produtividade e qualidade de beterraba cultivada … · raiz quadrada de x+1. os dados obtidos...

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Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 366 S PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DE BETERRABA CULTIVADA EM PLANTIO DIRETO EM FUNÇÃO DO NITROGÊNIO E MOLIBDÊNIO Luis Felipe V. Purquerio 1 ; Thiago Leandro Factor 2 ; Sebastião de Lima Jr. 2 ; Sebastião Wilson Tivelli 3 ; Paulo E. Trani 1 ; José Maria Breda Jr. 4 ; Marcelo Augusto V. da Rocha 5 1 APTA-IAC, Centro de Horticultura, C.Postal 28, 13012-970, Campinas-SP, [email protected], [email protected]; 2 APTA-Pólo Nordeste Paulista, Av. Presidente Castelo Branco, s/n, C.Postal 58, 13730- 970, Mococa-SP, [email protected], [email protected]; 3 APTA – CIESP, UPD de São Roque, Av. Três de Maio, 900, 18133-445, São Roque-SP, [email protected]; 4 Cooxupé, Alameda Dionísio Guedes, s/n, 13720- 000, São José do Rio Pardo-SP, [email protected]; 5 UNITAU, Estrada Dr. José Luiz Cembranelli 5000, 12081-010, Taubaté-SP, [email protected] RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido por meio da parceria entre o Instituto Agronômico, o Pólo APTA Nordeste Paulista, a Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiro da Silva” e Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), núcleo de São José do Rio Pardo-SP. O ensaio teve por objetivo avaliar a produtividade e a qualidade de beterraba produzida em sistema de plantio direto, bem como obter dados para iniciar uma recomendação ajustada para as condições locais de solo e clima. O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial, com cinco repetições. Os tratamentos foram cinco doses de nitrogênio em cobertura (0; 60; 120; 180; 240 kg ha -1 ), aplicados na forma de uréia aos 15, 30 e 50 dias após a semeadura (DAS), bem como a presença e ausência de aplicação foliar de 0,5 g L -1 de molibdato de amônio, aos 15 e 30 dias após a semeadura. Para produtividade total ocorreu incremento linear de 27,9 kg de matéria fresca por quilograma adicional de nitrogênio utilizado, até o máximo de 5748 g m -2 ou 46 t ha -1 verificados na maior dose utilizada (240 kg ha -1 ). PALAVRAS-CHAVE: Beta vulgaris L., sistemas de produção, nutrição de plantas, hortaliças. ABSTRACT Yield and quality of table beet grown in no tillage system in function of nitrogen and molybdenum fertilization The present work was developed trough the partnership between Instituto Agronômico, Pólo APTA Nordeste Paulista, Fundação de Pesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiro da Silva” and Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé in São José do Rio Pardo-SP. The essay has by objective to evaluate the yield and quality of table beet grown in no tillage system obtaining data to create a fertilization recommendation for the local conditions of soil and climate. The statistical design used was randomized blocks in factorial replicated five times. The treatments were five side dressing doses (0; 60; 120; 180; 240 kg ha -1 ) applied in urea form at 15, 30 and 50 days after seeding (DAS), and the presence and absence of ammonium molybdate (0.5 g L -1 ) sprayed in leaves, at 15 and 30 DAS. For total yield happened a linear increase of 27.9 kg of fresh matter per additional kilogram of nitrogen used, until the maximum of 5748 g m -2 or 46 t ha -1 verified with the biggest nitrogen dose used (240 kg ha -1 ). KEYWORDS: Beta vulgaris L., production system, plant nutrition, vegetables. PURQUERIO LFV; FACTOR TL; LIMA JR S; TIVELLI SW; TRANI PE; BREDA JR JM; ROCHA MAV. 2009. Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio. Horticultura Brasileira 27: S366-S372.

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Page 1: PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DE BETERRABA CULTIVADA … · raiz quadrada de x+1. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente através da Os dados obtidos foram analisados estatisticamente

Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 366S

Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DE BETERRABACULTIVADA EM PLANTIO DIRETO EM FUNÇÃO DONITROGÊNIO E MOLIBDÊNIO

Luis Felipe V. Purquerio1; Thiago Leandro Factor

2; Sebastião de Lima Jr.

2; Sebastião

Wilson Tivelli3; Paulo E. Trani

1; José Maria Breda Jr.

4; Marcelo Augusto V. da Rocha

5

1APTA-IAC, Centro de Horticultura, C.Postal 28, 13012-970, Campinas-SP, [email protected],

[email protected]; 2APTA-Pólo Nordeste Paulista, Av. Presidente Castelo Branco, s/n, C.Postal 58, 13730-

970, Mococa-SP, [email protected], [email protected]; 3APTA – CIESP, UPD de São Roque, Av. Três

de Maio, 900, 18133-445, São Roque-SP, [email protected]; 4Cooxupé, Alameda Dionísio Guedes, s/n, 13720-

000, São José do Rio Pardo-SP, [email protected]; 5UNITAU, Estrada Dr. José Luiz Cembranelli 5000,

12081-010, Taubaté-SP, [email protected]

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido pormeio da parceria entre o Instituto Agronômico, oPólo APTA Nordeste Paulista, a Fundação dePesquisa e Difusão de Tecnologia Agrícola“Luciano Ribeiro da Silva” e Cooperativa Regionalde Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), núcleode São José do Rio Pardo-SP. O ensaio tevepor objetivo avaliar a produtividade e a qualidadede beterraba produzida em sistema de plantiodireto, bem como obter dados para iniciar umarecomendação ajustada para as condiçõeslocais de solo e clima. O delineamento estatísticoutilizado foi o de blocos ao acaso, em esquemafatorial, com cinco repetições. Os tratamentosforam cinco doses de nitrogênio em cobertura (0;60; 120; 180; 240 kg ha

-1), aplicados na forma de

uréia aos 15, 30 e 50 dias após a semeadura(DAS), bem como a presença e ausência deaplicação foliar de 0,5 g L

-1 de molibdato de

amônio, aos 15 e 30 dias após a semeadura.Para produtividade total ocorreu incremento linearde 27,9 kg de matéria fresca por quilogramaadicional de nitrogênio utilizado, até o máximode 5748 g m

-2 ou 46 t ha

-1 verificados na maior

dose utilizada (240 kg ha-1).

PALAVRAS-CHAVE: Beta vulgaris L., sistemasde produção, nutrição de plantas, hortaliças.

ABSTRACT

Yield and quality of table beet grown inno tillage system in function of nitrogen

and molybdenum fertilization

The present work was developed troughthe partnership between Instituto Agronômico, PóloAPTA Nordeste Paulista, Fundação de Pesquisae Difusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiroda Silva” and Cooperativa Regional deCafeicultores de Guaxupé in São José do RioPardo-SP. The essay has by objective to evaluatethe yield and quality of table beet grown in no tillagesystem obtaining data to create a fertilizationrecommendation for the local conditions of soil andclimate. The statistical design used wasrandomized blocks in factorial replicated five times.The treatments were five side dressing doses (0;60; 120; 180; 240 kg ha

-1) applied in urea form at

15, 30 and 50 days after seeding (DAS), and thepresence and absence of ammonium molybdate(0.5 g L

-1) sprayed in leaves, at 15 and 30 DAS.

For total yield happened a linear increase of 27.9kg of fresh matter per additional kilogram ofnitrogen used, until the maximum of 5748 g m

-2 or

46 t ha-1 verified with the biggest nitrogen dose

used (240 kg ha-1).

KEYWORDS: Beta vulgaris L., productionsystem, plant nutrition, vegetables.

PURQUERIO LFV; FACTOR TL; LIMA JR S; TIVELLI SW; TRANI PE; BREDA JR JM; ROCHA MAV. 2009. Produtividade e qualidade debeterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio. Horticultura Brasileira 27: S366-S372.

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367Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009

Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

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INTRODUÇÃO

Dos aproximados quatro mil hectares de beterraba cultivados no estado de São Paulo(IEA, 2009), cerca de mil e duzentos hectares encontram-se região de São José do Rio Pardo-SP. Preocupados com a sustentabilidade ambiental no município, a Fundação de Pesquisa eDifusão de Tecnologia Agrícola “Luciano Ribeiro da Silva” estabeleceu uma parceria técnica-científica com Instituto Agronômico (IAC), o Pólo APTA Nordeste Paulista e a CooperativaRegional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) para validar localmente algumas técnicasagrícolas. Entre as técnicas de maior interesse, esta o cultivo de hortaliças em sistema deplantio direto, realizado em parte do município e as suas interações com a adubação realizadano mesmo. A técnica do plantio direto já é utilizada e bem conhecida para o cultivo de grãos,porém ainda foi pouco estudada quando as culturas de interesse passam a ser as hortaliças(Purquerio & Tivelli, 2007). Essa tecnologia busca a criação de uma nova consciência social arespeito das relações homem-natureza, através da proteção e conservação do solo, do aumentoda matéria orgânica e da biota do mesmo.

O plantio direto também contribui na diminuição da quantidade de água utilizada viasistemas de irrigação que é um fator importante na sustentabilidade ambiental dos cultivos.Com a diminuição no uso da água, que está em vias de começar a ser cobrada, tambémocorre menor gasto com energia elétrica e/ou combustível utilizados na irrigação, bem comomenor desgaste dos equipamentos de irrigação que são fatores que pesam na sustentabilidadefinanceira do cultivo. Não há no estado de São Paulo uma recomendação oficial com relaçãoà adubação nitrogenada de cobertura para a cultura da beterraba em sistema de plantio direto.A referência oficial utilizada é a recomendação para o sistema de cultivo convencional feitapor Trani et al. (1997) onde utiliza-se 60 a 120 kg ha

-1 de N em cobertura, parcelada em três

aplicações, aos 15, 30 e 50 dias após a germinação. Trani et al. (2005) avaliaram aprodutividade de raízes de beterraba produzidas em sistema convencional de cultivo em funçãode doses de sulfato de amônio em cobertura (0 a 200 kg N ha

-1).

Em experimentos conduzidos em Monte Alegre do Sul-SP e Campinas-SP em três anosdiferentes, a produtividade máxima de raízes de beterraba variou em função do local e foi atingidacom 92 a 179 kg N ha

-1. Nestes experimentos, o teor de N das raízes e parte aérea proporcionou

uma correlação linear e positiva com as doses de N aplicadas em cobertura. Em Viçosa-MG,Aquino et al. (2006), também no sistema convencional de cultivo, estudaram a resposta da culturada beterraba a adubação nitrogenada. Os autores trabalharam com doses variando de 0 a 400kg N ha

-1, tendo a uréia como fonte, aplicando-se 30% da dose de cada tratamento dois dias

antes do transplante (DAT) das mudas, e o restante, em duas aplicações aos 20 DAT e 31 DAT.Para estas condições e considerando aspectos qualitativos, os autores concluíram que a dosede 193 kg ha

-1 de nitrogênio foi a mais promissora. A função mais importante do molibdênio nas

plantas está relacionada com o metabolismo do nitrogênio, e ligada à ação ou ativação enzimática,principalmente das enzimas nitrogenase e redutase do nitrato (Dechen et al., 1991). Respostaspositivas à adubação com este nutriente têm sido relatadas com várias culturas, em diferentespaíses (Gupta & Lipsett, 1981). Entre as olerícolas, couve-flor, brócolis, alface, beterraba, espinafreeuropeu, nabo e tomateiro se destacam como as culturas mais exigentes (Castellane et al.,1991). De acordo com a recomendação oficial de adubação para a cultura de beterraba noestado de São Paulo (Trani et al., 1997), o molibdênio deve ser aplicado via foliar, aos 15 e 30dias após a semeadura ou no transplante das mudas.

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Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

Para suprir a exigência da cultura, os autores recomendam a aplicação de 5 g demolibdato de amônio diluído em 10 L de água.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em área da Fundação de Pesquisa e Difusão de TecnologiaAgrícola “Luciano Ribeiro da Silva” (Fundação), localizada em São José do Rio Pardo-SP(21

o37’16” S; 43

o53’15”; 750 m de altitude), no período de maio a agosto de 2008. O solo

predominante na região é o Argissolo Vermelho-Amarelo (Embrapa, 1999) e o clima segundoa classificação de Köppen, Cwa.. Foi realizada análise física e química do solo (0-20 cm). Aanálise física classificou o solo como franco-argiloarenoso, com composição de argila, silte,areia grossa e fina em g kg

-1 de 300, 201, 403 e 96, respectivamente. A análise química do

solo apresentou pH (CaCl2) = 4,8; M.O. = 21 g dm

-3; P (resina) = 15 mg dm

-3; K = 4,8 mmol

c dm

-

3; Ca = 32 mmol

c dm

-3; Mg = 8 mmol

c dm

-3; H + Al = 27 mmol

c dm

-3; SB = 45,8 mmol

c dm

-3; CTC

= 73,0 mmolc dm

-3; e V = 63%. Com base na recomendação de adubação para a cultura de

acordo com Trani et al. (1997), foram aplicados no plantio mecanizado 1480 kg ha-1 da fórmula

06-22-12 + B (0,26%) e 200 kg ha-1

do fertilizante Super Fosfato Simples. Cerca de 30 diasantes da semeadura da beterraba foi aplicado em área total 960 g ha

-1 do herbicida Glifosato

para dessecar a vegetação espontânea (Brachiaria sp. em sua maioria) e formar a palhadapertinente ao sistema de plantio direto. A quantidade de palha foi medida por ocasião dasemeadura da beterraba totalizando 14,3 t ha

-1.

A semeadura foi realizada em 06 de maio de 2008 com máquina Jumil, modelo2440 PD. Foram utilizados na operação discos com 60 furos para permitir a colocação deno máximo 24 glomérulos por metro linear com regulagem na semeadora de relação detransmissão motora 28 e movida 17. A cultivar utilizada foi a Early Wonder 2000 (Top Seed),por ser a cultivar mais plantada na região de São José do Rio Pardo-SP. O desbaste demudas foi realizado quando estas estavam com cerca de 5 cm de altura, estabelecendo-se 15 plantas por metro linear.

O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorialcom cinco repetições. Os tratamentos foram cinco doses de nitrogênio em cobertura(0; 60; 120; 180; 240 kg ha

-1), aplicados na forma de uréia aos 15, 30 e 50 dias após a

semeadura (DAS), bem como a presença e ausência de aplicação foliar de 0,5 g L-1

de molibdato de amônio, aos 15 e 30 DAS. A parcela experimental foi composta porquatro linhas espaçadas de 0,40 m totalizando 1,6 m de largura por 3,0 m decomprimento. Para a avaliação quantitativa e qualitativa foram avaliados 1,6 m

2,

dispondo-se de quatro linhas de 1 m.

As características avaliadas foram: a) produtividade total (m2 e ha); b) produtividade

por classe de raízes (refugo < 5 cm; Extra A entre 5 e 9 cm; Extra AA entre 9 e 12 cm); c)presença de anéis brancos, por meio de notas (1 – sem anel, 2 – primórdios de anel, 3 –com anel). As notas referentes a presença de anéis brancos foram transformadas pararaiz quadrada de x+1. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente através daanálise de variância com teste F. Foi realizada analise de regressão para estudar os dadosrelativos as doses de nitrogênio e teste de Tukey (5%) para comparar as médias dostratamentos com molibdênio.

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Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados climáticos observados durante o período experimental foram registrados pelaestação metereologica da Fundação (Figura 1). Não houve efeito estatístico significativo dainteração entre nitrogênio e molibdênio para nenhuma das características avaliadas. Porémhouve efeito estatístico para cada um dos fatores isoladamente. Para produtividade total,expressa em g m

-2 (Figura 2A) ou t ha

-1 (Figura 2B), houve incremento linear e crescente de

27,9 kg ha-1 de matéria fresca por quilograma adicional de nitrogênio utilizado, até o máximo

de 5748 g m-2 ou 46 t ha

-1 verificados na maior dose de nitrogênio utilizada (240 kg ha

-1).

Considerando o preço médio da tonelada do fertilizante uréia, no ano de 2008, de R$1.747,00,sendo o equivalente em nitrogênio de R$ 4.160,00 a tonelada, ou R$ 4,16 o quilograma (IEA,2009), e o preço médio de venda do quilograma de beterraba no mesmo ano de R$ 1,07(CEASA, 2009), o lucro operacional obtido, considerando-se o mesmo custo operacional total,para cada kg de nitrogênio adicionado foi de R$25,69.

Ao avaliar a produtividade em relação as classes comerciais, a aplicação de N emcobertura não alterou a produtividade das raízes menores do que 5 cm de diâmetro (Refugo) eaquelas entre 5 cm e 9 cm denominadas de Extra A (Figuras 2A e 2B). Porém para as raízesde maior valor comercial (entre 9 cm e 12 cm – Extra AA) houve correlação linear e positivaentre a produtividade e as doses de nitrogênio em cobertura. Neste caso, para cada quilogramade N adicionado ao cultivo de beterraba foram produzidos 23,9 kg de beterraba Extra AA.Esse montante corresponde a praticamente uma caixa tipo K de raízes Extra AA a mais, quefoi produzida para cada quilograma de nitrogênio. Na maior dose de nitrogênio utilizada verificou-se a produtividade de 3581 g m

-2 ou 28,6 t ha

-1. O preço médio de venda de raízes de beterraba

Extra AA, segundo CEASA (2009), no ano de 2008, foi de R$1,24, 15% superior ao preçomédio de venda do produto (todas as classificações). Neste caso, considerando-se as mesmascondições descritas anteriormente, para cada kg de nitrogênio adicionado, tem-se um lucrooperacional de R$ 26,71. Para descartar a possibilidade de que o número de raízes debeterraba por tratamento possa ter influenciado a produtividade, essa variável também foimensurada (Figura 3A e Tabela 1). Como era desejado, o número total e das classes comerciasde raízes de beterraba entre os tratamentos não variou significativamente. A média total deraízes de beterraba por parcela de um metro quadrado neste experimento foi de 65,4 raízes.Isto equivale a um espaçamento final de 6,1 cm entre plantas.

A incidência de anéis brancos em raízes de beterraba não é uma característica desejadapelo mercado atacadista. Geralmente, os lotes de beterraba que apresentam este defeito sãopenalizados com a redução no preço da caixa tipo K. Em casos extremos, a cultura deixa deser colhida. Ao relacionar a presença de anéis brancos em função de doses crescentes denitrogênio em cobertura observou-se aumento na incidência deste defeito (Figura 3B). Esteresultado confirma os registros que há na literatura, segundo os quais o excesso de N favoreceo surgimento de anéis brancos na raiz de beterraba quando associados a altas temperaturasno momento de formação da raiz tuberosa. Por meio da Figura 1, pode-se observar que ocorreupicos de temperaturas máximas ao redor de 30

oC, nos primeiros 30-45 DAS, o que pode

explicar em parte o aparecimento de primórdios de anéis brancos. Ressalta-se que mesmona maior dose de nitrogênio (240 kg ha

-1), as raízes atingiram apenas a nota 1,8 que situam-se

entre a ausência de anéis (nota 1,0) e primórdios de aparecimento dos mesmos (nota 2,0),não descaracterizando o produto para a comercialização.

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Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 370S

Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

É provável que durante a experimentação tenha havido perda de uréia por volatilização,mesmo com a irrigação realizada através de pivô central após as coberturas, porém essaperda não foi quantificada. Assim é interessante a realização de nova experimentação comdoses de nitrogênio provenientes de outras fontes de nitrogênio, para complementação dosdados apresentados.

REFERÊNCIAS

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CEASA. Central de Abastecimento de Campinas S.A. Cotações de preços. Disponível em:http://www.ceasacampinas.com.br/cotacoes.php. Acessado em: 04/02/2009.

DECHEN AR; HAAG HP; CARMELLO QAC. 1991. Funções de micronutrientes nas plantas.In: FERREIRA ME; CRUZ MCP. (eds.). Micronutrientes na agricultura. Piracicaba: POTAFOS/CNPQ. p.65-78.

EMBRAPA. 1999. Sistema Brasileiro Classificação de Solos. Rio de Janeiro:Embrapa Solos.412p.

GUPTA UC; LIPSETT J. 1981. Molybdenum in soils, plants, and animals. Advances in Agronomy34: 73-115.

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PURQUERIO LFV; TIVELLI SW. 2007. Multicultivo de alface em sistema de plantio direto. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 47. Anais... Brasília: ABH. HorticulturaBrasileira 25. Suplemento CD-ROM. Disponível em http://www.abhorticultura.com.br/eventosx/ViewTrabalho.aspx?idtrabalho=583&idevento=1&tipo=TRABALHOS. Acessado em 23 demarço de 2009.

TRANI PE; CANTARELLA H; TIVELLI SW. 2005. Produtividade de beterraba em função de doses de sulfato de amônio em cobertura. Horticultura Brasileira 23: 726-730.

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Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

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Figura 1. Precipitação e temperaturas máxima e mínima durante o período experimental [Precipitationand maximum and minimum temperatures during the experimental period]. IAC, São José do Rio Pardo –SP, 2008.

Figura 2. Produtividade por metro quadrado (A) e por hectare (B) total de raízes de beterraba e das suasclassificações comerciais (refugo, Extra A, Extra AA), em função de doses de nitrogênio em cobertura[Total yield of table beet roots by square meter (A) and hectare (B) and for each ranking (refugo, Extra Aand Extra AA), in function of side dressing nitrogen doses]. IAC, São José do Rio Pardo – SP, 2008.

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Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 372S

Produtividade e qualidade de beterraba cultivada em plantio direto em função do nitrogênio e molibdênio

Figura 3. Número de raízes de beterraba total e das classes comerciais (refugo, Extra A e Extra AA) (A)e incidência de anéis brancos (B) nas raízes, em função de doses de nitrogênio em cobertura [Totalnumber of table beet roots and for each ranking (refugo, Extra A and Extra AA) (A) and white ring incidencein roots, in function of side dressing nitrogen doses]. IAC, São José do Rio Pardo – SP, 2008.

Tabela 1. Médias de produtividade (P) e número (N) de raízes de beterraba total (T) e de acordo com asclassificações comerciais (Refugo, Extra A e Extra AA) e incidência de anéis brancos (AB), em função daaplicação foliar de molibdênio [Means of total (T) yield (P) and number (N) of table beet roots, according to eachranking (refugo, Extra A and Extra AA) and white ring (AB) incidence, in function of molybdenum leaf spray]. IAC,São José do Rio Pardo – SP, 2008.

Trat. PT PRef1

PExtraA PExtraAA NT NRef NExtraA NExtraAA AB3

g m-2

número nota4

SemMo 5173 a1

181 a 1905 a 3103 a 64,2 a 15,2 a 31,9 a 17,1 a 1,7 a

ComMo 5485 a 167 a 1943 a 3336 a 66, 6 a 15,0 a 33,0 a 18,6 a 1,5 a

DMS 433,0 61,8 408,0 494,9 4,9 3,92 6,3 3,3 0,3

CV% 14,1 61,9 37,0 26,8 12,9 45,3 33,9 32,6 8,41Refugo < 5 cm; Extra A entre 5 e 9 cm; Extra AA entre 9 e 12 cm;

2Médias na coluna, seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey 5%;

3Incidência de anéis brancos transformados (raiz quadrada de x+1), porém dados originais são apresentados

na tabela.4Notas: 1 – sem anel; 2 – primórdios de anel; 3 – com anel.