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1 Agricultura e pecuária no semiárido nordestino e suas adversidades em relação ao clima alterando a atual dinâmica demográfica do município Caraúbas/RN RESUMO Este estudo se propõem a discutir acerca as dinâmicas populacionais no espaço rural, a partir da análise do clima e a produção agropecuária da região, investigando as principais questões sobre a sustentabilidade social no meio rural entre os anos de 1970 e 2014. No cenário de uma cidade localizada na porção central do Estado do Rio Grande do Norte, na microrregião do Médio Oeste Potiguar, observou-se a relação entre os períodos de estiagem e permanência dessas populações na área rural. Avaliando as relações de suas produções agrícola e pecuária com a precipitação anual e as mudanças nos padrões familiares. Os resultados destacam que, embora com um tênue crescimento na produção pecuária após 1983 e a queda periódica da produção agrária em suas principais culturas (algodão, castanha de caju, feijão e milho) o êxodo rural persiste em todo o período do Censitário a partir de 1970. Mesmo nas áreas rurais mais tradicionais, sejam aquelas dinâmicas ou as mais pobres. Que também reforça a propensão dos mais jovens e das mulheres a deixarem o campo, em busca de melhores oportunidades de emprego, renda e estabilidade social. O trabalho finalmente discute as implicações dessas mudanças sobre a sustentabilidade da atividade agrícola em médio e longo prazo, sobretudo para as unidades produtivas familiares pequenas e mais vulneráveis. Além disso, propor políticas públicas que ajudem a minimizar os problemas que o clima e a estiagem criam nas populações rurais desse município. Palavras chave: pequenas cidades, semiárido, população rural, precipitação, produção agropecuária, dinâmica populacional

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Agricultura e pecuária no semiárido nordestino e suas adversidades em relação ao clima alterando a atual dinâmica demográfica do município Caraúbas/RN

RESUMO

Este estudo se propõem a discutir acerca as dinâmicas populacionais no espaço rural,

a partir da análise do clima e a produção agropecuária da região, investigando as

principais questões sobre a sustentabilidade social no meio rural entre os anos de 1970

e 2014. No cenário de uma cidade localizada na porção central do Estado do Rio

Grande do Norte, na microrregião do Médio Oeste Potiguar, observou-se a relação

entre os períodos de estiagem e permanência dessas populações na área rural.

Avaliando as relações de suas produções agrícola e pecuária com a precipitação anual

e as mudanças nos padrões familiares. Os resultados destacam que, embora com um

tênue crescimento na produção pecuária após 1983 e a queda periódica da produção

agrária em suas principais culturas (algodão, castanha de caju, feijão e milho) o

êxodo rural persiste em todo o período do Censitário a partir de 1970. Mesmo nas

áreas rurais mais tradicionais, sejam aquelas dinâmicas ou as mais pobres. Que

também reforça a propensão dos mais jovens e das mulheres a deixarem o campo, em

busca de melhores oportunidades de emprego, renda e estabilidade social. O trabalho

finalmente discute as implicações dessas mudanças sobre a sustentabilidade da

atividade agrícola em médio e longo prazo, sobretudo para as unidades produtivas

familiares pequenas e mais vulneráveis. Além disso, propor políticas públicas que

ajudem a minimizar os problemas que o clima e a estiagem criam nas populações

rurais desse município.

Palavras chave: pequenas cidades, semiárido, população rural, precipitação,

produção agropecuária, dinâmica populacional

                                                                                                                           

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1. INTRODUÇÃO

No Rio Grande do Norte, mais de 90% de seu território está localizado numa

região denominada de polígono da seca, isso quer dizer que no Estado a

predominância do clima é do tipo semiárido. Devido a isso, a irregularidade

pluviométrica nessa região é algo que impacta diretamente na vulnerabilidade de

população, dificultando a permanência do homem no campo devido as suas várias

atividade produtivas se fragilizarem diante das incertezas climáticas. Nessa região, as

caraterísticas do clima, como: baixa pluviosidade, altas temperaturas, alta incidência

de raios solares refletem diretamente na dinâmica econômica dessas populações

submetidas a irregularidades da chuva que comprometem e frustra todo o processo

produtivo.

Para entender esse contexto, o objeto de estudo será o município de Caraúbas,

localizado na mesorregião oeste Potiguar e mais precisamente na microrregião da

Chapada do Apodi, limitando-se ao Norte com os municípios de Governador de Dix-

Sept-Rosado e Felipe Guerra; ao Sul com Janduís, Patu e Olho d’água dos Borges; ao

Leste com Campo Grande e Upanema e ao Oeste com Apodi. Do ponto de vista

geográfico, Caraúbas se localiza na latitude: 5° 47’ 33” Sul e longitude: 37° 33’ 24”

Oeste, distando–se 309 Km da capital potiguar, Natal. Caraúbas é considerada uma

cidade de pequeno porte pois sua população é menor que cinquenta mil habitantes.

Nesse contexto ela representa 93,39% que equivale a 1059 municípios no Semiárido

brasileiro (Censo 2010, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE).

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Mapa 01: Mapa de Localização do município de Caraúbas–RN.

Fonte: Adaptado do site Google Maps. Abril/2106.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município

apresenta atualmente uma área total territorial de 1.132,857 Km², representativo ao

bioma Caatinga no semiárido nordestino. De acordo com o censo demográfico do

IBGE do ano 2010, a população total do município era de 19.576 habitantes, sendo

que 13.704 moram na zona urbana e, 5.872 residem área rural.

Com a instalação da estações da linha férrea que ligava a cidade de Mossoró a

Sousa na Paraíba. A partir desse momento, Caraúbas passa a ser considerada um

entreposto comercial que tem na cultura algodoeira a sua mercadoria hegemônica. Na

década de 1970, essas atividades ligadas ao cultivo e ao beneficiando do algodão

entram em declínio, e decreta da desativação da linha férrea. A crise é em parte

minimizada pela cultura do caju que começa a se desenvolver na cidade

transformando o município num dos principais produtores da região.

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Foto 01: Produção artesanal da castanha de caju, no município de Caraúbas, 2016.

Fonte: foto retirada pelo autor

Na última década, as principais produções agrícolas são: a castanha de cajú, a

melancia, o feijão, o milho, o algodão, a mandioca e o arroz (Produção agrícola

municipal, IBGE).

Tabela 01 - Quantidade produzida de Lavouras temporárias e permanentes na município Caraúbas no período de 2004 a 2014

Ano

Castanha de caju

(ton) Melanci

a

Feijão (em

grão)

Milho (em

grão)

Algodão herbáce

o (em caroço)

Mandioca

(ton)

Arroz (em

casca) 2004 4.400 - 945 720 678 15 40 2005 5.000 301 647 408 180 38 67 2006 5.000 301 775 480 120 38 100 2007 5.000 301 496 288 120 38 100 2008 5.000 301 420 306 90 38 100 2009 5.000 361 193 148 60 38 107 2010 5.000 753 - - - 38 32 2011 5.000 700 540 450 10 70 120 2012 5.000 420 42 40 2 70 120 2013 4.500 980 250 240 - 100 120 2014 3.500 980 200 80 - 50 40

Nota: 1 - O produto Castanha de cajú é considera lavoura Permanente. As demais são consideradas temporárias; 2 - A partir do ano de 2001 as quantidades produzidas do produto melancia passa a ser expressa em toneladas. Nos anos anteriores eram expressas em mil frutos; 3 - Subentende a possibilidade de cultivos sucessivos ou simultâneos (simples, associados e/ou intercalados) no mesmo ano e no mesmo local, podendo, por isto, a área informada da cultura exceder a área geográfica do município. 4- As culturas de mandioca são consideradas culturas temporárias de longa duração. Elas costumam ter ciclo vegetativo que ultrapassa 12 meses e, por isso, as informações são computadas nas colheitas realizadas dentro de cada ano civil (12 meses). N estas culturas a área plantada refere-se a área destinada à colheita no ano. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal

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Esse artigo portanto, objetiva analisar as atividades produtivas desenvolvidas

no espaço caraubense e de que forma o clima interfere frustrando a produção e

consequentemente induzindo o processo migratório do campo para a cidade na atual

dinâmica demográfica do município.

Dessa forma, o presente artigo está dividido em duas partes. A primeira

intitulada variabilidade climática e seus riscos associados às atividades

agropecuárias que traz, de forma breve, uma abordagem teórica a respeito do clima e

produção do espaço através da ocupação e exploração. Depois tratamos sobre como se

deu o distribuição demográfica nas regiões urbana e rural seguidas de alguns

resultados e considerações sobre a produção e suas relações com a permanência da

população rural a fim de observa se existe alguma modelo que explique essas

transições no decorrer do tempo.

2. Variabilidade climática e seus riscos associados às atividades agropecuárias

Os elementos climáticos variam no tempo e no espaço e são influenciados por

fatores, cujas tendências e índices de precipitação pluviométrica, que a área está

sujeita, enfatizam a importância de desenvolver estudos de escalas locais e regionais,

nos quais os impactos serão maiores pois, submetidos as condições climática de

semiaridez, variadas atividades humanas estão sensíveis a essas irregularidade

meteorológicas e climáticas do mundo.

A seca ou estiagem que afetam as regiões semiáridas caracteriza-se pelas faltas

de chuvas ou pela sua má distribuição, ocasionando irregularidades que causam danos

as atividades econômicas e a qualidade de vida das populações, que convivem em

regiões com essas características climáticas, pois devido à ocorrência de chuvas mal

distribuídas ou de baixas pluviosidades, por longos períodos, geram um decréscimo,

ou até mesmo, uma perda completa da produção.

A economia da região semiárida é particularmente

vulnerável a esse fenômeno das secas. Uma modificação

na distribuição das chuvas ou redução no volume destas

que impossibilite a agricultura de subsistência bastam

para desorganizar toda a atividade econômica. A seca

provoca, sobretudo, uma crise da agricultura de

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subsistência. Daí, suas características de calamidade

social. (FURTADO, 1967).

Apesar de antiga a citação de Furtado, ainda é verdadeiro nos dias atuais pois a

cada período de irregularidade das chuvas danos na pecuária, que reduz ou mantém

estagnado seu rebanho, quantitativo pluviométrico que determina a ampliação das

áreas de pastagem e da oferta de água. Mas também na agricultura com reflexos

profundo na vida social, pois o homem do campo vê comprometida a sua agricultura

de produção de alimentos (milho e feijão principalmente) e sua cultura comercial no

caso de Caraúbas a produção de castanha de caju.

Adaptar-se a essas rigidez do clima através do uso racional dos solos dos

suprimentos de água, incorporando novas tecnologias e processos inovadores é o

grande desafio da nossa contemporaneidade.

2.1 – Precipitação na cidade de Caraúbas

Em Caraúbas a precipitação pluviométrica se concentra em quatro meses

consecutivos do ano, fevereiro a maio, e apresenta uma intensea irregularidade

interanual, espacial e temporal, até mesmo dentro da própria estação chuvosa. A

umidade relativa anual é de 66% e o tempo de insolação de 2.177 horas/ano. Com

uma temperatura máxima de 36,0 °C, média: 27,7°C e mínima: 21,0 °C. Nos últimos

40 anos (1974-2014) a média do total anual de precipitação pluviométrica é de 645,42

mm/ano com desvio padrão de 333,2 mm/ano (EMPARN, 2016). Ou seja, com uma

variabilidade tão alta é possível observar meses de total falta de chuvas, como é

mostra o gráfico1.

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Gráfico 01: Precipitação mensal no município de Caraúbas-RN de 1974 a 2014.

Fonte: Monitoramento pluviométrico, EMPARN.

2.2 – Atividades pecuárias e suas adversidades com o clima

Avaliando a relação entre os períodos chuvosos e a criação pecuária de

bovinos, caprinos e ovinos percebe-se que o quantitativo de cabeças está relacionado

com o quantitativo pluviométrico. Demonstrando que essa culturas acompanham um

padrão comum. Isso quer dizer que no ano que há uma maior escassez de chuvas

maior será o reflexo da queda do número dessas criações no ano. Destaca-se a

tendência de queda dos rebanhos nos anos de 1983, 1993, 2003 e 2013 (Gráfico 02).

Gráfico 02: Precipitação anual e quantidade de rebanhos bovinos, ovinos e caprinos no período de 1974 e 2014 na cidade de Caraúbas/RN.

Fonte: Pesquisa Pecuária municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN

0  

100  

200  

300  

400  

500  

600  

700  Precipitação(mm)  

1974   1975  1976   1977  1978   1979  1980   1981  1982   1983  1984   1985  1986   1987  1988   1989  1990   1991  1992   1993  1994   1995  1996   1997  1998   1999  2000   2001  2002   2003  2004   2005  2006   2008  2009   2010  2011   2012  2013   2014  

0  

300  

600  

900  

1200  

1500  

1800  

2100  

0  

5.000  

10.000  

15.000  

20.000  

25.000  

30.000  

Precipitação    m

m    

Núm

ero  de  cabeças  

Precipitação  anual   Bovino   Ovino   Caprino  

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Já a criação de galináceos teve comportamento diferenciado, quando

comparado com os bovinos, ovinos e caprinos pois apresentou aumento significativo

em relação as outras criações (Gráfico 02). Esse advento é um possível reflexo do

incentivo tecnológico de instituições como o governo do estado, através do Instituto

de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER) que

fomentou a partir de políticas de fortalecimento da criação de galinhas poedeiras, que

além de ter um rápido retorno financeiro com a produção de ovos, também apresenta

vantagem com o relativo pouco investimento para engorda. Aos 120 dias, os frangos

devem pesar em torno de 1,8 quilo, sendo essa a idade e peso ideal para o abate

Gráfico 03: Precipitação anual e quantidade de galináceos no período de 1974 e 2014 na cidade de Caraúbas/RN.

Fonte: Pesquisa Pecuária municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN

Outras questões levantadas com o estudo foram que se observa, nas

propriedades rurais, uma possível substituição nos tipos de criações. Isso deve se dá

pela dificuldade produtores em manter seus animais e se veem obrigados a migrarem

de uma espécie de grande e médio porte para uma de pequeno porte, como por

exemplo, a substituição do gado, que é um animal de grande porte, para as galinhas,

que é considerado um animal de pequeno porte, justamente pela facilidade de

manusear e de abastecer com provimentos. Isso ocorre porque economicamente é

mais viável produzir uma espécie pela qual irá gastar menos com alimentação, água,

entre outros fatores do que o criatório do gado.

0  

300  

600  

900  

1200  

1500  

1800  

2100  

0  

10.000  

20.000  

30.000  

40.000  

50.000  

60.000  

70.000  

Precipitação  em  mm    

Núm

ero  de  Cabeças  

Precipitação  anual   Galináceos  -­‐  total  

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Um outro fator relaciona-se com o mercado local regional que diante do preço

da carne bovina determinou um outro hábito onde o consumo de frango entra no

cardápio de grande parte da população.

2.3 Atividades agrícolas e suas adversidades com o clima

A produtividade das diferentes culturas agrícolas é altamente dependente da

oferta pluviométrica, bem como de sua frequência e intensidade. Com isso, a época

do plantio das culturas está diretamente ligada aos elementos climáticos, dentre eles a

precipitação. A época mais recomendada para o plantio depende da distribuição das

chuvas na região e sua quantidade. Nesse sentido avaliou-se a produtividade total das

culturas em relação a precipitação total e anual em Caraúbas com o intuito de

verificar se existe alguma relação.

Gráfico 04: Quantidade produzida em toneladas de feijão, milho, algodão herbáceo (em caroço) e total de pluviosidade anual no município de Caraúbas/RN, 1990 à 2014.

Fonte: Produção Agrícola Municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN.

No gráfico 04, observa-se que há um padrão semelhante entre as culturas do

feijão, do milho e do algodão, ou seja, que aparentemente as três culturas sofrem

quedas e aumentos proporcionais ao advento das baixas precipitações. Onde a cada

ano de seca temos uma queda na produção dessas culturas. Além disso na análise do

gráfico, que detalha a produção agrícola no município de Caraúbas, chama a atenção

para a produção do algodão que a partir de 2003 não apresenta produção.

0,0  200,0  400,0  600,0  800,0  1000,0  1200,0  1400,0  

0  

500  

1000  

1500  

2000  

1990   1995   2000   2005   2010  

precipitação  mm  

Produção  em  toneladas  

Precipitação  Caraúbas  -­‐  Ano   Feijão  (em  grão)  

Milho  (em  grão)   Algodão  herbáceo  (em  caroço)  

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Gráfico 05: Quantidade produzida em toneladas de Castanha de Cajú, melancia e arroz e total de pluviosidade anual no município de Caraúbas/RN, 1990 à 2014.

Fonte: Produção Agrícola Municipal, IBGE. Monitoramento pluviométrico, EMPARN.

No gráfico 05, destaca-se a cultura do cajueiro que parece não se abalar tão

facilmente com advento das restrições de chuvas, e apresenta um crescimento

significativo a partir do ano de 2003. Essa cultura, se manifesta como um sucedâneo a

economia algodoeira. Ela consolida a expressão urbana do município, participa da

expansão da cidade, inclusive para o bairro que a fábrica de castanha de caju, onde

está instalada.

Essa cultura também contribuiu numa dinâmica socioespacial no município,

pois proporcionou o aumento de empregos da cidade, já que funcionava uma fabrica

de beneficiamento com 700 funcionários, a grande maioria de Caraúbas. É na décadas

de 80 que novos estabelecimentos comerciais surgiram, a população urbana

ultrapassou a população rural, fruto da intensificação do êxodo rural e houve uma

expansão urbana no bairro, cuja fábrica estava instalada (Tabela 03).

A atividade da cajucultura, nos dias atuais está sofrendo com o problema da

mosca branca e idade avançada do pomar que junto com a queda das chuvas está

inviabilizando a atividade de beneficiamento das amêndoas, como mostra a tendência

da produção da castanha a partir de 2013 (Gráfico 05).

Nesse contexto, os riscos climáticos associados às culturas, decorrentes da alta

variabilidade da precipitação interanual, podem ser minimizados com a determinação

das características e quantidades de chuvas e seu planejamento de atividades agrícolas

a partir da análise de dados de precipitação. Estudando as melhores épocas de

0,0  230,0  460,0  690,0  920,0  1150,0  1380,0  

0  1.000  2.000  3.000  4.000  5.000  6.000  

precipitação  mm  

Produção  em  toneladas  

Precipitação  Caraúbas  -­‐  Ano   Castanha  de  caju  

Melancia   Arroz  (em  casca)  

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semeadura para a cultura analisanso a interação entre a probabilidade de chuva, data

de semeadura e consumo de água da cultura. O conhecimento das características e

duração dos períodos chuvoso e menos chuvoso possibilita que muitas atividades

agrícolas, como a irrigação e o preparo do solo, possam ser planejadas e realizadas de

forma racional, diminuindo os riscos da produção.

2.4 - Políticas de permanência da população rural

Com o intuito de fortalecer a população campesina com a fixação dos

trabalhadores na agricultura, o Governo Federal lançou várias políticas de adquirir no

mercado de terras, um imóvel rural, e até mesmo de mantê-la produtiva sem a ajuda

de uma política pública (FURTADO, 2000). Dentre elas destaca-se a política de

assentamento rural, visando o reordenamento do uso da terra; ou a busca de novos

padrões sociais na organização do processo de produção agrícola (BERGAMASCO,

1996). através dessas políticas as unidades agrícolas independentes entre si,

consolidaram-se e ocupam um importante papel na produção agropecuária dos

municípios também através da agricultura familiar3. Onde originalmente existia um

imóvel rural que pertencia a um único proprietário. Cada uma dessas unidades,

chamadas de parcelas, lotes ou glebas é desfragmentado e variados lotes ou glebas,

um para cada família. A quantidade de glebas num assentamento depende da

capacidade da terra de comportar e sustentar as famílias assentadas. O tamanho e a

localização de cada lote é determinado pela geografia do terreno e pelas condições

produtivas que o local oferece. No presente momento, em Caraúbas, são mais de 150

comunidades de produção, sendo que as mais produtivas são: Mirandas, 1º de Maio,

Santo Antônio, São Geraldo, Mariana, Cachoeira e Igarapé.

No Censo Agropecuário de 2006 foram identificados 71.210 estabelecimentos

da agricultura familiar no RN, ou 85,74% do total (83.052 estabelecimentos),

ocupando 1,046 milhões de hectares, ou seja, 32,82% da área dos estabelecimentos

agropecuários potiguares. Já os estabelecimentos não familiares representavam

14,26% do total dos estabelecimentos, mas ocupavam 67,18% da área total.                                                                                                                          3 Conceito de “agricultura familiar” é definido por lei: Para ser classificado como agricultura familiar no Censo Agropecuário (e segundo a Lei nº 11.326), o estabelecimento precisava atender simultaneamente às condições detalhadas na publicação Agricultura familiar – Primeiros Resultados (páginas 14 a 18) - IBGE. Os estabelecimentos não enquadrados nesses parâmetros foram designados como “não familiares”.

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Em Caraúbas a agricultura familiar ocupava 71,57% dos estabelecimentos

agropecuários e apenas 28,43% são considerados não familiares (Tabela 02). Desse

total, 43,66% são considerados proprietários da terra e apenas 4,14% são produtores

mas sem a posse da terra. Esse quadro se agrava pela presença 14,22% de assentados

sem a titulação definitiva de sua terra, mas também para o número significativo de

arrendatários, parceiros e ocupantes, que juntos perfazem 20,49% dos produtores, que

sem a titulação de posse da terra, têm dificuldades ao acesso ao crédito e perpetuam

processos antiquados de ralações sociais que os estudiosos denominaram de pré-

capitalista.

Tabela 02: Número de estabelecimentos e Área dos estabelecimentos agropecuários, por condição do produtor em relação às terras e agricultura familiar

Não familiar

% Não familiar

Agricultura familiar

% Agricultura familiar

Proprietário 268 17,60 665 43,66 Assentado sem titulação definitiva 61 4,01 154 10,11 Arrendatário 9 0,59 16 1,05 Parceiro 20 1,31 100 6,57 Ocupante 67 4,40 100 6,57 Produtor sem área 8 0,53 55 3,61 Total 433 28,43 1090 71,57

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2006

3. Dinâmicas demográfica nas regiões urbana e rural

As famílias rurais são muito influenciadas por vários fatores, no que diz

respeito a sua ocupação espacial. O desenvolvimento do campo ou da cidade são

pontos forte quando observado as questões de acesso a saúde, educação e

oportunidades de emprego e renda. Segundo Sakamoto (2013), outros fatores,

considerados endógenos, também podem determinar essa escolha de região do

domicílio, como é o caso, da diminuição da a queda da fecundidade e a fragmentação

das famílias.

Segundo os dados dos Censos (BGE), a cidade de Caraúbas entre 1970 e 2010

mostra queda da participação da população rural que cai de 70,7% para 30,0%

(Tabela 01), o que qualifica a velocidade do processo de urbanização no período de

40 anos. Em termos absolutos a população rural passa de quase onze mil (10.991) do

censo de 1970 para aproximadamente seis mil (5.872) pessoas no censo de 2010. Essa

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população rural é distribuído em cerca de 150 comunidades, em sua grande maioria é

criadas ou fortalecidas pelos programas de assentamentos rural.

Tabela 03: População de Caraúbas por gênero e tipo de região entre os censo de 1970 a 2010 Ano População

total Homens Mulheres Urbana Rural

1970 15545 7.630 7915 4554 10991 % do Total 1970 100 49,08 50,92 29,30 70,70 1980 18786 9223 9563 7439 11347 % do Total (1980) 100 49,10 50,90 39,60 60,40 1991 20.248 9.938 10.310 10.676 9.572 % do Total (1991) 100 49,08 50,92 52,73 47,27 2000 18.810 9.295 9.515 12.304 6.506 % do Total (2000) 100 49,42 50,58 65,41 34,59 2010 19.576 9.568 10.008 13.704 5.872 % do Total (2010) 100 48,88 51,12 70 30

Fonte: Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Entre os períodos dos censos de 1970/2010, houve declínio expressivo das

taxas anuais de crescimento populacional rural de Caraúbas, determinado

principalmente pela taxa média geométrica de crescimento anual (%) da população

que o valor de -1,55. Taxa essa, provocada por vaiáveis tais como: falta de emprego;

o poder atrativo das cidades; irregularidades das chuvas, que comprometem a

produção agrícola e pecuária. E a ausência de políticas públicas que propiciem ao

moradores das comunidades rurais o acesso a saúde e educação, que termina por gerar

um desencanto dos jovens com as atividades rurais. E são eles os primeiros a

migrarem para as cidades, ondem acreditam que perspectivas de melhora de vida são

mais reais.

6. CONCLUSÃO

Os dados mostram que a permanência da população rural sofre influencia da

dinâmica econômica no município. Essa economia, gerada principalmente pela

produção agrícola, principalmente. Pois com a queda das suas principais culturas

como: o algodão e a castanha de caju, o evento do êxodo rural persiste em todo o

período do Censitário a partir de 1970.

No que diz respeito a pecuária no município, as criações de animais de grande

e médio porte sofrem o direto impacto das questões climática. Destacando-se a cultura

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de criação de galináceos, que diferente das outras culturas, tem seu crescimento

muito em parte, pela fácil manejo desse animal de pequeno porte e o rápido retorno

financeiro. Mesmo assim, essa cultura não teve impacto significativo como elemento

atrativo para a população na área rural de Caraúbas.

A redistribuição das áreas rurais mostra um forte impacto na dinâmica

populacional pois é através da ocupação da área rural de forma coletiva, a economia

desses povoados permite o fortalecimento da economia local dos municípios. Como

mostra os dados do último Censo agropecuário, existem mil quinhentas e vinte e três

famílias (1.523) na área rural, destas mil e noventa (1090) famílias são consideradas

por condição do produtor em relação às terras como estabelecimento de agricultura

familiar. Estratégia importante para conseguir promover a segurança e a soberania

alimentar de uma população.

As possibilidades de mudanças desse contexto que envolvem a economia e a

sociedade de municípios, como o caso de Caraúbas, ficam mais difíceis quando se

constata o aprofundamento da atual crise política e econômica do país, que rebate nos

estados e municípios que ficam sem recursos para investimento, principalmente

aqueles municípios menores que dependem financeiramente dos repasses pela União

do fundo de participação dos municípios.

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