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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SEGURANÇA ALIMENTAR OBSERVADA ATRAVÉS DOS HÁBITOS ALIMENTARES DOS ALUNOS DO COLÉGIO

ESTADUAL TANCREDO NEVES – FRANCISCO BELTRÃO PARANÁ

ZELI MOSCHEI1 FRANCIELE A. C. FOLLADOR2

RESUMO

A Implementação pedagógica foi desenvolvida no Colégio Estadual Tancredo Neves de Francisco Beltrão Paraná, no 1º semestre de 2014 com uma turma de alunos do 8º ano do ensino fundamental. Procurou-se alternativas que pudessem incentivar e motivar os alunos do 8º ano a diminuir o consumo de doces, salgadinhos, refrigerantes e lanches pouco nutritivos, substituindo-os por alimentos mais saudáveis evitando assim doenças crônicas não transmissíveis e melhorando a qualidade de vida. Durante a implementação, várias atividades foram desenvolvidas, movimentando os alunos e a comunidade escolar, através de exercícios, cartazes, pesquisas, montagem de pirâmides alimentares, trabalhos com rótulos de alimentos, palestras com nutricionistas, vídeos, sobre o assunto, bem como questionários e exercícios sobre alimentação. Desde o início da implementação, bem como no decorrer da mesma, foi notável a preocupação e o interesse dos alunos por uma alimentação saudável e bem balanceada. Sabemos que não é fácil mudar hábitos, principalmente alimentares, mas percebemos que há um grande interesse dos alunos e familiares por uma alimentação mais saudável e consequentemente melhor qualidade de vida.

Palavras-chaves: Segurança alimentar; Qualidade de vida; Adolescencia.

1 INTRODUÇÃO

A necessidade deste estudo baseia-se no fato de que podemos verificar

cotidianamente no contexto escolar um alto índice de pré-adolescentes e

adolescentes com “sobrepeso”. Essa informação é possível de ser explicitada

pois deriva de observações pessoais feitas no decorrer do ano letivo.

O aumento da obesidade entre a população adolescente é uma

realidade Brasileira. Estudos sobre as transformações ocorridas no Brasil

apontam que essas alterações estão ligadas diretamente ao estilo de vida e

aos hábitos alimentares da população, sendo estas mudanças consideradas

como favorecedoras para o desenvolvimento de doenças crônicas não

transmissíveis.

1 Professora PDE. Graduada em Ciências Biológicas. 2 Professor Orientador.

Observa-se que a obesidade infantil vem crescendo mundialmente em

países desenvolvidos e em desenvolvimento com sérias repercussões na

saúde de populações infanto-juvenil.

Nesse contexto, a escola aparece como espaço importante para o

desenvolvimento de ações de melhorias das condições de saúde e do estado

nutricional dos adolescentes. Informações sobre a saúde da humanidade

revelam que o excesso de peso já é um problema maior que a subnutrição, que

era a doença com maior grau de ocorrência, ou seja, aquela que mais tirava

anos de vida saudável da humanidade. Agora perdeu sua colocação para a

obesidade e a má alimentação.

Frente a esse crescimento da morbidade na população adolescente e

consequentemente nos escolares de Francisco Beltrão, sentiu-se a

necessidade de propor uma intervenção coletiva por meio de orientações

corretas para uma vida saudável. Também como um meio de prevenir doenças

como: obesidade, diabetes, colesterol, hipertensão e outros distúrbios que

muitas vezes estão ligados a alimentação.

O correto hábito alimentar é importantíssimo para a saúde dos

adolescentes, já que por meio deste pode-se adequar a quantidade e qualidade

dos alimentos. Um meio de viabilizar que os mesmos adquiram hábitos

saudáveis de consumo alimentar ocorre através da educação alimentar.

Técnicas essas destinadas a difundir o conhecimento da ciência da nutrição,

contribuindo assim para a melhoria da saúde dos indivíduos, ensinando aos

mesmos a importância dos valores nutricionais na alimentação.

Adolescentes obesos geralmente tem dificuldade de se inserir na

sociedade e ainda são vítimas de chacotas entre os colegas tendo dificuldade

de aceitar seu próprio corpo e por consequência apresentam baixa autoestima.

Na adolescência o corpo cresce num ritmo muito acelerado. Para que esse

processo aconteça corretamente, é necessário tomar alguns cuidados com a

alimentação.

O objetivo do projeto de intervenção visou a melhoria nos hábitos

alimentares desses adolescentes e seus familiares sugerindo maior consumo

de frutas, verduras e legumes em sua alimentação, fundamental nesta fase.

Como professora de ciências, a mais de duas décadas, e, atualmente

exercendo a função no Colégio Estadual Tancredo Neves Ensino Fundamental

e Médio, tenho percebido a necessidade de discutir a importância de uma

alimentação sadia aliada a hábitos alimentares saudáveis, tendo em vista a

grande quantidade de salgadinhos, doces, chicletes entre outros tipos de

alimentos que os alunos consomem diariamente. Observamos ainda que na

escola é ofertado na merenda escolar, poucas vezes na semana, um cardápio

contendo verduras, frutas e legumes.

Muitos desses alunos pertencem a uma classe socioeconômica e

cultural relativamente baixa, cuja renda média situa-se entre um a três salários

mínimos, e a maioria das famílias é composta por três a cinco membros.

Moram em casa alugada ou própria e grande parte dos pais trabalham fora de

casa. A alimentação fica por conta dos filhos, que na maioria das vezes, trocam

as refeições por algo mais prático, como: lanches, salgadinhos, doces,

cachorro quente. Em virtude disto, nos questionamos de que forma poderíamos

contribuir para que os alunos tenham bons hábitos alimentares? O aluno tem

discernimento da diferença entre alimento e nutriente? Podemos dizer que no

contexto escolar existam deficiências nutricionais? Isso só será possível

através de um trabalho onde os alunos percebam a importância de uma boa

educação alimentar, visando a segurança alimentar, fundamental nos dias de

hoje.

Assim, o objetivo geral deste trabalho foi analisar se os alunos do 8º ano

do ensino fundamental do Colégio Estadual Tancredo Neves de Francisco

Beltrão Pr., estão se alimentando com vistas a segurança alimentar. Além disso

se objetivou avaliar quantitativa e qualitativamente, o consumo alimentar dos

alunos; Mostrar a importância de uma alimentação saudável balanceada e

adequada para sua saúde; Incentivar o consumo de alimentos saudáveis como

frutas, verduras e legumes, proporcionando momentos agradáveis com a

introdução de alimentos saudáveis; Incentivá-los à prática de exercícios físicos

e sua importância; Orientar os familiares dos alunos, sobre a importância de

uma alimentação adequada e correta.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito e Caraterísticas da Adolescência

A adolescência é compreendida como uma etapa da vida entre a

infância e a idade adulta, através da qual as responsabilidades se tornam

aparentemente menores. Sendo assim, o adolescente identifica-se pelo seu

papel social que se apresenta num status intermediário e provisório, e,

consequentemente é tratado ora como criança e ora como adulto.

“A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano, que

encerra todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. Caracterizada

por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais” (WHO, 1986;

Colli, 1992; Osório, 1992; Costa & Souza, 2002 apud VITOLO, 2008, p. 267).

Sabemos que a função principal do alimento é o crescimento e a

manutenção do indivíduo, no entanto para o adolescente o alimento apresenta

uma relação muito mais social do que biológica, pois muitos dos hábitos

alimentares nessa fase estão vinculados aos costumes do grupo etário e nessa

fase cresce o desejo de manter o corpo em forma, geralmente espelhando-se

em modelos, manequins e atletas. É uma época em que querem se libertar da

família, pois se acham independentes e ao mesmo tempo se sentem

desprotegidos, buscando com isso fora de casa amizades com pessoas da

mesma idade e esses relacionamentos são marcados por forte afetividade

buscando definições de novas referências de comportamentos e identidades.

Todas essas transformações que ocorrem nesta fase surtem efeitos sobre a

maneira correta de se alimentar (VITOLO, 2008).

2.2 Segurança alimentar e educação alimentar

A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan),

sancionada em 15/09/2006, cria condições para que o combate à fome e a

promoção da alimentação saudável se tornem compromissos permanente do

Estado brasileiro, com participação da sociedade civil.

A segurança alimentar é definida, segundo Garcia e Mancuso (2012, p.

95) como:

[...] realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base

práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade.

E segurança alimentar implica em quantidade e qualidade adequada de

alimentos, porém sabemos que as verbas referentes a merenda escolar, são

insuficientes para que seja ofertado uma alimentação adequada, nutritiva e

balanceada aos alunos do ensino fundamental e médio.

Outro fator de extrema importância é a educação alimentar que é

composta de um conjunto de técnicas destinadas a expandir o conhecimento

da ciência da nutrição, a fim de formar e melhorar os hábitos alimentares e,

assim, colaborar para a saúde do indivíduo e, consequentemente, da

comunidade (Neves, 1995).

Neste sentido a ignorância sobre a alimentação é um dos fatores

principais da subnutrição. “Quem desconhece a importância de comer bem e

de como fazê-lo facilmente dará, à alimentação, a devida importância e assim,

com facilidade, comerá insuficientemente sob o ponto de vista quantitativo e

qualitativo” (NEVES, 1995, p. 20).

A maioria das pessoas não conhece o valor nutritivo dos alimentos, não

diferenciando alimento e nutriente, achando que quantidade é algo suficiente.

Por este motivo não dão a devida importância a uma alimentação correta e

saudável.

Neves (1995) aponta sobre a importância da educação alimentar:

A educação alimentar chega mesmo a ser mais importante do que a própria assistência alimentar, que embora muito útil e sendo, infelizmente, na maioria das vezes, a única refeição diária do escolar, só beneficia a criança enquanto ela usa a alimentação escolar (p. 21).

Conforme BRASIL, 2006 apud Garcia e Mancuso (2012), o Estado

Brasileiro, ao optar por um modelo de segurança alimentar e nutricional,

anexou a alimentação adequada como direito humano fundamental e

imprescindível à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal,

instituindo como uma de suas diretrizes a promoção da intersetorialidade das

ações e políticas públicas.

Através da escola, com a merenda escolar teremos a oportunidade de

educar os alunos e informá-los da necessidade e importância de uma

alimentação correta. Os pais também devem ficar atentos quanto a

alimentação de seus filhos, pois dela depende a saúde dos mesmo nessa fase

e na fase adulta.

Respeitando principalmente a segurança alimentar e nutricional,

contemplamos também a saúde que é reconhecida como um direito humano

fundamental e essencial para o desenvolvimento social e econômico. A

alimentação e nutrição são requisitos básicos para a promoção e proteção à

saúde das pessoas e para a segurança alimentar e nutricional dos países.

2.3 Hábitos Alimentares e má alimentação na adolescência

A escolha dos alimentos pelos adolescentes baseia-se no âmbito cultural

e social em que vivem. Tendo isso em vista, o programa Saúde na Escola

desenvolveu uma estratégia:

O programa concebido pelo governo brasileiro como uma estratégia de integrar as ações desenvolvidas pela equipe de saúde da família ao espaço territorial da escola incorporou o componente específico de promoção da alimentação saudável. Nele estão contidas a avaliação nutricional periódica e o desenvolvimento de um programa contínuo de formação de hábitos alimentares e estilos de vida saudável (BRASIL, 2007 apud GARCIA E MANCUSO, 2012, p. 89).

O comportamento alimentar na adolescência é influenciado por fatores

socioculturais, fisiológicos, psicológicos e socioeconômicos e também

vinculado aos costumes do grupo de amizades estilo de vida e a preocupação

com o corpo.

Os adolescentes em geral não se preocupam com uma alimentação

saudável e balanceada, principalmente quando não tiveram as informações

sobre a importância de uma nutrição correta. A necessidade de formar bons

hábitos alimentares desde a infância é importantíssimo, pois, uma criança bem

nutrida terá mais saúde e disposição ao estudo e ao trabalho no decorrer de

sua vida.

Os adolescentes são os que mais se expõe a riscos quanto a sua

nutrição e saúde por causa de seus maus hábitos alimentares. Geralmente se

negam a fazer algumas refeições principalmente o desjejum ou ainda

substituem o almoço por lanches, doces ou refrigerantes que são consumidos

com muita frequência nessa idade. Muitas vezes se negam a consumir em

suas refeições verduras, legumes e frutas tão essenciais à saúde (DAMIANI et

al., 2000 Apud CAROBA 2002).

Segundo Vitolo (2008) as grandes mudanças físicas que ocorrem na

adolescência são responsáveis pelas dificuldades de se adotar um método de

classificação do estado nutricional que corresponde à realidade.

As principais causas da má alimentação na fase da adolescência são

relatadas por Neves (1995, p. 55):

Desjejum insuficiente, omitido ou mal selecionado.

Escolha de alimentos sem critérios (excesso de hidratos de carbono sob

forma de cachorros quentes, batatas fritas, refrigerantes e sucos

artificiais).

Restrições parcial ou total de alimentos indispensáveis, como carne,

leite, ovos, leguminosas, verduras e frutas.

Doces e refrigerantes consumidos em excesso, principalmente

substituindo refeições bem balanceadas.

Regimes de emagrecimento mal orientado.

Observa-se que muitas enfermidade coincidem com a má alimentação e

deficiência nutritiva tendo como principal sintoma um retardo no

desenvolvimento

Com a transição nutricional, e a falta de uma alimentação adequada, pode

ocorrer doenças crônicas não transmissíveis, além de desnutrição,

hipovitaminose “A”, anemia ferropriva e o distúrbio por carência de iodo.

“A tendência ao imediatismo leva os adolescentes a serem susceptíveis

a deficiências nutricionais específicas, bem como não levar em conta que as

consequências de suas práticas alimentares podem comprometer a saúde

futura.” (Gambardella, 1995 apud Caroba, 2002, p. 20).

Salienta-se que não é só nas classes sociais menos privilegiadas

economicamente que encontramos crianças com doenças originadas pela

carência de alimentos. Nas classes mais favorecidas, também ocorre. O motivo

é causado na maioria das vezes pela falta de uma alimentação correta.

2.4 Estado nutricional e recomendações

A alimentação na adolescência tem como principal objetivo o

desenvolvimento das características genéticas, o crescimento do indivíduo,

fortalecimento do sistema imunológico, impedir o aparecimento de doenças,

fortalecer a capacidade mental, melhorando a concentração e as aptidões

escolares. Nessa idade é muito importante a ingestão de sais minerais como:

cálcio, fósforo, ferro, magnésio, zinco e outros, não esquecendo também das

vitaminas contidas nos vegetais e frutas e a água fundamental para o

metabolismo celular (BRITO, 2013).

É importante nas principais refeições diárias que seja introduzido

porções de vegetais folhosos cruz sob forma de saladas que contém vitamina

“C”, e mais uma porção de vegetais verdes e amarelos cozidos, que contém

sais minerais (BRITO, 2013).

Baseada nesta necessidade quali e quantitativa de alimentos

adequados, surge o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que

tem como objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento

biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de

práticas alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação

alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas

necessidades nutricionais durante o período letivo (CONSEA, 2010).

Mesmo assim, estudos recentes apontam para um crescente aumento

da obesidade no Brasil, tanto em crianças como em adolescentes a exemplo

do que vem ocorrendo com o grupamento de adultos. Esta tendência,

provavelmente, tem relação com as mudanças, verificadas entre a população

das grandes cidades, transformações econômicas ocorridas nos últimos anos,

especialmente aquelas que envolvem a incorporação de hábitos alimentares e

estilo de vida típico de países desenvolvidos, aliados a um aumento do

sedentarismo, condicionado por diversos motivos (Lamounier, 2000 apud

Caroba, 2002).

“Entre os adolescentes, o aumento da frequência do excesso de peso é

preocupante, pois está associado a vários fatores de riscos para doenças

metabólicas e cardiovasculares que afetam o indivíduo na fase adulta” (Gamba

& Barros Juniors, 1999 apud Caroba, 2002, p. 20).

2.5 O ensino de Ciências e a construção de significados

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica - DCES (2008)

de ciências, nas investigações realizadas sobre o ensino de ciências, nota-se

uma tendência de superação de estratégias de ensino que privilegiam

atividades de estímulos, respostas, reforço positivo, objetivos operacionais e

instrução programada. Tais estratégias não enfocam a aprendizagem no

processo de construção de significados.

A aprendizagem Significativa no ensino de ciências implica no

entendimento de que o estudante aprende conteúdos científicos escolares

quando lhes atribui significados. Isso põe o processo de construção de

significados como elemento central do processo ensino-aprendizagem

(Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2008).

O estudante constrói significados cada vez que estabelece relações

“Substantivas e não-arbitrárias” entre o que conhece de aprendizagens

anteriores (nível de desenvolvimento real- conhecimentos alternativos) e o que

aprende de novo (Ausubel, Novak e Hanesian, 1980 apud Diretrizes

Curriculares da Educação Básica, 2008, p. 62).

Desta forma é evidente a necessidade de integralizar a teoria com a

prática, aliando os conhecimentos e buscando esta construção de significados

para que o aluno de fato possa refletir sobre os conteúdos abordados e

melhorar a relação ensino-aprendizagem.

3 METODOLOGIA

A implementação do projeto de intervenção na escola foi realizado no 3º

período, ou seja, no primeiro semestre de 2014 na escola de lotação “Colégio

Estadual Tancredo Neves, Ensino Fundamental, Médio e profissionalizante”.

Neste trabalho de execução pedagógica, foi abordado: Alimentação

adequada/Hábitos alimentares, segurança alimentar e nutricional, merenda

escolar, alimentação familiar, promoção da saúde e atividades físicas.

O objetivo da ação pedagógica foi oportunizar aos alunos aulas

dinâmicas agradáveis no intuito de conscientizá-los sobre a importância de

uma alimentação correta para a saúde e o bem estar do corpo e da mente,

para crescer e tornar-se adultos saudáveis e felizes.

Desta forma, o professor autor deste projeto desenvolveu conjuntamente

com seu grupo de alunos, pesquisas bibliográficas e de campo, uso do

laboratório de informática para oficinas e pesquisas, entrevistas, questionários,

montagem e aplicação de jogos didáticos, o conceito de pirâmide alimentar,

experimentos (quando possível), confecção de cartazes, debates e discussões

sobre o tema, palestras e vídeos referentes ao assunto, visitas a horta da

escola para desenvolvimento de atividades práticas, avaliação. Assim,

pretendeu-se entender e contextualizar o conteúdo proposto no projeto.

Toda produção realizada pelo grupo de alunos foi apresentada a outras

turmas da escola, pais, professores e comunidade em geral.

No 2º período, ou seja, no 2º semestre de 2013 foi realizada uma

produção didática pedagógica, confecção de uma unidade didática que foi

composta por diversas atividades abrangendo o tema segurança alimentar

aprofundando-o de forma teórica e prática.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Implementação pedagógica foi desenvolvida no Colégio Estadual

Tancredo Neves de Francisco Beltrão PR, no primeiro semestre de 2014 com

uma turma de alunos do 8º ano do ensino fundamental.

Procurou-se alternativas que pudessem incentivar e motivar os alunos

do 8º ano a diminuir o consumo de doces, chicletes, salgadinhos e outros

lanches pouco nutritivos, por alimentos mais saudáveis e nutritivos como frutas,

verduras e outros alimentos mais saudáveis, evitando assim deficiência

nutritiva e doenças crônicas não transmissíveis que poderiam surgir no futuro,

mostrando a eles que uma alimentação correta e saudável melhora a saúde e a

qualidade de vida.

Várias atividades foram desenvolvidas durante toda a implementação,

movimentando os alunos e a comunidade escolar, através de: questionários,

recordatário alimentar, exercícios, cartazes, pesquisas na internet, trabalhos

com rótulos de alimentos consumidos por eles mesmos, montagens de

pirâmides alimentar, palestras com nutricionistas e diversos vídeos.

Desde o início da implementação, bem como no decorrer da mesma, foi

notável a preocupação e o aumento do interesse dos alunos envolvidos no

processo por uma alimentação mais saudável e balanceada. Sabemos que não

é fácil mudar hábitos, principalmente alimentares, mas percebemos que houve

um grande interesse dos alunos e familiares por uma alimentação mais

saudável e correta melhorando sua qualidade de vida.

Segundo Neves (1995, p. 42, 43), “os hábitos alimentares tanto de uma

criança como de um adolescente ou adulto, não deve ser modificado de uma

forma radical e sim de uma forma gradativa e consciente, aos poucos, com

exemplos, dialogando constantemente”.

A implementação pedagógica foi iniciada com um questionário prévio

sobre os tipos de alimentos consumidos nas principais refeições dos alunos. O

mesmo buscava informações sobre a dieta alimentar desses alunos. Os

resultados foram bem variados, sendo que 20% dos alunos não fazem o

dejejum e como estudam pela manhã vão à escola sem se alimentar.

Em pesquisa realizada por Sturion et al. (2004), com 402 alunos,

verificaram que, quando estes dispõem de recursos para compra de alimentos

nas unidades de ensino, as preferências recaem sobre aqueles ricos em

energia, açúcares, gordura ou sal, como “guloseimas”, salgados assados e

fritos, salgadinho do tipo chips e refrigerantes.

Neste trabalho, em média 30% dos alunos apenas consomem mais de

dois tipos de frutas e verduras nas principais refeições. O restante, ou seja, a

maioria não consome frutas e verduras, ou consomem poucas porções por

semana. Ainda, muitos desses alunos trocam as refeições principais por

lanches e refrigerantes. Assim buscou-se identificar a qualidade da alimentação

e a segurança alimentar dos educandos.

Danelon & Silva (2004), tendo por base amostra de 278 alunos de

escolas particulares do município de Piracicaba (SP), registraram que 78,2%

dos escolares afirmaram ter o hábito de consumir os alimentos comercializados

pelas cantinas presentes nas unidades de ensino. Os alimentos mais

freqüentemente adquiridos pelos alunos foram o salgado caseiro, refrigerantes,

balas/gomas e sucos.

A insegurança alimentar é uma questão multidimensional que se

configura como um problema de saúde mundial e uma temática central de

discussão de órgãos internacionais, sendo o Primeiro Objetivo de

Desenvolvimento do Milênio (United Nations, 2010). A alimentação e a nutrição

constituem requisitos básicos para a promoção e proteção da saúde que,

conjuntamente com a segurança alimentar, inscrevem-se no direito humano à

alimentação adequada (PEREIRA;SANTOS, 2008).

Carvalho (2005), tendo por base amostra de 693 estudantes de 9 a 14

anos de escolas públicas de Bauru, avaliou as preferências alimentares por

meio da apresentação de fotos de diversos grupos de alimentos aos alunos e

solicitação de que estes respondessem quais alimentos gostariam de consumir

no horário do intervalo das aulas. Os principais alimentos citados pelos alunos

foram salgados do tipo caseiro, refrigerantes, salgadinhos tipo chips, pizza e

lanches. Quando questionados sobre quais alimentos eram mais nutritivos,

72% dos alunos citaram as frutas, seguidas pelo suco de frutas e leite. Frutas,

leite, suco de frutas e pão foram os alimentos mencionados pelos escolares

quando questionados sobre o que os pais gostariam que os filhos

consumissem.

Os hábitos alimentares refletem, além de suas preferências alimentares,

as características culturais de cada indivíduo, associado ao seu estilo de vida.

Desjejuns (café da manhã) de pequeno porte e realizado às pressas e jantares

em grande volume, são ajustes modernos a essa mudança (ABERC, 2008).

Em casa, o consumo de alimentos industrializados associa-se ao hábito de

assistir televisão, ao uso de videogames e jogos eletrônicos, caracterizando

formas de lazer sedentários, comumente associados ao consumo de alimentos,

por vezes não saudáveis (guloseimas, biscoitos com alto teor de gorduras e

açúcar, refrigerantes, etc), de consumo prático e estimulado pela propaganda

comercial (ACCIOLY, 2009).

Após a realização desta atividade inicial, para ter conhecimento de como

estava o hábito alimentar dos educandos, foi proposto um recordatório

alimentar, onde os alunos registraram durante uma semana o que consumiam

todos os dias em todas as refeições e lanches.

Outra atividade proposta foi o trabalho com rótulos trazidos por eles, dos

próprios alimentos consumidos. A atividade com esses rótulos foi a de verificar

os nutrientes, quantidade de aditivos químicos e quantidade de sódio existente

em cada produto e também a quantidade de açúcar, gorduras entre outras

substâncias. Esse trabalho foi bem interessante pois notou-se que a maioria

nem se quer sabia que havia esses dados nas embalagens, ficando com o

compromisso de observar sempre os rótulos, quanto aos aditivos químicos,

quantidades de cada produto na porção do alimento, data de validade entre

outros.

Para fixar mais os conteúdos trabalhados sobre nutrientes foram

aplicadas atividades como caça palavras, palavras cruzadas, questionários que

foram usados para fixar os conteúdos trabalhados em textos de autores, entre

outras atividades, as quais tiveram uma boa aceitação por serem consideradas

atividades lúdicas e ao mesmo tempo despertarem o interesse em descobri o

conhecimento.

Outra atividade desenvolvida foi o esboço de uma pirâmide alimentar em

que os alunos preencheram de acordo com seu conhecimento e

posteriormente compararam sua pirâmide com a apresentada a eles pela

professora. A pirâmide alimentar é muito importante, pois busca refletir

visualmente as quantidades em que devemos ingerir de cada classe de

alimentos. Dessa forma, provoca o aprendizado focando em figuras de

alimentos que representam cada classe.

Para fixar ainda mais este conteúdo e sensibilizar os educandos, foi

ministrada uma Palestra sobre a maneira correta e saudável de se alimentar

por nutricionistas da UNIPAR, na qual participaram, os alunos, pais e a

comunidade escolar. A Palestra teve uma ótima participação, os pais e os

alunos mostraram grande interesse em conhecer a forma certa e saudável de

se alimentar. Nessa Palestra foi reforçado a importância da Pirâmide alimentar

bem como a escolha dos alimentos saudáveis.

Ainda pensando nas atividades visuais, que acreditamos que reforcem o

aprendizado, os vídeos trabalhados foram interessantes, pois a mensagem

sobre pirâmide alimentar e escolha dos alimentos saudáveis ficou bem clara e

os alunos gostaram muito.

O trabalho em grupo sobre confecção de cartazes e pirâmides alimentar,

fez com que os alunos interagissem, pesquisassem e entendessem melhor o

conteúdo trabalhado e os resultados foram surpreendentes. Os cartazes foram

fixados nos murais da escola e toda a comunidade escolar pode observar a

atividade realizada e o conhecimento compartilhado.

Os estudos nacionais sobre consumo e disponibilidade domiciliar de

alimentos apontam que, num período aproximado de 30 anos, importantes

mudanças no padrão alimentar da população brasileira foram observadas,

dentre elas aumento do consumo de açúcar, baixo consumo de frutas, legumes

e verduras, consumo elevado de gorduras totais e de gordura saturada

(gordura animal) e redução do consumo de alimentos tradicionais na dieta

brasileira como leguminosas (ex: feijões), tubérculos (ex: batatas) e raízes (ex:

mandioca) (IBGE, 2003). Tais mudanças constituem importantes determinantes

dos índices crescentes de excesso de peso, tanto na população adulta, quanto

infantil (IBGE, 2003 apud ACCYOLI, 2009).

Ao final da programação de atividades da implementação pedagógica na

escola, foi aplicado um novo questionário sobre a forma correta de se alimentar

a fim de verificar se os alunos haviam modificado seus hábitos e se as

atividades realizadas haviam tocado o seu íntimo a ponto de entenderem o que

é melhor para promoção de sua saúde e qualidade de vida. Os resultados

mostraram que 90% dos participantes da pesquisa assimilaram o conteúdo

trabalhado, bem como, mostraram interesse e melhoraram os hábitos

alimentares e optaram por escolhas mais saudáveis de alimentos.

Para Vargas et al. (2011), os resultados não se assemelharam aos desta

pesquisa, pois, tendo investigado 331 adolescentes entre 11 e 17 anos de

Escolas Públicas de Niteroi-RJ, sobre as práticas alimentares dos mesmo,

perceberam que não se observaram mudanças significativas nas práticas

alimentares após a intervenção realizada.

O encerramento dos trabalhos foi realizado com os pais, alunos e

comunidade escolar, onde os alunos expuseram aos demais seus trabalhos e

comentaram sobre a importância de uma alimentação saudável para ter boa

saúde e melhor qualidade de vida.

A escola pode ser considerada espaço privilegiado para implementação

de ações de promoção da saúde e desempenha papel fundamental na

formação de valores, hábitos e estilos de vida, entre eles, o da alimentação,

tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a

diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente

sustentáveis. O alimento pode ser inserido no processo educativo, não apenas

em disciplinas relacionadas às ciências da biologia e da saúde, mas em todas

as áreas do conhecimento e desta forma, estimular o consumo de alimentos

saudáveis na escola e no cotidiano da criança. Educadores, pais, alunos,

merendeiras, comunidade têm importante papel na construção de um ambiente

escolar promotor de estilos de vida saudáveis, em especial, a alimentação

(ACCIOLY, 2009).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a implementação pedagógica, os trabalhos realizados e a reflexão

feita com a turma de alunos do 8º ano do ensino fundamental, foi

surpreendente e visível o aprendizado, o interesse por uma alimentação

saudável, bem como a eliminação do consumo de doces, chiclete, e

salgadinhos durante o período das aulas. Ao longo da atividade, percebeu-se

que eles mesmos se reprendiam quando alguém trazia esses alimentos para a

escola.

A contextualização descrita pelos alunos em suas atividades diárias faz

com que haja necessidade que o professor trabalhe situações problemas na

sala de aula para que seja estimulado a curiosidade, o debate e as críticas,

fazendo com que os alunos pesquisem diferentes soluções para um mesmo

problema, construindo assim seu próprio conhecimento, através de práticas

cotidianas, como sua própria alimentação, as aquisições desses alimentos, e a

preocupação em ter uma vida saudável com melhor qualidade de vida

alimentando-se bem.

Sendo assim cumpriu-se com o objetivo do presente trabalho, que era

de verificar a segurança alimentar dos alunos da classe estudada, além dos

hábitos alimentares, indicando alternativas fáceis, possíveis de serem

realizadas e de uma forma prazerosa e dinâmica, aliando a teoria à prática e

contextualizando o ensino de ciência, em busca de saúde.

REFERENCIAS

ACCYOLI, E. A escola como promotora da alimentação saudável. Ciência em

tela, v.2, n.2, 2009, p. 1-9.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS-

ABERC. 2008. Anais do IV Forum Nacional de Merenda Escolar, São Paulo,

Brasil.

BRITO, T. T. de. Alimentação na adolescência: como fazer?. Disponível em:

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