruth Rocha)

Vale ressaltar que nos depoimentos observamos a preocupação dos

conselheiros em não só estruturar os conselhos, mas a importância da

capacitação contínua de todos os profissionais que trabalham nos conselhos.

Em relação ao Conselho Tutelar da SER III, que é o que eu trabalho, nós

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estamos tendo agora uma reforma no prédio, é que essa reforma a gente

está vendo que realmente as salas vão ficar adequadas, mais higiênicas,

mais conservadas, está também com o número de funcionários

adequados, isso é necessário para todos os conselhos, mas eu continuo

dizendo que a prioridade para garantir que o Conselho Tutelar funcione e

que tanto o conselheiro tutelar, como os funcionários, eles sejam

qualificados, e não é só uma formação, mas que ela seja contínua,

capacitação continua. (Eva Furnari)

Com relação à fragilidade da rede de proteção, que também é mencionada

pelos conselheiros no decorrer de toda a entrevista, é novamente pontuada,

agora, especificada em um dos problemas enfrentados pelos conselheiros, o

acolhimento institucional. No município de Fortaleza, tem um espaço temporário

de acolhimento, um abrigo feminino, casa das meninas, e um masculino, casa dos

meninos, ambos com poucas vagas que não suportam os encaminhamentos de

trinta conselheiros.

Eu acho que seria uma atuação maior por parte da prefeitura, garantindo

toda a estrutura, principalmente nessa parte do acolhimento institucional,

na parte da educação, eu acho que seria a ligação à rede, que a gente

tivesse o contato e retorno da rede, porque ninguém trabalha sozinho.

(Mariana Massarani)

Com relação à educação, foi uma mudança da nova gestão, hoje as

crianças a partir de quatro anos frequentam a rede municipal de ensino regular,

que antes eram beneficiados com os serviços de creche e os responsáveis

podiam trabalhar.

É citada, também, como prioridade a utilização do Sistema de Informação

para a Infância e Adolescência - SIPIA, que é um sistema de registro nacional de

todas as informações de atendimento e acompanhamento de crianças e

adolescentes do Brasil que tiveram seus direitos violados, foi criado pelo

Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, com

o objetivo de subsidiar a ação dos conselhos de direitos e tutelares, do poder

público para formulação de políticas sociais. A base do sistema é o Conselho

Tutelar.

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Outra prioridade seria a utilização do SIPIA, um sistema que iria nos

ajudar e muito no acompanhamento aos casos, pois às vezes uma única

família é acompanhada por vários conselheiros, depois que se percebe,

já perdeu um tempo que poderia ser usado no atendimento a outra

denúncia. (Eva Furnari)

O SIPIA é dividido em quatro módulos: I - Registro de ocorrências dos

conselhos tutelares para garantir a promoção e defesa dos direitos fundamentais,

II - Registro de medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes em conflito

com a lei II- PLUS - Registro dos estabelecimentos de medida socioeducativa III -

Registro das informações de crianças e adolescentes que são colocados em

famílias substitutas, adoção nacional e estrangeira. IV- Registro de endereços e

telefone dos conselhos de direitos Municipais e Estaduais e Conselhos Tutelares

do Brasil.

Em Fortaleza somente um conselheiro, que pertence ao Conselho IV,

acessa e alimenta os dados no SIPIA, pois segundo o coordenador da Supervisão

dos Conselhos Tutelares, os equipamentos não dispõem de instalação de internet

adequada para suportar o conteúdo do site, ao tentar o acesso, o SIPIA

permanece aberto por no máximo cinco minutos e trava, por esse motivo já

aconteceram inúmeras capacitações coletivas e individuais para os conselheiros,

mas não alimentam os dados no sistema. As estatísticas municipais são

produzidas mensalmente por alguns conselhos e entregues na supervisão dos

Conselhos Tutelares.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A bandeira de defesa e efetivação dos direitos das crianças e adolescentes

brasileiros teve um percurso lento, iniciando historicamente com assistência de

caridade aos abandonados, depois passou pela filantropia do Estado, onde as

crianças e adolescentes, principalmente os pobres e abandonados, eram

marginalizados pela sociedade, visto como objetos de proteção e controle social,

ao invés de proteção eram punidos na forma da lei.

A Constituição Federal de 1988 foi o marco de rompimento com essa

realidade até então vivenciada, constitui-se como um novo patamar na história

brasileira, novo ordenamento social e político, prevalecendo a democracia e a

participação da sociedade civil nos processos decisórios da sociedade.

As relações entre sociedade e Estado foram redefinidas, para o segmento

criança e adolescente foi instituída a doutrina da proteção integral no seu artigo

227, garantindo todos os direitos e definindo o compartilhamento entre sociedade,

Estado e família dos deveres de garantir absoluta prioridade e proteção.

A política de proteção integral foi regulamentada em 1990, por meio do

ECA, que criou também os espaços de participação para sociedade civil com o

objetivo de fiscalizar o cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes, os

Conselhos de direitos e Conselhos Tutelares.

O Conselho Tutelar, objeto de estudo desta investigação, é um órgão

colegiado, encarregado pela sociedade para zelar pelos direitos das crianças e

adolescentes, atuando sempre que esses direitos sejam ameaçados ou violados.

Objetivando conhecer os desafios no funcionamento deste órgão, nos

propusemos essa pesquisa, junto aos conselheiros tutelares que vivenciam e

enfrentam no cotidiano essas dificuldades.

Diante dos depoimentos fornecidos e analisados, observamos de um modo

geral que os motivos que levaram os entrevistados a serem conselheiros tutelares

e suas experiências na defesa dos direitos de crianças e adolescentes estão

relacionados à ligação desses profissionais com atividades de caráter social e

político, sejam no trabalho ou na comunidade onde residem.

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Podemos constatar também que o Conselho Tutelar idealizado

inicialmente, pela maioria dos entrevistados, é diferente na prática, alguns

demonstraram certa decepção ao não conseguirem realizar o trabalho que

realmente desejavam.

Ao refletir sobre as atuações dos colegas conselheiros tutelares

percebemos uma relação com as respostas dadas quanto aos desafios no

funcionamento do Conselho Tutelar de Fortaleza; os interlocutores apresentaram

os desafios, como fatores que impedem o adequado desempenho do exercício da

função de conselheiro, primeiro a disputa de poder influenciada pela política

partidária, que envolve o dia a dia da instituição, uma vez que, com exceção dos

conselheiros, todos os outros profissionais que trabalham no órgão são de

indicação política, fácil detectar essa afirmação com o número de profissionais

demitidos com a recente mudança de gestão municipal.

Outro fator citado foi o número de conselheiros que não é possível de

atender a demanda, um único conselheiro desempenha a função de cinco; o

grande colegiado do Conselho Tutelar de Fortaleza é composto por 30

conselheiros, o recomendado pelo CONANDA é que pela quantidade de nossos

habitantes, deveriam atuar em Fortaleza no mínimo 125 conselheiros. É

extremamente preocupante saber que os cidadãos participam, registrando suas

denúncias, existem crianças e adolescentes vítimas e não tem conselheiros para

apurar de imediato e garantir as medidas de proteção, muitas vezes quando

conseguem atender, a situação já foi resolvida ou já se agravou para situações

irresolvíveis no próprio conselho.

Outro desafio é a falta de formação continuada, os conselheiros depois do

processo de escolha, passam por uma formação de uma semana, onde lhe são

apresentados a rede de proteção à criança e ao adolescente, exatamente como

esta no papel, ou como deveria ser, mas é possível perceber diante das

trajetórias de vida, que poucos conselheiros têm conhecimento da prática,

chegando a ficar perdidos diante da diversidade de casos que passam pelo

Conselho no dia a dia. O conselheiro tem que ter habilidades para redigir

relatórios, ofícios e principalmente identificar as violações e a quem encaminhar

naquele determinado momento, conhecimentos que, em uma semana é

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impossível de se adquirir. Na realidade todos aprendem na prática, infelizmente

com os erros e acertos, mas alguns podem ter consequências graves para o

usuário.

A deficiência nas atuações e funcionamento, também, é justificada pela

falta de estrutura, não há uma padronização nos equipamentos, nem tampouco

nos encaminhamentos ou respostas às denúncias, que são encaminhadas da

forma que cada conselheiro acha certo. Uns equipamentos possuem mais e

outros menos profissionais em sua grade de apoio administrativo, assim também

é a mobília, equipamentos, transporte e material de expediente.

Existe na Comissão disciplinar dos Conselhos Tutelares, COMDICA e no

Ministério Público, denúncia de conselheiros tutelares que exercem outras

funções, o que mostra a falha dos órgãos competentes que deveriam realizar a

fiscalização. A lei municipal que rege o funcionamento dos conselhos tutelares

criou a supervisão dos conselhos tutelares, o que nos faz refletir que o termo

supervisão foi usado com o intuito de transferência das atribuições do COMDICA,

na realidade esta comissão funciona somente como apoio administrativo,

reposição de material, transporte e pessoal.

O processo de escolha dos conselheiros não tem muita credibilidade, uma

vez que a experiência exigida pelo edital não é fiscalizada e outras irregularidades

no momento do processo não são apuradas a tempo. Existem atualmente três

conselheiros que assumiram sob júdice, ou seja, processos judiciais em

andamento, decorrentes das falhas contidas na lei municipal, que se contradiz do

início ao fim.

Os conselheiros têm uma forte ligação política com a população, o que faz

um número expressivo de pessoas a participar do processo de escolha, já que da

parte do COMDICA, não há divulgação intensiva desse processo.

A negligência familiar ganha o ápice das demandas mais atendidas no

Conselho Tutelar de Fortaleza, os pais agridem, são omissos, e transferem suas

responsabilidades a terceiros ou abandonam os filhos, embora esses dados não

possam ser comprovados por meio de estatísticas, pois os conselheiros não têm

condições de alimentar o SIPIA, nem são cobrados pelo COMDICA para realizar

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este documento. Vale ressaltar que a construção desses dados é importante para

subsidiar na elaboração de políticas públicas. Pois como intervir de forma

adequada, se não se tem o conhecimento da realidade social que enfrentam

nossas crianças e adolescentes?

As violações de direitos de crianças e adolescentes são diversas, de

acordo com os depoimentos, percebemos que não partem somente do âmbito

familiar, o Estado não garante as condições básicas para as famílias atenderem

suas necessidades, nem tampouco a estrutura necessária para os órgãos de

proteção, quando esses direitos já estão ameaçados e violados, resta ao

Conselho Tutelar mendigar atendimento aos encaminhamentos ou assiste ao fim

de uma história, podemos citar os casos de adolescentes vítimas de ameaças e

de drogadição, que além das vagas reduzidas, a garantia de atendimento passa

por um processo lento, que às vezes não chega a tempo.

A rede de proteção é falha e ironizada por alguns como “rede furada”, não

tem vagas nos projetos sociais que atendam o perfil dos usuários atendidos no

Conselho Tutelar, as instituições de acolhimento superlotadas, o espaço

temporário de acolhimento municipal, para onde são levados as crianças e

adolescentes que em suas histórias ainda restam possibilidades de reversão do

problema, conta com apenas dez vagas, obrigando o conselheiro no uso de suas

atribuições a encaminhar uma criança ou adolescente para um acolhimento,

podendo ser provisório passa por um processo similar a outros casos mais

complexos e deixa marcas no acolhido.

Vale ressaltar que para atender as demandas advindas da Copa do Mundo,

Fortaleza se organizou, de acordo com a sugestão do guia de referência da

agenda de convergência Proteja Brasil, ficaram disponíveis durante os dias de

jogos em Fortaleza, três escolas municipais para funcionar como espaços

temporários de convivência, que acolheram crianças e adolescentes em situação

de vulnerabilidades, ameaça ou violações de direitos, até que fossem tomadas as

providências cabíveis pela equipe de plantão integrado.

O plantão Integrado foi composto por equipes multiprofissionais de saúde,

assistência social, educação, psicólogos, Conselho Tutelar, defensores,

promotores e juízes da infância e juventude e educadores sociais. Esses

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profissionais aderiram ao plantão nos dias de jogos aqui em Fortaleza. Mas, por

quê? O plantão integrado funciona somente nos dias de grandes eventos? Como

se no dia a dia, as crianças e adolescentes não merecessem essa proteção.

A realidade do plantão do Conselho Tutelar de Fortaleza é bem diferente

do que aconteceu na Copa do Mundo, funcionando atualmente sem estrutura

alguma, sem segurança, sem rede de retaguarda, pois do SGD, só o que trabalha

em regime de plantão é o Conselho Tutelar, os conselheiros demonstram

decepção por não perceberem resultados positivos do trabalho que é

desenvolvido, definindo o plantão como inoperante; alguns participam para

cumprir suas obrigações e não serem penalizados por omissão.

Ainda sobre a ineficiência da rede de proteção, a realidade apresentada é

que os outros órgãos, como: CAPS infantil, CRAS, CREAS, escolas não

apresentam devolutivas quanto aos casos encaminhados pelo Conselho, mostra

que em Fortaleza ainda não aprendemos a trabalhar em rede, que este trabalho

exige um compartilhamento e transparência nas ações.

Neste cenário, os entrevistados fazem críticas ao Ministério Público que é

ciente de todos os problemas enfrentados pelos Conselhos e conselheiros e deixa

a desejar na apuração dos casos e punição dos agressores.

Vale ressaltar que de acordo com as bandeiras partidárias que apoiam,

alguns conselheiros se posicionam com visões positivas e outros negativos, com

relação às mudanças nos Conselhos Tutelares de Fortaleza, devemos aqui

considerar diante dos depoimentos, como positivo as reformas estruturais dos

prédios e equipagem de alguns conselhos e a contratação de profissionais para a

equipe técnica, esses profissionais apoiam o trabalho dos conselheiros, mas

também participam da grade de terceirizados e indicados por políticos. Vale

reconhecer que a implantação da equipe técnica mostra uma visão importante e

diferenciada da nova gestão para com órgão Conselho Tutelar.

Já como negativos observamos a falta de diálogo dos conselheiros para

com a governança municipal, um retrocesso foi a demissão recente de 90% dos

funcionários, que já possuíam experiência e responsabilidades no atendimento

aos casos, hoje é possível observar que os novos contratados estão aprendendo

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na prática, pois não têm formação tampouco experiência na área.

Diante dos depoimentos dos conselheiros entrevistados, identificamos uma

diversidade de desafios enfrentados no funcionamento do Conselho Tutelar de

Fortaleza; de um modo geral esses desafios podem ser pontuados da seguinte

forma: 1) O número reduzido de conselheiros tutelares; 2) Deficiência da rede de

proteção; 3) Faltam políticas públicas para criança e adolescente; 4)Terceirização

dos profissionais de apoio administrativo e técnico; 5) Falta de formação

continuada para todos os profissionais; 6) Infraestrutura dos conselhos fragilizada;

Contudo, não basta apenas existir Conselho Tutelar no município, se não

houver interesse dos governantes em garantir seu funcionamento. Logo, não

basta a infância e adolescência serem prioridades absolutas apenas nas leis e

não o serem de fato e realidade.

Para superar esses desafios, os entrevistados citaram algumas prioridades

que eles entendem serem necessárias a efetivação em Fortaleza para garantir um

adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares: Implantação de políticas

públicas para criança e adolescentes; Ampliar o número de conselheiros tutelares;

Padronizar e estruturar os Conselhos Tutelares; Interação da rede de proteção,

com capacidade de atender as demandas; Capacitação contínua para

conselheiros e profissionais; Utilização do SIPIA.

Acreditamos que, além de todas as prioridades levantadas pelos

interlocutores, para reverter o problema enfrentado pelos Conselhos, apontamos

como fundamental a realização de concurso público para os profissionais, assim

seria moralizado e não quebraria os vínculos desses profissionais com os

usuários, o que dificulta o acompanhamento dos casos.

Sabemos que é impossível diante da lógica do processo de escolha, que é

eleição, deixar o Conselho Tutelar à margem da política, mas devemos seminar a

ideia de levantar uma única bandeira, da criança e do adolescente, não só os

conselheiros tutelares, mas todos os profissionais do SGD, sociedade e governo,

todos juntos para implementar efetivamente o ECA, e garantir que as crianças e

adolescentes tenham prioridade absoluta e a fiscalização adequada de uns para

os outros.

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Também não podemos deixar de citar a importância deste trabalho para o

crescimento profissional e que certamente servirá de base aos colegas

assistentes sociais, que a partir de agora conheceram as dificuldades enfrentadas

pelos conselheiros tutelares. Assistentes sociais, profissionais que conhecem de

perto a luta pela garantia de direitos, e poderão se posicionar como apoio aos

movimentos de luta por melhores condições de trabalho neste órgão tão

importante para sociedade. .

Pretende-se encaminhar cópia do produto deste trabalho a todos que

participaram, colaboraram na sua construção, bem como aos órgãos que

integram o SGD, para que juntos possamos lutar para superar os problemas

detectados e exigir da Prefeitura Municipal de Fortaleza respostas às demandas

apresentadas, uma vez que este tem obrigação de garantir os recursos

necessários para o adequado funcionamento do órgão.

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APÊNDICES 01

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da pesquisa: Os Desafios no funcionamento dos Conselhos Tutelares de

Fortaleza -Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros Tutelares.

Pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos

Orientadora: Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel

O Sr.(a) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que é

requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Serviço Social pela

Faculdade Cearense. Tem como objetivo principal investigar os desafios no

funcionamento dos Conselhos Tutelares na efetivação dos direitos de crianças e

adolescentes no município de Fortaleza - CE, sob a ótica dos conselheiros

tutelares do referido o município.

Ao participar deste estudo, o a Sr.(a) permitirá que a pesquisadora utilize as

informações coletadas, que são de uso exclusivamente acadêmico, para a

realização desta pesquisa, que representa um estudo científico de grande

importância onde o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos.

Entretanto, os dados obtidos serão mantidos em sigilo, responsabilidade e

compromisso ético, não sendo expostos nomes nem referências que possam

identificar os interlocutores da pesquisa, garantindo assim o anonimato das

declarações coletadas.

Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre

para participar desta pesquisa. Ao mesmo tempo, nos colocamos à inteira

disposição dos entrevistados, para maiores esclarecimentos e detalhes sobre a

pesquisa em pauta.

Atenciosamente,

Fortaleza,_____ de Maio de 2014.

__________________________________________

Assinatura do entrevistado __________________________________________

Assinatura da pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos

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APÊNDICES 02

QUESTIONÁRIO - DADOS DOS ENTREVISTADOS

Nome:_________________________________________________________

Idade: _____ anos. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Estado Civil: __________________ Naturalidade: _______________________

Profissão:_______________________________________________________

Escolaridade:( ) Ensino Médio ( )Superior comp. ( ) Superior incompleto.

Sim, superior, qual Curso:__________________________________________

Qual a profissão que exercia antes de ser conselheiros?

Tem filhos? ( )Sim ( )Não

Por quantas vezes foi candidato (a) a conselheiro (a) tutelar? ______________

Foi eleito conselheiro (a) tutelar por quantas vezes? _____________________

Assumiu mandato(s)? ( )Sim ( )Não

Ficou alguma vez na suplência? ( )Não ( ) Sim. Se sim, Por quantas vezes?

_______________________________________________________________

Exerceu mandato(s) enquanto suplente? ( ) Sim ( ) Não. Se sim durante quanto

tempo?__________________________________________________

Concluiu o(s) mandato(s)? ( ) Sim ( ) Não

Há quanto tempo exerce seu atual mandato como conselheiro tutelar?_______

Como funciona sua escala de atendimento no Conselho Tutelar?

__________________________________________________________

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APÊNDICES 03

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Nome do entrevistado:____________________________________________

Nome da entrevistadora:__________________________________________ Data: ______________ Conselho Tutelar: ______ Hora de Início:_____ Hora de término:________

01. O que levou você a se candidatar a conselheiro (a) tutelar de Fortaleza?

02. Qual a sua experiência anterior ao CT, na defesa dos direitos de crianças e

adolescentes?

03. Para você, o que é o Conselho Tutelar? E a atuação dos Conselheiros?

04. Faça uma avaliação do processo Municipal de escolha dos conselheiros

tutelares.

05. Qual a maior demanda de violação de direitos atendida no Conselho Tutelar

em que você está lotado?

06.Qual sua percepção, quanto ao papel do Estado e da família para evitar as

violações de direitos das crianças e adolescentes?

07. Durante esse mandato, houve algum avanço para os conselhos tutelares de

Fortaleza?

08. Quais os principais desafios enfrentados pelos Conselhos Tutelares de

Fortaleza para a implementação do ECA?

09. Como você analisa o plantão do Conselho Tutelar hoje?

10.O que você listaria, como prioridade, para ser implantado em Fortaleza para

garantir o funcionamento adequado dos Conselhos Tutelares?

Page 94: OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS … › biblioteca... · profissional que vou levar para minha vida. Muito obrigada por ter abraçado minha causa. Aos meus pais, Eudes

93

APÊNDICES 04

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

CEDENTE:______________________________________________________

Naturalidade:_______________________ Estado civil:___________________,

Portador (a) da cédula de identidade n° ____________________________

SSP/CE e CPF:_____________________ .

CESSIONÁRIO: Germana Silva dos Santos Vasconcelos, brasileira, natural de

Fortaleza, casada, portadora da cédula de identidade n 96 e CPF:

628.605.183.04.

DO OBJETO: Imagens para uso presente no TCC "Desafios no funcionamento

dos Conselhos Tutelares de Fortaleza - Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros

Tutelares" , para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social - FAC.

Eu __________________________________________________,depois de

conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e

benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de

minha imagem e ou depoimento, especificados no termo de consentimentos livre

e esclarecidos (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, a

pesquisadora Germana Silva dos Santos Vasconcelos do projeto da pesquisa

intitulado "Desafios no funcionamento dos Conselhos Tutelares de Fortaleza -

Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros Tutelares" , a realizar as imagens que se

façam necessárias e ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus

financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos (seus respectivos

negativos) e ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos,

slides, e transparências), em favor da pesquisadora da pesquisa, acima

especificados

Fortaleza, _______ de Maio de 2014.

__________________________________________

Assinatura do entrevistado

__________________________________________

Assinatura da pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos