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www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depósito legal: 2005-5822 1 Derecho y Cambio Social BRASIL E VENEZUELA: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DEMOCRACIAS CONSTITUCIONALMENTE PREVISTAS Roberta Pacheco Antunes 1 Fecha de publicación: 01/05/2016 Sumário: Introdução. 1.- contexto histórico e surgimento das constituições. 2.- Democracia. 3.-. Cotejo entre ambas as constituições. Conclusão. Referências bibliográficas. Resumo: O presente trabalho discorre acerca da atual Constituição Bolivariana da Venezuela, promulgada em 1999, a qual surgiu a partir da ascensão do Governo Chávez, que restou possibilitada pela deterioração das premissas inauguradas com o Pacto de Punto Fijo, traçando um paralelo com a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, após o fim da ditadura militar que perdurou por longos anos. Para tanto, aborda-se a contextualização histórica desde a colonização e até o surgimento das referidas Constituições e de suas principais características no tangente ao sistema político adotado em cada Estado, bem como, os aspectos democráticos dos referidos sistemas políticos, traçando um comparativo entre ambos e limitando-se ao texto constitucional de cada uma das nações. Palavras-chave: Constituição. Venezuela. Brasil. Democracia. 1 Advogada. Graduada em direito pela UNIFOZ - Faculdades Unificadas de Foz do Iguaçu, no ano de 2004. Especialista pela Escola da Magistratura do Paraná - EMAP (2005). Especialista em Direito Constitucional pela UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina (2007-2008). Professora no módulo de Direito Constitucional na Escola da Magistratura do Paraná - Núcleo de Foz do Iguaçu/PR e professora da disciplina de Direito Constitucional na FAFIG, CESUFOZ e UNIFOZ, todas em Foz do Iguaçu/PR. Desenvolveu o presente artigo cursando disciplina denominada "Sistemas Políticos dos Países do Mercosul" como aluna especial no Curso de Pós-Graduação Strictu Sensu em Integração Contemporânea da América Latina. E-mail: [email protected]

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Derecho y Cambio Social

BRASIL E VENEZUELA:

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DEMOCRACIAS

CONSTITUCIONALMENTE PREVISTAS

Roberta Pacheco Antunes1

Fecha de publicación: 01/05/2016

Sumário: Introdução. 1.- contexto histórico e surgimento das

constituições. 2.- Democracia. 3.-. Cotejo entre ambas as

constituições. Conclusão. Referências bibliográficas.

Resumo: O presente trabalho discorre acerca da atual

Constituição Bolivariana da Venezuela, promulgada em 1999, a

qual surgiu a partir da ascensão do Governo Chávez, que restou

possibilitada pela deterioração das premissas inauguradas com o

Pacto de Punto Fijo, traçando um paralelo com a Constituição da

República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, após o

fim da ditadura militar que perdurou por longos anos. Para tanto,

aborda-se a contextualização histórica desde a colonização e até

o surgimento das referidas Constituições e de suas principais

características no tangente ao sistema político adotado em cada

Estado, bem como, os aspectos democráticos dos referidos

sistemas políticos, traçando um comparativo entre ambos e

limitando-se ao texto constitucional de cada uma das nações.

Palavras-chave: Constituição. Venezuela. Brasil. Democracia.

1 Advogada. Graduada em direito pela UNIFOZ - Faculdades Unificadas de Foz do Iguaçu, no

ano de 2004. Especialista pela Escola da Magistratura do Paraná - EMAP (2005).

Especialista em Direito Constitucional pela UNISUL - Universidade do Sul de Santa

Catarina (2007-2008). Professora no módulo de Direito Constitucional na Escola da

Magistratura do Paraná - Núcleo de Foz do Iguaçu/PR e professora da disciplina de Direito

Constitucional na FAFIG, CESUFOZ e UNIFOZ, todas em Foz do Iguaçu/PR. Desenvolveu

o presente artigo cursando disciplina denominada "Sistemas Políticos dos Países do

Mercosul" como aluna especial no Curso de Pós-Graduação Strictu Sensu em Integração

Contemporânea da América Latina. E-mail: [email protected]

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BRAZIL AND VENEZUELA: COMPARATIVE ANALYSIS

AMONG DEMOCRACIES CONSTITUTIONALLY

PROVIDED

Abstract: This paper discusses about the current Bolivarian

Constitution of Venezuela, enacted in 1999, which arose from

the Government Chavez rise, which remained possible by the

deterioration of the premises opened with Punto Pact Fijo,

drawing a parallel with the Constitution the Federative Republic

of Brazil, promulgated in 1988, after the end of the military

dictatorship that lasted for many years. To this end, deals with

the historical context since colonization and even the emergence

of these Constitutions and of its main features in tangent to the

political system adopted in every state as well, the democratic

aspects of these political systems, drawing a comparison

between both and limiting to the constitution of each nation.

Keywords: Constitution. Venezuela. Brazil. Democracy.

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INTRODUÇÃO

Em meados da década de 1980, o Brasil, que passava pelo final da ditadura

e pela derrota no movimento denominado diretas já, encontrava-se diante

da necessidade imprescindível de elaboração de uma nova Constituição que

viesse a refletir a nova sociedade que se apresentava, exaurida pelo período

denominado historicamente como "era de chumbo" decorrente de mais de

duas décadas de ditadura militar e repleta de ideais democráticos e sociais.

Assim, nesta perspectiva ideológica democrática, restou convocada

uma Assembléia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração da

atual Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em cinco

de outubro de 1988, rompendo por completo com a ordem política e

jurídica anterior e vigente até o momento. Aludida Constituição

caracteriza-se pelo ideal de democracia que busca traduzir, o que se

vislumbra primordialmente pela forma exacerbada como aborda e

resguarda direitos individuais e coletivos, pela proteção concernente aos

direitos sociais, bem como pelo formato de tripartição de poderes

estabelecendo um sistema de freios e contrapesos aparentemente eficiente,

tanto, ao ponto de não haver preponderância de um poder sobre outro.

Todavia, no tangente aos mecanismos de participação popular, em que pese

presentes no texto constitucional, ao longo dos anos se mostraram de pouca

utilização e de reflexos quase inexistentes no contexto político do país.

Nesta perspectiva, primeiramente cumpre um esboço histórico tanto

do Brasil como da Venezuela desde o período pós colonial até o momento

de promulgação das Constituições analisadas, traçando um paralelo entre

ambas, sob este prisma.

Em seguida, adentra-se a análise da democracia estabelecendo-se a

conceituação da mesma, mediante o esclarecimento dos critérios

pesquisados em cada uma das Nações.

Estabelecidos aludidos critérios, passa-se a verificação destes por

meio de suas respectivas previsões constitucionais, mormente no tangente

aos sistemas políticos, tanto da República Federativa do Brasil como da

República Bolivariana da Venezuela, realizando-se o cotejo entre ambas,

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elencando pontos de divergência e convergência preponderantes para se

avaliar o aspecto de abordagem constitucional democrática de cada nação.

Ressalta-se que presente trabalho não pretende abordar o atual

momento fático de crise política e institucional de ambas nações, e, sim,

apenas tratar do aspecto teórico constitucional de ambas.

1 CONTEXTO HISTÓRICO E SURGIMENTO DAS

CONSTITUIÇÕES

A partir do século XVIII, em específico com a Constituição dos Estados

Unidos em 1787 e a Constituição Francesa em 1781, o constitucionalismo é

sedimentado e a idéia de nascimento de um Estado sistematizada em um

documento único denominado Constituição toma força e as nações

modernas passam a utilizar aludida sistemática a fim de traçar os contornos

básicos de organização política, social e jurídica de um determinado

Estado.

Assim, as nações passam a se constituir formalmente por meio deste

documento, expressando no mesmo, seus traços primordiais, extraídos do

seu contexto histórico de surgimento e dos ideais que almejam a partir da

nova sistemática político e jurídico a ser instaurada.

Essa constitucionalização faz com que se consiga, por meio da análise

deste documento único, aliado ao seu contexto histórico de surgimento,

observar os traços marcantes de ordem política, social e jurídica de uma

nação e é justamente neste contexto que nasce a Constituição da República

Federativa do Brasil, traduzindo, justamente, este estereótipo de Estado, o

que não ocorre de forma tão engessada no contexto venezuelano.

1.1 O Contexto Histórico da República Federativa do Brasil

O Brasil, apesar da também colonização Ibérica, distingue-se

primeiramente da Venezuela e demais países da América Latina, em razão

da colonização portuguesa e não espanhola, o que refletiu inclusive no

idioma oficial.

Ainda, após o período Colonial, o fato do Brasil ter se constituído em

um Império e, somente após, uma República, ao contrário dos demais

países da América Latina e, por óbvio da Venezuela, também marcou o

desenvolvimento histórico distinto entre as nações estudadas.

Nesta perspectiva, tem-se no Brasil, um período colonial que findou

com a Declaração da Independência datada de 07 de setembro de 1822, no

modelo Imperial, marcado pela outorga da Constituição de 1824, a qual

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apresentava um Estado Unitário, com um governo monárquico dotado de

quatro poderes, sendo eles Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador,

sendo este último destinado a viabilizar a prevalência da vontade do

imperador D. Pedro I. Neste período o Brasil ainda tinha uma religião

oficial, o voto era censitário e a Constituição até consignava direitos

individuais e as garantias pertinentes, todavia, de forma ainda superficial e

simplória.

A partir de então, observa-se que o processo constituinte tem uma

função balizadora de cada período histórico brasileiro. Desde a primeira

Constituição, a qual marcou a transição do "Brasil-Colônia" para o "Brasil-

Império", a história política do Brasil ficou marcada por Constituições que

perfazem marcos não só ideológicos de cada período, mas, também

jurídicos, fator este, que permite estudar a história do Brasil por meio da

análise das suas Constituições.

Somente em 15 de novembro de 1889, após a abolição da escravatura

que se deu em 13 de maio de 1888 é que ocorre a Proclamação da

República.

Diante da nova forma republicana de governo, uma nova Constituição

é promulgada, a qual restou inspirada no modelo de Constituição

estadunidense, a começar pelo nome Estados Unidos do Brasil, com forma

federativa de Estado, forma republicana de governo, sistema

presidencialista, tripartição de poderes (Executivo, Legislativo e

Judiciário), e com um afastamento da religião, visto que fez questão de se

apresentar como um Estado positivadamente laico. Ainda, tal constituição

tratou de prever os mesmos direitos e garantias fundamentais anteriormente

expostos, todavia, de forma um pouco mais aprimorada e, ainda

expressamente indicando que se tratava apenas de um rol exemplificativo

de direitos.

Após a Revolução Constitucionalista de 1932, surge a Constituição de

1934, promulgada e preservando a forma federativa de Estado, forma

republicana de governo, sistema presidencialista, tripartição de poderes

(Executivo, Legislativo e Judiciário) e a laicidade estatal. Acrescenta ainda

a previsão constitucional dos denominados direitos de nacionalidade e

políticos, tendo incorporado o título Da Ordem Econômica e Social, na

esteira das Constituições de pós-Primeira Guerra Mundial, reconhecendo os

direitos econômicos e sociais do homem, ainda que de maneira pouco

eficaz. Nesta Constituição restou previsto o voto feminino e a Ação

Popular. Entretanto, a mesma também prevê o aumento dos poderes da

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União em detrimento dos poderes dos Estados - Membros e a diminuição

dos Poderes do Senado.

Em 1937, Getúlio Vargas outorga a Constituição apelidada de Polaca

e sob o pretexto de preservar o Estado do Comunismo, prevê a

concentração de poderes nas mãos do Poder Executivo, apresentando um

federalismo nominal, uma vez que, na prática, o Brasil se apresentava com

nítidas características de Estado Unitário. O Senado, que já tinha sofrido

uma diminuição de atuação, desapareceu tal como vários direitos

fundamentais anteriormente conquistados (direito de greve, ação popular,

etc), sendo que o Brasil passou a ser governado por decreto-lei.

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, Getúlio Vargas teve sua força

minimizada, pois na 2ª Guerra o Brasil apoiou a Democracia (E.U.A)

contra a Alemanha, Japão, etc. Assim, restou incongruente, o Brasil, uma

ditadura defender a democracia.

Nesta perspectiva, em 1946 restou promulgada nova Constituição,

inspirada na de 1934, onde retomada a forma federativa de Estado, forma

republicana de governo, sistema presidencialista, tripartição de poderes

(Executivo, Legislativo e Judiciário). Ainda, está foi a primeira

Constituição no Brasil, a prever a vida como um direito fundamental.

Com a renúncia de Jânio Quadros e a presidência assumida por João

Goulart, em 1964 se instaura o Golpe Militar, tendo site outorgada em 1967

uma nova Constituição, com a idéia central de "legitimar" a ditadura.

Assim, vigente a Constituição de 1967, e, posteriormente alterada pela

Emenda Constitucional de 1969, no Brasil passou a vigorar a ordem

constitucional e a ordem institucional. A referida Emenda Constitucional

foi responsável por uma mudança tão grande que alguns entendem ter sido

uma nova Constituição, tendo, a partir deste momento, o Brasil vivido seu

pior momento.

Na década de 1980, a ditadura foi perdendo força por conta do

movimento diretas já e eleito, Tancredo Neves morreu, tendo assumido o

vice, José Sarney, o qual convocou uma Assembléia Nacional Constituinte.

A Emenda Constitucional n. 26, de 27.11.85, convocou uma

Assembléia Nacional Constituinte e em 01.02.1987 a mesma restou

instalada, sob a presidência do Ministro do Supremo Tribunal Federal José

Carlos Moreira Alves.

Aludida Assembléia, tratava-se de uma Assembléia Nacional

Constituinte formada pelos integrantes do Congresso Nacional da época, ou

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seja, deputados e senadores eleitos no final de 1985 e, também, senadores

eleitos em 1981 com mandato ainda vigente.

Em 05.10.1988 a nova Constituição restou promulgada, promovendo a

idéia de redemocratização do país, com avanços importantes, sendo

popularmente chamada Constituição Cidadã, tendo em vista a suposta

ampla participação popular durante a sua elaboração e a constante busca de

efetivação da cidadania.

Todavia, passados 27 anos da promulgação da atual Constituição da

República Federativa do Brasil, a mesma passa não só a sofrer inúmeras

críticas no tangente a eficácia dos institutos que prevê (principalmente os

que se referem a participação popular), mas, também, no tangente a

essência dos mencionados institutos.

Aludidas críticas tomam ainda mais força, a partir de um determinado

momento, onde se observa o surgimento de um novo movimento na

América Latina, onde a democracia passa a ter uma nova abordagem,

perseguindo uma nova organização política do Estado, incluindo

efetivamente os cidadãos nas decisões fundamentais de suas comunidades,

com o escopo de assegurar o protagonismo político do próprio povo. E, é

justamente sob esse novo prisma, que surge a Constituição venezuelana.

1.2 O Contexto Histórico da República Bolivariana da Venezuela

O processo de independência venezuelano perdurou entre 1810 e

1821, período em que se buscou a ruptura dos laços coloniais até então

impostos pelo Império Espanhol.

Por meio da independência venezuelana, outras sete províncias

espanholas na época, declararam também suas respectivas independências.

Assim, em 05 de julho de 1811 restou assinada a Ata da

Independência da Venezuela e, desde então, ao longo de sua história, a

Venezuela vivenciou inúmeros períodos marcados por instabilidades

políticas e econômicas, o que restou majorado após a morte de Simón

Bolivar, em 1830.

Aludido contestou ainda restou responsável pelo acirramento da

disputa pelo poder entre as oligarquias regionais. Ainda, após a morte do

idealizador da unificação, deflagrou-se a fragmentação da Grande

Colômbia, integrada por Colômbia, Equador e Venezuela.

Neste contexto, o "início do fim" do caudilhismo regional ocorre

durante o governo ditatorial do General Cipriano Castro, que perdurou

entre 1889 e 1908, e se consolida no governo do General Vicente Gómez

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entre 1908 e 1935, quando se alcança a centralização do poder

efetivamente.

Durante a ditadura gomezista a Venezuela:

(…) deixou para trás as velhas bases agrícolas e adentrou o mundo do

petróleo. Em pouco mais de duas décadas, passou de uma imensa fazenda

primitiva para um país de importância estratégica no mundo capitalista.

Estabelecendo a ordem das finanças e regularizando o pagamento da dívida

pública, Gómez solidificou a vínculo da região com a economia

internacional. (MARINGONI, 2009, p. 44)

A ditadura gomezista perdurou até a morte de General Vicente

Gómez, o qual deixou como legado uma Venezuela inteiramente voltada

para a indústria petroleira e igualmente dependente desta, com a economia

agrícola devastada e a maioria da população em situação de miserabilidade,

assumida pelo General Eleazar López Contreras em 1935.

(…) Contreras tinha diante de si uma país mais complexo, urbanizado e com

uma classe trabalhadora pequena, mas em acelerado processo de formação.

Um fenômeno novo se apresentava diante do poder de Estado: o movimento

de massas. (MARINGONI, 2009, p. 47)

A fim de conter os movimentos de massa que expressavam

descontentamentos, Contreras suspendeu garantias constitucionais o que

gerou instantânea reação de protesto e revolta por parte da população que

passou a exigir a democratização do país, momento, em que ganha

visibilidade Jóvito Villalba.

Em abril de 1941 ocorreu a eleição indireta para a escolha do sucessor

de Contreras, vencida por Isaías Medina Angarita, o qual governou na

tentativa de liberalizar e democratizar a vida pública, inclusive mediante

reforma constitucional que permitiu a legalidade de todos os partidos

anteriormente banidos.

A próxima eleição presidencial indireta seria em 1945, todavia, a

insatisfação com este método de escolha indireta faz com que a Venezuela

percorra outros rumos políticos:

(…) A AD afirmou discordar frontalmente da escolha indireta, como vinha

acontecendo até ali, e propôs um roteiro para tornar viáve a eleição direta. O

caminho seria a escolha de um mandatário provisório, enquanto se

organizava o pleito. Diante da negativa governamental, a AD realiza em 17

de outubro, uma manifestação com 20 mil pessoas em Caracas. O PCV, na

mesma semana, também vai às ruas, levando 8 mil pessoas e externando seu

apoio a Mediana Angarita. Os comunistas tentavam exaltar as caracerísticas

nacionalistas do governo, em contraposição aos setores tidos como mais

reacionários dominantes. Começava a ser ventilada a possibilidade de um novo mandato para presidente.

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Havia um clima de insatisfação generalizada nos setores castrenses. No dia

seguinte ao comício da AD, um levante militar acontece em Caracas e

Maracay e, em três dias, consuma-se um golpe, que dtém Medina Angarita e

todo o seu gabinete. Uma autodenominada junta revolucionária, composta

por cinco civis - quatro adecos -, dois militares e presidida por Rômulo

betancourt assume o governo. (MARINGONI, 2009, p. 52)

Nesta perspectiva, no final de 1946, por meio de uma Assembléia

Constituinte, o voto direto e secreto restou viabilizado, tenso sido eleito,

em dezembro de 1947, representando a Ação Democrática, Rômulo

Gallegos, o qual assumiu a presidência em 15 de fevereiro de 1948.

Todavia, o governo de Rômulo Gallegos perdurou opor apenas nove

meses, tendo ele sido deposto por meio de um golpe, encabeçado por

Carlos Delgado Chalbaud, Marcos Pérez Jiménez e Luís Llovera Páes,

todos seus aliados quando da revolução de outubro de 1945, pondo fim ao

denominado triênio adeco.

Com o fim do triênio adeco, Chalbaud, Presidente da Junta, ganha

visibilidade no cenário político da Venezuela, mas, é sequestrado e morto

em 13 de novembro de 1950 e o responsável por tal ato e preso e morto,

jamais tendo sido esclarecida a morte de Chalbaud.

Em 1952, Jóvito Villalba, o qual havia ganhado visibilidade na

sociedade venezuelana na década de 30, é eleito pela URD, todavia, tais

eleições não são reconhecidas pelo governo e Pérez Jimenez toma a

presidência, dando início a mais repressiva e violenta ditadura

venezuelana.

A atividade petroleira se expandiu ainda mais e outros negócios se

expandiram na Venezuela, como a construção civil, siderurgia e

hidroeletricidade, segundo GIL (2009, p. 58) "é possível identificar traços

de nacional-desenvolvimentismo na ditadura que buscou diversificar a base

produtiva e colocar o Estado como motor da economia".

Entretanto, a expansão econômica venezuelana no período, não foi

suficiente para sustentar todos os sucessivos investimentos realizados, o

que acarretou enormes rombos nos cofres públicos, dando ensejo a um

novo período de manifestações populares, num crescente movimento

avesso a ditadura, o que acabou por isolar Pérez Jimenez e fazer crescer o

clamor popular por eleições para presidente.

Assim, em 1957 restou criada a Junta Patriótica pelo PCV e pela

URD, incorporando-se a mesma a AD e o COPEI, e, até mesmo, uma

parcela da burguesia insatisfeita. Movimentos se instauraram e acabaram

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culminando na fuga de Pérez Jimenez, o qual se evadiu para a República

Dominicana em 23 de janeiro de 1958.

Após a queda de Pérez Jimenez, o poder restou assumido por uma

Junta encabeçada por Wolfgang Larrazábal, em Caracas, na quinta de

propriedade de Rafael Caldera, denominada Punto Fijo, Rómulo Betancout,

Raúl Leoni e Gonzalo Barrios, representando a AD, Rafael Caldera, Pedro

del Corral e Lorenzo Fernández pela COPEI, Jóvito Villalba, Ignacio Luis

Arcaya e Manuel López Rivas pela URD, firmam entre si, um acordo

político, visando, segundo sua própria ata:

Los partidos Acción Democrática, Social Cristiano Copei y Unión

Republicana Democrática, previa detenida y ponderada consideración de

todos los elementos que integran la realidad histórica nacional y la

problemática electoral del país, y ante la responsabilidad de orientar la

opinión pública para la consolidación de los principios democráticos, han

llegado a un pleno acuerdo de unidad y cooperación sobre las bases y

mediante las consideraciones siguientes: (…) (PACTO DE PUNTO FIJO.

1958)

Na realidade, o Pacto de Punto Fijo fez da Venezuela um país

supostamente democrático por três décadas, visto que, implementou a

estabilidade política, ainda que apenas entre os dois principais partidos, AD

e Copei, propiciou a integração das classes populares por meio de um

sistema de redistribuição.

Corrobora Gilberto Maringoni ao expor:

(…) O pacto representou um jeito de acomodar na partilha do poder as

diversas frações da classe dominante, incluindo ai o capital financeiro, as

empresas de petróleo, a cúpula do movimento sindical, a Igreja e as Forças

Armadas. Além disso, esforçava-se por definir uma democracia liberal

simpática aos Estados Unidos.

Este grande acordo representou a tradução político-institucional de uma

economia baseada na exportação de petróleo. Além de abrigar interesses das

elites, visava amortecer os conflitos sociais mediante lenta, porém

constante, melhoria do padrão de vida da maioria da população.

(MARINGONI, 2009, p. 62)

Entretanto, outro traço marcante do pacto em comento foi o

clientelismo, caracterizado como sistema de trocas onde as decisões

políticas e as ações governamentais ocorrem em troca de favorecimentos

privados, assim como a corrupção.

Seguindo o contexto histórico explanado, em 1958, Rômulo

Betancourt restou eleito presidente, tendo permanecido no governo até

1964, o que concretizou, na prática o Pacto de Punto Fijo. Ainda, a

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Constituição de 1961, representou a institucionalização do Pacto em

comento.

A partir e 1968, o Pacto ainda toma um novo contorno e AD e Copei

passam a "dividir" o poder sob diversos aspectos imprescindíveis no núcleo

do Estado, o que, com o passar dos anos acabou por gerar uma democracia

peculiar, visto que, apesar de não ser real (dois partidos alternavam no

poder), não se pode impor descrédito a mesma, já que, o padrão de vida da

população venezuelana apresentou crescimento, apresentando aumento na

expectativa de vida, acesso à saúde, emprego, moradia, dentre outros.

Carlos Andrés Pérez presidiu a Venezuela pelo período de maior

expansão, entre 1974 e 1979 e era justamente esta expansão, inclusive no

cenário internacional que sedimentava o apoio ao Pacto de Punto Fijo.

Entre 1979 e 1984, o presidente foi Luís Herrera Campíns, eleito pelo

Copei. Todavia, neste período a Venezuela sofre com a crise internacional,

com a queda do petróleo e aumento da dívida pública, sendo obrigada a

desvalorizar a moenda nacional.

A derrocada da economia venezuelana continua durante o governo de

Jaime Lusinschi, entre 1984 e 1989, o que fez surgir a necessidade de

reforma do Pacto de Punto Fijo:

Em 1985 foi criada a comissão para a reforma do Estado (Copre), que

propôs a adoção de eleições diretas para prefeitos e governadores, algo não

previsto pela carta de 1961. Além disso, mudou-se a legislação para as

disputas proporcionais, abolindo-se as listas partidárias em favor de

postulações pessoais dos candidatos parlamentares. Esse passo auxiliou na

consolidação de novos partidos de esquerda, especialmente o Movimento ao

Socialismo (MAS, um racha do PCV, no início dos anos 1970) e La Causa

Radical (LCR). (MARINGONI, 2009, p. 68)

Entrementes, a referida reforma não surtiu resultados e a crise se

alastrou.

Mesmo a eleição de Carlos Andrés Pérez para a presidência em 1988,

não teve o condão de superar a crise política, econômica e institucional

instaurada, a qual culminou no "Caracazo" em 1989, rebelião que, apesar

do nome, foi muito além de Caracas.

Neste contexto, (VIEIRA, L. V. (Coord.), 2013, p. 54) a partir de

1989, visualizam-se quatro fatores que indicam uma crise de legitimidade

no sistema político-econômico da Venezuela, quais sejam: o movimento

social conhecido como "Caracazo" em 1989, onde a população

Venezuelana foi as ruas protestar contra as condições econômicas e sociais

do país que sofria com a desvalorização do Petróleo, sua principal

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comódite e com a confirmação da debilidade do sistema político liberal

vigente até então; o levante dos militares em 1992; o aprofundamento do

processo de deslegitimação do espaço político visualizado a partir da

abstenção crescente da população nas eleições no começo da década de 90.

Assim, tem-se concomitantemente uma mobilização da sociedade civil

("Caracazo"), e um movimento de cunho político organizado no núcleo das

Forças Armadas, qual seja, o Movimento Bolivariano Revolucionário- 200

(MBR-200) liderado por Hugo Chávez e alicerçado nas idéias de três heróis

nacionais: Simón Bolívar, Ezequiel Zamora e Simón Rodriguez.

O referido movimento tinha por escopo discutir a conjuntura do país, a

carreira militar e o papel das Forças Armadas na sociedade venezuelana e

deu azo para que Hugo Chávez, tentasse um Golpe de Estado contra Carlos

Andrés Perez, o qual fracassou e o levou a Prisão em 1992.

Todavia, apesar do fracasso da tentativa de golpe encabeçada por

Chávez e da prisão, Carlos Andrés Perez sofreu impeachmment em 1993 e,

com a posterior eleição de Rafael Caldeira, Chávez resta privilegiado com

a anistia, sendo eleito Presidente da República em 1998.

Em sua campanha para a presidência, Hugo Chávez, comprometeu-se

com a convocação de um Assembléia Constituinte para elaboração de uma

nova Constituição para o país. Chávez pregava o afastamento da Venezuela

dos ideais neoliberais, mediante a instauração de um Estado nacionalista,

valorizando a moeda nacional e, consequentemente, rompendo com o

sistema político liberal vigente até então e pautando o novo sistema político

na preocupação e no desenvolvimento social.

Ao ser eleito, Hugo Chávez cumpriu o prometido, tendo convocado

primeiramente um referendo consultando o povo acerca da vontade de uma

transformação do Estado para criação de um novo ordenamento jurídico,

tendo recebido "sim" por 87,75% da população (VIEIRA, L. V. (Coord.),

2013, p. 54).

Nesta perspectiva, após a manifestação da vontade popular pela nova

Constituição, restaram eleitos os integrantes da mesma, exclusivamente

para a sua elaboração, a qual restou composta quase que na sua totalidade

pelos apoiadores de Hugo Chávez em sua eleição, tendo, então, iniciado o

processo de elaboração, o qual, após elaborado e novamente confirmado

por referendo popular, marcou o nascimento da República Bolivariana da

Venezuela e, mais, tornou-se um marco do novo Constitucionalismo da

América Latina.

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1.3 Paralelo Histórico Entre Ambas Constituições

Diante do contexto histórico acima narrado, tem-se que apesar de

ambas Constituições terem surgido com o ideal de "marco democrático", a

Constituição da República Federativa do Brasil foi redigida a partir de

uma Assembléia Nacional Constituinte composta pelos próprios integrantes

do Congresso Nacional que a precedeu.

Em outros termos, no Brasil não se criou uma Assembléia

Constituinte com o escopo de elaborar uma nova Constituição,

simplesmente se aproveitou aqueles anteriormente eleitos para a Câmara

dos Deputados e Senado Federal e lhes incumbiu de tal tarefa. Assim, a

nova constituição restou elaborada pelos integrantes do Congresso

Nacional, ou seja, Deputados e Senadores eleitos em 1985 e Senadores

eleitos em 1981, ainda no período de ditadura.

Ainda, tais Constituintes cumpriram seus mandatos sob a égide da

Constituição elaboradas por eles próprios, beneficiando-se, portanto, das

normas por eles próprios criadas, o que retira significativamente, qualquer

caráter revolucionário da mesma. Assim, elaborada por quem dela própria

poderia se beneficiar, evidentemente que inúmeras demandas populares de

caráter social acabaram por ser preteridas.

Diferentemente da Constituição Venezuelana, a qual apresentou

nítido caráter revolucionário, tendo sido soberana desde o princípio,

quando questionado o povo acerca do interesse em uma nova Constituição,

em seguida pela votação popular para sua integração, além, é claro, de ter

sido constituída exclusivamente para esta finalidade. Configurando ainda

mais a predominância da vontade popular, após elaborado o projeto de

nova Constituição, novamente o povo votou, aprovando-a por meio de

referendo.

Destaca-se ainda que conforme havia prometido enquanto em

campanha, após a promulgação da nova Constituição Venezuelana, Chávez

submeteu-se a nova eleição, sagrando-se vencedor no ano 2000.

Ainda, em 2002, a oposição tenta um Golpe para destituição de

Chávez do Poder, todavia, fracassa e, em 2004, ao convocar um referendo

revogatório em face de Chávez (recall), novamente se dá por vencida, visto

que a população confirma o mandato presidencial deste.

Chávez ainda amargou uma derrota nas urnas em 2007, ao perder o

plebiscito sobre a proposta de reforma constitucional que encabeçou, mas,

em 2009, consegui aprovar a reeleição indefinida.

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Com a morte de Chávez em 2013 e a presidência de Maduro desde

então (primeiro, no lugar de Chávez por ser seu vice-presidente e, apos, por

eleição popular), a Venezuela vem passando por crescente crise econômica

e de abastecimento, todavia, sua Constituição revolucionária permanece

vigente e ainda ostenta o título de marco no novo constitucionalismo latino-

americano.

2 DEMOCRACIA

2.1 Conceito de Democracia

Em um primeiro momento tem-se a necessidade de esclarecer alguns

dilemas que envolvem a própria democracia, afinal, como bem dito por

Jorge e Filho (2009, p. 40) ao expor que a "democracia é um tema

polêmico. Não apenas porque existem diferentes compreensões, mas,

também, em função da grande diversidade de experiências consideradas

democráticas espalhadas pelo mundo."

Assim, observa-se que a conceituação de "democracia" é suscetível de

inúmeras variáveis hábeis por modificar completamente toda a proposta de

um trabalho, motivo pelo qual, cumpre adotar um critério, qual seja: * uma

democracia exige eleições livres, idôneas e competitivas; * sufrágio

universal; * proteção aos direitos políticos e civis básicos; * governo

exercido por representantes eleitos pelo povo (STURARO; FROTA;

apud MAINWARING et al., 2012, p. 48).

Ainda, entende-se por necessário, aliar as premissas acima a idéia de

efetivos mecanismos de consulta e participação popular, bem como, a

viabilização e utilização dos mencionados mecanismos, a separação dos

poderes e a autonomia dos entes federados.

Tanto o Brasil como a Venezuela apresentam as suas Constituições

como norma suprema de seus respectivos Estados, tudo e todos devendo

submeter-se as mesmas, razão pela qual, a análise destas se torna um

mecanismo hábil a desvendar o ideal democrático teoricamente vigente em

cada uma das Nações.

2.2 Características dos Sistemas Democráticos

Constitucionalmente Previstos

Já no Preâmbulo, a Constituição Brasileira propaga a instituição de

um Estado Democrático de Direito e ainda:

(…) destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a

liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a

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justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna

e internacional, com a solução pacífica das controvérsias (…) (BRASIL.

1988)

Em seu texto constitucional a República Federativa do Brasil,

pormenorizadamente, assegura direitos individuais e coletivos sob os mais

diversificados aspectos, bem como apresenta mecanismos hábeis a garantir

aludidos direitos.

Ainda, propaga-se amplamente democrática, por meio de uma

democracia representativa, mas, temperada com elementos diretos de

participação dos cidadãos, tais como a iniciativa popular, o referendo e o

plebiscito.

Todavia, a realidade brasileira, demanda uma análise menos

superficial.

Primeiramente, consoante exposto acima, merece crítica o próprio

processo constituinte adotado para elaboração da Constituição vigente.

Como anteriormente abordado, embora a doutrina brasileira,

principalmente a jurídica seja enfática ao propagar que a Constituição

brasileira é fruto de Assembléia Constituinte e, portanto, promulgada,

amplamente democrática, ao se proceder uma análise perfunctória

visualiza-se, exatamente o contrário. Ainda que não se trate de uma

Constituição imposta, outorgada, fruto de golpe, o povo em si, teve uma

participação deveras coadjuvante.

O povo não foi formalmente consultado acerca da vontade ou não de

uma Constituinte. O povo não votou para escolher os integrantes da

Constituinte em específico. Estes integrantes foram votados para

composição da Câmara e do Senado e após, "aproveitados" para a formação

da Constituinte e, ainda, beneficiaram-se da mesma, permanecendo na

integração do Congresso, após a promulgação da Constituição em comento.

Isso, por si só, já não deixa crer na ausência de interesse particular dos

mesmos quando da elaboração do documento.

De fato, no Brasil vigora a autonomia dos entes federados, a

separação dos poderes, o sufrágio universal da população adulta e até

onde se pode verificar, tais eleições são limpas e competitivas; o povo

escolhe seus governantes; a Constituição protege direitos políticos e

civis básicos e até bem mais, ao menos, nominalmente, em seu texto, uma

vez que na prática, muitos sequer podem ser vislumbrados, menos ainda

implementados.

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Já no tangente aos instrumentos de participação popular, tem-se

que os mesmos não costumam ser utilizados, denotando um desinteresse

dos protagonistas do Poder em "dividir" o processo decisório.

Na Venezuela, a idéia de Estado democrático também surge a partir

do próprio Preâmbulo o qual enfatiza Simón Bolivar e a finalidade de

estabelecer uma sociedade não só democrática, mas, também participativa e

protagônica.

Enfatiza também a idéia de Estado pluricultural, multiétnico e

descentralizado (aqui, marcando muito o novo constitucionalismo Andino).

Consagra a idéia de integração da América Latina consoante o princípio

da não intervenção e autodeterminação dos povos, o que aliado a expressa

menção à Simón Bolivar deixa muito claro o intuito boliviano de retomar o

projeto de seu libertador, para o qual unidade e integração do povo latino-

americano seria pressupostos de equilibrar esta com as "grandes potencias"

do cenário político e promover o bem comum deste povo.

Na Venezuela também vigora a proposta de autonomia dos entes

federados, a separação dos poderes o sufrágio universal da população

adulta e até onde se pode verificar, tais eleições são limpas e competitivas,

o povo escolhendo seus governantes; a Constituição, ao menos na

ideologia, protege direitos políticos e civis básicos.

Já, no referente aos instrumentos de participação popular,

teoricamente, trata-se de uma democracia amplamente participativa, bem

mais que o Brasil.

2.2.1 Autonomia dos Entes Federados

No Brasil, a autonomia dos entes Federados fica bastante clara no

sistema constitucional vigente, o qual faz questão não só de expressar no

caput do artigo 1º, que a Federação é formada pela união indissolúvel dos

Estados, Municípios e distrito Federal, como enfatiza que a organização

político-administrativas compreende União, Estados, Distrito Federal e

Municípios.

O texto constitucional dedica-se em boa parte a estabelecer os critérios

de organização político-administrativa do Estado, elucidando cada um dos

entes federados, sua formação, bem como suas respectivas atribuições e

competências administrativas e legislativas de forma bastante equilibrada, o

que se traduz na prática, tendo-se uma real preservação da autonomia de

cada um.

No Capítulo I, o artigo 4, a Constituição da República Bolivariana da

Venezuela propaga tratar-se de um Estado Federado descentralizado.

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Após, em seu Capítulo II, resta estabelecida sua divisão política em

Estados, Distrito Capital, Dependências Federais (ilhas marítimas não

integradas ao território de um Estado e demais que possam aparecer) e

Territórios Federais, bem como que o território se organiza em Municípios,

sendo garantida por lei a autonomia municipal e a descentralização

político-administrativa (artigo 16).

Neste aspecto, embora sem aprofundamentos, por não se tratar no

tema central do trabalho proposto, frisa-se que cumpre o papel de uma

democracia, a Constituição venezuelana.

2.2.2 Separação dos Poderes

O Brasil adota o sistema de tripartição dos poderes o que expressa já

no segundo artigo do texto constitucional, enfatizando que São Poderes da

União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o

Judiciário.

A teoria da “tripartição dos poderes”, exposta por Montesquieu, resta

adotado no Brasil para manifestar seu sistema de repartição, todavia de

maneira abrandada, uma vez que, diante das realidades sociais e históricas,

passou-se a permitir maior interpenetração entre os poderes, atenuando a

teoria que pregava o isolamento dos poderes.

Nesta perspectiva, além do exercício de funções típicas, inerentes à

sua natureza, cada poder exerce, também, outras duas funções atípicas que

coincide com as de natureza típica dos outros dois poderes.

No âmbito Federal, o Poder Legislativo se apresenta pelo Congresso

Nacional, integrado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, tendo

como função típica a elaboração de leis e a fiscalização contábil, financeira,

orçamentária e patrimonial do Poder Executivo.

O Poder Executivo, no âmbito federal, tipicamente pratica atos de

chefia de Estado e chefia de Governo, tal como, atos de administração.

O Poder Judiciário tem a função típica de garantir o cumprimento da

Constituição Federal e aplicar as leis, processando e julgando os casos a ele

submetidos.

Interessante ressaltar que também nos tangente a tripartição de

poderes, o texto constitucional, cuidadosamente se dedica a explicar cada

um, sua composição e um rol de características detalhadas, tais como,

órgãos que os integram, modo de ingresso, tempo de legislatura, atribuições

típicas e atípicas, competências, dentre outros inúmeras peculiaridades.

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Evidente que aludida tripartição, a qual prega a harmonia e

independência dos Poderes não pode tão simploriamente ser definida,

todavia, não se trata do cerne do presente trabalho, bastando, para tanto

aludida análise perfunctória e a compressão da idéia de tripartição adotada,

a qual ainda se propaga nos âmbitos, Estaduais, Municipais e do Distrito

Federal, denotando um sistema de freios e contrapesos bastante eficiente.

O Título IV, da Constituição venezuelana destina-se ao tratamento do

Poder Público, o qual, nos termos do artigo 136 é dividido entre Poder

Municipal, Poder Estatal e Poder Nacional.

O Poder Nacional, divide-se em Poder Legislativo, Poder Executivo,

Poder Judicial, Poder Cidadão e Poder Eleitoral, diversamente ao brasileiro

que adota a tripartição especificada em tópico próprio.

A divisão dos Poderes é realizada mediante mecanismos mais

complexos do que a Constituição brasileira, visto tratarem-se de cinco,

sendo que o povo possui mecanismos de participação em todos, mas,

merecem maio enfoque por conta da participação dos cidadãos o Poder

Cidadão e o Poder Eleitoral.

O Poder Cidadão, exercido pelo Conselho Moral Republicano,

independente e com autonomia funcional, financeira e administrativa, tem

o direito de veto a qualquer outro poder que atente contra os direitos

políticos, civis e sociais, podendo promover atividades pedagógicas

dirigidas ao conhecimento e estudo da Constituição venezuelana, ao amor a

pátria, as virtudes cívicas e democráticas, aos valores da república e

direitos humanos.

Já o Poder Eleitoral, exercido pelo Conselho Nacional Eleitoral possui

dentre suas atribuições anular total ou parcialmente as eleições; organizar,

administrara, dirigir e vigiar os atos relativos à eleição dos cargos

representativos e referendos; organizar as eleições de sindicatos e grêmios

profissionais e com fins políticos. Assim, o mesmo viabiliza uma

democracia mais real, fruto de um modelo constitucional que supera o

engessamento constitucional padrão dos Estados Liberais, além de

promover maior lisura ao processo eleitoral.

Tal como a Constituição Brasileira, a Constituição da Venezuela se

dedica a explicar cada um, sua composição e um rol de características

detalhadas, tais como, órgãos que os integram, modo de ingresso, tempo de

legislatura, atribuições típicas e atípicas, competências, dentre outros

inúmeras peculiaridades, denotando uma grande independência.

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2.2.3 Sufrágio Universal

No Brasil, a soberania popular é exercida pelo sufrágio universal,

mediante voto direto, secreto, universal e periódico. Tal premissa já se

encontra expressa no, parágrafo único, do artigo 1º do texto constitucional,

o qual preleciona que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio

de representantes eleitos ou diretamente.

Assim, o voto direto e secreto é também facultativo para os maiores

de dezesseis anos de idade e menores de dezoito anos de idade, assim como

para os maiores de setenta anos de idade e analfabetos. Entrementes, o voto

é obrigatório para os eleitores entre dezoito e setenta anos de idade.

Nesta perspectiva, o sufrágio é um direito público subjetivo usufruído

pelo cidadão brasileiro, na medida em que este pode escolher seus

representantes, tal como pode concorrer a mandatos eletivos.

Neste contexto, tem-se que a democracia brasileira, sob o prisma do

sufrágio universal resta observada.

De fato, no Brasil, Estado Federado, com forma de governo

republicana e sistema de governo presidencialista, o povo determina quem

serão os seus governantes.

Neste viés, o sistema eleitoral é baseado no voto direto e secreto, onde

o cidadão vota diretamente no candidato ao cargo a ser preenchido, de

maneira sigilosa. Hodiernamente, representantes de todos os níveis dos

poderes legislativo e executivo brasileiros são escolhidos pelo voto direto,

sendo considerados válidos os votos nominais aos candidatos e os votos nas

legendas nas eleições proporcionais, enquanto os votos nulos e em branco

são descartados.

As eleições dividem-se em dois turnos, sendo o primeiro turno sempre

no primeiro domingo do mês de outubro e o segundo turno, quando houver,

geralmente no último domingo do mesmo mês. O segundo turno é

realizado apenas nas eleições para Presidente, Governador e para Prefeito,

em municípios com mais de 200 mil eleitores. Além disso, deve haver mais

de dois candidatos no primeiro turno de votação e nenhum deles ter

conquistado a maioria absoluta dos votos válidos.

Ainda, cumpre ressaltar que vigora o pluripartidarismo, nos termos da

Constituição vigente, o que consta expressamente no artigo 17 da mesma.

Nesta toada, tem-se que a democracia brasileira, sob o prisma do

sistema eleitoral adotado, traduz a vontade do provo e, portanto, também

resta observada.

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No artigo 5, a Constituição da República Bolivariana da Venezuela

declara que a soberania é do povo, o qual a exercerá diretamente e

indiretamente, mediante o sufrágio. Em seguida, ainda completa que tanto

o governo como as entidades que o integram serão sempre democráticas,

participativas, eletivas, descentralizadas, alternativas, responsáveis,

pluralistas e de mandatos revogáveis (artigo 6).

Em seu artigo 63, novamente enfatiza que o sufrágio é um direito e

será exercido mediante voto livre, universal, direto e secreto. Aqui uma

distinção do sistema brasileiro, no qual o voto é obrigatório.

Nesta perspectiva, o sufrágio é um direito público subjetivo usufruído

pelo cidadão venezuelano, na medida em que este pode escolher seus

representantes, tal como pode concorrer a mandatos eletivos.

Neste contexto, tem-se que a democracia venezuelana, sob o prisma

do sufrágio universal resta observada.

2.2.4 Proteção à Direitos Políticos e Civis

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu texto, cuida

de expressamente elencar um prolixo rol de direitos fundamentais

individuais e coletivos, bem como garantias aos referidos direitos, cuja

proteção propaga, tendo, por longo período, ostentado o título de

Constituição mais garantista do mundo e, também, mais moderna.

Em seu artigo 1º apresenta como fundamentos deste Estado, a

soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Ainda, com o

propósito de que tais fundamentos sejam preservados, elenca em seu artigo

3º um rol de objetivos que denotam seu caráter programático: construir

uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional;

erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Em seguida, no artigo 4º, apresenta os princípios que regem o Brasil

nas relações internacionais, sendo que, em seu parágrafo único

expressamente prevê que o Brasil buscará a integração econômica, política,

social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma

comunidade latino-americana de nações.

Após, o Título II da Constituição Brasileira é denominado "DOS

DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS" e o Capítulo I, denominado

"DOS DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS" e, dentro deste, tem-se

o artigo 5º, com vasta concentração de direitos e garantias individuais.

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Frisa-se ainda que a própria Constituição declara nos parágrafos do

artigo 5º a aplicação imediata das normas definidoras de direitos e garantias

individuais (§ 1º); que o referido rol de direitos é apenas exemplificativo,

não excluindo outros decorrentes do regime e princípios adotados pela

própria Constituição ou decorrentes de tratados internacionais cujo Brasil

seja signatário (§ 2º); enfatiza ainda que tratados e convenções

internacionais sobre direitos humanos podem ter equivalência a Emenda

Constitucional (§ 3º) e que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal

Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (§ 4º).

Os direitos sociais (CAPÍTULO II), encontram-se concentrados no

artigo 6º, o qual elenca educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia,

transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à

infância e assistência aos desamparados, sendo que, ao longo do texto

constitucional, todos estes são ainda pormenorizados, como, por exemplo

ocorre com os direitos dos trabalhadores nos artigos 7º, 8º, 9º, 10 e 11.

Os direitos da nacionalidade encontram-se esmiuçados no artigo 12

(CAPÍTULO III), o qual explica as hipóteses de brasileiros natos e

naturalizados, bem como, as distinções constitucionais entre ambos em um

pequeno rol taxativo e as hipóteses excepcionais de perda da nacionalidade

brasileira.

O Brasil elege como critério para ser brasileiro nato o solo, ou seja,

nascer em território nacional, todavia, estabelece outras formas conjugando

o vínculo sanguíneo com outros fatores.

Os direitos políticos são assegurados constitucionalmente nos artigos

14 ao 16 (CAPITULO IV).

Enfim, ao longo dos 250 (duzentos e cinquenta) artigos da

Constituição Federal e dos 100 (cem) artigos dos Atos das Disposições

Constitucionais Transitórias, tem-se um leque imenso de direitos

fundamentais assegurados, o que denota o caráter protecionista do referido

documento.

Entrementes, ressalta-se que a referida Constituição ainda trata a água,

por exemplo, com um bem patrimonial, o que se observa claramente no seu

artigo 20, III, por exemplo, ao incluir a mesma no rol de bens da União em

algumas situações, dentre outros dispositivos.

No tangente aos índios, pouco a Constituição menciona, dedicando os

artigos 231 e 232 aos mesmos, onde reconhece a organização social,

costumes, línguas, crenças e tradições, os direitos originários sobre as terras

que tradicionalmente ocupam.

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O Título I da Constituição da República Bolivariana da Venezuela,

cuida de enfatizar a liberdade e independência da mesma, seus valores de

liberdade, igualdade, justiça e paz internacional, tudo plasmado na doutrina

do Libertador Simón Bolivar (artigo 1) e ainda elencar vasto rol de

princípios fundamentais, tais como o do Estado Democrático de Direito e

Justiça o qual tem como valor superior de seu ordenamento jurídico de sua

atuação, a vida, a liberdade, a justiça, a igualdade, a solidariedade, a

democracia, a responsabilidade social a prevalência dos direitos humanos, a

ética e o pluralismo político (artigo 2).

No artigo 3, de forma ainda muito similar à Constituição brasileira

elenca um rol de objetivos a ser cumprido, sempre visando o bem estar do

povo.

Já em seu artigo 9, a Constituição venezuelana cuida de demonstrar a

priorização de suas origens (propagada em seu Preâmbulo), visto que,

adota como idioma oficial não só o castelhano, mas, também, os idiomas

indígenas, exaltando que estes devem ser respeitados em todo o território

nacional, por construir um patrimônio cultural da Nação e da humanidade.

Ainda, destina um Capítulo aos direitos dos povos indígenas, onde, do

artigo 119 ao 126, a Constituição venezuelana, ao contrário da brasileira, é

bem expressiva ao reconhecer os direitos dos indígenas, promovendo a

inclusão dos mesmos e conferindo-lhes a dignidade de plena cidadania.

O Título III é dedicado aos direitos humanos, garantias e deveres. No

Capitulo I, tem-se as disposições gerais e compreende o artigo 19 ao 31,

onde se encontram elencados os direitos ao livre desenvolvimento da

personalidade, igualdade, liberdade, dentre outros forma muito similar ao

Brasil, declara aplicação imediata das normas definidoras de direitos e

garantias, que o referido rol de direitos não negando outros decorrentes do

regime e princípios adotados pela própria Constituição ou decorrentes de

tratados internacionais (artigo 22); enfatiza ainda que tratados e convenções

internacionais sobre direitos humanos tem hierarquia constitucional (artigo

23), aqui diferindo do Brasil, por não precisar de qualquer procedimento

além da subscrição e ratificação pela Venezuela; e que se submete à

jurisdição Internacional decorrente de instrumento internacional que tenha

ratificado (artigo 31).

Ainda, os direitos civis, possuem um desdobramento bem minucioso,

no Capítulo III, entre os artigos 43 e 61.

O Capítulo II, cuida dos direitos à nacionalidade e à cidadania

(direitos políticos). No tangente a nacionalidade primária (venezuelano

nato), apresenta-se bem mais permissiva do que a Constituição Brasileira,

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adotando tanto o critério do solo como do vínculo sanguíneo, sem a

necessidade de conjugar com qualquer outro fator. Apenas, no tangente aos

filhos de venezuelanos naturalizados, exige que estabelece residência antes

de completar dezoito anos de idade e,antes de completar vinte e cinco anos

de idade, declare a vontade de ser venezuelano.

Os critérios de naturalização também se apresentam bem mais amenos

do que no Brasil, sendo ainda facilitados para latino-americanos.

Ainda, em seu artigo 34 estabelece, ao contrário da regra

constitucional brasileira, que a nacionalidade venezuelana não se perde ao

de adquirir outra.

Os direitos políticos são primeiramente assegurados

constitucionalmente nos artigos 39 ao 42, de forma muito similar ao Brasil.

Todavia, no Capítulo IV, a Constituição venezuelana pormenoriza aludidos

direitos e deixa muito claro que, de fato, não se trata apenas de uma

democracia participativa, mas protagônica.

Enfim, ao longo dos 350 (trezentos e cinquenta) artigos da

Constituição Federal e dos 18 (dezoito) artigos das Disposições

Transitórias, tem-se um leque imenso de direitos fundamentais

assegurados, inclusive enfatizando-se os direitos fundamentais sociais, o

que também denota o amplo caráter protecionista do referido documento.

2.2.5 Instrumentos de Participação Popular

A Constituição brasileira prevê como formas de participação popular

o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular, todos fruto do texto

originário de 1988 e regulamentados atualmente por meio da Lei n.

9709/98.

Assim, tem-se que a realização de plebiscito ou de referendo deve ser

proposta por decreto legislativo, por proposta de 1/3, no mínimo , dos

membros que compõem qualquer das casas do Congresso Nacional.

Desde a promulgação da atual Constituição, três consultas foram

realizadas.

A primeira em razão de previsão do próprio texto constitucional, o

qual, no artigo 2º dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

determinou plebiscito para que o eleitorado definisse a forma (república ou

monarquia constitucional e o sistema de governo (parlamentarismo ou

presidencialismo), tendo o povo manifestado-se pela manutenção da

república e do presidencialismo em 1993.

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Em 2005, restou aprovado o Estatuto do Desarmamento com um

dispositivo determinado a realização de referendo sobre a liberação da

compra de armas. Assim, os eleitores foram consultados sobre a proibição

da comercialização de armas de fogo e munições, tendo a maioria da

população votou contra a proibição da comercialização de armas de fogo.

Em 2011, ocorreu o último plebiscito no Brasil, o qual versou acerca da

divisão do Estado do Pará, tendo a população do mencionado Estado

rejeitado a proposta de divisão do mesmo em outros dois Estados.

Já a iniciativa popular, consistente na apresentação de projeto de lei à

Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do

eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não

menos de três décimos por sendo dos eleitores de cada um deles, é um

pouco mais utilizada, e tem previsão constitucional no artigo 61, § 2º, cujo

teor cumpre citar abaixo:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer

membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do

Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal

Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos

cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição .

§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos

Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do

eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não

menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. (BRASIL.

Lei nº 9.709/98)

No entanto, o referido instrumento de participação popular ainda é

pouco utilizado, sendo que, apenas quatro propostas oriundas do mesmo

tornaram-se leis, quais sejam: Lei n. 8.930/1994 (considera crime hediondo

o homicídio por motivo fútil ou com crueldade), Lei 9.840/99 (criminaliza

a conduta de "compra de votos"), Lei n. 11.124/2005 (criou o Fundo

Nacional de Habitação) e Lei n. 135/2010 (lei da Ficha Limpa), sendo que

as três últimas apresentaram significativa mudança na evolução

democrática do país.

Atribui-se a pouca utilização do instrumento às suas dificuldades de

operacionalização, todavia, já tramitam Projetos e Emendas Constitucionais

a fim de se estabelecer um processo mais célere e econômico, ou seja,

viável.

Aludido contexto expressa uma necessidade de fortalecimento da

cultura da participação popular no Brasil, o que também desperta dúvidas

acerca da tão propagada democracia, visto que, não se sabe exatamente a

vontade popular em inúmeras temáticas, constatando-se que, embora

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prevista no texto constitucional não se encontra concretizada na realidade

social do país, o que denota uma falha no sistema democrático propagado.

A Venezuela teoricamente defende em seu texto constitucional uma

democracia amplamente participativa, estabelecendo, inclusive em seu

Preâmbulo que "el fin supremo dela misma es crea una Sociedad

Democrática, Participativa y Protagónica", consubstanciada em consultas

populares, neste sentido:

Este tratamiento constitucional encuentra su justificación en lis conceptos

del preámbulo constitucional, integrado con los dispositivos mismos de la

carta y qye se hallan presentes en todas las leyes que, con posteridad a 1999,

se han promulgado para desarrollar ese principio participativo que subyace

en los valores antes aludidos. (MORALES; CUÑARRO; LEAL, 2006, p.43)

Os instrumentos de participação popular são bem mais amplos e

restam assegurados no artigo 70 e seguintes, nos seguintes termos:

Artículo 70. Son medios de participación y protagonismo del pueblo en

ejercicio de su soberanía, en lo político: la elección de cargos públicos, el

referendo, la consulta popular, la revocatoria del mandato, la iniciativa

legislativa, constitucional y constituyente, el cabildo abierto y la asamblea

de ciudadanos y ciudadanas cuyas decisiones serán de carácter vinculante,

entre otros; y en lo social y económico, las instancias de atención ciudadana,

la autogestión, la cogestión, las cooperativas en todas sus formas incluyendo

las de carácter financiero, las cajas de ahorro, la empresa comunitaria y

demás formas asociativas guiadas por los valores de la mutua cooperación y

la solidaridad.

La ley establecerá las condiciones para el efectivo funcionamiento de los

medios de participación previstos en este artículo.

Artículo 71. Las materias de especial trascendencia nacional podrán ser

sometidas a referendo consultivo por iniciativa del Presidente o Presidenta

de la República en Consejo de Ministros; por acuerdo de la Asamblea

Nacional, aprobado por el voto de la mayoría de sus integrantes; o a

solicitud de un número no menor del diez por ciento de los electores y

electoras inscritos en el registro civil y electoral.

También podrán ser sometidas a referendo consultivo las materias de

especial trascendencia municipal y parroquial y estadal. La iniciativa le

corresponde a la Junta Parroquial, al Concejo Municipal y al Consejo

Legislativo, por acuerdo de las dos terceras partes de sus integrantes; el

Alcalde o Alcaldesa y el Gobernador o Gobernadora de Estado, o a solicitud

de un número no menor del diez por ciento del total de inscritos en la

circunscripción correspondiente.

Artículo 72. Todos los cargos y magistraturas de elección popular son

revocables.

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Transcurrida la mitad del período para el cual fue elegido el funcionario o

funcionaria, un número no menor del veinte por ciento de los electores o

electoras inscritos en la correspondiente circunscripción podrá solicitar la

convocatoria de un referendo para revocar su mandato.

Cuando igual o mayor número de electores y electoras que eligieron al

funcionario o funcionaria hubieren votado a favor de la revocatoria, siempre

que haya concurrido al referendo un número de electores y electoras igual o

superior al veinticinco por ciento de los electores y electoras inscritos, se

considerará revocado su mandato y se procederá de inmediato a cubrir la

falta absoluta conforme a lo dispuesto en esta Constitución y la ley.

La revocatoria del mandato para los cuerpos colegiados se realizará de

acuerdo con lo que establezca la ley.

Durante el período para el cual fue elegido el funcionario o funcionaria no

podrá hacerse más de una solicitud de revocación de su mandato.

Artículo 73. Serán sometidos a referendo aquellos proyectos de ley en

discusión por la Asamblea Nacional, cuando así lo decidan por lo menos las

dos terceras partes de los las integrantes de la Asamblea. Si el referendo

concluye en un sí aprobatorio, siempre que haya concurrido el veinticinco

por ciento de los electores o electoras inscritos o inscritas en el registro civil

y electoral, el proyecto correspondiente será sancionado como ley.

Los tratados, convenios o acuerdos internacionales que pudieren

comprometer la soberanía nacional o transferir competencias a órganos

supranacionales, podrán ser sometidos a referendo por iniciativa del

Presidente o Presidenta de la República en Consejo de Ministros; por el voto

de las dos terceras partes los y las integrantes de la Asamblea o por el

quince por ciento de los electores y electoras inscritos en el registro civil y

electoral.

Artículo 74. Serán sometidas a referendo, para ser abrogadas total o

parcialmente, las leyes cuya abrogación fuere solicitada por iniciativa de un

número no menor del diez por ciento de los electores inscritos en el registro

civil y electoral o por el Presidente o Presidenta de la República en Consejo

de Ministros.

También podrán ser sometidos a referendo abrogatorio los decretos con

fuerza de ley que dicte el Presidente o Presidenta de la República en uso de

la atribución prescrita en el numeral 8 del artículo 236 de esta Constitución,

cuando fuere solicitado por un número no menor del cinco por ciento de los

electores y electoras inscritos en el registro civil y electoral.

Para la validez del referendo abrogatorio será indispensable la concurrencia

del cuarenta por ciento de los electores y electoras inscritos en el registro

civil y electoral.

No podrán ser sometidas a referendo abrogatorio las leyes de presupuesto,

las que establezcan o modifiquen impuestos, las de crédito público y las de

amnistía, así como aquellas que protejan, garanticen o desarrollen los

derechos humanos y las que aprueben tratados internacionales.

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No podrá hacerse más de un referendo abrogatorio en un período

constitucional para la misma materia.

Assim, os instrumentos de democracia são diversos: referendo

confirmatório, referendo abrogatório de lei, referendo revogatório de

mandato, iniciativa legal, iniciativa constitucional e constituinte, os quais

servem como balizadores de eventual tentativa de usurpação da soberania

popular por parte dos governantes.

Todavia, é questionada acerca dos reais motivos que originam tantos

plebiscitos e referendos, pois na mesma medida em que podem refletir a

idéia de consultar o povo para compreender sua vontade e colocá-la em

prática, podem, também estar refletindo uma eventual incapacidade do

Estado em decidir efetivamente.

Neste sentido, Molina (2003) adverte que a democracia venezuelana

acima mencionada tem-se transformado em uma "democracia plebiscitária"

e que a opção do governo por essa estratégia configura sua dificuldade ou

mesmo incapacidade para realizar negociações políticas ou sociais e um

desrespeito às instituições, uma vez que as decisões não as consideram.

Ainda, apesar de consubstanciado pela Constituição, o exercício da

participação popular encontra inúmeras restrições de ordem prática, tal

como a demora na elaboração de uma Lei Orgânica que regularize a

participação popular, a concentração de poder nas mãos do Poder

Executivo, dentre outros (MORALES; CUÑARRO; LEAL, 2006).

Na prática a organização política venezuelana ainda sofre críticas

acirradas, principalmente sob o ponto de vista dos estudiosos brasileiros.

Nesta perspectiva, cumpre citar Gilberto Maringoni, que em 2009 já

diagnosticava algo que após a morte de Hugo Chavéz somente sofreu

ampliações:

A sociedade venezuelana, anos depois da vitória de Chávez, permanece

fragmentada e sem canais de participação plenamente democráticos. O

movimento sindical e popular tem poucas entidades realmente

representativas e os partidos políticos não chagam a formar verdadeiras

correntes de opinião. É bem possível que a baixa industrialização e a

incipiente organização econômica da Venezuela contribuam para tal quadro

social. Não é à toa que o golpe de 2002 foi capitaneado pelos meios de

comunicação, pelo Exército e por setores do empresariado. Não havia

partidos envolvidos diretamente. O descrédito dos canais de participação

popular é algo que vai muito além da ação do governo. (MARINGONI,

2009, p. 24)

Todavia, em que pese as dificuldades de ordem prática, o primeiro

passo já foi implementado e o primeiro degrau galgado no caminho da

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nova República um dia idealizada por Chávez. A Venezuela política e

juridicamente já se apresenta como um novo modelo de Estado,

contraponto o modelo liberal tradicionalmente conhecido, diante das

peculiaridades constatadas a partir da análise constitucional realizada.

3. COTEJO ENTRE AMBAS AS CONSTITUIÇÕES

Diante do exposto acima, observa-se ainda que tanto Brasil como

Venezuela galgaram a democracia que vivem atualmente em períodos

muito próximos, sendo a do Brasil consolidada em 1988 e a da Venezuela

em 1999. Todavia, não se pode restringir a experiência democrática à

existência de eleições livres e periódicas, visto que, outros critérios

necessitam ser pormenorizados para que se constate a veracidade da

mesma, bem como sua amplitude, dentre estes, por exemplo, observar se

liberdade e igualdade são compatíveis e democraticamente expressadas.

Assim, traçando uma abordagem comparativa do caso específico das

Constituições vigentes dos dois Países tenta-se propiciar uma releitura de

explicações previamente aceitas, bem como, uma ruptura, tanto com

interpretações genéricas, como com abordagens históricas meramente

descritivas e empiricistas

Destarte, diante da releitura acima pormenorizada, alguns pontos

merecem atenção:

No tangente a autonomia dos entes federados, tem-se que tanto o

Brasil como a Venezuela conservam a mesma, pelo menos, no mínimo

necessário para, sob este prisma, denotarem uma democracia.

Já no que se refere-se à separação de poderes, tem-se que:

A teoria da separação de poderes propõe, normativamente, a divisão do

poder em corpos separados e a capacidade de cada um desses corpos

controlar o outro, devendo haver um equilíbrio entre os poderes de maneira

a evitar o predomínio de um sobre o outro, possibilitando não apenas afastar

o perigo da tirania, como, também, correlativamente, garantir a liberdade.

De outro lado, a separação de poderes, caso seja efetiva, pode concorrer

para a formação de sistemas democráticos menos centralizados, perfazendo

o modelo consensualista. (GROHMANN, 2001, p. 97)

Sob está ótica, enquanto o Brasil ostenta o modelo de tripartição entre

Poderes Independentes e harmônicos entre si, a Venezuela ostenta a mesma

Independência e Harmonia, todavia em um modelo com cinco Poderes,

onde os Poderes Cidadão e Eleitoral concretizam a idéia de democracia

participativa e protagônica, idealizada quando da promulgação da

Constituição vigente.

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Neste viés, tem-se que a Constituição venezuelana não só defende a

democracia, como a Constituição Brasileira, mas, vai além expressando-a

como participativa e protagônica, o que é corroborado pela divisão do

Poder, pela forma como foi elaborada a própria Carta Constitucional, ou

seja, em uma Assembléia Nacional constituída exclusivamente para este

propósito com ampla participação popular, antes, durante e após, por meio

de referendo, bem como pelos amplos mecanismos de participação popular

que consagra.

Na mesma toada, a Constituição venezuelana tem como pilar central a

participação popular, a qual ultrapassa o direito de sufrágio, mas,

também, no processo de formação, execução e controle da gestão pública.

Enquanto, a Constituição brasileira se encontra presa no modelo inverso,

onde a participação dos cidadãos limita-se ao momento do voto,

propriamente dito.

Embora ambas Constituições apresentem em seu corpo uma vasta

proteção aos direitos fundamentais individuais e coletivos, a ênfase em um

Estado pluricultural, multiétnico e descentralizado, bem como a priorização

dos povos indígenas traduzem uma postura inovadora e popular da

Constituição Venezuelana, tendo, inclusive, servido de inspiração para as

Constituições da Bolívia e do Equador, diferentemente da Constituição

Brasileira, a qual ainda não se insere dentro do novo modelo de

constitucionalismo.

Acerca da Carta venezuelana, o sociólogo Edgardo Lander muito bem

expõe no tangente a sua abordagem democrática:

Pela primeira vez reconhecem-se os direitos dos indígenas, saldando uma

velha dívida da sociedade venezuelana em incluir estes povos e outorgar-

lhes a dignidade de plena cidadania. Reconhecem-se também os direitos

ambientais e amplia-se o conjunto de direitos sociais. Assentam-se as bases

para a transformação do Poder Judiciário e se reorganizam os poderes

públicos para incorporar o Poder Cidadão, integrado pela Procuradoria e

pela nova figura da Defensoria do Povo. Inauguram-se formas participativas

de exercício da democracia, com a incorporação ao texto constitucional de

diversas modalidades de referendo. (LANDER, 2002)

A Constituição venezuelana busca reverter o padrão constitucional do

Estado Liberal de Direito apresentando uma nova configuração para o

papel da representação, fazendo com que os governantes efetivamente

sejam subordinados a vontade popular soberana, mediante dispositivos

constitucionais de democracia direta acima mencionados. Em outros

termos, a Carta Venezuelana implementa uma "emancipação do povo", o

qual possui nas mãos mecanismos hábeis a efetivar seus anseios, rompendo

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com o modelo estatal onde prevalece a vontade das minorias. Diferente do

que ocorre no Brasil, onde a participação popular tem ficado limitada ao

voto unicamente, consagrando o ordenamento político onde o poder de

decisão concentra-se em poucas mãos.

CONCLUSÃO

A partir do contexto nominal analisado, resta sobejamente exposta a

superioridade democrática do texto expressado pela Constituição da

República Bolivariana da Venezuela em detrimento da já ultrapassada

Constituição da República Federativa do Brasil.

Enquanto a Carta brasileira limita a participação popular ao voto e a

mecanismos de consulta nominais, visto que apesar de timidamente

presentes no texto constitucional, na prática não se apresentam como

mecanismos eficazmente utilizados, a Carta venezuelana não economiza

mecanismos da mesma natureza, tendo a participação dos cidadãos como

seu pilar principal, inovando não só nos modelos de consulta popular, mas,

também, fazendo uso dos mesmos de maneira bem mais expressiva.

Assim, embora ainda precise evoluir na real utilização dos meios

demonstrados, já se encontra, a Venezuela, muitos passos a frente do

Brasil, sob este prisma.

Indubitavelmente, um democracia participativa e protagônica

Constitucionalmente prevista na Carta venezuelana caracteriza um alto

degrau galgado na busca da democracia real, onde tais preceitos devem ser

consolidados e desenvolvidos, fazendo com que a soberania do povo seja

observada e preservada.

Entretanto, faz-se necessário que o modelo de Estado hoje vivido pelo

Brasil observe o novo modelo teórico plasmado pela República Bolivariana

da Venezuela e consiga se "re-fundar", caso contrário, continuaremos

presos em um modelo de Estado liberal retrógrado, ineficiente e engessado.

Evidente que o a Venezuela se encontra longe de um modelo perfeito

de Estado, mas, ao menos, nominalmente (no papel), já promoveu

significativos avanços, os quais merecem atenção por parte dos demais

países latino-americano, mormente, no que tangem a valorização e ao

respeito nacionalismo.

Na mesma toada, a Venezuela deve buscar a superação de suas

instabilidades e consagrar a implementação de suas previsões.

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A partir das semelhanças elencadas entre as duas Nações é que se

poderá viabilizar a superação das assimetrias apontadas e uma nova

configuração do Estado brasileiro.

Nesta ótica, a valorização das aludidas simetrias concomitantemente a

uma nova configuração democrática do Estado brasileiro, inspirada nos

avanços nominais já implementados na Venezuela, pode-se percorrer um

significativo avanço no sentido de uma democracia sólida, isso, sem

desconsiderar que, na prática, ambas as nações atravessam momentos de

devastadora crise o que faz com o texto constitucional não esteja sendo

observado.

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