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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Dengue: perspectiva histórica da doença com intervenção pedagógica

para conscientização das ações humanas no ambiente.

Estela Bitonti Gerdulli de Oliveira1 Orientador: Prof. Dr. Roberto Carlos Massei2

Resumo

A questão ambiental está presente de forma significativa no universo escolar. O tema de estudo, História Ambiental, é uma contribuição significativa no processo ensino aprendizagem, com o objetivo de fazer com que o aluno olhe de forma mais crítica para a realidade que o cerca, compreendendo que a paisagem é resultado de anos da relação homem/natureza. O presente artigo relata os estudos realizados durante o ano de 2013 e a intervenção pedagógica realizada com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, cujo foco de análise foi discutir o tema História Ambiental na tentativa de resgatar e valorizar, ainda mais, esse conhecimento, para resgatar a História Ambiental com o tema principal dengue. Sabe-se que apenas uma turma não reflete a real situação do todo, mas fornece algum indicativo. A pretensão foi refletir sobre os resultados das atividades que foram desenvolvidas, priorizando a produção da narrativa histórica. O artigo em questão é resultado do trabalho realizado com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Professor Antonio Bitonti, do município de Sertaneja/PR, estendendo as informações à comunidade escolar, considerando levantamento estatístico da população infectada pela dengue no município nos últimos cinco anos. Com o titulo Dengue: perspectiva histórica da doença, o intuito foi de conscientizar a comunidade escolar sobre as medidas e cuidados para evitar a proliferação da dengue. Diante do exposto este artigo levanta questionamentos, promovendo debates e investigação para a conscientização dos alunos sobre as conseqüências das ações humanas no ambiente, valendo-se do conhecimento que o aluno já possui para construir novos saberes. Inúmeras modificações ocorrem no mundo contemporâneo e essas mudanças não são homogêneas em todos os tempos e lugares. Pois é o processo histórico das sociedades que nos possibilita compreender o seu dinamismo e sua situação atual.

Palavras-chave: História Ambiental; dengue; conscientização.

1 Professora de História da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Pós Graduada em Metodologia e Didática do Ensino, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Email: [email protected] 2 Doutor em História Social/PUC-SP. Professor Adjunto D do Departamento de História/CCHE/ Universidade Estadual do Norte do Paraná/Jacarezinho. Email: [email protected]

Introdução

A questão ambiental está presente de forma significativa no universo escolar

formal, por sua importância como tema essencial e urgente de nossa

contemporaneidade. O tema de estudo História Ambiental, foi uma contribuição

significativa no processo ensino aprendizagem, com o objetivo de fazer com que o

aluno olhasse de forma mais crítica para a realidade que o cerca, compreendendo que

a paisagem visualizada é resultado de anos da relação homem/natureza. Aliás, é

importante perceber a paisagem como resultado de múltiplas relações humanas,

estando em constante processo de transformação, sendo o próprio aluno co-

participante dessa dinâmica.

Reconhecendo a possibilidade e importância da educação como ferramenta

para uma sociedade melhor, este artigo tem como objetivo contribuir para o

desenvolvimento da consciência que devemos ter de nós mesmos, de nossas ações,

seus reflexos e conseqüências. A intenção foi possibilitar uma ressignificação de suas

práticas e a importância da responsabilidade de cada um para construir uma sociedade

mais igualitária e ambientalmente saudável.

Tendo em vista essas características o presente estudo desenvolveu

trabalhos com os alunos do 9º ano do Ensino fundamental do Colégio Estadual

Professor Antonio Bitonti, estendendo as informações e conhecimentos adquiridos a

toda comunidade escolar, levando em conta dados estatísticos da população infectada

pela dengue no município nos últimos cinco anos.

A Dengue foi escolhida por ser uma doença infecciosa grave que afeta as

pessoas e ainda continua sendo um dos principais problemas de saúde pública no

mundo, especialmente nos países tropicais como o Brasil. Para controlar a Dengue é

preciso aprofundar o conhecimento sobre como o homem “cria” as condições

ambientais favoráveis para a reprodução do vetor da doença e através da educação

“desprogramar” esse ciclo.

Portanto, entender a relação homem e natureza, o que é estudado pela

História Ambiental, abrange uma série de questões de ordem política, econômica,

social e principalmente cultural. Uma das questões atuais que faz parte dessa

discussão é a evolução das epidemias causadas principalmente pelo crescimento

populacional desordenado.

Avanço da Dengue – Necessidade de Conscientização da População.

Partindo-se da premissa de que, para a contenção de epidemias, há

necessidade de políticas públicas voltadas à conscientização da população sobre as

conseqüências das ações humanas no ambiente, pretendeu-se com este trabalho

chamar a atenção para a necessidade de conscientização da comunidade escolar.

Para que essa conscientização ocorresse foi preciso uma melhor integração

sociedade-natureza e a escola foi um dos espaços mais propícios para que essa

integração acontecesse.

Como justificativa para esta conscientização, destacamos o agravamento

da situação epidemiológica da dengue, tanto local como global. Assim, este artigo

propôs uma série de procedimentos que objetivou trabalhar a questão ambiental com

tema principal dengue, com enfoque interdisciplinar.

Entre os fatores relacionados à emergência da dengue estão o acelerado

crescimento e urbanização populacional, associado à insuficiência no controle do vetor.

A urbanização, rápida e desordenada, vinculada a uma distribuição desequilibrada dos

níveis de renda, conduz a uma proporção cada vez maior de pessoas vivendo em áreas

onde o abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo são precários ou

inexistentes.

Estes fatores têm contribuído de maneira substancial para a procriação do

mosquito transmissor da dengue. Nas últimas décadas, principalmente a partir de 1980,

as preocupações com os problemas ambientais incentivaram as ações voltadas à

questão ambiental, tornando um importante foco de discussão, buscando através da

educação principalmente, a ampliação das informações, com a possibilidade de

solucionar, equacionar estes problemas com a intenção de contribuir para um futuro sem

tantas ocorrências pelo desconhecimento das causas geradoras.

Ao longo da história a humanidade avança rapidamente rumo ao

desenvolvimento tecnológico e ao controle da natureza. Esses fatores geraram

mudanças na cultura, pois os indivíduos passaram a ver os recursos naturais como

objetos de uso para satisfazer as suas necessidades, sem se preocupar com as

conseqüências e sem estabelecer limites e critérios para se apropriar deles.

De acordo com Worster (2003), “os homens têm extraído um conjunto

extraordinariamente diverso de recursos do mundo natural, e o número e a magnitude

destes estão crescendo o tempo todo”. Essa nova cultura que surgiu, propiciou o

aparecimento de problemas ambientais que afetam a qualidade de vida, ocorrendo

uma crise de relações entre sociedade e meio ambiente. Para (WORSTER, 2003),

O campo da história ambiental começou a tomar forma nos anos 70, quando houve diversas conferências sobre a grave situação global e os movimentos ambientais cresciam, popularizando-se. Foi uma resposta às perguntas que as pessoas estavam começando a se fazer em muitas nações: Quantos seres humanos a biosfera pode suportar sem entrar em colapso sob o impacto da poluição e do consumismo? As mudanças na atmosfera, causadas pela atividade humana, levarão à uma maior incidência de câncer ou a menores colheitas de grãos, ou ao derretimento das calotas polares? Está a tecnologia tornando a vida mais perigosa, ao invés de mais segura? Tem o Homo sapiens quaisquer obrigações morais para com a terra e seu ciclo de vida, ou esta vida existe meramente para satisfazer aos desejos infinitamente expansivos de nossa própria espécie? (p.27)

Toda esta situação deixa claro que a sociedade capitalista vem utilizando de

forma gananciosa os recursos naturais, de maneira exagerada, sem limites, e vem

provocando alterações no meio em que vive. Há muitos séculos, o homem explora o

ambiente que o cerca. Nessa exploração, estão envolvidos aspectos que devem ser

investigados pela História Ambiental. Conforme Worster (1988),

a história ambiental tem como objetivo aprofundar o nosso entendimento de como os seres humanos foram, através dos tempos afetados pelo seu ambiente natural e inversamente, como eles afetaram esse ambiente e com que resultados. (p. 199-200)

Portanto, a História Ambiental trata do papel e do lugar da natureza na vida

humana (WORSTER, 1988, p. 201)

Até pouco tempo o assunto mais importante aos historiadores era a política,

a economia, mas há algum tempo observa-se o interesse pelos estudos das Ciências

Humanas e Sociais, conforme Worster (1988), “a idéia de uma História Ambiental

começou a surgir na década de 1970” (p. 199).

No Brasil, antes da ocupação do nosso território pelos colonizadores, os

habitantes indígenas sobreviviam utilizando os recursos naturais sem provocar grandes

alterações, mantendo certo equilíbrio do ambiente. O modelo de desenvolvimento

imposto pelas sociedades dominantes a partir da Revolução Industrial (final do século

XVIII) gerou um aumento qualitativo e quantitativo no processo de destruição da

natureza e foi se alastrando pelo planeta.

A ocupação e exploração das áreas naturais, o surgimento e crescimento

das cidades e da população urbana de maneira desordenada vêm prejudicando a

qualidade de vida nas mesmas. Com a expansão e o fortalecimento do capitalismo,

houve o surgimento de uma sociedade de consumo, fazendo com que aumentasse a

pressão sobre os recursos naturais do planeta. Pádua (2010), afirma que “no mundo

industrial avançado, por sua vez, as novas tecnologias penetram nos processos da

natureza de forma impensável no passado”.

Pádua (2010) ressalta a idéia de que a modernidade da questão ambiental

deve ser entendida em sentido amplo, pois conforme o autor,

Ela não está relacionada apenas com as conseqüências da

grande transformação urbano-industrial que ganhou uma escala sem precedentes a partir dos séculos XIX e XX, mas também com uma série de outros processos macro-históricos que lhe são anteriores e que com ela se relacionam (dentro do jogo de continuidades e descontinuidades que caracteriza os processos históricos)...] (p.83-84)

Como se vê, as causas da agressão ao meio ambiente têm raízes

históricas. Os problemas ambientais têm aumentado freqüentemente, causando sérios

prejuízos à sociedade, comprometendo o equilíbrio dos ecossistemas. Além disso, as

precárias condições de vida de parte significativa das populações, o desmatamento, o

crescimento acelerado das cidades, a produção e o acúmulo de lixo, estão favorecendo

o reaparecimento e a difusão das chamadas "doenças tropicais", entre elas a dengue.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dengue tem sido

relatada no mundo desde o século XVII. Relatos da Organização Pan Americana de

Saúde (OPAS), mostram que a primeira epidemia no continente ocorreu no Peru, no

início do século XIX, com surtos no Caribe, Estados Unidos, na Colômbia e na

Venezuela.

No Brasil, os primeiros casos ocorreram por volta de 1845, no Rio de

Janeiro, a primeira epidemia no país ocorreu entre 1851 e 1853, vindo a se repetir

entre 1916 e 1923. Na década de 50, a forma hemorrágica da doença foi descrita pela

primeira vez no mundo, nas Filipinas e na Tailândia (Ásia). Após a década de 1960, a

circulação do vírus da dengue se intensificou nas Américas.

Ilana Löwy (2006, p. 178), escrevendo sobre a febre amarela, descreveu

que a causa direta do ressurgimento da mesma está ligada ao aumento dramático da

incidência da dengue, doença viral semelhante à febre amarela e transmitida pelo

mosquito Aedes Aegypti. De acordo com a autora, a partir dos anos 1980, a dengue

tornou-se um sério problema de saúde pública no Brasil, agravado desde a aparição de

uma variante mais grave e ocasionalmente mortal da doença, a dengue hemorrágica:

Praticamente ausente do país no início dos anos 1980, a dengue conheceu desde então um rápido aumento: 96.000 casos foram registrados em 1986, 18.000 casos em 1987, praticamente nenhum em 1988 (queda atribuída às campanhas contra os mosquitos, mas devida antes de tudo ao ciclo sazonal da doença); seguiu se uma subida espetacular: 10.000 casos em 1989, 78.000 em 1990, 187.000 em 1991; o número de casos volta a baixar consideravelmente em 1992 - 1993, mas um novo recrudescimento é constatado mais tarde: 112.000 casos em 1994, 254.000 em 1995, 362.00 em 1996, 484.000 em 1997 (LOWY, 2006 p. 179)

A incidência da doença se concentra em regiões especificas, principalmente

em áreas urbanas. Segundo Lowy (2006, p. 179), os autores de um estudo

epidemiológico sobre as doenças transmissíveis no Brasil nos anos 1980 explicam:

dentre as doenças transmitidas por insetos, a dengue é a que

tem mais elevado potencial de crescimento, porque sua manutenção é assegurada pela possibilidade de multiplicação dos mosquitos perto das casas, que é muito fortemente favorecida pela acumulação de dejetos [..]. (p.179)

A dengue é uma doença que vem desafiando os programas de controle de

endemias, bem como os hábitos e cultura da sociedade contemporânea. As

conseqüências de uma epidemia dessa doença são sentidas em diversas áreas

sociais, tais como a economia, a educação e principalmente sobre os serviços de

saúde. O mosquito Aedes Aegypt tem encontrado nas cidades um local perfeito para

sua proliferação. A falta de infra-estrutura nas cidades também é responsável pelo

aumento das populações de mosquitos que funcionam como vetores de doenças.

O mosquito transmissor da dengue encontrou no mundo

moderno condições muito favoráveis para uma rápida expansão, pela urbanização acelerada que criou cidades com deficiências no abastecimento de água e de limpeza urbana; pela intensa utilização de materiais não biodegradáveis, como recipientes descartáveis de plástico e vidro e pelas mudanças climáticas (BRASIL, 2002. p. 3).

Diante do exposto, a principal importância de se trabalhar na escola com o

tema Meio Ambiente associado à História Ambiental é buscar a formação de cidadãos

conscientes. De acordo com as Diretrizes Curriculares de História (2008),

de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, mas um sujeito é fruto é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível participar. (p.14)

Neste contexto e com essa preocupação muitos professores de história

buscam referenciais teórico-metodológicos na História Ambiental e práticas

pedagógicas para tratar com questões referentes à temática ambiental que possa

contribuir para o exercício da cidadania dos alunos.

A intenção pedagógica que se pretendeu foi a de tornar os alunos sabedores

de que sua ação pessoal, e a de sua comunidade, sempre interferem no meio em que

vivem. Para tanto, além de informações e conceitos, foi necessário a escola ser

preparada para trabalhar com atitudes, com formação de valores.

Não podemos desconhecer ou desconsiderar o fato de que a sociedade é

responsável pelo processo como um todo. As Diretrizes Curriculares para a Educação

Básica do Paraná (2008) propõe,

[...] formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade. (p. 31)

Nesta perspectiva, toda a comunidade escolar precisa buscar mais

informações que envolvam as questões socioambientais. Como justificativa para esta

conscientização, destacamos o agravamento da situação epidemiológica associando

seu desenvolvimento ou não a diferentes relações do homem com o meio:

Nesse sentido, a escola deve incentivar a prática pedagógica

fundamentada em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de aprendizagem (internalização) e de avaliação que permitam aos professores e estudantes conscientizarem-se da necessidade de “[...uma transformação emancipadora]”. (DCEs História, 2008, p.15)

Para tanto, a elaboração do presente artigo propôs analisar as atividades

desenvolvidas pelos alunos do Colégio Estadual Professor Antonio Bitonti dos períodos

matutino e vespertino, 9º ano. Procurando conhecer as áreas mais afetadas, o

ambiente onde vivem essas pessoas, suas relações com o meio, além de estimular o

envolvimento de cada família na manutenção de seu ambiente doméstico livre de

potenciais criadouros.

Encaminhamentos Metodológicos/Resultados

A necessidade de esclarecimento tornou-se de alta relevância para este

trabalho, com o intuito de conscientizar a comunidade escolar sobre as medidas e

cuidados para evitar a proliferação da dengue na cidade, de forma a reforçar, que não

depende apenas dos agentes de endemias, o impacto maior é o da mudança de atitude

da população na sua relação com o meio ambiente.

Normalmente quando se fala em problemas ambientais pensamos num

sentido amplo, global e pouco se faz com relação aos problemas locais. Isto nos fez

refletir sobre a necessidade de resgatar localmente o problema epidemiológico da

Dengue. Diante do exposto desenvolveu-se no Colégio Estadual Professor Antonio

Bitonti – a partir do Plano de Trabalho do PDE - um projeto de História Ambiental, com

atividades teóricas e práticas.

Desta maneira os alunos envolvidos no processo passaram da teoria e do

senso comum para uma atitude concreta no seu cotidiano, percebendo a ação do

homem sobre o meio. Portanto, o papel do professor foi fundamental ao trabalhar o

conhecimento de forma interativa, encontrando maneiras de estimular o exercício da

cidadania, integrando teoria e prática, por meio da participação nas tarefas de

resolução dos problemas ambientais.

Para dar início à implementação do trabalho, os alunos foram convidados a

assistir uma palestra na escola (foto 1, 2 e 3). A seleção e a organização das atividades

propostas não foi aleatória. Ela seguiu princípios de uma concepção de educação que

não dissociou a atividade de ensino do processo de aprendizagem e considerou a

construção do conhecimento significativa, buscando despertar a curiosidade do aluno

para conhecer sua realidade local com a intenção de ampliar sua capacidade de

compreendê-la.

Foto 1 – Palestra no Centro Cultural de Sertaneja/PR. Apresentação do trabalho pela Professora PDE

– Estela Gerdulli Bitonti de Oliveira (autora).

Foto 2 – Alunos participantes da palestra no Centro Cultural de Sertaneja/PR.

Primeiramente, foram exploradas concepções que os alunos já tinham do

conteúdo a ser trabalhado, valorizando o método de investigação que tem como ponto

de partida o saber de senso comum (vivências). Essas referências foram consideradas

para o encaminhamento e desenvolvimento do trabalho proposto.

Em um primeiro momento trabalhamos com textos sobre a História

Ambiental, oferecendo ao aluno a possibilidade de reflexão, com a pretensão de

desenvolver um juízo crítico sobre o tema, através de pesquisas e leituras de textos

informativos3. Questionamentos orais que promoveram a discussão sobre as doenças,

enfatizando a dengue como conseqüência da má relação do homem com o ambiente.

Após cuidadosa explanação e posterior reflexão junto aos alunos sobre os

assuntos supracitados, organizamos uma Palestra com o chefe da Vigilância Sanitária

do Município, para apresentação de dados da Secretaria Municipal de Saúde sobre

casos da Dengue, que relatou seu trabalho e dos agentes de saúde orientando os

alunos e professores sobre a prevenção da Dengue e combate ao mosquito

transmissor através da apresentação de material expositivo. Foram abordados os

sintomas, a prevenção, além da importância de se procurar um posto médico caso

apareça alguns dos sintomas da Dengue e nunca se automedicar.

Foto 3 – Palestra com Edy Shin Iti Murai – Chefe da Vigilância Sanitária de Sertaneja/PR.

Foram conscientizados alunos e funcionários quanto aos riscos causados

pelo Aedes Aegypt, Os assuntos abordados na palestra foram: os ambientes onde os

agentes encontram focos de transmissão da dengue; o trabalho dos agentes, a difícil

relação com os moradores e a falta de conscientização, mesmo após contrair a

doença; a relação entre as condições ambientais dos bairros e a incidência da

doença no município. Os alunos puderam participar com perguntas diretamente aos

3 Conscientização das ações humanas no ambiente. Estela Bitonti Gerdulli de Oliveira.

agentes ou ao chefe da vigilância. Como forma de auxiliar no processo de prevenção,

foi apresentado um estudo estatístico dos casos de dengue e focos do mosquito

transmissor no município de Sertaneja/PR, de 2008 a 2012, relacionando a faixa etária,

o gênero da população, e as zonas de maior incidência do vírus.

CASOS DE DENGUE 2008 – 2012 – Município de Sertaneja/PR

Tabela 01 - NOTIFICAÇÃO DE CASOS SUSPEITOS DE

DENGUE NOTIFICAÇÕES 2008 2009 2010 2011 2012 NOTIFICAÇÃO 2 0 0 02 01 RESIDÊNCIA 6 8 32 266 06

TOTAL DE NOTIFICAÇÕES

8 8 32 268 07

Fonte: *SINAN NET *SINAN On Line

A tabela 01 mostra as notificações dos casos suspeitos de dengue, sendo

que em 2011 foram feitas 268 notificações. Observando a Tabela 02 e 03, nota-se que

o maior índice de casos positivos de dengue foi no ano de 2011, com 181 casos

confirmados, sendo 107 mulheres e 74 homens. Segundo informação dos agentes de

saúde, este quadro demonstra que a Dengue realmente é uma doença doméstica, está

presente principalmente nos quintais das casas, por isso o alto índice de casos

positivos em mulheres.

Tabela 02 - CASOS POSITIVOS DE DENGUE CRITÉRIO DE

CONFIRMAÇÃO 2008 2009 Z 2010 2011 2012

LABORATORIAL 0 0 04 63 0 CLÍNICO-

EPIDEMIOLÓGICO 0 0 0 118 0

TOTAL 0 0 04 181 0 Fonte: *SINAN NET *SINAN On Line

Tabela 03 - CASOS POSITIVOS DE DENGUE POR SEXO SEXO 2008 2009 2010 2011 2012

MULHER 0 0 04 107 0 HOMEM 0 0 0 74 0 TOTAL 0 0 04 181 0

Fonte: *SINAN NET *SINAN On Line

Tabela 04 - CASOS POSITIVOS DE DENGUE POR SEXO/IDADE IDADE

SEXO 01 – 10 11 – 20 21 – 30 31 – 40 41 – 50 51- 60 61

FEMININO 09 22 20 17 23 09 07 MASCULINO 02 21 19 12 09 05 06

TOTAL 11 43 39 29 32 14 03 Fonte: *SINAN NET *SINAN On Line *2012

Em relação à faixa etária e gênero, a maioria dos casos de dengue no

município de Sertaneja/PR, no período de 2008 a 2012, está nas pessoas do sexo

feminino, de 11 a 20 anos (22 casos) e de 41 a 50 anos (23 casos), (Tabela 04).

Constatamos que, em relação ao total de casos, o sexo feminino foi o mais vulnerável.

Comprovando os dados das tabelas anteriores.

Tabela 05 - Distribuição dos casos de Dengue – 2010

Tabela 06 - Distribuição dos casos de Dengue por bairros– 2011

Quadra Casos de Dengue 04 NA I* 01 07 NA II* 01 21 Centro 01 Londrina-PR 01

Total 04 Fonte: *Nova Aurora I *Nova Aurora II *SINAN NET

Quadra Casos de Dengue

Quadra Casos de Dengue

01 D Centro 01 13 Centro 04 02 A Centro 03 14 Centro 01 03 Centro 01 15 Centro 04 04 Centro 12 16 Centro 01 05 Centro 03 17 A Centro 01 06 Centro 04 21 Centro 02 07 Centro 01 29 Centro 02 08 Centro 02 32 Centro 01 09 Centro 07 41 Centro 03 10 Centro 06 42 Centro 01 11 Centro 16 43 Centro 01 12 Centro 04 53 Centro 01

Total 65 Total 17 Fonte: *SINAN On Line Fonte: *SINAN On Line

Após a palestra foi solicitado aos alunos que divulgassem as informações às

demais pessoas da família, bem como vizinhos e moradores do entorno de suas

residências. A atividade estimulou a reflexão, a criatividade dos alunos para tomar

decisões que devem ser valorizados e considerados na construção da aprendizagem.

Com várias informações relacionadas ao tema, os alunos foram desafiados a

produzir um texto sintetizando tudo o que leram, ouviram e pesquisaram. Partindo do

conhecimento adquirido e das discussões promovidas em sala, selecionaram materiais

em revistas, internet e jornais para confeccionar cartazes em grupo, sob a orientação

da professora enfocando os criadouros potenciais identificados no âmbito da escola.

Os cartazes foram expostos no pátio da escola. Foi de suma importância esta atividade

porque os alunos produziram ilustrações relacionadas ao tema. Assim as produções

feitas por eles colaboraram para se tomar rumos em direção à melhoria do processo de

ensino-aprendizagem.

Um panfleto informativo da Secretaria da Saúde também foi trabalhado

para incentivar a confecção individual de vários panfletos sobre o tema. Os alunos

pesquisaram imagens em revistas e internet para construção do mesmo. Dividiram-se

em grupos para elaborar questões da entrevista com os agentes de endemias. Esta

atividade contribuiu para avaliar o nível de conhecimento dos alunos em relação a

Quadra Casos de Dengue

Quadra Casos de Dengue

01 NA I* 04 01 NA II* 08 02 NA I* 03 02 NA II* 17 03 NA I* 19 03 NA II* 13 04 NA I* 05 04 NA II* 05

Total 31 05 NA II* 07 Fonte: *Nova Aurora I *SINAN On Line 06 NA II* 02

07 NA II* 03 Total 55

Fonte: *Nova Aurora II *SINAN On Line

Quadra Casos de Dengue 10 Alvorada 01 03 Primavera I 01 03 Primavera II 02 51 Morada do Sol 01 03 J. das Flores 01 Distrito de Paranagi 03 Zona Rural 01

Cornélio Procópio-PR 02 Londrina-PR 01

Total 13 Fonte: *SINAN On Line

evitar no seu dia a dia a criação de larvas do mosquito transmissor da dengue, no seu

ambiente familiar. Em seguida formaram-se grupos para elaborar uma escrita

espontânea de frases sobre o que aprenderam, que foi disponibilizado em vários locais

da escola, para socialização das atividades.

No laboratório de informática, em grupo os alunos acessaram páginas da

web com informações sobre a dengue. Os grupos foram orientados quanto à

exploração dos sites. Também foi possível fazer uma atividade de pesquisa em um site

que funciona como banco de informações que podem ser utilizados para pesquisa.

Para a finalização do assunto cada aluno respondeu o questionário sobre o tema

trabalhado.

Foi trabalhado também a interpretação de um vídeo4, assistido pelos

alunos, mostrando que os cuidados precisam ser coletivos, foi apresentado também os

sintomas e os medicamentos que não podem e os que podem ser ingeridos em casos

da suspeita da doença, no qual o médico afirmou que somente o próprio organismo

pode se curar através da hidratação e assim, apresentou-se a receita do soro caseiro.

Na seqüência os alunos relataram como a doença se manifestou em alguns deles, em

familiares ou amigos e como foi tratada, confirmando as informações do vídeo.

Os alunos foram orientados a observar criticamente o ambiente onde moram,

estudar e fazer uma descrição detalhada dos mesmos; realizando posterior orientações

com familiares e funcionários da escola sobre cuidados para evitar a criação de larvas

do mosquito da dengue.

4 Filme "Aedes aegypti e aedes albopictus - Uma Ameaça nos Trópicos". O filme tem como objetivo contribuir para

um melhor entendimento de dispersão de ambas as espécies pelos continentes e de seu papel como transmissores

de viroses, tendo como enfoque principal a dengue, que nos últimos anos vem provocando várias epidemias em

diversos países de clima tropical. O documentário é composto de imagens reais e virtuais dos mosquitos Aedes

aegypti e Aedes Albopictus, mostrando os continentes de origem, a sua dispersão pelo mundo, as suas

características morfológicas, os seus hábitos alimentares, os seus mecanismos de alimentação, a sua reprodução e

o ambiente onde vivem. Instituto Oswaldo Cruz: www.ioc.fiocruz.br

Foto 4 – Acervo pessoal/2013 - Trabalho dos agentes de endemias nas ruas do município de

Sertaneja/PR.

Em seguida organizamos uma exposição dos cartazes confeccionados

pelos alunos nos murais da escola e exposição dos panfletos para julgamento pelo

chefe da vigilância sanitária do município e agentes de endemias do melhor trabalho de

cada tipo. O melhor panfleto foi multiplicado em várias cópias que foram distribuídas

aos demais alunos da escola e até em alguns departamentos públicos e comércios da

cidade.

Para finalizar foi feita uma apresentação pelo professor aos alunos com

dados da Secretaria Municipal de Saúde, apontando o número de casos de dengue

contraídas no município e seus respectivos endereços para observação e descrição

das características ambientais dos mesmos. De posse dos dados apontados, os alunos

fizeram entrevistas com as pessoas que contraíram a dengue, enfatizando como era

seu ambiente antes da doença e suas possíveis transformações após a mesma.

Os resultados desse trabalho foram expostos com a confecção de quadro

mural comparativo, com a descrição das características do ambiente onde as pessoas

contraíram dengue e as transformações ocorridas após a doença. Desta maneira, a

comunidade escolar pôde ter acesso ao resultado dos trabalhos.

Considerações Finais

Estimular a reflexão, a criatividade dos alunos, o saber resolver problemas e

tomar decisões são aspectos que devem ser valorizados e considerados na construção

da aprendizagem. É de suma importância que as atividades problematizem os

diferentes espaços e que estabeleçam relações entre o presente e o passado, o

específico e o geral, as ações individuais e as coletivas.

A dengue, conforme abordada neste artigo é uma epidemia letal, cujo

combate deriva de um processo histórico onde a participação de todas as esferas da

sociedade e instituições devem atuar de maneira complementar na tomada de decisão,

pois a busca da melhoria da qualidade de vida depende de ações individuais e

coletivas, associadas às políticas inerentes as distintas esferas do Estado. Destaca-se

ainda a importância da participação das instituições de ensino e pesquisa que

contribuem com os conhecimentos científico-técnicos, levando-se em consideração

todas as áreas do conhecimento envolvidas no processo.

Diante do exposto o que se pretendeu foi levantar questionamentos, promover

debates e investigação para a conscientização dos alunos sobre as conseqüências das

ações humanas na natureza. Valendo-se do conhecimento que o aluno já possuía

para construir novos saberes. Pois inúmeras modificações ocorrem no mundo

contemporâneo e essas mudanças não são homogêneas em todos os tempos nem em

todos os lugares. Dessa forma, é o processo histórico das sociedades que nos

possibilita compreender o seu dinamismo e a sua situação atual. Ele pode preparar o

aluno para ser um agente transformador da sociedade, através da mudança de valores,

promovendo novas posturas pessoais, que o levem a atitudes corretas e que estejam

voltadas aos interesses coletivos.

Espera-se que este artigo sirva como meio de informação para a população,

bem como seja base para estudos futuros.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle da Dengue. Brasília: FUNASA, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Dengue: aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Situação Epidemiológica da Dengue. Brasília: Ministério da Saúde.

LÖWY, Ilana. Vírus, mosquitos e modernidade: a febre amarela no Brasil entre ciência e política. Tradução Irene Ernest Dias. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006. 427p. (Coleção História e Saúde) MARTINEZ, Paulo Henrique. História Ambiental no Brasil. São Paulo: Cortez, 2006. PÁDUA, José A. As bases teóricas da história ambiental. Estudos Avançados, vol.24, n.68, São Paulo, 2010. ________. Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de História. Paraná, 2008.

PONTING, Clive. Uma história verde do mundo. Tradução A. Z. Campos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995..

________. Transformações da Terra: Para uma perspectiva Agroecológica na História. Ambiente & Sociedade - Vol. V – n. 2 - ago./dez. 2002 - Vol. VI – n. 1 - jan./jul. 2003.