os desafios da escola pÚblica paranaense na … · o presente trabalho visa discutir o êxodo...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
UEL – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA - IES
AROLDO ORIBES DA SILVA ÊXODO RURAL E DINÂMICA POPULACIONAL DE JANDAIA
DO SUL – PR: DISCUSSÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Londrina 2013
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AROLDO ORIBES DA SILVA
ÊXODO RURAL E DINÂMICA POPULACIONAL DE JANDAIA
DO SUL – PR: DISCUSSÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Disciplina: Geografia
NRE: Apucarana
Estabelecimento: Colégio Estadual Unidade Polo
Série de Implementação: 2º. Ensino Médio
Orientadora: Dra. Margarida Cássia Campos
Londrina
2013
Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica – Turma PDE 2013
Título:Êxodo Rural e Dinâmica Populacional de Jandaia do Sul-PR: Discussões Para o Ensino de Geografia
Autor: Aroldo Oribes da Silva
Disciplina/Área:
Geografia
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Unidade Polo de Jandaia do Sul
Município da escola: Jandaia do Sul-PR
Núcleo Regional de Educação: Apucarana
Professor Orientador: Margarida Cássia Campos
Instituição de Ensino Superior: UEL
Relação Interdisciplinar:
História, Sociologia e Biologia
Resumo:
O projeto em questão, discute as questões relacionadas ao processo de modernização da agricultura no Brasil e sua relação na organização espacial da população, particularmente no contexto de Jandaia do Sul e do Paraná. O trabalho se justifica em sua contextualização com a realidade local, ou seja, onde a Escola a ser desenvolvido o projeto está inserida, pois sendo o município de Jandaia do Sul/PR, um município que sofreu um processo de transição demográfica rural-urbana, num período muito curto de tempo, esta dinâmica gerou alguns novos desafios ao município, tais como a necessidade de absorver a força de trabalho provinda da zona rural, outrora com o predomínio de culturas permanentes e uma grande demanda de força de trabalho humana, pois a cultura predominante até meados da década de 1970, o café, não dispunha de grandes recursos tecnológicos mecanizados para o seu cultivo e colheita. A metodologia utilizada foi a visitação em áreas circunvizinhas a escola, onde os alunos puderam observar a expansão dos bairros periféricos a região central da cidade.
Palavras-chave:
Urbanização; Êxodo Rural; Modernização do Campo
Formato do Material Didático: Unidade Didática Público:
O trabalho foi desenvolvido com alunos da Segunda Série do Curso de Educação Geral
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Família de Retirantes Nordestinos ...........................................................03
Figura 2 – Êxodo Rural ..............................................................................................07
Figura 3 – Foto Aérea de Jandaia do Sul ..................................................................20
Figura 4 – Av. Getúlio Vargas Jandaia do Sul 2010 ..................................................21
Figura 5 – Av. Getúlio Vargas Jandaia do Sul 1950 .................................................. 22
LISTA DE TABELAS
4
Tabela 1 – Brasil: Taxa de Urbanização ....................................................................05
Tabela 2 – Número de Estabelecimento Agropecuários no Norte do Paraná
e Área Ocupada em % da Área Total entre 1970-2006 .............................13
LISTA DE GRÁFICOS
5
Gráfico 1 – Número de Tratores na Região Norte do Paraná entre 1970-1985 ........11
Gráfico 2 – Evolução da População Urbana de Jandaia do Sul entre 1970-2010 .....17
SUMÁRIO
6
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
1 FAMÍLIAS DE RETIRANTES NORDESTINOS...................................................... 3
Música ................................................................................................................... 3
Texto 1 - As Migrações e as Particularidades do Caso Brasileiro Até 1980 .......... 4
Atividades de Reflexão .......................................................................................... 6
2 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E O ÊXODO RURAL .............................. 7
Reflexão ................................................................................................................ 8
Texto 2 – Impactos Decorrentes da Modernização da Agricultura Brasileira ......... 8
Atividades de Reflexão .......................................................................................... 9
Música ................................................................................................................. 10
Reflexão .............................................................................................................. 10
3 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO NORTE DO PARANÁ .................... 11
Reflexão .............................................................................................................. 12
Atividades de Reflexão ........................................................................................ 13
Reflexão .............................................................................................................. 14
Reflexão .............................................................................................................. 15
4 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E EXODO RURAL NO MUNICÍPIO DE JANDAIA DO SUL-PR .......................................................................................... 16
Atividades de Reflexão ........................................................................................ 17
5 CRESCIMENTO HORIZONTAL DE JANDAIA DO SUL ..................................... 19
Texto 3 - Um Estudo Sobre a Promoção da Especulação Imobiliária pelo Poder
Público em Ponta Grossa – PR ............................................................................. 19
Atividades de Reflexão ........................................................................................ 20
Texto 4 – Transporte Individual x Coletivo........................................................... 23
Atividades de Reflexão ........................................................................................ 24
7
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 25
1
INTRODUÇÃO
Este documento é uma proposta de ação didática realizada via PDE a ser
desenvolvida no Colégio Estadual Unidade Polo de Jandaia do Sul, sendo
trabalhada nas 2 séries A e B do respectivo colégio.
Este documento encontra-se subdividido em 5 grandes eixos, cujos quais
abordaram as seguintes temáticas: A Modernização da Agricultura do Brasil;
Impactos decorrentes da Modernização da Agricultura; Modernização da Agricultura
no Norte do Paraná; Modernização da Agricultura e êxodo rural no Município de
Jandaia do Sul-PR; Crescimento Horizontal de Jandaia do Sul.
O presente trabalho visa discutir o êxodo rural e a dinâmica populacional do
município de Jandaia do Sul-Paraná no contexto do ensino de Geografia.
O trabalho apresentará dados e levantamentos sobre a conjuntura do
município de Jandaia do Sul no contexto do processo de modernização da
agricultura no país e no Estado, apresentando as principais transformações
ocorridas no meio agrícola de Jandaia do Sul, mudanças estas que estão vinculadas
as questões de ordem estrutural da produção agrícola nas últimas três décadas do
século XX e início do século XXI, e, ainda cujas mudanças, acarretaram uma nova
configuração do espaço local, particularmente em relação ao êxodo rural.
O trabalho propõe dar aos alunos subsídios para que os mesmos possam
perceber que as transformações que ocorreram no espaço geográfico ao qual estão
inseridos, não são isoladas, ou seja, estão contextualizadas numa dimensão
Estadual, Nacional e até mesmo internacional.
A análise dos levantamentos que apontam um rápido processo de êxodo
rural no município de Jandaia do Sul entre as décadas de 1980 e 2010 faz do
trabalho em questão um importante instrumento que visa possibilitar a compreensão
da dinâmica populacional do referido município, tendo em vista que a disciplina de
geografia tem como objeto de estudo o espaço geográfico, particularmente
analisando as diferentes espacialidades. Cabe a esta disciplina dar respostas a
alguns fenômenos que ocorrem em uma região ou lugar. Por esse motivo a pergunta
que norteará nosso estudo é: Como pensar em metodologias e linguagens para o
2
ensino de Geografia que possam discutir a dinâmica populacional de Jandaia do
Sul-PR e sua relação com o êxodo rural?
3
1 FAMÍLIAS DE RETIRANTES NORDESTINOS
Figura 1 – Família de Retirantes Nordestinos
Na imagem anterior, uma família de (retirantes) termo regional utilizado para
designar aquele que deixa sua terra de origem, ou seja, retira-se a busca de novas
áreas de atração econômica para que possa assegurar sua sobrevivência. As duas
estrofes da música de Patativa do Assaré buscam detalhar os motivos da saída do
nordestino de sua terra e os obstáculos que teria pela frente.
Música
TRISTE PARTIDA
(...)Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
4
Com medo da peste
Da fome feroz Ai,
ai, ai, ai(...)
(...)Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível Que
tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai(...)
(Patativa do Assaré)
Muito embora o compositor atribua aos fatores naturais o motivo da evasão
do sertanejo nordestino, muitos outros motivos são responsáveis, como
principalmente a concentração fundiária do agreste nordestino, que diretamente
impulsionou a retirada de muitas famílias de sertanejos nordestinos para outras
regiões do país, particularmente as regiões sudeste e sul. Este aspecto da estrutura
fundiária fez com que a falta de oportunidades de trabalho e baixa renda dessas
famílias contribuísse para o êxodo rural, sendo dessa forma um fator
predominantemente econômico.
Texto 1 - As Migrações e as Particularidades do Caso Brasileiro Até 1980
O processo de urbanização no Brasil só se acelerou e assumiu uma
dimensão realmente estrutural na segunda metade do século passado. Somente na
5
década de sessenta é que a população urbana superou a rural. A velocidade do
processo de urbanização, muito superior à dos países capitalistas mais avançados,
foi a grande novidade do caso brasileiro. Exemplificando, em apenas 50 anos, na
segunda metade do século XX, a população urbana passou de 19 milhões para 138
milhões, multiplicando-se 7,3 vezes, com uma taxa média anual de crescimento de
4,1%. O que significou, a cada ano, em média, que 2,4 milhões de habitantes eram
acrescidos à população urbana. (...) As migrações internas redistribuíam a
população do campo para as cidades, entre os estados e entre as diferentes regiões
do Brasil, inclusive para as fronteiras agrícolas em expansão, onde as cidades eram
o pivô das atividades econômicas. Mas, o destino fundamental dos migrantes que
abandonavam os grandes reservatórios de mão de obra – o Nordeste e Minas
Gerais, principalmente – eram as grandes cidades, particularmente, os grandes
aglomerados metropolitanos em formação no Sudeste, entre os quais a Região
Metropolitana de São Paulo se destacava. (...). Os caminhos percorridos pelos
migrantes, através das grandes trajetórias migratórias, traziam a esperança, nem
sempre efetivada, de uma melhoria das suas condições de vida. Os grandes
aglomerados metropolitanos eram os lugares, por excelência, onde era possível
viabilizar a articulação entre mobilidade espacial e mobilidade social. Mesmo que
houvesse um “tempo de adaptação” ou que se tivesse que passar um período nos
setores tradicionais da própria economia urbana.
Tabela 1 – Brasil: Taxa de Urbanização
Fonte: http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/arlindojunior//geografia031_clip_image004.jpg
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1.3 Atividades de Reflexão
Analise a tabela anterior e responda:
a) Qual região brasileira teve o maior aumento percentual em relação a
urbanização?
b) Entre as décadas de 1950-1970, qual região tornou-se mais urbanizada?
Justifique:
2) Segundo a letra da música de Patativa do Assaré, o sertanejo deixa sua
terra sem nenhuma mágoa ou tristeza? Justifique extraindo da letra sua justificativa:
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2 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E O ÊXODO RURAL
O processo de modernização da agricultura no Brasil ocorreu gradualmente,
sendo que, mais especificamente a partir da década de 1950, com a necessidade de
uma maior inserção na cadeia produtiva internacional, atendendo a lógica do
capitalismo, esta agricultura se dinamiza com a entrada de insumos importados a
princípio, e posteriormente, já na década de 1960, o desenvolvimento de indústrias
nacionais para produção destes insumos.
Na perspectiva de aprimorar ou dar novo impulso a agricultura brasileira, no
decorrer da década de 1960 surge um novo modelo econômico agrícola no Brasil,
substituindo o modelo de produção com técnicas ou insumos importados pela
formação do complexo agroindustrial brasileiro. (SILVA, 2013)
Figura 2 – Êxodo Rural
Analisando a figura 2, pode-se perceber que a modernização da agricultura
trouxe em seu contexto alguns desarranjos sócio-espaciais, particularmente em
relação as pessoas que saíram do campo migrando-se para as cidades. Este
desarranjo deveu-se basicamente pela falta de qualificação profissional dos antigos
8
moradores rurais no contexto produtivo urbano. Fator este que ocasionou uma
extrema marginalização deste indivíduo nos núcleos urbanos em expansão.
Reflexão
Faça um levantamento em seu bairro e vizinhanças sobre as origens dos
moradores destas áreas, questionando aos mesmos os seguintes pontos:
a) Atividades desenvolvidas nas localidades de onde vieram?
b) Estas atividades estavam ligadas a qual setor (Agrícola, Industrial,
Comercial)?
c) Se a resposta da questão (b) estiver ligada ao setor agrícola, questione
se a pessoa entrevistada era proprietário, parceiro, meeiro ou empregado?
d) Qual atividade desenvolve atualmente?
e) Na sua opinião e com base nos levantamentos o que está implícito na
mensagem das duas imagens anteriores?
Texto 2 – Impactos Decorrentes da Modernização da Agricultura Brasileira
(...)As condições econômicas, sociais e políticas brasileiras indicam
disparidade entre diferentes classes sociais que marginaliza diretamente as classes
menos favorecidas, como os agricultores com baixo poder aquisitivo, pequenos
proprietários e agricultores familiares com área restrita. A modernização da
agricultura brasileira tendeu a favorecer o aumento da participação relativa das
camadas mais ricas na apropriação da renda total. (GRAZIANO DA SILVA, 2000).
Assim, o aumento generalizado da pobreza no campo pode ser visto como resultado
do processo de modernização, pois a expansão da grande propriedade com a
mecanização e utilização de agroquímicos diminui a necessidade de mão-de-obra
permanente, ao mesmo tempo em que os trabalhadores volantes (bóiasfrias) vêem
sua oferta de trabalho diminuir cada vez mais e acabam se sujeitando a duros turnos
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no campo por diárias cada vez mais irrisórias (AMSTALDEN, 1991). A pobreza se
intensificou pela distribuição desigual da terra e de outros bens, com a manutenção
e reforço da estrutura agrária concentrada, ou seja, foi justamente isso e o
favorecimento às propriedades patronais que deram origem à expressão
“modernização conservadora” para referir-se a este processo (EHLERS, 1999).
Guimarães (1979, p. 331) enfatiza a acentuação da dualidade do processo evolutivo
que se verifica na agricultura brasileira: “[...] enormes e cada vez mais profundas
desigualdades existentes entre a grande e a pequena exploração agrária, e entre a
agricultura de abastecimento interno e a agricultura de exportação.” (...)
Atividades de Reflexão
1) Quais são os principais problemas urbanos verificados em decorrência do
rápido crescimento das cidades brasileiras?
2) Com base na análise do texto 2, responda:
a) Qual é o significado da expressão bóia-fria? Justifique sua resposta:
b) Explique com suas palavras o significado da expressão modernização
conservadora:
A saída o antigo morador das pequenas propriedades rurais faz com que
este acabe se afastando de suas origens sociais e culturais, ou seja, muitas de suas
tradições são esquecidas agora nos centros urbanos. Como ilustra melhor a letra a
seguir.
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2.4 Música
O Cio da Terra
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
Milton Nascimento e Chico Buarque
2.5 Reflexão
1) Quais dos termos da letra são raramente utilizados no meio urbano e
quais são os significados dos mesmos? Para facilitar sua resposta pergunte aos
antigos moradores do campo, questionando aos mesmos se os termos sublinhados
por você fazem parte do cotidiano destes, ou são também desconhecidos? Elabore
algumas questões para sua reflexão sobre os motivos que levaram estas pessoas a
virem para as cidades?
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3 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO NORTE DO PARANÁ
Assim como no Brasil, o processo de modernização agrícola também se
configura no Paraná, em particular, tomamos como referência a região norte do
Estado onde tem como principal aspecto desta configuração, uma reorganização,
frente a progressiva substituição da cultura do café pelas culturas da soja e do trigo,
dado ao incremento tecnológico para estas culturas. Muito embora esta
modernização não signifique necessariamente desenvolvimento social, pois na
verdade pode-se dizer foi a partir da modernização da agricultura na região norte do
Estado que ocorre um processo de reorganização social, ou seja, a urbanização
começa a ter um papel decisivo em relação ao campo, processo este que ocorreu no
Brasil como um todo. O gráfico 2 demonstra um pequeno sintoma desta
modernização no tangente a frota de tratores.
Gráfico 1 - Número de Tratores na Região Norte do Paraná entre 1970-1985
Fonte: IBGE, 1990
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3.1 Reflexão
O número de tratores entre as décadas de 1970 e meados da década de
1980 sofreu um aumento considerável. Este levantamento aponta uma remodelação
do espaço agrário da região norte do Estado.
a) Você pode identificar quais foram as principais mudanças em relação a
implantação de novas culturas agrícolas nesta região? Consulte órgãos oficiais
como a Emater/Acarpa, IBGE Ipardes entre outros, para dar sustentação a sua
resposta.
b) Em relação a população rural desta região, quais foram as principais
mudanças quanto a sua distribuição e organização espacial?
c) Em Jandaia do Sul ocorreram grandes transformações do espaço rural
neste período? A frota de tratores também sofreu um aumento? Consulte a
Prefeitura Municipal (Secretaria de Agricultura e Abastecimento).
Este indicador serve apenas como referencial, dentre tantos outros para
ilustrar melhor o processo de modernização agrícola no norte do Paraná. Segundo
Moro (2000) com a introdução das culturas associadas (soja e trigo) e seu elevado
índice de mecanização, com a disponibilidade de crédito altamente subsidiado para
a modernização agrícola de certas culturas, as férteis terras do norte do Paraná
tornam-se altamente valorizadas. Neste contexto muitos dos antigos pequenos
produtores de café por não possuírem equipamentos necessários para esta
modernização acabam falindo ou arrendando suas propriedades.
Durante a década de 1970, o norte do Paraná vivencia um período de
intensa concentração da posse da terra, onde ocorre a redução de
aproximadamente 38% dos estabelecimentos agropecuários (IBGE 1975). Ainda
segundo Moro (2000) a dimensão média de ha por estabelecimento aumentou de
forma expressiva, de 22,0 ha em 1970 para 38,1 ha em 1980.
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3.2 Atividades de Reflexão
1) Você acredita que estas mudanças de ordem econômica na
reorganização do espaço norte-paranaense foi planejada e sem nenhum dano à
população que passou a residir nas cidades?
2) Justifique sua resposta.
Na verdade, a modernização agrícola do norte Paraná é reflexo da
conjuntura nacional de investimentos para o setor agrário, sendo dessa forma, uma
parte do todo.
Mesmo tendo como referência o norte do Paraná, o fenômeno de expansão
das áreas dos estabelecimentos agrícolas ocorre basicamente em todo o Estado
como demonstra as tabelas 1 e 2.
Tabela 2 - Número de Estabelecimentos Agropecuários no Norte do Paraná e Área Ocupada em % da Área Total entre 1970-2006
Menos de 10 há
10 a menos de 100 ha
100 a menos de 1000 há
1.000 e mais
Sem declaração
Total
1970 estab. Área%
295.272 53,3%
240. 936 43,5%
17. 158 3,1%
1. 087 0,1%
0.35 0.0%
534.803 100%
1975 estab. Área%
237. 068 49,5%
218 886 45,7%
20. 213 4,2%
1. 348 0,3%
0.938 0,3%
478.453 100%
1980 Estab. Área%
214 995 47,3%
215. 031 47,4%
22.349 4,9%
1. 537 0,3%
0.191 0,1%
454.103 100%
2006 estab. Área%
165. 513 44,6%
170. 403 45,9%
25. 112 6,8%
1. 191 0,3%
0.883 2.4%
363.102 100%
Fonte: IBGE-Censos Agropecuários
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3.3 Reflexão
a) Analisando a tabela anterior, você pode identificar qual dos grupos
territoriais sofreu um maior aumento percentual?
b) Você já ouviu a expressão concentração fundiária?
c) Qual a relação entre a tabela e o êxodo rural?
De acordo com a tabela verifica-se uma redução de aproximadamente 32%
do número de estabelecimentos agropecuários no norte do Paraná entre 1970-2006,
sendo que o número estabelecimentos situados abaixo de 10 ha sofreu a maior
redução, ou seja, em torno de 8,7%, enquanto os estabelecimentos situados entre
100 a menos de 1000 ha tiveram um aumento de 3,7%, da área total, sendo este
grupo, o que apresenta o maior crescimento do conjunto.
A cultura da soja torna-se o foco das atenções capitalistas, sendo que no
norte do Estado esta cultura é uma forte concorrente da cultura do café que vai
gradativamente perdendo seu status de cultura hegemônica no norte do Estado.
O Paraná no decorrer da década de 1970 passa por um intenso processo de
modernização, onde a soja torna-se a cultura eleita em substituição ao café, o norte
do Estado mais particularmente, situa-se como principal foco dessa modernização.
[...] pois nela se encontram, na década de 70, regiões que apresentaram graus e ritmos diferentes de integração à modernização tecnológica, o que permite verificar como se deu esse processo, bem como acompanhar suas conseqüências. “Encontra-se também um produto que contém em si as condições de funcionar como introdutor das inovações mecânicas, químicas e biológicas: a soja. (FLEISHFRESSER, 1988, p.17)
Enquanto a cultura da soja recebe uma série de incentivos governamentais,
tais como linhas de créditos com baixíssimas taxas de juros, as culturas voltadas ao
abastecimento do mercado interno consumidor fica relegada a pequenos produtores,
arrendatários, parceiros e ocupantes.
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3.4 Reflexão
a) “Mas por que a soja como substituta do café”?
b) Faça uma pesquisa sobre o consumo de soja no Mundo, quais os
principais países consumidores?
c) “Por que a soja e não o feijão”?
Faça um levantamento da camada social de agricultores que se dedica a
cultura de soja em Jandaia do Sul, são ( ) Pequenos ( ) Médios ( ) Grandes
produtores.
16
4 MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E EXODO RURAL NO MUNICÍPIO DE JANDAIA DO SUL-PR
Jandaia do Sul a exemplo de Brasil e Paraná, também sofreu em meados da
década de 1970 um processo bastante acelerado de mecanização no campo, com a
introdução de lavouras mecanizadas, pastagens, reflorestamentos e cana-de-
açúcar, que reduziram os níveis de emprego no campo e provocaram êxodo rural.
Hoje 92,3% das propriedades rurais são minifúndios1. Existe ainda forte
dependência da população de Jandaia do Sul a outras cidades vizinhas, como
Apucarana, Maringá e Londrina, para acesso a bens e serviços não encontrados
localmente (IPARDES, 2011).
O fato de predominar as culturas anuais e mecanizadas na área rural, fez
com que gradativamente a população da zona rural buscasse os centros urbanos,
sendo estes centros, não propriamente a cidade de Jandaia do Sul, mas sim o local
onde propiciasse a estes ex-agricultores e suas famílias, condições de
sobrevivência, já que o processo de saída do homem do campo no município de
Jandaia ocorreu de maneira muito rápida, principalmente em meados da década de
1970, após a grande geada que afetou uma grande área produtora de café na região
norte do Paraná, onde se insere o município de jandaia do Sul Os dados que serão
apresentados propiciam uma melhor compreensão da realidade populacional do
município nas últimas décadas. O mesmo sofreu uma redução da população rural de
19,7% entre 1991 e 2000 e um aumento da população urbana de 11,3% entre 1991
e 2000, atingindo o índice de urbanização a 86,8% em 2000; apresentando um
processo de envelhecimento, com redução nos estratos de população até 29 anos e
aumento nos estratos acima de 30 anos entre 1991 e 2000, tendo a idade média da
população passado de 24,7 anos para 28,6 anos no período. O crescimento da
população em Idade Ativa de 1.177 pessoas entre 1991 e 2000, aumentando a sua
participação em 2,4% na população total (IBGE, 2008).
1O minifúndio é a propriedade fundiária de dimensão mínima, em função de vários fatores: a situação regional, a destinação econômica e a produtividade. No Brasil o minifúndio está atrelado principalmente à agropecuária de subsistência, geralmente familiar, com baixos conhecimentos e pouco ou nenhum acesso às tecnologias mais modernas de cultivo e criação.
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Embora o saldo migratório rural tenha sido negativo para todas as microrregiões do Estado, foi extremamente desigual a sua proporção. Para algumas microrregiões, a taxa líquida indica que o crescimento populacional da década de 1970 esteve muito abaixo do esperado (SCHÖRNER, 2009, p. 206).
Na verdade, o caso de Jandaia do Sul, não é uma situação isolada, pois na
grande maioria dos municípios do “Norte Novo e Novíssimo” do Paraná, vivenciaram
durante a década de 1980 um processo de inserção da dinâmica da Economia de
Mercado (MORO, 2000), visando à obtenção de divisas numa escala mundial, onde
a agropecuária de subsistência se deprime aos grandes complexos do agronegócio.
Dessa forma, é importante destacar que o inchaço urbano de algumas
metrópoles regionais do Norte Novo e Novíssimo do Paraná obteve um crescimento
bastante acelerado de seus núcleos urbanos, a exemplo de Maringá e Londrina.
Gráfico 2 -Evolução da População Urbana de Jandaia do Sul
entre 1970-2010
Fonte: IBGE(2010) Atividades de Reflexão
1) Com base nos dados do gráfico, você observa um decréscimo
populacional moderado da população do campo no município de jandaia do sul entre
1970-2010?
25.000 20.000 15.000 10.000
rural
urbana
5.000
0 1970 2000 2010
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2) Pesquise juntos aos órgãos oficiais (IBGE, IPARDES, PREFEITURA
MUNICIPAL) justificativas para sua resposta:
3) A que fatores você atribui a redução da população total de Jandaia do Sul
nos últimos anos?
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5 CRESCIMENTO HORIZONTAL DE JANDAIA DO SUL
Entende-se por crescimento horizontal das cidades, o processo de expansão
das mesmas em direção ao horizonte, ou seja, com um reduzido número de edifícios
e um grande número de residências térreas. Este processo de crescimento
horizontal tal qual ocorreu em Jandaia do Sul-PR, foi, e ainda é, muito comum nas
cidades norte paranaenses, que tiveram uma lógica de crescimento espontânea, ou
seja, cresceram sem um planejamento ordenado.
O crescimento horizontal de Jandaia do Sul, assim como outras cidades
paranaenses e brasileiras, acarretam grandes impactos em seus meios naturais, tais
como a invasão de áreas de mananciais e destruição de grandes áreas verdes.
Além dos danos ambientais os fatores de ordem econômica são marcantes neste
processo, a exemplo da especulação imobiliária que provoca uma supervalorização
das áreas ociosas, fazendo com que muitos não tenham condições de adquirir suas
propriedades.
Texto 3 - Um Estudo Sobre a Promoção da Especulação Imobiliária pelo Poder Público em Ponta Grossa – PR
(...)O Planejamento Urbano, como estratégia de desenvolvimento
socioespacial, tem dado lugar a um planejamento com enfoque mercadófilo, ou seja,
ajustado aos interesses do capital. O Estado, por sua vez, atualmente, tem sua
presença diminuída, e suas intervenções, ao invés de atenderem a demandas da
população em geral, visam agora aos interesses do capital imobiliário e outros
segmentos dominantes (SOUZA, 2002).
Em Ponta Grossa, houve uma expansão demasiada do perímetro urbano,
entretanto não acompanhada da sua efetiva ocupação, fato esse que culmina em
vazios urbanos contrastados com a carência de moradias. A cidade, assim,
configura um quadro, refletido em seu espaço urbano, de grandes disparidades em
relação às condições de vida da população.
20
O interesse dos proprietários desses vazios urbanos em lucrarem com a
especulação imobiliária ocasiona uma segregação da população cada vez mais em
direção às áreas periféricas, influindo assim na demanda de infraestrutura para tais
áreas, as quais acabam por não receber os investimentos públicos suficientes para
uma boa qualidade de vida.
Ana Carolina Rodrigues de Oliveira(2010)
Figura 3 - Foto Aérea de Jandaia do Sul
Os pontos 1, 2 e 3 indicam respectivamente: Conjunto Habitacional Nova
Jandaia, Mata ciliar nas proximidades do afloramento do rio Cambará e Zona central
de Jandaia do Sul nas proximidades da Igreja Matriz São João Batista.
Atividades de Reflexão
1) Analisando o texto 3 e fazendo um paralelo com a foto aérea de Jandaia
do Sul, você pode identificar o motivo da construção do conjunto Habitacional Nova
Jandaia, numa área tão distante da Zona Central? Pesquise o ano da criação deste
conjunto e identifique o contexto histórico de Jandaia do Sul neste período.
2) Analise o afloramento do rio Cambará apresentado na foto e levante quais
os principais impactos provocados pela urbanização nas proximidades deste
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afloramento. Faça uma pesquisa “Memória Viva”com moradores mais antigos desta
região.
3) Você considera Jandaia do Sul uma cidade que apresenta ainda um
grande carência de moradias?
4) Quais soluções você poderia apresentar para reduzir os problemas
habitacionais de Jandaia do Sul?
5) Segundo sua análise, quais são as áreas mais adequadas para a
instalação de conjuntos habitacionais em Jandaia do Sul? Tome como referências
os vários fatores que pode ou não contribuir para a instalação de um núcleo
habitacional. Tais como: Topografia, áreas verdes, permeabilidade do solo entre
outros.
Figura 4 - Av. Getúlio Vargas Jandaia do Sul 2010
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Figura 5 - Av. Getúlio Vargas Jandaia do Sul 1950
Como você pode observar a avenida Getúlio Vargas de Jandaia do Sul, em
dois momentos distintos, não apresentou transformações tão radicais em relação a
sua extensão, no entanto, um grande processo de pavimentação asfáltica foi
verificado nesta região. Estes dois momentos caracterizam a idéia de que grande
fluxo de pessoas ainda circulam por aquele local, porém um reduzidíssimo número
de edifícios ali se instalou. Todavia pensar que o desenvolvimento de uma cidade se
dá ou se mensura pela quantidade de edifícios não é a intenção do texto, mas na
verdade trata-se de uma ordem quase natural de ocupação do espaço pelo homem
moderno.
Estas imagens representam uma restrição da ocupação das áreas centrais
do município por indivíduos privilegiados por um fator histórico-colonial que
estabeleceram-se nestas áreas e ali permanecem até hoje, restando portanto aos
novos moradores as periferias e conjuntos habitacionais distantes do centro urbano
central.
Aparentemente esta questão não é tão relevante, mas o que geralmente não
se analisa é o quanto ela é importante se levarmos em conta que o município de
Jandaia do Sul não conta com praticamente nenhuma empresa de transporte
coletivo metropolitano que facilitaria o deslocamento de pessoas de suas residências
ao trabalho, cujo local, deste trabalho geralmente situa-se muito distante de suas
casas.
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Texto 4 – Transporte Individual x Coletivo
(...) Mas tudo tem um preço. E o preço que pagamos foi caro. O automóvel
individual foi prioridade dos investimentos em mobilidade urbana (e em boa parte
dos casos ainda é). Túneis, vias expressas e investimentos correlatos superaram
aqueles dedicados aos diferentes modais (como o ferroviário). Mesmo no modal
rodoviário, do ponto de vista de espaço ocupado nas vias públicas, os automóveis
tiveram prioridade, na maioria das vezes, em detrimento dos ônibus.
A intensa migração, o encarecimento dos terrenos centrais, mais bem
situados (levando-se em conta o transporte deficiente), e demais fatores criaram
incentivos para a configuração espacial das nossas metrópoles: as classes de
menor poder aquisitivo acabam por se concentrar nas periferias. Lá os preços dos
terrenos são menores, compensando a baixa acessibilidade e a insuficiência de
infraestrutura.
Ou seja, a classe com menores condições reside distante dos locais de
emprego, consumo e entretenimento. Além disso, essa classe depende de
transporte público pouco eficiente e de baixa qualidade, pois este não foi priorizado
ao longo de décadas. Mais ainda, quando membros dessa classe conseguem obter
crescimento de renda e acesso a crédito, desprivilegiados que são em sua
mobilidade, têm como principal impulso a aquisição de automóveis. Isso, por sua
vez, somente agrava ainda mais o quadro de engarrafamentos em massa das
metrópoles. (...)
Vladimir Fernandes Maciel,2009.
O Texto apresenta uma realidade muito comum nas cidades de pequeno
porte do Norte Velho e Novo do Paraná onde a frota automotiva vem aumentando
progressivamente e os espaços urbanos ofertando condições estruturais precárias
para comportar este crescimento, a exemplo de Jandaia onde a região central
apresenta grandes dificuldades de deslocamento e estacionamento de veículos.
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Jandaia apresenta um número considerável de veículos proporcionalmente a
sua população, ou seja, em torno de 6834 automóveis, 1297 camionetes, 1685
motocicletas, 622 caminhões e demais meios de locomoção totalizando
aproximadamente 10000 veículos (DENATRAN(2012). Estes números conferem
aproximadamente uma média de 0,4 veículos por pessoa residente em Jandaia do
Sul.
Atividades de Reflexão
1) Faça uma pesquisa na região central de Jandaia e aponte os principais
problemas verificados nesta região em relação ao transito de veículos.
2) Aponte algumas soluções para os problemas encontrados.
3) Na sua opinião quais são os fatores responsáveis pela grande frota
automotiva em Jandaia do Sul?
Baseado nesta análise pode-se perceber que dentre as várias
transformações decorrentes da nova configuração do espaço jandaiense, o
transporte também se configura como um indicador de grande importância neste
processo.
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REFERÊNCIAS
CAMPOTERRITÓRIO. Revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.
GRAZIANO DA SILVAJ. Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São Paulo: HUCITEC, 1981. 210 p. (Economia & Planejamento. Série “Teses e Pesquisas”).
. A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1982. 192 p.
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja &docid=27K5-
http://www.pucrs.br/mj/datas-comemorativas/transito/artigo-problemas-e-desafios-do- transporte-publico-urbano.php
IBGE%20%20%20Cidades%20%20%20Infográficos%20%20%20Paraná%20%20% 20Jandaia
OLIVEIRA, A. C. R. Um estudo sobre a promoção da especulação imobiliária pelo poder público em Ponta Grossa – PR. dez. 2010.