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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A INDESTRUTIBILIDADE DA MATÉRIA E OS IMPACTOS AMBIENTAIS

CAUSADOS POR RESÍDUOS DE ÓLEO DE FRITURA

Autora: Sandra Maria Pita¹ Orientadora: Eneri Vieira de Souza Leite Mello²

RESUMO

Este artigo descreve a implementação de uma proposta que teve como objetivo promover uma

aprendizagem significativa, por meio de uma abordagem contextualizada no ensino de Ciências, mais

especificamente relacionada à indestrutibilidade da matéria. Foi desenvolvido no Colégio Estadual

Professor João Farias da Costa – EFM com alunos do 9º ano. As atividades proporcionaram uma

reflexão crítica sobre os impactos ambientais causados por resíduos de óleo de fritura, bem como o

descarte correto destes resíduos e a apropriação do princípio proposto por Lavoisier: “Na natureza

nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.Tais resíduos ao serem afastados de nossos

olhares, não deixam de existir, apenas se transformam. As ações foram desenvolvidas, considerando

aspectos essenciais para o ensino desta disciplina: a história da ciência, a divulgação científica e as

atividades experimentais.

Palavras-chave: Resíduos de óleo de fritura; indestrutibilidade da matéria; impacto

ambiental.

1 INTRODUÇÃO

“A educação é um meio indispensável para propiciar a todos os homens domundo a capacidade de conduzirem suas próprias vidas, exercitarem acapacidade de escolha e a responsabilidade pessoal e aprenderem atravésde uma vida sem restrições geográficas, políticas, culturais, religiosas,linguísticas ou de gênero (BOVO, 2005).”

¹ Professora da Rede Pública Estadual, SEED – Paraná. Licenciada em Ciências com HabilitaçãoPlena em Matemática.

² Professora Doutora – Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Estadual deMaringá.

Os desafios do mundo contemporâneo exigem cada vez mais a participação

da escola na formação do cidadão crítico, participativo, capaz de interagir e agir em

sua realidade. Essa ação requer mudança de hábitos e atitudes diante do fato de

estarmos vivendo uma crise de dimensões sociais, econômicas, culturais, políticas e

ambientais.

Cabe à escola levar o aluno à compreensão da realidade, que somente é

possível quando o professor, em sala de aula, ao desenvolver o conteúdo específico,

estabelece relações entre este conteúdo e situações que façam parte ou se

aproximem do contexto social que o envolve, buscando a promoção de uma

aprendizagem significativa.

Em face ao exposto, o desenvolvimento e implementação das ações

propostas no Projeto de Intervenção Pedagógica justificou-se pela importância de

oportunizar ao aluno uma reflexão crítica sobre a indestrutibilidade da matéria e os

impactos ambientais causados por resíduos de óleo de frituras descartados

incorretamente no meio. Estas ações possibilitaram, ainda, verificar como a

contextualização no ensino de ciências pode contribuir para uma aprendizagem com

significado promovendo a construção de conceitos e mudanças de atitudes.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Comumente os restos de óleo de cozinha são descartados incorretamente

junto com o lixo comum causando danos ao meio ambiente. Segundo Correa Neto

(2013).

Se encaminhado para aterros, junto com os demais resíduos domésticos, oóleo vai gerar metano, contribuindo para o efeito estufa. Se lançado no raloda pia, atrai insetos, o que por vezes implica no uso de controle químico, eainda obstrui as tubulações, demandando custos igualmente permitindo quesubstâncias químicas sejam usadas. Alcançando os corpos hídricos, afeta afauna e a flora pela criação de barreira entre o ar e a água e por demandaroxigênio na sua degradação.

Portanto, o que parece um gesto natural, sem maiores consequências, podegerar graves problemas ambientais.

Para Waldman (2010), na ciranda formada pelos lixos, os refugos

dispensados pelas residências ocupam posição de destaque no imaginário social.

Prova disso é a cobertura frequente que os meios de comunicação dedicam a este

resíduo. Porém, quando o lixo é afastado dos olhares das pessoas ele deixa de ser

um problema. Este autor conclui que:

[...], numa clara contradição, uma imensa maioria dos cidadãos não vê osdescartes da casa onde mora enquanto assunto sob sua responsabilidadedireta. Lixo é problema do vizinho, dos lixeiros, dos catadores, dosvereadores, da prefeitura, das empresas de limpeza ou, no máximo, dosambientalistas. Mas, de quem o coloca no mundo, não seria de formaalguma.

Sendo o lixo um problema somente enquanto ocupa um espaço no campo de

visão das pessoas, o resíduo de óleo de cozinha deixa de ser um problema de quem

o descarta. No entanto, após seu descarte, os resíduos continuam a existir, sendo

transformados em substâncias nocivas ao meio ambiente. O impacto ambiental

causado por 1 litro de óleo de fritura tem o potencial para poluir até 1 milhão de litros

de água. O Brasil consome anualmente aproximadamente 3 bilhões de litros de óleo

de cozinha e apenas cerca de 1% é reciclado.

A maioria das pessoas não têm o conhecimento adequado sobre os danos

causados pelo óleo no ambiente.

Esse fato tornou necessário que o assunto fosse tratado na escola, já que

esta, além de difundir o conhecimento científico é também um espaço de discussão

sobre os acontecimentos mundiais e locais, propiciando o desenvolvimento do

raciocínio, da criatividade, da capacidade de investigação e a compreensão dos

contextos sociais na qual está inserida.

Portanto, ao desenvolver o conteúdo específico, devemos associar situações

presentes no cotidiano estabelecendo relações contextuais. Conforme as Diretrizes

Curriculares Estaduais Para o Ensino de Ciências (2008):

Contextualizar é uma forma de articular o conhecimento científico com ocontexto histórico e geográfico do estudante, com outros momentoshistóricos, com os interesses políticos e econômicos que levaram à suaprodução para que o conhecimento disciplinar seja potencialmentesignificativo.

Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica no Ensino de

Ciências (2008), a aprendizagem significativa implica que o estudante aprende

conteúdos científicos escolares quando lhes atribui significados. Para tanto é

necessário que se estabeleça relações entre o que o aluno já sabe e o conteúdo

científico, através da mediação do professor.

Para Freire (1997) é preciso que o professor tenha consciência de que

ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria

produção ou a sua construção. Assim, em sua prática pedagógica, o professor deve

favorecer a participação efetiva do aluno na construção do conhecimento ao fazer

uso de estratégias que estabeleçam relações contextuais. Este autor afirma que o

professor tem papel fundamental para uma aprendizagem significativa, tendo

consciência de que ensinar exige pesquisa.

Em sua formação continuada, o professor deve buscar além de conhecer o

conteúdo específico de sua disciplina, conhecer diferentes metodologias e utilizar

recursos pedagógicos variados priorizando uma aprendizagem significativa,

permitindo ao aluno participação efetiva na construção de seu próprio conhecimento.

Pensando exclusivamente no ensino da disciplina de ciências, o professor ao

realizar seu encaminhamento metodológico deve considerar alguns aspectos

essenciais para o ensino desta disciplina: A história da ciência, a divulgação

científica e as atividades experimentais.

Para Martins (1990), sob o ponto de vista didático (ou tática de ensino), a

História da Ciência tem várias aplicações. Ela pode ser usada para contrabalançar

os aspectos puramente técnicos de uma aula, complementando-os com um estudo

de aspectos sociais humanos e culturais. Ainda segundo o autor ao utilizar a história

da ciência como recurso didático é preciso que o professor busque:

Informações (preferivelmente bem fundamentadas) sobre, a vida decientistas, a evolução de instituições, o ambiente cultural geral de umaépoca, as concepções alternativas do mesmo período, as controvérsias edificuldade de aceitação de novas idéias - tudo isso pode contribuir para daruma nova visão da ciência e dos cientistas, dando maior motivação aoestudo.

Conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais de Ciência (2008), a

divulgação científica se constitui em importante alternativa para suprir a defasagem

entre o conhecimento científico e o conhecimento escolar. Permitindo, desta

maneira, a veiculação em linguagem acessível do conhecimento que é produzido

pela ciência e dos métodos empregados nessa produção. Podendo-se fazer uso de

materiais divulgados em jornais, revistas, documentários, visitas a museus e centros

de ciências, porém, fazendo adequação didática necessária.

A atividade experimental é considerada como importante recurso didático para

uma aprendizagem significativa promovendo uma relação direta entre teoria e

prática. Para Vasconcelos (2003):

No ensino de ciências, atividades práticas são fundamentais, afinal odesenvolvimento da capacidade investigativa e do pensamento científicosão diretamente estimulados pela experimentação. Através de umexperimento, o aluno tem oportunidade de formular e testar suas hipóteses,coletar dados, interpretá-los e elaborar suas próprias conclusões, baseadasna literatura sobre o tema.

Conciliar teoria e prática é fundamental para o ensino de ciência, pois, o aluno

tem contato direto com o objeto de estudo, podendo elaborar hipóteses e tirar suas

próprias conclusões.

3 METODOLOGIA

O Projeto proposto foi desenvolvido no Colégio Estadual Professor João Farias da Costa – EFM, localizado no município de Nova Cantú - Pr.

Primeiramente o projeto foi apresentado à Direção, Equipe Pedagógica,

Professores e Funcionários durante a semana pedagógica ocorrida no início do ano

letivo, para que pudessem conhecer o tema, os objetivos, a metodologia, as ações

previstas e o cronograma da implementação.

O público-alvo da implementação constituiu-se de vinte alunos, selecionados

entre duas turmas do 9º ano do período matutino, em contra turno. Em sala de aula,

já na primeira semana do ano letivo os alunos foram esclarecidos e convidados a

participarem do projeto. Os interessados receberam um comunicado que foi levado

para os pais ou responsáveis esclarecendo sobre datas, horários e local da

implementação, bem como o tema a ser desenvolvido, deixando claro que o aluno

deveria ser autorizado pelos pais para retornar à escola em contra turno.

As ações foram desenvolvidas conforme descrito na Proposta Didático

Pedagógica. Os alunos trabalharam em grupos realizando atividades de pesquisa,

entrevista, visitas de campo e experimentação. As atividades de observação foram

realizadas individualmente. Utilizamos diferentes espaços do Colégio, entre eles: o

laboratório de informática, a biblioteca, laboratório de ciências e o refeitório (espaço

onde temos os recursos audiovisuais para assistir aos vídeos propostos).

4 RELATO DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS/RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atividade 1 - Pesquisa: Como Lavoisier afirmou a indestrutibilidade da matéria

e suas contribuições para a ciência.

A primeira atividade desenvolvida buscou por meio da história da ciência

conhecer as contribuições de Lavoisier para o desenvolvimento científico e a

compreensão da natureza indestrutível da matéria, permitindo ao aluno perceber

entre outros, a importância da persistência e dedicação dos cientistas para a

evolução científica.

Para iniciar a atividade os alunos foram divididos em grupos e receberam a

orientações contendo fatores de relevância a serem considerados.

Foram orientados a buscar informações em fontes confiáveis, como artigos

científicos sobre a História da Ciência e em sites de universidades. Utilizaram

inclusive o artigo disponível em

http://www.fem.unicamp.br/~em313/paginas/person/lavoisie.htm , citado na Proposta

Didático Pedagógica. Ao término da atividade, entregaram uma cópia de suas

pesquisas. Nos colocamos em círculo e cada grupo compartilhou suas descobertas

e conclusões sobre o assunto.

Comentários relevantes tecido pelos alunos com relação aos aspectos da vida

de Lavoisier:

Aluno 1 _ Professora eu não sabia que a vida dos cientistas fosse assim tão

difícil: Ficar horas trancado em um laboratório!!!

Aluno 2 _ Coitado, ficou sem mãe com cinco anos!

Aluno 3 – A mulher dele só tinha 13 anos quando se casou!

Aluno 4 – Ele ficava horas em seu laboratório e as vezes só a base de pão e

água!

Aluno 5 _ Professora ele morreu guilhotinado porque a população achava ele

muito mal por ser de uma família nobre e com uma ótima condição financeira e

ainda tinha aceitado o cargo de cobrador de impostos.

Para concluir esta atividade os alunos assistiram ao vídeo _ “Mundos

Invisíveis-Lavoisier, o pai da química” disponível em http://www.youtube.com/watch?

v=fCfLW8SCmcQ. Em sequência reproduziu-se o experimento atribuído a Lavoisier,

no qual o cientista constatou a existência do oxigênio (vela acesa dentro do copo).

Os alunos entenderam que tanto a vela, como também o oxigênio são matéria e,

portanto, indestrutíveis.

Ao pesquisar fatos históricos e científicos, sobre Lavoisier, os alunos

perceberam que a Ciência está em constante construção e transformação.

Atividade 2 - Pesquisa: Danos causados ao meio ambiente pelo descarte

incorreto dos resíduos de óleo de fritura.

Os alunos foram orientados a pesquisarem artigos científicos sobre o assunto.

Cada grupo recebeu uma cópia contendo questões norteadoras para a realização da

atividade, conforme proposto na Produção Didático Pedagógica, a saber:

- Quais os danos causados pelo descarte de restos de óleo de fritura nos ralos de

pias, vasos sanitários, esgoto?

- Que tipo de problema pode ser gerado pela infiltração do óleo no solo? E na água?

- O que acontece com o óleo fritura quando descartado com o lixo doméstico, indo

para os lixões?

- Qual a relação entre óleo de fritura, gás metano e aquecimento global?

- O que é possível fazer com os restos de óleo de fritura? Como esses resíduos

podem ser descartados de modo a não impactar o meio ambiente?

Realizada a atividade, os alunos entregaram uma cópia contendo os

resultados da pesquisa. Em círculo, cada grupo comentou suas conclusões sobre o

assunto.

Os alunos ficaram surpresos com os impactos causados por restos de óleo de

fritura. Um dos alunos indagou:

Aluno _ Professora, qual a relação entre restos de óleo de fritura, a

indestrutibilidade da matéria e os impactos ambientais por ele causados?

Outros colegas ajudaram na resposta:

Alunos _ O óleo é matéria, portanto, indestrutível, por isso, quando jogado

incorretamente no lixo, se transforma e fica causando danos ao ambiente.

Quando perguntados qual o destino correto para os restos de óleo de fritura,

os alunos responderam que seria reciclagem do mesmo para transformá-lo em

sabão, detergente, biodiesel, etc.

Foram questionados se sabiam o que era feito com os restos de fritura em

suas casas e, doze dos quinze alunos presentes responderam que as mães faziam

sabão. Os outros três responderam que o óleo era jogado no lixo. Fato

surpreendente, pois, mesmo sem terem o conhecimento dos danos causados pelo

óleo na natureza, algumas famílias já faziam a reciclagem, ou seja, produziam o

sabão.

Nesta atividade os alunos ainda pesquisaram sobre a acroleína. Concluíram

que precisamos ter cuidado com esta substância, pois a mesma se forma quando as

gorduras atingem temperaturas muito altas e desidratam, perdendo sua qualidade.

Constataram que ao fazer frituras é importante termos alguns cuidados:

- Manter a temperatura do óleo no máximo em 180º C;

- As frituras devem ser feitas tudo de uma vez somente; e

- Após fritura, o óleo deve ser filtrado e guardado em recipiente fechado.

Para perceberem a importância do descarte correto do óleo de fritura os

alunos ainda assistiram ao filme _ Momento Ambiental Óleo de Cozinha, disponível

no link: http://www.youtube.com/watch?v=gw3WoSINh9g&hd=1 .

No final desta atividade os alunos receberam o questionário para realizarem

as observações em suas casas.

Atividade 3: Discussão do questionário.

Para esta atividade os alunos trouxeram o questionário contendo as

informações coletadas a partir da observação em suas casas. Como a maioria dos

alunos já havia informado que as mães guardavam os restos de óleo de fritura para

fazer sabão, foram acrescentadas três perguntas ao questionário proposto

inicialmente na Produção Didático Pedagógica, ficando assim, após a inclusão dos

novos questionamentos:

QUESTIONÁRIO PARA AUXILIAR NA ATIVIDADE DE OBSERVAÇÃO

1- Que alimentos são preparados em suas casas com o uso de óleo de cozinha?

2- Quais alimentos são preparados em suas casas resultam em maior quantidade

de resíduos de óleo?

3- O que fazem com os restos de óleo de cozinha após sua utilização?

4- O óleo das frituras é reutilizado? Se em caso afirmativo, quantas vezes em

média?

5- Qual o modo mais rápido de descartar resíduos de óleo de cozinha? Esse modo

é correto?

6- Qual é o consumo mensal da família de óleo de cozinha?

7- Qual a quantidade de resíduos de óleo de cozinha é gerada mensalmente?

8- As pessoas de sua família têm conhecimento dos danos causados pelos restos

de óleo de fritura, descartados incorretamente?

9- Qual motivo levou a utilizar os restos do óleo de fritura para fazer sabão?

( ) reduzir impactos ambientais ( ) economia ( ) eficácia do produto

10- Já ouviram falar em acroleína? Sabem que é produzida por transformações do

óleo de fritura reutilizado por várias vezes? Sabem que é uma substância

carcinogênica?

Com os questionários respondidos, discutiram-se e compararam-se os

resultados obtidos. Uma das alunas, observando o consumo de óleo de cozinha

pelas famílias dos colegas, constatou que o consumo em sua casa era bem superior

aos demais. Então perguntou: _ Professora qual é o consumo ideal de óleo de

cozinha?

Foi proposto aos alunos que pesquisassem sobre o assunto. Concluíram que

o consumo ideal para uma família de quatro pessoas era de aproximadamente, um

litro de óleo por mês.

Na semana seguinte a aluna disse que contou para a mãe o que tinha

pesquisado sobre o consumo de óleo e resolveram mudar hábitos alimentares em

sua casa diminuindo as frituras que eram constantemente consumidas.

Nesta atividade foi feita a representação gráfica de quatro questões

propostas no questionário de observação, para este fim utilizamos o gráfico de

barras considerando a frequência relativa das respostas obtidas.

Ao analisar os resultados, verificou-se a inegável necessidade da utilização

do óleo de cozinha em nossas casas. 100% dos alunos responderam que utilizavam

o óleo para preparar o arroz, o feijão, legumes e carnes; 80% usavam o óleo em

frituras e 30% no preparo de massas. Com relação ao destino dos resíduos de óleo,

85% guardavam para produzir sabão e 15% jogavam no lixo. Sobre o consumo

mensal de óleo, aproximadamente 75% deles responderam que consumiam entre

quatro a seis litros de óleo de cozinha mensalmente. Praticamente 100% dos alunos

responderam em seus questionários, que não tinham conhecimento sobre os

impactos ambientais causados pelos resíduos do óleo e o utilizavam para fazer

sabão devido a economia e a eficácia do produto.

Figura 1: Análise dos resultados e confecção dos gráficos. Foto: Sandra Maria Pita

Atividade 4: Pesquisa com proprietários de estabelecimentos comerciais que

geram resíduos em suas atividades e donas de casa.

Os alunos, para que pudessem proceder com a entrevista, receberam um

questionário contendo as seguintes perguntas:

- Com que frequência você utiliza óleo de cozinha para fritura?

- O que é feito com os restos do óleo de fritura?

- Qual a quantidade de resíduos de óleo de fritura é produzida em sua atividade?

- Você sabe que o óleo de cozinha ao ser reutilizado por várias vezes pode produzir

uma substância denominada acroleína que é carcinogênica?

- Você tem conhecimento sobre os impactos ambientais causados pelo óleo de

fritura?

Comentários relevantes por parte dos alunos:

_ Professora as pessoas não dão muita atenção pra gente;

_Tenho certeza que tal pessoa não sabe o que é acroleína e diz que sabia, só

porque não queria ficar me ouvindo.

Nesta atividade foram construídos seis gráficos sobre algumas questões

apontadas, com os seguintes resultados:

Aproximadamente 65% dos entrevistados foram donas de casa e 35%

proprietários de estabelecimentos comerciais; 100% dos entrevistados utilizavam

óleo de cozinha diariamente. 100% dos estabelecimentos comerciais doavam os

resíduos gerados para produzir sabão; Entre as donas de casa 65% faziam sabão,

25% usavam na alimentação de animais (cães) e 10% jogavam no lixo.

Sobre a acroleína e os impactos ambientais causados pelos resíduos de óleo

de fritura, 62% dos entrevistados responderam não ter conhecimento e 38%

disseram sabiam do que se tratava; O estabelecimento que mais gera resíduos é

uma panificadora, cerca de vinte litros de resíduos por semana.

Atividade 5: Confecção de cartazes:

Nesta atividade os alunos produziram cartazes alertando para os impactos

ambientais causados por restos de óleo de fritura, para o descarte correto destes

resíduos, alertando sobre a acroleína e também retratando a natureza indestrutível

da matéria.

Figura 2: Cartazes confeccionados pelos alunos.Fotos: Sandra Maria Pita

Enquanto os alunos colocavam os cartazes em exposição, uma funcionária da

escola fez o seguinte comentário:

Professora eu faço sabão com restos de óleo, mais não sabia que causava

tantos impactos e nunca tinha ouvido falar em acroleína.

Foi esclarecido que a acroleína é uma substância cancerígena produzida pelo

superaquecimento e reutilização do óleo de fritura repetidas vezes.

Atividade 6: Pesquisa sobre receitas de sabão e confecção de caderninhos de

receita:

Esta atividade foi desenvolvida no laboratório de informática. Os alunos foram

orientados a procurar por receitas de sabão que fossem sólidos ou líquidos. Que

observassem atentamente os ingredientes e os cuidados necessários para a

produção do sabão. As receitas selecionadas foram digitadas para confecção do

caderninho de receitas.

Figura 3: Confecção dos cadernos de receitas.Fotos: Sandra Maria Pita

Atividade 7: Produção de sabão.

Foi uma das atividades mais aguardadas pelos alunos. Após a pesquisa sobre

receitas de sabão e os cuidados necessários na produção do mesmo, passou-se

para a parte do trabalho que envolvia a experimentação no ensino de ciências. A

opção foi produzir uma receita de sabão sólido e outra de sabão líquido. Ambas as

receitas haviam sido sugeridas por colegas que participaram do grupo de trabalho

em rede.

O óleo usado nas receitas foi doado pela proprietária de uma pastelaria.

Durante a produção do sabão notou-se a curiosidade do aluno ao ver as

reações químicas que ocorriam ao executar as receitas, na mistura dos ingredientes.

A produção do sabão líquido ocorreu conforme o esperado, sem maiores

problemas, mas, ao produzir o sabão sólido, percebemos que algo estava errado.

Comentários relevantes dos alunos:

_ Professora você deve estar nervosa, minha mãe disse que não pode ficar nervosa,

senão o sabão não dá “ponto”;

_ Não pode ter bagunça pra fazer sabão, precisa ter silêncio;

_ Professora minha mãe faz esse tipo de sabão, acho que precisamos colocar mais

água;

Desse modo foi feito e percebeu-se que, afinal o sabão daria “ponto”.

Figura 4: Confecção de sabão pelos alunos e professora. Fotos Sandra Maria Pita

Concluiu-se que o sucesso ao produzir o sabão depende muito mais da

combinação entre a quantidade e a mistura correta dos ingredientes. Embora não

tenha sido questionado os conhecimentos de senso comum dos alunos.

Demonstrar a indestrutibilidade da matéria a partir da transformação do óleo

de cozinha em produtos usados pela comunidade do entorno da escola, possibilitou

ao aluno o papel de protagonista do conhecimento, uma vez que se tornou

responsável pelas suas ações, refletindo seu papel em relação ao meio ambiente,

passando a se reconhecer como ser capaz de transformar o lugar onde vive.

Atividade 8: Visita à empresa de coleta e reciclagem de resíduos de óleo de

fritura, Ita Resíduos.

Inicialmente esta atividade foi prevista como a quinta ação a ser executada,

porém, só foi possível ocorrer sua realização no final da implementação da proposta.

A princípio foi proposto a visita à empresa AN ambiental, localizada no município de

Ibiporã - Pr. Ao entrar em contato com a empresa citada, soube-se que a mesma

somente realizava a coleta dos resíduos e os enviava para a empresa denominada

Ita Resíduos no município de Campo Mourão - Pr, onde os resíduos passavam por

um processo de filtração e que posteriormente era enviando para a sua reutilização,

principalmente como matéria-prima para o biodiesel.

Em conversa com o proprietário da empresa obtivemos algumas informações

relevantes:

-Atualmente no Brasil, somente 10% dos resíduos de óleo são reutilizados, o

restante é descartado através da rede de esgoto ou com o lixo comum, impactando

o meio ambiente;

-A empresa processa diariamente 10000 litros de restos de óleo de fritura,

provenientes de bares, lanchonetes, restaurantes e de pontos de coleta localizados

em alguns supermercados (resíduos domésticos);

-Os restos de óleo são comprados, ou se o “fornecedor” preferir, trocam por

detergente;

-A empresa faz a coleta em vários municípios paranaenses, entre eles: Ibiporã,

Campo Mourão, Maringá e Foz do Iguaçu e também alguns municípios de Santa

Catarina;

-O processo de filtragem é alimentado por uma caldeira, que aquece a água utilizada

no estado de vapor;

-Possuem um sistema de captação de água da chuva (cisternas) que é utilizada no

processo de filtragem;

-Os restos coletados nos supermercados chegam a empresa em garrafas PET, as

mesmas são utilizadas para alimentar a caldeira;

-A caldeira é alimentada por madeira proveniente de reflorestamentos, das garrafas

PET e dos resíduos sólidos resultantes da peneiração e da separação.

A filtração consiste em quatro etapas distintas:

1º – Peneiração: Todo óleo recebido é despejado em um tanque com uma peneira,

nela ficam retidas impurezas sólidas como pedaços de ossos, de carne, etc. Os

resíduos retidos por meio da peneira são retirados e utilizados para alimentar a

caldeira.

Figura 5: Visita à empresa de reciclagem de óleo Ita Resíduos – Campo Mourão – PR:Peneiração do óleo. Foto: Sandra Maria Pita.

2º – Homogeneização: Em um tanque o óleo peneirado é mantido aquecido e batido

para misturar água e óleo.

Figura 6: Visita à empresa de reciclagem de óleo Ita Resíduos – Campo Mourão – PR:Homogeneização do óleo. Fotos: Sandra Maria Pita

3º – Separação: A mistura homogeneizada passa para um outro tanque (máquina)

onde resulta em 70% óleo e 30% água e uma pequena quantidade de resíduos

sólidos que passaram pela peneira.

Figura 7: Visita à empresa de reciclagem de óleo Ita Resíduos – Campo Mourão – PR: Separação doóleo. Fotos: Sandra Maria Pita

4º – Armazenamento: O óleo, já puro é direcionado para tanques onde ficam

armazenados até serem comercializados e transportados para servir como matéria-

prima, no caso, para empresas que produzem biodiesel, ração animal, detergentes e

resinas para, por exemplo, colar vidros.

Figura 8: Visita à empresa de reciclagem de óleo Ita Resíduos – Campo Mourão – PR:Armazenamento do óleo. Foto: Sandra Maria Pita

A água que foi separada é conduzida para um reservatório onde é tratada e

volta a ser reutilizada no processo.

Os restos sólidos ou são utilizados na caldeira ou enviados para uma

empresa especializada em coletar tais resíduos.

Esta ação permitiu aos alunos conhecerem uma realidade bem diferente da

que eles vivenciam no dia a dia.

As atividades experimentais e as atividades de campo colocaram o aluno em

contato com o objeto de estudo, realizando um trabalho de pesquisa científica que

contribuíram para a construção do seu conhecimento, passando a fazer parte de sua

cultura, deixando de ser uma mera memorização, possibilitando a formação de um

conceito real sobre a indestrutibilidade da matéria.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizarmos este trabalho percebeu-se que a contextualização no ensino

de ciências pode contribuir para que ocorra uma aprendizagem com significado.

Neste processo o professor tem papel fundamental como mediador entre o

conhecimento científico historicamente produzido e as condições reais de vida na

qual o aluno está inserido, levando em conta o conhecimento prévio dos alunos.

O professor deve em sua prática pedagógica buscar condições e alternativas

para o sucesso do processo ensino/aprendizagem. Isto requer que o mesmo

conforme Freire (1996) se reconheça como pesquisador:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se

encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando,

reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me

indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo

e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar

ou anunciar a novidade.

É através da pesquisa que o docente e discente interagem seus

conhecimentos, onde um amplia o conhecimento do outro.

Em sua prática, ao considerar os aspectos básicos para o ensino de ciências:

a história da ciência, a pesquisa científica e a experimentação, utilizando diferentes

metodologias e recursos para o desenvolvimento de suas aulas o professor

oportunizará o aluno condições para uma aprendizagem significativa. Está por sua

vez permitirá a formação de conceitos e mudanças de atitudes com relação à

realidade que o cerca.

No caso específico aqui trabalhado pode-se perceber que alguns

responsáveis pelos alunos, já utilizavam resíduos de óleo de fritura para produzir

sabão. Mas, por meio das atividades desenvolvidas puderam entender o que

Lavoisier propôs na Lei da Conservação das massas: “Na natureza nada cria, nada

se perde, tudo se transforma”. Conheceram impactos ambientais causados por estes

resíduos e uma mudança de atitude com relação a esta matéria, inclusive,

provocando a mudança de atitudes com relação ao consumo de frituras, modificando

hábitos alimentares.

Além do desenvolvimento das ações previstas, outro aspecto importante a ser

considerado foram as discussões, com vários professores, sobre o tema proposto.

Estas discussões se deram por meio do Grupo de Trabalho em Rede, onde ficou

evidente que a contextualização é um dos caminhos para uma aprendizagem

significativa, pois, ao estabelecer relações entre o conteúdo específico e a realidade

do aluno é possível que este relacione o conteúdo científico ao seu cotidiano

podendo agir e intervir conscientemente em sua realidade.

5 REFERÊNCIAS

BOVO, MARCOS CLAIR. Escola e Meio Ambiente: Uma abordagem do tema transversal no ensino- Maringá: Massoni, 2005.

CORREA NETTO, RENATO. Sustentabilidade de Cadeias de Reciclagem do Óleo de Fritura. 2010. Disponível em:

http ://www.bdtd.unitau.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=179 Acesso em 09/03/2013.

ENCICLOPÉDIA Britanica do Brasil. São Paulo:1995.

FREIRE, PAULO. Educação e Mudança - São Paulo: Paz e Terra, 1997.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da EducaçãoBásica - disciplina de Ciências. Paraná: Departamento de Educação Básica, 2008.

USBERCO, João; Manoel, José; Ferrer, Luiz Carlos; Veloso, Herick Martin;SCHECHTMANN, Eduardo. Companhia das Ciências. 2º ed. São Paulo: Saraiva,2012.

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