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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

IDENTIFICAÇÃOTítulo: Educação e movimentos sociais: práticas antirracistas propostas pelomovimento negro a partir de 1950

Autor: Claudete de Castro Rech

Disciplina/Área (ingresso noPDE)

História

Escola de Implementação doProjeto e sua localização

Colégio Estadual Humberto de Campos –Ensino Fundamental, Médio eProfissionalizante, localizada na rua Pres.Vargas, 143

Município da escola Santo Antonio do Sudoeste

Núcleo Regional de Educação Francisco Beltrão

Professora Orientadora Profª Drª Sônia Maria dos Santos Marques

Instituição de Ensino Superior Unioeste – Universidade Estadual do Oeste doParaná

ResumoO estudo analisa: Educação e movimentossociais: práticas antirracistas propostaspelo movimento negro a partir de 1950. Otrabalho tem objetivo da busca pelacompreensão dos Movimentos Sociais Negroscomo agentes no espaço público brasileiro, oentendimento dos princípios que fundamentamsuas ações, a identificação das práticas, oscenários e as estratégias de promoção dasmesmas. Acreditamos que os estudos quelançam olhar para as ações educativas dasorganizações, tanto podem colaborar paradisseminar práticas antirracistas na escola,quanto para, dialogar com os movimentossociais, tomando por base as discussões quepermeia o espaço escolar. Partimos dainvestigação dos conhecimentos históricosprévios e partindo desse diagnóstico, aproblematização com questionamentosprovocativos voltados à investigação históricaarticulada pelas leituras das narrativas.Propomos o levantamento de hipóteses daspossíveis influências desencadeadoras dos

problemas sociais vivenciados pelos negros nopassado. A intervenção propõe a identificaçãodo processo histórico que resultou nosmovimentos de contestação da ordemvigenteno Brasil, contribuindo para mudançasimportantes. Assim, se ampliam aspossibilidades para o reconhecimento dasrelações de poder nos processos históricos,viabilizando a intervenção pedagógica e aconstrução de novas interações sociais.

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Educação e movimentos sociais; Práticasantirracistas; Movimento Negro

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo 9º ano do Ensino Fundamental

APRESENTAÇÃO

As práticas educativas antirracistas empreendidas pelos movimentos

sociais negros no Brasil a partir de 1950, objeto deste estudo, parte do

levantamento de hipóteses que possam salientar o efeito que as organizações

negras exerceram nas políticas públicas, de históricas reivindicações por

igualdade de direitos e da inclusão das questões raciais na agenda política

nacional.

A cada conquista, os movimentos ganham impulso à medida que avançam

na ampliação dos espaços de atuação. Os movimentos negros tem potencial

transformador capaz de mostrar para a sociedade, os efeitos do racismo e da

desigualdade que persistem na atualidade e que precisam ser confrontadas.

Assim, a Unidade Didática pretende contribuir para a compreensão de que a

ideologia alicerçada num contexto histórico de negação dos procedimentos

históricos que estabeleceram sistemas classificatórios posicionaram os diferentes

grupos étnicos na sociedade brasileira. No trabalho partimos do pressuposto que

os agentes sociais podem modificar a situação de desigualdade a que os negros

foram submetidos no país.

A produção didático-pedagógica considera a necessidade de buscar os

princípios que embasaram essas organizações, bem como, a dimensão que a

pauta educacional ocupou nesses movimentos e como tais grupos compreendiam

a importância das ações voltadas para a educação. Também, a identificação das

ações educativas empreendidas pelo movimento negro no Paraná.

A hipótese de que a pauta educacional é histórica, incitou este estudo

devido à necessidade de problematizar as práticas escolares na abordagem de

temáticas relativas às relações étnico-raciais. A auto atribuição é componente

significativo na identificação e na forma que o sujeito se aproxima de uma origem

étnica. Tal postura pode colaborar no sentido de desconstruir estereótipos e

propor novas relações, nas quais o conceito raça seja compreendido como

construção social.

Nesse sentido, os conteúdos estruturantes para o trabalho pedagógico

estarão pautados nas relações de poder: político, social e cultural. Assim, ao

buscar a compreensão dessas relações numa perspectiva dialógica com a

Proposta politica Pedagógica da Escola.

O texto de abertura da produção didática pretende lançar uma abordagem com

efeito de sensibilizar os estudantes para a compreensão a cerca da relevância do

estudo da temática e mobilizá-los para o estudo.

Na sequencia as a investigação dos conhecimentos prévios dos alunos

para diagnóstico dos saberes que o grupo tem sobre as atividades dos

Movimentos Sociais e sua importância na área na educação, sobretudo quanto as

de práticas antirracistas propostas pelos Movimentos Sociais Negros no Brasil.

O tema/problema será previamente proposto na busca para instigar a

investigação histórica articulada pelas leituras das narrativas culturalmente

construídas, estimulando a sua contextualização. Na sequência proporemos o

levantamento de hipóteses das possíveis influências desencadeadoras dos

problemas sociais vivenciados pelos negros no passado e recorrer às fontes

históricas para a pesquisa.

Como forma de sensibilizar e mobilizar o desenvolvimento do pensamento

histórico, orientaremos para o trabalho com fontes históricas como objeto de

análise e releitura com elaboração de narrativas históricas, bem como, o uso de

documentos, imagens, iconográficos, cinemas, música e literatura a ser utilizadas

como instrumento que pretende contribuir para a compreensão do tema.

O trabalho com os meios eletrônicos possibilitará o acesso à diversidade

de publicações em livros, blog, sites ou documentários, com a finalidade de

estimular a busca por conteúdos diversos sobre o tema proposto.

Posteriormente o encaminhamento se voltará para a socialização das

sínteses e conclusões delineadas pela leitura, observação, análise e interpretação

desses documentos por meio de apresentações, debates e exposição dos

trabalhos resultantes de propostas de atividades diversificadas. Cada documento

histórico analisado será contextualizado de acordo com aspectos espaço/temporal

em termos de simultaneidade, semelhanças e diferenças, mudanças e

permanências e em relação ao autor. Assim o aluno perceberá as diferentes

interpretações de um mesmo acontecimento histórico podendo ser refutada,

complementada ou validada pelo trabalho de investigação histórica.

É necessário atenção às narrativas produzidas pelos alunos, pois, as

mesmas podem trazer percepções do caráter de pertencimento social e cultural,

bem como da concepção histórica regional a qual estão inseridos.

O estudo do tema proposto nesta produção didático-pedagógica tem a

intenção de reunir condições de identificação do processo histórico que resultou

nos movimentos de contestação da ordem política, socioeconômica e cultural

vigentes no Brasil, contribuindo para mudanças importantes, sobretudo para a

população negra. A partir dessa percepção, se ampliam as possibilidades para o

reconhecimento das relações de poder existentes nos processos históricos,

viabilizando a intervenção pedagógica e a construção de novas possibilidades de

interação social.

Texto didático 1 - Sensibilização

EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS: PRÁTICAS ANTIRRACISTASPROPOSTAS PELO MOVIMENTO NEGRO A PARTIR DE 1950*

Todos nós sabemos que, de acordo com as leis vigentes, o Brasil é um país noqual o regime de governo em vigor, é a democracia. Uma democraciarepresentativa em que o Estado é regido pela Constituição de 1988 a qualestabelece o Estado de direito, ou seja, todos são iguais perante a lei (art. 5º daConstituição Federal), independente da origem étnica, de gênero, posiçãosocioeconômica e orientação sexual e que dependendo da faixa etária essesdireitos atendem as suas especificidade, como é o caso do ECA (Estatuto daCriança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso) e isso significa que oscidadãos e cidadãs nesta sociedade devem ser respeitados em seus direitos ecumprir com seus deveres e que o poder emana do povo e para o povo.

Muito bem, agora vejamos. Isso é muito bom, quando o contexto é de JUSTIÇASOCIAL E DE EXERCÍCIO PLENO DA DEMOCRACIA, porém NÃO é essa aperspectiva que se estabelece na sociedade, ou seja, essa IGUALDADE que éapregoada pela Constituição brasileira, é apenas uma igualdade FORMAL quenão se efetiva na sociedade, pois o que vemos de fato é grandes INJUSTIÇAS,devido à desigualdade social que inviabiliza qualquer projeto de democracia eexercício da cidadania uma vez que não havendo igualdade entre os indivíduosque compõe a sociedade, o que se encontra é a seguinte situação: O segmento que está no topo da pirâmide social (ínfima parte dapopulação brasileira), ao possuir estrutura em termos de acesso aoconhecimento e a informação a cerca da organização e funcionamento dasociedade, instrumentos necessários para a emancipação social, usufruemdessas estruturas do Estado como saneamento básico (água e esgoto tratados,coleta de lixo), segurança à propriedade privada, que os mesmos detêm. Apopulação que está na base da pirâmide social (a grande massa populacional),está desprovida de segurança, moradia, mobilidade urbana, atendimento àsaúde, educação de qualidade etc. Há uma parcela (nada expressiva) que seencontram na faixa intermediária da pirâmide social, ou seja, a classe médiaque muitas vezes não reivindicam direitos, mas sim, privilégios que conseguemem função do nível socioeconômico na aquisição de planos de saúde e ensinoprivados. Ao reivindicarem privilégios, acaba, muitas vezes, por manter o statusquo a qual pertencem, sem promoverem mudanças coletivas, muito ao contrárioconservam a situação existente para manter seus privilégios. A massa populacional que está na base da pirâmide social brasileira,encontra sérias dificuldades no acesso aos equipamentos básicos do Estado equando os têm, os mesmos carecem de qualidade. Assim, vemos segmentosque se encontram nesta camada social, na sua maioria representante da classeproletária, ter seus direitos de cidadania negados, pois não veem suasdemandas asseguradas por políticas públicas voltadas ao pleno exercício da

cidadania e da democracia. A charge disponível no endereço eletrônico a seguircontribui para a reflexão: Disponível em:<http://www.dombosco.sebsa.com.br/curso/estudemais/atualidades/atualidades_discriminacao.php>. Acesso em 07 de nov. de 2013.

Diante do quadro de desigualdade social, temos aqueles que, como no mito dacaverna de Platão, conseguem sair e ver a realidade e a essência com maisnitidez, e buscam na justiça o que lhes é negado pelo Estado, como porexemplo, uma sala de aula na qual exista alguém que necessita do serviço deum profissional especializado como um professor intérprete (libras ou braile) eou o atendimento a saúde, etc. Buscar na justiça o que o cidadão já possui pordireito, expõe o problema da negligência a qual padece segmentos significativosda sociedade brasileira na atualidade. Quem busca na justiça o que é seu pordireito, acaba conseguindo conquistas, porém, são conquistas individuais e quenão provocam mudanças na realidade social.

O racismo e a violência aos negros (pretos e partos na classificação do IBGE)no Brasil mostra que, além da desigualdade social, soma-se aí a questão racial,portanto, há neste caso injustiças que acometem duplamente tal população,isso pode ser constatado no site do IPEA, no endereço eletrônico:<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=20248&Itemid=6>. Acesso em 07 de nov.de 2013.

Para que haja mudanças se faz necessária a ação conjunta, coletiva dasociedade que deve se organizar. Os movimentos sociais representam,portanto, uma via de busca para o atendimento das demandas sociais para acoletividade. Para a inclusão nas agendas dos governos, políticas de Estadoque perpassem as mudanças de gestão e que tragam benefícios as categoriassociais que sofrem com a exclusão social.

Os movimentos sociais representam a voz necessária para que segmentossociais possam se fazer ouvir, ou seja, seus anseios, suas necessidades ecarências coletivas.

Assim, a Escola precisa desempenhar seu papel social e atuar no sentido deincentivar os jovens a se organizarem ou apoiarem as iniciativas em torno dosmovimentos sociais, pois é por meio desses movimentos que mudançasimportantes resultam em benefícios a coletividade. Ou será que a Escola deveagir de acordo com o sistema que está posto e desenvolver ações queincentivem a meritocracia ou achar que está certo, portanto que apenas 25% doconjunto dos jovens ingressem na universidade? * Texto da autora

EIXO 1 – O NEGRO NO BRASIL: CONHECIMENTO E COTIDIANO

1. PRÁTICA SOCIAL INICIAL – INVESTIGAÇÃO DOS CONHECIMENTOSHISTÓRICOS PRÉVIOS DOS ESTUDANTES

Quem são os negros brasileiros? Como você percebe o tratamento

dispensado aos negros no Brasil?

O que você sabe sobre o racismo e a desigualdade racial no Brasil?

Como o racismo e a desigualdade racial no Brasil podem ser

compreendidos e confrontados?

Como você compreende a importância dos Movimentos Sociais na relação

com as injustiças sociais?

Como podemos definir os Movimentos Sociais Negros no Brasil?

Qual a dimensão que a pauta educacional ocupava e ocupa nesses

movimentos e como compreendiam sua importância?

Quais as ações educativas são mobilizadas pelos Movimentos Negros no

Paraná?

Objetivos

Investigar as ideias históricas prévias que os estudantes possuem sobre os

Movimentos Sociais Negros;

Orientações metodológicas

Organização dos alunos em grupos com a escolha de redator e relator das

sínteses das discussões que deverá ser organização na forma de fichamento;

Apresentação oral do tema e dos questionamentos de reflexão, discussão

e registro das observações objeto de investigação das ideias históricas prévias

dos estudantes, uma vez que os sujeitos fazem relação passado/presente o

tempo todo em sua vida cotidiana.

Socialização dos registros-síntese resultantes das discussões nos grupos.

Avaliação

A participação e envolvimento nas atividades que demonstram a prática

social inicial dos estudantes, reveladas através de sínteses escritas em grupos e

socializadas na sala de aula, sobre os questionamentos abordados na

investigação dos conhecimentos históricos prévios.

2. Problematização do conteúdo

Como a invisibilidade do negro, o silenciamento e a reação conservadora

diante das proposições de inserção do negro na esfera política brasileira, podem

ser compreendidas como algo que evidencia o racismo na sua forma mais

perversa?

Texto didático 2 - Quem são os negros Brasileiros

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de

2005, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do total de 184,4

milhões de brasileiros, 49,9% são brancos, 43,2%, pardos (mestiços de pretos,

brancos e índios), 6,3%, pretos e 0,7% é da raça amarela ou de indígenas. O

IBGE trabalha no censo com as categorias pretas e pardas, com base na

autodeclaração das pessoas, mas os estudiosos costumam somar pretos e

pardos para totalizar os negros (incluindo mulatos e mestiços), por representarem

uma realidade social distinta da dos brancos. Assim, os negros representam

49,5% da população brasileira - proporção praticamente igual à de brancos na

população.

Assim, para Santos, (2007) ser preto ou pardo no Brasil, em nada modifica

em termos de acesso a igualdade de oportunidade ou de desafios sociais. Tal

segmento, bastante significativo, da população brasileira é igualmente

discriminado, de forma que, não há diferença no tratamento e nem privilégios

entre esses grupos que, juntos formam a população negra brasileira. Os

indicadores socioeconômicos mostram que somente é possível verificar

diferenças, quando se confrontam os dados estatísticos entre a população negra

(pretos e pardos) comparativamente com a população branca, ou seja, a

desigualdade racial é mais evidente e profunda entre os grupos raciais negros e

brancos no que se refere ao exercício pleno da cidadania. Entre os grupos raciais

pretos e pardos, os dados resultantes, do quesito cor-raça, estabelecida pela

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresenta

contraste pouco significativo nos indicadores socioeconômicos apresentados

pelas pesquisas do referido Instituto.

O abismo social revelada na desigualdade racial entre negros e brancos

em praticamente todas as esferas no Brasil é resultado de mais de quinhentos

anos de opressão e/ou discriminação racial contra os negros. O endereço

eletrônico a seguir mostra dados que ilustram o problema: Disponível em:

<http://www.dombosco.sebsa.com.br/curso/estudemais/atualidades/atualidades_discrimin

acao.php>. Acesso em 07 de nov. 2013.

O panorama das desigualdades brasileiras nos mostra que há uma

desigualdade racial considerável no país. Pretos e pardos, aqui denominados

negros, têm menos que a metade da renda domiciliar per capita de brancos.

Trata-se de uma desigualdade que semeia injustiças sociais ao impactar

sobremaneira a população negra. Inúmeros estudos revelam não ser nenhuma

medida de mérito ou esforço e sim resultado de discriminações passadas ou

presentes.

Nos últimos anos, os dados e as informações produzidos pelo IBGE e pelo

IPEA expressam com clareza a perversidade da chamada questão racial no

Brasil. Os negros – aqui considerados como o somatório dos pretos e pardos –

mantêm-se em geral em uma condição social significativamente pior que a da

população branca, seja quais forem os indicadores utilizados. Além dos

expressivos diferenciais no que diz respeito à renda, os negros são sempre os

mais penalizados em termos do acesso aos bens e serviços públicos. Veja-se o

que mostram as análises realizadas a partir dos levantamentos realizados pelo

IBGE, para o ano de 2001. Quanto à renda, observa-se que para aquele ano,

enquanto a média da renda domiciliar per capita da população branca foi de R$

481,60, a média per capita da população negra era de R$ 205,40, isto é, os

afrodescendentes ganharam, em média, menos da metade do que os brancos.

De acordo com Silva e Goes, (2013):

Os elevados índices de desigualdade racial na educação refletem tantosdéficits acumulados, como os resultados das atuais deficiências nosistema educacional, que seguem interferindo na trajetória daqueles queestão em idade escolar. Neste contexto, os negros são os brasileiroscom menor escolaridade em todos os níveis e enfrentam as piorescondições de aprendizagem e maior nível de defasagem escolar.Cerca de 44% dos negros entre 15 e 17 anos frequentam o ensinomédio, esta realidade é presente para 58% dos jovens brancos nestafaixa etária.Antes mesmo de se considerar a adequação escolar, os indicadoresapontam que a desigualdade racial mostra-se igualmente significativaentre aqueles que acabam fora da escola. Nesta mesma faixa etária,cerca de 11% dos jovens negros estão fora da escola sem concluir nemmesmo o ensino fundamental (em comparação com 7% de jovensbrancos nesta idade).Em 2010, 14% dos jovens de 18 a 24 anos cursavam o ensino superior.Entretanto, a frequência de jovens brancos era 2,5 vezes maior secomparada com o acesso de jovens negros a um curso universitário.Segundo o censo, em 2000 apenas 1,7% da população brasileirafrequentava o ensino superior (0,7% da população negra e 2,5% dapopulação branca).Em 2010, embora a frequência bruta tenha aumentado (3,3% dapopulação), a desigualdade persiste (2,3% negros – 4,3% brancos).(SILVA; GOES, p. 18, 2013).

Os movimentos sociais negros reuniam uma gama diversa de atores

militantes, sejam eles pertencentes a grupos ou a organizações negras fizeram,

mesmo diante de tempos e cenários mais hostis, florescer princípios na forma de

políticas públicas de ação afirmativa. Assim, mantiveram-se engajados na defesa

da promoção da igualdade racial material nas relações raciais, sobretudo na

educação, apesar dos obstáculos e desafios ao reconhecimento das lutas

históricas, permanecem constituindo possibilidades de gerar novos espaços de

poder no Brasil (SANTOS, 2005).

APROFUNDAMENTO DO CONHECIMENTO, REFLETIR E SOCIALIZAR

1. Diante do exposto no texto, faça uma análise da relação entre as

injustiças sociais, como as denunciadas pelos Institutos de pesquisa IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e IPEA (Instituto de Pesquisas

Econômicas Aplicadas) na comparação entre o grupo formado pelos negros com

a dos brancos no Brasil e a dívida histórica responsável pela desigualdade racial

existente na atualidade. Registre suas observações de forma a sintetizar

brevemente o que constatou. Na sequência, exponha em mural de socialização a

ser construído conjuntamente com as conclusões dos colegas da classe.

LEMBRE-SE: Verificar se a produção do estudante fez relação entre as injustiças sociais eàs baixas taxas de escolaridade, dos menores salários, elevados índices de violência,subemprego que atingem, sobretudo as populações negras no Brasil, herdadas historicamente.

2. Organizados em grupos de quatro, os estudantes escolherão uma forma de

representação para suas sugestões ou apontamentos quanto às ações

socioculturais e políticas para o enfrentamento das problemáticas raciais no

Brasil. Aponte que ações socioculturais e políticas são necessárias para que haja

igualdade racial no Brasil. A representação deverá seguir os seguintes

encaminhamentos:

Grupo 1: Criar um desenho com legenda explicativa;

Grupo 2: Produzir um esquete com dramatizando personagens que representem

os sujeitos históricos presentes no texto: “Quem são os negros Brasileiros”.

Grupo 3: Produzir um esquete com utilização de fantoches contendo os

personagens que representem os sujeitos históricos presentes na narrativa e um

roteiro para dramatizar o tema em debate;

Grupo 4: Construir uma história em quadrinhos que envolva os sujeitos históricos

presentes nas narrativas.

EIXO 2 – ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA

Texto didático 3 - A dimensão que a pauta educacional ocupava e ocupa nos

movimentos e como compreendiam sua importância

As variadas formas de configurações, associações, motivações, aspirações

e maneiras de elaboração das pautas de reivindicações evidenciaram, por meio

de suas lutas históricas no Brasil, a importância das manifestações de resistência

às relações de poder hegemônicas, exigindo o reconhecimento e a valorização da

população negra, sobretudo no que se refere a garantia do acesso a educação.

Para Rios, (2009, p. 263), o Movimento Negro passa a ser objeto de estudo a

partir da década de 1950. Encomendada pela UNESCO, os estudiosos

desenvolveram formas diversificadas de sentidos acerca das relações raciais

entre negros e brancos no Brasil. A problematização em torno da Consciência de

Raça passou então, de acordo com Rios, (2009, p.264) a mobilizar os estudiosos

para o entendimento sobre as motivações das organizações negras no Brasil,

sendo que, as produções variavam de acordo com a visão do autor, de forma que

em algumas havia a constatação da inexistência e em outras a presença de

Consciência de Raça.

De acordo com SANTOS (2005), São Paulo e Rio de Janeiro sediaram as

primeiras manifestações coletivas de luta organizada contra o racismo no pós-

abolição. A busca por formas de convívio social dignificante resultou na formação

de associações que reunia os negros em momentos e espaços de integração

cultural de lazer como clubes de dança e de práticas esportivas. O uso do jornal

foi, a princípio, meio encontrado para noticiar eventos sociais dessas

associações, posteriormente, novos jornais passaram a divulgar, denunciar e

expor a sociedade questões raciais.

Texto didático 4 – Teatro Experimental do Negro (TEN)

A busca por espaço de atuação e participação na sociedade, de acordo

com SANTOS (2005), levou a partir de 1944 a criação, no Rio de Janeiro, do

Teatro Experimental do Negro por Abdias do Nascimento, com o objetivo de

enfrentamento a discriminação racial e a superação da visão eurocêntrica tão

impregnada na cultura brasileira. Também, o movimento empreendido pelo Teatro

Experimental Negro, contribuiu para com o processo de desconstrução do mito da

democracia racial no Brasil e resultante de uma visão de mundo do branco sobre

a problemática racial.

O Teatro Experimental Negro (TEN) se constituía de pessoas oriundas de

classes populares como operários, empregadas domésticas e funcionário público

existiu e atuou, segundo SANTOS (2005), até a década de 1960, na esfera

cultural contribuindo para ações afirmativas direcionadas a valorização da

identidade negra e por educação, fator imprescindível para unir consciências e

fortalecer grupos sociais oprimidos no enfrentamento ao quadro de discriminação

racial, objetivo este, principal dos Movimentos Negros, objeto deste estudo.

“Assim, o processo de educação formal, como aprender a ler e a escrever, de

muitos de seus integrantes torna-se primordial para o TEN” (SANTOS, 2005, p.

88).

Percebe-se, portanto, no que concerne à compreensão de sociedade e de

mundo, o Teatro Experimental Negro delineou ações educativas voltadas à

percepção consciente, das populações negras, a cerca das relações de

dominação e resistência. Identificar-se como indivíduo com existência e histórico

social, mobilizava as atividades de resgate quanto a valorização cultural e

identidade afrobrasileira possibilitando a ampliação dos espaços de atuação seja

como profissional ou como fator de mobilidade social no movimento empreendido

pelo Teatro Experimental Negro. “Desse modo, o TEN passou a oferecer cursos

de alfabetização e cultura geral para os seus integrantes ou para aqueles(as)

trabalhadores(as) e desempregados(as) que o procuravam” (SANTOS, 2005, p.

88).

As dependências da UNE (União Nacional dos Estudantes) foram utilizadas

pelo TEN, onde havia ensaios teatrais e cursos de alfabetização para adultos.

OTTO, (2007, p. 5) aponta que os integrantes do Teatro Experimental do Negro

entendiam que o ensino deveria ser garantido pelo Estado de forma absorver toda

a demanda existente, uma vez que o racismo existente dificultava o ingresso do

negro no nível secundário e universitário. É importante também perceber que, nas

considerações de OTTO, (2007, p. 7) o TEN, é concebido como um referencial

nas ações educativas antirracistas, apontando novos caminhos para o Movimento

Social Negro, ao pensar a questão com subjetividade num viés de valorização e

ressarcimento histórico de discriminação e preconceito.

A negação da existência do racismo no Brasil, por parte do Estado, era um

desafio a ser enfrentado pelas organizações e militantes do TEN. Autoridades

políticas os acusavam de racistas, por entenderem que esse problema não existia

no Brasil. (Fonte: Texto produzido a partir da leitura: Movimentos Negros,

Educação e Ações Afirmativas. SANTOS, 2005).

Aprofundando o tema: brincadeira “escravo de jó”

Escravos de Jó

É uma brincadeira de roda guiada por uma cantiga bem conhecida, cuja letra

pode mudar de região para região. Para brincar, é preciso no mínimo duas

pessoas, neste caso sugerimos que se faça com todos os alunos da sala. Todos

têm seus objetos e no começo elas são transferidas entre os participantes,

seguindo a sequência da roda. Depois, quando os versos dizem “Tira, põe, deixa

ficar!”, todos os participantes seguem a orientação da música. No verso

“Guerreiros com guerreiros”, a transferência dos objetivos é retomada, até chegar

ao trecho “zigue, zigue, zá!”. Quando os participantes movimentam os objetos que

estão em mãos para um lado e para o outro, sem entregá-los a ninguém. O

jogador que erra os movimentos deverá responder uma questão elaborada por

um dos participantes sobre o tema dos movimentos sociais negros.

A duração da brincadeira dependerá do envolvimento dos estudantes.

Texto didático 5 – Os Movimentos Sociais Negros

No período de implantação da ditadura militar no Brasil, para SANTOS

(2005), os Movimentos Sociais Negros sentiram os efeitos das inúmeras

restrições às suas ações no âmbito político de enfrentamento e proposições de

combate ao racismo. Assim, tais movimentos redimensionaram sua atuação

ficando mais restrita à área cultural. Apesar da opressão do período militar, em

fins da década de 1970, os Movimentos Sociais Negros ganham força (Fonte:

Texto produzido a partir de SANTOS, 2005).

Texto didático 6 - MUCDR (Movimento Unificado Contra a Discriminação

Racial)

Aproveitando a conjuntura nacional que mostrava uma tendência de

intensificação dos movimentos sociais pelo fim da ditadura e abertura do regime e

na esfera internacional se vislumbrava expectativas favoráveis aos movimentos

negros em países como os Estados Unidos da América bem como, inúmeros

países africanos que lutavam pela independência política, a exemplo, os de

colonização portuguesa, várias entidades negras fundaram, em 1978, o

Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR) e em dezembro de

1979 simplificou o nome para Movimento Negro Unificado (MNU). Esse

movimento deu continuidade ao processo de consolidação e expansão dos

Movimentos Sociais Negros em prol da formação de consciência negra, pela

valorização sociocultural por dignidade, justiça e igualdade racial. (Fonte: Texto

produzido a partir de SANTOS, 2005).

Texto didático 7 – A Atuação do Grupo Palmares

A fundação do Grupo Palmares teve importante atuação em meados de

1971 no Rio Grande do Sul. Este grupo contribuiu para com o Movimento Negro

Unificado. Partiu dessa entidade negra a proposta de fazer do dia 20 de

novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Tal data é muito

significativa por tratar-se do dia da morte de Zumbi dos Palmares. Zumbi que foi

um grande líder do Quilombo dos Palmares. Assim, o movimento Negro Unificado

incorporou a data e atua na organização de atos públicos por justiça social,

cidadania e igualdade. Em 1995, o Dia Nacional da Consciência Negra foi data

escolhida para outra manifestação organizada, qual seja a Marcha Nacional

Zumbi dos Palmares Contra o Racismo pela Cidadania e a Vida, tendo como

objetivo explícito a de exigir das autoridades políticas públicas de combate ao

racismo (Fonte: Texto produzido a partir de SANTOS, 2005).

Texto didático 8 - A Inclusão da Religião por meio dos Agentes de Pastoral

Negros (APNs)

Segundo SANTOS (2005), na década de 1980, o Movimento Negro

Unificado expandiu-se no Brasil, garantindo novas lideranças e ampliando seus

espaços de atuação. Por meio da inclusão de ações na esfera da religião, a

criação dos Agentes de Pastoral Negros (APNs), motivados por movimentos

teológicos de cunho libertário de engajamento na luta contra o racismo, porém,

sem grandes avanços, instigou o debate no interior da igreja católica sobre o tema

da discriminação racial e suas decorrências para a população negra, a exemplo

da Campanha da Fraternidade do ano de 1988 com o lema “Ouvi o Clamor desse

Povo... Negro”!

Percebe-se então que o Movimento Negro Unificado obteve, apesar da

opressão vivenciada pelo momento histórico, na década de 1980, ainda sob o

regime militar, grandes avanços em termos de politização a cerca das lutas

empreendidas, ampliando os debates em esferas cada vez maiores e mobilizando

grande quantidade de entidades negras do Brasil.

De acordo com SANTOS (2005), as conquistas dos Movimentos Sociais

Negros no campo da educação se deram pela inclusão nos currículos escolares,

em todos os níveis, a temática da História e Cultura Afrobrasileira e Africana. Na

esfera cultural, o dia 20 de novembro foi considerado Dia Nacional da

Consciência Negra (fonte: texto adaptado a partir da leitura de SANTOS, 2005).

Aprofundamento do conteúdo

a) Leitura, análise e discussão dos textos didáticos 5, 6 7 e 8, sobre ações

educativas do Grupo Palmares e Agentes de Pastoral Negros (APNs).

b) Confeccionar uma Boneca Abayomi.

Veja como fazer uma “Boneca Abayomi” em:

<http://www.youtube.com/watch?v=nZg0V27RSwE>. Acesso em 04 de dez. de

2013.

A boneca Abayomi foi criada pela artesã Lena Martins em 1987. Para

conhecer mais sobre a Boneca Abayomi, acesse o link disponível em:

<http://www.bonecasabayomi.com.br/>. Acesso em 11 de nov. de 2013,

Texto didático 9 – Abdias do Nascimento

A atuação de Abdias do Nascimento como Deputado Federal, um

importante militante intelectual e representante político dos Movimentos Negros

no Congresso, garantiu grandes avanços quanto à inserção de temas da pauta

reivindicatória em momentos políticos a considerar na elaboração da Constituição

de 1946, bem como sua atuação política na década de 1980 junto a Convenção

Nacional do Negro pela Constituinte de 1986.

No campo da educação, as reivindicações apresentadas solicitavam entre

outros itens, a inclusão das temáticas que abordavam as relações étnico-raciais

nos currículos escolares em todos os níveis e modalidades de ensino. Também

solicitavam a democratização quanto a escolha dos ocupantes nas escolas

públicas por meio de processo eleitoral junto a comunidade escolar e a proibição

de material de leitura fazendo apologia a práticas discriminatórias de religião, raça

ou cor.

Para SANTOS (2005), Abdias do Nascimento foi, enquanto parlamentar,

um aguerrido defensor da causa negra junto ao Congresso Nacional brasileiro na

década de 1980 e tratava à questão racial com exclusividade em sua agenda

política. Cabe aqui destacar sua solicitação quanto à participação do analfabeto

nas eleições, permitindo-lhe o direito ao voto. Tal medida impactaria positivamente

sobre a população negra à qual era negado o acesso ao voto por ser uma parcela

da população vitimada por altas taxas de analfabetismo.

Ainda dentre as reivindicações de Abdias do Nascimento na educação

destacou-se a solicitação por políticas afirmativas de caráter compensatório,

como bolsas de estudo para estudantes negros em todos os níveis. Assim, Abdias

mantinha sempre a coerência entre o que defendia em seus discursos e suas

ações em prol da justiça social e racial no Congresso Nacional. As medidas

compensatórias visavam, entre outros pontos, o aumento das proporções de

negros em todas as esferas de poder ou cargos públicos no Brasil, por meio de

acesso as instituições de treinamento com vistas as qualificação profissional para

os negros, assim, oportunizando a esses progredir em cargos que exigem mais

qualificação e consequentemente, maior remuneração.

Entretanto, tais reivindicações nunca seriam levadas a votação, sendo

posteriormente arquivada por decisão da mesa diretora da câmara dos deputados

no ano seguinte à promulgação da nova e atual Constituição de 1988. Porém, o

eco provocado pelas inúmeras reivindicações, sobretudo no campo da educação,

oriundos dos grupos, organizações e dos Movimentos Negros, permaneceram

ecoando na forma de novas vozes que vieram a somar-se à causa negra por

igualdade e justiça racial, ao longo dos anos no Brasil (Fonte: SANTOS, 2005).

Aprofundando conhecimentos (reflexão, análise, interpretação e releitura da

participação de Abdias do Nascimento como representante político da

população negra no Congresso Brasileiro)

Podemos perceber então que os avanços são lentos em função da

negação a cerca da existência do racismo no Brasil e o fato de ser insuficiente a

presença de representatividade parlamentar negra na esfera política brasileira.

a) Partindo da leitura, análise e interpretação do texto didático “Abdias do

Nascimento”, identifique, analise e comente algumas ações educativas de

relevância para as questões raciais no Brasil.

b) Reflita e comente sobre a importante participação de Abdias do Nascimento

como representante político da população negra no Congresso Brasileiro e

enumere suas proposições. Escolha uma proposição para construir alguma forma

de representação na forma de releitura e apresente a classe.

Texto didático 10 – Ações dos Movimentos Sociais Negros na década de

1990

O Negro e a Educação foram os temas escolhidos para o VII Encontro de

Negros do Norte e Nordeste. Teve como objetivos debater a cerca de itens

relacionados à prática docente através do uso de manuais didáticos, os quais

persistem abordagens eurocêntricas; organização curricular e bullying contra

alunos negros no espaço escolar. O tema do encontro focalizava a permanência

da visão eurocêntrica, que representa um entrave à emancipação intelectual nas

produções didáticas para os alunos e professores, fortemente atrelados a valores

europeus hegemônicos e que persiste inviabilizando a implementação de

propostas valorativas da identidade étnico-racial e histórica dos negros brasileiros.

Na década de 1990, aconteceu um importante seminário organizado pela

Central Única dos Trabalhadores (CUT). Na ocasião se debateu abertamente a

questão racial no mercado de trabalho vitimando sobre tudo os trabalhadores

negros. Percebe-se com esse seminário, uma tímida expansão da questão do

racismo em outras entidades.

A Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo, Pela Cidadania e a Vida,

na segunda metade da década de 1990, reitera a histórica afirmação, na forma de

denúncia, sobre a existência do racismo no Brasil e mais ainda, apresentaram

propostas para superação do racismo, focados no acesso mais democratizado à

informação, igualdade de oportunidade no mercado de trabalho, organizações de

grupos de trabalhos para desenvolver estudos voltados a elaboração de políticas

públicas que incidam na igualdade racial.

Na esfera da educação, as propostas apontavam a necessidade da

melhoria na qualidade da educação, eliminação da discriminação racial,

acompanhamento das produções didáticas a serem trabalhadas nas escolas

públicas, permanentes programas de formação docente para redimensionar

abordagens da questão racial numa perspectiva de resgate de valores culturais

da diversidade racial e o enfrentamento de situações que configurem atos de

discriminação racial, bem como, bolsas auxílio para estudantes negros como

forma de evitar a evasão escolar desses jovens e políticas afirmativas que

ampliem o acesso dos negros ao ensino profissionalizante e superior público

(Fonte: SANTOS, 2005).

Atividade:

1. A partir da leitura do texto didático número 10, analise as propostas da

Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, e construa cartaz contendo uma

proposta a ser escolhida pelo grupo, uma ilustração (desenho ou recorte) e um

comentário que represente a compreensão dos estudantes.

Texto didático 11 - Os Movimentos Sociais Negros na primeira década de

2000

A primeira década do ano 2000 foi marcada pelo aprofundamento do

debate sobre a ampliação do acesso dos negros à universidade pública no Brasil.

No ano 2002, os preparativos políticos para as eleições presidenciais e, diante de

uma conjuntura internacional que teve forte influência da III Conferência Mundial

Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, os

candidatos à presidência do Brasil, incorporaram em suas propostas de

campanha, ações de enfrentamento ao racismo, equidade na ocupação de cargos

e postos de trabalho em escalas superiores de decisão, estratégias de poder

político, produção científica e tecnológica.

O então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ao iniciar seu mandato,

em 2003, expôs em discurso que o seu governo reconhece oficialmente a

existência do racismo e suas implicações na realidade socioeconômica da

população negra e cria nesse mesmo ano a Secretaria Especial de Política e

Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) com vistas a promoção da justiça social

e racial em nosso país.

Cabe nesse momento ratificar a importância dos Movimentos Sociais

Negros para a concretização de políticas públicas voltadas ás demandas da

população negra, sobretudo no campo da educação que teve na implementação

das cotas nas universidades públicas brasileiras a sua maior conquista. Apesar da

grande mídia brasileira, muitos intelectuais, importantes autoridades políticas e

magistrados se manifestarem fortemente contra às cotas raciais no ensino

superior, o que evidencia a tendência conservadora predominante nos espaços de

poder no Brasil, seus posicionamentos contrários as cotas não prevaleceu diante

dos argumentos favoráveis que eram bem fundamentados em estudos e teorias

científicas historicamente externadas através dos Movimentos Sociais Negros a

cerca da questões raciais brasileiras.

Em 2005, Organizações Não Governamentais (ONGs) foram criadas com o

objetivo de atuar na militância da questão racial, organizando Marchas à Brasília

como forma de tornar permanente e ampliada a temática racial nas agendas

políticas do Estado brasileiro.

Da mesma forma, no mercado de trabalho, materializaram-se ações de

promoção e acesso aos direitos de cidadania a população negra, há tanto tempo

negada, seja pela neutralidade e omissão de lideranças políticas, ou seja, por

defenderem a existência da chamada democracia racial, essas autoridades, como

representações políticas de segmentos da sociedade conservadora, silenciam-se

diante do problema social decorrente do racismo, como forma de abafar o debate,

inviabilizando de maneira perversa que o tema da questão racial ganhasse

proporções que representasse a esse segmento dominante ameaça ao seu poder

(Fonte: SANTOS, 2005).

Aprofundando o conhecimento

É necessário rompermos com o “pacto de silêncio” em torno do racismo

existente no Brasil. Não é possível combater o racismo quando se nega a sua

existência.

Produza um texto, ou cartaz, destacando ações de enfrentamento ao racismo na

1ª década de 2000.

Para pesquisar:

1. Em grupos, de três participantes, faça um pesquisa em endereços eletrônicos e

preencha a tabela abaixo contendo ações educativas antirracistas propostas

pelos Movimentos Sociais Negros no Paraná e faça uma análise dessas ações.

ANO Algumas ações educativas do Movimento Negro no Paraná

Texto didático 12- A Autoimagem do Negro como Componente de Identidade

Uma das questões que aparece como significativa é a autoimagem do

negro brasileiro, conforme podemos ver no exemplo a seguir: um jogador de

futebol, negro, brasileiro, ao ser questionado por um repórter sobre as

manifestações de racismo em estádios europeus, responde: “Acho que todos os

negros sofrem. Eu, que sou branco, sofro com tamanha ignorância” (PARANÁb,

2008, p. 23). Sabemos que a autoatribuição é um componente significativo na

identificação na qual o sujeito se aproxima de uma origem étnica, tomando-a

como elemento componente de sua identidade. Da mesma forma havemos de

reconhecer que em uma sociedade na qual as questões étnicas estão fortemente

hierarquizadas alguns sujeitos, para fugir desse processo de opressão, aderem a

identidades que parecem ter “maior valor social”. Assim, muitas vezes, ao

ascender socialmente, o indivíduo desvia-se da etnia que considera que o

inferioriza.

Para continuarmos a discussão, poderíamos nos perguntar: como se

produz o discurso do atleta em questão? De acordo com a DCE, (2008) de

história, é comum nos depararmos com estereótipos nos livros didáticos,

principalmente nas abordagens da História do Brasil, nas quais os negros

aparecem somente em situações de escravidão e sofrimento, como ser passivo,

incapaz de manifestar resistência à opressão que lhe era imposta. Desta forma, o

sujeito foge dessa identidade que considera que o diminui. Nesse contexto a

educação tem papel central.

Os questionamentos encaminham uma constatação, segundo Paraná b,

(2008): “via de regra a África é representada como um lugar atrasado, primitivo,

sujo, inóspito, cheio de animais ferozes, enfim, um lugar onde o Tarzan e o

Fantasma andavam tentando civilizar e proteger” (PARANÁb, 2008, p. 23). Assim,

é compreensível que no momento de autoidentificação o sujeito seja levado a

desviar daquilo que para ele representa uma origem que pretende esquecer.

Atividades em grupo

Em grupos de três estudantes, responda as questões a seguir a partir da

análise do texto 12, e após respondidas, apresente de forma oral para seus

colegas.

Questão a - Diante do exposto, como os jovens estudantes negros, irão

reconhecer-se quanto ao pertencimento étnico?

Questão b - Quem é que sentirá empatia em levar a vida dos negros observados

naquelas ilustrações e narrativas?

Questão c - Quem se perceberá mobilizado a conhecer a terra dos ancestrais?

Questão d - Quais as possibilidades de avançarmos para desconstruir

estereótipos e engendrarmos novas percepções e relações com o Outro?

MOMENTO DE DIVULGAÇÃO DOS TRABALHOS

- Organização e mostra dos trabalhos desenvolvidos na Unidade Didática. A

comunidade escolar será convidada para apreciar a ações empreendidas pela

professora e alunos da turma na qual foi desenvolvida a atividade.

Objetivo

Incentivar o respeito à diversidade racial por meio do reconhecimento de que a

herança africana é fundamental na formação da cultura Brasileira e paranaense.

Orientações metodológicas

Os encaminhamentos vão partir da leitura dos textos-didáticos, na

sequência desta unidade didática com resolução de atividades de

aprofundamento do conhecimento e pesquisa bibliográfica para subsidiar o

trabalho de fundamentação teórica com aulas no laboratório de informática para

pesquisa em sites e pesquisas dirigidas.

Conhecer a brincadeira “Escravos de Jó” ” e criar bonecas Abayomi e

confecção das mesmas. Veja como fazer uma “Boneca Abayomi” em:

<http://www.youtube.com/watch?v=nZg0V27RSwE>. Acesso em 04 de dez. de

2013.

Avaliação

A avaliação será feita a partir do envolvimento dos educandos nas atividades

propostas, na sua realização, nas pesquisas feitas para subsidiar cada ação e

principalmente na apresentação das atividades para a classe; Será importante

que os discentes identifiquem as personalidades afro-brasileiras que contribuíram

para a problematização das relações étnico-raciais.

REFERÊNCIAS

Boneca Abayomi. Disponível em:<http://www.bonecasabayomi.com.br/>. Acessoem 09 de nov. de 2013.

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