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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O NEGRO, O ENSINO PROFISSIONAL E SUAS ESCOLHAS NO CEEP –

CURITIBA

Wilzeli Rejane do Amaral

Resumo:

Este artigo indica algumas contribuições que podem servir para o aluno negro e

suas escolhas ao ingressar no ensino profissional. Está inserido na linha de

estudos de Pedagogia e Diversidade como forma de apoio e conscientização aos

alunos negros e negras do Centro Estadual de Ensino Profissional – CEEP -

Curitiba, pois acredito que a capacidade de desenvolvimento, autoconfiança e um

auto-respeito no âmbito familiar, escolar, social e etc. está no ser humano e não

em seu tipo fenótipo. É significativo para conscientizá-los de que são capazes de

ingressarem e terem uma desenvoltura tão exemplar quanto de qualquer outro

aluno não negro entendendo que seu horizonte pode se expandir em outros

ramos profissionais. Sua problematização vem do descaso, o abandono

institucional, a discriminação racial e as conseqüências nefastas desta, como a

exclusão social e a miséria nos quais vivem os afrodescendentes que não

finalizaram com a lei áurea, eles continuam com a privação de reflexões sobre as

relações raciais o que contribui para que as desigualdades de fenótipo entre

negros e brancos sejam classificadas como desigualdades naturais. O objetivo

deste é analisar as escolhas dos estudantes negros/as que optam pelos cursos

profissionalizantes de eletromecânica e edificações no Centro Estadual de Ensino

Profissional (CEEP), modalidade subsequente, correlacionando estas escolhas

com seu pertencimento étnico-racial e partindo deste implantar atividades

relacionadas à escolha profissional e seu pertencimento racial que estimulem,

envolvam e motivem os estudantes negros/as a elegerem outros cursos.

Palavras-chave: Ensino Profissional, Negro e Educação.

Abstract:

This article indicates some contributions that can serve for the black student and

their choices to get enter to the vocational education. Inside the studies of

Pedagogy and Diversity line in support and consciousness of black students of the

Centro Estadual de Ensino Profissional – CEEP Curitiba, because I believe that

the ability to develop self-confidence and self-respect in school, family and within

society etc., is the human being and not yours phenotype. It’s meand very

important to make them aware of you are able to join and have such an exemplary

aplomb as any other not black student understanding that can expand your

horizon in other occupational sectors. Those problems come from neglect

institutional racial discrimination and the adverse consequences of this, such as

social exclusion and poverty in which they live African descent. Some times His

questioning comes from in a careless institutional neglect, racial discrimination and

the adverse consequences of this, how will get out this problem about us where

it´s from of this negligence such as deleting His questioning comes from

institutional neglect, racial discrimination and the adverse consequences of this,

such as social put out and poverty or misery in which African descent who live not

finished with the golden law, they continue with the deprivation of reflections on

race relations which contributes to the phenotype inequalities between blacks and

whites are classified as natural inequalities. The goal is to analyze the choices of

blacks the students who choose for vocational courses electromechanical and

buildings in State Center for Professional Education (CEEP), subsequent mode,

correlating these choices with their ethnic-racial belonging and leaving this to

implement related activities career choice and his racial belonging that stimulate,

engage and motivate black students to elect the other courses.

Keyword: Vocational Education, black man eeducation.

1 Introdução

O trabalho aqui apresentado teve como fonte de pesquisa o Centro de

Estadual de Educação Profissional – Curitiba, o qual trabalho e tenho a intenção

de apresentar as condicionantes de escolhas dos alunos negros e das alunas

negras nos cursos ofertados por esse centro.

Trabalho em uma escola de ensino médio integrado e ensino profissional.

Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba - CEEP-Curitiba.

O CEEP-Curitiba oferece cinco cursos profissionalizantes prestes a ter mais dois

cursos com previsão para 2015. Posto isto, pretendo elaborar o meu tema ligado

ao homem e a mulher

negra no ingresso do ensino profissional, seu percurso e conclusão.

Penso nisso porque desde que entrei no Centro Estadual de Educação

Profissional – Curitiba percebi, sem dados estatísticos, que os cursos mais

procurados por alunos e alunas afro-descendentes eram de eletromecânica e

edificações, visto que, além destes, o centro oferece mais três cursos que são:

técnico em química, técnico em meio ambiente e técnico em eletrônica.

A minha preocupação é na modalidade subsequente, visto que as turmas de

alunos e alunas desta modalidade iniciam com 40 (quarenta) ou mais e apenas 12

(doze), 17 (dezessete), no máximo 20 (vinte) alunos concluem (não é um dado

real). O que não acontece na modalidade médio integrado.

Percebo que é um direito de todos e todas ter uma educação voltada para o

trabalho e por questão o principal eixo da política da igualdade como princípio

norteador da educação profissional. Sendo os alunos e as alunas na sua maioria

adulta que ingressam no CEEP – Curitiba e na sua maioria estão há algum tempo

fora do processo escolar, com algumas e às vezes grande dificuldade na

apreensão e na construção do conhecimento científico.

Esses alunos possuem uma certa especificidade que os singulariza e creio que

aprender para eles, além que se manterem no sistema escolar após passarem

por alguns anos, ou até muitos, de exclusão, é um suportar árduo para um

terceiro turno.

A formação profissional, desde as suas origens, sempre foi reservada às classes

menos favorecidas, estabelecendo-se uma nítida distinção entre aqueles que

detinham o saber e os que executavam tarefas manuais (ensino profissional). Ao

trabalho, freqüentemente associado ao esforço manual e físico, acabou se

agregando ainda a idéia de sofrimento. Aliás, etimologicamente o termo trabalho

tem sua origem associada ao “tripalium”, instrumento usado para tortura. A

concepção do trabalho associado a esforço físico e sofrimento inspira-se, ainda,

na idéia mítica do “paraíso perdido”.

2 Fundamentação Teórica:

A herança colonial escravista influenciou preconceituosamente as relações

sociais e a visão da sociedade sobre a educação e a formação profissional. O

desenvolvimento intelectual, proporcionado pela educação escolar acadêmica,

era visto como desnecessário para a maior parcela da população e para a

formação de “mão-de-obra”. Não se reconhecia vínculo entre educação escolar e

trabalho, pois a atividade econômica predominante não requeria educação formal

ou profissional.

O segundo ato oficial foi uma lei complementar à constituição de 1824 que

colaborou e muito a encurralarem a população negra nos porões da sociedade

que até hoje não conseguiram se estabelecer. “... pela legislação da época do

império, “os professores receberiam por seus discípulos todos os indivíduos, que,

para aprenderem primeiras letras, lhe fossem apresentados, exceto os cativos, e

os afetados de moléstias contagiosas”. Então quando os negros eram libertos,

estes eram considerados doentes de moléstias contagiosas.

Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma

alavanca de ascensão social, econômica e política de um povo. Juridicamente

este decreto agiu até 1889, com a proclamação da República. Na prática a

intenção do decreto funciona até hoje. Por exemplo: por que as escolas das

periferias não tem, por parte do governo, o mesmo tratamento qualitativo igual ao

das escolas das cidades? Como é que uma pessoa afrodescendente favelada

terá motivação para estudar numa escola de péssima qualidade?

O saber, transmitido de forma sistemática através da escola, e sua

universalização, só foi incorporado aos direitos sociais dos cidadãos bem

recentemente, já no século XX, quando se passou a considerar como condições

básicas para o exercício da cidadania a educação, a saúde, o bem-estar

econômico e a profissionalização.

A contribuição da educação escolar em todos os níveis e modalidades para

o processo de universalização dos direitos básicos da cidadania é valorizada pela

sociedade brasileira cujos representantes aprovaram a LDB.A educação

profissional, particularmente, situa-se na conjunção do direito à educação e do

direito ao trabalho.

O direito de todos à educação para o trabalho é por esta razão o principal

eixo da política da igualdade como princípio orientador da educação profissional.

Nosso país tem a maior população negra do mundo e no decorrer de sua

trajetória histórica produziu um quadro de extrema desigualdade entre o negro e o

branco. O governo não admitia a questão racista e a discriminação racial como

um dos fatores a mostrarem os mais baixos índices de desenvolvimento humano

do negro. Diante desse silenciamento, o negro resiste e rebate, atualmente mais

ainda, a imagem do país apoiar o movimento da democracia racial.

Após ler o livro de Rita de Cássia Fazzi, “O drama racial de crianças brasileiras”, e

analisando que pesquisas foram feitas com alunos na faixa etária entre 7 a 14

anos de uma escola, me remete atribuir que desde a infância essas crianças já

têm um parecer negativo com relação ao não branco.

A educação profissional tem por objetivo criar cursos direcionados ao

mundo do trabalho, tanto para os estudantes que nunca trabalharam quanto para

aqueles que buscam qualificação e atualização profissional.

Tendo em vista que a forma de como o ser humano reage em sua vida

cotidiana é determinado pelo que ele pensa que é, acredita-se que a capacidade

de desenvolver uma autoconfiança e um auto-respeito são conseqüências do que

o ser humano vive no âmbito familiar, escolar, social e etc.

Em Educação Para Todos, Educação anti-racista: caminhos abertos pela

Lei Federal nº 10.639/03 (2005), consta que estudos feitos comprovam que a

existência do racismo, do preconceito e da discriminação racial na sociedade

brasileira e, em especial, no cotidiano escolar acarreta aos indivíduos negros:

auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de

reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente;

timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de

reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de

aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente, evasão escolar. Os

itens acima elencados e principalmente os destacados, me fazem acreditar que

uma das questões relevantes a essas preferências que, desde pequeno, ele

aprende, na maioria das famílias de origem africana, que o cidadão negro está

inadequado a determinadas profissões preterindo-as então, desmotivando seu

acesso a outros cursos por se achar incapaz.

Outra questão não menos relevante é o fato de que os conteúdos

abordados e apresentados aos alunos privilegiam uma única forma de cultura

branca, européia, como uma forma aceitável de ser no mundo moderno e as

outras culturas étnicas são tidas como diferentes e desiguais, portanto fora dos

padrões dominantes em nossa sociedade.

3 Desenvolvimento

Na minha trajetória educacional como pedagoga e há seis anos no Centro

Estadual de Ensino Profissional – Curitiba, situado na rua Frederico Maurer, 3015,

bairro Boqueirão que oferta os cursos técnico em química, educação ambiental,

eletrônica, eletromecânica e edificações, tenho observado o ingresso de alunas

negras e de alunos negros nos referidos cursos e percebo que na sua maioria, os

estudantes negros e negras direcionam suas escolhas, de sobremaneira, aos

cursos de “Edificações” e “Eletromecânica”.

O que leva esses jovens negros a se matricular nestes cursos? Esses

alunos ingressam no CEEP - Curitiba e optam pelos cursos acima destacados por

acharem que são os cursos aos quais se sentem melhor capacitados? Ou lhes

cabem por sua identidade étnica? Ou seria uma forma mais rápida de adentrar no

mundo do trabalho com um certificado? E por fim, a ultima questão a ser

analisada é pesquisar se os alunos negros do CEEP – Curitiba não ingressam

nos outros cursos por acharem que os cursos de química, meio ambiente e

eletrônica são cursos de elite e portanto não “devem” ser freqüentados por não

brancos?

Cabe então, refletir sobre quatro eixos: se o ingresso no curso vem de uma

influência do espaço familiar se identificando com sua condição socioeconômica e

dos seus, ou vem através do seu contato no decorrer da sua formação escolar.

Haverá uma espécie de “Estereótipo racial e comportamento cotidiano

preconceituoso” nessas escolhas? Conforme cita Fazzi (2006, p.113-114), o que

nos me remete a entender que desde tenra idade, em período escolar, os

menores já têm um pensamento pautado pela noção de “raça” como “um princípio

classificador humano relacionando o positivo ao branco e o negativo ao preto”, ou

por último, acharem que os outros cursos oferecidos no CEEP - Curitiba sejam de

categoria mais elitistas não cabendo assim para suas pretensões.

Considero este artigo significativo para analisar as escolhas desses jovens,

e a partir daí direcionar atividades relacionadas à escolha profissional e seu

pertencimento racial, para que esses estudantes saibam da importância de outros

cursos, da conscientização de que são capazes de ingressarem e terem uma

desenvoltura tão exemplar quanto de qualquer outro aluno não negro e entendam

que seu horizonte pode se expandir em outros ramos profissionais.

Na sua trajetória de vida, quantos profissionais do alto escalão, que sejam negros,

você conheceu e/ou conhece?

CARNEIRO (2000, P 9) diz que:

“Durante cinco séculos consecutivo, negros, mulatos, [...] uns mais, outros menos, foram discriminados pelo homem branco cristão. Foram, em momentos distintos e sob diferentes justificativas, tratados como seres inferiores, em função de sua cultura, raça ou condição social.”

Partindo desse pressuposto o artigo tem a intenção resgatar a história da

educação escolar do negro, bem como analisar e redescobrir o sentido da

escolha de alunos não brancos que ingressam no Centro Estadual de Educação

Profissional (CEEP) – Curitiba que optam pelos cursos de Eletromecânica e

Edificações. Vale lembrar que este último, há dois anos levava a nomenclatura de

Construção Civil, na época, quem sabe influenciados pelo nome do curso,

apresentava um maior número de alunos e alunas da raça negra.

Talvez essa escolha ainda seja guiada pela suas trajetórias educacionais

seja familiar ou escolar, já intrínseca no pensamento dessa população e em suas

raízes sócio-econômicas. Acredito que esse trabalho irá ajudar a consolidar um

caminho para a construção de uma luta antirracista e contribuir para que haja

maior visibilidade social, política e econômica na comunidade escolar deste

estabelecimento de ensino.

Penso que o artigo em questão poderá contribuir com uma metodologia

diferenciada que motive o acesso e permanência de não brancos na escola além

apresentar um norte em sua expectativa de vida bem como sua auto-estima em

benefício da igualdade social.

Florestan Fernandes (1972, p. 28) aponta que “a imigração apenas

agravou, como e enquanto fator histórico, as diferentes expressões assumidas

pela desigualdade racial na vida social do negro e do mulato”.

Poucas são as bibliografias que relatam sobre o negro, o ensino

profissional e o seu pertencimento étnico deixando subentendido que por já estar

marginalizado não há interesse da sociedade em pesquisar, relatar, debater sobre

o tema em questão. Posto isto, penso que o aluno negro e a aluna negra se

estagnaram nessa posição de submissão/inferioridade e acomodaram-se nesse

patamar a ponto de acreditarem que lhes cabe somente esses cursos, dos quais

escolheram.

Compreende-se que existem tensões que são guiadas pelas ideologias

racistas que permeiam a construção do pertencimento e da identidade étnico-

raciais e que interferem negativamente na trajetória educacional dos negros/as.

Neste sentido, a escola enquanto local de discussão, (re) construção do

conhecimento deve reconhecer a necessidade de debater o tema e fazê-lo por

meio de uma nova “visão”, que investigue o passado utilizando diversos

documentos e fontes que propicie aos alunos/as a compreensão de como o

preconceito étnico-racial constituiu-se, como, quando e por que foram

(re)construídos.

Para Nogueira (2007, p.138) existem significados negativos e positivos

para o processo de construção do pertencimento e da identidade étnico-raciais.

Um aspecto positivo é o “sentimento que está ligado à tomada de consciência

coletiva do processo histórico-ideológico”. Sobre o aspecto negativo, está a

postura/atitude de culpabilizar os/as negros/as pela sua situação de desvantagem

social desresponsabilizando as elites brancas do processo de colonização e

marginalização. A autora nos remete aos estudos de Andrade (2006) e Valente

(1987) afirmando que tal postura mascara um processo coletivo, social e histórico,

como se fosse restrito à comunidade negra. Essa postura é fortalecida pelo “mito

da democracia racial”, incitando o negro/a, a assumir total responsabilidade sobre

algo que não depende somente de si, mas de todo um contexto histórico-social,

gerando forte carga emocional negativa para esta pessoa.

Assim, o/a negro/a que incorpora a ideologia da “democracia racial” como

válida terá dificuldade de estabelecer um processo identitário com outros

negros/as, que ele mesmo culpabiliza.

Nogueira (2007) afirma que em nossa sociedade está estabelecida uma

relação de desqualificação, o que estabelece um lugar subalterno ou de

subordinação tanto nas relações de estudo como nas de trabalho, equivalentes ao

“lugar social de inferioridade” reservado aos negros/a no Brasil.

Sobre isto o estudo de Theodoro (2008) propõe a discussão sobre a

naturalização do fato que “a pobreza está associada à negritude”, “decorrente da

própria trajetória do racismo que permeia a história do país”. Isto ilustra o que já

foi provado com os dados do IBGE e do IPEA, sobre a situação desfavorável dos

negros/as em relação aos brancos no mercado de trabalho e no campo

educacional. Sendo que estes possuem menor escolaridade, estão em piores

ocupações e recebem menores rendimentos.

Florestan Fernandes (1972, p. 99-102) há décadas atrás já apontava a

existência de um paralelismo entre a “cor” e a “posição social”, onde a figura do

negro está ligada a figura do escravo, mesmo pós-abolição. E ainda faz menção

as expressões “negro de alma branca”, trazem a ideia de que “ser negro é ruim”,

e a perfeição das atitudes morais está no fato de “ser branco”, ou de “ser parecido

com o branco”, o que explica o fenômeno da mestiçagem.

Por não ser “lugar de negro/a”, o espaço escolar é permeado de

discriminação e preconceito, resquícios da construção de um imaginário coletivo,

marcando muitas vezes, negativamente a trajetória educacional dos estudantes

negros/as, o que justifica (pelo menos um dos motivos) a opção pela qualificação

profissional aligeirada para o mercado de trabalho após o término do Ensino

Médio, e a não opção em adentrar no mundo acadêmico-universitário; e quando

adentram a preferência por cursos menos procurados e valorizados pela elite

branca.

Barrar o acesso à cultura letrada significava manter uma superioridade na

certeza de que o conhecimento histórico é ferramenta indispensável para

ascensão profissional e consecutivamente social. As alternativas de trabalho eram

mínimas. Desde sempre as condições de vida uma população negra brasileira

fora largada à margem da sociedade, evidenciando assim, que o acesso e a

permanência deles no sistema educacional é permeado por uma série de

entraves.

Penso então que a escolha do curso na educação profissional para os

alunos negros/as para qual ele se vê inserido no contexto é feita devido às tantas

mazelas raciais que encontra ao longo de sua trajetória familiar que já vem com o

ranço da sociedade, educacional visto que a escola não trabalha devidamente os

conceitos das relações étnicas e se trabalha, é de forma tão tênue e superficial ao

entendimento dos alunos.

A ausência de referência positiva na vida da criança, seja nos livros

didáticos e no espaço escolar, traz prejuízos à construção da identidade da

criança negra que pode chegar à fase adulta com total rejeição à sua origem

racial, prejudicando-lhe a vida cotidiana. O contrário é fácil de acontecer, desde

que se tragam referências positivas de seu povo, reforçando o sentimento de seu

pertencimento racial.

Analisando os dados da pesquisa elaborada e aplicada para os alunos da

modalidade subseqüente e Proeja, pude observar que antes de iniciar a pesquisa

propriamente dita, através de uma conversa informal com os alunos em sala de

aula para saber o porquê das suas escolhas profissionais, alguns comentaram

que já trabalhavam no ramo, não por uma escolha, mas sim por uma

oportunidade de trabalho e não podiam perder o emprego. Outros teceram o

seguinte comentário, porém em proporção menor: Que já estão trabalhando nesta

área e precisam concluir o curso, ou para mudar de função, ou para não serem

demitidos. Muitos deles explanaram que fizeram a escolha, influenciados por

membros de suas famílias devido alguns deles já estarem inseridos nesse ramo

profissional como uma espécie de opção previa de escolha o que subjetivamente

pode dar a conotação de influência encontrada na família.

Levando em consideração essa hipótese, quero narrar uma conversa que

tive com três senhoras, Donana, D. Mariazinha, Tia Doca e dois senhores, o seu

Zé Costa e o Tio Edu, numa faixa etária entre setenta até oitenta e sete anos em

um café organizado por uma das minhas tias de noventa e dois anos, Dona Maria

da Luz Costa.

Observei que a fala deles ao retratar a época em que eram ainda

adolescentes já acompanhavam seus pais para o labor a fim de aprender a “lida”

e já ter um ofício para quando chegasse o momento de trabalhar, pois já tinham

ciência da impossibilidade de estudar e conquistar um emprego melhor. “A gente

já sabia que seria doméstica, mesmo!”, Donana comentou. Nessa pesquisa

realizada com essas senhoras e esses senhores, Ana Maria da Luz Conceição

(Donana), 82 anos e Maria Pereira (D. Mariazinha), 87 anos, Dorvalina (Tia

Doca), 70 anos, José Costa Jordão (Seu Zé Costa), 79 anos, João Eduardo da

Silva (Tio Edu), 82 anos, percebe-se que todos fazem uma relação direta entre

cor, posição social e o espaço que o homem negro e a mulher negra “devem”

ocupar.

Ao ser questionada sobre quais eram suas expectativas de trabalho

quando nova, Donana da Luz, comentou que: “Naquela época não havia muita

chance de outros trabalhos, o “jeito” era ir trabalhar como doméstica na casa da

patroa com a mãe”. Seu Zé Costa respondeu: “Todos os filhos, que eram quatro,

iam para a “lida” junto com o pai, que era pedreiro, porque tinha muito serviço e

não dava tempo para estudar, não!”. Já, Tio Edu quando questionado sobre o

assunto, respondeu que seu pai lhe dizia ao pedir para o pai para estudar :

“Estudar para quê? A lavoura precisa de tudo mundo aqui!”. Minha tia Maria da

Luz comentou que o “ofício” se aprendia com os pais, ou indo para a lavoura, para

a casa da patroa, etc. Ela, no caso, aprendeu seu “ofício” com a mãe e aos 23

anos foi trabalhar na cozinha do Hospital de Clinicas de Curitiba, lá se

aposentando.

E assim, todos os entrevistados deixavam claro que os estudos, pelo menos na

época, para os pais e para muitos daquele convívio social não eram prioridade.

Os negros, que em sua maciça maioria faziam parte da classe baixa, “conheciam

seu lugar”, e a elite, quase toda branca, podia cerrar estreitamente suas fileiras

sem se sentir ameaçada (Azevedo, 1966; Pierson, 1942; Hutchinson, 1957).

Voltando à análise da pesquisa, foram entrevistados 205 alunos e alunas dos

quais 70 estavam cursando o primeiro semestre e 33 o segundo semestre do

curso técnico em edificações, 72 alunos no primeiro semestre e 30 no segundo

semestre do curso técnico em eletromecânica.

A pesquisa foi elaborada e aplicada por mim contendo os seguintes dados:

Nome, curso, semestre, sexo, ao qual marcariam “M”, no quadrado referente ao

sexo masculino e “F”, referente ao sexo feminino. Cor: Neste item marcariam uma

das quatro opções oferecidas. Branca, Preta, Parda, Amarela e responderiam as

seguintes perguntas:

O que você cursou no Ensino Médio?

O que desejaria cursar?

Se pudesse trocar, qual curso do CEEP escolheria?

Depois de computados os itens acima discriminados, a pesquisa apresentou os

seguintes resultados:

Dos alunos e alunas, 108 se auto declararam brancos, 99 deles optaram pelo

curso e não trocariam. 72 se auto declararam pardos, dos quais 63 optaram pelo

curso e queriam trocar. Dos 25 que se auto declararam pretos, 19 deles gostariam

de trocar de curso. Apenas para ter um parâmetro sobre a incidência de alunos

não brancos em outras turmas, apliquei a mesma pesquisa para os alunos do

primeiro semestre do curso técnico em química que dos 72 que foram

entrevistados, apenas 4 se auto declararam pretos e 13 se auto declararam

pardos.

Percebe-se pelos dados acima descritos que os estudantes negros não estão

satisfeitos com a opção por estes cursos e ao contrário dos estudantes não

negros que na sua maioria não gostariam de mudar de curso!

Diante dessa estatística, orientar e sugerir uma reflexão a esses alunos e alunas

sobre três eixos: se o ingresso no curso vem de uma influência do espaço familiar

se identificando com sua condição socioeconômica e dos seus, ou vem através

do seu contato no decorrer da sua formação escolar criando uma espécie de

“Estereótipo racial e comportamento cotidiano preconceituoso” conforme cita

Fazzi (2006, p.113-114) em seu livro: “O drama racial de crianças brasileiras:

socialização entre pares e preconceito” ao qual faz uma análise sobre o

preconceito racial e o discurso relativizador, igualitário, já elaborado por crianças

de 7 a 10 anos num processo de formação de uma realidade preconceituosa,

destacando a potencialidade do preconceito racial e do racismo, o que nos me

remete a entender que desde tenra idade, em período escolar, os menores já têm

um pensamento pautado pela noção de “raça” como “um princípio classificador

humano relacionando o positivo ao branco e o negativo ao preto, ou por último,

acharem que os outros cursos oferecidos no CEEP - Curitiba sejam de categoria

mais elitistas não cabendo assim para suas pretensões.

Por acreditar que não é “lugar de negro/a”, o espaço escolar é permeado

de discriminação e preconceito, resquícios da construção de um imaginário

coletivo, marcando muitas vezes, negativamente a trajetória educacional dos

estudantes negros/as, o que justifica (pelo menos um dos motivos) a opção pela

qualificação profissional aligeirada para o mercado de trabalho após o término do

Ensino Médio, e a não opção em adentrar no mundo acadêmico-universitário; e

quando adentram a preferência por cursos menos procurados e valorizados pela

elite branca.

Diante disse crescem as iniciativas de promoção da igualdade racial que

vão conquistando cada vez mais destaque e espaço, porém essas ações voltadas

para a inserção dos negros no mercado de trabalho ainda são tímidas para

enfrentar o tamanho do preconceito existente na sociedade brasileira.

Com isso, foi ressaltado e esclarecido aos alunos negros e alunas negras

deste Centro que, além de tomarem ciência das suas inquietações e as

problemáticas raciais que merecem serem repensadas e investigadas com mais

profundidade, esse repensar contribui para a visibilidade do tema em questão as

quais terão oportunidade de externar seus pensamentos em debates, se

apropriando de um discurso de valorização e empoderamento, superando-se no

decorrer do tempo.

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RESOLUÇÃO nº 382 de 1º de julho de 1854