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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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O ATENDIMENTO DA CRIANÇA COM DISLEXIA NA ESCOLA REGULAR1

OUTUKI, Isabel Monteiro da Silva2 BLANCO, Marília Bazan

Resumo. A dislexia é caracterizada por um distúrbio de aprendizagem decorrente de uma disfunção no sistema nervoso central que interfere na leitura e escrita. O presente trabalho teve por objetivo analisar como é o atendimento da criança com dislexia na sala do 6º ano do Ensino Fundamental anos finais do Colégio Estadual Marcílio Dias do município de Itambaracá/PR, bem como verificar qual a percepção do professor quanto a essas dificuldades; discutir as diferenças entre dificuldades e transtornos/distúrbios de aprendizagem, buscando ainda caracterizar e conceituar a dislexia e por fim apresentar possíveis formas de intervir com crianças com dificuldades de leitura e escrita. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa por meio da aplicação de questionário com algumas professoras do 6º ano desta instituição. O presente artigo concretiza-se como pesquisa descritiva, visa estudar as características e o conceito de dislexia, também é um trabalho de campo e uma pesquisa de caráter exploratório, tem como finalidade desenvolver, esclarecer, modificar conceitos e ideias, desta forma envolve levantamento bibliográfico, documental e estudo de caso. Os resultados obtidos mostraram que a formação de professores necessita de conhecimentos aprofundados sobre as dificuldades, transtornos/distúrbios de aprendizagem e ainda mostrou que os alunos são os mais prejudicados. A falta de profissionais qualificados na área tem afetado o desenvolvimento das habilidades específicas de aprendizagem dos alunos com dislexia. Portanto, a proposta de estratégias diferenciadas de trabalho com esses alunos precisa de um olhar diferenciado, ser conhecida e contemplada pelos professores e aplicada de modo adequado para que surtam efeitos consideráveis.

PALAVRAS-CHAVE: Dislexia. Distúrbios de Aprendizagem. Professor. Intervenção.

1. Introdução

Atualmente, no contexto escolar brasileiro, professores e demais profissionais

estão em uma difícil jornada de trabalho. A educação escolar que almejamos

necessita de conhecimento específico, bem como de trabalhos diferenciados e

especializados nas diversas áreas da educação, pois nos deparamos com a

realidade de alunos nos anos finais do ensino fundamental que ainda não estão

alfabetizados e infelizmente a escola ainda não conseguiu amenizar ou sanar tal

situação. Muitas vezes, as dificuldades de aprendizagem são repreendidas na

instituição, sem o entendimento de sua origem.

Diante dessa realidade é preciso buscar conhecer e compreender quais são

as causas das dificuldades de leitura e escrita dessas crianças, os fatores que

interferem no processo de ensino/aprendizagem, quais as formas de intervir e como

1 Artigo apresentado como conclusão do projeto de Intervenção Pedagógica na Escola do Programa de

Desenvolvimento Educacional- PDE, sob orientação da Profa. Ms. Marília Bazan Blanco, Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus Cornélio Procópio. 2 Professora PDE. Diretora no Colégio Estadual Marcílio Dias Ensino Fundamental Médio e Normal.

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promover um trabalho docente significativo com crianças que apresentam essas

dificuldades.

De acordo com o Manual de Classificação Internacional de Doenças (CID–10)

as dificuldades de aprendizagem, notificadas como transtornos específicos do

desenvolvimento das habilidades escolares, são consideradas como: Transtorno

Específico da Leitura, Transtorno Específico de Soletrar e Transtorno Específico das

Habilidades Aritméticas (MAKISHIMA e ZAMPRONI, s/d). Para Makishima e

Zamproni (s/d), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação inclusiva do Ministério da Educação e Cultura (MEC), estabelece no grupo

de alunos com dificuldades de aprendizagem, discriminam os transtornos funcionais

específicos: distúrbios de aprendizagem - dislexia, disgrafia, disortografia,

discalculia, entre outros. Assim sendo, a dislexia se enquadra como um transtorno

específico das habilidades escolares, classificada como transtorno específico de

leitura.

A dislexia caracteriza-se como um transtorno de aprendizagem que interfere

na leitura e na escrita, mesmo com a inteligência dentro dos padrões da normalidade

(CRITCHLEY, 1985 apud CAPELLINI et al, p.10, 2010). “Estima-se que a

prevalência da dislexia está em 5 a 17% da população, sendo caracterizada pela

dificuldade no processamento fonológico da fala e posteriormente no processamento

fonológico envolvido na leitura” (TEMPLE et al, 2000 apud CAPELLINI et al, p.11,

2010). A interpretação incorreta do processo de aprendizagem do aluno pode

prejudicá-lo; as crianças com baixo desempenho podem atribuir a si próprias seu

fracasso, apresentando sentimentos de vergonha, autoestima baixa, não se

envolvendo nas demandas de aprendizagem; não conseguindo avançar se sentem

desmotivadas. Muitos fatores podem intensificar este quadro: quando o método não

condiz com o raciocínio deste aluno, o professor é inábil e há a falta de atendimento

neurológico e psiquiátrico.

Frente a esta realidade, o presente artigo traz como problematização discutir

como é realizada a intervenção na escola com as crianças que possuem dificuldade

de leitura e escrita e quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos professores no

atendimento dessas crianças. Apresenta como objetivo geral analisar como é o

atendimento da criança com dificuldade de leitura e escrita na sala do 6º ano do

Colégio Estadual Marcílio Dias, assim como qual a percepção do professor quanto a

essas dificuldades, discutir as diferenças entre dificuldades e transtornos/distúrbios

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de aprendizagem, identificar as causas e as características da criança com dislexia;

apresentar possíveis formas de intervir com crianças com dificuldades de leitura e

escrita e por fim elaborar um grupo de discussão sobre as dificuldades de leitura e

escrita.

Para tanto, apresenta-se na primeira seção as diferenças entre dificuldades e

transtornos/distúrbios de aprendizagem. Na segunda seção são discutidas as

causas e características da criança com dislexia. A terceira seção tem a

incumbência de apresentar possíveis formas de intervir com crianças que

apresentam dificuldades de leitura e escrita. Na quarta seção será abordada a

metodologia do trabalho. Na quinta e última seção serão apresentados os resultados

da pesquisa, enfatizando os encontros e as discussões realizadas com os

professores.

2. Dificuldades e transtornos/distúrbios de aprendizagem

Os transtornos/distúrbios de aprendizagem caracterizam-se pela sua etiologia

neurobiológica; por outro lado, as dificuldades de aprendizagem são caracterizadas

de forma mais ampla, ou seja, pode ser qualquer tipo de dificuldade apresentada

durante o processo de aprendizagem, em conseqüência de diversos fatores

(CIASCA e ROSSINI, 2002).

A definição trazida pelos autores Pedroso e Rotta (2006) sobre

transtornos/distúrbios de aprendizagem e dificuldades de aprendizagem “é que o

primeiro associa-se a fatores internos, caracterizando a dislexia como congênita ou

adquirida, resultante do comprometimento de origem neurobiológica”, ou seja,

característica que já nasce com o indivíduo. “A dificuldade relaciona-se a fatores

externos, podendo ser algo passageiro, influenciado pelo meio social, como

problemas familiares, pessoais”, emocionais, socioeconômicos, falta de motivação,

metodologia de ensino inadequada, desatenção, e outros (PEDROSO; ROTTA,

2006).

Para Ciasca (2003) “os distúrbios de aprendizagem são próprios dos

indivíduos, gerados por um déficit no Sistema Nervoso Cerebral.” Uma das

definições mais aceita por ser considerada a mais completa é a “apresentada pelo

National Joint Comittee of Learning Disabilities (NJCLD), proposta por Hammil em

1981 e ratificada em 1990” (GIMENEZ, 2005, p.79). Conceitua dificuldade de

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aprendizagem referente a um grupo de diferentes desordens, reveladas por meio da

fala, da escrita, raciocínio matemático, enfim das atividades que expressam a

linguagem oral e sob registro. Essas desordens são próprias do indivíduo e

decorrem de uma disfunção no sistema nervoso central. Ao mesmo tempo, também

podem ocorrer com outros tipos de desordens, outros distúrbios ou ainda

relacionado a transtornos psíquicos. Como afirma:

Distúrbio de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldades na aquisição e no uso da audição, fala, escrita e raciocínio matemático. Essas desordens são intrínsecas ao indivíduo e presume-se serem uma disfunção de sistema nervoso central. Entretanto, o distúrbio de aprendizagem pode ocorrer concomitantemente com outras desordens como distúrbio sensorial, retardo mental, distúrbio emocional e social, ou sofrer influências ambientais como diferenças culturais, instrucionais inapropriadas ou insuficientes, ou fatores psicogênicos. Porém, não são resultado direto destas condições ou influências (HAMMILL, 1990, p.77 apud GIMENEZ, 2005, p.79-80).

Dessa forma, é necessário destacar que “a aprendizagem pode sofrer

interferência de diferentes fatores e entre estes se encontram os fatores sociais-

econômicos-culturais, emocionais, educacionais, neurológicos e genéticos”

(CAPELLINI, et al, 2010). Portanto, é imprescindível que o professor saiba identificá-

los de maneira precisa.

Tanto as dificuldades de aprendizagem como os transtornos/distúrbios de

aprendizagem interferem de maneira negativa no processo de escolarização. Porém,

são dificuldades manifestas no indivíduo que devem ser observadas, compreendidas

e tratadas com um olhar diferenciado, em um processo de ensino que envolve

professor e aluno. O professor como aquele que ensina e o aluno como sujeito que

aprende. O aluno não é sujeito exclusivo deste processo, mas sim ambos estão

envolvidos (GIMENEZ, 2005). Nesse sentido, é imprescindível que a família e os

professores possam observar diariamente o aluno, e caso necessário encaminhá-lo

a realização de avaliações formais por profissionais qualificados (psicólogo,

fonoaudiólogo, neurologista) que farão um diagnóstico preciso e darão suporte

teóricos e práticos para a concretização do trabalho com o disléxico na escola e fora

da escola (BRAGGIO, s/d; SNOWLING; STACKOUSE, 2004; ZORZI, 2003).

Além disso, sendo comprovada a dificuldade ou transtorno/distúrbio de

aprendizagem, no caso a dislexia ou outro tipo de distúrbio, o docente deve trabalhar

com metodologias e estratégias diferenciadas durante o processo de ensino-

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aprendizagem, que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades

intelectuais do aluno, ou seja, promover formas diferentes de intervenção em sala de

aula.

3. Conceitos e características da dislexia

Ao discutir a dislexia como transtorno/distúrbio de aprendizagem, fator

presente no processo de ensino-aprendizagem apresentado por uma parte

expressiva dos alunos, torna-se relevante analisar suas causas e características.

“A dislexia [...] é um distúrbio de aprendizagem congênito que interfere de

forma significativa na integração dos símbolos lingüísticos e perceptivos” (ALMEIDA,

s/d). A palavra dislexia é definida etimologicamente como DIS – distúrbio e LEXIA -

(do latim) leitura; (do grego) linguagem, deste modo DISLEXIA significa dificuldades

na leitura e na escrita (ALMEIDA, s/d).

A dislexia possui várias definições, no entanto, todas oriundas da definição da

Word Federation of Neurology apresentada nos anos de 1968, como um transtorno

de aprendizagem que afeta a leitura ainda que a criança esteja dentro dos padrões

normais de inteligência. Como afirma,

“... o “transtorno de aprendizagem da leitura que ocorre apesar de

inteligência normal, de ausência de problemas sensoriais ou neurológicos,

de instrução escolar adequada, de oportunidades socioculturais suficientes,

além disso, depende da existência de perturbação de aptidões cognitivas

fundamentais, freqüentemente de origem constitucional” (CRITCHLEY, 1985

apud CAPELLINI; NAVAS, 2009, p.17).

O ato de ler é uma capacidade importante para o desenvolvimento particular

do sujeito, porém não natural, pois há um número expressivo de crianças que,

embora tenham lares bem estruturados, possuem inteligência, audição e visão

normais, deparam-se com dificuldades incomuns em relação à aquisição da

habilidade de leitura. Adquirida na infância, mas não com a mesma facilidade entre

os indivíduos, faz parte da existência humana. Para Tabaquim (2011), essa

dificuldade é denominada dislexia.

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A dislexia pode ser causada por fatores genéticos e ambientais. Segundo

Capellini e Navas (2009) a dislexia deriva de uma herança familiar, portanto

hereditária. Esse fator é um dos mais relevantes na identificação da dislexia, visto

que entre 23% a 65% das crianças disléxicas tem pais disléxicos que apresentaram

dificuldades acentuadas na leitura.

Estudos de investigação sobre a base neurológica da dislexia apontam uma

falha no sistema funcional do cérebro no hemisfério esquerdo durante a leitura,

confrontando com outros indivíduos considerados normais.

A base neurológica da dislexia vem de estudos de investigação de imagem

funcional do cérebro, os quais demonstram uma falha no sistema funcional

durante a leitura no hemisfério esquerdo, devido a uma atividade menor em

algumas partes do cérebro em comparação aos indivíduos normais, tais

como o córtex perissilviano esquerdo, o córtex temporal inferior e mediano

(áreas de processamento fonológico, a inervação magnocelular visual e a

auditiva (áreas de processamento visuoespacial e auditivo)... (GALABURDA

e CESTNICK, 2003 apud CAPELLINI, et al, 2010, p.11).

Estudos genéticos relacionam a dislexia a alterações nos cromossomos 6, 15

e X (PENNINGTON, 1997. PEDROSO.; ROTTA, 2006). Segundo Pennington (1997),

os fatores ambientais atrelados aos distúrbios de aprendizagem compreendem

complicações perinatais, problemas vinculados ao parto, anóxia ou prematuridade

do feto, doença infecto-contagiosa adquirida, contato com elementos tóxicos, bem

como aspectos sociológicos de condições econômicas desfavorecidas.

Em muitos casos, o disléxico apresenta um bom desempenho quanto à

resolução de problemas, raciocínio lógico, enfim na disciplina de Matemática. De

acordo com Pennington (1997), os sintomas principais da dislexia envolvem

sobretudo a leitura e a soletração, pois os indivíduos demonstram um grau de

dificuldade acentuada ao soletrar as palavras por mais simples e pequenas, de fato

não conseguem realizar leitura em voz alta devido à aprendizagem fônica,

codificação das palavras e também possuem certa limitação quanto à pronúncia de

seqüências verbais.

Muitos são os sintomas que podem ser evidenciados na criança disléxica,

eles variam de acordo com os diferentes graus de gravidade do distúrbio e tornam-

se mais evidentes durante a fase da alfabetização. Como, por exemplo: o

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predomínio da rota fonológica; trocas (visuais e auditivas), substituições, omissões

de palavras; faz um enorme esforço para a leitura da palavra isolada e

principalmente de pseudopalavras (palavras inventadas); não é fluente, sem

entonação; tem pouca compreensão; evita ler; não desenvolve hábito de leitura; tem

medo de ler em voz alta; sente cansaço e desânimo quando lê; dificuldade na

codificação: trocas (visuais e auditivas), migração e falta de letras; junção,

aglutinação e separações de palavras; possui extrema dificuldade para redigir,

produzir textos ou respostas por escrito; necessita de um tempo maior para construir

a resposta, não segue uma seqüência lógica, entre outros (ABC DISLEXIA, s/d).

Conforme Pennington (1997), a dislexia não é diagnosticada regularmente até

a idade escolar, comumente entre a faixa dos 6 e 7 anos de idade, geralmente

quando a criança está no início do processo de alfabetização.

O diagnóstico preciso consiste na análise do paciente, geralmente por equipe

multidisciplinar qualificada (psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo), eliminando

outras prováveis causas. Tal avaliação permite que o acompanhamento seja feito de

forma mais eficaz, já que leva em consideração suas características singulares. É

importante destacar que apenas uma equipe constituída por profissionais

capacitados e com especialização em dislexia, poderá por meio do histórico e das

avaliações pelas quais será submetido o indivíduo proporcionar o diagnóstico de

dislexia (BRASIL ESCOLA, 2014).

“O diagnóstico de dislexia não significa que a criança seja menos inteligente;

significa apenas que é portadora de um distúrbio que pode ser corrigido ou

atenuado” (VARELLA, s/d).

4. Educação e intervenção na escola com crianças disléxicas

Ao identificar um distúrbio de aprendizagem no âmbito educacional é

fundamental analisar e compreender quais são os mecanismos específicos que

sustentarão a efetivação do atendimento ao aluno disléxico e subsidiarão o trabalho

docente no ensino fundamental (CIASCA, 2003).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) lei nº9394/96 de

20 de dezembro de 1996, discrimina no artigo 58º:

Entende-se por educação especial para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,

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para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (BRASIL, 1996)

Portanto, fica assegurado o atendimento aos educandos com

necessidades educacionais especiais preferencialmente na rede regular de ensino.

Assegura ainda no artigo 4º que a educação escolar pública é dever do Estado e

será efetivada mediante a garantia de a “atendimento educacional especializado

gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e

modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino.” Desta forma, a LDBEN

9394/96 especifica que o aluno que abrange tais fatores, tem sua vaga assegurada

na rede pública ao ofertar um ensino gratuito que garanta o desenvolvimento de

suas capacidades intelectuais com garantia de um atendimento educacional

especializado em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino.

A Resolução nº4 de 2 de outubro de 2009 do Ministério da Educação (MEC)

dispõe em seu artigo 5º como deve ser realizado o atendimento educacional

especializado na sala de recursos multifuncional.

O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios (MEC, 2009)

A Instrução nº016/2011 da Secretaria de Estado da Educação (SEED) e

Superintendência da Educação (SUED) estabelece critérios para o atendimento

educacional especializado na Educação Básica e traz a definição da Sala de

Recursos Multifuncional (Tipo I) de caráter pedagógico:

Sala de Recursos Multifuncional – Tipo I, na Educação Básica é um atendimento educacional especializado, de natureza pedagógica que complementa a escolarização de alunos que apresentam deficiência Intelectual, deficiência física neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais específicos, matriculados na Rede Pública de Ensino (PARANA, 2011)

Segundo a Instrução nº016/2011 SEED/SUED, os transtornos funcionais

específicos estão relacionados a uma funcionalidade específica inerentes ao

indivíduo, um grupo diferente de alterações evidenciadas por dificuldades

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significativas, contudo sem afetar o comprometimento intelectual. Os transtornos

funcionais específicos são identificados como distúrbios de aprendizagem, se

enquadram a dislexia, disortografia, disgrafia e discalculia.

A proposta de intervenção pedagógica na escola deve levar em consideração

a especificidade de cada aluno, de acordo com suas necessidades e dificuldades a

respeito dos conteúdos trabalhados na sala comum.

O trabalho pedagógico a ser desenvolvido na Sala de Recursos Multifuncional – Tipo I, na Educação Básica deverá partir dos interesses, necessidades e dificuldades de aprendizagem específicas de cada aluno, oferecendo subsídios pedagógicos, contribuindo para a aprendizagem dos conteúdos na classe comum e, utilizando-se ainda, de metodologias e estratégias diferenciadas, objetivando o desenvolvimento da autonomia, independência e valorização do aluno (INSTRUÇÃO Nº016/11 SEED/SUED).

A lei é clara quando menciona que os alunos que apresentam tais

características devem ter um atendimento educacional especializado garantido.

Nesse sentido, apresentar-se-á formas ou ações de intervenção que possam

favorecer o trabalho docente em sala de aula com o aluno disléxico.

O primeiro passo é a identificação das características e dificuldades que o

aluno apresenta, que devem ser observadas diariamente pela família e pelos

professores. Identificado o problema, torna-se necessário encaminhá-lo a realização

de avaliações formais por profissionais qualificados (psicólogo, fonoaudiólogo,

neurologista) que farão um diagnóstico preciso e darão suporte teórico e prático para

a concretização do trabalho com o disléxico na escola e fora da escola (BRAGGIO,

s/d; SNOWLING; STACKOUSE, 2004; ZORZI, 2003). Realizadas as avaliações

formais, detectadas as falhas e tendo o diagnóstico que o aluno apresenta dislexia, é

essencial que esse aluno receba atendimento e acompanhamento de um

fonoaudiólogo, pois este profissional trabalha “na área da comunicação oral e

escrita, voz e audição, bem como em aperfeiçoamento dos padrões de fala e da voz”

(ZORZI, 2003). Para Cunha e Oliveira (2010), o professor deve criar uma meta de

leitura, ofertar o esquema de interpretação e resolver uma parte da tarefa. Deste

modo, a divisão das tarefas para a compreensão da leitura é desempenhada da

seguinte maneira:

“...responsabilidade do professor (criar metas, supervisionar, avaliar, integrar todas as ideias em um esquema, ativar os conhecimentos necessários); atividades realizadas conjuntamente (construir proposições

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globais, revisar as ideias do texto baseado no que já sabe); responsabilidade do aluno (integrar as ideias, reconhecer palavras)” (CUNHA; OLIVEIRA, 2010, p.71).

Outras técnicas mais específicas também podem ser utilizadas em relação à

intervenção docente com o aluno disléxico como Mapa Mental, Compreensão

dirigida e Leitura direcionada. (SANTOS; NAVAS, 2002; SANTOS et al., 2002;

SANTOS, 2004 apud CUNHA; OLIVEIRA, 2010).

Moojen e França (2006) sugerem algumas propostas que visam favorecer a

aprendizagem e o desempenho dos alunos disléxicos em sala de aula. Dentre elas:

evitar que a criança seja exposta a realizar leituras em voz alta, quando realmente

necessário, permitir que ela se prepare antes; consentir que ela utilize corretores

ortográficos e equipamentos informatizados; fornecer cópia impressa de atividades

evitando cópias muito extensas do quadro; executar provas orais ou prover mais

tempo para a concretização das avaliações escritas; avaliar as tarefas pelo conteúdo

enfatizando os aspectos positivos e não apenas os erros de escrita; fornecer apoio

docente; sentá-lo mais próximo do professor, entre outros.

5. Metodologia

O presente artigo se concretiza como pesquisa descritiva, visto que tem como

objetivo estudar as características do conceito de dislexia, levantar opiniões e

provocar novas atitudes (GIL, 1999). Também é considerado um trabalho de campo

e pesquisa de caráter exploratório, pois tem como finalidade desenvolver, esclarecer

e modificar conceitos e ideias, pois envolve levantamento bibliográfico, documental e

estudo de caso (GIL, 1999).

A pesquisa foi desenvolvida no período de fevereiro a junho de 2014, com a

participação de 16 professores do 6º ano do ensino fundamental anos finais, nas

dependências do Colégio Estadual “Marcílio Dias” no município de Itambaracá-PR,

por meio de encontros com duração variando de duas a quatro horas cada um, no

tempo destinado à hora atividade.

Os encontros partiram de leituras de textos, discussões, documentários e

filmes com o intuito de provocar o corpo docente para a reflexão e análise de como

tem sido identificado às dificuldades de aprendizagem dos alunos, qual o respaldo

que a escola tem recebido em relação a essas questões, verificar se os docentes

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estão preparados para lidar com essas situações, bem como proceder com esses

desafios encontrados no cotidiano escolar.

Os dados iniciais foram obtidos por meio da aplicação de um questionário

com perguntas dissertativas semi-estruturadas, com a intenção de evidenciar quais

são os desafios enfrentados pelos professores em relação ao aluno com

necessidades educacionais especiais, no caso a dislexia e como tudo isso vem

sendo trabalhado na escola. Participaram desta etapa três professoras de sala

regular que atuam no 6º ano do ensino fundamental anos finais desta instituição de

ensino. O questionário foi composto por sete questões abertas, que seguem

apresentadas no quadro 1:

Quadro 1- Perguntas utilizadas na pesquisa de campo

PERGUNTAS OBJETIVOS

1. O que você entende por dislexia? Identificar o conhecimento dos

professores sobre dislexia.

2. Como professor você já

identificou alunos com dislexia?

Caso tenha identificado, qual foi sua

posição diante de tal fato?

Saber qual a percepção do professor

ao identificar às características da

dislexia e verificar como ele reage

diante da situação.

3. Os alunos que apresentam

dislexia na escola recebem

atendimento educacional

especializado? Se recebem como é

realizado?

Verificar se a escola possui

atendimento educacional

especializado e saber como ele é

efetivado.

4. Quais são os desafios

enfrentados pela escola, pelos

professores em relação ao

atendimento educacional

especializado?

Identificar quais as dificuldades, os

limites e obstáculos encarados pela

instituição que a impedem de fornecer

o atendimento necessário.

5. Em sua opinião, os professores

estão preparados para lidar com

esse tipo de transtorno/distúrbio de

aprendizagem? Por quê?

Identificar na compreensão dos

professores se estão preparados para

lidar com o aluno que possui dislexia

na sala regular.

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6. Quantos casos confirmados de

alunos com dislexia a escola

apresenta?

Verificar se a escola possui alunos

com casos confirmados de dislexia.

7. Como é realizada a intervenção

do professor em sala de aula diante

de um caso confirmado de dislexia?

Saber como o professor trabalha com

o aluno disléxico.

Após a coleta desses dados iniciais no primeiro encontro, foram realizados

ainda sete encontros de estudo e discussão, durante a hora atividade dos

professores. Dessa forma, os dados apresentados a seguir, e analisados

qualitativamente, representam as respostas dos professores durante a realização

desses encontros.

6. Resultados e discussões

A pesquisa em questão se faz com base nos estudos realizados por meio do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) ofertado pelo governo do Estado

do Paraná. Com efeito, foram desenvolvidos estudos e análises teóricas que

subsidiaram o tema tratado, bem como o Projeto de Intervenção, as discussões

proporcionadas pelo Grupo de Trabalho em Rede (GTR), a Produção Didático-

Pedagógica (material didático) e por fim a Implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola sobre a temática “O Atendimento da Criança com Dislexia na

Escola Regular” tendo como público alvo os professores o 6º ano do ensino

fundamental anos finais da rede pública do Ensino Básico.

Primeiro houve a socialização do projeto com a comunidade escolar e

implementação do material didático utilizado como apoio para leituras e reflexões,

em seguida a aplicação de um questionário para três professores que participaram

do grupo de estudo, a fim de conhecer quais são as principais dificuldades de

aprendizagem encontradas em sala de aula, e de que forma são trabalhadas.

Também houve a produção de relatos dos professores de como foi sua iniciação

escolar, como forma de troca de experiências. Foram realizadas leituras,

problematizações, discussões e reflexões de textos trabalhados sobre a

alfabetização infantil, qual a função da escola, entre outros. Foram trabalhados

documentários e filmes a fim de problematizar o conteúdo, propondo leituras,

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análises, relatos e produções com os docentes sobre as situações já vivenciadas no

cotidiano escolar referente às causas das dificuldades de ler, escrever e entender

textos. Por fim, foi realizada uma análise de todas as ações estudadas e

desenvolvidas pelo grupo para a proposição de ações e estratégias que gerem

mudanças na prática pedagógica e nas metodologias utilizadas em sala de aula.

Com aplicação do questionário, realizado no primeiro encontro, pode-se

perceber e constatar algumas verdades já exacerbadas no âmbito educacional. De

acordo com as respostas das três professoras identificadas como P1, P2 e P3 a

escola não possui nenhum caso de dislexia confirmado, portanto não há a oferta da

sala de recursos e faltam laudos que, devido às condições financeiras das famílias,

possam confirmar o distúrbio de aprendizagem e garantir o atendimento educacional

especializado. A professora P1, com 22 anos de atuação, em resposta a pergunta

nº2 “como professor, já identificou alunos com dislexia? Caso tenha identificado,

qual foi sua posição diante de tal fato? afirmou que:

“durante sua vida profissional se deparou com muitos casos de alunos que

apresentavam dificuldade de leitura, compreensão de textos, falta de

habilidades específicas de memória, atenção e rendimento abaixo do

esperado para a idade e escolaridade, mas como não foram realizadas

avaliações específicas, ficou sem saber se era caso de dislexia ou outro

distúrbio”(P1).

Já a P3, com 20 anos em exercício respondeu que:

“os casos suspeitos são encaminhados à equipe pedagógica da escola e

que a grande dificuldade é conseguir um laudo especializado devido às

condições financeiras dos pais, já que a escola não tem condições de pagar

e pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o atendimento é moroso” (P3).

Em outra questão a P1 disse que a seu ver existem vários alunos disléxicos

na escola, mas que não funciona nenhuma sala própria para o atendimento

educacional especializado. Complementando, a P3, afirmou que os alunos são

atendidos na sala regular ou até mesmo na sala de apoio à aprendizagem.

Quanto aos desafios enfrentados pela escola e professores em relação ao

atendimento educacional especializado a P1 destacou:

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“a falta de uma equipe multidisciplinar composta por um neurologista,

fonoaudiólogo e psicólogo para realizar as avaliações específicas”.

Na quinta pergunta foi questionado se os professores estão preparados para

lidar com esse tipo de distúrbio de aprendizagem e as P1, P2 e P3 em consenso,

afirmaram que não, que não possuem formação necessária adequada para o

atendimento efetivo desses alunos a ainda acentuaram que os cursos ofertados não

oferecem embasamento suficiente para um bom atendimento.

As P1 e P3 afirmam também que, apesar de não ter realizado nenhum teste

específico para detectar a dislexia, de não haver nenhum caso confirmado, existem

sim casos suspeitos nesta escola.

Dando sequência a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola, no segundo encontro houve a produção de relatos dos professores

destacando como foi sua iniciação escolar, como forma de relembrar e compartilhar

tais experiências. No terceiro encontro foi trabalhado o texto “O que os textos infantis

podem revelar” (Zorzi, 2003), e, por meio da leitura e problematização do conteúdo,

foi possível realizar uma análise de dois textos produzidos por duas crianças da

mesma idade, que derivam de famílias, regiões, nível socioeconômico,

oportunidades diferentes e possuem histórias de vida totalmente opostas. A

discussão deste texto provocou outras reflexões sobre qual o significado de

determinado texto para a criança, como a criança vê o texto, como o professor pode

trabalhar de forma diferenciada com a criança, a etc. O debate gerado pelo texto

mostrou que os professores entenderam a mensagem proposta.

“por isso é extremamente importante não comparar um aluno com o outro,

valorizar suas características individuais, pois cada indivíduo é diferente do

outro, cada aluno possui um ritmo de aprendizagem diferente, portanto cada

um apresenta facilidades ou dificuldades dessemelhantes” (P4)

“muitos alunos já chegam no 6º ano sem serem alfabetizados, sem saber ler

e escrever, e quando chegam aqui, temos que trabalhar com eles de forma

diferente, recuperar o atraso e trabalhar com os demais, isso afeta o

desenvolvimento coletivo” (P8)

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A P8 apontou ainda que talvez esses alunos não tenham sido encaminhados

para nenhum tipo de avaliação na escola anterior, dando seqüência a uma sucessão

de situações que poderiam ser evitadas.

No quarto encontro foi trabalhado um texto que abordava questões sobre “A

alfabetização do nosso tempo” (Santomauro, 2013), enfatizando o uso das

tecnologias presentes em sala de aula e trazendo a reflexão sobre qual é a principal

função da escola, se é o letramento ou a alfabetização.

No quinto encontro apresentou-se o documentário “Pro dia nascer feliz”

(Jardim, 2006), e realizada uma análise de grande valia do contexto escolar, cultural

e familiar, com o intuito de socializar as informações que mostram a realidade de

algumas escolas do Brasil. O documentário expressa as diferenças sociais, tanto na

estrutura de cada escola quanto nas diferenças de agir por cada aluno no

aprendizado. Exibe também as dificuldades que os alunos têm para ter acesso à

escola, da falta de docentes na escola, desinteresse dos alunos.

“é uma realidade muito triste, porém não muito distante” (P12)

No sexto encontro também foi trabalhado outro documentário intitulado

“Viagem dentro da dislexia” (Raymond, 2011), com a finalidade de discutir as

dificuldades de leitura, escrita e de entender textos, enfim as dificuldades mais

comuns referentes à dislexia. O documentário traz a realidade de alunos que

convivem com o problema, e trouxe uma contribuição muito significativa para os

profissionais presentes que destacaram:

“alguns alunos são tachados de preguiçosos, não conseguem se

concentrar, mas apresentam inteligência normal assim como os demais”

(P9).

No sétimo encontro, assistiu-se o filme “Como estrelas na terra, toda criança é

especial” (Khan, 2007). A maioria dos professores nunca tinha visto o filme antes,

muitos se emocionaram com a história do menino Ishaan que possui dislexia e

estuda em uma escola regular. Seus pais e professores não sabiam do seu

problema, o menino passava por muitas dificuldades para realizar suas tarefas e

acabou sendo transferido para um internato, no qual, em meio a muitos desafios,

encontra um professor substituto que identifica o distúrbio, pois também já passou

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pelo mesmo problema e é ele quem vai ajudar Ishaan. O professor trabalha com

estratégias diferenciadas para que o menino aprenda os conteúdos e quando

percebe suas habilidades artísticas, aposta nelas. O filme foi fundamental para que

os docentes deste colégio pudessem entender coerentemente como identificar uma

criança com dislexia e como trabalhar com ela.

“precisamos nos atualizar, participar de cursos de formação continuada para

estarmos atentos a essas situações, para podermos ajudar os alunos e

contribuir para seu aprendizado”. (P14)

“acredito que temos que nos atualizar sim, mas precisamos de um

atendimento especial para essas crianças, precisamos de uma sala de

recursos para de fato ajudá-las” (P2)

Nesse sentido, percebe-se que os professores vão criando uma consciência,

que de fato não estão preparados para lidar com essas situações, mas que precisam

de informações consistentes para poder ajudar, e ao mesmo tempo trazem a tona a

necessidade do atendimento educacional especializado, bem como da sala de

recursos.

Por fim, no último encontro realizou-se uma análise de todas as ações

estudadas e desenvolvidas pelo grupo para a proposição de ações e estratégias que

gerem mudanças na prática pedagógica e nas metodologias utilizadas em sala de

aula. Todas as abordagens, reflexões e discussões foram de grande valia para o

desenvolvimento de todo o projeto, os professores participantes deram o devido

respaldo com suas ideias e opiniões.

O levantamento desses dados foi importantíssimo para a conclusão deste

artigo. Em que pese, é possível perceber que os desafios enfrentados pelas escolas

públicas são intensos, e neste patamar evidenciado e diagnosticado nesta instituição

revela-se a falta de conhecimento dos professores, de formação, de profissionais

qualificados, a não oferta da sala de recursos, da sala multifuncional e a falta de

investimentos no campo da educação tem prejudicado os alunos que possuem

necessidades educacionais especiais.

É evidente que muitos docentes ainda não têm conhecimento sobre muitas

das dificuldades trazidas pelos alunos e que tão pouco sabem diferenciá-las, mas o

Projeto de Intervenção na Escola veio a calhar de forma consistente, permitindo aos

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professores, bem como aos demais segmentos que compõem a instituição trabalhar

de forma coletiva a fim de garantir melhorias e reverter este processo. Tendo como

base o conhecimento científico, buscando sempre o aperfeiçoamento de suas

potencialidades

Conhecer a realidade do educando, sua história de vida, respeitar e apostar

nas suas potencialidades serve de grande estímulo, cabe ao docente garantir

possibilidades para que o mesmo possa superar as dificuldades vivenciadas.

Atender as reais necessidades dos nossos alunos dentro de suas limitações tem

sido um dos grandes desafios da escola pública brasileira.

Considerações finais

Na análise final do projeto, a partir dos encontros propostos, constatou-se que

os docentes participantes foram instigados a buscarem maior conhecimento sobre

as dificuldades que preocupam o aprendizado em sala de aula. A participação dos

professores foi de fundamental importância para a realização deste trabalho,

resultado das trocas de experiências cotidianas obtidas e das abordagens dos

conteúdos estudados nos encontros. Estudar e analisar como é o atendimento da

criança com dificuldade de leitura e escrita na sala do 6º ano do Colégio Estadual

Marcílio Dias foi um desafio que contribuiu de forma significativa incrementando a

formação profissional. Além disso, pode-se verificar qual a percepção do professor

quanto a essas dificuldades, discutir as diferenças entre dificuldades e

transtornos/distúrbios de aprendizagem, identificar as causas e as características da

criança com dislexia, bem como apresentar possíveis formas de intervir com

crianças com dificuldades de leitura e escrita e por foi elaborado um grupo com

professores que atuam no 6º ano do ensino fundamental para de debater sobre os

pontos que acentuam as dificuldades de leitura e escrita e o que, de fato pode ser

feito.

A aplicação do questionário revelou que a formação de professores necessita

de conhecimentos aprofundados sobre as dificuldades, transtornos/distúrbios de

aprendizagem e ainda mostrou que os alunos são os mais prejudicados com tudo

isso. A falta de profissionais qualificados na área tem afetado o desenvolvimento das

habilidades específicas de aprendizagem dos alunos com dislexia. A escola não

possui casos confirmados de dislexia, mas suspeitos, dessa forma, deve-se

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encaminhar esses alunos para possível diagnóstico e posterior intervenção. A

avaliação multiprofissional é demorada e fragmentada, gerando prejuízos e atrasos

à aprendizagem do aluno que necessita de um diagnóstico formal para obter o

atendimento e acompanhamento específico.

Portanto, a proposta de estratégias diferenciadas de trabalho com esses

alunos precisa de um olhar diferenciado, ser conhecida e contemplada pelos

professores e aplicada de modo adequado para que surtam efeitos consideráveis.

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