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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR

FLÁVIO BAGATIN

O ARTEFATO PETECA COMO MATERIAL DE APOIO PEDAGÓGICO PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CURITIBA2014

O ARTEFATO PETECA COMO MATERIAL DE APOIO PEDAGÓGICO PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Autor: Flávio Bagatin1

Orientador: Profº Dr. Sérgio Roberto Abrahão2

RESUMO

O presente artigo foca na importância da valorização do artefato peteca enquanto material de apoio didático e pedagógico para as aulas de Educação Física e outras disciplinas curriculares. Visa ainda apresentar aos professores uma alternativa significativa na exploração deste elemento, de forma a minimizar a falta de material, para o enriquecimento de sua prática em sala de aula e para o aprimoramento das intervenções nas suas ações docentes. O trabalho apresentado capacitou os professores de Educação física, Matemática, Ciências, Sala de Recursos, Arte, História para a utilização do artefato peteca em suas aulas, com uma abordagem partindo do histórico e origem da peteca, passo a passo para sua construção artesanal, a evolução de jogo recreativo à sistematização, estruturação e organização das regras até tornar-se esporte. No início do trabalho, o não reconhecimento do artefato peteca como material pedagógico foi geral, o que nos instigou a buscar, fomentar e apresentar todas as possibilidades de exploração desta alternativa de forma interdisciplinar, facilitando os trabalhos diários docentes. Esta ação resultou no reconhecimento do artefato, após sua aplicação, como material de apoio didático e pedagógico por todos os professores. Como rsultado, foi proposta a implementação do projeto no Programa de Atividades Complementares Curriculares em Contra turno do Colégio.

Palavras-chave: Educação Física. Peteca. Jogo. Esporte.

1 Professor de Educação Física graduado pela Faculdade de Educação Física de Jacarezinho com Especialização em Educação Física Escolar. É professor PDE 2013-2014 e efetivo da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.E-mail: [email protected]

2 Professor Doutor da Universidade Federal do Paraná. Possui mestrado em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2004) e doutorado em Atividade Física, Educação Física e Esporte pela Universidade de Barcelona (2011). Experiência na área de educação. Atuando nos seguintes temas: Educação Física. Atividades Circenses. Formação do Professor. E-mail: [email protected]

1 Introdução

O artefato peteca é um material alternativo apresentado para os professores

em decorrência das experiências vividas pelo autor em sala de aula e outros

espaços específicos para sua prática. Trabalhar com o artefato peteca enquanto

material de apoio didático e pedagógico, objetivo principal do material intitulado de

Cartilha, é apresentar novas possibilidades ao conjunto de professores de Educação

Física e outras disciplinas em âmbito escolar.

Como os jogos e os esportes estão presentes no currículo escolar, este

material enfatiza a importância do ser criativo e do saber fazer em Educação Física,

de forma consciente, a fim de garantir uma ação efetiva com garantia de uma prática

vinculada à teorização do jogo e do esporte peteca.

Este artigo busca levar os professores capacitados à reflexão de sua prática

no cotidiano escolar, pois é nesse ambiente que as ações são desenvolvidas, e

apresentar aos mesmos um trabalho diferenciado, acreditando que a Educação

Física, como componente curricular, necessita de encaminhamentos para uma

prática pedagógica mais elaborada. Dessa forma é possível que, após esse

trabalho, os professores possibilitem a seus alunos aprofundar, articular e ampliar o

universo do movimento humano, reelaborando sua prática.

Nesta perspectiva, pensou-se objetivar a interiorização do jogo e do esporte

peteca, oportunizando a integração entre os praticantes – professores e alunos,

onde todos possam respeitar o ritmo individual e coletivo, além de compartilhar

saberes e de valorizar a expressividade, por meio da confecção e utilização do

artefato peteca no jogo e no esporte, garantindo a experimentação de novas formas

de movimento.

Constatando ainda, que existem professores com dificuldades para

adquirirem materiais de apoio para suas aulas, pensou-se na confecção do próprio

artefato, onde qualquer pessoa pode confeccioná-lo, entendê-lo e passar a praticar o

jogo e o esporte peteca em diferentes segmentos sociais.

Estamos certos de que a utilização do artefato peteca nas aulas de Educação

Física contribui de forma positiva e decisiva para que um maior número de alunos e

pessoas possam vivenciar as emoções que esta prática proporciona.

De acordo com o proposto no momento de intervenção pedagógica no

colégio, garantimos a igualdade de oportunidades e buscamos proporcionar a todos

os professores envolvidos o desenvolvimento de suas potencialidades, enquanto

seres criativos, de forma não seletiva e, ainda, subsidiamos estes à um bom trabalho

docente, proporcionando junto ao grupo e à comunidade escolar a vivência prática

de aplicação de regras simples e oficiais durante o jogo e o esporte peteca, de forma

prazerosa.

2 O professor e os materiais para suas aulas

É comum encontrar professores reclamando da falta de materiais para o

enriquecimento da sua intervenção e contribuição na sua ação docente. Isso

interfere no processo ensino aprendizagem, onde esses professores deixam de

desenvolver um trabalho significativo, atrativo e envolvente com seus alunos de

forma contextualizada, o que caracteriza ainda a falta de motivação e criatividade,

que por sua vez, interferem na qualidade de suas aulas. Segundo FREIRE (2009,

p.61), “ o que falta nas escolas, na maioria das vezes, não é material, é criatividade.

Ou melhor, falta o material mais importante. Essa tal de criatividade nunca é

ensinada nas escolas de formação profissional”.

O desenvolvimento do projeto fundamentou-se essencialmente no

desconhecimento por parte dos professores do uso e reconhecimento do artefato

peteca como material de apoio didático e pedagógico para suas aulas, bem como da

exploração de suas possibilidades na escola.

Estimulado pelo desafio, o autor focou o trabalho na capacitação dos

docentes do colégio de implementação, especificamente habilitados em Educação

Física, Arte, Matemática, Ciências, Biologia e Sala de Recursos, motivando os

professores a conhecer, com propriedade, as possibilidades que a confecção do

artefato de jogo e de esporte chamado de peteca traz aos alunos da Rede Pública

Estadual de Ensino. Considera-se aqui o fácil acesso e os benefícios que essa

prática traz para o desenvolvimento de habilidades e ainda sua oferta na modalidade

do Programa de Atividades Complementares Curriculares.

Nessa perspectiva, o projeto tornou-se uma estratégia significante para

viabilizar e envolver toda a comunidade escolar.

Historicamente, o jogo de peteca teve uma significante evolução, o que o

transformou de uma simples recreação, após passar por uma sistematização,

estruturação e organização, em esporte. Informações como essas foram repassadas

aos professores, passando da origem até sua confecção artesanal.

É tarefa dos professores encarar o desafio de uma prática onde jogo e

esporte podem ser trabalhados com a utilização de um artefato de fácil confecção e

custo baixo. Superar a falta de materiais didático-pedagógicos é praticar a

criatividade, e sendo assim, fica evidente a necessidade da capacitação dos

professores quanto ao tema em questão, para ampliação da compreensão do jogo e

do esporte enquanto conteúdos estruturantes da Educação Física na Rede Pública

de Ensino do Paraná, conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais.

Durante o GTR – Grupo de Trabalho em Rede, os dezessete professores

participantes e os oito professores do colégio de implementação foram questionados

se conheciam o jogo e reconheciam o artefato peteca como material de apoio

didático pedagógico para suas aulas, sendo unânime a negativa para a questão.

Sendo assim, o desafio em motivá-los foi maior, pois tratava-se de convencer e

estabelecer relações entre teoria e prática, principalmente no que se referia à

criação e construção de materiais que pudessem contextualizar conteúdos a serem

ministrados, com foco na criatividade e motivação.

Diante do exposto, cabe salientar que todos os professores questionados

utilizavam somente materiais adquiridos pela direção do colégio diretamente em

lojas esportivas, como bolas, cones, cordas, etc.

No desenvolver do projeto, após apresentar o artefato confeccionado de

forma artesanal e industrial, iniciou-se um estudo sobre a peteca, sua origem e

regras. Depois, discutiu-se com os professores sua utilização para o

desenvolvimento do jogo e do esporte peteca, conteúdos estes implícitos na cartilha.

Daí se deu a necessidade da aplicação do passo a passo para a confecção da

peteca e exploração de todo o processo de construção deste artefato artesanal,

especificamente com E.V.A.

Na medida em que os encontros foram ocorrendo, diversas possibilidades

foram surgindo e sendo exploradas pelos professores em sala de aula com seus

alunos. O trabalho interdisciplinar aconteceu o tempo todo, tendo em vista que os

professores possuíam formação em diversas disciplinas.

3 Considerações sobre o jogo de peteca e seleção de conteúdos

O jogo tem caráter lúdico, sem normas específicas ou regras obrigatórias de

execução, pois estas não possuem caráter definitivo e podem sofrer mudanças a

qualquer momento, de acordo com a preferência de seus participantes. Isto torna o

jogo importante, pois além do desenvolvimento integral do educando, contribui nos

aspectos sociais, afetivos, cognitivos e motores.

Assim como o jogo e o esporte, a Educação Física é dinâmica, portanto os

professores devem sempre se preocupar com a forma de ensinar e como utilizar as

diferentes possibilidades de linguagens que estão ao seu alcance. Com isto,

entende-se, segundo SCHIMIDT (2004, P.31) que “a sala de aula não é apenas o

espaço onde se transmite informações, mas o espaço onde se estabelece uma

relação em que interlocutores constroem significações e sentidos”.

Neste sentido, entende-se ser o ensino do jogo de peteca uma forma de

estabelecer importante reflexão e discussão entre o jogo e o esporte na Educação

Física escolar, vez que há necessidade de adaptação ao entendimento e

cumprimento de regras dos esportes institucionalizados antes de tudo.

Segundo REVERDITO (2010, p.201) “antes de o jogos esportivo coletivo ser

unicamente uma modalidade esportiva institucionalizada, é, sobretudo, jogo jogado”.

O Autor relata ainda que:

O jogo e o esporte se confundem um com outro, pois ambos possuem a mesma natureza, o sentido literal e dinâmico do jogar. Assim, o princípio sobre qualquer forma de abordagem aos jogos coletivos deverá começar na sua forma primária de jogo.

No entanto, o jogo de peteca deve ser introduzido de forma original, lúdica,

com ênfase na cooperação e no rendimento próprio de cada participante para, a

partir daí, iniciar o processo de criação de novas regras e inclusão das regras oficiais

do esporte peteca, sua história e como foi introduzido na sociedade. Aprender sobre

a peteca e aprender a jogar peteca são possibilidades de ampliação do repertório

esportivo do educando.

Em termos de cultura corporal, podemos afirmar que o jogo de peteca

proporciona e garante ao aluno oportunidades de expressar-se corporalmente. Leva-

os ainda a refletir sobre o processo de construção histórico-cultural dos jogos e de si

mesmo. Daí a importância da seleção dos conteúdos pelos professores e da

adequação desses às capacidades cognitivas e sociais dos educandos. Segundo

Lino Castellani, Carmem Lúcia Soares, Celi Nelza Zülke Taffarel, Elizabeth Varjal,

Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht (2009, p33), o professor deve, em relação ao

conteúdo,

organizá-lo e sistematizá-lo fundamentado em alguns princípios metodológicos, vinculados à forma como serão tratados no currículo, bem como à lógica com que serão apresentados aos alunos. Inicialmente se ressalta o princípio do confronto e contraposição de saberes, ou seja, compartilhar significados construídos no pensamento do aluno através de diferentes referências: o conhecimento científico ou saber escolar é o saber construído enquanto resposta às exigências do seu meio cultural informado pelo senso comum. O confronto do saber popular (senso comum) com o conhecimento científico universal selecionado pela escola, o saber da escola, é, do ponto de vista metodológico, fundamenta para a reflexão pedagógica. Isso porque instiga o aluno, ao longo de sua escolarização, a ultrapassar o senso comum e construir formas mais elaboradas de pensamento.

Nessa perspectiva, a Educação Física Escolar, segundo Brandl (2005),

objetiva possibilitar o desenvolvimento do potencial humano. Para Kunz (2001,

p.15),

Não se trata de formar pessoas que se conheçam melhor, apenas, mas de formar gente consciente de que jamais conhecerá tudo de si, por isso consiste em conhecer a humanidade e o mundo. É imprescindível que a educação desencadeie um processo de conhecimento de si através dos valores humanos encontrados em cada indivíduo, possibilitando condições para que cada aluno e aluna encontrem, por suas referências internas e não apenas do mundo exterior e dos outros, o que ele ou ela de fato são em relação ao mundo, aos outros e a si próprio.

4 A importância na motivação dos professores na aplicação do projeto

Ao se deparar com a realidade implícita nas salas de aula, o educador deve

considerar e não deixar de valorizar a diversidade social, objetivando garantir o zelo

à aprendizagem dos alunos.

O projeto explicita e assegura ao professor a capacitação. Garante com

objetividade as proposições do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.

Estar aberto a novas metodologias e utilizar novos recursos didáticos e

pedagógicos, como o material apresentado na implementação, requer superar a

escassez de bibliografias referentes ao tema proposto, privilegiando as experiências

vividas e a construção histórica do momento em questão.

Para tanto, os professores devem ser e estar motivados a fim de superar a

defasagem de materiais, seja ele qual for. Isto possibilita a troca de experiência e

amplia o convívio social.

Ao se propor a capacitação dos professores, devemos considerar que a

aplicabilidade do projeto se dá com o envolvimento dos professores e alunos, sendo

fundamental assegurar que esse projeto, segundo VASCONCELOS (2002, p.57)

“deve possibilitar o confronto de conhecimento entre o sujeito e o objeto, onde o

educando possa penetrar no objeto, compreendê-lo em suas relações internas e

externas, captar-lhe a essência”.

Ao propormos o desenvolvimento da aprendizagem, devemos valorizar a

importância motivacional do profissional, pois é este que apresentará o conteúdo

aos alunos, e sendo a motivação intrínseca, esta deve ser estimulada para seu

afloramento.

Outros fatores devem considerados, como os externos, por exemplo, que

influenciam diretamente na vontade do querer fazer. Daí a importância das

motivações intrínseca e extrínseca, pois um professor motivado gera alunos

motivados também, visando garantir a harmonia entre a motivação e a

aprendizagem. Cabe salientar também que um aluno ou professor motivado

desempenha sua função com mais responsabilidade e de forma mais prazerosa.

Quanto a isto, de acordo com VIGOTSKY (1993, p. 102):

A construção da motivação é um dos pilares para um bom clima da sala de aula. O professor tem que conhecer como o aluno aprende e usar de estratégias de ensino que lhe deem a sensação de estar conquistando algo importante no ato simples de cumprir tarefas que estão de acordo com a sua zona proximal de desenvolvimento.

Em se tratando de professores, a capacitação necessita de atitudes

motivacionais no desenvolvimento pedagógico do projeto, pois as posturas beiram a

dos alunos em sala de aula, daí a importância da motivação no desenvolvimento da

aprendizagem. No entanto, segundo RUFINI; BORUCHOVITCH, 2004 apud

CAETANO e JANUÁRIO (2009, p.4)

Um aluno motivado mostra-se ativamente envolvido no processo de aprendizagem, engajando-o e persistindo em tarefas desafiadoras, despendendo de esforços, usando estratégias adequadas e buscando desenvolver novas habilidades de compreensão e domínio.

5 A exploração do artefato peteca por outras disciplinas

Durante o desenvolvimento da implementação do projeto no colégio, além dos

professores de Educação Física, Arte, Ciências e Matemática também foram

envolvidos e motivados a participar. Com contribuições significativas de suas áreas

de atuação, o projeto foi desenvolvido proporcionando uma integração entre as

disciplinas com a participação de todos.

De acordo com a proposta, o artefato peteca foi explorado pelos professores

na apresentação dos conteúdos de suas disciplinas, e as atividades desenvolvidas

durante as aulas levaram os alunos a perceberem e valorizarem suas produções

artesanais, conforme instruções contidas na cartilha apresentada no material

pedagógico.

Vale ressaltar que, para confecção das petecas utilizando como material

folhas de E.V.A., o professor de Matemática, ao propor para seus alunos que

recortassem pares de círculos, explorou os conteúdos básicos de medidas de área e

comprimento com foco nos conteúdos estruturantes de grandezas e medidas. Após

o recorte dos círculos, solicitou que seus alunos calculassem o comprimento da

circunferência, bem como comprimento e área de círculos.

O professor de Ciências explorou com seus alunos as relações entre os

materiais utilizados, em substituição a outros de natureza animal. Trabalhou

conceitos de biodiversidade, classificação dos seres vivos, cadeia alimentar, reino

animal – artrópodes, extinção de espécies e sua classificação.

Já na disciplina de Arte, o professor, além da construção do artefato peteca,

explorou com seus alunos as cores primárias e secundárias, ponto, linha, textura,

formas, modelagem, figuras bidimensionais e tridimensionais, semelhanças, e

volume.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008, p. 29):

“... as disciplinas são pressuposto para a interdisciplinaridade. A partir das disciplinas, as relações interdisciplinares se estabelecem quando: conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à discussão e auxiliam a compreensão de um recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina; ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos quadros conceituais de outras disciplinas referenciais teóricos que possibilitem uma abordagem mais abrangente desse objeto”.

Nesta perspectiva, a metodologia utilizada no desenvolver do projeto, o

artefato peteca, considerado aqui como objeto a ser reconhecido e utilizado como

material didático e pedagógico, proporcionou abordagens diversificadas nas

disciplinas dos professores envolvidos, consoante as Diretrizes Curriculares

Estaduais (2008, p. 29).

A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão desse conteúdo.

Após a aplicação do projeto, percebemos que os vinte e sete professores que

participaram da capacitação, aceitaram o artefato peteca como material didático e

pedagógico para suas aulas. Destes, dezenove eram professores de Educação

Física. Conforme a tabela 1, percebemos que dezessete professores de Educação

Física do Grupo de Trabalho em Rede e mais os dois envolvidos no Colégio de

Implantação do projeto, nunca trabalharam e nem utilizaram o artefato peteca em

suas aulas, porém, após o Grupo de Trabalho em Rede e a Implantação do Projeto

no Estabelecimento de Ensino, todos passaram a reconhecer o artefato peteca

como mais um material de apoio didático e pedagógico a ser explorado durante o

desenvolvimento de suas aulas como enriquecimento do processo ensino

aprendizagem. Da mesma forma, os professores das demais áreas também

puderam explorar o artefato peteca durante suas aulas, utilizando-o como recurso

para a apresentação e mesmo para o ensino de novos conteúdos.

Tabela 1 – Professores que passaram a reconhecer o artefato peteca após a capacitação

Disciplinas Total de participantes no GTR

Total de participantes no Colégio

Total

Educação Física 17 2 19

Arte 0 2 2

Ciências 0 2 2

Matemática 0 3 3

Sala de Recursos 0 1 1

Total 17 10 27

Fonte: Dados dos registros da capacitação no GTR e implementação no colégio.

6 Possibilidades de inserção do jogo de peteca no colégio

Com relação às possibilidades que o professor da Rede Estadual de Ensino

Público do Paraná tem de desenvolver o potencial humano de seus alunos, por meio

da aplicabilidade do jogo de peteca, referida atividade está assegurada na Instrução

nº 007/2012 – SEED/SUED, que dispõe sobre as Atividades Complementares

Curriculares em Contraturno que integram as atividades educativas ao Currículo

Escolar, desde que vinculadas ao Projeto Político Pedagógico, e que podem

funcionar permanente ou periodicamente no Macrocampo Esporte e Lazer.

Outra forma de garantia está na Instrução nº 001/2013 – SEED/SUED, onde

trata das Aulas Especializadas de Treinamento Esportivo, que possibilita o acesso à

prática esportiva aos alunos. Outra forma ainda, desde que organizada

didaticamente no Projeto Político Pedagógico, são as Atividades de Ampliação de

Jornada Escolar que garante a expansão do tempo escolar, seja através do

Programa Mais Educação, do Programa de Atividades Complementares Curriculares

ou do Programa Ensino Médio Inovador, que contempla o jogo de peteca no

Macrocampo Cultura Corporal, assegurado na Instrução nº 021/2012 – SEED/SUED.

Outra possibilidade é garantida também por meio da Instrução nº 022/2012 –

SEED/SUED, que trata da Educação de Tempo Integral e garante ainda, ao

professor de Educação Física, expor seus conhecimentos sobre Vivência Corporal

na parte diversificada (disciplina vinculada à Educação Física) e, se for o caso, sobre

os aspectos teóricos e práticos, bem como aplicar seus conhecimentos e

fundamentos acerca de jogos em diferentes contextos sociais.

É certo afirmar que a possibilidade de contemplar o conteúdo jogo de peteca

nas aulas de Educação Física é grande. Grande também é o envolvimento dos

alunos quando propomos desafios, onde o saber próprio é valorizado e a ele é

oportunizado vivenciar diferentes formas de movimento.

Considerações finais

Perceberam-se, após a capacitação, mudanças nas atitudes de professores

referentes à utilização de materiais alternativos e ao aumento da criatividade dos

mesmos ao planejarem suas aulas, tornando-as mais atrativas e envolventes.

Os dezessete professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede e

os dez professores do colégio de implementação do projeto, como citado

anteriormente, não reconheciam o artefato peteca como material didático e

pedagógico. Porém, durante e após a participação na capacitação, dos vinte e sete

professores, cem por cento deles perceberam a importância da exploração e

apresentação de materiais alternativos para sua prática, principalmente

reconhecendo na proposta do projeto sua eficácia.

Como percebemos, a capacitação dos professores foi extremamente

importante para o estímulo e busca de novos caminhos e estratégias para

apresentação, fundamentação e aprofundamento dos conteúdos em sala de aula.

Com isto, concluímos que o projeto proporcionou, aos professores envolvidos, maior

interação entre as disciplinas, onde se trabalharam conteúdos das variadas áreas,

de forma não fragmentada.

O jogo ou o esporte peteca, com a exploração do próprio artefato, possibilitou

maior ampliação e proporcionou a reflexão de que novos materiais podem ser

utilizados e que a ousadia poderá, sim, contribuir no processo ensino-aprendizagem.

Diante de tantos “entretantos” que vislumbramos na Educação, cabe uma

nova visão do ensinar, buscando-se inclusive novas formas de jogo e a

possibilidades de outros materiais serem utilizados conjuntamente pelas disciplinas

curriculares, a fim de evitar a fragmentação do ensino. Desta forma, o educador

cumpre com sua função , adaptando atividades docentes à sua realidade e à de

seus alunos.

Referências

BRANDL, C. E. H. A estimulação da inteligência corporal cinestésica no contexto da educação física escolar. Tese de doutorado em Educação Física – faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2005.

CAETANO, Angélica; JANUÁRIO, Carlos. Motivação, teoria das metas discentes e competência percebida. Pensar a prática, v.12, n.12, maio/ago, 2009.

FILHO, L. C., et al. Metodologia do ensino de Educação Física. 2.ed. São Paulo, Cortez, 2009.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física. São Paulo, Scipione, 2009.

KUNZ, E. Didática da Educação Física 2 – Coleção Educação Física. Ijuí, Unijuí, 2001.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Instrução nº 007/2012. Curitiba, 2012.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Instrução nº 021/2012. Curitiba, 2012.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Instrução nº 022/2012. Curitiba, 2012.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Instrução nº 001/2013. Curitiba, 2013.

REVERDITO, R.S.; SCAGLIA, A. J.. Pedagogia do esporte: jogos coletivos de invasão. São Paulo: Phorte, 2009.

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo, Scipione, 2004.

VASCONCELOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. 13ª edição. São Paulo: Libertad, 2002.

VYGOTSKY, L. S.. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.