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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

RECUPERANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE RIO AZUL

Professora Alda Inês Mores Przysiezny1

Professor Mario de Souza Martins².

RESUMO

O presente artigo é um relato da implementação do Projeto PDE realizada no Colégio Estadual Dr. Chafic Cury – Ensino Fundamental Médio e Normal, na cidade de Rio Azul. A proposta buscou promover práticas que identificassem, recuperassem e evidenciassem um despertar nos alunos do Curso de Magistério o interesse pela disciplina de História. A estratégia desenvolvida nesta aproximação foi envolver o aluno na construção da História da Educação em Rio Azul, mostrando que a disciplina histórica discute o cotidiano de cada um. Foi elaborada uma pesquisa com a participação dos alunos do Curso do Magistério, os quais tiveram uma participação fundamental na coleta de todo o material possível relacionado à História da Educação de Rio Azul: fotografias, entrevistas com professores, ex-professores, alunos e ex-alunos, documentos, enfim todo o material que estivesse relacionado não só com a construção das escolas, como também a recuperação de documentos antigos relacionados à Educação do município, sobretudo em escolas do interior que tivessem tais documentos colecionado em seus arquivos. Com isso, a História da Educação de Rio Azul foi ressignificada, uma vez que muitos fatos antigos estavam esquecidos e este trabalho pôde contribuir para que se perpetuassem as marcas históricas da Educação de Rio Azul.

Palavras-chaves: História local; Educação; Rio Azul.

1- INTRODUÇÃO

O projeto Recuperando a História da Educação do Município de Rio

Azul foi implementado no Colégio Estadual Dr. Chafic Cury – Ensino

Fundamental, Médio e Normal, na cidade de Rio Azul. O público é composto por

alunos do 1º ano do curso de Formação de Docentes do Colégio oriundos da

zona urbana e rural, sendo a sede da instituição situada na Rua Zacharias Burko,

nº 147. Foi realizada uma coleta de documentos, fotografias e entrevistas com

professores e com ex-professores da comunidade, com o objetivo de contemplar

1 Professora de História da Rede Estadual do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE (2013/2014) pela Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO – Irati.

2 Professor do Departamento de História da UNICENTRO

as individualidades, abarcar a construção do conhecimento por todos, fornecendo

elementos para elaboração da história local sobre a educação de Rio Azul.

A dinâmica do ensino-aprendizagem ocorre quando os alunos estão

motivados para o desenvolvimento da prática com participação efetiva, com a

construção coletiva de conhecimentos, recursos diversos e a utilização de

metodologias alternativas. Essa possibilidade teórico-metodológica propicia maior

envolvimento com o tema, constituindo assim um instrumento de trabalho que

supera os obstáculos das problemáticas existentes encontradas no decorrer do

desempenho profissional, colaborando para a aprendizagem do educando.

A história de cada indivíduo está vinculada às suas experiências

individuais e coletivas, sendo reconstruída e redescoberta através de pesquisas,

embasadas em fontes orais, escritas e visuais, através das quais poderão

perceber o seu papel como sujeito histórico, possibilitando a compreensão de

elementos essenciais a sua vida como hábitos de seu cotidiano, costumes, língua,

danças, vestuários, alimentação, entre outros. O recurso às fontes orais para o

embasamento do trabalho foi muito importante para os participantes do projeto,

porque ofereceu oportunidade de cada um contar a sua história.

A concepção tradicional de documentos, a divisão de fontes históricas

conforme o valor dos documentos, feita desde a obra de Bernheim:

“Haveria, assim a distinguir duas espécies de fontes: 1º os Vestígios, os traços deixados pelo homem, não com o fim expresso de fornecer aos vindouros quaisquer informes do passado, mas que ficaram esquecidos na marcha do tempo. A vida passou, deixando memória dela: colunas, achas, dentes, ossos, desenhos, moedas. Trata-se de valiosos dados de informação, sobretudo para a fase que antecedeu o aparecimento da escrita. 2º os Testemunhos, fontes que encerram notícias do passado e que foram erguidas para que as gerações futuras pudessem estudar a presença do homem no palco da História (SERRÂO, 1968, p. 59).

Percebendo que o conhecimento histórico em nossa disciplina é aberto

aos recursos lúdicos e que os mesmos são instrumentos de motivação por

estarem presentes na sociedade em diferentes formas (nos programas de

televisão, nos jogos esportivos, como mercadorias nas lojas), faz-se necessário a

utilização de fontes orais e escritas, como ponto de partida para o trabalho nas

aulas de História, tratando de oferecer a oportunidade de suprir o desinteresse

pelo estudo.

Essa ineficiência na aprendizagem histórica pode ser identificada nas

avaliações, principalmente nas turmas que apresentam dificuldades na leitura:

lendo devagar, decodificando sílabas lentamente sem compreender o sentido das

palavras e frases, o aluno ressente de significado no ato de aprender e, com isso,

tornando ineficaz a construção do conhecimento.

Ao trabalhar com diversos documentos e fontes, o professor deverá ficar

atento à riqueza da produção historiográfica ao estudar a história local, revendo

algumas práticas pedagógicas que a escola vem desenvolvendo, visando o

posicionamento interdisciplinar construtivista, diante da necessidade de introduzir

nos seus trabalhos novas linguagens permitindo que o alunado as percebam.

Considerando que a educação histórica visa a formação do indivíduo para a

cidadania e a formação consequente de um sujeito histórico mais crítico e

analítico, a problematização dos conceitos históricos pode contribuir para a

mudança do contexto educacional.

Adequar o material didático às especificidades, as necessidades do aluno,

é uma forma de valorizar as experiências que ele traz de sua vida extra-escolar,

viabilizando uma metodologia que estimula sua criatividade. As fontes históricas

escritas e não escritas constituem-se objeto de estudo para ajudar a construir

valores de cidadania, partindo do pressuposto de que só respeitamos aquilo que

conhecemos e que nos sentimos integrados, tornamo-nos construtores dessa

realidade.

Diante destas dificuldades, exigiu-se, uma série de estudos, pesquisas e

regras para a recuperação da história local, para aproximá-la da história regional

no processo de ensino-aprendizagem. Neste processo, a professora propôs ao

alunado um projeto educacional como instrumento de aprendizagem, no qual o

próprio aluno foi participante na construção do conhecimento e de transformação,

ao envolver pesquisas, as quais foram realizadas através da história oral, nas

entrevistas com moradores e professores mais antigos da cidade.

Conforme Martins (2007), em uma conferência sobre história oral, ela

declarou que “... desceu do pedestal e encontrou-se com um homem comum”.

Demonstrou assim que a escola local precisa ir ao encontro do homem comum

para que possibilite ao aluno sentir-se representante dessa história e parte

integrante da sociedade.

A aprendizagem histórica configura a capacidade dos jovens se orientarem na vida e construírem uma identidade a partir da alteridade. A constituição desta identidade se dá na relação com os múltiplos sujeitos e suas respectivas visões de mundo e temporalidades em diversos contextos espaços temporais por meio das narrativas históricas. Entende-se que esta implica que o passado seja compreendido em relação ao processo de constituição das experiências sociais, culturais e políticas do outro, no domínio próprio do conhecimento histórico (DCE’ s 2008, p.57).

Constitui um grande desafio para o professor de História, despertar o

interesse por estudar história. Pra a maioria dos alunos aprender História é

“estudar o passado”. Para tanto, é de extrema importância dar visibilidade a

História Regional a qual não é contemplada nos materias didáticos. Pretendia-se

que além de se tornarem conhecedores desta história, pudessem ser construtores

de uma história diferente daquela apresentada nos livros didáticos.

Este princípio pedagógico por nós adotado poderia ser assim enunciado:

a dinâmica do ensino-aprendizagem ocorre quando os alunos são motivados para

o desenvolvimento da prática com a participação efetiva, com recursos diversos e

a utilização de metodologias alternativas, propiciando maior envolvimento com o

tema, para despertar no educando o gosto pela História Geral, pois contribui para

que o sujeito que estuda sinta-se parte deste contexto como define Martins (2009,

p. 143), “... a história regional é a que vê o lugar, a região e o território, como a

natureza da sociedade e da História, e não apenas como palco imóvel onde a

vida acontece”.

A pesquisa em fontes históricas escritas, orais e iconográficas,

contribuíram para o desenvolvimento do pensamento histórico e facilitou a

compreensão do processo de produção, levando o alunado a perceber que os

vestígios históricos do passado são encontrados também na memória das

pessoas e em vários lugares e devem ser reconhecidos como válidos e

preservados.

2- DESENVOLVIMENTO

A proposta do projeto foi ressignificar a história da educação do município,

o que foi possível através de pesquisas, entrevistas e exposições de fontes

históricas realizadas através de questionário, história oral, entrevistas com

moradores e professores mais antigos da cidade, coleta de fotos, materiais

escolares e documentos antigos das escolas do município.

O projeto foi desenvolvido com o primeiro ano de Educação Normal do

Curso de Formação de Docentes, no Colégio Estadual “Dr. Chafic Cury”, iniciando

com a apresentação da proposta, relatando os seus objetivos e a relevância para

o ensino e, ainda, destacando a importância da história da educação local com

destaque para as escolas do município e seu desenvolvimento para a educação

nos dias atuais.

Durante a aplicação do material didático foi realizado leitura e estudo de

textos diversos sobre fontes históricas em que foram desenvolvidos conceitos e

diversos tipos de fontes históricas, como: documentos escolares, fotos e relatos

orais, produzidos e utilizados na própria instituição escolar (enquanto importantes

fontes primárias de pesquisa), nas secretarias das escolas, e acervos

particulares, aprimorando o conhecimento prévio dos alunos e valorizando os

locais de preservação das fontes históricas para a conservação destes

documentos relativos à educação.

Em sequência, foi organizado o questionário para a realização das

entrevistas e, os alunos organizaram-se em grupos para a elaboração do mesmo.

O professor corrigiu as questões e direcionou para a coleta de dados que

serviram para análise historiográfica. Muitas delas foram elaboradas com

sugestões de familiares, integrando assim a família num projeto maior de

consolidação e reconhecimento da história do município. Tais exercícios tornaram

educadores e educandos conscientes de suas capacidades além de desenvolver

suas potencialidades.

Após essa atividade, foram solicitados materiais como documentos

escritos, recortes de jornais, cópias de documentos oficias do município,

documentos não escritos – fotos e objetos – e o envio dos questionários aos

professores e ex-alunos das escolas para que tivessem o conhecimento prévio

sobre as entrevistas, para a posterior realização.

A aplicação do questionário com ex-professores e ex-alunos das escolas

do município aconteceu, na maior parte das vezes, fora da sala de aula, pois

entendeu-se que um número significativo de pessoas a serem entrevistadas

estavam fora do ambiente escolar, comparativamente em relação ao número de

aulas propostas no projeto. Com exceção das quatro primeiras entrevistas que

foram realizadas em sala de aula com a observação da professora e auxílio dos

alunos envolvidos. Objetivava-se a verificação da oralidade, convencimento e

conhecimento dos alunos entrevistadores sobre o questionário, a eficácia das

informações e a condição da aplicabilidade do mesmo.

Por último, todo o material coletado relativo às escolas do município

(entrevistas, fotos, cópias de documentos, recortes de jornais, vídeos, filmagens

das entrevistas) foram organizados e montados para a realização de uma

exposição.

Com o apoio da direção e equipe pedagógica, os resultados foram

divulgados em forma de feira para a comunidade, contando com a elaboração de

convites distribuídos para a população local. A exposição ocorreu somente no

pavilhão do Colégio Estadual “ Dr. Chafic Cury”, a qual teve um grande número de

visitantes de diversas localidades do município, alunos da própria escola, das

outras escolas da cidade e pessoas pertencentes ao grupo da terceira idade.

Anexamos a este artigo, fotos de alguns documentos que foram coletados

durante o projeto e expostos na feira, bem como fotos da feira.

Fotografia 1 – Boletim de aluno do Grupo Escolar de Rio Azul nos anos de 1942 e 1944.

Fotografia 2 – Capa de Boletim do Grupo Escolar de Rio Azul constando Regimento Interno e

Valor das Notas

Fotografia 3 – Alunos visitando a feira.

Fotografia 4 – Foto e relatos da criação da Escola Rural Santo Antonio.

Fotografia 5 – Feira de apresentação do Projeto à comunidade.

Fotografia 6 – Feira de apresentação do Projeto à comunidade.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que possamos nos constituir como sujeitos ativos de um determinado

grupo é fundamental que tenhamos um pouco de conhecimento da cultura que

constitui esse grupo. Neste caso foi explorada a História da Educação do

Município de Rio Azul, sendo inegável que as atividades desenvolvidas

proporcionaram aos alunos oportunidade de conhecimento, os quais irão

contribuir para que possam compreender o processo de produção e facilitar o

desenvolvimento do pensamento histórico.

É também importante que os procedimentos da aprendizagem histórica

sejam claramente definidos para os estudantes, a fim de que eles possam

compreender sua atuação na problematização de teorias históricas e críticas de

fontes. O aluno passa a compreender que a disciplina é um mecanismo para

valorizar a diversidade cultural, refletir sobre temas históricos e questões do

presente vivido, percebendo que os vestígios do passado são encontrados em

vários lugares e fazem parte da memória das pessoas.

Na reconstrução acadêmica da História da Educação do município de Rio

Azul, o professor propôs para os alunos um projeto educacional como processo

de aprendizagem, do qual o próprio aluno foi participante na construção do

conhecimento e de transformação ao envolver-se com as pesquisas realizadas

por meio da história oral, nas entrevistas com moradores e professores mais

antigos da cidade.

A reflexão sobre fontes históricas escritas, orais e iconográficas contribuiu

para o desenvolvimento do pensamento histórico e facilitou a compreensão do

processo de produção do conhecimento, permitindo que os alunos percebam que

os vestígios do passado são encontrados também na memória das pessoas e em

vários lugares e devem ser reconhecidos como válidos e preservados.

Focando no Curso de Formação de Docentes, no qual o projeto foi

aplicado, podemos considerar que esses alunos poderão fazer uso, em sua

carreira de professores, do conhecimento adquirido na preservação dos materiais

produzidos, e utilizá-los em sua prática de docente.

Nas exposições realizadas, a quantidade de pessoas presentes superaram

as expectativas no tocante ao interesse que demonstraram pela exposição e

também nas conversas informais, pois, sentiram-se como parte integrante da

exposição ao encontrarem fotos antigas de familiares e conhecidos. Possibilitar a

participação da comunidade escolar nas atividades desenvolvidas no projeto,

trouxe uma maior significação para os envolvidos e tornou-se efetiva sua

aplicabilidade e sucesso fazendo com que história que se construiu e se

preserve.

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acerca da provisoriedade da explicação histórica. Braga: Universidade do

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