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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

SUPERANDO AS DIFICULDADES DO ENSINO DA EDUCAÇÃO

FÍSICA COM O TÊNIS DE MESA

VITORETI. Lauro1

RESUMO: Historicamente, no Brasil, o ensino da Educação Física se concentrou na

preparação para esportes de alto rendimento, visando resultados em competições.

Raramente a oferta de esportes nas escolas ultrapassa o voleibol e o futebol. Essa

perspectiva gerou aversão de alguns alunos quanto a prática esportiva. Ainda

estimulou a segregação daqueles que não se sentem à vontade para praticar

esportes, ou possuem algum tipo de deficiência. Para superar tais tendências

negativas, o Tênis de Mesa, por ser uma modalidade versátil, se torna ferramenta de

transformação da realidade, juntamente com atividades lúdicas. Ainda, reforça o

papel fundamental do professor como agente principal na motivação dos educando.

O presente artigo baseia-se na intervenção, desenvolvida no Programa de

Desenvolvimento da Educação (PDE), aplicada no Colégio Estadual Nova

Esperança, durante o ano letivo de 2015. Explicita a base teórica e os resultados

obtidos, na utilização do Tênis de mesa como prática pedagógica alternativa, que

torna o trabalho docente eficaz e produtivo.

Palavras- chave: Tênis de Mesa; Educação Física; Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

A Educação Física, segundo Daólio (1996), constitui-se a área de

conhecimento que estuda e atua com um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao

movimento criado pelos homens ao longo da sua história: os jogos, as ginásticas, as

lutas, as danças e os esportes. Conseqüentemente a Educação Física como matéria

ou disciplina obrigatória, no ensino básico, deveria contribuir para o ensino da

cultura corporal e dos diversos saberes presentes no espaço escolar.

Numa perspectiva histórica, por alguns períodos, o ensino nessa disciplina

caracterizava-se como um fenômeno atrelado ao esporte de alto rendimento, ou

seja, a prática durante as aulas concentrava-se para o ensino de esportes que visam

apenas os resultados em competições (MARTINS, 2012). Muitos estabelecimentos

1 Professor de Educação Física na Rede Estadual de Ensino do Paraná. Licenciado em Educação Física pela

FACEPAL. Especialista em Magistério da Educação Básica pelo IBEX.

de ensino já possuem culturas educacionais estabelecidas, mesmo se contrapondo

aos princípios da Educação Física, levando muitos professores a continuar o que foi

pré-estabelecido (ALVES, 2007)

Segundo Betti (1999), a Escola ao assumir a perspectiva unilateral de ensino

do esporte em detrimento do ensino da cultura corporal, bem como os conteúdos a

serem desenvolvidos, raramente ultrapassa a esfera esportiva e restringe sua

prática ao voleibol, basquetebol e futebol, enquanto os educando, na sua maioria,

afirmaram que gostariam de aprender outros conteúdos. Nas aulas de Educação

Física é facilmente observável a presença de grupos de alunos com diversas

intenções na prática esportiva, como extravasar emoções ou buscar/manter a boa

forma.

Por outro lado, o autor ressaltou que há grupos que não se sentem à vontade

para praticar esportes durante as aulas, pois não possuem coordenação motora

adequada, uma vez que refletem diversas causas como, por exemplo, a obesidade,

a paraplegia e a surdez. Esses e outros fatores influenciam na prática desportiva. Os

alunos destes grupos se omitem durante as aulas práticas de Educação Física,

sendo que as mesmas contemplam apenas duas ou três modalidades, que no ponto

de vista desses, são desinteressantes (TORRES, 2007, p. 2).

Neste contexto, tornou-se primordial que o Professor supere essas tendências

negativas históricas, que estão impregnadas na Educação Física, para transformar o

dia-a-dia da Escola, a saber, aproximando e motivando os alunos a prática

esportiva. Além disso, com essas transformações, os alunos perceberão a

importância da prática esportiva para seu desenvolvimento sociocultural, o que

acarretará em um rendimento superior nas atividades escolares e do cotidiano.

Na perspectiva da intervenção pedagógica como ferramenta para superar as

dificuldades históricas do ensino da Educação Física Escolar, visa possibilitar que o

professor de educação física atue em sua comunidade, transformando-a deforma a

possibilitar o crescimento social, cultural e emotivo dos agentes envolvidos.

Portanto, analisemos a fundamentação teoria utilizada no projeto supracitado.

O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

O professor de Educação Física deveria estimular algumas alternativas de

prática esportiva como, por exemplo, os jogos de raquete, entre outras. Bem como a

introdução de dinâmicas, que oportunizassem uma prática acessível a todos os

alunos de forma a contemplar as individualidades de cada um e promover a

socialização do grupo, através do respeito pelas opções e as necessidades de cada

ser - humano, com o intuito de motivar os alunos que se sentem excluídos e/ou

incapacitados para realizar uma prática desportiva habitual. Desta forma, a

diversificação das atividades nas aulas proporciona transformações positivas no

desempenho individual e na vida social, do grupo em questão. Mas para que a

realidade mude Freire (1991), apresenta que, em primeiro lugar devemos acreditar

nas mudanças, nas transformações sociais, com oportunidades iguais para todos

em busca de uma sociedade livre e para todos.

Para a construção de um processo de ensino de Educação Física capaz de

produzir cultura esportiva alternativa, Chiminazzo (2008) indica que a prática dos

jogos de raquete pode ampliar as possibilidades de desenvolvimento do

conhecimento do aluno, bem como as possibilidades de atuação do professor.

Assim, os jogos clássicos como: tênis de mesa, tênis de campo, squash e badminton

são aliados importantes no processo de formação de escolares

Além disso, o autor ressalta que as adversidades relacionadas ao desafio da

falta de espaços físicos e material adequado, se configuram como um grande

obstáculo a ser superado, pois a atitude de reclamar não é produtiva. Como solução

para esses problemas, o professor, na responsabilidade de estimular seus alunos,

poderá conduzi-los na construção de seus próprios materiais esportivos, munindo-se

de materiais alternativos, facilmente encontrados na comunidade, sem ônus

financeiros, possibilitando a produção individual do material.

O TÊNIS DE MESA COMO AGENTE TRANSFORMADOR DA REALIDADE

A prática do Tênis de Mesa auxilia o educador na conscientização dos

educando, pois através da explicação dos benefícios para a saúde, proporciona uma

melhora da qualidade de vida e do desempenho corporal, que refletirá em todos os

campos da aprendizagem e da vida cotidiana.

Desta forma, ao oportunizar as atividades pertinentes a prática do Tênis de

Mesa de maneira lúdica influencia-se positivamente os alunos, estimulando-os ao

aperfeiçoamento de diversos aspectos técnicos da modalidade, bem como motivá-

los a uma prática esportiva cotidiana. Além disso, aumenta à autoestima dos alunos,

à medida que se tornem mais proficientes na modalidade, alterando os seus

conceitos negativos sobre si e sobre seu desempenho na prática esportiva. Também

os estimula quanto ao desenvolvimento de outras habilidades como: agilidade,

disciplina, raciocínio rápido, destreza, capacidades coordenativas, entre outras,

assim como os aspectos relacionados à capacidade cardiorrespiratória.

De modo que, uma prática do tênis de mesa, quando devidamente orientada,

pode promover o desenvolvimento de fatores interpessoais e intrapessoais, que

estão relacionados no processo de treinamento esportivo, à medida que a prática da

modalidade ocorre mais efetivamente de forma individual, pode estimular o

conhecimento de si mesmo, no entanto, sua versatilidade possibilita, também, a

prática da modalidade em duplas, desenvolvendo o respeito ao próximo e a

socialização com outras pessoas.

Assim verifica-se que o Tênis de Mesa, por ser uma modalidade versátil e sua

prática proporcionar com inúmeros benefícios, poder ser uma ferramenta

indispensável ao Professor de Educação Física.

Em contrapartida, no âmbito das Escolas a ausência ou precariedades das

condições dos materiais disponíveis para a prática dessa modalidade, muitas vezes,

impedem a implementação de projetos que envolvessem alunos nesta atividade.

Esse fator se configura, em alguns casos como obstáculo para a implementação

desse esporte. Neste contexto, Júnior e Nogueira (2013) alertaram que a prática

estimula vários campos necessários para o pleno desenvolvimento motor dos

adolescentes.

Além disso, os autores ressaltaram o usufruto de possíveis benefícios sócios

psicológicos, entre eles organizar-se socialmente e psicologicamente para que

possa jogar de forma madura, e aprender a respeitar o adversário como um

companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva.

Nesta perspectiva, a modalide de Tênis de Mesa torna-se uma ferramente

interessante no atendimento dos grupos de jovens que não se consideram aptos

para a prática esportiva, assim como possiveis ajustes para atender grupo de jovens

que possui algum tipo de deficiência, e que não sentem-se preparados para praticar

esportes. Você já disse isso antes

Neste caso, utilizando-se do Tênis de Mesa, o professor de educação física

pode obter resultados positivos. Para que a sua praxis alcance os objetivos

propostos. Porém, quando se trata de alunos com deficiêcia, algumas adaptações

podem ser necessárias:

O aluno portador de deficiência física precisa de mais espaço individual para a atividade, considerando o uso de cadeiras de rodas ou muletas, por ex. o tempo de execução de movimentos pode ser bem mais demorado do que os demais. Qualidade e quantidade requerem ajustes. Vários implementos, modificações de regras, adaptações invariavelmente podem ser sugeridas pela criança portadora de deficiência. Orientações e novidades podem ser introduzidas pelos profissionais. Planeje atividades de forma que a criança possa participar o máximo possível (PEDRINELLI, 2002, p.03).

De maneira organizada, o Professor de Educação Física pode ser o agente

transformador da realidade, contribuindo para uma mudança de paradigma quanto a

forma com que os alunos se vêem, em estopim para uma vida saudável e prazerosa.

Desta forma, os mesmos poderão apresentar melhoras físicas, bem como nos

sociais e cognitivas, ou seja, os possíveis benefícios que a prática esportiva do

Tênis de Mesa proporciona é fundamental para toda a vida do educando.

Contudo, o sistema educacional atual muitas vezes desconsidera as

singularidades educacionais dos alunos, gerando inúmeros prejuízos, como

destacaram as investigações de VIEIRA (2012):

[...] foi possível analisar alguns alunos, que, na simplicidade de suas falas, demonstraram sua frustração. Assim se concluiu que os objetivos da educação física variam conforme a necessidade de cada período, por isso é preciso que ela respeite cada momento histórico, pelo qual passa a sociedade e as pessoas que a compõem. Contudo, a grande falha da educação está na irresponsabilidade e descompromisso com que os estudantes realmente aprendem. (Idem, p.177)

Sendo assim, o autor ressalta que a expectativa de que as escolas de

formação inicial, mais especificamente nas aulas de Educação Física, sejam

capazes de fornecer subsídios suficientes para que os professores proporcionem, no

âmbito educativo, atividades que oportunizem aos alunos viverem as mais diversas

dimensões (intelectual, sensorial, afetiva, gestual e expressiva), ainda está longe do

ideal.

Desse modo, dificultam o trabalho dos profissionais dessa área, o que dificulta

que se penetre na realidade dos alunos, e a partir das informações coletadas, auxilie

para que os alunos se autoconheçam e busquem meios de solucionar os problemas

que nos enfrentam mais diversos âmbitos da vida do ser - humano.

Para que essa proposta se efetive, a intervenção do Professor de Educação

Física é indispensável, pois ele é responsável pela escolha adequada da

metodologia, pois ela é a ferramenta possibilita o trabalho com os alunos, por esse

motivo ela deve ser capaz de suprir as necessidades da realidade de cada um. Uma

vez que elevar conscientemente o homem significa mobilizá-los, tirando-os de um

estado inerte e de comodismo, e levá-los ao desenvolvimento físico, mental e

intelectual.

Compreende-se que muitas são as possibilidades pedagógicas do Tênis de

Mesa, sendo elas: dinâmicas eficientes e adaptáveis a qualquer situação (MARTINS,

1996). Pois com trabalho com esse esporte promove valores pedagógicos

essenciais para o desenvolvimento das crianças e dos jovens, sendo que no plano

motor: desenvolvem-se a destreza, a coordenação, a precisão gestual e a

velocidade de execução/reação. Já no campo do domínio cognitivo, desenvolvem-se

a tomada de decisões, a apreciação das trajetórias, a análise do jogo e a elaboração

de uma estratégia.

Em relação às questões intrapessoais, promove o respeito pelas regras e por

todos os intervenientes, valoriza o trabalho individual e coletivo e, por fim, integra e

inclui todo o corpo discente.

Portanto, o Tênis de Mesa se configura como uma possibilidade

implementação dentro do espaço educativo, mostrando-se uma ferramenta eficaz e

versátil, para o desenvolvimento da pratica pedagógica dinâmica e eficaz, que

fomenta uma prática eficiente e que contempla a educação integral.

INTERVENÇÃO E RESULTADOS

A participação no Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE),

promovido pela Secretária de Educação do Paraná, proporcionou a aplicação do

projeto O Tênis de Mesa como mediador da aprendizagem, no Colégio Estadual

Nova Esperança (CENE), para alunos do 6º Ano, no município de Nova Esperança

do Sudoeste, sendo ministradas 20 horas-aulas para efetivação da intervenção.

Inicialmente, no mês de fevereiro de 2015, ocorreu o contato inicial com a

Direção e Coordenação pedagógica do CENE, para explanação sobre as vivências

oportunizadas pela implementação do projeto na comunidade escolar, sendo que, de

forma geral, a receptividade do projeto foi muito boa em toda a escola.

Quanto aos alunos, verificou-se que eles ficaram entusiasmados com as

possibilidades que o Tênis de Mesa abre, desejando que o projeto fosse iniciado o

mais cedo possível. Assim, foram informados que haveriam aulas teóricas, para

explanação das noções básicas. De forma que a maioria concordou em participar,

com o mesmo entusiasmo, em todas as atividades do projeto.

Alguns alunos, os quais estavam acostumados a praticar somente futsal

mostraram um pouco de frustração, ao descobrirem que o foco das aulas seria

diferenciado. Essa resistência foi superada com argumentos apontavam para o fato

de que as aulas teóricas seriam iniciadas com atividades lúdicas, e que vez por

outra, poderiam praticar outra modalidade esportiva.

Em seguida, iniciou-se o primeiro ciclo estabelecendo o contato informal com

as noções básicas dos equipamentos, regras e jogadas básicas, para tanto, foram

ministradas oito aulas com os seguintes conteúdos:

I. Pegada da Raquete;

II. Movimentos iniciais com a bola;

III. Saque;

IV. Regras básicas;

Durante as aulas desta etapa, eram oportunizadas, inicialmente, atividades

com caráter essencialmente lúdico, na expectativa de oportunizar um momento de

desenvolvimento de habilidades úteis a prática esportiva. Como exemplo, a atividade

“Dança da Raquete”, consistia em semelhança a “Dança da Cadeira”, mas com

diferencial que cada aluno deveria equilibrar a bola sobre a raquete, e ainda assim

encontrar um assento livre, quando a música parasse.

Até mesmo as aulas “teóricas” ganharam o prestígio dos alunos, pois se

tornaram animadas e dinâmicas. O grupo que não se sentia à vontade para a prática

esportiva logo se encorajou. A resistência de alguns foi superada por meio do

incentivo dos colegas que os encorajavam para uma atuação mais participativa nas

aulas.

Apesar do material disponível para o projeto ser insuficiente, seguiu-se a

prerrogativa enfatizada por Chiminazzo (2008), ou seja, no lugar de apenas

reclamar, em virtude da escassez de materiais para prática esportiva, durante as

atividades do primeiro ciclo, utilizou-se de materiais diferenciados, como balões e

bolas de voleibol, além disso, a quadra poliesportiva e as mesas do refeitório

serviram como alternativas para a prática do Tênis de Mesa.

Diante desta situação, a direção do Colégio sensibilizou-se e foram adquiridos

alguns materiais, com um número adequado de raquetes e bolas, permitindo

desenvolver, com mais qualidade, as atividades especificas individuais e em grupo.

No desenvolvimento das atividades do primeiro ciclo foi possível perceber que

os alunos pertencentes ao grupo que não se sentiam confortáveis para a prática

esportiva, inicialmente, não manifestaram grande interesse na proposta da prática

do Tênis de Mesa.

Isto levou a uma reflexão, no pensamento de Barroso e Darido (2006), que

defende a participação de todos:

Torna-se imprescindível um tratamento pedagógico, que lhe atribua um valor de maior qualidade para os alunos, sempre valorizando e possibilitando a participação de todos nas atividades, independente de níveis de habilidades ou diferenças de constituições físicas, como também propiciando à reflexão, através de um trabalho que evidencie aspectos conceituais das modalidades esportivas, e saber utilizá-las para uma melhora nos comportamentos e atitudes de nossos alunos (Idem, p. 112).

Desenvolver o pensamento acima resultou em progresso, pois no momento

em que os alunos percebiam que as atividades propostas se diferenciavam das

atividades habituais da prática esportiva e eram direcionadas para uma prática

recreativa do Tênis de Mesa, promovendo a integração e a socialização dos

participantes, rapidamente a resistência inicial foi superada, sendo que,

gradativamente, os alunos foram integrando-se no projeto participando nas aulas

com grande entusiasmo e satisfação.

Este quadro demonstra que “estas possibilidades pressupõem novos sentidos

e significados ao esporte e às práticas educativas” (MORSCHBACHER &

MAURENTE, 2011, p. 92). Portanto, as práticas educativas assumiram um novo

significado, mostrando-se maleável e sensível a necessidade real dos alunos,

tornando-a mais agradável, prazerosa e eficaz. Fator observado pelo entusiasmo

dos alunos.

Com a motivação renovada, logo todos os estudantes passaram a participar

das atividades propostas. Mesmo os que não haviam desenvolvido as habilidades

motoras, necessárias a prática do Tênis de Mesa, pois se sentiram à vontade para

desenvolvê-las. Os que anteriormente eram resistentes a idéia de “trocar” o Futsal

pelo Tênis de Mesa, passaram a ajudar os colegas, com menor habilidade, na

prática do novo esporte.

Neste sentido, tornou-se evidente que é possível mudar a realidade escolar e

promover a motivação dos alunos, mesmo em situações de escassez de material

esportivo, quando o professor de Educação Física se torna agente de transformação

da realidade.

No segundo ciclo foram ministradas 12 horas-aula com atividades pertinente à

estimulação de ações de efeito que o tênis de mesa permite, como por exemplo,

saque invertido. Além disso, foram oportunizadas atividades para a vivências de

situações de defesa e ataque, especialmente ações de corte e deslocamentos, de

forma geral foram oportunizados os seguintes conteúdos:

I. Jogadas de efeito sob a bola;

II. Cortes;

III. Ataque e defesa (mão esquerda e direita);

IV. Jogadas em Equipe;

V. Campeonato;

Em virtude das atividades iniciais, os alunos passaram a ter conhecimento

prévio das normas e tipos de jogadas, assim entenderam melhor a plenitude da

modalidade, e passaram a dedicar-se ainda mais aos treinos. A aceitação e a prática

foram melhores que no primeiro ciclo, possibilitando uma maior eficácia nas

atividades. Além disso, foi possível perceber que muitos alunos, passaram a sentir-

se entusiasmados, ao perceberem o próprio progresso e os dos colegas de classe.

Na perspectiva de Tani et. al., o ensino do esporte na escola requer:

[...] a aprendizagem de habilidades que assegurem ao aluno uma proficiência motora mínima, garantindo a sua inserção nessa cultura de movimento, de forma que a questão central é saber o que é essencial a ser ensinado para que o aluno tenha sucesso na aprendizagem dessas habilidades. Em outras palavras, compatibilizar a demanda de prática para assegurar a aprendizagem e as condições reais oferecidas pela escola. (Idem, 2013, p. 515)

Assim, nas atividades que visam à inserção do educando na cultura de

movimento, é possível colher resultados positivos, sendo passível de observação

durante a aplicação do projeto.

O momento ápice da intervenção culminou com a realização de um

campeonato para os participantes da intervenção na expectativa de promover a

prática do esporte. O ponto alto do ciclo foi a realização desse evento competitivo,

que permitiu a participação integral dos alunos, finalizando com a possibilidade de

que todos fossem considerados campeões.

Durante o evento foi possível retirar o “espírito de competitividade”, não

eliminando os participantes independentemente do resultado, permitindo a inclusão

de todos os alunos, promovendo grande alegria, satisfação e aprendizagem a todos

os integrantes, tornando a prática esportiva essencialmente satisfatória. Assim

percebe-se que:

O compromisso dos educadores é buscar o desenvolvimento e a transmissão de valores que estimulem a solidariedade, o respeito mútuo, a compaixão e muitos outros, mas sem, com isso, incentivar os alunos à resignação, à conformação e a subserviência. Ao contrário, o papel do educador, trabalhando com jogos cooperativos, é o de despertar o senso crítico para as questões sociais (CORREIA, 2006, p. 161).

Desse modo, verificou-se que os dois ciclos estimularam a socialização dos

educando, permitindo, ao final, a vivência de um campeonato, colocando todos em

caráter de igualdade, independentemente das limitações físicas ou habilidades de

cada praticante. As atividades despertaram o senso crítico para as questões sociais,

principalmente no que tange à inclusão, como por exemplo, uma aluna com

deficiência intelectual pode desfrutar das atividades, elevando sua autoestima, por

poder participar com todos os colegas. Outro aluno, cadeirante, participou com

alegria nas atividades adaptadas sem se sentir discriminado, e colocando os colegas

em condições iguais a sua que estamos realmente efetuando a inclusão e

socialização na escola. Ainda um aluno surdo, desenvolveu um saque diferenciando,

executando os movimentos por baixo de uma das pernas.

Portanto, a organização dos ciclos foi eficaz, suprindo as necessidades dos

alunos e adaptando-se conforme fez-se necessário. O ciclo um fomentou o interesse

e a compreensão de como é o jogo de Tênis de Mesa. No caso do ciclo dois, o

trabalho se deu com o desenvolvimento de habilidades especiais, que muitos

desconheciam. Por fim, a participação e o emprenho dos alunos e o

desenvolvimento do projeto foram um sucesso, pois visava à integração e

participação de todos os educando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas observações e relatos dos participantes, constatou-se que o

Tênis de Mesa realmente auxilia na motivação dos alunos à prática da Educação

Física Escolar. Observou-se que o Tênis de Mesa é uma modalidade versátil, que

permite adaptações, mesmo em Escolas onde os recursos de materiais são

escassos.

A modalidade proporcionou inclusão de todos os alunos, mesmo os que

possuem alguma deficiência ou limitação física. Os que outrora se sentiam

desmotivados a praticar qualquer esporte, devido a sentimentos de inferioridade ou

falta de motivação, logo recuperaram o anseio pelas aulas e pela prática esportiva.

Certamente o quadro clínico de saúde destes melhorou, mesmo não sendo

realizados exames médicos, pois o sorriso e o condicionamento físico dos alunos

foram satisfatórios durante os exercícios.

Obviamente, a responsabilidade para transformação da realidade escolar

atual está, em grande parte, sobre o professore. Este deve utilizar da criatividade

para superar qualquer obstáculo. Quando se tem um profissional motivado, contagia

todos que estão à sua volta, pois esse é observado, principalmente, pelos alunos.

Esse fator contribui para a criação de um ambiente agradável e receptivo as

propostas de trabalho.

Certamente, o planejamento é imprescindível para o sucesso de qualquer

proposta, pois é através dele que se traçam os rumos, as metas, de curto e longo

prazo, pensasse nos obstáculos e em como superá-los, em prol de um resultado

satisfatório para todos os agentes inseridos nessa instituição, chamada de Escola e

que cumpre um papel determinante na vida de milhões de pessoas em todos o

mundo. Porém é imprescindível que sejam respeitadas as individualidades e limites

de cada um, com o intuito de garantir a efetivação da inclusão, da autonomia e da

inserção dos alunos na sociedade como sujeitos que privem pelo respeito ao

próximo.

Portanto, a utilização da prática do Tênis de Mesa como alternativa

pedagógica para a superação das dificuldades, historicamente impregnadas no

ensino da Educação Física Escolar, é uma ferramenta extremamente útil para os

professores de Educação Física.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARROSO, A. L. R., DARIDO, S. C. Escola, Educação Física e Esporte: Possibilidades Pedagógicas. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança, v. 1, n. 4, p. 101-114, dez 2006.

CHIMINAZZO, J. G. Esporte de raquete na escola: uma possibilidade de trabalho. Movimento e Percepção, v.9, n.12, São Paulo, junho de 2008.

CORREIA, M. M. Jogos cooperativos: perspectivas, possibilidades e desafios na educação física escolar. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 27, n. 2, 2006.

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MARTINS, R. V. O Esporte nas aulas de Educação Física: uma problemática na prática dos docentes. Artigo do Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Educação Física, UFPR. Revista Digital EFDeportes, n. 167, Abril de 2012. Disponível em <http://www.efdeportes.com/efd167/o-esporte-nas-aulas-deeducacao-fisica.htm>. Acesso em 09 de Julho de 2014.

PEDRINELLI, V. J. Possibilidades na diferença: o processo de "inclusão" de todos nós. Integração, v. 4, p. 31-34, 2002.

TANI, G. et. al. O ensino de habilidades motoras esportivas na escola e o esporte de alto rendimento: discurso, realidade e possibilidade. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, Jul-Set, São Paulo, 2013.

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VIEIRA, S. V. A Educação Física cuida do corpo... e „‟mente‟‟: bases para a renovação e transformação da educação física. CONEXÕES: Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, v. 10, n. 1, 2012.