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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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MÁRIO DE ANDRADE: UMA PROPOSTA DE LEITURA LITERÁRIA PARA OS CONTOS “O PERU DE NATAL” E “PRIMEIRO DE MAIO”

IVANI FANTUCCI VIEIRA1

CARMEN RODRIGUES DE LIMA2 RESUMO O presente trabalho apresenta os resultados obtidos com o desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica, parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), implementado no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, na cidade de Maringá – PR, com alunos do terceiro ano do Ensino Médio, do período da manhã, durante o ano de 2015. Objetivando incentivar o gosto pela leitura do texto literário e, ainda, de outros textos de variados gêneros, nossa proposta procurou se fundamentar na utilização de estratégias de leitura, sugeridas, principalmente, por Solé (1998). Além disso, recorremos à base teórica sugerida pelas Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) para o ensino da literatura. A implementação efetivou-se por intermédio da elaboração e aplicação de uma unidade didática que foi dividida em nove seções que foram ancoradas em estratégias de leitura, partindo da análise dos contos, de vídeos, perpassando pelo conceito de conto, desde a sua versão mais clássica até as mais modernas como, por exemplo: minicontos, hipercontos, minicontos de ouvir. Essa proposta permitiu além da ampliação do conhecimento a partir dos dois contos -objetos de estudo- a discussão de questões voltadas para o contexto do trabalho na atualidade, tais como: questões de imigração. A apresentação de atividades com gêneros textuais e questões de vestibulares também foram sugeridas. PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Estratégia de leitura. Mario de Andrade. Contos.

1 INTRODUÇÃO

Como professora de Língua Portuguesa, na rede pública de ensino e atuando,

principalmente, no ensino médio, sabemos que a leitura é fundamental para o

desenvolvimento pessoal e intelectual de qualquer indivíduo. No entanto, temos, com o passar dos anos, encontrado, cada vez mais, dificuldades no trabalho com a

leitura em sala de aula. Percebemos que essa condição tem sido motivada por

inúmeros fatores como, por exemplo: a falta de preparo do professor que, na maioria

das vezes, não sabe como abordar um texto; a falta de motivação do aluno que

diante de um mundo globalizado e tão cheio de tecnologia, muitas vezes, não

percebe a importância da leitura, principalmente a literária, entre outros aspectos que prejudicam, sobremaneira, o trabalho com a leitura literária na escola.

1 Ivani Fantucci Vieira, professora da rede Estadual de Ensino do Paraná, lotada no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal de Maringá-PR. E-mail: [email protected] 2 Carmen Rodrigues de Lima, Doutora em Língua e Literatura de Língua Francesa –Docente do Departamento de Letras Modernas da UEM- Universidade Estadual de Maringá-PR. E-mail: [email protected]

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Desta forma, esse problema tem nos afetado e também motivado a tentar

buscar soluções que possam otimizar o trabalho com o texto literário em sala de

aula. Assim, procuramos orientações para desenvolver um projeto de pesquisa que possa despertar o interesse dos alunos pela leitura literária. Essa tarefa, sem dúvida,

não é nada fácil, principalmente, porque hoje, com tanta tecnologia à disposição de

todos, a disponibilidade para a leitura de uma obra, sobretudo, dos clássicos da

literatura tem sido cada vez mais deixada de lado. Nesse sentido, nosso desafio

será apresentar um trabalho, cuja proposta incida sobre apresentação de estratégias

que o professor poderá utilizar em sala de aula, visando o objetivo principal que se

resume na leitura e construção do sentido do texto lido.

Portanto, com essa proposta, pretendemos minimizar alguns dos problemas

levantados e conscientizar não apenas os professores, mas também os alunos

sobre a importância da leitura literária. Assim, esperamos que os alunos possam

descobrir os benefícios da leitura em sua vida seja, acadêmica, profissional ou pessoal. Dessa forma, esse projeto de pesquisa se insere no contexto educacional

da atualidade, visto que busca apresentar propostas que possam superar as

dificuldades descritas. Para tanto, embasaremos nosso trabalho, principalmente, nas

pesquisas de Solé, Menegassi, nas DCEs, bem como nos estudos de Gotlib e

Massaud Moisés, entre outros autores. Para a realização do trabalho, o corpus escolhido é composto por dois contos

de Mário de Andrade, especificamente, de sua obra “Contos Novos”, são eles: “O

peru de Natal” e “Primeiro de maio”. É importante destacar que a escolha foi

motivada, por um lado pelo fato de essa de obra de Mario de Andrade fazer parte da

seleção de obras indicadas para o exame de vestibular e, por outro, pelo fato de que

tanto a obra quanto o autor escolhido fazem parte do programa curricular dos alunos

do 3° ano do ensino médio.

Mais do que isso, pretende-se com esse projeto, aproveitando o interesse dos

alunos do 3º ano do Ensino Médio em conhecer a obra de Mário de Andrade,

apresentar meios por intermédio dos quais eles poderão se apropriar dessa leitura

de maneira mais prazerosa. Isso ainda poderá propiciar a continuação desse

trabalho em outros momentos, com outras obras e autores para além da escola.

Portanto, acreditamos que essa proposta de projeto seja relevante tanto para o desempenho profissional do professor que busca novos meios e conceitos para

melhorar seu trabalho em sala de aula quanto para a motivação os alunos que,

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certamente, poderão se interessar mais pela leitura, visto que a perspectiva dessa

proposta visa, principalmente, que o aluno possa conseguir construir mecanismos

que o ajudem a construir o sentido do texto, o que permitirá capacitá-lo enquanto leitor.

O trabalho proposto, independentemente da escola e do público, será de

grande valia, pois as estratégias sugeridas poderão contribuir com as aulas de

professores de Literatura e Língua Portuguesa. Portanto, como desenvolver um

trabalho profícuo para a leitura literária, utilizando estratégias de leitura foi a

pergunta que nos impulsionou a buscar resultados e encaminhamentos para a nossa

proposta de aplicação. 2 A LEITURA DO TEXTO LITERÁRIO NA ESCOLA

O papel da leitura na escola é muito importante para o desenvolvimento de leitores competentes. Deste modo, é importante que tanto professores quanto a

escola estejam preocupados e empenhados em buscar novas possibilidades de

trabalho que possam ajudar a enfrentar a problemática que gira em torno desse

assunto, ou seja, como fazer que o aluno leia com proficiência.

Além das dificuldades enfrentadas diariamente em sala de aula como, por

exemplo a construção do sentido do texto, o professor ainda tem que aprender a superar alguns problemas relacionados à falta da motivação para a leitura,

principalmente, do texto literário.

Na tentativa de minimizar os problemas encontrados pelos professores e,

consequentemente, pelos alunos, o governo do Estado do Paraná –baseado no

documento apresentado pelo Governo Federal- elaborou um documento que serve

de base para orientar os professores em suas atividades diárias, a saber: as DCEs.

No que concerne ao papel da leitura, pretendemos, na sequencia, pontuar alguns

aspectos discutidos nesse documento.

A concepção teórica em que se fundamenta a questão da leitura no

documento das DCEs baseia-se na ideia de que o processo de leitura se dá de

maneira dialógica, com isso: compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias

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vozes que o constituem. A leitura se efetiva no ato da recepção, configurando o caráter individual Língua Portuguesa que ela possui, “[...] depende de fatores linguísticos e não-linguísticos: o texto é uma potencialidade significativa, mas necessita da mobilização do universo de conhecimento do outro - o leitor - para ser atualizado” (PERFEITO, 2005, p. 54-55 apud PARANÁ, 2008, p.57).

Nesse sentido, é possível perceber que o sujeito leitor no momento em que realiza a leitura busca seus conhecimentos prévios e com a ajuda deles e de outros

fatores consegue apreender o significado do texto, compreendendo, assim, aquilo

que lê.

De acordo com Silva (2005), o processo da leitura é dialógico, pois ele implica

efetivamente uma ação responsiva do leitor, ou seja, o leitor participa da construção

dos significados do texto, com ajuda de suas experiências e utilizando seus

conhecimentos a respeito do assunto. Assim,

No ato de leitura, um texto leva a outro e orienta para uma política de singularização do leitor que, convocado pelo texto, participa da elaboração dos significados, confrontando-o com o próprio saber, com a sua experiência de vida (SILVA, 2005, p. 24, apud, PARANÁ, 2008, p.57).

Com isso, devemos considerar que a leitura transforma o aluno, sobretudo,

porque ela permite que seus horizontes de expectativas sejam ampliados a cada

nova experiência vivenciada por meio da leitura, principalmente, a literária. Ela abre

perspectivas para que ele cresça intelectualmente, transformando-se em um

verdadeiro cidadão, pois:

[...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz (PARANÁ, 2008, p.57).

Toda a leitura, como sabemos, é permeada por vozes sociais e ideológicas

que se fazem presentes no discurso. Portanto, devemos, no ato da leitura, considerar não apenas o contexto, em que os leitores estão inseridos, mas ainda

todo o contexto que envolve a realização da obra. Assim, considerando esse

aspecto dialógico da leitura, o leitor certamente estará adquirindo ferramentas que

possibilitarão uma apreensão mais aprofundada da materialidade do texto e dos

aspectos resultantes das escolhas feitas pelo autor.

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Segundo a concepção da prática de leitura proposta pelas DCEs, o professor

tem um papel bem definido e sua postura não deve ser autoritária. Ele deve

acreditar que o aluno seja capaz de construir um saber e, para que isso aconteça, ele deve atuar como mediador, incentivando o aluno a realizar uma leitura

significativa como um ato dialógico, ou seja, o professor deve criar um espaço em

que os alunos possam exteriorizar as emoções e sensações advindas da leitura,

com isso:

O leitor, nesse contexto, tem um papel ativo no processo da leitura, e para se efetivar como co-produtor, procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sócio-cultural (PARANÁ, 2008, p.57).

Essa visão coincide com a ideia proposta por Angela Kleiman (1997). Para a

autora o professor tem um papel fundamental, pois enquanto mediador entre o

sujeito e o objeto a ser apreendido, ele deve considerar todas as circunstâncias que estão em jogo no momento da aprendizagem. No que diz respeito às atividades, ele

deve procurar elaborar exercícios que estimulem o aluno a interagir com o texto

estudado, possibilitando que ele possa por meio de suas experiências (re)formular o

sentido do texto e construir novos conhecimentos.

No que concerne especificamente à leitura do texto literário na escola, é

notório que o trabalho com esse gênero textual, durante muito tempo, serviu apenas de pretexto para que os professores desenvolvessem exercícios, cujo objetivo

fundamental era o ensino da gramática. O resultado dessa metodologia mostrou que

os alunos, na maioria das vezes, não percebiam outros aspectos importantes da

leitura e, principalmente, da literatura. Essa prática, na realidade, levou tanto

professores quanto alunos a ficarem desmotivados em trabalhar com o texto de

natureza literária. Entretanto, apesar da frustração, vivenciada, alguns se transformaram em bons leitores. Mas, acreditamos que isso se deu pelo fato de que

esses poucos se deixaram apanhar pelo encantamento advindo do texto literário,

que, muitas vezes, é ofuscado pelo trabalho estruturalista e formal em sala de aula.

Com relação à literatura, até meados do século XX, o principal instrumento do trabalho pedagógico eram as antologias literárias, com base nos cânones. A leitura do texto literário, no ensino primário e ginasial, visava transmitir a norma culta da língua, com base em

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exercícios gramaticais e estratégias para incutir valores religiosos, morais e cívicos (PARANÁ, 2008, p. 45).

Felizmente, esse panorama mudou ainda que, em nossa opinião,

parcialmente com a publicação das DCEs. Partindo dos pressupostos que são

apresentados nelas, temos uma nova concepção para a abordagem da leitura e

trabalho com o texto literário. A proposta apresentada se fundamenta na Estética da Recepção e na Teoria do Efeito. De acordo com essa perspectiva de trabalho, o ato

de leitura promove uma estreita relação entre a obra o autor e essa interação

possibilita a ampliação do horizonte de expectativas do leitor, permitindo que ele

consiga apreender o sentido do texto.

Todavia, nem todo mundo é consciente do trabalho que deveria realizar no

que concerne à leitura do texto literário. Isso acontece por um lado porque alguns

professores não gostam de trabalhar com a leitura literária outros, porém, mesmo

com tantas informações sobre o assunto, ainda não se sentem a vontade de realizar

um trabalho nesse âmbito.

Para Kleiman (1997, p. 30), o fato de ainda haver certa resistência com o

trabalho de leitura literária na escola reflete a falta de preparo dos professores e do próprio contexto em que ele está inserido. Para ela, esse panorama deve ser

mudado e o compromisso com o aprendizado deve prevalecer na escola. Uma forma

de atingir esse objetivo é buscando novas perspectivas de abordagem que cumpram

com o compromisso de tornar o aluno um leitor competente.

3 O PAPEL DO CONTO COMO PRÁTICA DA LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA

O trabalho com contos nas escolas tem sido uma boa maneira de o professor

fazer que os alunos tenham interesse pela leitura e percebam, por exemplo, a

beleza e a riqueza de um texto literário. A explicação para essa constatação talvez

resida no fato de esse gênero apresentar um tamanho relativamente menor se comparado, por exemplo, ao romance. Por ser um texto mais curto, na maioria das

vezes, ele motiva os leitores para efetivarem a sua leitura. Em relação à pós-

modernidade, o conto pode deixar entrever uma relação estreita entre tamanho e as

informações veiculadas na obra. Na realidade, a velocidade das informações, a

transformação de ideias e conhecimentos e a interação entre as pessoas acontecem

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muito rapidamente, vindo dai a necessidade de se ter também textos mais curtos,

mas que não deixam de evidenciar a característica e função da literatura.

Massaud Moisés (1978), explicitando as características do conto, diz que esse gênero, em sua essência, é a matriz da novela e do romance. No entanto, não

devendo transformar-se neles. O autor ainda o caracteriza como sendo unívoco e

univalente. Ele se constitui como unidade dramática, cujas características

apresentam: uma célula dramática, girando em torno de um só conflito, um só drama

e uma só ação. Ainda para o autor, o conto, diferentemente do romance e da novela,

é carregado de uma tensão poética que desencadeia no leitor sentimentos que

podem levar à comoção ou causar perplexidade acerca da vida. Na verdade, existe

uma proximidade muito grande entre as experiências vivenciadas pelo leitor e

aquelas vivenciadas pelas personagens que configuram o conto, tornando-os, desse

modo, praticamente um o reflexo do outro.

Uma espécie de poesia das coisas, o enternecimento diante do reiterado esforço humano de superar os limites da própria condição. As mais das vezes, o conto torna-se reportagem transfigurada e emotiva dos dramas de criaturas anônimas, iguais ao leitor e a toda gente (MOISÉS, 1978, p. 44).

Assim, é possível verificar que o conto possui uma estrutura que permite que

o leitor evidencie em sua vida algo descrito ficcionalmente no enredo, o que lhe permite, a partir da leitura realizada, ampliar seu horizonte de conhecimentos.

Para Gotlib (1985), o conto sofreu, com o passar dos tempos e devido à

efusão da modernidade, algumas mudanças quanto a sua técnica, ou seja, a

maneira como ele é narrado. Desta maneira, sua forma de estruturação permanece

a mesma. Alguns teóricos não partilham da mesma opinião, ao contrário, eles

afirmam que, na verdade, houve sim, juntamente com o advento da modernidade,

uma nova forma de exposição desse gênero literário.

Na exposição sobre a estrutura do conto apresentada por Gotlib (1985), ela

faz referência aos conceitos da teoria literária. Para ela, podem participar do conto: o

narrador e as personagens. O gênero conto ainda apresenta um ponto de vista e o

enredo. Esse último se caracteriza, principalmente, por sua pequena extensão e

concisão. Gotlib justifica que a extensão do conto está atrelada ao fato de ele desenvolver apenas uma história e apresentar um único clímax. Em relação ao

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romance, a diferença está no fato de a trama deste desdobrar-se em conflitos

secundários.

4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA E ANÁLISE DOS CONTOS "O PERU DE NATAL” E “PRIMEIRO DE MAIO” DE MÁRIO DE ANDRADE

Como professor de português, temos enfrentado diariamente várias

dificuldades em sala de aula, como observamos anteriormente. Entretanto, não

temos desanimado diante dessas dificuldades. Ao contrário, elas nos têm motivado,

ainda mais a buscar caminhos que possam nos auxiliar nessa empreitada.

Assim, pensar em novas formas de abordagem de leitura para o trabalho com

o texto literário tem sido uma prática frequente. Para quem depende de textos

diariamente é muito importante termos uma base, ou seja, um norte para que -

independentemente do texto escolhido, sendo ele de natureza literária ou de circulação social- possamos nos guiar na tarefa de tornar nossa aula proveitosa e

estimulante, sobretudo, no que concerne a recepção do texto literário. Desta forma,

nessa etapa do trabalho, estaremos apresentando as propostas de estratégias de

leitura, apresentadas por Solé (1998), entre outros autores.

Menegassi e Angelo (2010) esclarecem que apesar de as teorias que

valorizam o papel do leitor e toda a sua forma de conhecimento terem ganhado um espaço significativo no ensino da leitura, ainda assim, os estudos que dão enfoque

em uma abordagem de leitura do texto voltada para o processo de identificação dos

sinais gráficos não foram totalmente abandonados.

No diz respeito efetivamente à abordagem do texto literário, por meio da

utilização de estratégias de leitura, acreditamos que esse trabalho será importante,

pois possibilitará que os conteúdos sejam aprendidos de maneira estruturada e bem

planejada. Menegassi (2010) afirma que a utilização de estratégias de leitura para a

abordagem de um texto requer uma postura adequada do professor. Isso significa

que ele deve ter conhecimentos prévios sobre como utilizar essa ferramenta

oportuna. Portanto, o professor deverá buscar informações que permitam o

aprimoramento dos mais variados tipos de textos, visto que cada texto demanda

uma leitura específica. Nesse sentido, podemos perceber que cada texto é único e possui especificidades quanto à forma e conteúdo, por exemplo. Isso sugere que

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eles não devam ser lidos da mesma forma, sobretudo, porque cada leitor tem um

potencial diferente e lança mão de seus conhecimentos para realizar a leitura.

Dessa forma, tendo por base os estudos de psicolinguística de Goodman (1987) e Smith (1991), segundo Menegassi (2010), as etapas -que constituem as

estratégias de leitura fundamentais para se atingir o objetivo da compreensão de

qualquer texto- são quatro: a seleção, a antecipação, a inferência e a verificação. No

primeiro caso, verificamos que o leitor no início da leitura do texto não realiza essa

tarefa totalmente. Na realidade, deve-se fazer, inicialmente, uma seleção daquilo

que daremos enfoque como, por exemplo, o trabalho com o título. Na segunda

etapa, a da antecipação, é o momento em que o leitor deverá proceder ao

levantamento de hipóteses que lhe permita compreender ainda que de forma global

a temática abordada no texto. Durante esse levantamento, o leitor formula hipóteses,

como já foi dito, que poderão ou não ser comprovadas. No caso de as hipóteses

terem sido confirmadas, certamente, o leitor se sentirá mais seguro. No entanto, se acontecer o inverso, o professor deverá lançar mão de sua experiência para auxiliar

o aluno na busca de respostas para a leitura do texto. A inferência, diz respeito à

terceira etapa. Nesse momento, percebemos que o leitor já consegue fazer

inferências, partindo de seus conhecimentos e sua experiência de vida sobre o

assunto abordado no texto. Essa troca permite que o leitor possa ampliar seus

próprios conhecimentos e seu horizonte de expectativas. Na última etapa, denominada de verificação, é o momento em que analisamos se as estratégias de

leitura empregadas para a construção do sentido do texto foram satisfatórias, ou

seja, se elas atingiram o objetivo proposto.

No caso da autora Solé (1998), que tem seus estudos baseados na

psicolinguística, sua perspectiva busca um professor que assuma o papel de

mediador de conhecimento e que tenha o intuito de transformar o aluno em um leitor

competente. De acordo com suas pesquisas, as etapas necessárias à compreensão

de um determinado texto passam pelas seguintes fases: antes, durante e após a

leitura.

Antes, porém, de desenvolver essas estratégias, a autora discute sobre

pontos importantes que devem ser considerados pelos professores, visto que, eles

certamente, poderão interferir no resultado dos trabalhos. Para ela, a leitura deve, primeiramente, constituir um desafio para o aluno, pois essa é uma forma de motivá-

lo. Nesse sentido, ela propõe a utilização de textos inéditos, mas com temáticas

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familiares ao universo dos alunos leitores. Procedendo dessa forma, o trabalho será

mais profícuo, pois as situações serão mais próximas de sua realidade. Logo, o

aluno sentirá prazer na leitura, pois vê nela um objetivo claramente definido. Assim, o procedimento que o professor deve seguir é: inicialmente, apresentar

uma explicação, ainda que de forma geral, do que vai ser lido. Essa tarefa se

justifica pelo fato de o aluno poder, de acordo com a explicação dada pelo professor,

processar seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Na sequência, apontar

alguns aspectos do texto que favorecerão o andamento do trabalho inicial, tais

como: os aspectos icônicos do texto, os aspectos tipográficos, os aspectos

estruturais entre tantos outros que ajudarão o aluno a apreender o que será tratado

no texto. A tarefa final consiste em incentivar os alunos a falarem sobre aquilo que já

conhecem ou aprenderam sobre o tema. Nesse momento, o professor abre espaço

para que cada aluno possa falar de suas experiências diante do texto lido,

partilhando-as com todos os demais. Isso deverá trazer um grande comprometimento com a construção do sentido do texto, visto que todos estarão

engajados nessa tarefa.

Assim, segundo a autora, para que o professor alcance resultados positivos,

antes da leitura, ele precisará estabelecer previsões sobre o texto, como já foi dito

anteriormente. Essas previsões poderão ser suscitadas ante qualquer tipo texto e

poderão ajudar, sobremaneira, os alunos.

Quando nos deparamos com uma narração ou com uma poesia, pode ser mais difícil ajustá-las ao conteúdo real, e por isso é importante ajudar as crianças a utilizar simultaneamente diversos indicadores – títulos, ilustrações, o que se conhece sobre o autor, etc. – assim como os elementos que a compõem: cenário, personagens, problema, ação, resolução (SOLÉ, 1998, p. 109).

Ainda, de acordo com a autora, ao contrário do que se presencia na escola, é

fundamental incentivar a participação dos alunos nas aulas. No caso do trabalho

com leitura, o professor deve levá-los à prática de questionamentos sobre o texto,

pois realizando essa tarefa, eles, cada vez mais, poderão se sentir seguros.

Quando os alunos formulam perguntas pertinentes sobre o texto, não só estão utilizando o seu conhecimento prévio sobre o tema, mas também – talvez sem terem essa intenção – conscientizam-se do que sabem e do que não sabem sobre esse assunto. Além do mais, assim adquirem objetivos próprios, para os quais tem sentido o ato de ler. Por outro lado, o professor pode interferir das perguntas formuladas

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pelos alunos qual é sua situação perante o texto e ajustar sua intervenção à situação (SOLÉ, 1998, p. 110 e 111).

Para Solé (1998), a maior parte do esforço do leitor ocorre durante a leitura. O

resultado desse esforço resultará, sem dúvida, numa maior compreensão. A

pesquisadora apresenta ainda algumas possibilidades de leitura, entre elas,

destacamos a compartilhada que, segundo ela, é o momento mais produtivo para os alunos, visto que ela proporciona na prática a aplicação das estratégias

apresentadas para a compreensão do texto. Ela também é importante, pois

possibilita que o professor realize uma avaliação formativa da leitura e de todo o

processo realizado.

Fazendo referência aos estudos de Palincsar e Brown (1984), Solé apresenta

as seguintes estratégias que podem ser utilizadas durante a leitura: a formulação de

previsões sobre o texto, a formulação de perguntas, o esclarecimento das possíveis

dúvidas e, finalmente, a apresentação de um resumo das principais ideias contidas

no texto.

A ideia principal, nessa fase da leitura, é que tanto o professor quanto o aluno

assumam, durante a leitura compartilhada, a responsabilidade de organizar a tarefa de leitura e de envolver os outros na mesma.

As estratégias não devem ser consideradas como regra, ou seja, elas podem

ser adaptadas e variadas conforme as situações de ensino. Elas ainda poderão ser

utilizadas no momento em que se queira fazer uma leitura independente, ou seja,

quando o aluno estiver na biblioteca ou em casa, sozinho ou em classe.

O momento após a leitura também é muito importante, segundo a autora,

visto que é a fase em que podemos perceber se as estratégias foram eficazes e se o

que se pretendeu no início dos trabalhos foi confirmado. Enfim, é o momento em que

o leitor e o professor avaliam todo o trabalho de leitura realizado. Assim,

percebemos se houve a construção do sentido do texto e se o leitor mudou sua

postura diante dos desafios, participando efetivamente da construção do conhecimento.

Menegassi sintetiza e acrescenta informações sobre este momento tão

importante da leitura dizendo que:

Uma estratégia necessária nessa fase é a identificação da(s) ideias principal(is) do texto lido, que confirma a compreensão do leitor, demonstrando seu estado no processo de leitura. Assim ao terminar a

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leitura do texto, cabe ao leitor saber relatar, mesmo que seja só para si, qual a ideia principal do texto, que pode aparecer através da identificação de enunciado(s) importantes do texto, exigindo maior competência do leitor na identificação (MENEGASSI, 2010, p. 59).

Para o autor, no que se refere à apreensão do sentido do texto, é possível

acrescentar ainda outras estratégias que podem ser utilizadas nessa etapa, são

elas: proceder à seleção de partes importantes do texto ou palavras que se repetem.

Para isso o aluno poderá recorrer a uso de grifos. Outra opção é a apresentação de

resumos dos parágrafos e/ou resumo no final da leitura do texto. Essa atividade pode ser desenvolvida por meio da estratégia de elaboração de perguntas e

respostas. Esse trabalho, apresentado no final da leitura, coloca o leitor em condição

de permanente trabalho com o texto, segundo o autor.

O encaminhamento sugerido por Menegassi (2010) para uma aula que visa à

aplicação de estratégias de leitura para o texto compreende as seguintes fases:

antes da leitura, durante a leitura e após a leitura. É na etapa antes da leitura que preparamos o aluno para o encontro com o texto, ativando seus conhecimentos por

meio de estratégias de pré-leitura. Nelas, podemos enfatizar o tema, as

características do texto enquanto gênero textual e ainda destacar as diversas

tipologias presentes nele. No decorrer da leitura propriamente dita, o aluno se insere

de corpo e alma no texto: é o momento do encontro. A terceira fase, após a realização da leitura do texto, o professor deverá induzir o aluno à atividade de

refletir sobre o processo de leitura. Essa atividade, na realidade, refere-se a uma

avaliação, ou seja, é um diagnóstico do trabalho proposto.

A avaliação formativa de leitura é muito importante para um resultado positivo

para qualquer processo de aprendizagem. Podemos perceber que a tarefa de avaliar

é algo inerente ao contexto escolar, visto que, por meio dela, podemos observar

quais os resultados obtidos, para, em seguida, prepararmos as ações futuras.

Considerando a questão que acabamos de apresentar, esse projeto também

propôs atividades, consideradas de cunho formativo de leitura, para que os

professores possam se basear no momento em que for prepará-las. Com isso,

queremos demonstrar que um trabalho que visa a construção dos sentidos de um

texto deve considerar a leitura antes, durante e depois, além de propor atividades de avaliação. É importante ressaltar que a proposta de atividades dependerá das

necessidades e da realidade de cada aluno, observadas antes da realização dos

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trabalhos. Isso significa que elas podem ser adaptadas para qualquer contexto

escolar. 5 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE IMPLEMENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para a efetivação desse trabalho foi necessário, primeiramente, a produção

do projeto de intervenção pedagógica que resultou de pesquisas, leituras e

embasamento teórico proporcionado pelos cursos gerais e específicos, oferecidos

pelo programa (PDE) e ministrados pelos docentes da Universidade Estadual de

Maringá (UEM). Esse projeto, elaborado no primeiro semestre de 2014, teve como

tema o estudo de estratégias de leitura para o texto literário.

Dando continuidade ao desenvolvimento do projeto, no segundo período

(julho a dezembro de 2014) foi produzido o material didático (PDP), que explorou a leitura literária dos contos “O Peru de Natal” e “Primeiro de Maio”, de Mário de

Andrade. Além disso, foi trabalhado as particularidades do gênero conto. Essa

proposta de trabalho foi didaticamente dividida em nove seções. A implementação

do projeto na escola, bem como o seu compartilhamento junto aos demais

professores da rede pública do Paraná ocorreu no período de junho a dezembro de

2015, através Grupo de Trabalho em Rede (GTR). O resultado dessa atividade demostrou uma grande interação dos participantes, que muito colaboraram para o

sucesso da implementação e da produção deste artigo. Após o GTR, várias

sugestões foram propostas e fizemos uma adequação ao projeto. Isso fez que nosso

projeto fosse ampliado e incrementado com as ideias dos professores da rede

pública da região do Estado do Paraná.

Após a apresentação dos objetivos do projeto e justificativa da escolha das

turmas para a implementação do mesmo, percebemos um grande interesse por

parte dos alunos. O Projeto bem como o material didático foi bem recebido,

primeiramente, porque iniciamos nossa fala discutindo sobre a importância da

leitura.

Após essa apresentação, demos início às atividades propostas para a primeira unidade. Após a apresentação do texto que seria trabalhado, os alunos

puderam se expressar em relação importância do ato de ler. A respeito das

respostas colhidas oralmente, em relação aos vídeos de Keaton, abriu-se uma

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análise crítica a respeito de programas atuais, principalmente, no que diz respeito ao

nível cultural transmitido por eles. Em relação à Humpty Dumpty, a maioria dos

alunos também não conhecia essa personagem, foi então apresentado o vídeo com a música enigmática e seu significado. Apresentamos ainda o vídeo “Os fantásticos

livros voadores de Modesto Máximo”, que foi trabalhado seguindo as etapas

sugeridas no material teórico. Depois da exibição completa do vídeo, muitos

demostraram surpresa. Então, para que eles pudessem confirmar ou verificar alguns

questionamentos, o vídeo foi exibido novamente. Na sequência, os textos com as

análises críticas de alguns autores diferentes em relação ao vídeo foram entregues.

Nesse momento, todos puderam se certificar sobre o assunto do texto, confirmando

ou não suas hipóteses. Para finalizar, propusemos uma atividade cujo objetivo era a

apresentação de um resumo sobre o que havia sido trabalhado. Em função da alteração no calendário escolar, antes do início da segunda

unidade, fizemos a revisão dos conteúdos literários dos anos anteriores,

trabalhando com autores que pertencem ao pré-modernismo e modernismo.

Estrategicamente, Mário de Andrade foi deixado para ser apresentado com a

implementação do nosso projeto. Assim, abrimos essa unidade com a Semana de

Arte Moderna e o Modernismo no Brasil, bem como com o estudo aprofundado de

Mário de Andrade e sua obra “Contos novos”, seguindo nossa proposta e utilizando

as estratégias de leitura. É importante destacar que além das atividades propostas para essa unidade, foi acrescentado um trecho do vídeo de “Um só coração”,

minissérie da rede Globo, que ilustra várias personagens que fizeram parte da

Semana de Arte Moderna. O resultado desse trabalho foi muito gratificante, uma vez

que depois das leituras e da realização das atividades, os alunos organizaram e

apresentaram, na Semana de integração família e comunidade, o Musical “Semana

de Arte Moderna... atualizando”, como resultado dos trabalhos dessa unidade. Na terceira unidade, nos propomos a introduzir o autor e sua carreira de

escritor. Diferentemente das outras etapas, iniciamos essa com uma leitura

silenciosa. Apesar de ser por vezes criticada, essa forma de leitura é, ao contrário,

muito utilizada e sugerida por vários autores como, por exemplo: Menegassi (2010)

pelo fato de, segundo o autor, ela apresentar resultados positivos. Entregamos aos

alunos cópias com uma coletânea sobre a vida e a obra do autor Mário de Andrade. Depois da leitura desse material, apresentamos o vídeo sobre ele. Ao final desta

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unidade, os alunos utilizaram o livro didático para realizar as atividades propostas

sobre esse assunto. O objetivo da quarta unidade foi dar uma base teórica a respeito do conto.

Trabalhamos o conceito tradicional e, depois, mostramos a sua evolução, para que

os alunos pudessem então, assimilar e confrontar os novos conceitos de contos que

serão propostos na quinta unidade. Isso foi importante, pois a partir do conceito

clássico, os alunos puderam comparar os novos conceitos de conto e assim analisar

os elementos essenciais desse tipo de narrativa, tomando, para tanto, a explicação

de Massaud Moisés a respeito da estrutura do conto. Nesta unidade, o intuito maior

foi discutir sobre a estrutura e conceitos dessas novas modalidades de conto, tais

como: minicontos de ouvir, micro-contos, nanocontos, hiperconto –todos

relacionados à chamada literatura digital-. Além disso, procuramos incentivar mais

uma vez o interesse pela leitura, por meio de um material que está muito próximo

desses alunos, uma vez que eles são produzidos para ser publicados no meio virtual. Para a realização dessa unidade, foi necessário utilizar o laboratório de

informática, essa experiência, a nosso ver, foi positiva, uma vez que os alunos

puderam utilizar quase todos os recursos disponíveis para o acesso ao material, na

internet. Quanto ao hiperconto, por exemplo, o aluno, a partir de suas escolhas em

relação ao enredo da história, pode conhecer diferentes possibilidades de finais para

o mesmo conto. Na quinta unidade, o objetivo da nossa proposta era despertar no aluno

questionamentos a respeito do mundo do trabalho. Utilizamos algumas obras de

artistas do movimento modernista. Seguindo as estratégias de leitura, iniciamos com

esse material a etapa denominada “antes” da leitura. Neste momento, os alunos

fizeram o levantamento das hipóteses e da contextualização histórica e artística das

obras, para que depois essa leitura fosse ampliada com a leitura dos dois contos de

Mario de Andrade, sugeridos inicialmente. As atividades dessa etapa, em nossa

opinião, foram produtivas, pois o fascínio exercido pelas obras de arte no ser

humano é notório. Para a análise e observação das obras, utilizamos o data-show

para que as imagens fossem percebidas em todos os seus detalhes e nuances. Foi

observado em cada uma delas os tipos de trabalho realizado pelas pessoas ali

representadas. Essa observação minuciosa permitiu ainda uma discussão sobre questões relacionadas ao trabalhador e às condições de trabalho, típicas do início

do século como: as leis, a condição dos imigrantes, o ambiente de trabalho, a

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posição de mulheres e crianças, a quantidade de horas trabalhadas, a visão do

trabalhador como uma máquina. As atividades realizadas até a sexta unidade, podemos dizer que, tendo em

vista as teorias estudadas, elas buscaram aplicar e exercitar as estratégias de leitura

por meio de diferentes suportes: vídeos, textos, fotografias, entre outros. Nessa

unidade, utilizamos novamente as estratégias de leituras, dessa vez, para a análise

dos contos: “O peru de Natal” e “Primeiro de maio”. Seguimos as etapas,

denominadas: antes, durante e depois da leitura. Acreditamos que o resultado do

trabalho foi válido, visto que a partir dele surgiram discussões profícuas, nas quais

pudemos observar o aprofundamento da leitura. Cumpre ressaltar que os trabalhos

foram produzidos em dupla e isso estimulou ainda uma maior interação entre os

alunos. A partir da leitura do conto “O peru de natal”, foi possível sugerir a leitura de

outros contos que possuem a mesma temática do natal como, por exemplo: o livro

Os melhores contos de natal. Ainda nessa etapa, escolhemos o conto “Primeiro de maio” para aprofundar ainda mais as questões de leitura. Como o título do texto já

remete a uma situação do mundo do trabalho, a etapa denominada “antes da leitura”

foi realizada rapidamente, pois, a hipótese do mundo do trabalho foi logo observada.

Muitas discussões surgiram na etapa “durante a leitura”, pois o conto permite abrir

um leque de perguntas e afirmações inferenciais. Outra atividade que adveio do

trabalho com esta unidade foi a organização dos alunos em pequenos grupos, para a apresentação de outros contos que faziam parte do livro “Contos Novos”, de Mário

de Andrade, fazendo uso das estratégias aprendidas, ressaltando os aspectos de

conteúdo e de estrutura do conto. Na sétima unidade, o intuito era ampliar os conhecimentos dos alunos,

aprofundando a leitura na etapa relativa ao “depois” da leitura. A partir do tema

“trabalho” e “trabalhador” atualizando as informações dos alunos, principalmente, no

que se refere à situação dos novos imigrantes no Brasil, realizamos uma ampla

discussão sobre os problemas que advém dessa questão. Utilizamos, nesta etapa,

vídeos atuais que retratam a realidade de imigrantes, inclusive do nosso Estado e da

nossa região. Cumpre ressaltar que aliado ao tema dos imigrantes no Brasil, foi

possível realizar diante do contexto atual, uma ampla discussão a respeito da nova

crise migratória no mundo e, principalmente, na Europa, resultante de guerras civis, terrorismo, perseguições e miséria. Isso permitiu perceber, primeiramente, que

esses imigrantes buscam, no novo continente, uma chance de uma vida mais digna

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e, num segundo momento, que a o mundo vivencia talvez a maior crise humanitária

desde a segunda guerra mundial. Várias discussões surgiram a partir desse

trabalho, assim, aproveitamos essa temática para sugerir a produção de outros gêneros textuais como o Artigo de Opinião e a Resposta Interpretativa, que também

são exigidos na redação da UEM para o vestibular. A partir do texto jornalístico, na oitava unidade, buscamos o exercício e, por

conseguinte, o aperfeiçoando da escrita, partindo da apresentação das

características do resumo, gênero sugerido por Solé, para sintetizar as ideias

colhidas por meio da leitura de um texto. O uso do modelo de resumo foi

considerado bom pelos alunos. Neste caso, sugerimos um texto complementar para

a produção desse gênero em específico. Na nona unidade, selecionamos algumas questões mais aprofundadas e

complexas sobre o livro “Contos novos”, utilizadas em diferentes vestibulares, para

trabalharmos com os alunos em sala de aula. Isto se deu, principalmente, porque houve interesse dos alunos em realizar o vestibular e o Enem. Essa experiência, a

partir das atividades realizadas anteriormente, foi muito importante, pois mostrou

que todo o trabalho serviu de alicerce para a construção de novos conhecimentos.

Ainda nessa unidade, a Prof. Dra. Sueli de Castro Gomes, docente do curso de

Geografia da População na UEM, realizou nas dependências do Colégio Dr. Gastão

Vidigal, a palestra sobre “Os haitianos em Maringá”. O objetivo foi abordar a situação desses imigrantes em nossa região, seu modo de vida, bem como as questões

sociais e de trabalho. Foi muito válida a contribuição da Professora Sueli para a

formação dos alunos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso objetivo maior ao desenvolvermos esta proposta foi o de promover a

motivação da leitura, em especial a literária, junto aos alunos do ensino médio da

escola em que trabalhamos através do gênero conto. Analisando as interações

provenientes da implementação com os alunos e das participações dos professores

no GTR, percebemos que as estratégias, sugeridas pelos autores com os quais

trabalhamos, juntamente com as atividades que elaboramos trouxeram resultados positivos no que concerne à leitura e construção do sentido do texto. Percebemos

que, durante a implementação do projeto, houve uma motivação e interação maior

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tanto por parte do professor quanto dos alunos na realização das atividades,

acreditamos que esse fato deveu-se principalmente ao interesse demostrado pelos

alunos diante de da proposta apresentada. Os resultados advindos dessa experiência, em nossa opinião, poderão servir tanto para a vida acadêmica do aluno

que se sentirá mais seguro na leitura de qualquer tipo de texto quanto para o

professor que busca propiciar novas maneiras de ampliar os conhecimentos dos

seus alunos, fazendo que a leitura se torne um hábito. 7 REFERÊNCIAS ANDRADE, Mário de. Contos Novos. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

ANDRADE, Mário de. Os melhores contos de Mário de Andrade – seleção de Telê Ancona Lopez. São Paulo: Global Editora, 1988.

GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. 2. ed. São Paulo: Ed.Editora Ática, 1985.

KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 5. ed. Campinas/SP: Pontes, 1997.

MENEGASSI, Renilson José et al. Concepções de linguagem e ensino. Maringá: Eduem, 2010. Coleção Formação de Professores-EAD.

MENEGASSI, Renilson José (org). Leitura e Ensino. 2. ed. Maringá: Eduem, 2010. Coleção Formação de Professores-EAD - v. 19.

MOISÉS, Massaud. A Criação Literária: prosa. 11. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1978.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Tradução de Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.