discentes com dislexia na universidade: um estudo de caso · elaine cristina de moura rodrigues...

158
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO NATAL/RN 2017

Upload: nguyenxuyen

Post on 19-Sep-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS

DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO

NATAL/RN

2017

Page 2: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS

DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de

Mestre em Educação, na Linha de Pesquisa Educação e Inclusão em

Contextos Educacionais.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo.

Coorientadora: Prof.ª Dra. Cíntia Alves Salgado Azoni.

NATAL/RN

2017

Page 3: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Medeiros, Elaine Cristina de Moura Rodrigues.

Discentes com dislexia na Universidade: um estudo de caso / Elaine Cristina

de Moura Rodrigues Medeiros. - Natal, 2017.

156f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo.

Coorientadora: Profa. Dra. Cíntia Alves Salgado Azoni.

Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação.

1. Educação Inclusiva – Dissertação. 2. Dislexia em adultos - Dissertação. 3.

Educação inclusiva - Dissertação. 4. Dislexia - Dissertação. I. Melo, Francisco

Ricardo Lins Vieira de. II. Azoni, Cíntia Alves Salgado. III. Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título

RN/BS/CCSA CDU 376:616.89-008.434.5

Page 4: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS

DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação, do Centro de Educação da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção

do título de Mestre em Educação, na Linha de Pesquisa

Educação e Inclusão em Contextos Educacionais.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo.

Coorientadora: Prof.ª Dra. Cíntia Alves Salgado Azoni.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________

Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________

Profa. Dra. Cíntia Alves Salgado Azoni

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

___________________________________________________________

Profa. Dra. Patrícia Abreu Pinheiro Crenitte

USP – Universidade de São Paulo

___________________________________________________________

Profa. Dra. Erika dos Reis Gusmão Andrade

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Natal, 01 de junho de 2017.

Page 5: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te

espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde

quer que andares. Josué 1:9

Page 6: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

RESUMO

A dislexia em adultos até o momento apresenta-se para a Educação como uma

temática pouco explorada, de modo que a inclusão deste público no Ensino Superior

ainda configura um desafio que requer o desenvolvimento de políticas e ações que

garantam o acesso, a permanência e a conclusão. Isto posto, esta pesquisa,

decorreu da necessidade de investigação e de reflexão sobre a condição atual do

adulto com dislexia, acompanhado pelo Núcleo de acessibilidade da UFRN, CAENE,

seu perfil acadêmico e o seu processo de inclusão educacional no âmbito

universitário. Com isso, objetivou analisar as características educacionais de

discentes da UFRN com dislexia, por meio da caracterização do perfil educacional,

da investigação do cotidiano e da avaliação do desempenho em leitura e escrita dos

cinco participantes. Além disso, intentou revisar a literatura a respeito da temática

em questão. Para tanto, esta pesquisa adotou, quanto aos aspectos teórico-

metodológicos, a abordagem qualitativa (MINAYO, 2001) e exploratória (GIL, 2008)

de investigação, por meio da técnica do estudo de caso (GIL, 2008). Para a coleta

de dados foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (TRIVIÑOS, 1987). Como

estratégia de análise optou-se pela perspectiva da Análise de Conteúdo (BARDIN,

2011). Os resultados demonstraram, em linhas gerais, que o discente universitário

enfrenta dificuldades de leitura e escrita, logo no início da trajetória acadêmica,

incompatíveis com as demais habilidades que possuem. Este fato gera surpresa em

parte dos docentes, que, por sua vez, pressupõem a inexistência de problemas

elementares na faixa etária adulta que acessa o ensino superior. Em decorrência

disso, os discentes passam a vivenciar sentimentos de frustração, de vergonha e de

incapacidade para a realização de tarefas. Ao final desta investigação, concluiu-se

que para a concretização da inclusão educacional de discentes adultos com dislexia

na universidade, se faz necessária a existência do acompanhamento educacional

especializado para o auxilio na adoção de estratégias educacionais, assim como, a

desconstrução de barreiras, principalmente atitudinais, expressas tanto nas esferas

legislativas, quanto por parte dos docentes e pesquisadores, em suas práticas

pedagógicas e produções acadêmicas.

Palavras-chave: Dislexia em adultos; Ensino Superior; Educação Inclusiva; Dislexia.

Page 7: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

ABSTRACT

Dyslexia in adults up to now appears to Education as a topic of little exploration, so

that the inclusion of this public in Higher Education still presents as a challenge that

requires the development of policies and actions that guarantee the access,

permanence and conclusion of studies. This research resulted from the need of

investigation and reflection on the current condition of the adult with dyslexia

accompanied by the UFRN Accessibility Center (CAENE), taking into account its

academic profile and its process of educational inclusion in the university context.

The purpose of this study is to analyze the educational characteristics of UFRN

students with dyslexia, through the characterization of the educational profile, a day-

to-day behavior investigation and an evaluation on reading and writing performance

of the five participants in study. In addition, it is brought a review of the literature on

the topic in question. In order to do so, this thesis adopted the qualitative (MINAYO,

2001) and exploratory (GIL, 2007) research approach, using the case study

technique (GIL, 2007). For data collection, semi-structured interviews were applied

(TRIVIÑOS, 1987). As an analysis strategy we opted for the Content Analysis

perspective (BARDIN, 2011). The results showed, in general lines, that the university

students face difficulties of reading and writing at the beginning of the academic

trajectory that are incompatible with the other abilities that they possess. This fact

surprises part of the professors which, in their turn, presuppose the inexistence of

elementary problems in the adult group that access Higher Education. As a result,

students begin to experience feelings of frustration, shame and inability to perform

tasks. At the end of this research it was concluded that, for the educational inclusion

of adult students with dyslexia at university it is necessary to have specialized

educational support to help in the adoption of educational strategies. Furthermore,

becomes essential to deconstruct barriers, mainly attitudes, expressed in the

legislative sphere, as well as by professors and researchers, in their pedagogical

practices and academic productions.

Keywords: Dyslexia in adults; Higher education; Inclusive education; Dyslexia.

Page 8: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

Este estudo é dedicado ao meu filho Davi,

amor incondicional da minha vida...

Ao meu esposo Henrique, companheiro

em todos os momentos...

Aos meus pais, Dilma e Ednaldo (in

memoriam), por terem me proporcionado

a educação, meu bem mais precioso!

À minha amada irmã, Diana, pela

cumplicidade e parceria!

Page 9: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus onipotente, por me conceder todas as faculdades necessárias

para trilhar o caminho acadêmico e profissional, a quem devo todas as minhas e

conquistas e a certeza de que com Ele sempre conseguirei.

Ao Prof. Dr. Ricardo Lins, orientador não apenas desta pesquisa, mas da

minha trajetória profissional, que com o seu imenso conhecimento e com as suas

palavras, sabiamente me ensina a ser mais inclusiva e a acreditar em uma

Universidade verdadeiramente aberta a todos.

À Prof. Dra. Cíntia Alves Salgado Azoni, a quem dedico um imenso carinho e

admiração. Mais que uma Coorientadora, uma mentora, uma amiga, que com

docilidade, cuidado, simplicidade e disponibilidade contribuiu grandemente para a

minha formação.

Aos discentes participantes da pesquisa por terem partilhado as suas vidas

com todo contentamento de quem tem a consciência necessária para contribuir com

o avanço da inclusão educacional das pessoas com Necessidades Educacionais

Especiais.

À equipe do Laboratório de Neuropsicologia da UFRN – LAPEN,

especialmente à Prof. Dr.ª Izabel Hazin e à Dr.ª Danielle Garcia, pelo suporte dado

ao processo investigativo desta pesquisa.

Ao meu amado esposo Braz Henrique, agradeço imensamente por ser o

melhor companheiro que Deus podia ter me presenteado, pelo apoio incondicional

às minhas escolhas, pelos momentos de compreensão e incentivo, por tudo que faz

para me ver feliz!

Ao meu filho Davi por preencher a minha vida com alegrias, por tornar a

minha existência plena, por me apresentar ao amor maternal, sentimento mais puro

e intenso que pude experimentar.

À minha irmã Diana, a quem amo como uma filha, pela cumplicidade e

partilha em todos os momentos da minha vida.

Aos meus pais Dilma e Ednaldo (in memoriam) que sempre me incentivaram

e me ensinaram que o caminho para o sucesso é trilhado por meio da educação e

que sem ela somos seres incompletos.

Page 10: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

Aos docentes da Linha de Pesquisa Educação e Inclusão em Contextos

Educacionais, que sabiamente contribuíram com as suas considerações nos

momentos de partilha durante os Seminários de Orientação e Dissertação.

Aos colegas de trabalho da CAENE por estarem sempre ao meu lado, por me

apoiarem e me incentivarem, por compartilharem as suas vidas na composição de

uma equipe que trabalha com amor e parceira e que acredita verdadeiramente na

Inclusão.

Às minhas companheiras Lisiê e Gisele por terem partilhado os momentos de

crescimento, aprendizagens, alegrias e tristezas durante as pesquisas, disciplinas e

produções desta caminhada na pós-graduação.

Aos meus amigos que souberam compreender os momentos de

distanciamento em prol desta pesquisa.

A todos que mesmo indiretamente foram importantes para a realização deste

trabalho.

Page 11: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fatores que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem .............. 25

Figura 2 - Processamento da leitura ......................................................................... 26

Figura 3 - Dificuldades de aprendizagem .................................................................. 30

Figura 4 - Tipos de Transtornos Específicos da Aprendizagem ................................ 32

Page 12: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Ano de ingresso de discentes com NEE na CAENE (2010 a 2016) ....... 50

Gráfico 2 – Tipo de NEE dos discentes acompanhados pela CAENE ...................... 51

Page 13: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Caracterização da pesquisa: tipo de pesquisa, autor, tipo de publicação e

ano de publicação. .................................................................................................... 55

Tabela 2 - Caracterização da pesquisa: tipo de pesquisa, autor, tipo de publicação e

ano de publicação. .................................................................................................... 56

Tabela 3 - Caracterização dos participantes da pesquisa segundo idade, gênero e

curso matriculado na UFRN. ..................................................................................... 74

Tabela 4 - Atividades realizadas junto aos participantes. .......................................... 78

Tabela 5 - Caracterização e percurso escolar dos discentes com dislexia,

participantes da pesquisa. ......................................................................................... 81

Tabela 6 - Características relacionadas à dislexia segundo o histórico familial, idade

do diagnóstico, apoio educativo e consequências da dislexia. ................................. 82

Tabela 7 - Características de Leitura ........................................................................ 85

Tabela 8a - Resultados do instrumento de produção escrita. ................................... 86

Page 14: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Demonstrativo da evolução da revisão sistemática ................................ 58

Quadro 2 – Caracterização da pesquisa: título do artigo, autor e ano, local de

realização do estudo, metodologia e conclusão. ....................................................... 59

Page 15: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEE - Atendimento Educacional Especializado

BCZM - Biblioteca Central Zila Mamede

CAENE – Comissão Permanente de Apoio ao Estudante com Necessidades

Educacionais Especiais

CAP – Colégio de Aplicação

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCHLA - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes

CCS - Centro de Ciências da Saúde

CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó

CNE – Conselho Nacional de Educação

COMPERVE - Comissão Permanente de Vestibular

CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

EAJ – Escola Agrícola de Jundiaí

EMUFRN - Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ES - Escola de Saúde

FACISA – Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi

FUNPEC – Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura

HUOL - Hospital Universitário Onofre Lopes

IFES - Instituições Federais de Educação Superior

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LA – Laboratório de Acessibilidade

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais

MEC - Ministério da Educação

Page 16: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

NEE – Necessidades Educacionais Especiais

NEI - Núcleo de Educação da Infância

PNAES - Programa Nacional de Assistência Estudantil

PROAE - Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis

PROGESP - Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas

PROGRAD - Pró-Reitoria de Graduação

REUNI - Programa de Apoio a Planos e Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais

RN – Rio Grande do Norte

SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão

SEDIS – Secretaria de Educação a Distância

SEMBRAIN – Setor de Musicografia Braille e Apoio a Inclusão

SESu – Secretaria de Ensino Superior

SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Page 17: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 22

2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 22

2.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 22

PARTE I – INVESTIGAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 23

3. DIALOGANDO COM OS REFERENCIAIS SOBRE A AQUISIÇÃO DA

LEITURA E DA ESCRITA E A DISLEXIA NO ENSINO SUPERIOR ....................... 23

3.1. Processos de aquisição da leitura e da escrita ............................................... 23

3.2. Transtornos específicos da aprendizagem: em foco a dislexia ....................... 29

3.3. Da Educação Especial à Educação Inclusiva: os caminhos trilhados em busca

das garantias de direitos ........................................................................................ 37

3.4 O processo inclusivo institucional e o Núcleo de Acessibilidade da UFRN ...... 45

PARTE II – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA.................................................................. 53

4. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA REVISÃO DA

LITERATURA ........................................................................................................... 53

4.1 Resultados da Revisão da Literatura ............................................................... 54

5. O CONTEXTO DA PRODUÇÃO INVESTIGATIVA ............................................ 71

5.1 Participantes da pesquisa ................................................................................ 73

5.2 Critérios de inclusão ......................................................................................... 73

5.3 Critérios de exclusão ........................................................................................ 73

5.4. Instrumentos de busca da empiria .................................................................. 74

5.4.1 A entrevista semiestruturada ..................................................................... 74

5.4.2 Questionário História de Leitura - QHL ...................................................... 75

5.4.3 Escala para Avaliação de Reconhecimento de Palavras – EARP ............. 76

5.4.4 Produção textual escrita por meio de ditado livre ...................................... 77

5.5 Procedimentos para a aplicação da pesquisa .................................................. 77

5.6 Procedimentos para análise da pesquisa ........................................................ 79

6. ESTUDO DOS CASOS: UNIVERSITÁRIOS COM DISLEXIA DA UFRN .......... 81

6.1 Apresentação dos Resultados ......................................................................... 81

6.1.1 Categoria 1 – Características gerais dos participantes .............................. 81

6.1.2 Categoria 2 – Características relacionadas à dislexia ............................... 82

Page 18: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

6.1.3 Categoria 3 - Características de leitura ...................................................... 84

6.1.4 Categoria 4 – Características de escrita .................................................... 86

6.2 Análise e Discussão dos resultados ................................................................. 88

REFLEXÕES FINAIS ................................................................................................ 98

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 102

APÊNDICES ........................................................................................................... 113

ANEXOS ................................................................................................................. 139

Page 19: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

17

1. INTRODUÇÃO

Durante toda a minha trajetória de vida, desde a infância, sempre acreditei na

Educação como uma ferramenta transformadora, como algo emancipador,

libertador, tanto para mim quanto para os meus pares. Fiz dessa máxima um lema

de vida, de construção de uma caminhada profissional que vem se estabelecendo

também pelas escolhas que faço, principalmente quando se referem a buscar

contribuir a cada dia com a consolidação de uma Educação verdadeiramente

inclusiva e universal.

Certa do que acredito, passei a observar quais as motivações dessa poderosa

ferramenta, mesmo sendo garantida constitucionalmente a todos, muitas vezes estar

tão distante para alguns, especialmente dos que convivem com determinadas

alterações, como a dislexia. O modo como o Estado politicamente enfrenta (ou

esquece) as especificidades humanas constitui uma preocupação.

Ao pensar no mundo que nos rodeia e na realidade em que estamos

inseridos, compreendo o quanto ele está em constante e intensa transformação no

tocante aos conceitos que incorporamos, aquilo em que acreditamos e

principalmente quanto às relações interpessoais. Com isso, há a necessidade de se

reconhecer as diferenças e as semelhanças que nos aproximam.

Nesse sentido, a atenção às diferenças humanas, a proteção e a garantia dos

direitos das pessoas com Necessidades Educacionais Especiais - NEE1 no contexto

atual estão sempre elevadas à maior importância, através da legislação vigente,

fortemente pautada nos direitos fundamentais da pessoa humana, atuando em todos

os campos onde há a sua presença. Sem eles estamos impossibilitados de participar

plenamente da vida em sociedade. Conforme Ainscow (2009, p. 12) “a inclusão

começa a partir da crença de que a educação é um direito humano básico e

fundamentado para a sociedade mais justa”.

1 O termo "Necessidades Educacionais Especiais - NEE" evidenciou-se a partir do

“movimento pela inclusão” e pela Conferência Mundial sobre Educação Especial, ocorrida na Espanha, na cidade de Salamanca, em 1994. Na ocasião foi elaborada a “Declaração de Salamanca”. Para esta, pessoas com NEE são todos aquelas cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem, sejam elas provenientes de condições permanentes ou transitórias (BRASIL, 1994).

Page 20: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

18

Tais inquietações já figuram como corriqueiras nas discussões referentes ao

desenvolvimento da aprendizagem da criança, público alvo do ensino básico

brasileiro, no entanto, ainda são raras quando tratamos da educação da faixa etária

adulta, especialmente sobre aqueles que ingressam na Universidade.

No espaço universitário, as diferenças se evidenciam em todos os aspectos

inerentes ao ser humano, tanto nas questões relacionais quanto no tocante ao modo

como aprendemos. Assim sendo permeiam a educação em todos os seus níveis,

inclusive no Ensino Superior o qual, durante o seu processo evolutivo, vem

constatando a necessidade de desconstruir a crença vigente de que os seus

discentes ingressam com o conhecimento já sistematizado e homogeneizado.

Discentes com NEE, aos poucos, começam a vislumbrar perspectivas

positivas de aprofundamento pessoal e intelectual em um nível acadêmico. Isso se

deve também à adoção de políticas de ampliação do acesso à Educação Básica,

bem como a obrigatoriedade do seu cumprimento, que ocasionaram inevitavelmente

um maior número de cidadãos aptos ao ingresso em um nível seguinte de

escolarização, a graduação.

Na UFRN, com a implantação dos serviços de apoio, por meio do Núcleo de

Acessibilidade2 intitulado Comissão de Apoio aos Estudantes com NEE - CAENE, já

constatamos a presença deste público, através da ampliação do acesso ao Ensino

Superior. Na CAENE há um aumento no número da entrada de discentes com NEE,

notadamente aqueles que apresentam dislexia, transtorno específico da

aprendizagem3 que se configura por alterações no campo da leitura.

Ao contrário, estes discentes apresentam uma grande diversidade em sua

constituição educacional, decorrente dos mais variados aspectos, como formação

básica de baixa qualidade, dificuldades de aprendizagem e até mesmo transtornos

específicos da aprendizagem, como a dislexia.

2 O Núcleo de Acessibilidade da UFRN foi instituído através da Resolução 193/2010 tendo sido denominado Comissão de Apoio aos Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais – CAENE. Vinculado à Reitoria, tem a responsabilidade de efetivar as políticas de inclusão educacional de discentes com NEE, bem como orientar os servidores docentes e técnicos nas ações didático-pedagógicas realizadas. 3 Nesta pesquisa optamos por usar o termo “Transtorno Específico da Aprendizagem” por

extenso a fim de evitar ambiguidades advindas do uso da sigla TEA, visto que esta é amplamente utilizada para referenciar o Transtorno do Espectro Autista.

Page 21: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

19

Contudo, os discentes ingressam e assumem uma espécie de invisibilidade,

para assim mascarar a sua NEE. E muitas vezes, os próprios docentes acabam

também não trazendo à tona essas discussões.

Pelas razões elencadas, ao longo de suas páginas, esta dissertação se

propõe a discutir acerca dos discentes da UFRN com dislexia. Para tanto, a

sistematizamos em seis capítulos distribuídos em duas grandes partes, conforme o

descrito a seguir:

Parte I – Investigação teórica, onde buscamos esclarecer o nosso tema de

pesquisa;

Parte II – Investigação empírica, espaço onde objetivamos evidenciar a

execução do trabalho prático realizado.

Com isso, a investigação teórica abordou, conforme o exposto abaixo:

A Introdução é destinada à descrição inicial da pesquisa. Sendo assim, nele

apresentamos os elementos que compõem a dissertação, expondo as nossas

motivações, qual o campo empírico explorado; assim como descrevemos a

fundamentação teórica, os direcionamentos metodológicos do estudo,

procedimentos de coletas de dados e de análise e discussão dos resultados.

No capítulo 2 explicitamos os Objetivos, esclarecendo qual é o objetivo geral,

bem como os objetivos específicos desta pesquisa.

O capítulo 3, Dialogando com os referenciais sobre a aquisição da leitura

e da escrita e a dislexia no Ensino superior, são apresentados os

fundamentamos teóricos que versam sobre a temática, além do lócus da pesquisa e

do processo inclusivo na UFRN.

No subtítulo 3.1 abordamos o tema Processos de aquisição da leitura e

escrita, no qual os aspectos inerentes à aquisição da língua e à aprendizagem da

leitura na fase da alfabetização foram explicitados à luz da teoria histórico-cultural.

No subtítulo 3.2 descrevemos os Transtornos Específicos da

Aprendizagem: em foco a dislexia, apresentando com base nos fundamentamos

teóricos de diferentes áreas, principalmente da Educação, Fonoaudiologia e

Neuropsicologia esclarecimentos sobre o que são as dificuldades de aprendizagem,

quais as suas principais causas e o que as diferenciam dos transtornos específicos

da aprendizagem. Com isso, explicamos as motivações do uso da

interdisciplinaridade, visto que ela é essencial ao trabalho com os transtornos

específicos da aprendizagem, pois nos traz subsídios quanto ao entendimento

Page 22: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

20

fisiológico da dislexia, além de possibilitar o melhor desenvolvimento da pesquisa no

campo educacional sobre este tema.

Explicamos, neste subtítulo, o que é a dislexia, condição que se apresenta à

comunidade acadêmica como um transtorno ainda pouco conhecido, principalmente

quando se trata da fase adulta. Além disso, chamamos a atenção para o fato de que

as pesquisas existentes nas fontes acadêmicas, em sua maioria, abordam a dislexia

em crianças, circunstância que gera uma grande dificuldade em se encontrar

registros sobre o tema, principalmente quando nos voltamos ao assunto com o olhar

pedagógico. Justificamos ainda a razão da utilização como embasamento teórico de

referenciais voltados para a infância, devido aos sinais da dislexia no indivíduo

perpassarem toda a vida, desde a infância até a fase adulta.

No subtítulo 3.3, Da Educação Especial à Educação Inclusiva: os

caminhos trilhados em busca das garantias de direitos, buscamos traçar um

panorama da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva à luz dos documentos

legislativos nacionais e internacionais, destacando os avanços e as lacunas

existentes no Brasil ao se falar em pessoas com dislexia. Além disso, descrevemos

a UFRN e o seu processo inclusivo institucional, além da CAENE como Núcleo de

Acessibilidade, demonstrando, com isso, os resultados alcançados por ela.

No subtítulo 3.4, O processo inclusivo institucional e o Núcleo de

Acessibilidade da UFRN, explicitamos como ocorre o acompanhamento aos

discentes com dislexia no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Percorrendo o texto, nos deparamos com a sua Parte II, a qual abrange a

investigação empírica desta pesquisa.

Assim, no capítulo 4 explicitamos os Procedimentos teórico-metodológicos

da revisão da literatura, no âmbito da Educação, acerca do adulto com dislexia,

com o intuito de investigar os achados da ciência em relação ao adulto. Com isso,

explicamos como se deu a sua execução, a qual se realizou em duas partes:

inicialmente por meio do levantamento das publicações brasileiras de artigos,

dissertações e teses. Posteriormente, através de uma revisão sistemática das

publicações do período compreendido entre 2011 a 2016.

No capítulo 5 aprofundamos os O contexto da produção investigativa, onde

detalhamos os direcionamentos metodológicos do estudo, definimos o campo de

investigação, apresentamos os participantes, os critérios de inclusão e de exclusão

dos participantes, os procedimentos de coleta de dados, a análise e a discussão dos

Page 23: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

21

resultados.

Por fim, com as Reflexões Finais, a partir das bases teóricas da pesquisa

temos um panorama geral a respeito dos processos inclusivos relacionados ao

cenário vivenciado pela pessoa com dislexia no Ensino Superior correlacionando

com os achados da literatura investigada.

Assim consideramos a partir da revisão da literatura aqui presente, dos

resultados coletados e das reflexões que deles sucederam, que a investigação sobre

como se caracteriza o perfil educacional do discente da UFRN com dislexia ao longo

de sua trajetória escolar, justifica e existência e confere relevância a esta pesquisa.

Precisamos trazer esta discussão à tona e, a partir dela, conhecer as características

específicas dos discentes com dislexia do Ensino Superior no que concerne aos

aspectos que apresentam, bem como avaliar as suas consequências para a pessoa

humana, quanto ser vivente em sociedade.

Diante do exposto, tomando-se como base a vivência na atuação direta como

Pedagoga, desempenhando no trabalho junto à CAENE o assessoramento

pedagógico ao discente da UFRN com dislexia, indaga-se:

Qual é a condição atual do discente com dislexia, acompanhado pela CAENE,

seu perfil acadêmico e o seu processo de inclusão educacional no âmbito da

UFRN?

Finalizamos destacando a importância da continuidade da produção científica

neste contexto visando o avanço do conhecimento na área, fato que refletirá na

melhoria da qualidade de vida e possibilidades de êxito acadêmico e social da

população em questão.

Page 24: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

22

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar as características educacionais de discentes da UFRN com dislexia.

2.2 Objetivos específicos

Revisar a literatura a respeito da dislexia no adulto;

Caracterizar o perfil educacional de discentes da UFRN com dislexia;

Investigar o cotidiano educacional do discente da UFRN com dislexia;

Avaliar o desempenho em leitura e escrita de discentes da UFRN com

dislexia.

Page 25: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

23

PARTE I – INVESTIGAÇÃO TEÓRICA

3. DIALOGANDO COM OS REFERENCIAIS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LEITURA

E DA ESCRITA E A DISLEXIA NO ENSINO SUPERIOR

3.1. Processos de aquisição da leitura e da escrita

Ao ingressarmos na escola, as pessoas que nos circundam, tanto pais quanto

docentes, passam a investir em ações e atividades que nos levem a traçar o

caminho da aquisição da leitura e da escrita. Essa expectativa é por algo que faz

parte da evolução humana. Desde os primórdios, o homem ao se organizar em

sociedade criou símbolos e linguagens para se comunicar, para registrar as suas

ações, para preservar a história, enfim, para se relacionar e para formar a sua

identidade quanto sujeito.

A leitura e a escrita desenvolveram-se no decorrer do tempo. Ainda muito

distante da forma como as conhecemos e empregamos atualmente, a escrita era

formada inicialmente por desenhos repletos de significados, os ideogramas, que

passaram a ser cunhados a fim representar os objetos e as ideias do cotidiano

daquelas sociedades; por sua vez, a leitura era a reprodução oral dos símbolos

pictóricos, não existia a leitura visual das sílabas e das palavras. Assim a leitura era

composta por “histórias visuais dotadas de informações com significados”

(FISCHER, 2006, p.14).

Posteriormente, junto à evolução humana veio o aperfeiçoamento da

representação escrita, de modo que ao passar do tempo os símbolos passaram a se

distanciar da representação imagética do todo e a assumir valores fonéticos, sendo

desenvolvidos, com isso, signos isolados para cada som.

Por volta de 3000 a.C., os fenícios iniciaram o processo de criação de

símbolos específicos para representar os sons da fala. Com isso, descobriu-se o

fonema, criou-se a representação gráfica dos sons. Esta evolução passou a exigir o

desenvolvimento da chamada consciência fonológica para finalmente se chegar à

leitura (PELANDRÉ, 1999). Segundo Fischer, os sumérios começaram se comunicar

por meio escrito usando o

Page 26: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

24

foneticismo sistêmico, isto é, passaram a coordenar de modo sistemático sons e símbolos (incluindo os pictogramas) a fim de criar „sinais‟ de um sistema de escrita. Uma figura deixava de representar uma mercadoria real, como uma ovelha, mas, em vez disso, passava a indicar um valor sonoro específico (2006, p. 15).

Cinco mil anos se passaram até que o alfabeto latino nos alcançasse com as

suas atuais 26 letras. Muitas transformações foram e continuam sendo vivenciadas.

No entanto, o tempo não alterou a principal função da escrita: a de representar os

sons da fala humana dentro de uma dada sociedade (PELANDRÉ, 1999).

Essa linguagem escrita origina a leitura e com isso se transforma em um

objeto cultural (GROTTA, 2000, p. 25), do qual já nos acostumamos a utilizar como

meio para firmar relações, emitir opiniões e com isso exercer o nosso poder na

sociedade. Ela é parte do sistema sócio histórico ao qual estamos inseridos; é uma

ferramenta essencial para a mediação entre o sujeito e o mundo letrado que o

circunda e com tudo que ele o oferece.

Cabe a nós docentes sermos mediadores desse processo. Para tanto, o

aprofundamento no conhecimento acerca do desenvolvimento e aquisição da

aprendizagem se evidencia como um pré-requisito necessário ao desenvolvimento

da nossa função.

O domínio da leitura e da escrita não é uma ação simples. Ele depende de

uma série de fatores intimamente ligados aos aspectos cognitivos, emocionais,

biológicos, psicossociais e culturais e começam a se desenvolver desde o início da

vida humana, com o convívio em ambientes letrados e aquisição da linguagem

(Figura 1).

Page 27: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

25

Figura 1 - Fatores que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem

Fonte: FONSECA, 1995, p. 138.

Quanto ao aspecto biológico, o desenvolvimento da leitura depende da

maturação de áreas cerebrais que ocorrem ao longo dos primeiros anos de vida,

com a participação de diferentes áreas e funções do sistema nervoso central (SNC).

Nesse sentido, para realizar a leitura, as atividades de processamento e integração

da informação atuam a fim de que a pessoa tenha a capacidade de se apropriar do

conhecimento. Desta forma, para processar a leitura, é necessário que as

competências cognitivas estejam preservadas, a fim de que o “caminho da leitura”

ocorra satisfatoriamente. Sobre isso Fonseca (2009, p. 341) explica que

não se trata de mera ou simples decodificação de símbolos escritos em sons, nem tampouco de uma recepção passiva de uma imagem colhida em qualquer lugar no cérebro a partir da palavra escrita, com a qual pode ser associada. A leitura é um processo ativo, autodirigido pelo leitor em múltiplas formas e apresentando várias finalidades.

O processo de aprendizagem é um fenômeno complexo. Ele depende da

interação de diversos fatores, de um conjunto de requisitos ligados ao

funcionamento neuropsicológico. Nos casos em que tais funções não estão

Page 28: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

26

preservadas, como nos discentes com dislexia, todo o processamento da informação

é prejudicado (FONSECA, 1995).

Abaixo, a figura 2 ilustra o caminho sistematizado do processamento da

leitura ocorrida em três grandes unidades funcionais, de modo que competências

cognitivas como atenção, percepção, memória, processamento simultâneo e

sequencializado, simbolização, compreensão, inferência, planificação e produção de

estratégias, conceitualização, resolução de problemas, rechamada e expressão de

informação consigam atuar de maneira sistematizada (FONSECA, 2009).

Figura 2 - Processamento da leitura

Fonte: Fonseca, 2009, p. 341.

Assim, a aprendizagem depende diretamente do desenvolvimento

maturacional adequado dessas três áreas do cérebro, que por sua vez se integram

com outros sistemas cerebrais. Fonseca (1995, p. 165) exemplifica ainda que

as aprendizagens complexas como a leitura assentam sobre aprendizagens compostas como a discriminação e a identificação perceptiva, que por sua vez decorrem de aprendizagens simples como a aquisição de postura bípede e das aquisições preensivas da primeira idade.

Page 29: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

27

Contudo, é importante destacar que o ato de ler não depende apenas do

elemento cognitivo. Ele ocorre com base em processos e experiências que se inter-

relacionam por meio dos aspectos funcionais, biológicos e histórico-culturais, que

contribuem para o funcionamento psicológico e para a apropriação da realidade que

o circunda de forma a interpretá-la e produzi-la conforme o conhecimento adquirido

pela sua relação com o mundo exterior (OLIVEIRA, 1997).

Nesse sentido, para a compreensão do processo de aquisição da leitura

ocorrido pela mediação simbólica das relações que o indivíduo estabelece entre a

linguagem e o meio, levamos em consideração as pesquisas de Lev Semenovich

Vigotski e as suas descobertas acerca do processo de aquisição da linguagem

escrita, assim como os fatores que influem e determinam esse processo.

Segundo Vigotski (2010) para alcançarmos o domínio da leitura passamos por

fases que antecedem a escrita, as quais ele intitulou como "A pré-história da

linguagem escrita" composta por quatro estágios que dão base à aquisição do

caráter semiótico da linguagem, como função simbólica existente para mediar às

relações interpessoais. Eles não são lineares e nem estão situados em faixas etárias

determinadas.

Com isso, quanto ao desenvolvimento da escrita, para Vigotski (2010, p. 126)

“a linguagem escrita é constituída por um sistema de signos que designam os sons e

as palavras da linguagem falada, os quais, por sua vez são signos das relações e

entidades reais”.

Assim, no primeiro estágio, os signos escritos se relacionam diretamente aos

gestos. Por meio deles a criança passa a expressar os significados do que deseja

explicar. Posteriormente ao tentar escrever, ela reproduzirá o gesto elaborado

anteriormente. Segundo suas pesquisas, esta é uma importante fase encarregada

de subsidiar a constituição de signos visuais que contém a futura escrita da criança.

Posteriormente essa representação do significado passa a designar o objeto

propriamente dito.

Tivemos a ocasião de verificar mais precisamente, em experimentos, a íntima relação entre a representação por gestos e a representação pelo desenho, e obtivemos a representação simbólica e gráfica de gestos em crianças com cinco anos. (Vigotski, 2007, p.129)

No segundo estágio, os gestos também se unem à linguagem escrita por

meio dos jogos das crianças e são responsáveis por conferir a função de signo ao

Page 30: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

28

objeto. A partir das brincadeiras a criança aprende usando determinados objetos

para representar outros, tornando-os, assim, os seus signos. Esta fase foi

denominada “escrita com objetos”. Vigotski (2010, p.129, 130) afirmou que

não é importante o grau de similaridade entre a coisa com que se brinca e o objeto denotado. O mais importante é a utilização de alguns objetos como brinquedos e a possibilidade de executar com eles um gesto representativo. Essa é a chave para toda função simbólica das crianças.

A evolução do simbolismo na criança alcança o seu terceiro estágio quando

ela passa a dominar a fala e a representá-la através do desenho. Inicialmente a

criança desenha de memória, sem que a ele seja atribuído um valor simbólico. O

desenho aqui é apenas um objeto. Posteriormente, o desenho passa a ser realizado

após uma análise crítica do que se deseja. Existe a consciência de que aqueles

traços têm um significado. “Há um momento crítico de passagem dos simples

rabiscos para o uso de grafias como sinais que representam ou significam algo”

(VIGOTSKI, 2010, p. 136).

O quarto estágio revela-se como a aquisição do simbolismo na escrita. Nessa

fase a criança percebe que o seu desenho representa uma ideia, e que ela pode

utilizar essa ferramenta para se comunicar. Aqui há a descoberta de um novo código

linguístico. Com base em experimentos realizados juntamente com Luria, Vigostki

afirmou:

Acreditamos estar certos ao considerar esse estágio mnemotécnico como o primeiro percussor da futura escrita. Gradualmente as crianças transformam esses traços indiferenciados. Simples sinais indicativos e traços e rabiscos simbolizadores são substituídos por pequenas figuras e desenhos, e estes, por sua vez, são substituídos pelos signos (Vigotski, 2007, p.139).

Assim, a criança, passa gradativamente a escrever o que fala lançando mão

de um conjunto de regras que normatizam a língua que será aprendida com o auxílio

da mediação de docentes, familiares e amigos que já as dominam.

Com o objetivo de esclarecer os caminhos pelos quais a escrita da criança se

desenvolve Luria, discípulo de Vigotski, deu continuidade as suas pesquisas, com a

definição de três fases distintas.

Assim, Luria descreveu o primeiro estágio como o da pré-escrita quando a

criança pequena por volta dos três aos cinco anos ainda não compreende a função

Page 31: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

29

da escrita. Nessa fase, o ato de escrever é meramente intuitivo, é uma brincadeira,

uma reprodução das ações do adulto. Desse modo, a escrita ainda não assume o

seu real significado e nem se relaciona ao seu conteúdo. “Escrever está dissociado

de seu objetivo imediato [...]; a criança não tem consciência do seu significado

funcional como signos auxiliares. É por isso que o ato de escrever pode ser

dissociado de forma tão completa da sentença ditada”. (LURIA, 2016, p. 150).

Em seguida, após a mediação, a criança passa compreender como se dá a

escrita e assim alcança o estágio da escrita não diferenciada, onde esta passa a se

relacionar com um significado.

Assim, para ler e escrever a criança necessita conhecer a estrutura sonora da

palavra, dominar as suas partes constitutivas para então reproduzi-la de forma

organizada através do uso dos grafemas, seguindo uma ordem convencionalmente

determinada.

E é exatamente nessa fase do desenvolvimento que se evidenciam em alguns

discentes os problemas na aquisição e domínio da leitura e da escrita. Em nosso

país não são raros os casos de pessoas que mesmo estando na idade adulta, tendo

frequentado a escola por anos não conseguem alcançar a fluência na leitura, escrita

e interpretação (MANGAS; SANCHES, 2010).

Esta problemática em alguns casos se origina por falhas cometidas na

mediação (ou na ausência dela) do docente ou do sistema escolar, as quais

caracterizam as lacunas na “ensinagem” (ANASTASIOU, 2003); em outros, por

problemas psicossociais que quando existentes afetam diretamente o desenrolar

deste percurso; ou ainda, por vezes, resultantes de condições neurobiológicas como

as constatadas nos transtornos específicos da aprendizagem.

3.2. Transtornos específicos da aprendizagem: em foco a dislexia

Atualmente a educação é permeada por questões que impactam diretamente

na aprendizagem. Nas escolas não é raro ouvirmos de pais e docentes que algumas

crianças apresentam dificuldades que ocasionam reprovações e defasagem dos

alunos, as quais os levam a uma verdadeira peregrinação em busca de atendimento

médico e de algum possível diagnóstico.

Page 32: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

30

As dificuldades de aprendizagem são comuns. No entanto, elas se devem a

diversos fatores (CIASCA, et al., 2015), desde às dificuldades escolares até aos

transtornos da aprendizagem, conforme observamos na figura 3:

Figura 3 - Dificuldades de aprendizagem

Fonte: CIASCA, et al., 2015, p. 215.

Como vimos, as dificuldades de aprendizagem podem decorrer de transtornos

específicos da aprendizagem e de dificuldades escolares, também conhecidas como

“dispedagogia” (FONSECA, 1995; CORREIA, 2007) ou ainda como problemas de

“ensinagem” (ANASTASIOU, 2003). Dentro deste segundo grupo constatamos uma

das maiores problemáticas da educação brasileira: a atuação deficitária da

instituição escolar, dos seus profissionais e métodos utilizados.

Sabemos que as dificuldades escolares não determinam diretamente se o

sujeito aprenderá ou não, no entanto não podemos negar que elas são responsáveis

por um grande número de insucessos e advém de diversos fatores, como falha no

processo de ensinagem, alfabetização precária, incompatibilidade entre o modo

Page 33: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

31

como o sujeito aprende e as escolhas didático-pedagógicas da instituição escolar.

Além disso, causas orgânicas também interferem diretamente na aprendizagem,

como as deficiências, doenças neurológicas, problemas sociais existentes no

ambiente escolar ou familiar e falta de estimulação (ARAÚJO, 2002).

Assim, o transtorno específico da aprendizagem é definido como “uma

disfunção no Sistema Nervoso Central, relacionada à „falha‟ no processo de

aquisição ou do desenvolvimento da leitura, escrita e raciocínio matemático; está

relacionada ao caráter funcional direto do termo” (CIASCA, et al., 2015, p. 213).

De acordo com o DSM-5,

o transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão. (2014, p.68).

Isso significa dizer que, nas pessoas com transtornos específicos da

aprendizagem, mesmo com nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade

intelectiva preservada, estão presentes dificuldades persistentes no tocante às

habilidades acadêmicas, que impactam no uso adequado e na relação entre os

grafemas e os fonemas, dificuldade para a decodificação de palavras isoladas,

compreensão da leitura, expressão escrita e ortográfica, raciocínio lógico-

matemático e aritmético.

Atualmente, os transtornos específicos da aprendizagem se encontram

subdivididos em dois grupos: os transtornos da aprendizagem não verbais e os

verbais. Os primeiros se caracterizam pela presença de dificuldades com a

percepção tátil, coordenação motora, conceitos matemáticos, compreensão de

leitura, percepção de formas espaciais. O segundo se caracteriza por dificuldades na

linguagem oral e escrita, na velocidade para realizar leituras, soletração, percepção

e processamento das informações visuais, auditivas e motoras.

Page 34: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

32

Figura 4 - Tipos de Transtornos Específicos da Aprendizagem

Fonte: CIASCA, 2015, p. 209.

Compreendendo o universo dos transtornos da aprendizagem, nos deteremos

à compreensão mais aprofundada da dislexia.

No início da investigação sobre as alterações decorrentes da dislexia, as

principais contribuições vieram de médicos oftalmologistas dos Estados Unidos da

América. No início do século XIX, foram identificadas pessoas que mesmo

apresentando níveis normais de inteligência, não conseguiam desenvolver

satisfatoriamente a leitura e a escrita (SNOWLING, 2004).

Posteriormente, no início do século XX, James Hinshelwood, cunhou o termo

“Cegueira Verbal Congênita”, considerando que este seria um problema orgânico,

hereditário e predominantemente presente em crianças do gênero masculino. Nesse

momento histórico, ao investigarem a origem do problema da “cegueira”, houve a

descoberta e a afirmação de que ele não se tratava de um problema ocular, mas no

funcionamento das áreas do cérebro responsáveis para decodificação da leitura

(SNOWLING; STACKHOUSE, 2004).

Em 1925, o médico Samuel Orton se interessou em descobrir quais eram as

razões que levavam à procura de atendimento psiquiátrico para crianças. Ele então

descobriu que os impedimentos para ler, soletrar e escrever eram as principais

Page 35: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

33

causas. Nesse sentido, Orton desenvolveu um estudo com cérebros humanos e com

isso formulou hipóteses determinantes para a explicação da ocorrência da dislexia,

bem como sobre estratégias para a diminuição das dificuldades.

Nesse contexto, a dislexia figurava como uma perturbação da linguagem,

marcada pela dificuldade em compreender ou em produzir a linguagem falada. Com

o passar do tempo, a dislexia foi se tornando mais conhecida e consequentemente

sendo mais estudada, de modo que, segundo Critchley (1985)

A World Federation of Neurology, em 1968, definiu dislexia como sendo o transtorno de aprendizagem da leitura que ocorre apesar de inteligência normal, de ausência de problemas sensoriais ou neurológicos, de instrução escolar adequada, de oportunidades sócio-culturais suficientes, além disso, depende da existência de perturbação de aptidões cognitivas fundamentais, freqüentemente de origem constitucional (CRITCHLEY, 1985).

Seguindo essa linha, a British Psychological Society (1999), apud Farrel

(2008, p. 25), esclareceu que “A dislexia é evidente quando a leitura e/ou ortografia

fluente e exata das palavras desenvolvem-se de modo incompleto ou com grande

dificuldade”.

Em todo o mundo a dislexia vem sendo investigada e a sua prevalência

sendo verificada. Segundo Salgado et al. (2006, p. 92)

Berger et al.(1975) realizaram um estudo na Inglaterra e verificaram que a dificuldade na aprendizagem da leitura ocorreu em 14,4% dos meninos e em 5,1% das meninas. Entretanto, em estudo posterior, sobre a freqüência dos problemas de aprendizagem na Ilha de Wight, ao sul da Inglaterra, verificaram que 5,6% dos meninos e 2,1% das meninas apresentavam problemas de aprendizagem na leitura em idade escolar. [...] Contrariamente ao que ocorre em países desenvolvidos, no Brasil, não há estimativa sobre prevalência da dislexia pelo fato de esta categoria diagnóstica de dificuldades de aprendizagem não se situar no sistema educacional; entretanto, segundo Ciasca et al. (2003), a inaptidão para a leitura afeta de 2 a 8% de crianças em escolas elementares do Brasil.

Há também estudos que apontam estatísticas com números ainda maiores.

Conforme Gutierrez (2010, p.9) “A prevalência de dislexia foi estimada em até 17%

na população mundial em idade escolar e, de modo geral, os transtornos de leitura

apresentam historicamente estimativas de prevalência de 10 a 15% na mesma

população”.

Page 36: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

34

Isto posto, os estudos científicos mais aceitos atualmente acerca das causas

da dislexia afirmam que ela não é decorrente da falta de interesse, de motivação, de

esforço ou de vontade do discente, e não está ligada à acuidade visual ou auditiva,

ou à qualquer tipo de deficiência sensorial. A dislexia é uma disfunção diretamente

relacionada à linguagem, caracterizada por dificuldades na decodificação de

palavras, devido à uma insuficiência no processamento fonológico não condizente

com o seu nível de desenvolvimento, idade e capacidade cognitiva (SNOWLING;

HULME, 2013; FARREL, 2008; SNOWLING, 2004; SNOWLING; STACKHOUSE,

2004; FONSECA, 1995).

Segundo a CID-10 e o DSM-5, instrumentos utilizados atualmente para a

classificação de doenças e transtornos, a dislexia é um Transtorno da Leitura

caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas.

Dessa forma, podemos afirmar que se trata de um transtorno específico das

habilidades de leitura, que sob nenhuma hipótese está relacionado à idade mental,

problemas de acuidade visual ou baixa qualidade do processo de escolarização. O

DSM-5 classifica ainda como critérios diagnósticos para o Transtorno da Leitura: a

leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço e a dificuldade para

compreender o sentido do que é lido.

Então, a dislexia se manifesta como a inabilidade na identificação de

palavras, decodificação fonológica, na ortografia e na aquisição da escrita e

aplicação segundo as regras da Língua utilizada. Vellutino e Fletcher (2013, p. 382)

explicam que “a dislexia costuma ser definida, no nível comportamental, como um

transtorno do desenvolvimento caracterizado por dificuldades significativas em

aprender a decodificar a escrita”. Com isso, o indivíduo passa a ter problemas para

compreender a língua, o vocabulário e até mesmo as regras gramaticais e assim

dificuldades para adquirir a consciência fonológica e ortográfica que ocasionam a

dificuldade na aquisição do conhecimento das regras ortográficas.

Vellutino e Fletcher (2013, p. 383) afirmam ainda que

transtornos em habilidades lexicais, como identificação de palavras e ortografia, juntamente com transtornos em habilidades afins, como a consciência fonológica que são observadas em crianças disléxicas no começo do desenvolvimento da sua capacidade de leitura, continuam a ser evidentes nos mesmos indivíduos até a idade adulta.

Page 37: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

35

Os indivíduos de risco para a dislexia são aqueles que, na infância, durante

o período em que se espera a ocorrência da alfabetização e a apropriação das

habilidades fonológicas, mesmo recebendo todos os estímulos adequados e

necessários ao seu desenvolvimento, tendo acesso à educação de qualidade e

materiais apropriados, não adquirem a habilidade de codificar e decodificar a

língua. Segundo Fadini e Capellini (2011, p.4)

Escolares, em fase pré-escolar ou nos dois primeiros anos de alfabetização, que apresentam desempenho abaixo do esperado se comparado ao seu grupo-classe nos fatores preditivos para o bom desempenho em leitura, como: conhecimento do alfabeto, nomeação automática rápida, repetição de não-palavras e habilidades de consciência fonológica. Estes escolares são denominados na literatura internacional como escolares de risco para a dislexia.

Tomando como princípio a ideia de que a compreensão e a comunicação do

discente são fundamentais para a qualidade da sua formação e posterior sucesso

profissional e que a presença da dislexia continua após conclusão do Ensino

Básico, visto que ela tem origem neurobiológica, faz-se essencial aprofundarmos

as discussões sobre o adulto com dislexia.

Nessas pessoas a dificuldade se perpetua durante a sua vida,

comprometendo diretamente o desenvolvimento escolar e posteriormente

acadêmico e até mesmo acarretando questões de cunho psicológico, como

ansiedade, angústia e depressão, atenuadas por tratamento adequado

(SNOWLING, 2004; MOOJEN, 2009).

Na área da Educação, a dislexia necessita ser mais estudada e aprofundada,

visto que mesmo com o avanço da ciência e de suas descobertas, ainda é grande o

número de pessoas sem diagnóstico que massificam as estatísticas do

analfabetismo funcional, assim como ainda é gritante o desconhecimento da

existência da dislexia e do que é necessário ser feito para desenvolver as

habilidades desses discentes.

No âmbito educacional, os debates sobre a dislexia ainda são escassos e a

identificação dos sinais no discente ainda é muito difícil, visto que eles podem ser

facilmente confundidos com defasagens no processo de escolarização e ensinagem,

além de muitas vezes serem negligenciados por docentes e familiares, que na

educação básica se voltam ao desenvolvimento cognitivo das crianças

preocupando-se com a aquisição de habilidades que envolvem pensamento,

Page 38: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

36

raciocínio, capacidade de resolução de problemas, abstração, memória, atenção e

criatividade. Com isso, nem mesmo quando o discente demonstra dificuldade no

decorrer do processo de alfabetização, pais e profissionais atentam para uma

possível presença da dislexia. Noutro viés, existe uma preocupação gerada em

decorrência da ênfase que é dada a determinados distúrbios na sociedade, que leva

muitos profissionais ao diagnóstico precoce.

A professora Maria Odete Silva em seu texto, “Necessidade Educativas

Especiais: da identificação à intervenção”, traz uma excelente discussão sobre a

importância da identificação na escola de sinais da presença de NEE para que se

tenha um trabalho desenvolvido a partir das necessidades específicas apresentadas

pelos discentes, no intuito de se alcançar a qualidade da educação. Segundo ela:

Relativamente à identificação, a mesma está condicionada à amplitude do conceito de “necessidades”, como já referi, a experiência profissional dos docentes, bem como ao contexto em que as dificuldades são percepcionadas. Definir o que é um bom aluno, um aluno médio, um aluno com dificuldades na aprendizagem e um aluno com dificuldades acima do que se considera aceitável, é algo muito subjectivo, que está correlacionado com a experiência que se vai tendo ao longo da carreira e com o contexto que a avaliação

se processa. (SILVA, 2009, p. 25).

De fato, no Brasil, esse problema é comum e a sua existência se deve

também à carência de discussões acerca dos transtornos específicos da

aprendizagem, especificamente sobre a dislexia, que ainda carecem muito de

ampliação e de aprofundamento. Prova disso é a escassez de publicações

científicas sobre adultos com dislexia, especialmente na área da Educação.

Entretanto, com a ampliação do acesso ao Ensino Superior as instituições

passaram a ter um maior número de matriculados com dificuldades para

compreender os objetivos esperados, e para desenvolver as habilidades requeridas

pelos docentes em decorrência da inabilidade com a leitura. (PERES; BALEN,

2013).

Nessa fase da escolaridade os discentes com dislexia costumam manifestar

lentidão e maior esforço durante a realização da leitura e, com isso, uma maior

necessidade de releitura, visto que não automatizam plenamente as operações

relacionadas ao reconhecimento de palavras. É comum também que eles evitem

realizar atividades que envolvam leituras, mesmo que elas sejam para o lazer e que

apresentem dificuldades tanto na pronúncia quanto na escrita de palavras

Page 39: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

37

polissílabas, de pouco uso ou que não fazem parte do seu vocabulário usual e ainda

inabilidade para fazer inferências a partir de textos escritos (MOOJEN, et al., 2016).

Acerca disso:

os estudantes com Dislexia sentem também maiores dificuldades na aquisição de competências de estudo. A este respeito as características mais salientes serão: a dificuldade em tirar apontamentos, escrever trabalhos, fazer revisões para momentos de avaliação ou compreender grandes quantidades de texto complexo

(ALVES et al. 2010, p. 5).

Com isso, a permanência do discente com dislexia na universidade se dá de

maneira mais ou menos dificultosa a depender do nível de compreensão acerca da

sua condição e das estratégias de enfrentamento adotadas como mecanismos

compensatórios, a exemplo do apoio no contexto e na memória mais do que em

estratégias analíticas para ajudar na identificação de palavras (MOOJEN, et al.,

2016; PERES; BALEN, 2013).

3.3. Da Educação Especial à Educação Inclusiva: os caminhos trilhados em busca

das garantias de direitos

As instituições de ensino brasileiras, desde a sua concepção, não foram

pensadas ou planejadas para acolher a todos independentemente. Ao longo da

história, observamos a busca pela uniformização do saber por meio de objetivos

traçados a partir de um “padrão de normalidade” (IMBERNON, 2000).

No Brasil, a implantação da Educação Especial iniciou-se com base no

modelo clínico, quando os médicos passaram a apontar a necessidade de

escolarização de pessoas com deficiência.

Mesmo o direito de Educação para todos sendo mundialmente expresso

desde a Declaração Universal de Direitos Humanos (BRASIL, 1948), somente com

as discussões sobre as garantias dos direitos sociais a partir dos anos 70 iniciou-se

a inserção desses discentes nas escolas regulares de ensino brasileiras (GLAT;

FERNANDES, 2005).

A Educação Especial trouxe à nossa sociedade a assertiva da necessidade

de constituir escolas que se abrissem e que acolhessem as diferenças, a fim de

Page 40: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

38

discentes com NEE passassem a ter acesso aos conhecimentos inerentes a todos

os seres humanos “estabelecendo-se linhas prioritárias baseadas na equiparão de

oportunidades das pessoas portadoras4 de necessidades especiais e a ideia de

igualdade de direitos” (STOBÄUS; MOSQUERA, 2003, p. 10).

No entanto, o conceito de integração permaneceu em uso por mais de duas

décadas, de modo que vivenciávamos um modelo segregado com a presença das

classes especiais, pensadas para as crianças consideradas indesejadas pela escola

comum, reforçando com isso a existência de um sistema paralelo de ensino dentro

das escolas. As crianças com NEE não conviviam com as demais e assim

permaneciam excluídas do meio social escolar (BUENO, 1993).

Com as mudanças no sistema político brasileiro e a decorrente promulgação

da Constituição da República Federativa do Brasil em 1988, instituída à luz dos

direitos fundamentais, o país passou a experimentar profundas mudanças quanto às

garantias de direitos.

Embasada em Princípios como o da Igualdade, presente em seu Artigo 5º, a

Constituição defende a igualdade de direitos e deveres garantidos à todos os

cidadãos de forma isonômica. Assim:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (BRASIL, 1988, p. 15).

Uma discussão importante trazida pelo Princípio da Igualdade é o

reconhecimento e a defesa de que as pessoas que se encontram em situações

diferentes, como as NEE, sejam tratadas de forma desigual. Nesse sentido, Nery

Júnior afirma que:

O princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual: Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades. (NERY JÚNIOR, 1999, p. 42).

4 Termo em desuso, substituído por “pessoas com”, desde a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2006).

Page 41: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

39

Em concordância a tal garantia, para Mantoan (2006, p. 16) “[...] a inclusão

propõe a desigualdade de tratamento como forma de restituir uma igualdade que

foi rompida por formas segregadoras de ensino especial e regular”.

Outro dispositivo extremamente relevante é o Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana. Trazido como essência axiológica pela Constituição Federal, este

Princípio a reveste de concepções que visam assegurar ao cidadão os seus direitos

fundamentais, os quais os diferenciam dos outros seres (KANT, 1993),

independentemente de qualquer requisito ou condição, e que, por sua vez devem

ser respeitados pela sociedade e pelo poder público, no intuito de valorizar o ser

humano.

Como esclarece Sarlet (2001, p.60):

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.

Assim, a partir da nossa Carta Magna podemos interpretar que é assegurada,

como uma garantia fundamental, a oferta da educação com qualidade para todos os

cidadãos, de modo que nele não haja distinção de condições para o aprender.

Em 1994, a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais

resultou em um dos documentos mais importantes para a defesa da Inclusão: a

Declaração de Salamanca, da qual o Brasil foi signatário. A partir deste ano, o

princípio da Escola Inclusiva5, fez o mundo começar repensar a Educação Especial.

A partir de então, houve grandes avanços na perspectiva de que a educação

precisa se reestruturar no sentido de oferecer um trabalho voltado para a

5 “O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade à todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola” (BRASIL, 1994).

Page 42: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

40

necessidade da criança. Com esse novo olhar todos se beneficiariam, visto que não

mais seriam obrigados a se adaptar a um sistema rígido que espera que “todos

caibam na mesma fôrma” (BRASIL, 1994). Com isso, todos os tipos de pessoas

passaram a ser levados em conta, desde negras, do gênero feminino, até as com

NEE ocorridas devido às deficiências, altas habilidades e outros (MARTINS, et al.,

2006).

O texto da Declaração de Salamanca deixa claro que o termo "NEE" faz

referência às condições originadas de deficiências ou de dificuldades de

aprendizagem. Este documento defende uma ressignificação das concepções

preestabelecidas tanto de sociedade quanto de organização da educação. Ele leva

em consideração a escola centrada no ser humano, onde todos estão juntos, em

igualdade de oportunidades.

Congruente aos documentes oficiais que a antecederam, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional nº9394/96 (LDB) surgiu como um grande avanço para

a Educação brasileira. Ela apresentou em seu texto o conceito ratificado de

educação para todos, como vemos em seu art. 3º, I: “O ensino será ministrado com

base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola”.

Nesse sentido, a fim de contemplar as demandas escolares, influenciada pelo

movimento pela Inclusão, a LDB definiu a Educação Especial como uma modalidade

de educação escolar, a qual deve perpassar todos os níveis da educação formal.

Inicialmente ela foi idealizada para prestar auxílio às pessoas com NEE,

assegurando a matrícula preferencialmente na rede regular de ensino e “currículos,

métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às

suas necessidades” (BRASIL, 1996, art. 59).

Na mesma linha de entendimento, o decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de

1999 regulamentou a lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que também ratifica o

conceito de Educação Especial.

Em seu art. 24, § 1o a educação especial é descrita como “a modalidade de

educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para

discente com NEE”, entre eles a pessoa com deficiência.

Em 2001 uma importante ferramenta para a inclusão da pessoa com dislexia

foi o Plano Nacional de Educação (PNE), visto que ele previu em seus objetivos que

em um prazo de dois anos, a contar da sua vigência, deveria estar em

Page 43: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

41

funcionamento o atendimento da totalidade dos egressos do ensino fundamental e a

inclusão dos alunos com defasagem de idade e dos que possuem NEE.

Nesse sentido, o capítulo 8 referente à Educação Especial do PNE (2001) em

suas diretrizes, objetivos e metas, definiu como deveria ser oferecida a educação

para esse público. No entanto, a realidade é que isso não se efetivou e o público dos

discentes com dislexia permaneceu à margem do contexto da Educação Especial.

Um importante documento para a normatização da Educação Especial na

Perspectiva Inclusiva foi a Resolução CNE/CEB nº 2/2001 (BRASIL, 2001), pois em

seu art. 5º esclareceu qual seria o público alvo da Educação Especial, englobando

nessa ocasião, discentes que durante o processo educacional, apresentassem:

I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis (BRASIL, 2001, p. 2).

Esse foi um grande avanço para o atendimento a essas pessoas, uma vez

que trouxe implicitamente a menção da dislexia agregada ao público alvo a ser

atendido pela Educação Especial.

Nesse sentido, objetivando agilizar o diagnóstico, o tratamento e o

acompanhamento da pessoa com dislexia, foi lançado o projeto de Lei nº 4248/04

(BRASIL, 2004), que buscava instituir o Programa de Identificação e Tratamento da

Dislexia na rede pública de ensino. Segundo este projeto, os educadores da rede

pública de ensino seriam permanentemente capacitados para identificar os sinais da

dislexia e posteriormente oferecer uma educação voltada para as necessidades

desses discentes. Ele previa, também, a criação obrigatória de equipes

multidisciplinares, compostas por psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos,

para o trabalho de prevenção e tratamento.

Outro dispositivo legal em defesa dos direitos dos discentes com dislexia é o

Projeto de Lei 7081/10 (BRASIL, 2010), que dispõe sobre o diagnóstico e o

tratamento do TDAH e Dislexia na Educação Básica. Este Projeto de Lei vem desde

então vagarosamente transitando nas esferas legislativas, de modo que desde

09/06/15, após a aprovação do seu Parecer na Comissão de Constituição e Justiça,

Page 44: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

42

aguarda a última aprovação na Câmara dos Deputados e posterior sanção da

Presidência da República.

No Ensino Superior verificamos também a preocupação em revisar e ampliar

os conceitos e o papel da universidade. Pires e Pires afirmam que

Esta preocupação com políticas de inclusão no ensino superior, em nosso país, é bem-vinda, e aponta para uma nova tendência de democratização do ensino superior em termos de atendimento à diversidade e à inclusão. Se tradicionalmente o debate e as práticas da educação inclusiva se realizavam, em grande maioria, no âmbito da educação básica, não se pode esquecer que o ensino superior é um espaço em que a inclusão é prevista em nossa legislação, e deve ser efetivada com oferta de condições de formação e qualidade para todos os estudantes do ensino superior (PIRES; PIRES, 2011, p. 129).

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (BRASIL,

2008) tem como matéria primordial a plena participação de todas as pessoas em um

mesmo ambiente escolar, na sala de aula regular.

Com isso, a nossa sociedade passou a ter como um desafio a total

modificação das estruturas educacionais e sociais, no sentido de incorporar a

compreensão de que todos, acima de tudo, são seres humanos plenos de direitos de

estar dentre as demais pessoas, independentemente das suas especificidades.

Os efeitos decorrentes dos movimentos favoráveis à Inclusão promoveram

um significativo impacto no modo de pensar da sociedade e, com isso, nas políticas

educacionais previstas para as pessoas com NEE, uma vez que esta população

sempre esteve à margem do sistema escolar. Isso trouxe ao Brasil acirradas

discussões quanto ao desafio de assegurar o acesso, a permanência e a conclusão

dos discentes nas instituições de ensino.

As tentativas de mudanças na organização pedagógica a fim de se alcançar,

por meio do paradigma inclusivo, a igualdade e a não discriminação na educação,

incumbiu às escolas o dever de adotar novos métodos de ensino que priorizassem o

processo de aprendizagem de seus alunos, independente das dificuldades,

potencialidades e limitações apresentadas por eles e a demonstrarem avanços rumo

ao entendimento de que o ensino com qualidade se deve também à resposta à

diversidade (MARTINS, et al., 2006).

Porém, na contramão das conquistas registradas em nossa história,

atualmente o Brasil passa por uma grande dificuldade quando nos referimos às

Page 45: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

43

garantias dos direitos das pessoas com transtornos específicos da aprendizagem,

visto que as poucas normatizações ainda existentes estão sendo suprimidas,

provavelmente por questões político-econômicas e de financiamento dos sistemas

de ensino, de modo que a oferta e a garantia legal de educação de qualidade para

todos e de AEE, no decorrer dos anos, experimenta um movimento de avanços e

retrocessos quanto à legislação em defesa dos direitos da pessoa com dislexia.

As perdas começaram a se expressar a partir dos documentos legais que

vêm no decorrer do tempo sofrendo impactantes modificações. A começar pela LDB

nº 9394/96 alterada por meio da Lei nº 12.796, de 2013. Esta ação gerou um grande

impacto no tocante às garantias de educação em igualdade de condições para as

pessoas com dislexia, já que excluiu expressamente a terminologia “NEE”,

substituindo-a por “deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação”. Com isso, as oportunidades que a elas eram

asseguradas se fragilizaram, como podemos constatar no art. 4º, III e principalmente

no capítulo V, o qual enfatiza que a educação especial é uma modalidade de ensino

ofertada “aos discentes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades ou superdotação” (BRASIL, 2013).

No entanto compreendemos que com o entendimento trazido pela nova

redação criou-se uma incoerência com relação aos propósitos de educação

igualitária e para todos propostos pela LDB nº 9394/96. Como a escola pode

assegurar as adaptações didático-pedagógicas aos discentes com dislexia? Se nos

aprofundarmos nesses questionamentos, qual seria o real motivo da exclusão das

NEE da Educação Especial?

O reflexo dessa decisão pode ser verificado nos demais instrumentos legais

nacionais como o novo Plano Nacional de Educação, que traz no Art. 8o estratégias

para o decênio de 2014 a 2024, conforme o exposto:

Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei.

§ 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos de educação estratégias que:

III - garantam o atendimento das necessidades específicas na educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, etapas e modalidades (BRASIL, 2014, p. 2).

Page 46: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

44

Além da involução exposta, que rogou aos discentes com dislexia a exclusão

do público alvo da Educação Especial, tais modificações provocaram um acirrado

debate, visto que no rol das metas propostas para os próximos dez anos tornou-se

claro o objetivo de “ressuscitar” as antigas classes especiais ao se permitir que a

Educação Especial possa ser ofertada também em instituições especializadas,

ferindo assim os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, que

enfatizam a ideia de inclusão nas escolas regulares.

Desse modo, a luta para a garantia efetiva dos direitos das pessoas com

dislexia ainda enfrenta um panorama de muitos entraves e desafios. Uma das

ferramentas que necessitam entrar em vigor é o Projeto de Lei nº 7081/10. Porém,

até que ela se transforme em Lei, permanecerão as polêmicas e discussões acerca

da oferta e garantias de serviços e de Atendimento Educacional Especializado às

pessoas com dislexia, de modo que a busca por adaptações educacionais

condizentes com as suas necessidades específicas permanece tendo como meio a

via judicial.

Destarte, acreditamos que a luta pela garantia do direito à inclusão de

pessoas com dislexia deve continuar. Para tanto, as suas entidades representativas

precisam buscar, a cada dia mais, a implementação das leis e da mudança de

atitudes da sociedade como um todo e principalmente da comunidade escolar e

acadêmica.

Coadunamos com as concepções de Mantoan (2006) ao afirmar que não

basta a aplicação da lei à discriminação a fim de fazer valer o direito à educação,

pois os discentes com dislexia carecem do aprofundamento do entendimento sobre

o que de fato significa igualdade e quais são os requisitos para que todos a

alcancem.

Entendemos a importância de “não universalizarmos as semelhanças, mas

nos aproximarmos criticamente das diferenças” (COSTA, 2014, p.4). Por isso, para a

efetivação da inclusão não é suficiente apenas a existência de leis, normas e

decretos que assegurem a presença desses discentes. Faz-se necessário pensar

também como garantir além do acesso, a permanência na universidade, sempre

com a preocupação de eliminar as barreiras existentes, estejam elas em qualquer

dimensão.

Page 47: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

45

3.4 O processo inclusivo institucional e o Núcleo de Acessibilidade da UFRN

A presente pesquisa foi desenvolvida no âmbito da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN, uma das maiores e mais importantes instituições de

Ensino Superior do Estado do Rio Grande do Norte. Em 2016, segundo dados do

relatório de gestão institucional, a UFRN se constituía de 84 cursos de graduação

presencial, 9 cursos de graduação a distância e 86 cursos de pós-graduação.

Segundo dados institucionais, as suas vagas são ocupadas por mais de 37.000

estudantes. Além disso, a Universidade conta com 3.146 servidores técnico-

administrativos e 2 mil docentes efetivos, além de docentes substitutos e visitantes6.

A história do Ensino Superior no RN se inicia ao final dos anos 50, do século

XX, por meio de uma solenidade realizada no Teatro Alberto Maranhão que reuniu

as diversas faculdades existentes na Cidade do Natal, instituindo assim a

Universidade do Rio Grande do Norte. Em 18 de dezembro de 1960 tal instituição foi

federalizada passando a ser denominada Universidade Federal do Rio Grande do

Norte - UFRN.

Desde então, a UFRN passou por diversas transformações, desde a

unificação das faculdades descentralizadas até o estabelecimento da atual estrutura

composta por Departamentos, Centros Acadêmicos, Unidades Acadêmicas

Especializadas e Núcleos de Estudos Interdisciplinares, os quais estão em pleno

funcionamento no Campus Central, localizado em Natal, e nos Campi do interior do

Estado, como o Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES (nas cidades de

Caicó e Currais Novos); Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi – FACISA (na

cidade de Santa Cruz) e a Escola Agrícola de Jundiaí – EAJ (na cidade de Macaíba).

Assim como no desenvolvimento de pesquisas ou ainda na escolha do

modelo de Gestão Pública, a UFRN foi uma das pioneiras na adoção de ações que

visam à inclusão educacional não só em atendimento aos dispositivos legais, mas

por considerar a inclusão como uma de suas políticas estruturantes.

O processo inclusivo na UFRN teve como marco inicial a criação de uma base

de pesquisa, vinculada ao atual Centro de Educação, sobre Educação de Pessoas

com NEE. Este foi um importante passo para o avanço das pesquisas no campo da

6 Fonte: https://sistemas.ufrn.br/portal/PT/institucional/historia/#.WHzBVFUrKUk.

Page 48: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

46

Educação Especial.

Por meio do Decreto nº 3.298/99, a Pró-Reitoria de Graduação – PROGRAD

junto à Comissão Permanente de Vestibular – COMPERVE, hoje denominada

Núcleo Permanente de Concursos, incluiu adaptações de provas e demais apoios

necessários aos candidatos com deficiência, no intuito de garantir o direito à

igualdade nos certames realizados pela instituição, visto que o ingresso de discentes

com NEE através do vestibular já vinha sendo registrado, mesmo que em

quantidade incipiente, desde os anos 90 do século XX. (UFRN, 1999).

Diante desse contexto e das discussões acerca da garantia do acesso à

educação para pessoas com NEE no Ensino Superior, houve o reconhecimento da

necessidade da criação de comissões, a fim de estruturar a política de inclusão na

UFRN. Essas ações foram institucionalizadas por documentos como a Portaria nº

203/10, a qual criou o Núcleo de Apoio a Estudantes com Necessidades

Educacionais Especiais, denominado Comissão Permanente de Apoio ao Estudante

com NEE – CAENE, vinculado à Reitoria e a Resolução n°193/2010 CONSEPE, que

dispõe sobre o atendimento educacional a estudantes com NEE na UFRN (UFRN,

2010).

A Resolução n°193/2010 (UFRN, 2010, p.13), elencou no art. 1º o seu

entendimento sobre NEE:

Para os efeitos desta Resolução, entende-se por estudante com necessidade educacional especial aquele com:

I - deficiência nas áreas: auditiva, visual, física, intelectual ou múltipla;

II - transtornos globais do desenvolvimento;

III - altas habilidades/superdotação;

IV - transtornos específicos.

Para os discentes com dislexia, a Resolução 193/2010, ao incluir os

transtornos específicos em seu público, significou um grande avanço em busca da

igualdade, pois trouxe a garantia da oferta de recursos e estratégias que

comtemplassem as necessidades específicas deste público.

O compromisso institucional constatado por meio das práticas de ações

inclusivas está presente também em documentos como o Plano de Desenvolvimento

Institucional – 2010 – 2019, o qual possui um capítulo específico acerca do

Atendimento às Pessoas com NEE. Nele está expresso:

Page 49: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

47

Eliminar toda e qualquer forma de barreira (seja ela pedagógica, ambiental, atitudinal, comunicacional, entre outras) tem sido uma ação permanente da instituição em prol da criação de uma cultura de respeito à diversidade, garantindo as condições de acessibilidade, de tecnologias apropriadas e de recursos humanos qualificados, de tal forma que possibilitem a construção de um modelo de política educacional inclusiva que atenda às NEE dos estudantes que demandarem por apoios específicos em sua formação acadêmica (UFRN, 2010, p. 70).

Em 2014, a PROGRAD, através da Resolução nº 171/2013 - CONSEPE

contemplou direitos aos discentes com NEE em um capítulo completo, integrante do

Regulamento dos Cursos Regulares de Graduação da UFRN. O art. 335, assegura:

I – atendimento educacional condizente com suas NEE;

II – mediadores para a compreensão da escrita e da fala nas atividades acadêmicas;

III – adaptação do material pedagógico e dos equipamentos;

IV – metodologia de ensino adaptada;

V – formas adaptadas de avaliação do rendimento acadêmico e de correção dos instrumentos de avaliação, de acordo com a NEE;

VI – tempo adicional de 50% (cinquenta por cento) para a realização das atividades de avaliação que tem duração limitada, conforme a NEE apresentada;

VII – possibilidade de solicitação de mudança de curso, em área afim, em caso de aquisição de deficiência permanente após o ingresso na universidade que inviabilize sua permanência no curso de origem, a ser analisada pela Câmara de Graduação após parecer favorável da CAENE (UFRN, 2013, p. 151).

A CAENE atualmente é formada por uma equipe interdisciplinar, composta por

dois docentes ocupantes da função de gestão. Compondo o corpo técnico-

educacional estão em atuação seis pedagogas, sendo duas sob o regime jurídico

estatutário e quatro sob o regime jurídico celetista7, via contratação temporária pela

Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura - FUNPEC8; duas psicólogas;

7 O contrato de profissionais sob o regime celetista visa ampliar a oferta de serviços pedagógicos, no tocante ao acompanhamento educacional dos discentes, orientação pedagógica aos docentes e a execução de projetos. 8A FUNPEC, como Fundação de Apoio, tem como função seguir em paralelo com a Universidade, com novas formas de gerenciamento em projetos e ao mesmo tempo se adequando as exigências dos Órgãos de Controle. Tem como missão estimular, apoiar e gerenciar atividades de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento científico, tecnológico e cultural, promovendo a integração entre a UFRN e a Comunidade, através de parcerias

Page 50: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

48

uma assistente social; três intérpretes de LIBRAS; um assistente em administração e

treze bolsistas vinculados ao Programa de Tutoria Inclusiva que, em parceria com a

equipe técnico-educacional, auxiliam no suporte aos discentes cadastrados.

Além do trabalho desenvolvido pela sua equipe, a CAENE realiza ações em

parceria com setores da instituição, como a BCZM, por meio do Laboratório de

Acessibilidade – LA; a Secretaria de Educação a Distância – SEDIS, através do

Setor de Acessibilidade; a Escola de Música, por intermédio do Setor de

Musicografia Braille e Apoio à Inclusão – SEMBRAIN, entre outros, a fim de dar

suporte à promoção da acessibilidade e à participação ativa dos discentes com NEE

nas atividades realizadas na Universidade.

A CAENE, como setor responsável pela implementação de ações que

viabilizem a inclusão, atualmente gere bolsas vinculadas a atividades como o

Programa de Tutoria Inclusiva, criado através do edital nº 002/2014, com o objetivo

de oferecer suporte acadêmico, além de auxiliar no cotidiano e nas relações

interpessoais no ambiente universitário; e a Bolsa Acessibilidade, instituída pela

Resolução nº 163/2014-CONSEPE/UFRN para atender aos discentes da UFRN,

matriculados em cursos de ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT), de

graduação e de pós-graduação, que apresentem algum tipo de deficiência, que

sejam acompanhados pela CAENE e que estejam em situação de vulnerabilidade

socioeconômica, com o intuito de facilitar a acessibilidade, permanência e conclusão

do curso em formação acadêmica com qualidade.

O trabalho realizado junto à comunidade, e especificamente aos discentes

com NEE, consiste no desenvolvimento de ações e estratégias que contemplam:

• orientações aos discentes com NEE, às coordenações de curso e aos

docentes quanto às adaptações didático-pedagógicas e organização de

componentes curriculares conforme as especificidades de cada aluno;

• planejamento das estratégias de ensino-aprendizagem a serem seguidas, em

parceira com o discente;

• encaminhamentos aos setores responsáveis por prestar outros tipos de apoio

como assistência estudantil ou suporte psicológico, conforme a demanda

apresentada;

com Instituições Públicas e Privadas (Fonte: http://www.funpec.br/site/index.php?url=./funpec_quem_somos.html).

Page 51: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

49

• empréstimos de recursos e materiais e/ou equipamentos, a fim de que os

discentes acompanhados que vivem em condições socioeconômicas

desfavoráveis possam realizar as suas atividades acadêmicas;

• oferta de adaptação dos materiais acadêmicos, feita no Laboratório de

Acessibilidade, para formatos como Braille, fonte ampliada, conversão par

PDF, Mp3, e outros conforme a necessidade de uso do discente;

• capacitação para uso das Tecnologias Assistivas;

• orientação e mobilidade para discentes com deficiência visual;

• disponibilização de intérprete de LIBRAS para atuação nas atividades

realizadas na Universidade.

Assim, as ações desenvolvidas pela CAENE quanto Núcleo de Acessibilidade

vão além do acompanhamento do desempenho acadêmico dos discentes por

intermédio de ações que objetivam a eliminação de barreiras atitudinais,

pedagógicas, arquitetônicas e comunicacionais a fim de promover o empoderamento

(FREIRE, 1979; 1981; 1987; FREIRE; SHOR, 1986) e a busca pelas garantias dos

direitos humanos, sociais e educacionais das pessoas com NEE, além de propiciar

condições para a diminuição das desigualdades.

Em relação às demandas atendidas pela CAENE contata-se, com base nos

dados obtidos nos arquivos do setor e no Sistema Integrado de Gestão de

Atividades Acadêmicas – SIGAA, que entre os anos de 2010 e 2016, a CAENE

atendeu a um total de 537 alunos. É importante ressaltar que este número não se

refere ao total de alunos com NEE matriculados na UFRN, mas apenas ao número

de discentes que solicitaram o apoio via SIGAA. Esta incongruência ocorre pelo fato

de que o cadastro não é compulsório. Para que o discente integre as estatísticas do

setor, ele necessita ter interesse em receber o acompanhamento educacional e, com

isso, realizar a solicitação de apoio via sistema acadêmico.

Page 52: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

50

Gráfico 1 – Ano de ingresso de discentes com NEE na CAENE (2010 a 2016)

Fonte: UFRN, 2016.

Um dado importante a ser observado no gráfico 1 é o crescente número de

discentes que solicitaram apoio no decorrer dos anos. Isso se deve,

consequentemente, tanto à efetivação das políticas de inclusão que viabilizaram o

acesso de pessoas com NEE ao Ensino Superior em todos os níveis de ensino,

desde a educação infantil até a pós-graduação, quanto ao fortalecimento dos

serviços oferecidos pela UFRN.

Esses discentes apresentam os mais diversos tipos de NEE, desde aquelas

causadas por deficiências, até as advindas de transtornos específicos da

aprendizagem, como a dislexia, conforme gráfico abaixo:

Page 53: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

51

Gráfico 2 – Tipo de NEE dos discentes acompanhados pela CAENE

CAENE

Fonte: UFRN, 2016.

Ao analisarmos o gráfico 2 constatamos que o trabalho realizado na UFRN

não se restringe apenas ao público alvo descrito na Política Nacional de Educação

Especial na perspectiva inclusiva (BRASIL, 2008). Ao contrário, na CAENE, são

levadas em consideração as necessidades individuais apresentadas por cada

discente, que geram dificuldades de cunho educacional, comprometendo o processo

de ensino-aprendizagem e rendimento acadêmico.

Com isso, o setor além de prestar o acompanhamento educacional aos

discentes com deficiência física, auditiva e visual; transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, acompanha discentes

cadastrados com transtornos específicos da aprendizagem, como dislexia,

discalculia, disortografia, disgrafia e discentes com transtorno do déficit de atenção,

com ou sem hiperatividade (TDA/H).

Uma grande parcela de atendimentos é voltada aos discentes cadastrados

que declaram outras condições que ocasionam NEE, como casos de doenças

crônicas, a exemplo de: doença renal crônica, artrite reumatoide grave, esclerose

Page 54: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

52

múltipla, dentre outras; ou ainda os casos de saúde mental, como a depressão, fobia

social, esquizofrenia e o transtorno de pânico.

Ao observarmos o público objeto desta pesquisa, os discentes com dislexia,

constatamos que entre os anos de 2010 a 2016, 75 alunos solicitaram apoio sob a

alegação da existência de transtornos específicos da aprendizagem, sendo que

destes, 35 especificaram ter o diagnóstico ou a hipótese da dislexia (UFRN, 2016).

Esse dado nos faz refletir acerca do provável número total de discentes da

UFRN que podem vir a ter este transtorno. Traçando um paralelo entre a

porcentagem de pessoas com dislexia em nossa sociedade, de 5% a 10% da

população e o número total de 37000 matriculados na UFRN, concluímos que o

número de 35 discentes cadastrados pode não refletir com fidedignidade o

panorama desse tipo de transtorno em nossa instituição (em tese este número

deveria ser ao menos de 1850 discentes).

Acreditamos que fatores como o desconhecimento do problema, o não

reconhecimento da condição vivida, principalmente pelo preconceito decorrente da

própria condição e a falta de iniciativa contribuem para a baixa procura pelo serviço

de apoio institucional. Outro fator que não podemos desconsiderar são as possíveis

dificuldades enfrentadas pelas pessoas com dislexia ocasionadas pela dificuldade do

acesso ao diagnóstico, fato que inviabiliza o direito de acesso às adaptações durante

a realização de processos seletivos, necessárias devido às características relativas

à própria escrita, a exemplo do que pode ocorrer nos exames do ENEM .

Tal constatação ratifica a relevância deste estudo e reforça a ideia de que a

dislexia ainda é um transtorno da aprendizagem pouco conhecido e divulgado em

nossa comunidade acadêmica, e ainda, insuficientemente reconhecido e debatido

como um dos causadores do insucesso escolar.

Page 55: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

53

PARTE II – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

4. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA REVISÃO DA

LITERATURA

Para a elaboração de uma pesquisa científica a revisão da literatura é

essencial para subsidiar o embasamento teórico e metodológico do trabalho. A

realização de uma ampla revisão confere ao texto um maior nível de qualidade e

fidedignidade.

Durante a construção desta dissertação optamos por fazer a revisão em duas

etapas a fim de mapear de forma mais abrangente a existência de publicações

acerca do adulto com dislexia.

Desse modo, realizamos a primeira etapa da pesquisa de revisão no primeiro

semestre de 2015, a partir da consulta dos bancos de dados: Banco de Teses Capes

e SciELO Brasil - Revista Brasileira de Educação Especial e Revista de

Psicopedagogia. Com isso constatamos que as discussões acerca da dislexia ainda

são escassas e as existentes em sua maioria estão voltadas ao campo das Ciências

da Saúde. Poucas são as publicações na área da Educação.

Para tanto, utilizamos como descritores de pesquisa os termos “dislexia” e

“adulto dislexia”. Como critério de exclusão, determinamos que fossem considerados

trabalhos relacionados com a área de conhecimento da “Educação”. Assim, a partir

da análise dos resumos, foram descartados os artigos que se referiam a outras

áreas que não esta, ou que não apresentavam a dislexia como tema principal de

estudo.

Por conseguinte, realizamos uma pesquisa mais ampla como segunda etapa

da revisão da literatura, de cunho internacional. Optamos como metodologia pela

revisão sistemática, a fim de executarmos uma verificação abrangente acerca das

publicações da área da Educação voltadas ao adulto com dislexia.

Para a identificação dos artigos, levamos em consideração a base de dados

Portal de Periódicos CAPES/MEC, visto que ela usualmente publica estudos

voltados para o campo da Educação. No entanto, a busca também foi feita no

Page 56: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

54

PubMed e LILACS a fim de resgatarmos também publicações que tenham relação

direta com a Educação.

Esta segunda etapa investigativa foi desenvolvida no primeiro semestre de

2016 e utilizou como descritores os termos “Dislexia”, “Dislexia educação”, “Adulto

dislexia” e os mesmos, desta vez em língua inglesa, “Dyslexia”, “Education Dyslexia”

and “Adult dyslexia”.

Os critérios para inclusão dos trabalhos foram: ter sido publicado entre os

meses de janeiro de 2011 e junho de 2016; abordar o adulto com dislexia na

perspectiva educacional; estar em formato de artigo e apresentar o texto completo

disponível nas fontes utilizadas.

Os trabalhos que abordam a dislexia no enfoque exclusivamente biológico

foram excluídos desta revisão.

Inicialmente excluímos os trabalhos publicados antes do período selecionado

para o estudo, teses, resenhas e artigos de jornal. Além disso, foram feitas leituras

dos títulos e dos resumos para verificar se os artigos se adequavam ao tema.

A segunda etapa, após a seleção inicial dos artigos, foi constituída pela

obtenção dos textos completos, leitura dos títulos e dos respectivos resumos.

A partir da análise dos resumos, excluímos os artigos que se referiam à

outras áreas que não a Educação ou que não apresentavam o adulto com dislexia

como tema principal de estudos. Os artigos que apareciam repetidamente nas

quatro bases de dados foram contabilizados apenas uma vez.

4.1 Resultados da Revisão da Literatura

Conforme do descrito nos procedimentos metodológicos, realizamos a revisão

da literatura em duas etapas. Durante a execução da primeira encontramos no

Banco de Teses Capes 29 artigos relacionados à dislexia, no entanto apenas 6

voltados para a área da Educação. Destes, 1 abordou adultos com dislexia. No

tocante ao segundo descritor, “adulto dislexia”, nenhum resultado foi encontrado.

Nessa revisão, no Banco de Teses CAPES, até o presente momento, após a

aplicação dos critérios de exclusão, os seis trabalhos encontrados relacionados à

Page 57: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

55

Educação sobre a dislexia, dividiram-se em quatro dissertações de mestrado e duas

teses de doutorado.

A tabela 1 apresenta a distribuição das pesquisas encontradas em nível de

pós-graduação stricto-sensu, de acordo com o tipo de pesquisa, autor, tipo de

publicação e ano de publicação, sendo possível observar que as publicações se

concentraram entre os anos de 2011 e 2012.

Tabela 1 – Caracterização da pesquisa: tipo de pesquisa, autor, tipo de publicação e ano de

publicação.

BANCO DE TESES CAPES

Título da Pesquisa Autor Tipo de

publicação

Ano de

publicaçã

o

Expressão da linguagem

escrita por disléxicos adultos

em processo seletivo

SACCHETTO,

Karen Kaufmann.

Mestrado

Acadêmico 2012

Análise do desempenho em

leitura e em provas de

habilidades metalinguísticas de

crianças com diagnóstico de

dislexia

CAMPOS, Ana

Maria Gomes.

Mestrado

Acadêmico 2012

Dislexia: a produção do

diagnóstico e seus efeitos no

processo de escolarização

BRAGA, Sabrina

Gasparetti.

Mestrado

Acadêmico 2011

Instrumento de avaliação

metafonológica para

caracterização de escolares

com dislexia, transtorno e

dificuldades de aprendizagem

GERMANO, Giseli

Donadon. Doutorado 2011

Page 58: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

56

Dislexia e escola: um olhar

crítico sobre a equipe

multidisciplinar e sua relação

com as práticas pedagógicas

tendo como foco o docente

VASCONCELOS,

Diva Helena Frazao

de.

Mestrado

Acadêmico 2011

Alafabestização: perspectivas

da articulação sujeito e escrita.

FRAGELLI, Ilana

Katz Zagury. Doutorado 2011

No SciELO Brasil, foram observadas duas de suas publicações: a Revista

Brasileira de Educação Especial e a Revista de Psicopedagogia.

Na primeira, a Revista Brasileira de Educação Especial, encontramos apenas

1 resultado. Já na Revista Psicopedagogia, nos deparamos com 35 resultados. No

entanto, apenas treze estão relacionados com a Educação.

Então, para melhor exposição das pesquisas publicadas nas bases de dados

já comentadas, elas foram listadas na tabela 2, exposto abaixo:

Tabela 2 - Caracterização da pesquisa: tipo de pesquisa, autor, tipo de publicação e ano de

publicação.

REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Identificação de alunos em risco de apresentarem dislexia:

um estudo sobre a utilização da monitorização da fluência

de leitura num contexto escolar.

MENDONÇA, Rosa Filipa Ferreira de;

MARTINS, Ana Paula Loução Artigo 2014

REVISTA PSICOPEDAGOGIA

A importância do estímulo precoce em casos com risco para

dislexia: um enfoque psicopedagógico.

CARIDÁ, Déborah Alcântara Prósperi;

MENDES, Mônica Hoehne Artigo 2012

A consciência fonológica, a consciência lexical e o padrão

de leitura de alunos com dislexia do desenvolvimento.

CAMPOS, Ana Maria Gomes, PINHEIRO,

Luciana Ribeiro; GUIMARÃES, Sandra Regina

Kirchner

Artigo 2012

Análise da produção escrita de crianças com dislexia do

desenvolvimento submetidas a intervenção fônica

computadorizada.

OLIVEIRA, Darlene Godoy de et al..... Artigo 2012

Habilidades metalinguísticas no processo de alfabetização

de escolares com transtornos de aprendizagem.

CUNHA, Vera Lúcia Orlandi; CAPELLINI,

Simone Aparecida Artigo 2011

Page 59: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

57

Desenvolvimento de ferramentas pedagógicas para

identificação de escolares de risco para a dislexia.

ANDRADE, Olga Valéria Campana dos Anjos,

PRADO, Paulo Sérgio Teixeira do;

CAPELLINI, Simone Aparecida

Artigo 2011

Dislexia, cognição e aprendizagem: uma abordagem

neuropsicológica das dificuldades de aprendizagem da

leitura.

FONSECA, Vitor da. Artigo 2009

Alterações ortográficas: existem erros específicos para

diferentes transtornos de aprendizagem? ZORZI, Jaime Luiz; CIASCA, Sylvia Maria Artigo 2009

Dislexia: atitudes de inclusão. ROCHA, Maria Angélica Moreira et al..... Artigo 2009

Crianças que escrevem, mas não lêem: dificuldades iniciais

na alfabetização.

CRUZ, Michelle Brugnera; COSTA, Adriana

Corrêa Artigo 2008

Desempenho na resolução de problemas envolvendo o

conceito aditivo em sujeitos com dislexia do

desenvolvimento.

CALDONAZZO, Anelise et al. Artigo 2006

Conhecimento de letras, sílabas e palavras por escolares

de 1º e 2º anos do ensino fundamental.

MORAES, Mayara Pessoa de; CAPELLINI,

Simone Aparecida Artigo 2010

Dislexia e disgrafia: dificuldades na linguagem. CALDEIRA, Elisabeth; CUMIOTTO, Dulce

Maria Lázzaris de Oliveira Artigo 2004

Dislexia e processamento sintático. MENDES, Luciana, MAIA, Marcus; GOMES,

Gastão Coelho Artigo 2010

Com essa análise no Banco de Teses Capes e no SciELO Brasil,

constatamos que o número de publicações acerca da dislexia ainda é reduzido,

especialmente quando assumem o enfoque educacional. Anualmente são

publicados poucos estudos. Prova disso é que encontramos apenas um em 2004,

um em 2006, um em 2008, três em 2009, dois em 2010, seis em 2011, cinco em

2012 e um em 2014. Além disso, a literatura presente nas bases de dados

consultadas, em sua maioria, inquire apenas a presença da dislexia em crianças, ou

ainda os desdobramentos deste transtorno na Educação Básica. Esse fato é

intrigante, visto que ainda há poucos trabalhos relacionados ao tema se comparado

à importância que ele apresenta para a Educação.

Ao refletirmos acerca dos resultados obtidos na segunda etapa da

investigação, a da revisão sistemática, encontramos como resultados, no Portal de

Page 60: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

58

Periódicos CAPES / MEC, um total de 1576 publicações com data de publicação a

partir de 2011 até 2016, sendo 191 para o primeiro descritor – “dislexia”. No tocante

ao segundo descritor, “Dislexia educação”, listamos inicialmente 40 estudos. Destes

16 deles foram escolhidos. Para o descritor “Adulto dislexia”, 06 trabalhos foram

encontrados, no entanto apenas um deles atendeu aos requisitos esperados. A

pesquisa do descritor “Adult dyslexia” ofereceu 1141 indicações. Destas, 12 artigos

foram selecionados.

Já a pesquisa realizada no PubMed apontou um total de 2440 publicações,

sendo 05 delas encontradas por meio do descritor “Dislexia”; 02 “Dislexia educação”;

2417 “Adult dyslexia”.

A investigação também ocorreu no índice Lilacs. Utilizamos os descritores

elencados. No entanto, após a aplicação dos critérios delimitados, não foram

encontrados resultados que atendessem a todos os critérios.

Assim, a busca inicialmente trouxe como resultados um total de 4.016 artigos.

No entanto, após a aplicação dos critérios de inclusão e do critério de exclusão,

selecionamos para leitura completa um total de 11 artigos.

Quadro 1 – Demonstrativo da evolução da revisão sistemática

Descritores Total de

trabalhos

encontrados

Trabalhos pré-

selecionados

Artigos

descartados

após análise do

resumo (não

atenderam aos

critérios)

Artigos

analisados

Dislexia 196 25 23 02

Dislexia

educação

42 15 15 0

Adulto dislexia 06 1 1 0

Adult dyslexia 3.558 127 118 09

Education

Adult Dyslexia

214 04 04 0

TOTAL 4.016 172 161 11

Page 61: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

59

Quadro 2 – Caracterização da pesquisa: título do artigo, autor e ano, local de realização do estudo, metodologia e conclusão.

Título do artigo Autor Ano

Local de

realização

do estudo

Resumo da produção Conclusão

Dyslexia,

dyspraxia, and

ADHD in adults:

what you need to

know

Moody, Sylvia 2014 Reino Unido

Estudo comparativo entre a

dislexia, a dispraxia e o TDA/H

na idade adulta, com a

exposição das características

específicas de cada um dos

transtornos.

A conclusão do artigo traz

orientações voltadas para a

avaliação e o desenvolvimento de

habilidades para cada caso.

Encoding order

and

developmental

dyslexia: A family

of

skills predicting

different

orthographic

components

Romani,

Cristina;

Tsouknida,

Effie; Olson,

Andrew

2014 Reino Unido

Os participantes explicaram o

significado de palavras faladas

de complexidade crescente

(cada vez menos frequente e

mais abstrato). No subteste,

foram também convidados a

explicar de que forma duas

palavras poderiam ser

consideradas semelhantes.

Quanto à leitura do texto, os

Os resultados indicam que diferentes

habilidades identificadas na pessoa

com dislexia trazem diferentes

aspectos do processamento

ortográfico e são prejudicadas em

graus diferentes. Com isso, a dislexia

do desenvolvimento não é causada

por uma única deficiência, mas por

um conjunto de déficits vagamente

relacionados a cada dificuldade.

Page 62: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

60

participantes foram convidados

a ler uma passagem o mais

rápido e mais exato possível.

Eles tiveram 10 minutos para

ler uma passagem e responder

a nove questões de múltipla

escolha. O desempenho foi

medido pelo número de

respostas corretas.

Foram utilizadas três listas. No

total, 225 palavras e 80

pseudopalavras foram

apresentadas.

The effects of

orthographic

transparency and

familiarity

on reading

Hebrew words in

adults

with and without

Yael, Weiss;

Tami, Katzir;

Tali, Bitan.

2015 Israel

Foi empregado um teste oral

de nomeação (Burani et al.

2008;. Koriat de 1984, 1985).

O experimento foi apresentado

aos participantes juntamente

com 56 outras palavras

semelhantes em duração e

frequência.

O estudo concluiu que os leitores

disléxicos são mais vulneráveis do

que os leitores típicos à redução da

familiaridade da representação

ortográfica e eles se beneficiam

menos da redução da concorrência

ortográfica. Conforme a hipótese da

Qualidade Lexical de Perfetti (2007),

Page 63: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

61

dyslexia Os estímulos foram realizados

por meio de um monitor de

computador, e os participantes

realizaram a leitura em voz

alta, enquanto que as

respostas orais e tempos de

reação foram registrados

utilizando uma chave ativada

por voz.

A apresentação da palavra

subsequente foi desencadeada

pelos participantes quando

eles estavam prontos.

um déficit primário no processamento

fonológico dificulta a capacidade de

realizar representações ortográficas

durante a aquisição da leitura.

Tanto a transparência ortográfica

como a familiaridade desempenham

um papel importante no

reconhecimento de palavras. As

pessoas dislexia são prejudicadas na

decodificação de unidades menores

e são mais sensíveis à redução na

familiaridade das palavras.

Reading

difficulties in

Spanish adults

with dyslexia

Suárez-Coalla,

Paz; Cuetos,

Fernando

2015 Espanha

Trinta adultos com dislexia (10

do sexo masculino) e 30

controles (10 do sexo

masculino), foram organizados

por idade, sexo, status

socioeconômico e nível de

escolaridade. Todos eles

tinham o ensino médio

Os resultados mostraram que os

espanhóis com dislexia com alto

nível educacional apresentaram

desempenho significativamente pior

que o grupo controle na maioria das

tarefas. Especificamente, eles

mostraram dificuldades em ler

pseudopalavras longas, indicando

Page 64: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

62

completo ou um diploma

universitário.

Foram realizadas diferentes

tarefas experimentais, a fim de

se investigar as competências

relacionadas com a leitura, tais

como: consciência fonológica e

nomeação automática rápida;

tarefas de decisão lexical

(testou-se a habilidade de

reconhecer palavras reais, isto

é, para processar

representações ortográficas),

palavras e pseudopalavras

durante a leitura (examinou-se

a fluência, duração da leitura e

dedução da estratégia de

leitura usada); tarefa de

detecção (explorou-se o uso de

estratégias de série quando se

olha para uma letra dentro de

problemas na automatização das

regras grafema-fonema. Apresentam

também dificuldades em ler palavras,

que indicam problemas com a rota

lexical. Os adultos espanhóis com

dislexia continuam tendo dificuldades

em tarefas de consciência

fonológica, nomeação rápida e

leitura.

Page 65: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

63

uma palavra) e leitura em voz

alta um texto (examinou as

dificuldades de leitura no

contexto).

Neurociencia y

Educación:

¿podemos ir de

la investigación

básica a su

aplicación? Un

posible marco de

referencia desde

la investigación

en

dislexia

Goswami,

Usha 2015

Colegio

Oficial de

Psicólogos

de Madrid,

Espanha.

Artigo elaborado com base na

conferência de Inauguração do

Centro de Educação Cerebral

em Londres. Propõe-se a

revisar os conhecimentos

advindos de pesquisas

educacionais e psicológicas

acerca da leitura e seu

desenvolvimento. Reflete sobre

os processos sensoriais

básicos e os prováveis fatores

de desenvolvimento

identificados por essas

investigações. Descreve os

modelos básicos de

processamento sensorial que

considera relevantes para a

Conclui que a neurociência fornece

ideias e métodos muito relevantes

para testar a eficácia de abordagens

educacionais e pedagógicas com

foco na importância da linguagem

oral.

Page 66: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

64

compreensão do

desenvolvimento da linguagem

e mostra como esses modelos

podem ser sistematicamente

aplicados ao estudo de fatores

causais de desenvolvimento.

Propõe métodos de ensino

eficazes no ensino da leitura.

Expõe um enquadramento

possível para a ligação da

pesquisa básica em

neurociência e as questões

pedagógicas em educação.

Perspectivas

docentes sobre la

dislexia em uma

universidad

griega: um

estudio piloto

Stampoltzis,

Aglaia; Tsitsou,

Elizavet; Plesti,

Helen; Kalouri,

Rani.

2015 Atenas,

Grécia

O artigo explora por meio de

um estudo piloto, as atitudes,

opiniões e experiências dos

docentes de uma faculdade

grega acerca dos discentes

com dislexia.

Adotou-se o método Survey

para entrevistar 19 de 187

Há o reconhecimento da importância

da prática de atitudes positivas e,

principalmente, o verdadeiro

interesse no desenvolvimento

acadêmico do aluno com dislexia.

Além disso, há também a

preocupação sobre a "equidade" do

ensino e outros aspectos

Page 67: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

65

docentes de uma pequena

universidade grega.

Os dados foram coletados por

meio da aplicação, junto aos

docentes, de um questionário

composto por três partes. Este

investiga a matrícula, o

conhecimento sobre o tema e

quais as metodologias

adotadas para o trabalho junto

ao aluno com dislexia.

organizacionais garantidos a esse

público.

Dyslexia Impairs

Speech

Recognition but

Can Spare

Phonological

Berent, Iris;

Vaknin-

Nusbaum,

Vered;

Balaban, Evan;

Galaburda,

Albert M.

2012

University of

Haifa, Haifa,

Israel

A pesquisa ocorreu com uma

amostra de 24 discentes com

dislexia, os quais

apresentaram um diagnóstico

documentado de dislexia,

emitido por um médico

certificado. Os participantes,

tanto com dislexia quanto os

do grupo controle, eram

falantes nativos do hebraico,

Conclui-se que o contraste entre as

capacidades fonéticas e fonológicas

desses indivíduos demonstra que o

mecanismo algébrico que gera

padrões fonológicos é distinto da

interface fonética que os

implementa. Enquanto a dislexia

compromete o sistema fonético,

alguns aspectos centrais da

gramática fonológica podem ser

Page 68: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

66

estudantes da Universidade de

Haifa.

Os materiais experimentais

consistiam-se por 90 palavras

hebraicas e 90 não-palavras.

poupados.

Metacognition for

Spelling in Higher

Education

Students

with Dyslexia: Is

There Evidence

for the Dual

Burden

Hypothesis?

Tops, Wim;

Callens,

Maaike;

Desoete,

Annemie;

Stevens,

Michael;

Brysbaert,

Marc.

2014 Holanda

O estudo foi parte de um

programa de pesquisa maior,

no qual também se analisou o

perfil cognitivo dos discentes e

seus perfis de

personalidade. O grupo

consistiu de 100 estudantes

diagnosticados com dislexia e

um grupo controle de 100

estudantes sem dislexia ou

outros distúrbios neurológicos

ou funcionais

conhecidos. Todos tinham

visão normal ou corrigida para

o normal e eram falantes

nativos de holandês. Foram

Conclui-se que o sentimento de

confiança dos discentes com dislexia

é tão bom como o dos seus

pares sem dislexia. Estas

descobertas vão contra a teoria

dupla carga (Kruger & Dunning,

1999), que assume que pessoas

com este problema sofrem duas

vezes como resultado da

competência metacognitiva

insuficientemente desenvolvida.

Page 69: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

67

utilizados dois subtestes

do Teste de Leitura Avançada

e Ortografia voltados para o

diagnóstico de dislexia em

adultos (jovens) de língua

holandesa. Eles analisam a

ortografia de palavras e a

capacidade de detectar erros

em sentenças.

Do Students with

Dyslexia Have a

Different

Personality

Profile as

Measured with

the Big Five?

Tops, Wim;

Verguts, Ellen;

Callens,

Maaike;

Brysbaert,

Marc.

2013 Bélgica

Explora o perfil de

personalidade de estudantes

de ensino superior com dislexia

e em que medida isso poderia

ser diferente de seus colegas

sem dislexia. Compara o perfil

de personalidade de um grupo

de 100 estudantes falantes de

língua holandesa com dislexia

com o de um grupo de controle

de 100 discentes sem

dificuldades de aprendizagem.

O estudo não demonstrou diferenças

na personalidade entre os dois

grupos. Isto concorda com a recente

meta-análise dos resultados Inglês

(Swanson & Hsieh, 2009), sugerindo

que os discentes com dislexia não

percebem-se diferentemente do que

seus pares não-disléxicos,

implicações práticas e orientações

para futuras pesquisas são

considerados.

Page 70: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

68

History of

Reading

Struggles Linked

to Enhanced

Learning in Low

Spatial

Frequency

Scenes

Schneps,

Matthew H.;

Brockmole,

James R.;

Sonnert,

Gerhard;

Pomplun,

Marc.

2012

Estados

Unidos da

América

Investiga a hipótese de que

trazem equívocos quanto à

dislexia, pois exageram nos

déficits de atenção focal

conhecidos na dislexia e que,

se as cenas naturais fossem

usadas como contexto, as

vantagens emergiriam. Houve

a comparação entre

estudantes universitários com

histórias de graves dificuldades

de leitura ao longo da vida e

leitores típicos em contextos

que variam a carga de

atenção.

Conclui com a explicação de que os

achados sugerem que a percepção

ou memória para componentes de

baixa frequência espacial é

aumentada na dislexia. Esses

achados são importantes porque

sugerem pontos fortes para a

aprendizagem para a população de

outra forma prejudicada, levando

implicações para a educação e para

o apoio dos discentes que enfrentam

desafios na escola.

Metacognition

and Reading:

Comparing

Three Forms of

Metacognition in

Normally

Furnes, Bjarte;

Norman,

Elisabeth.

2015

Estados

Unidos da

América

O estudo é o primeiro a

comparar especificamente as

três formas de metacognição

em pessoas com dislexia (N  =

22) em comparação com

leitores normais (N  = 22). Os

Os resultados indicaram que os

problemas de leitura e ortografia de

disléxicos não estão geralmente

associados a níveis mais baixos de

conhecimento metacognitivo,

estratégias metacognitivas ou

Page 71: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

69

Developing

Readers and

Readers with

Dyslexia

participantes leram dois textos

factuais, com resultados de

aprendizagem medidos por

uma tarefa de memória. O

conhecimento e as habilidades

metacognitivas foram avaliados

por auto-relato. As

experiências metacognitivas

foram medidas por predições

de desempenho e julgamentos

de aprendizagem.

sensibilidade a experiências

metacognitivas em situações de

leitura.

Page 72: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

70

Constatamos que, até o momento, as discussões acerca da dislexia ainda são

escassas e em sua maioria estão voltadas ao campo das Ciências da Saúde.

Poucas são as publicações na área da Educação. Assim, o baixo número de artigos

cujos autores se dedicam à área educacional comprova a necessidade de ampliação

dessa discussão. Mais urgente ainda se faz o estudo sobre a dislexia no adulto,

especialmente sobre a sua presença no Ensino Superior.

Page 73: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

71

5. O CONTEXTO DA PRODUÇÃO INVESTIGATIVA

Na pesquisa científica, o método “significa a escolha de procedimentos

sistemáticos para a descrição e aplicação dos fenômenos” (RICHARDSON, 1985,

p.29). Nesse sentido, no presente estudo houve o cuidado de se escolher um

método que possibilitasse o acesso direto às informações, experiências e interações

em seu contexto natural.

O delineamento metodológico adotado para o desenvolvimento desta

pesquisa constitui-se em uma abordagem qualitativa desenvolvida por meio de um

Estudo de Caso que buscou investigar a trajetória escolar de discentes com dislexia

atendidos pela CAENE. Este enfoque metodológico possibilitou a compreensão

aprofundada das relações desse grupo social no âmbito da universidade

pesquisada.

Segundo Minayo (2001, p.14)

A pesquisa qualitativa trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Em face do exposto, abordamos o objeto de estudo analisando-se as

experiências relacionadas ao cotidiano dos universitários com dislexia, considerando

as suas interações e comunicações (FLICK, 2009).

Em relação aos objetivos, a pesquisa se mostrou exploratória tendo em vista

o seu pioneirismo quanto à temática da dislexia em adultos e em contexto

universitário, possibilitando o desenvolvimento e o avanço de conhecimentos nessa

área, ainda bastante escassa, inclusive no Brasil.

Entendemos, assim, que esta proposta está fundamentada na latente

necessidade de se conhecer e compreender, como os discentes com dislexia da

UFRN desenvolvem a sua trajetória acadêmica neste contexto, a fim de trazer

contribuições e questionamentos através da utilização de ferramentas científicas que

alicerçam a realização de uma pesquisa aprofundada.

Fonseca (2002, p. 11-12) nos diz que a ciência:

É o saber produzido através do raciocínio lógico associado à experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos

Page 74: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

72

de observação, identificação, descrição, investigação experimental e explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Regras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ciência não é o de descobrir verdades ou de se constituir como uma compreensão plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório, que facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre eles.

Este trabalho pautou-se no estudo de caso empreendido através da

realização de encontros com uma amostra de alunos com dislexia da UFRN que são

atendidos pela CAENE. Com base na aplicação de questionários e entrevistas

semiestruturadas, eles objetivaram encontrar as respostas à questão levantada.

Nesta pesquisa utilizamos o método exposto como um instrumento de

descoberta e análise do processo inclusivo do discente da UFRN com dislexia. Em

pesquisas dessa natureza temos como objetivo proporcionar maior familiaridade

com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Gil

(1994) explica que “a grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento

bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o

problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão".

Assim, a análise dos dados coletados deverá suscitar o entendimento dos

aspectos empíricos da pesquisa, os quais sedimentarão e articularão o processo de

formulações teóricas e, por conseguinte das respostas ao problema levantado.

Consoante aos objetivos apresentados neste projeto, buscamos alcançar

resultados que nos proporcionem conhecer e categorizar os alunos com dislexia com

base nas variáveis apresentadas pelos alunos, pois acreditamos que um dos

principais elementos no processo de pesquisa é o uso de variáveis que nos

permitem medir as relações entre os fenômenos, testar hipóteses e estabelecer

generalizações (TRIVIÑOS, 1987).

Page 75: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

73

5.1 Participantes da pesquisa

Para a escolha dos participantes desta pesquisa os seguintes critérios de

inclusão e exclusão foram adotados:

5.2 Critérios de inclusão

Discentes regularmente matriculados em cursos de graduação ou pós-

graduação da UFRN que declararam possuir transtornos específicos da

aprendizagem, com diagnóstico interdisciplinar de dislexia, cadastrados e

acompanhados pela CAENE; que aceitaram participar voluntariamente do estudo e

que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE

E).

5.3 Critérios de exclusão

Discentes que não desejaram participar voluntariamente da pesquisa;

faltaram três vezes consecutivas sem justificativa quando convocados e

apresentaram somente hipótese diagnóstica de dislexia.

Após a realização de uma análise no banco de dados da CAENE,

contemplando os critérios acima referidos, foram selecionados cinco participantes

(tabela 3) sendo 4 (quatro) de cursos de Graduação: Engenharia Mecânica, Ciências

e Tecnologia, Fonoaudiologia e Educação Física; e 1(um) de Pós-graduação Stricto

Sensu - Doutorado em Educação. A distribuição da faixa etária está entre 22 e 46

anos de idade, sendo a maioria do gênero masculino.

Esclarecemos que para fins de confidencialidade e de preservação da

identidade dos participantes os seus nomes foram substituídos por outros fictícios,

escolhidos aleatoriamente.

Page 76: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

74

Tabela 3 - Caracterização dos participantes da pesquisa segundo idade, gênero e curso

matriculado na UFRN.

PARTICIPANTE IDADE GÊNERO CURSO

João 46 M Engenharia Mecânica

Laura 30 F Doutorado em Educação

Paulo 26 M Fonoaudiologia

José 24 M Ciências e Tecnologia

Marcos 22 M Educação Física

5.4. Instrumentos de busca da empiria

Para coleta de informações a pesquisa utilizou quatro instrumentos que

embasaram a obtenção dos resultados. São eles: a entrevista semiestruturada

(ANEXO B), o Questionário História de Leitura – QHL, segundo Alves e Castro, 2003

(ANEXO C); a Escala para Avaliação de Reconhecimento de Palavras – EARP de

Caliatto e Martinelli, 2005 (ANEXO D) e a Produção textual escrita por meio de

ditado livre.

5.4.1 A entrevista semiestruturada

Conforme Triviños (1987, p. 146) “a entrevista semiestruturada tem como

característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses

que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dariam frutos a novas

hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria

colocado pelo investigador-entrevistador”. Permite recolher informação rica, em

certos casos com bastante profundidade.

Neste tipo de entrevista é possível a obtenção de informações por meio de

um instrumento que possui questões predefinidas, que servem como direcionamento

para o trabalho, mas, ao mesmo tempo, conferem liberdade para que outras

Page 77: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

75

perguntas sejam realizadas, a fim de elucidar dúvidas ou de complementar

informações essenciais à pesquisa Manzini (1991).

O roteiro para entrevista utilizado nesta pesquisa se trata de um instrumento

já em uso no atendimento aos discentes com NEE na CAENE. Ele é composto por

30 questões abertas, 8 semiabertas e 5 fechadas distribuídas em oito partes: a)

dados pessoais do discente; b) aspectos gerais; c) aspectos cognitivos; d) aspectos

socioafetivos; e) aspectos da linguagem oral e escrita; f) dados escolares; g) dados

do ingresso na UFRN e, por fim, h) dados sobre a permanência na instituição.

A entrevista semiestruturada difere do QHL, por se configurar como um

instrumento que traz como diferencial a oportunidade de estabelecermos hipóteses

iniciais para as motivações implícitas das atitudes e comportamentos dos discentes

através da interação que passamos a estabelecer com eles. Este contato menos

estruturado nos permite estabelecer uma relação de confiança, fato que favorece o

acompanhamento do discente. Além disso, por ter uma estruturação mais flexível,

nos permite a investigação dos questionamentos, de modo a conseguir a

complementação das respostas dadas por escrito. Com isso, nos aprofundamos nos

questionamentos e passamos a compreender as nuances que permeiam a vida dos

discentes.

5.4.2 Questionário História de Leitura - QHL

O QHL (ALVES E CASTRO, 2003) consiste em uma entrevista individual

semiestruturada composta por perguntas fechadas e abertas sobre os sinais

associados à dislexia, verificados a partir da história escolar e da relação do discente

com a leitura e a escrita. As perguntas presentes no QHL têm como objetivo

averiguar a presença de sinais associados à dislexia e a frequência de determinadas

práticas de leitura e compreensão do texto no decorrer da vida dos discentes. É um

instrumento de investigação de dificuldades expressas na linguagem escrita.

Page 78: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

76

O questionário é composto por 29 itens. 25 deles são perguntas fechadas,

em que as respostas informativas são dadas em uma escala Likert9 de 9 pontos

sinalizados numa reta entre os valores 0 e 4. Os outros 4 itens de resposta

informativa, trazem perguntas abertas para explorar o acesso à ajuda profissional; a

existência de dificuldades de leitura e escrita em familiares diretos (pais e irmãos) e

qual é o grau acadêmico do discente.

Para respondê-lo, o discente assinala o número correspondente à sua

resposta ou, em caso de dúvida entre dois números, coloca um X sobre a linha que

une as opções. A pontuação total do QHL é obtida somando-se os pontos das

respostas Likert.

5.4.3 Escala para Avaliação de Reconhecimento de Palavras – EARP

A Escala para Avaliação de Reconhecimento de Palavras (EARP) consiste

em um instrumento aplicado por Caliatto e Martinelli (2005) com o objetivo de

investigar o reconhecimento da escrita correta de palavras ditadas em uma lista

composta por itens de múltipla escolha, elaborados com base nas diversas

possibilidades esperadas em uma escrita espontânea.

Para tanto, as pesquisadoras consideraram os problemas linguísticos mais

recorrentes segundo Lemle (1987), Cagliari e Cagliari (1999) e a categorização dos

erros de ortografia proposta por Zorzi (1988).

O EARP contém 55 palavras sendo que cada item possui três alternativas de

resposta, das quais somente uma é a correta.

A aplicação do instrumento foi conduzida pela pesquisadora. Para cada

palavra ditada coube ao participante assinalar a palavra que apresentava grafia

correta na sua folha de resposta. A partir da análise da leitura, foram elaboradas

características comuns a todos os participantes, de forma qualitativa, distribuídas da

seguinte maneira: Uso do recurso da leitura em voz alta e silabação; Leitura lenta e

9A escala Likert é um instrumento largamente utilizado em pesquisas. Objetiva registrar o nível de concordância ou discordância sobre uma assertiva, com base em categorizações que medem o grau de conformidade do entrevistado (VIEIRA E DALMORO, 2008).

Page 79: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

77

com esforço; Necessidade frequente de releitura; Dificuldades na pronúncia de

palavras polissílabas.

5.4.4 Produção textual escrita por meio de ditado livre

O recurso da produção textual escrita por meio de ditado livre foi utilizado

como um instrumento para a investigação das dificuldades relatadas pelos

discentes, assim como para verificar o nível de escrita e do domínio da ortografia, a

memorização e a atenção.

Esse encontro teve como objetivo a verificação da grafia, percepção de

regularidades e irregularidades ortográficas e tempo e esforço empreendido para a

realização da tarefa, além da verificação da capacidade de escrita, com

organização, em um espaço físico delimitado (ZORZI, 2008).

Para a sua e aplicação foram escolhidos textos descritivos, de livre circulação

na internet, acerca do curso ao qual cada discente é vinculado (ANEXO E). Para a

realização do ditado a leitura foi feita, buscando-se manter a regularidade no ritmo e

na velocidade da fala.

O EARP e a Produção textual escrita por meio de ditado livre foram

instrumentos de pesquisa escolhidos a fim que os seus resultados pudessem ser

utilizados como aferição das dificuldades de leitura e de grafia, como características

definidoras da dislexia, com o objetivo de ratificar os resultados coletados através da

entrevista semiestruturada e do QHL.

5.5 Procedimentos para a aplicação da pesquisa

A coleta de informações da pesquisa em tela iniciou-se após a aprovação do

Comitê de Ética em Pesquisa, sob Parecer de nº 1.251.375 (Anexo A).

Em seguida, realizamos um levantamento no banco de dados da CAENE, a

fim de identificarmos os discentes que haviam solicitado apoio ao setor devido à

Page 80: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

78

queixa de transtorno específico da aprendizagem, especificamente, com diagnóstico

interdisciplinar de dislexia. Ao todo, identificamos oito discentes.

Em seguida, iniciamos o contato via correio eletrônico (e-mail) convidando-os

a participarem da Pesquisa. Cinco dos discentes contatados se enquadraram nos

critérios de inclusão na pesquisa.

Após a etapa de seleção dos participantes, iniciamos a coleta dos dados

mediante quatro encontros realizados individualmente, em uma sala de atendimento

da CAENE, cada um deles com a duração média de 60 minutos.

A aplicação dos instrumentos seguiu sempre a mesma sequência. No

entanto, as datas dos encontros variavam conforme a disponibilidade dos discentes,

de modo a não causar quaisquer contratempos às suas rotinas acadêmicas (Tabela

4).

Tabela 4 - Atividades realizadas junto aos participantes.

No primeiro encontro, ocorrido no 2º semestre de 2015, foi explicitado o tema

e a natureza do estudo, qual seria a finalidade da entrevista, bem como quais os

objetivos da investigação. Foi, também, exposta a importância do envolvimento de

cada um e a preocupação em garantir as questões éticas. Todos eles consentiram a

participação na pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento e Livre

Esclarecimento – TCLE. Em seguida ocorreu a aplicação do primeiro instrumento, a

entrevista semiestruturada.

TCLE Entrevista

Inicial QHLA EARP

Avaliação

Escrita (ditado

de texto)

João 18/11/2015 15/08/2013 20/11/2015 20/11/2015 12/11/2015

Laura 09/10/2015 11/08/2015 09/10/2015 05/11/2015 08/12/2015

Paulo 06/11/2015 15/05/2015 06/11/2015 06/11/2015 17/11/2015

José 04/11/2015 15/08/2012 05/11/2015 17/11/2015 08/12/2015

Marcos 11/11/2015 28/04/2015 11/11/2015 12/11/2015 17/11/2015

Page 81: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

79

Posteriormente foi realizado o segundo encontro presencial para a aplicação

individual do segundo instrumento, Questionário História de Leitura - QHL. Durante a

execução, os participantes leram o questionário e assinalaram a Escala Likert

conforme os fatos e características específicas das suas histórias individuais de

escolarização e de aquisição da leitura, seguindo as orientações.

No terceiro encontro individual foi aplicada a Escala para Avaliação de

Reconhecimento de Palavras – EARP. Para tanto, as 55 palavras foram ditadas para

que os participantes pudessem assinalar as respostas que no momento julgaram

corretas.

Dando seguimento à investigação realizamos o quarto encontro, momento em

que cada um dos participantes pôde demonstrar a sua escrita por meio de uma

produção textual feita através de um ditado de um texto de livre circulação na

internet, voltado para a área de estudo de cada um.

Para isso, inicialmente houve a explicação da atividade a ser realizada. Em

seguida foi entregue ao participante uma folha de papel com um espaço delimitado

para que o seu texto fosse escrito. A pesquisadora realizou a leitura com a

velocidade usual da fala, repetindo apenas quando era solicitada.

Paralelamente à aplicação dos instrumentos da pesquisa, os discentes

passaram por avaliação neuropsicológica realizada em parceria pela equipe do

Laboratório de Neuropsicologia – LAPEN, vinculado ao Departamento de Psicologia,

assim como por avaliação fonoaudiológica, por docente pesquisadora da área do

Departamento de Fonoaudiologia, ambos da UFRN.

Este importante passo foi realizado com o objetivo de elucidar quaisquer

dúvidas provenientes dos diagnósticos apresentados pelos discentes à CAENE.

Para a análise dos dados coletados optamos por seguir a metodologia da

Análise de Conteúdo, expressa por Bardin (2011).

5.6 Procedimentos para análise da pesquisa

Para a realização desta pesquisa e posterior análise dos resultados optamos

por um método específico de tratamento dos dados, a Análise de Conteúdo.

Page 82: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

80

A Análise de Conteúdo consiste em uma metodologia pautada na análise do

discurso expresso na resolução dos instrumentos da pesquisa, utilizada na análise

de dados qualitativos, sendo com isso, bastante difundida no campo das Ciências

Humanas e Sociais.

Para tanto, ao analisarmos as respostas obtidas na fonte da pesquisa

(instrumentos), buscamos classificá-las em categorias definidas com base nas

temáticas recorrentes que nos ajudaram a compreender o conteúdo implícito.

Segundo Bardin (2011) a análise de conteúdo pode ser concebida de várias

maneiras, conforme a intenção do pesquisador que a desenvolve, seja adotando

conceitos relacionados à semântica estatística do discurso, ou ainda, visando à

identificação objetiva de características das mensagens.

Nesse sentido, conforme Bardin (2011, p.177), a “categorização é uma

operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por

diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), os

critérios previamente definidos”. Assim, a categorização realizada nesta análise é

fruto de um processo de agrupamento de elementos caracterizadores da condição

dos participantes.

Com isso, os resultados da pesquisa serão apresentados e discutidos com

base em 4 (quatro) categorias, a saber:

Categoria 1 – Características gerais dos participantes

Categoria 2 – Características relacionadas à dislexia

Categoria 3 - Características de leitura

Categoria 4 – Características de escrita

Page 83: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

81

6. ESTUDO DOS CASOS: UNIVERSITÁRIOS COM DISLEXIA DA UFRN

6.1 Apresentação dos Resultados

6.1.1 Categoria 1 – Características gerais dos participantes

Buscando identificar e conhecer as características dos universitários com

dislexia, iniciamos por apresentar os dados relativos ao gênero, idade, curso e

rendimento escolar e acadêmico. A tabela 5 apresenta esta distribuição:

Tabela 5 - Caracterização e percurso escolar dos discentes com dislexia, participantes da

pesquisa.

Legenda: (+) apresenta, (-) não apresenta.

Participante Gênero Idade

(anos) Curso

Rendimento escolar e acadêmico

Reprovações

durante a

Educação

Básica

Reprovações em

componentes

curriculares na UFRN

João M 46 Engenharia

Mecânica + +

Laura F 30 Doutorado em

Educação + +

Paulo M 26 Fonoaudiologia - +

José M 24 Ciências e

Tecnologia + +

Marcos M 22 Educação Física + -

Page 84: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

82

A partir da observação da tabela 5 podemos constatar que há a

predominância de participantes do gênero masculino, sendo apenas uma do gênero

feminino.

Ao nos reportarmos à idade dos discentes, verificamos que eles estão na

faixa etária entre 22 e 46 anos, sendo que apenas dois deles tem idades acima dos

30 anos.

Quanto aos cursos escolhidos por eles, constatamos que se concentram em

áreas diversificadas. Desse modo, João e José escolheram cursos da área

tecnológica; Paulo e Marcos, cursos ligados à saúde e Laura frequenta doutorado

vinculado à área humanística.

Ao abordarmos os participantes, questionando-os acerca do rendimento que

apresentaram durante a trajetória escolar, verificamos que apenas Paulo não

experimentou reprovações. Os demais passaram por essa experiência durante o

Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), sendo que João e Laura tiveram duas

reprovações cada e José e Marcos, uma reprovação cada.

6.1.2 Categoria 2 – Características relacionadas à dislexia

Como segunda categoria de análise, elencamos a caracterização quanto ao

histórico familial, idade do diagnóstico, acesso ao apoio educativo e consequências

da dislexia, conforme descrito na tabela 6, abaixo:

Tabela 6 - Características relacionadas à dislexia segundo o histórico familial, idade do

diagnóstico, apoio educativo e consequências da dislexia.

Participante Histórico

familial

Idade do

diagnóstico

Apoio

educativo Consequências

EB ES EM AC PE

João + 35 + + + + +

Laura * 15 - + + + +

Paulo + 25 - + + + +

Page 85: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

83

José + 16 + + + + +

Marcos * 20 - + + + +

Legenda: (+): positivo; (*): não soube responder; (-): negativo; AEE: atendimento

educacional especializado; EB: educação básica; ES: Ensino Superior; EM: emocional; AC:

acadêmicas; PE: pessoais.

Ao observarmos a tabela 6, constatamos, quanto ao histórico familial, que

apenas três dos participantes souberam relatar as dificuldades dos seus familiares.

O primeiro deles foi João, o qual afirmou que os pais apresentam as mesmas

dificuldades expressas por ele, especialmente o seu pai. O segundo foi o

participante Paulo que afirmou verificar as características da dislexia em seu irmão

caçula.

Os participantes Laura e Marcos não souberam responder a este

questionamento por razões distintas. Laura afirmou que em sua família materna

nunca verificou parentes com as tais características. Quanto aos parentes da família

paterna, não teve condições de responder, visto que não possui proximidade com

eles, não tendo assim conhecimento acerca deste assunto. Marcos, por sua vez,

relatou que antes de ingressar na UFRN não tinha conhecimento sobre os

transtornos específicos da aprendizagem, tampouco sobre a existência da dislexia.

Por isso, acreditava que as dificuldades que sentia eram provenientes do seu

processo de escolarização. Nos dias atuais, mesmo tendo o diagnóstico da dislexia,

não conversou sobre o assunto com os seus familiares, assim como ainda não

consegue confirmar se há alguém com as mesmas características que as dele.

Quanto à idade em que receberam o diagnóstico, os cinco participantes

relataram que foram diagnosticados já na adolescência ou na fase adulta, de modo

que Laura e José tiveram a dislexia identificada na adolescência, aos 15 e 16 anos

respectivamente. Enquanto que João, Marcos e Paulo só constataram a condição na

fase adulta, tendo eles na ocasião do diagnóstico 35, 25 e 20 anos,

respectivamente.

Para analisarmos a história escolar dos discentes, tornou-se relevante

investigar se durante a Educação Básica eles experimentaram algum tipo de

acompanhamento pedagógico, expresso por intermédio de apoio educativo, a fim de

constatar se receberam suporte para a aquisição e desenvolvimento de estratégias.

No entanto, durante a trajetória na educação básica os cinco discentes

Page 86: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

84

relataram que não tiveram acesso a nenhum tipo de adaptação curricular condizente

com a dislexia. Dois participantes tiveram a oportunidade de frequentar aulas

particulares custeadas por seus familiares (aulas de reforço). No entanto, no âmbito

do Ensino Superior todos os discentes participantes referiram receber apoio

educativo por meio da CAENE.

No tocante à investigação acerca das consequências trazidas pela dislexia, os

achados relacionados aos aspectos emocionais, escolares e pessoais apontam a

presença de consequências emocionais traduzindo-se por sentimentos de

ansiedade, insegurança e baixa autoestima; além desses, João e Laura afirmaram

sentir também desespero devido ao problema.

Ao serem questionados sobre as consequências escolares, os cinco

discentes afirmaram ter experimentado ao longo de sua trajetória escolar

dificuldades na compreensão e na expressão escrita, bem como com a

memorização.

Quanto aos aspectos pessoais, dois deles afirmaram sentir revolta devido à

condição vivenciada; três admitiram ter o sentimento de injustiça. Todos os

participantes afirmaram sentir vergonha devido às dificuldades enfrentadas.

6.1.3 Categoria 3 - Características de leitura

Para analisarmos as características de leitura expressas pelos discentes, com

base nas respostas coletadas por meio da resolução da EARP, delimitamos esta

terceira categoria. Para tanto, na tabela 7, lançamos mão de categorizações

anteriormente definidas por Zorzi e Ciasca (2008, 2009), os quais, ao elencarem tais

categorizações, objetivaram averiguar as habilidades ortográficas de crianças

diagnosticadas com dificuldades de aprendizagem. Para tanto, foram quantificados e

classificados erros apresentados pelos participantes, visando descrever aqueles de

maior frequência, bem como investigando se há diferença entre a sua ocorrência.

Desse modo, os pesquisadores buscaram caracterizar um perfil ortográfico indicativo

das dificuldades gerais mais comumente encontradas nessas pessoas e se o

predomínio de erros é de natureza ortográfica ou fonológica.

Page 87: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

85

Tabela 7 - Características de Leitura

Legenda: (+): positivo; (-): negativo.

A partir de uma descrição individual da presença dos erros, verificamos que

João, não apresentou imprecisões nas respostas dadas para este instrumento.

A participante Laura incorreu em 4 erros na colocação de sinais gráficos e/ ou

acentos, sendo 2 decorrentes da possibilidade de representações múltiplas; 1 por

alterações ortográficas decorrentes do apoio na oralidade e 1 por acréscimo ou

omissão de letra. Não demonstrou erros nas demais categorizações.

Ao analisarmos as respostas dadas por Paulo, verificamos que ele não

cometeu erros em nenhuma das categorizações.

O participante José foi o que incorreu em um maior número de erros, sendo 4

deles na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; 4 decorrentes da possibilidade

de representações múltiplas; 4 alterações ortográficas decorrentes do apoio na

oralidade; 1 acréscimo ou omissão de letra. Quanto às demais categorias, ele não

registrou incorreções.

Por fim, Marcos, ao responder o EARP, demonstrou 2 erros na colocação de

sinais gráficos e/ ou acentos; 1 decorrente da possibilidade de representações

múltiplas e 1 alteração ortográfica decorrente do apoio na oralidade. Ele não

cometeu nenhum erro nas demais categorias.

Erros na

colocação

de sinais

gráficos e/

ou acentos

Erros

decorrentes da

possibilidade de

representações

múltiplas

Alterações

ortográficas

decorrentes

do apoio na

oralidade

Acréscimo

ou

omissão

de letra

Alterações

decorrentes

de confusão

entre as

terminações

am e ão

Generalização

de regras

Letras

parecidas

TOTAL

DE

ERROS/

n

palavras

do teste

João - - - - - - - 0/55

Laura + + + + - - - 8/55

Paulo - - - - - - - 0/55

José + + + + - - - 13/55

Marcos + + + - - - - 4/55

Page 88: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

86

6.1.4 Categoria 4 – Características de escrita

Para analisarmos as características de escrita expressas pelos discentes,

elegemos esta quarta categoria. Para tanto, mais uma vez delimitamos

categorizações a partir de Zorzi e Ciasca (2008, 2009), conforme o exposto abaixo,

nas tabelas 8a e 8b.

Tabela 8a - Resultados do instrumento de produção escrita.

Erros na

colocação de

sinais

gráficos e/ ou

acentos

Erros decorrentes

da possibilidade de

representações

múltiplas

Alterações

ortográficas

decorrentes do

apoio na

oralidade

Acréscimo

ou omissão

de letra

Alterações

decorrentes de

confusão entre

as terminações

am e ão

Generalização

de regras

Surdas/sonoras

João + - - + - + -

Laura + + + + - - -

Paulo + + - - - - +

José + - - + - + -

Marcos + + - + + - -

Legenda: (+) positivo; (-) negativo.

Tabela 8b - Resultados do instrumento de produção escrita.

Confusão entre letras

parecidas

Junção/Separação de

Palavras

Inversão de

letras

Outras

alterações

João + + - -

Laura + + - -

Paulo + - - -

José - - - -

Marcos + - + -

Legenda: (+) positivo; (-) negativo.

A partir dos resultados obtidos por meio da aplicação dos ditados, verificamos

os resultados conforme o descrito a seguir.

Page 89: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

87

João escreveu um texto composto por 74 palavras. Destas, apresentou 10

erros na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; 4 erros por acréscimo ou

omissão de letra; 1 generalização de regras; 18 confusões entre letras parecidas; 3

equívocos devido à junção/separação de palavras. Não houve erros descritos nas

demais categorizações.

Para Laura selecionamos um texto contendo 124 palavras. Nesta escrita, ela

apresentou 4 erros na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; 1 devido à

possibilidade de representações múltiplas; 1 por alterações ortográficas decorrentes

do apoio na oralidade; 12 erros por acréscimo ou omissão de letra; 12 confusões

entre letras parecidas; 2 equívocos devido à junção/separação de palavras; por fim,

a participante não apresentou erros conforme as outras categorizações.

Paulo realizou esta etapa da pesquisa escrevendo um texto de 116 palavras.

Assim, os seus resultados demonstraram 4 erros na colocação de sinais gráficos e/

ou acentos; 1 decorrente da possibilidade de representações múltiplas e 1 troca

entre consoantes surdas/sonoras. Nas demais categorizações, não incorreu em

erros.

Para José ditamos um texto constituído por 115 palavras. Destas, ele

apresentou 8 erros na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; 2 erros por

acréscimo ou omissão de letra e 1 por generalização de regras. Para as demais

categorizações, não houve outras incorreções.

O último participante, Marcos, teve ditado um texto de 153 palavras. A partir

deste, verificamos 6 erros na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; 8 erros

decorrentes da possibilidade de representações múltiplas; 2 erros por acréscimo ou

omissão de letra; 1 alteração decorrente de confusão entre as terminações am e ão

e 1 inversão de letras. O participante não cometeu erros nas demais categorizações.

Page 90: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

88

6.2 Análise e Discussão dos resultados

Considerando os objetivos propostos para esta pesquisa: caracterizar o perfil

educacional de discentes da UFRN com dislexia; investigar o cotidiano educacional

do discente da UFRN com dislexia e avaliar o desempenho em leitura e escrita de

discentes da UFRN com dislexia, a discussão seguirá a ordem dos resultados.

Apesar de se tratar de um estudo qualitativo, foi observado maior número de

participantes do gênero masculino. Essa constatação comprova o que a literatura

vem apontando quanto ao fato de que a prevalência geral de dislexia é superior em

indivíduos do gênero masculino (PENNIGTON, 1997; CAPELLINI et al., 2007;

PRADO, et al., 2012).

Considerando a participação dos discentes que chegam ao serviço da

CAENE, nota-se que não há diferenças entre homens e mulheres, porém quanto aos

transtornos específicos da aprendizagem, há maior procura do gênero masculino,

conforme apontam os dados apresentados pelo setor, que referem para essa NEE,

um percentual de 55% de solicitações de apoio advindas destes discentes (UFRN,

2016).

Ao investigarmos acerca da dislexia, constatamos que um dos aspectos a se

considerar é o Histórico Familial dos participantes. Nesse sentido, com base nas

informações coletadas, averiguamos que os discentes João e Paulo referenciaram a

presença de características semelhantes às suas em seus familiares. Em

contraposição, nas respostas dos discentes Laura, José e Marcos constatamos um

fato curioso: eles não souberam responder a este questionamento. Tal

desconhecimento se deve a razões diversas. Laura explicou que jamais conviveu

com os seus parentes paternos, de modo que atualmente não dispõe de

informações que a levem a afirmar se eles têm dificuldades na leitura e na escrita.

Quanto à família materna, sua mãe não reconhece a dislexia como um possível

causador de dificuldades em leitura, portanto relatou nunca ter constatado

dificuldades na família.

Os discentes José e Marcos relataram que nenhum de seus familiares jamais

chamou a atenção quanto a tais características. No entanto, é importante relatar que

Marcos tem origem de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, a

qual não dispõe, mesmo nos dias atuais, de recursos especializados na rede de

Page 91: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

89

Educação e/ou Saúde para subsidiar a investigação e diagnóstico de um transtorno

da aprendizagem da leitura. Desse modo, a manifestação de dificuldades na leitura

e frequência de erros na grafia por parte do seu pai é interpretada pela cultura local

como algo comum para as pessoas àquela região e com estilo de vida semelhante

ao seu.

Ao inquirirmos acerca de tais questões, relacionadas ao antecedente

genético, constatamos que elas têm sido relatadas na literatura, porém ainda de

forma incipiente. Contudo, pesquisas nacionais de caráter quantitativo (SILVA E

CRENITTE, 2014; PRADO et al., 2012; CAPELLINI et al., 2007), assim como o

presente estudo qualitativo, apontam, características comuns em pais, irmãos e/ou

outros familiares que não apresentam diagnóstico. Esse fato pode estar associado a

questões culturais e de falta de diagnóstico e atenção a este quadro ao longo dos

anos. Segundo Lima, et al. (2006), nas famílias que possuem ao menos um

membro com dislexia, é recorrente que exista pelo menos um outro membro com as

mesmas características.

Durante a nossa investigação constatamos que os cinco discentes obtiveram

o diagnóstico da dislexia tardiamente, na adolescência ou até mesmo na fase adulta.

Isso fez com que eles não tivessem acesso aos acompanhamentos necessários

para a minimização das suas dificuldades. Com isso, necessitaram lidar sozinhos

com o problema. Essa falta de clareza quanto à origem das dificuldades com a

leitura e a escrita corrobora para uma série de problemas escolares que passam a

ser confundidos com indisciplina ou falta de interesse para aprender.

Podemos constatar as consequências do diagnóstico tardio na vida dos

discentes. Como exemplo, avocamos João, que passou por diversas experiências

de insucesso durante as tentativas mal sucedidas em cursos de graduação

anteriores ao de Engenharia Mecânica. Ressaltamos, ainda, a baixa autoestima

expressa por Laura, que procurou a CAENE com a certeza de que era incapaz e de

que não conseguiria prosseguir com o doutorado.

No Brasil, ainda são precários os meios para a identificação do problema,

assim como os estudos desenvolvidos sobre o diagnóstico e acompanhamento

educacional de adultos com dislexia, de modo que estes enfrentam obstáculos para

descobrirem o porquê de tantas dificuldades com a leitura e a escrita (MOOJEN et

al., 2016).

Page 92: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

90

Os resultados deste estudo acerca do desempenho escolar e acadêmico dos

discentes com dislexia revelam dificuldades quanto ao domínio e compreensão da

leitura e da escrita. A literatura esclarece que esse rebaixamento acarreta danos

para a aprendizagem de outros domínios, reforçados pelos prejuízos na atenção e

na memória. Tais consequências podem incluir problemas com a compreensão e

redução da experiência de leitura, os quais dificultam o crescimento do vocabulário e

de conhecimentos de base (SHAYWITZ, 2006).

Em nosso estudo, todos os discentes afirmaram que sofrem consequências

no rendimento acadêmico em decorrência das dificuldades enfrentadas durante a

leitura, a interpretação e a escrita das suas atividades e que tais óbices geram

sentimentos de frustração, de vergonha e de incapacidade para a realização de

tarefas. Ribeiro e Baptista (2006) referem que os discentes com dislexia expressam

lentidão e dúvidas, dificuldades na orientação espacial, dificuldades na orientação

temporal, problemas de atenção, problemas de memorização, dificuldades na

manipulação dos conhecimentos e das informações, alterações no nível da leitura e

escrita, repercussões psicológicas e perturbações afetivas, sociais entre outras.

A maneira como os discentes passam a ser reconhecidos perante os seus

pares, no ambiente acadêmico colabora com a manutenção do baixo rendimento,

visto que eles transparecem desorganização e falta de empenho.

Para a verificação das características de leitura o fato de dois participantes

não terem apresentado erros durante a resolução do EARP nos chamou a atenção.

É possível que João e Paulo já tenham adotado estratégias suficientes para eliminar

a frequência de erros na grafia? O suporte dado pela memória compensa prováveis

dificuldades? O EARP reflete com fidedignidade as lacunas presentes nos

participantes?

Neste caso, acreditamos que por ter sido elaborado para a aplicação com

crianças, o EARP, como único meio de investigação, não é suficiente quando usado

com adultos. Isto porque esse público, em comparação à criança, já possui um

amplo repertório de palavras que cumpre o papel de suporte durante a leitura. Com

isso, usam habilidades lexicais e fonológicas na escrita de palavras familiares

(NERGÅRD‐NILSSEN; HULME, 2014).

Aqui, a utilização deste instrumento foi feita observando-se eminentemente os

aspectos qualitativos e não os comparativos, pois não tivemos grupo controle, já que

o nosso objetivo para ele pautou-se apenas na descrição do perfil dos participantes,

Page 93: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

91

a fim de evidenciar a existência de pessoas com dislexia no Ensino Superior e

descrever o perfil de grupo.

A escolha do EARP para a presente pesquisa foi consciente e se deveu à

carência de instrumentos disponíveis voltados para o trabalho com o adulto. Tal

constatação reforça a necessidade do aprofundamento dos estudos no campo da

dislexia no adulto, principalmente, com referência à sua identificação. Nesse sentido,

a produção de instrumentos adequados para esta faixa etária evidentemente irá

impactar positivamente o diagnóstico e acampamento educacional dos discentes.

De maneira geral, o adulto utiliza estratégias para ler e escrever, as quais

vêm sendo desenvolvidas no decorrer da história escolar, visto que as

características do transtorno não desaparecem por completo (SHAYWITZ, 2006).

Conforme verificamos nesta pesquisa, a dislexia na infância e na idade adulta não

apresenta diferenças significativas.

Na investigação com os nossos participantes, foi constatada em todos eles a

pouca fluência expressa pela lentificação na leitura e a necessidade do apoio na

oralidade; a permanência de trocas de consoantes surdas/sonoras, como no texto

escrito por Paulo e frequentes supressões de letras nas palavras, como na escrita

de João.

As publicações pesquisadas atestaram que esses discentes apresentam um

déficit primário no processamento fonológico, o qual os leva à menor capacidade de

realizar representações ortográficas durante a aquisição da leitura, bem como

dificuldades na codificação e informações abstratas que afetam diretamente novas

representações escritas. Além disso, eles são mais vulneráveis a pouca

familiaridade da representação ortográfica do que os leitores típicos (YAEL; TAMI;

TALI, 2015; ROMANI; TSOUKNIDA; OLSON, 2014; SUÁREZ-COALLA; CUETOS,

2015).

Constatamos nesta pesquisa que os participantes apresentam piores

resultados na escrita, em comparação à leitura. Isto porque no desenvolvimento

humano, a leitura antecede escrita e, como a dislexia é um transtorno do

desenvolvimento da leitura, fica evidente o traço marcado deste atraso no processo

de aquisição da leitura e escrita. Dois participantes mostraram maior

comprometimento, o que demonstra que a dislexia é um transtorno heterogêneo

(DSM-5, 2013) que pode se apresentar por meio de características diversas, até

certa medida sob influência do meio, visto que são registradas nessas pessoas

Page 94: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

92

comorbidades que podem influenciar significativamente os resultados e o

desempenho acadêmico.

Assim, a partir desta investigação, constatamos o que vem sendo descrito nas

pesquisas, pois na realidade dos participantes, a condição de pessoa com dislexia

compromete diretamente as suas relações e atitudes perante os seus pares. As

dificuldades vão além das reproduzidas em suas ações. Elas atingem outras esferas

da vida, como a emocional. Durante as entrevistas foi comum o relato de

sentimentos de ansiedade, desespero, insegurança e baixa autoestima. Estes são

fatores que interferem diretamente no bom relacionamento interpessoal dos

discentes. Tal problema reforça o estereótipo atribuído aos discentes.

Quanto aos aspectos pessoais, são comuns relatos de revolta, vergonha e

injustiça perante a condição. O estigma que passam a carregar encobre as suas

potencialidades para aprender. Da mesma forma, a autoimagem formada reforça a

ideia de que eles não se encaixam e que existe algo de errado com referência a sua

inteligência.

Por fim, no âmbito acadêmico, eles ressaltaram entraves na compreensão e

expressão escrita, além de dificuldades de memorização.

Os prejuízos advindos da dislexia são muito mais profundos do que os

expressos na leitura e na escrita. “No que concerne às consequências desta

dificuldade específica da aprendizagem, elas englobam aspectos do foro

comportamental, emocional, social e acadêmico” (MANGAS E SANCHÉZ, 2010,

p.11-12).

Nessas situações, comumente há a ocorrência de possíveis prejuízos sociais,

emocionais, escolares e profissionais (ARAÚJO, 2012; BRAGA, 2011). “Estes

aspectos afetivos emocionais tornam-se prejudicados e poderão se manifestar em

forma de depressão, ansiedade, baixa autoestima e, em alguns casos, o ingresso

nas drogas e no álcool”. (BONINI, et al., 2010).

Embora neste estudo não tenhamos abordado diretamente os aspectos

emocionais, é possível que os participantes já tivessem sinais destas questões

desde a infância, o que demonstra a importância da detecção precoce do

diagnóstico (LIMA et al., 2011).

Quando nos reportamos ao Nível Superior de escolaridade e nos voltamos

para a realidade encontrada na universidade, o discente demonstra as suas

dificuldades de leitura e escrita logo no início da sua trajetória, ao se deparar com

Page 95: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

93

um grande volume de materiais para estudar. Isso costuma ser uma surpresa para

parte dos docentes, que, por sua vez, pressupõem a inexistência de problemas

elementares na faixa etária adulta que alcança o ensino superior, visto que eles são

incompatíveis com as demais habilidades que o discente possui, já que

normalmente a sua inteligência é perceptível. Steubing, et al., (2002) apud Vellutino

e Flectcher (2013) explica que os transtornos são visíveis em indivíduos com níveis

diferentes de inteligência e fora da faixa de mentalmente deficiente e são indexadas

por discrepâncias com o QI ou simplesmente por escores baixos de leitura.

No ambiente universitário sempre houve casos de dislexia, no entanto, a

conjuntura educacional atual ainda os desconhece ou não os reconhece e por isso

tem dificuldades para trabalhar com essas pessoas (MANGAS; SANCHÉZ, 2010).

Nessa fase da escolarização, a quantidade de atividades de leitura e de escrita

aumenta muito em comparação à escola básica e, por isso, as dificuldades dos

discentes se intensificam.

Com a expansão do acesso à universidade e com a garantia do direito à

utilização dos recursos de acessibilidade durante as avalições, discentes com

dislexia são cada vez mais frequentes nas salas de aula. Em vista disso, o docente

deve ter uma posição de atenção, pois em decorrência da falta de conhecimento o

principal objetivo da educação superior que é o de formar os seus discentes com

qualidade pode falhar. Ademais, o discente corre o risco de receber um “rótulo” e

passar a ser visto como preguiçoso e desatento, fato que acaba por prejudicar a vida

acadêmica e o modo como o aluno se vê e se reconhece.

A universidade precisa refletir e investir em um novo paradigma educacional,

o qual busca contemplar o bom desenvolvimento de todos os discentes. Com isso,

atualmente as concepções pedagógicas discutidas internacionalmente, referenciam

que os obstáculos à inclusão de discentes com dislexia podem ser minimizados

através da adoção do desenho universal para a aprendizagem, isto é, pensar na

oferta de uma educação que contemple simultaneamente discentes com e sem

NEE. Nesse contexto, a aula deve ser planejada com uma orientação para a

diversidade entre as necessidades dos discentes. Isto inverte a abordagem

instrucional tradicional em que os ajustes para estudantes com dislexia devem ser

realizados individualmente. (NUNES; MADUREIRA, 2015; PINO; MORTARI, 2014).

Conforme constatamos, os discentes com dislexia trazem um desafio a mais

para a prática docente porque suas dificuldades estão ocultas, expressas apenas

Page 96: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

94

quando eles são impelidos a ler ou a escrever (RIDDELL; WEEDON, 2006).

Portanto, os docentes necessitam ter conhecimento da existência da dislexia e saber

identificar as suas características de modo a os auxiliarem no reconhecimento do

problema. A atuação do docente junto aos seus discentes é primordial, pois é ele

quem está constantemente em atuação e com ele está a maior oportunidade para

intervir, a fim de mediar o processo de aquisição da leitura do discente com dislexia

(MARTINS; CAPELLINI, 2011).

Dessa forma, mesmo tendo a clareza de que o docente não é o profissional

responsável pelo diagnóstico, consideramos que a sua sensibilidade para verificar

os sinais do transtorno, mesmo quando em atuação no Ensino Superior, o possibilita

a tornar a sua prática pedagógica universal e expressá-la por meio do trabalho

desenvolvido em sala de aula.

Nesse sentido, há o reconhecimento da importância da prática de atitudes

positivas e, principalmente, o verdadeiro interesse no desenvolvimento acadêmico

do aluno com dislexia. Além disso, há também a preocupação sobre a "equidade" do

ensino e outros aspectos organizacionais garantidos a esse público

(STAMPOLTZIS, et.al, 2015).

A Educação deve considerar todos os aspectos já elencados, a fim de garantir

o cumprimento do seu principal objetivo: o desenvolvimento da aprendizagem

significativa, essencialmente quando tratamos de discentes do Ensino Superior.

É necessário haver entre os docentes informações sobre diversas causas

para os transtornos de aprendizagem existentes na academia, dentre eles a dislexia,

que comumente é confundida ou negligenciada, e que pode trazer com ela sérias

consequências, dando causa ao insucesso profissional e pessoal.

O ato de ensinar requer uma importante reflexão sobre como ensinar e para

quem ensinar, principalmente nas situações onde existe a dificuldade para aprender

e entender. A ausência de formação acerca dos transtornos de aprendizagem,

comum na academia, onde todos são superespecializados em suas próprias áreas

de atuação dificulta a identificação de problemas como a dislexia. O docente não

utiliza metodologias diversificadas para que o discente aprenda e entenda o

conteúdo da melhor forma, respeitando a sua individualidade.

Neste sentido, procurar-se-á conhecer as características específicas dos estudantes do Ensino Superior no que concerne aos traços de dislexia que apresentam, bem como avaliar as suas consequências, delineando eventuais estratégias a implementar, tendo como ponto

Page 97: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

95

de partida o seguinte problema: „De que forma as características dos alunos disléxicos os influenciam no Ensino Superior e quais as

estratégias de intervenção a adoptar?‟. (MANGAS; SANCHÉZ, 2010, p.1).

Com o desconhecimento corremos um grande risco de cair no lugar comum e

culpabilizar o discente pelo insucesso. Todavia, o papel do docente é importante e

essencial no processo de ensino. Não queremos dizer com isso que este precisa ser

um especialista no campo da aprendizagem, mas que ele necessita estar sensível à

heterogeneidade presente nas salas de aula, nas diversas formas de aprender, e às

especificidades de uma pessoa com dislexia.

Por isso, quando o docente recebe a informação de que em sua sala de aula

está presente um aluno com dislexia, é preciso que ele reestruture as suas

metodologias de ensino, sempre com a consciência de que o discente é inteligente,

e que ele possui a cognição preservada, no entanto que a dificuldade de leitura pode

afetar o processo de aprendizagem.

Conforme o exposto, o foco da aprendizagem não pode depender apenas do

suporte da leitura. O ideal é que se evite pedir que o discente faça leitura em voz

alta perante a turma, a fim de não expô-lo e de não passar para os demais a

impressão de que ele não é estudioso ou que é “burro”.

Segundo Farrel (2008, p. 55),

Um aspecto para aproveitar as forças é levar em conta os estilos e as abordagens preferidas de aprendizagem. O estilo de aprendizagem refere-se às preferências, habilidades e capacidades para aprender de maneiras específicas. Isso se relaciona às abordagens multissensoriais de ensino e aprendizagem em que a preferência por aprender por algum estilo sensorial em vez de outro é considerada um aspecto do estilo de aprendizagem.

Com o uso de metodologias adequadas e com a consciência de que o

discente é apto para aprender, o processo é mais significativo e eficaz.

Por esse motivo é muito importante que todos os docentes saibam o que é

dislexia e que havendo a suspeita de que um discente esteja apresentando algum

transtorno de aprendizagem, procurem suporte pedagógico a fim de acessarem as

informações e orientações necessárias (SAMPAIO; FREITAS, 2014).

O docente exerce um papel fundamental para o bom desenvolvimento de

discentes com dislexia. Inicialmente, ao não ridicularizá-lo e nem permitir que seus

Page 98: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

96

colegas o ridicularizem por não ter o mesmo desempenho dos demais. Ao estimulá-

lo quanto a sua criatividade e não se deter apenas bom desempenho em atividades

estritamente teóricas e dar também o espaço necessário para que ele expresse o

que sabe com base em aulas práticas. Na realidade, atitudes assim beneficiam a

todos e não apenas aos que têm transtornos de aprendizagem. O discente deve

participar normalmente das aulas, das atividades, das discussões e ser avaliado

com base no que aprendeu, na apropriação do conteúdo acadêmico e não no modo

como ele escreve.

Mas para que o discente alcance o sucesso acadêmico não basta apenas que

o docente seja inclusivo em sala de aula. Toda a instituição precisa se mobilizar e

oferecer estrutura e apoio.

Com isso, consideramos importante observar um fato sinalizado pelos

discentes. Após o ingresso na UFRN, passaram a acessar o Atendimento

Educacional Especializado por meio da CAENE e, com isso, a receber apoio e a

vislumbrarem maiores possibilidades para avançarem e concluírem as suas

formações. Por essa razão, além da discussão com base nas categorias de análise

acreditamos que é pertinente discutirmos acerca do atendimento ofertado aos

discentes com dislexia da UFRN.

Tendo conhecimento de todas as consequências vivenciadas pelos discentes

com dislexia, constatamos que o sucesso acadêmico não é atingido somente com

acompanhamentos clínicos. O processo de acompanhamento educacional ao longo

do seu processo formativo tem papel essencial para que o discente compreenda

como prosseguir, quais as estratégias podem contribuir para o desenvolvimento de

atitudes que favoreçam a aquisição do conhecimento, os bons relacionamentos

interpessoais e a vida no meio social e acadêmico. “Apesar da questão ambiental

não ser a causa da dislexia, pode influenciar no sucesso acadêmico dos alunos e no

seu desenvolvimento social e emocional” (CARVALHAIS; SILVA, 2007, p. 27).

A permanência com qualidade e a conclusão dos cursos escolhidos têm sido

os maiores objetivos da CAENE. Com isso, a sua atuação direta em prestar o

suporte educacional vem auxiliando os discentes com dislexia a desenvolver

estratégias para diminuir as dificuldades enfrentadas e demonstrando resultados

positivos na melhoria do desempenho acadêmico dos seus discentes.

Nesse sentido, o lugar do assessoramento educacional realizado pela equipe

educacional na CAENE é o de orientador dos docentes e todos aqueles que estão

Page 99: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

97

em contato direto com o discente com dislexia para que este possa se concentrar na

aquisição dos conhecimentos específicos da sua área, essenciais para a prática

satisfatória da sua futura profissão. Acima de tudo é o de auxiliar esse discente no

desenvolvimento de atividades que colaborem para o desenvolvimento de

habilidades de leitura, ortografia e de consciência fonológica. O contato direto com

os discentes para nortear a apropriação de estratégias que o ajudem a avançar

serve também para a indicação e coordenação quanto à aplicação de estratégias de

aprendizagem.

Isto posto, a identificação e a caracterização de discentes com dislexia nos

possibilitou trazer à tona uma temática pouco discutida, porém extremamente

importante e real no âmbito universitário. Temos o dever de ampliar as discussões

acerca do adulto com dislexia. Esta temática abre uma gama de possibilidades para

novas pesquisas, de cunho interventivo, determinantes para a mudança de

paradigmas e o desenvolvimento da ação-reflexão-ação nas práticas adotadas na

universidade.

Por fim, esperamos que as discussões suscitadas e a divulgação dos

resultados desta pesquisa tragam contribuições significativas à área da Educação, e,

principalmente, suscitem novas ações e transformações, especialmente para a

ampliação dos debates sob a perspectiva inclusiva e o consequente atendimento

aos discentes com dislexia.

Page 100: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

98

REFLEXÕES FINAIS

Durante o período de realização desta investigação tivemos a oportunidade

de nos aprofundar em pesquisas, estudos e discussões que nos oportunizaram,

como pesquisadores no campo da Educação, ampliar o conhecimento acerca da

inclusão educacional de discentes universitários com dislexia.

Ocupar o lugar de pesquisadores em paralelo ao de profissionais da CAENE,

na realização do acompanhamento pedagógico dos discentes com NEE,

especialmente aqueles com dislexia, suscitou uma fecunda reflexão em busca de

caminhos a serem seguidos em nossas vidas profissionais e nos respaldou para o

oferecimento de estratégias e do suporte efetivo para os que dele verdadeiramente

necessitam.

Ao longo da investigação teórica nos debruçamos sobre a literatura nacional e

internacional, a fim de identificarmos escritos no campo da Educação acerca de

adultos com dislexia, de modo que a partir de um extenso trabalho de revisão da

literatura, o qual contemplou uma varredura nas principais fontes de dados

científicos, constatamos que as publicações trazem resultados que reforçam a

existência das alterações advindas da dislexia. Nesta etapa de Revisão, também

verificamos que a quantidade de pesquisas identificadas nesta área ainda é

incipiente. Ademais, as encontradas quase que em sua totalidade, abordam o

transtorno em crianças.

Outrossim, constatamos, como explicitado, que a área da Educação pouco

discute acerca de discentes com dislexia e isso faz com que este público enfrente

imensas barreiras no percurso em busca do avanço educacional e consequente

ingresso e conclusão de cursos do Ensino Superior. Esta constatação nos revestiu

de uma responsabilidade pessoal e profissional em expandir tais discussões,

corroborando para a necessidade da elaboração deste estudo, o qual se reveste de

originalidade por ser um dos poucos a se deter ao público adulto.

Assim, a carência evidenciada nos levou a interdisciplinarmente lançar mão

também de fundamentos advindos de áreas como a Fonoaudiologia, a Psicologia e

a Neurociência, a fim de delinearmos o nosso estudo. Com isso, tivemos a

oportunidade de nos aprofundar e compreender como se dá o funcionamento

Page 101: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

99

neurobiológico humano e qual é a razão da existência da dislexia, conhecimento

indispensável para a compreensão do desenvolvimento da aprendizagem humana.

Além de nos alicerçarmos em pesquisas teóricas e empíricas, enveredamos

no percurso histórico da Inclusão Educacional de pessoas com NEE, tal como,

investigamos também o panorama legal brasileiro no que tange à garantia dos

direitos das pessoas com dislexia, dado que acreditamos na efetividade educacional

na perspectiva inclusiva como parte do direito à igualdade e garantia do direito à

dignidade da pessoa humana.

Entretanto, verificamos que as garantias que permearam documentos

legitimados como marcos históricos, passaram a ser relegadas à margem da

legislação nacional no decorrer dos anos, especialmente após as modificações

registrada no decorrer dos anos, a fim de excluir as NEE do rol do Público Alvo da

Educação Especial, as quais minaram os avanços obtidos nas décadas anteriores.

Em consequência disso, os discentes com dislexia perderam a prerrogativa legal de

adaptações adequadas à sua condição, tendo com isso que recorrer a setores

especializados para conseguir o auxílio necessário.

Os resultados obtidos nesta pesquisa evidenciaram a importância das

discussões acerca da dislexia no contexto da pessoa adulta. Constatamos que este

público não vem recebendo a atenção necessária por parte do poder público e,

como reflexo, dos sistemas educacionais como um todo.

Como contraste à exclusão dos discentes com dislexia do rol do Público Alvo

da Educação Especial, a UFRN adotou a postura de garantir a Inclusão para todos,

e por isso, vem desenvolvendo desde 2010 um trabalho de acompanhamento

educacional de todos os discentes com NEE que procuram apoio, por meio da

CAENE.

A premissa sobre a importância do acompanhamento interdisciplinar realizado

por pedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos se confirmou por meio da avaliação

realizada interdisciplinarmente. Esta atuação contribui para o sucesso dos discentes

com dislexia na universidade, pois a partir dela eles passam a ter subsídios para o

uso de estratégias para atender às inúmeras e complexas demandas advindas desta

condição.

Durante a nossa investigação junto aos discentes com dislexia constatamos a

existência de entraves que impactam diretamente em suas oportunidades, fato que

Page 102: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

100

já vinha sendo evidenciado pelos discentes em nossa prática de assessoramento

didático-pedagógico. Isso nos levou a acreditar que o estabelecimento da

comunicação entre os profissionais envolvidos com os discentes é fundamental, a

fim de que sejam traçados procedimentos favoráveis ao desenvolvimento acadêmico

a partir das necessidades apresentadas por eles.

A partir dos resultados obtidos após a aplicação dos instrumentos de

pesquisa, concluímos que o nosso objetivo geral foi alcançado, visto que analisamos

as características educacionais de discentes com dislexia da UFRN.

Como o esperado no primeiro objetivo específico, foi possível revisar a

literatura a respeito da dislexia no adulto, de modo que tivemos a oportunidade de

constatar que no âmbito da Educação as pesquisas sobre o adulto com dislexia

ainda são incipientes.

Conforme o descrito no segundo objetivo específico, caracterizamos o perfil

educacional de cada um dos participantes. Com isso, verificamos que existe pouca

variação em relação aos tipos de obstáculos e, ainda, que frequentemente elas

estão relacionadas à dificuldade com a fluência na leitura e com as regras

gramaticais, especialmente as ortográficas.

É pertinente frisar que uma característica marcante é a existência de

familiares com as mesmas dificuldades.

Alcançamos ainda os resultados quanto ao terceiro objetivo, ao investigar o

cotidiano educacional dos discentes, de forma que foram explanados os hábitos de

leitura e de escrita e o modo como eles desenvolvem os seus estudos pessoais.

Tivemos a oportunidade de avaliar o desempenho em leitura e escrita e o

rendimento acadêmico dos participantes. Com isso verificamos que esses discentes

permanecem com entraves significativos quanto à realização da leitura e da escrita e

no seu uso social, especialmente quando inseridos no universo acadêmico. Em

decorrência das características apresentadas contatamos que eles trazem, também,

como consequências, questões de cunho emocional como ansiedade, vergonha,

medo da exposição e depressão.

Neste percurso investigativo verificamos que as barreiras pedagógicas e

atitudinais impostas por alguns docentes, em suas práticas, ou ainda por

comportamentos dos próprios pares, são as principais responsáveis pela

continuidade do preconceito e da invisibilidade vividos pelos discentes com dislexia.

Page 103: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

101

Diante disso, tivemos a chance de refletir acerca dos padrões estabelecidos

pela comunidade acadêmica, os quais vão de encontro ao paradigma da inclusão

educacional que, por sua vez, preceitua a diversidade e o respeito à diferença e à

igualdade de oportunidades como características fundamentais da pessoa humana.

No decorrer desta experiência verificamos limitações que se impuseram à

pesquisa, tais como: escassez da literatura na área da Educação a respeito do

adulto com dislexia. As publicações apresentadas nos últimos anos pela

comunidade científica são preambulares, particularmente ao buscarmos na literatura

nacional.

Como desdobramento desta assertiva, também são escassos, na Educação,

os instrumentos validados para o uso em pesquisas com adultos. Tendo em vista

que a dislexia é um transtorno que afeta o funcionamento do cérebro quanto ao

processamento linguístico referente à leitura, acredita-se que instrumentos que

avaliem esta alteração possam auxiliar no acompanhamento pedagógico dos

adultos.

Outra limitação enfrentada durante a realização da nossa pesquisa foi a

dificuldade para encontrarmos os discentes em meio ao universo de matriculados na

UFRN. Mesmo estando em atuação na CAENE, foi difícil mapear estes alunos, visto

que devido às questões emocionais, eles se envergonham em se declarar e acabam

silenciando a sua condição, por medo de assumirem perante aos seus colegas de

curso e docentes, o que para alguns deles se trata de falta de inteligência ou de

esforço. Esta realidade de descrença em si mesmo, ocasionada pelas frustrações

que enfrentam desde o início da sua vida escolar até a fase adulta, reforça a atual

condição de invisibilidade deste grupo.

Diante do exposto, compreendemos que o ingresso de discentes com dislexia

no Ensino Superior requer reflexões quanto ações e o aprofundamento sobre a

temática em meio às discussões da Educação, quando esta se coloca como

inclusiva, uma vez que a universidade se depara com o desafio de oferecer uma

formação de qualidade, de modo a oportunizar a todos os seus discentes o ingresso,

a permanência e a conclusão dos seus cursos sob uma perspectiva igualitária, justa

e inclusiva. Para isso, se faz necessária a mudança de paradigmas e de práticas

educacionais visando respeito às diferenças, especificidades e necessidades de

cada indivíduo.

Page 104: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

102

REFERÊNCIAS

AINSCOW, M. Tornar a educação inclusiva: como essa tarefa deve ser conceituada? In: ______. Tornar a Educação Inclusiva. Brasília: UNESCO, 2009. ALVES, R. A.; CASTRO, S. L. Despistagem da dislexia em adultos através do Questionário História de Leitura [Adult dyslexia screening using a Portuguese self-report measure]. In: IberPsicologia Congress, Lis-boa, Portugal. Disponível em: <http://www.fpce.up.pt/labfala/ra&slcDespistagem05.pdf>. 2005. Acesso em: 18 de mar. 2015. ALVES, S.; et al. Dislexia em estudantes do ensino superior: alguns dados da intervenção no Instituto Politécnico de Leiria. Portugal. Disponível em: <https://iconline.ipleiria.pt/bitstream/10400.8/177/1/Dislexia%20em%20Estudantes%20do%20Ensino%20Superior%20dados%20da%20interven%C3%A7%C3%A3o%20no%20IPL_%20Almeria.pdf> Data de acesso: 18 de mar. 2015. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. APA. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville, SC: Univille, 2003. ANDRADE, O. V. C. A.; PRADO, P. S. T.; CAPELLINI, S. A. Desenvolvimento de ferramentas pedagógicas para identificação de escolares de risco para a dislexia. Revista psicopedagogia, v. 28, n. 85, p. 14-28, 2011. ARAÚJO, A. P. Q. C. Avaliação e manejo da criança com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. Jornal de Pediatria, v. 78, n. 1, p. 104-110, 2002. ARAÚJO, M. S. Implicação do diagnóstico tardio no processo de ensino aprendizagem para os alunos com dislexia. Brasília, 2012. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BERENT, I.; VAKNIN-NUSBAUM, V.; BALABAN, E.; GALABURDA, A. M. Dyslexia impairs speech recognition but can spare phonological competence. PloS One, v. 7, n. 9, p. e44875, 2012. BONINI, F. V.; et al. Problemas emocionais em um adulto com dislexia: um estudo de caso. Revista Psicopedagogia, v. 27, n. 83, p. 310-322, 2010. BRAGA, S. G. Dislexia: a produção do diagnóstico e seus efeitos no processo de escolarização. 2011. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

Page 105: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

103

_________. CNE. CEB. Resolução n. 4, de 2 de outubro de 2009, que institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade educação especial. Brasília: 2009. _________. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990. _________. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. In: Conferência Mundial de Educação Especial. Brasília: UNESCO, 1994. _________. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. _________. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, DF, 20. dez. 1999. Seção 1, p. 1. _________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial - MEC/SEESP, 2001. _________. Ministério da Educação. Lei Nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Plano Nacional de Educação e dá outras providências. _________. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, DF, 24 de out. 1989. Seção 1, p. 1. _________. PL 7081/2010. Dispõe sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade na educação básica. Brasília, DF, 24 de out. 2011. ________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. _________. Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Guatemala: 2001. _________. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasília, DF, nov.,

Page 106: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

104

2011a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm. Acesso em: 15 de fevereiro 2015. ________. LEI Nº 12.796, DE 4 DE ABRIL DE 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. _________. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembléia Geral da ONU em dezembro de 2006. _________. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da educação superior: 2011 – resumo técnico. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa Incluir. Brasília: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=557&Itemid=303>. Acesso em 21/maio/2014. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Aviso Circular n° 277/1996. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. ______. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nova Iorque, ONU, 1948 BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira integração/ segregação do aluno diferente. São Paulo: EDUC/PUSP, 1993. CAGLIARI, L. C.; CAGLIARI, G. M. Diante das letras: a escrita na alfabetização. Campinas: Mercado das letras, 1999. CALDEIRA, E.; CUMIOTTO, M. L. O. Dislexia e disgrafia: dificuldades na linguagem. Revista Psicopedagogia, v. 21, n. 65, p. 127-134, 2004. CALDONAZZO, A.; et al. Desempenho na resolução de problemas envolvendo o conceito aditivo em sujeitos com dislexia do desenvolvimento. Rev. Psicopedagogia, v. 23 (71): 116-1232006, 2006. CALIATTO, S. G.; MARTINELLI, S. C. Avaliação do reconhecimento de palavras em jovens e adultos. Psic: Revista da Vetor Editora, v. 6, n. 1, p. 51-58, 2005. CAMPOS, A. M. G. Análise do desempenho em leitura e em provas de habilidades metalinguísticas de crianças com diagnóstico de dislexia. Dissertação de mestrado, UFPR, 2012.

Page 107: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

105

CAPELLINI, S. A.; et al. Desempenho em consciência fonológica, memória operacional, leitura e escrita na dislexia familial. Pró-Fono, v. 19, n. 4, p. 374-80, 2007. CARIDÁ, D. A. P.; MENDES, M. H. A importância do estímulo precoce em casos com risco para dislexia: um enfoque psicopedagógico. Revista Psicopedagogia, v. 29, n. 89, p. 226-235, 2012. CARVALHAIS, L. S. A.; SILVA, C. Consequências sociais e emocionais da dislexia de desenvolvimento: um estudo de caso. Psicologia Escolar e Educacional, v. 11, n. 1, p. 21-29, 2007. CIASCA, S.; RODRIGUES, S. D.; SALGADO-AZONI, C. A. Transtornos de aprendizagem: neurociência e interdisciplinaridade. Ribeirão Preto, SP: Book Toy, 2015. CORREIA, L. M. Para uma definição portuguesa de dificuldades de aprendizagem específicas. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 13, 155-172, 2007. COSTA, V. A. Diferença, desvio, preconceito e estigma: a questão da deficiência. Disponível em: http://www.asdef.com.br/innova/assets/artigos/historia011.pdf>. Acesso em 21/maio. /2014. CRITCHLEY, M. Specific developmental dyslexia, In: FREDERIKS, J.A.M. Handbook of neurology. Amsterdam: Elsevier. 1985. CRUZ, M. B.; COSTA, A. C. Crianças que escrevem, mas não lêem: dificuldades iniciais na alfabetização. Revista Psicopedagogia, v. 25, n. 77, p. 120-131, 2008. CUNHA, V. L. O.; CAPELLINI, S. A. Habilidades metalinguísticas no processo de alfabetização de escolares com transtornos de aprendizagem. Revista Psicopedagogia, v. 28, n. 85, p. 85-96, 2011. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo. Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 01/out. /2014. DEMO, P. Aposta no Docente. Porto Alegre: Mediação, 2007. GERMANO, G. D. Instrumento de avaliação metafonológica para caracterização de escolares com dislexia, transtorno e dificuldades de aprendizagem. 2011. FADINI, C.; CAPELLINI, S. A. Treinamento de habilidades fonológicas em escolares de risco para dislexia. 2011. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000100002>. Acesso em 18 de mar. 2015. FARRELL, M. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem especificas: guia do docente. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Page 108: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

106

FISCHER, S. R. História da leitura. São Paulo: UNESP. 2006. FONSECA, Vitor da. Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1995. ________. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2. ed. rev. aum. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ________. Dislexia, cognição e aprendizagem: uma abordagem neuropsicológica das dificuldades de aprendizagem da leitura. Rev. psicopedagia, São Paulo, v. 26, n. 81, p. 339-356, 2009. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862009000300002&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 10 dez. 2016. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. FLETCHER, J. M.; et al. Transtornos de aprendizagem: da identificação à intervenção. Artmed Editora, 2009. FLICK, U. Desenho da pesquisa qualitativa. Porto alegre, Artmed, 2009. Coleção Pesquisa qualitativa. FRAGELLI, I. K. Z. Alfabestização: perspectivas da articulação sujeito e escrita. 2011. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. FREIRE, P. Conscientização. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979. ______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. ______. Ação cultural para a libertação e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia – o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. FURNES, B.; NORMAN, E.. Metacognition and reading: Comparing three forms of metacognition in normally developing readers and readers with dyslexia. Dyslexia, v. 21, n. 3, p. 273-284, 2015. IMBERNON, F. (Org.) A educação do século XXI: os desafios do futuro imediato. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. KANT, I. Doutrina do direito. Trad. Edson Bini. São Paulo: Ícone, 1993. ________. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. Trad. Leopoldo Holzbach. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 58. LEMLE, M. Guia teórico do professor alfabetizador. São Paulo: Ática, 1987.

Page 109: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

107

LIMA, R. F.; et al. Dificuldades de aprendizagem: queixas escolares e diagnósticos em um Serviço de Neurologia Infantil. Ver. Neurociências, v. 14, n. 4, p. 185-90, 2006. LIMA, R. F.; SALGADO, C. A; CIASCA, S. M. Associação da dislexia do desenvolvimento com comorbidade emocional: um estudo de caso. Revista CEFAC: Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação, p. 756-763, 2011. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, Editora Pedagógica e Universitária, 1986. LURIA. A. O desenvolvimento da escrita na criança. In: Vygotsky; Luria; Leontiev. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 14. ed. São Paulo: Ícone: 2016. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

_______. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GLAT, R.; FERNANDES, E. M. Da educação segregada à educação inclusiva: uma breve reflexão sobre os paradigmas educacionais no contexto da educação especial brasileira. Revista Inclusão, v. 1, n. 1, p. 35-39, 2005. GOSWAMI, U. Neurociencia y Educación:¿ podemos ir de la investigación básica a su aplicación? Un posible marco de referencia desde la investigación en dislexia. Psicología Educativa, v. 21, n. 2, p. 97-105, 2015. GROTTA, E.C.B. Processo de Formação do Leitor: Relato e análise de quatro histórias de vida. Dissertação de Mestrado, FE, UNICAMP, Campinas, 2000. GUTIERREZ, L. Prevalência de dislexia e fatores associados em escolares do 1º aos 4º anos. Dissertação - Universidade Católica de Pelotas, out. 2010. Disponível em: <http://antares.ucpel.tche.br/ppgsaude/dissertacoes/Mestrado/2010/PREVAL%CANCIA%20DE%20DISLEXIA%20E%20FATORES%20ASSOCIADOS%20EM%20-%20Liza%20Gutierrez.pdf >. Acesso em: 18 de mar. 2015. NERY JÚNIOR, N. Princípios do processo civil à luz da constituição federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. MANGAS, C.; SÁNCHEZ, J.. A dislexia no ensino superior: características, consequências e estratégias de intervenção. Revista Iberoamericana de Educación/Revista Ibero-americana de Educação, 2010. MANTOAN, M. T. E.; PRIETO, R. G.; ARANTES, V. A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo, Sumus, 2006. MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p. 149-158, 1990/1991.

Page 110: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

108

MARQUES, C. A. Integração: uma Via de Mão Dupla na Cultura e na Sociedade. In: M. T. E., Mantona e col. A Integração de Pessoas com Deficiência. São Paulo: Menon, 1997. MARTINS, L. A. R.; PIRES, G. N. L.; MELO, F. R. L. V. (orgs.) Inclusão: compartilhando saberes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. _________. Fundamentos em Educação Inclusiva. Formação Continuada do Docente da Educação Básica. Curso Formação de Docentes do Ensino Fundamental na Perspectiva da Educação Inclusiva. Módulo 1. Natal/RN. UFRN. 2011. MARTINS, M. A.i; CAPELLINI, S. A. Intervenção precoce em escolares de risco para a dislexia: revisão da literatura. Rev. CEFAC, São Paulo, 2011. MAZZOTTA, M. J. S. Educação especial no Brasil: histórias e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2011. MENDES, L.; MAIA, M.; GOMES, G C. Dislexia e processamento sintático. Revista Psicopedagogia, v. 27, n. 82, p. 47-58, 2010. MENDONÇA, F.; MARTINS, L. Identificação de alunos em risco de apresentarem dislexia: um estudo sobre a utilização da monitorização da fluência de leitura num contexto escolar. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 20, n. 1, p. 9-20, 2014. MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ, Vozes, 2001. MOODY, S.. Dyslexia, dyspraxia, and ADHD in adults: what you need to know. Br J Gen Pract, v. 64, n. 622, p. 252-252, 2014.

MOOJEN, S. A escrita ortográfica na escola e na clínica: Teoria, avaliação e tratamento. São Paulo, Casa do Psicólogo: 2009. MOOJEN, S.; BASSÔA, A.; GONÇALVES; H. A. Características da dislexia de desenvolvimento e sua manifestação na idade adulta. Revista Psicopedagogia. v. 33 p. 50-59. 2016.

MORAES, M. P.; CAPELLINI, S. A. Conhecimento de letras, sílabas e palavras por escolares de 1º e 2º anos do ensino fundamental. Revista Psicopedagogia, v. 27, n. 84, p. 325-333, 2010. MOUSINHO, R.; et al. Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste percurso. Revista Psicopedagogia, v. 25, n. 78, p. 297-306, 2008.

NERGÅRD‐NILSSEN, T.; HULME, C. Developmental dyslexia in adults: Behavioural manifestations and cognitive correlates. Dyslexia, v. 20, n. 3, p. 191-207, 2014.

Page 111: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

109

NUNES, C.; MADUREIRA, I. Desenho Universal para a Aprendizagem: Construindo práticas pedagógicas inclusivas. Da Investigação às Práticas, v. 5, n. 2, p. 126-143, 2015. OLIVEIRA, D.; et al. Análise da produção escrita de crianças com dislexia do desenvolvimento submetidas a intervenção fônica computadorizada. 2011. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10: Classificação Estatística Internacional de Doenças com disquete Vol. 1. Edusp, 2008. PELANDRÉ, N. L. Compreendendo o processamento da leitura: algumas considerações. Perspectiva, v. 17, n. 31, p. 21-30, 1999. PERES, M. S.; BALEN, S. A. Do acesso à acessibilidade aos conteúdos: algumas reflexões sobre a dislexia no âmbito universitário. In: MELO, Francisco Ricardo Lins Vieira de (Org.). Inclusão no ensino superior: docência e NEE. Natal: EDUFRN, 2013. p. 265-283. PINO, M.; MORTARI, L. The inclusion of students with dyslexia in higher education: A systematic review using narrative synthesis. Dyslexia, v. 20, n. 4, p. 346-369, 2014. PIRES, J.; PIRES, G. N. da L. Práticas de educação e de formação. João Pessoa: Ideia, 2011. PRADO, D.; et al. Dislexia e distúrbio de aprendizagem: histórico familial. Distúrbios da Comunicação. ISSN 2176-2724, v. 24, n. 1, 2012. RIBEIRO, A. B.; BAPTISTA, A. I. Dislexia: compreensão, avaliação, estratégias. 2006. RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1985. RIDDELL, S.; WEEDON, E. What counts as a reasonable adjustment? Dyslexic students and the concept of fair assessment. International Studies in Sociology of Education, v. 16, n. 1, p. 57-73, 2006. ROCHA, M.; et al. Dislexia: atitudes de inclusão. 2009. ROMANI, C.; TSOUKNIDA, E.; OLSON, A. Encoding order and developmental dyslexia: A family of skills predicting different orthographic components. The Quarterly Journal of Experimental Psychology, v. 68, n. 1, p. 99-128, 2015. SACCHETTO, K. K.; et al. Expressão da linguagem escrita por disléxicos adultos em processo seletivo. Dissertação de mestrado. 2012.

Page 112: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

110

SALGADO, C. A.; et al. Avaliação fonoaudiológica e neuropsicológica na dislexia do desenvolvimento do tipo mista: relato de caso. Salusvita, Bauru, v. 25, n. 1, p. 91-103, 2006. SAMPAIO, S.; FREITAS, I. B. Transtornos e dificuldades de aprendizagem: entendendo melhor os alunos com necessidades educativas especiais. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2. ed. 2014. SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. SHAYWITZ, S. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de leitura. Porto Alegre: Artemed, 2006. SILVA, M. O. E. Necessidades educativas especiais: da identificação à intervenção. In: MARTINS, Lúcia Araújo Ramos. SILVA, Luzia Guacira dos Santos. orgs. Múltiplos olhares sobre a inclusão. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009. cap. 1. p. 23-31. SILVA, N. S. M.; CRENITTE, P. A. P. Perfil linguístico, familial e do gênero de escolares com diagnóstico de dislexia de uma clínica escola. Rev. CEFAC, v. 16, n. 2, p. 463-471, 2014. SNOWLING, M. J. Dislexia. 2. ed. São Paulo: Santos, 2004. SNOWLING, M., STACKHOUSE, J. Dislexia, fala e linguagem: um manual do profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004. SNOWLING, M. J.; HULME, C. (orgs.). A ciência da leitura. Porto Alegre: Penso, 2013. SCHNEPS, M. H.; et al. History of reading struggles linked to enhanced learning in low spatial frequency scenes. PloS one, v. 7, n. 4, p. e35724, 2012. STAMPOLTZIS, A.; et al. Perspectivas docentes sobre la dislexia en una universidad griega: un estudio piloto. 2015. STEUBING, et al., (2002) apud VELLUTINO, F. R. FLETCHER, J. M. Dislexia do desenvolvimento. In: SNOWLING, Margaret. HULME, Charles. orgs. A ciência da leitura. Porto Alegre: Penso, 2013. Cap. 19. p. 380-396. STOBÄUS, C. D.; MOSQUERA, J .J. M. Educação especial: em direção à educação inclusiva. Edipucrs, 2003. SUÁREZ-COALLA, P.; CUETOS, F. Reading difficulties in Spanish adults with dyslexia. Annals of dyslexia, v. 65, n. 1, p. 33-51, 2015. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Page 113: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

111

TOPS, W.; et al. Metacognition for spelling in higher education students with dyslexia: is there evidence for the dual burden hypothesis?. PloS one, v. 9, n. 9, p. e106550, 2014. TOPS, W.; et al. Do students with dyslexia have a different personality profile as measured with the Big Five?. PloS one, v. 8, n. 5, p. e64484, 2013. UNESCO. Declaração Mundial da educação para todos e diretrizes de ação para o encontro das necessidades básicas de aprendizagem. Paris,1994. UFRN, RELATÓRIO DE GESTÃO DO EXERCÍCIO DE 2016. Disponível em: <http://www.ufrn.br/institucional/documentos> Acesso em 17 de mar. de 2016. VASCONCELOS, D. H. F.; et al. Dislexia e escola: um olhar crítico sobre a equipe multidisciplinar e sua relação com as práticas pedagógicas tendo como foco o professor. 2011. VELLUTINO, F. R. FLETCHER, J. M. Dislexia do desenvolvimento. In: SNOWLING, Margaret. HULME, Charles. orgs. A ciência da leitura. Porto Alegre: Penso, 2013. Cap. 19. p. 380-396. VIEIRA, D. O papel da psicopedagogia frente ás dificuldades de aprendizagem. Disponível em: <http:tcconline.utp.br/wp-content/updoalds/2011/05/app-frente-as-dificde-aprendizagem.pdf> Acesso em: 17 de nov. de 2014. VIEIRA, K M.; DALMORO, M. Dilemas na construção de escalas tipo Likert: o número de itens e a disposição influenciam nos resultados? In: XXXII ENCONTRO DA ANPAD, Rio de Janeiro: ANPAD, 2008. Disponível em < www.anpad.org.br/admin/pdf/EPQ-A1615.pdf>. Acesso em 07 out. 2016. VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente. 6ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007. VIGOTSKI, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2010. VITALIANO,C.R. Concepções de docentes universitários da área de educação e do ensino regular sobre o processo de integração de alunos especiais e a formação de docentes. 2002, 308f. Tese (Doutorado em educação) Universidade Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, 2002.

WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 1997. YAEL, W.; TAMI, K.r; TALI, B. The effects of orthographic transparency and familiarity on reading Hebrew words in adults with and without dyslexia. Annals of dyslexia, v. 65, n. 2, p. 84-102, 2015. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Page 114: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

112

ZORZI, J. L. Guia prático para ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem: dislexia e outros distúrbios - um manual de boas e saudáveis atitudes. Pinhais, PR: Editora Melo, 2008. _________. Aprender a escrever, a apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. ZORZI, J. L.; CIASCA, S. M. Alterações ortográficas: existem erros específicos para diferentes transtornos de aprendizagem?. Revista Psicopedagogia, v. 26, n. 80, p. 254-264, 2009. _________. Caracterização dos erros ortográficos em crianças com transtornos de aprendizagem. Revista CEFAC, v. 10, n. 3, 2008. _________. Análise de erros ortográficos em diferentes problemas de

aprendizagem. Revista CEFAC, v. 11, n. 3, 2009.

Page 115: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

113

APÊNDICES

APÊNDICE A

Carta de Anuência

Page 116: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

114

APÊNDICE B

Carta de Apresentação

Page 117: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

115

APÊNDICE C

Folha de Identificação Pesquisador

Page 118: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

116

APÊNDICE D

Termo de Confidencialidade

Page 119: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

117

APÊNDICE E

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

(CONSELHO NACIONAL DA SAÚDE, 2012 – CNS 466/12).

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa “Discentes com dislexia

na universidade: um Estudo de Caso” que tem como pesquisador responsável o

Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo.

Esta pesquisa pretende analisar a presença do discente com dislexia no

Ensino Superior, atendido pela Comissão de Apoio ao Estudante com Necessidades

Educacionais Especiais - CAENE, qual o seu desempenho acadêmico e a sua

relação com a leitura e a escrita.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é entender quais as dificuldades

que o aluno com dislexia que frequenta a CAENE enfrenta na universidade. Assim,

esta pesquisa ajudará a auxiliar este aluno quanto ao seu desenvolvimento

estudantil, como também no seu processo de inclusão.

Caso decida participar, você fará uma entrevista inicial, responderá ao

Questionário História de Leitura (QHL), os quais apresentam o objetivo de analisar a

presença de sinais associados à dislexia e a frequência de determinadas práticas

usadas para o desenvolvimento da leitura, escrita e interpretação do texto lido. O

questionário deverá ser respondido em aproximadamente 60 minutos, com previsão

de, no mínimo, dois encontros. Na entrevista inicial e no questionário, não será feita

gravação e voz e/ou imagem. Também será utilizada uma Escala para Avaliação de

Reconhecimento de Palavras (EARP), para verificar como é a leitura de um total de

55 grupos de palavras, onde deverá ser marcada a opção que o participante julga

estar correta.

Durante a realização da Escala para Avaliação de Reconhecimento de

Palavras (EARP) e do Questionário História de Leitura (QHL), a previsão de riscos é

mínima, ou seja, o risco que você corre é semelhante àquele sentido em um exame

físico ou psicológico de rotina. Desse modo, como forma de prevenção quanto a

isso, você poderá ler antecipadamente o roteiro de entrevista, estando livre para tirar

suas dúvidas. Lembramos, ainda, que caso seja necessário o pesquisador poderá

Page 120: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

118

auxiliá-lo na realização da atividade. Você tem a opção de responder as perguntas

do roteiro na presença de algum familiar ou sozinho, caso se sinta mais à vontade.

Você pode ter o benefício de receber o esclarecimento sobre o seu modo de

aprender e passar a ter o reconhecimento de suas condições diante de professores

e colegas de turma.

Em caso de algum problema que você possa ter relacionado com a pesquisa,

você terá direito a assistência psicológica gratuita que será prestada pela própria

CAENE.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas entrando

em contato com o Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo pelo telefone (84)

3342-2501 ou e-mail: [email protected].

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em

qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você nos fornecerá serão confidenciais e serão divulgados

apenas em congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de

nenhum dado que possa lhe identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa

pesquisa em local seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será

assumido pelo pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa,

você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o

Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL, da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, telefone 3342-5003.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra

com o pesquisador responsável Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os

dados serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e

benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos,

concordo em participar da pesquisa “Discentes com dislexia na universidade: um

Page 121: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

119

Estudo de Caso”, e autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em

congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me

identificar.

Natal, ___de ____________ de 2015.

_____________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Discentes com dislexia na

universidade: um Estudo de Caso” declaro que assumo a inteira responsabilidade de

cumprir fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram

esclarecidos e assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo

e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora

assumido estarei infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12

do Conselho Nacional de Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo

o ser humano.

Natal, ____de______________ de 2015.

__________________________________________

Prof. Dr. Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo

Pesquisador Responsável/Orientador

Contatos do Comitê de ética em Pesquisa do HUOL: Endereço: Av. Nilo Peçanha,

620, Petrópolis, CEP 59.012-300, Nata/RN. Telefone: 3342-5003,

e-mail: [email protected]

Impressão

datiloscópica do

participante

Page 122: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

120

APÊNDICE F

RELATÓRIOS INDIVIDUAIS DOS PARTICPANTES DA PESQUISA

Nome: João

Idade: 46 anos

Escolarização: nível superior completo

Instrumentos de avaliação:

A) Entrevista semiestruturada.

B) Questionário QHL (ALVES E CASTRO, 2003).

C) Prova de reconhecimento (CALIATTO E MARTINELLI - 2005).

Dados gerais de anamnese

João atualmente é graduado em Engenharia Mecânica. Após seis anos na

UFRN, procurou a CAENE no final de 2010, devido ao diagnóstico de dislexia e por

não mais conseguir prosseguir sozinho em seu curso. Durante a aplicação da

entrevista semiestruturada respondeu que tem como queixa principal a dificuldade

de leitura, interpretação de textos, na produção escrita, na atenção e na memória.

O participante relatou que durante toda sua vida não entendia os motivos que

geravam a sua dificuldade com a leitura e com a matemática. Com isso, passou por

diversos problemas educacionais e familiares. Somente aos 35 anos de idade teve a

oportunidade de ter a sua dificuldade diagnosticada.

Ele narrou também que no período escolar estudou em escolas públicas e

particulares, onde passou por diversas dificuldades que o levaram a duas

reprovações, uma no 7º e outra no 9º ano do Ensino Fundamental. Não obteve apoio

especializado durante esse período.

Ao ser questionado acerca da sua presença na UFRN, sempre se sentiu

satisfeito com a escolha do curso, pois desde criança gostou muito de mecânica.

Porém, devido às dificuldades enfrentadas que lhe trouxeram problemas de saúde

mental, e com isso dificuldades para acompanhar o curso, ele precisou realizar a

Page 123: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

121

suspensão de programa por quatro períodos consecutivos (2009.1, 2009.2, 2010.1,

2010.2).

Durante a aplicação da entrevista semiestruturada relatou que atualmente o

principal entrave para o bom andamento do seu curso são as barreiras atitudinais

que tornam mais escassas as adaptações metodológicas oferecidas.

Ao tratarmos sobre os aspectos socioafetivos, o participante afirmou que

atualmente o seu humor está bom. Ele relatou que se sente muito motivado, que

sonha em exercer a sua profissão com êxito, no entanto sente um alto nível de

ansiedade e angústia devido à sua situação financeira.

Quanto ao seu relacionamento social disse que possui alguns amigos e

quanto à sua família assinalou que o seu relacionamento é estável, mas que ainda

se sente magoado devido a fatos ocorridos no passado. Nas horas vagas ele gosta

de estar com a família e de ir à praia.

Resultado do QHL

Como dados qualitativos verificamos que, para o primeiro questionamento, ao

responder o questionário afirmou que quando era criança odiava a escola e fazia

tudo para não ir. Atualmente o participante se encontra em nível de bacharelado.

Ele afirmou que lembra ter enfrentado muitas dificuldades para aprender a ler

e que para isso precisou receber ajuda específica dos seus paris e docentes.

Contudo, mesmo tendo esse suporte permaneceu sentindo dificuldades, visto que

quando escrevia, frequentemente trocava a ordem das letras ou dos números.

Relatou também que na infância teve muita dificuldade para aprender os nomes das

letras e das cores. O seu sentimento era que o seu nível de leitura em comparação

aos colegas de turma sempre estava abaixo da média e que por isso necessitava

desprender muito mais esforço para realizar as suas atividades escolares do que os

seus colegas.

O participante lembra que durante todo o ensino fundamental e médio teve

muitas dificuldades durante as aulas de Língua Portuguesa.

Ele relatou também que atualmente apresenta uma atitude muito negativa

perante a leitura, que como sabe da sua grande dificuldade, prefere não ler. Sendo

assim declarou que nos horários livres não realiza leituras, bem como nas situações

Page 124: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

122

de trabalho lê o mínimo possível. Com isso evita contato com livros, revista ou

jornais impressos.

Atualmente, João considera que a sua velocidade de leitura se encontra

abaixo da média em relação à de pessoas com a mesma idade e nível de

escolaridade.

Ao tratarmos sobre a escrita o participante também não trouxe boas

recordações do seu período escolar. Relatou que no ensino fundamental foi muito

difícil aprender a escrever em consonância com as normas ortográficas da língua

portuguesa, e que também teve muita dificuldade para aprender a empregar

adequadamente a acentuação nas palavras.

Nesse sentido, do ponto de vista ortográfico, atualmente considera a

qualidade da sua escrita abaixo da média em comparação com as pessoas com a

mesma idade e nível de escolaridade.

Ao tratarmos acerca da aquisição de línguas estrangeiras João declarou que

também sentiu dificuldades.

Quando o questionário trouxe indagações sobre a sua memória, o participante

afirmou que é muito comum não lembrar os nomes das pessoas ou dos lugares,

assim como também não consegue memorizar endereços, números de telefones e

datas. Normalmente não consegue seguir orientações ou instruções verbais, sempre

precisa recorrer à informação visual.

Atualmente, constata que ao ler ou ao escrever tem menos problemas com

trocas de letras ou de números.

Devido ao exposto no decorrer do questionário, e vivenciado durante a sua

história, João procurou ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos

e docentes. No entanto essa busca ocorreu tardiamente, quando ele já estava com

35 anos de idade.

Outra informação importante trazida pelo participante ao responder o QHL é

que tanto o pai quanto a mãe relatam apresentar as mesmas dificuldades verificadas

no filho.

Reconhecimento de palavras

Ao responder os instrumentos referentes à leitura, escrita e reconhecimento

de palavras, João apresentou lentidão e baixo nível de compreensão, além de

previsibilidade das palavras escritas resultando em substituições por outras de maior

familiaridade; cometeu trocas decorrentes de letras parecidas como n/m; ausência

Page 125: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

123

quase que total da colocação de sinais gráficos e/ou acentos. Além dos erros

categorizados, o participante também demonstrou ausência de pontuação,

especialmente de vírgulas e contorno irregular do traçado das letras, que ocasionou

dificuldade para o reconhecimento dos grafemas.

Page 126: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

124

Nome: Laura

Idade: 30 anos

Escolarização: pós-graduação - doutorado

Instrumentos de avaliação:

A) Entrevista semiestruturada.

B) Questionário QHL (ALVES E CASTRO, 2003).

C) Prova de reconhecimento (CALIATTO E MARTINELLI - 2005).

Dados gerais de anamnese

A segunda participante da pesquisa, Laura, procurou a CAENE em busca de

respostas para as suas dificuldades com a leitura e a escrita. Ao responder a

entrevista semiestruturada, apresentou como principal queixa quanto à

aprendizagem o prejuízo para a interpretação de textos, para a grafia correta, a

dificuldade para manter a atenção e problemas de memória.

Quanto ao seu histórico escolar, assinalou que sempre frequentou escolas

públicas e que durante esse período não recebeu apoio especializado, mesmo tento

enfrentado dificuldades com a Língua Portuguesa e com a Matemática.

Ela relatou que descobriu a dislexia na época da escola, no Ensino

Fundamental, por volta dos 15 anos, através de uma docente de Língua Portuguesa

que, ao perceber que os registros escritos e lidos da aluna não condiziam com a sua

inteligência, preocupou-se em investigar as motivações desse fato.

Disse que apresenta muita dificuldade para expressar o que pensa por meio

da escrita. Ao ser indagada sobre qual a sua condição especial ela relatou ter

dislexia. No entanto solicitou que esta informação permanecesse em sigilo, visto que

à época sentia muito medo de ser prejudicada de alguma forma devido a esta

informação. Relatou também apresentar muita dificuldade de concentração e de

memória. Quanto a este ponto, explicou que não consegue lembrar os nomes das

pessoas, datas importantes, meses e anos.

Declarou ter dificuldade em concluir tarefas, principalmente quando se

encontra em situação de tensão. Se sente muito mal porque adia com frequência as

suas responsabilidades. Na ocasião relatou que se acha irresponsável, pois acredita

Page 127: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

125

que uma pessoa da idade dela deveria ser mais organizada. Para organizar a rotina

dos seus dias, ela usa agenda. Disse que se sente incomodada porque tem lapsos

de memória. Reconheceu que passa por fragilidades emocionais.

No tocante aos aspectos socioafetivos Laura relatou ter dificuldades para

iniciar uma conversa, já que tem receio de se expor. Por outro lado, gosta muito de

participar de atividades que envolvam o movimento corporal e que por isso faz

ballet. Além disso, gosta muito de cinema e de realizar leituras.

Com isso, admitiu que precisa se esforçar para se relacionar com as pessoas,

pois a sua primeira reação é a de fugir, se esconder para que as pessoas não

conheçam as suas fragilidades.

A discente inicialmente declarou que se considera uma pessoa bem

humorada, que se sente motivada para realizar as atividades que gosta, no entanto

posteriormente admitiu que o seu humor oscila muito. Com isso, frequentemente se

reconhece ansiosa, melancólica e com medo.

Ao ser indagada acerca das suas perspectivas, respondeu que o motivo que

lhe causa preocupação é a sua perspectiva de futuro e o fato de ainda depender

financeiramente da sua mãe. No entanto, tem a expectativa de superar as suas

dificuldades e assim alcançar o sucesso profissional.

A participante ingressou na UFRN por meio de seleção de mestrado e

declarou ter escolhido esta instituição por sempre ter sonhado em fazer parte dela. A

escolha do curso surgiu devido a sua própria história, por ter afinidade com as

discussões da área da Educação. Um dos pontos positivos é que relata estar

satisfeita com a sua escolha. Porém por não conseguir acompanhar o ritmo exigido

em um curso de pós-graduação sentiu a necessidade de trancar um semestre.

Após o término do mestrado, Laura realizou o processo de progressão para o

doutorado, dando continuidade à sua vida acadêmico-formativa.

Resultado do QHL

A participante Laura relatou que quando era criança não gostava muito da

escola porque sentia dificuldades para aprender e ler. Segundo ela para ler sempre

necessitava do auxílio dos amigos, visto que por muitas vezes trocava a ordem das

Page 128: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

126

letras e dos números e tinha dificuldades para aprender os nomes das letras e das

cores.

Ao responder o QHL relatou que o seu nível de leitura estava abaixo média

dos seus colegas. Devido a isso, em comparação aos seus colegas de classe,

precisava se esforçar mais para realizar as suas tarefas escolares.

Ela lembra também que durante as aulas de Língua Portuguesa sentia muitas

dificuldades e apresentava resultados fracos.

No entanto, atualmente ela considera que a sua atitude perante a leitura é

muito positiva, pois declarou que nos tempos livre faz algumas leituras e no âmbito

do trabalho realiza muitas leituras.

Em relação à escrita, no ensino fundamental foi muito difícil aprender a

escrever corretamente e usar as convenções ortográficas, como os acentos nas

palavras. Sentiu também grande dificuldade com as línguas estrangeiras. Ela relatou

que até os dias atuais ainda não conseguiu aprender nada em língua inglesa.

Devido a todas as dificuldades enfrentadas ela teve dois anos de insucesso escolar.

Outra característica marcante nas respostas da participante é que ela

apesenta a memória comprometida. Prova disso é que ela frequentemente esquece-

se dos nomes das pessoas, dos lugares, tem dificuldade para se lembrar de

endereços, números de telefones, datas e até mesmo de instruções verbais e de

indicações de percursos.

Atualmente a relação da participante com a leitura e a escrita permanece

conturbada. Ainda comete trocas de letras ou de números. No entanto, mesmo com

toda a dificuldade, afirma que nos tempos livres lê livros, revistas e jornais.

Relatou que procurou ajuda profissional após os dezoito anos devido as suas

dificuldades com a leitura e a escrita, a partir da indicação de uma docente de língua

Portuguesa que percebeu a recorrência de erros banais, destoantes das demais

características de Laura.

Reconhecimento de palavras

Laura demonstrou em seu texto erros na colocação de sinais gráficos e/ ou

acentos; alterações ortográficas decorrentes do apoio na oralidade como em

“licensiatura”. Além desses, ela também cometeu a troca da letra p pela t, como em

Page 129: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

127

“troduzir” e ausência quase total de pontuação, especialmente de vírgulas. Além

disso, sua letra é pouco legível devido ao contorno irregular do traçado das letras.

Ao realizar a leitura demonstrou lentificação e apoio na previsibilidade das

palavras escritas resultando em substituições por outras de maior familiaridade e

baixo nível de compreensão da leitura.

Page 130: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

128

Nome: Paulo

Idade: 26 anos

Escolarização: nível superior incompleto

Instrumentos de avaliação:

A) Entrevista semiestruturada.

B) Questionário QHL (ALVES E CASTRO, 2003).

C) Prova de reconhecimento (CALIATTO E MARTINELLI - 2005).

Dados gerais de anamnese

O terceiro participante é Paulo, matriculado na graduação em Fonoaudiologia.

Teve a iniciativa de buscar a CAENE após conversar com uma docente do seu curso

que constatou as suas especificidades.

Paulo cursou todo o ensino básico em escolas públicas. Nesse período não

recebeu apoio especializado, mesmo tendo sentido muitas dificuldades para

aprender e permanecer estudando.

Ele ingressou na UFRN aos 22 anos, por meio do antigo exame vestibular e

declarou que fez a escolha pela instituição por ela ser pública. Ao se inscrever, não

solicitou adaptações. A sua opção pelo curso de Fonoaudiologia ocorreu devido à

crença de que este seria o curso “menos difícil” da área biomédica e que lhe oferecia

chances de sucesso profissional.

Ao procurar a CAENE declarou ter dislexia. A sua queixa principal em relação

a sua aprendizagem é a dificuldade para entender os conteúdos e de se expressar

de forma escrita, nas avaliações. Atualmente não está em acompanhamento clínico

e nem fazendo uso de fármacos.

Relatou que desde a infância apresenta dificuldades para manter a atenção e

a concentração e que o problema se agrava quando necessita realizar muitas

leituras.

Durante a permanência na UFRN vem cursando as disciplinas no Centro de

Ciências da Saúde, nos turnos matutino e vespertino. Segundo ele, sente-se

satisfeito com o curso, no entanto tem se deparado com dificuldades como a

Page 131: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

129

metodologia de ensino e de avaliação adotada pelos docentes. Essa dificuldade

ocasionou a reprovação em algumas disciplinas.

O discente relatou que gosta muito de participar das atividades oferecidas

pelo curso, visto que acredita ser uma oportunidade de aprimorar o seu

conhecimento.

Quanto aos aspectos socioafetivos, Paulo afirmou que tem facilidade para se

socializar e que frequentemente está com os colegas nos intervalos das aulas e nos

momentos com a família.

Ele se considera uma pessoa bem humorada. No entanto, ao ser inquirido

sobre os tipos de sentimentos que lhe ocorrem com frequência ele relatou que é a

raiva e a desmotivação.

Apresentou como expectativas quando concluir o seu curso ser um bom

profissional e se especializar.

O discente tem boa expressão oral, de fácil compreensão. Considera que a

sua organização do pensamento é boa, porém dependendo do assunto não

consegue se sair bem.

Quanto à linguagem escrita, declarou que não comete muitas trocas,

acréscimos, omissões ou inversões de fonemas. O seu maior desafio se deve à

organização e estruturação do pensamento.

Resultado do QHL

Ao responder o QHL Paulo afirmou que quando era criança odiava ir à escola,

visto que sentia muita dificuldade para aprender. Por essa razão necessitou da ajuda

dos seus pais e docentes para aprender a ler. Ele relata que quando criança era

comum que cometesse trocas na ordem das letras ou dos números. Ele afirmou que

em relação aos seus colegas de turma o seu nível de leitura era abaixo da média.

Lembra que despendia um esforço muito maior do que a maioria para realizar os

seus trabalhos escolares.

Especificamente acerca das aulas de Língua portuguesa sentiu muitas

dificuldades e teve fracos resultados durante todo o seu ensino fundamental e

médio.

Page 132: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

130

Atualmente, considera que tem uma relação intermediária com a leitura. Em

seu tempo livre realiza poucas leituras, acredita que a velocidade da sua leitura se

apresenta abaixo da média.

Ao ser questionado sobre a aquisição da escrita em Língua Portuguesa no

período escolar assinalou que foi muito difícil aprender a escrever corretamente.

Teve dificuldade em aprender a empregar adequadamente os acentos. No entanto,

considera que atualmente a sua qualidade de escrita do ponto de vista ortográfico é

mediana, em comparação com a de pessoas com a mesma idade e nível de

escolaridade. Nos dias atuais, não sofre tanto com troca na ordem das letras ou

números.

Em relação à aquisição de línguas estrangeiras, declarou que na escola teve

muitas dificuldades e que por esta razão já procurou ajuda profissional.

Apesar de tudo que foi relatado, durante a sua história no ensino básico não

teve insucessos.

Ao tratarmos sobre a memória, ele relatou não ter maiores problemas, visto

que não tem dificuldades para lembrar-se de nomes de pessoas, de lugares,

números de telefones ou datas, assim como consegue se lembra de instruções

verbais complexas.

Relatou que atualmente, nos tempos livres, lê de dois a cinco livros por ano.

No entanto, não tem o hábito de ler revistas e nem jornais diários.

No tocante ao histórico familiar, declarou que o seu pai e o seu irmão mais

novo possuem muita dificuldade na realização da leitura e da escrita.

Reconhecimento de palavras

Paulo demonstrou dúvida no uso da escrita de p ou b, visto que essas letras

parecidas na grafia e no som. Também houve a ocorrência de erros ocasionados

pelo apoio na oralidade e na generalização de regras, como em “prevensão”.

Além dos erros categorizados, demonstrou ausência quase total de

pontuação, especialmente de vírgulas, além de contorno irregular do traçado das

letras, fato que gerou dificuldade para o reconhecimento dos grafemas.

Page 133: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

131

No tocante à leitura também verificamos a ocorrência de lentificação e da

tentativa de prever as palavras escritas ocasionando substituições por outras

palavras de maior familiaridade e baixo nível de compreensão da leitura.

Page 134: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

132

Nome: José

Idade: 24 anos

Escolarização: nível superior incompleto

Instrumentos de avaliação:

A) Entrevista semiestruturada.

B) Questionário QHL (ALVES E CASTRO, 2003).

C) Prova de reconhecimento (CALIATTO E MARTINELLI - 2005).

Dados gerais de anamnese

José procurou a CAENE logo ao ingressar na UFRN por ter diagnóstico de

dislexia e consequentemente dificuldade com a leitura e a escrita. Na ocasião

declarou que cursou o ensino básico em escolas privadas na cidade de

Campinas/SP, de onde é natural. Passou por uma reprovação no 9º ano do Ensino

Fundamental.

Ao vir morar em Natal decidiu prestar vestibular na UFRN. Ele ingressou aos

19 anos na graduação em Ciências e Tecnologia, segundo ele, por vocação. Foi

aprovado em seu primeiro vestibular.

Relatou que se preparou para a prova sozinho e que não buscou apoio

especializado. Atualmente, considera-se satisfeito com a sua escolha. Durante o seu

curso não realizou trancamentos.

O discente relatou que em 2008 fez psicoterapia devido a um quadro de

depressão, mesmo período em que recebeu o diagnóstico de dislexia. Ele possui

dificuldades no âmbito cognitivo como comprometimento da memória, concentração,

atenção no desenvolvimento de tarefas e compreensão da leitura e escrita.

Quanto aos aspectos socioafetivos, relatou que possui um bom

relacionamento social e familiar. Em seu curso tem um excelente relacionamento

com os docentes, servidores e com os colegas. Classifica o seu atual estado de

humor excelente, relata que se sente motivado para realizar as atividades. Nas

horas vagas gosta muito de atividades de lazer e que tem a natação como atividade

física preferida. Em contrapartida afirmou que o seu nível de ansiedade é muito alto.

Page 135: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

133

Resultado do QHL

Ao responder o QHL, José afirmou que quando criança gostava da escola,

mas desde cedo já apresentava dificuldades para aprender a ler. Devido a isso,

precisou da ajuda dos seus pais e docentes. Era muito frequente a ocorrência de

trocas na ordem das letras e dos números. Não teve dificuldades para aprender os

nomes das letras e das cores. Em relação aos seus colegas de turma o seu nível de

leitura era abaixo da média. Ele precisava despender muitos esforços para realizar

os seus trabalhos escolares.

Durante o ensino básico, fundamental e médio teve muitas dificuldades e

apresentou baixos resultados. Atualmente considera ter uma atitude positiva perante

a leitura, no entanto não lê em seu tempo livre. Considera que em relação às

pessoas com a mesma idade e nível de escolaridade apresenta uma velocidade de

leitura abaixo da media.

Ao tratarmos sobre a aquisição da escrita, ele assinalou que foi muito difícil

aprender a escrever em português, assim como usar a acentuação gráfica. Ao ser

questionado acerca da aquisição de línguas estrangeiras, relatou que na escola teve

muitas dificuldades.

Considera abaixo da média a qualidade de sua escrita do ponto de vista

ortográfico em comparação com as pessoas com a mesma idade e nível de

escolaridade.

Declarou que sente dificuldade em lembrar-se que nomes de pessoas, de

lugares de endereços, números de telefone e datas. Disse também que sente

dificuldade para lembrar-se de instruções verbais complexas e que até os dias atuais

comete trocas na ordem das letras e dos números ao ler e escrever.

Em seu tempo livre relata que lê pouco, em média um a dois livros por ano.

Também não tem o hábito de ler regularmente revistas. Por mês, acredita que lê

uma. Nunca lê jornais.

Durante a sua trajetória, procurou ajuda profissional devido a dificuldades com

a leitura e a escrita. Em 2008 foi ao psicólogo e ao psicopedagogo para tentar

descobrir o que lhe causava as dificuldades e, por conseguinte desenvolver

estratégias de estudo.

Quanto ao histórico familial, o seu pai também relata ter tido dificuldades em

sua vida escolar.

Page 136: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

134

Reconhecimento de palavras

O nosso quarto participante demonstrou a ocorrência de erros ocasionados

pela generalização de regras, como em “reingressar”. Além disso, ao escrever

acrescenta letras nas palavras, como em “opitar”, provavelmente devido ao apoio na

oralidade. Há nos seus registros a ausência de acentuação gráfica das palavras.

Page 137: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

135

Nome: Marcos

Idade: 22

Escolarização: nível superior incompleto

Instrumentos de avaliação:

A) Entrevista semiestruturada.

B) Questionário QHL (ALVES E CASTRO, 2003).

C) Prova de reconhecimento (CALIATTO E MARTINELLI - 2005).

Dados gerais de anamnese

O quinto discente a participar desta pesquisa, Marcos, procurou a CAENE

logo ao ingressar na UFRN devido ao diagnóstico de dislexia e a consequente

dificuldade com a leitura, escrita e atenção.

Durante a aplicação da entrevista, relatou que por todo o Ensino Básico

estudou em escola pública e que nunca recebeu apoio especializado, mesmo tenho

enfrentado diversas dificuldades com a leitura durante a sua trajetória escolar.

Ele ingressou na UFRN aos 20 anos, por meio de ENEM, não solicitou

recursos de adaptação de prova e escolheu esta instituição por ser pública federal.

A escolha do seu curso ocorreu por afinidade, visto que pratica artes marciais

desde os 12 anos de idade. Ele afirmou também que atualmente Educação Física é

o curso que mais se identifica e que está satisfeito pelo fato de aprender sobre o

funcionamento do corpo humano e de ter a oportunidade de conviver com pessoas

diferentes. Contudo relatou que se depara frequentemente com dificuldades

inerentes à sua condição que o atrapalham no acompanhamento das aulas.

Quanto aos aspectos cognitivos declarou que desde criança apresenta

dificuldades para manter a atenção e a concentração. Tem dificuldades para concluir

tarefas, especialmente quando precisa ler textos longos. Sempre teve grandes

dificuldades com as disciplinas de Português e Matemática.

Para conviver de forma mais equilibrada com a dislexia, ele faz uso de

estratégias que o ajudam a se disciplinar. Para tanto organiza o seu dia com o uso

de uma agenda. Anota todos os seus compromissos e tarefas.

Page 138: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

136

No âmbito socioafetivo avalia que tem o humor bom, que na maior parte do

tempo se sente motivado para realizar as suas atividades cotidianas e que é movido

por um ideal maior, um sonho que deseja realizar. Em contraposição declarou-se

ansioso e que sente muita necessidade de vivenciar novidades e de mudanças e

que se desestimula com facilidade.

Costuma se socializar e interagir com os colegas, docentes e familiares,

especialmente quando visita os amigos e em locais de lazer.

Ao tratarmos sobre a sua expressão oral e sobre a organização do

pensamento, ele afirmou que a considera mediana e completou relatando que já

conseguiu superar vários obstáculos, no entanto percebe que ainda falta muito para

se tornar ideal. As suas expectativas quando concluir o seu curso são de continuar

estudando, se tornar um orador motivacional e alcançar a estabilidade financeira.

Expressou também que considera o seu vocabulário moderado e que quanto

a sua dicção, gostaria de melhorar, pois as vezes gagueja.

Quanto à linguagem escrita respondeu que comete trocas, acréscimos e

inversões de fonemas. Ao escrever tem dificuldades para organizar, estruturar e

expressar o pensamento. Considera o seu texto esteticamente é feio.

Resultado do QHL

Em resposta ao QHL o participante declarou que quando era criança gostava

da escola. No entanto, sentiu muita dificuldade para aprender a ler. Precisou de

ajuda adicional de aulas de reforço, além da atenção dos docentes e dos seus

familiares. Ele lembra que quando era criança, acontecia com muita frequência de

trocar a ordem das letras ou dos números.

Relata que em relação aos seus colegas de escola o seu nível de leitura era

abaixo da média e que em comparação com os seus colegas de turma necessitava

desprender muito mais esforço do que os demais para realizar as suas tarefas.

Quando na escola estudou línguas estrangeiras teve muitas dificuldades. Devido ao

insucesso escolar repetiu um ano.

Durante toda a sua vida escolar sentiu muitas dificuldades e sempre obtinha

resultados abaixo do esperado. Nos dias atuais considera que a sua velocidade de

Page 139: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

137

leitura está abaixo da média em relação às pessoas da sua idade e nível e nível de

escolaridade.

Contudo, considera que uma boa relação com a leitura, e que ê muito em seu

tempo livre. Lê em seu tempo livre em média dois a cinco livros ao ano, não costuma

ler revistas e muito raramente lê jornais.

Ao tratarmos sobre a língua escrita, assinalou que durante o período escolar

para ele foi muito difícil apender a escrever o português corretamente. Teve muita

dificuldade para aprender a usar corretamente a acentuação gráfica. Assinalou que

atualmente, quando lê ou escreve, troca a ordem das letras ou dos números com

muita frequência.

Atualmente, do ponto de vista ortográfico, considera que a sua escrita esta

abaixo da media em comparação com a de pessoas da mesma idade e nível de

escolaridade.

Em relação a sua memória, assinalaram que sente muitas dificuldades para

lembrar-se de nomes de pessoas, de lugares de endereços, números de telefone,

datas e até mesmo de instruções verbais complexas, como a indicação de um

percurso.

Em relação ao histórico familial relatou que o seu pai tem dificuldades de

leitura, com velocidade baixa, troca de palavras e na escrita recorrência de erros

ortográficos.

Reconhecimento de palavras

Durante a aplicação dos instrumentos, Marcos foi o participante que

demonstrou maior recorrência de erros, estando presentes em seu texto o acréscimo

ou omissão de letras, como o observado em “fisil” representando a palavra “físico”;

erros na colocação de sinais gráficos e/ ou acentos; alterações decorrentes de

confusão entre as terminações am e ão, “favoreção”; erros decorrentes da

possibilidade de representações múltiplas, como em “proficional” e generalização de

regras. Além disso, constatamos também a troca na posição das letras “perceitos”

ao invés de “preceitos”.

Page 140: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

138

No tocante à leitura também verificamos a ocorrência de lentificação e da

tentativa de prever as palavras escritas ocasionando substituições por outras

palavras de maior familiaridade e baixo nível de compreensão da leitura.

Page 141: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

139

ANEXOS

ANEXO A

Parecer consubstanciado do CEP

Page 142: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

140

ANEXO B

Instrumento I: Entrevista Inicial

ENTREVISTA PEDAGÓGICA

TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM / OUTRAS

NECESSIDADES

DADOS DO ESTUDANTE:

ALUNO (A):

_______________________________________________________________

CURSO:_________________________________________________________

MATRÍCULA:____________________________________________________

TEL.:___________________________________________________________

E-MAIL:_________________________________________________________

DATA (1ª AVALIAÇÃO):____________________________________________

COMO TEVE ACESSO À CAENE?

_______________________________________________________________

ASPECTOS GERAIS:

1. Qual sua queixa principal em relação a sua aprendizagem?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

_______________________________________________________________

2. Que condição você apresenta?

( ) Deficiência Intelectual

( ) Leve

( ) Moderada

( ) Severa

( ) Deficiência Múltipla - Quais?

( ) Transtorno do Espectro Autista

( ) Síndrome de Asperger

( ) Outro. Qual?

( ) Altas Habilidades/Superdotação:

( ) Cognitivo-Acadêmica

( ) Musical

Page 143: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

141

( ) Cinestésico-Corporal

( ) Artística ( ) Outra. Qual?

( ) Transtorno/Dificuldade de

Aprendizagem

( ) Dislexia

( ) Discalculia

( ) Disgrafia

( ) Disortografia

( ) TDA/H

( ) Outro. Qual?

( ) Transtorno Mental

( ) Transtorno do Pânico

( ) Transtorno de Ansiedade

Generalizada

( ) Fobia Específica

( ) Fobia Social

( ) Transtorno Obsessivo-

Compulsivo

( ) Dependência Química

( ) Depressão

( ) Transtorno Afetivo Bipolar

( ) Distimia

( ) Ciclotimia

( ) Esquizofrenia

( ) Sintomas Psicóticos

( ) Outro.

Qual?____________________

Page 144: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

142

3. Qual a origem da sua deficiência/necessidade especial?

( ) Genética ( ) Adquirida

há quanto tempo?_____________________________________________________

4. Você atualmente faz algum tipo de tratamento?

Qual?_______________________________________________________________

5. Utiliza algum tipo de medicação?

Quais?______________________________________________________________

ASPECTOS COGNITIVOS DO ESTUDANTE:

1. Apresenta dificuldade de manter a atenção e concentração? Desde

quando?

2. Como você avalia sua memória?

3. Sente dificuldade de concluir tarefas que inicia? Em quais situações?

4. Você adia com frequência suas responsabilidades? Justifique

5. Como se organiza no dia a dia?

6. Sente necessidade de mudanças e/ou novidades com frequência?

7. Quais disciplinas sente mais dificuldades? Justifique.

ASPECTOS SÓCIO-AFETIVOS DO ESTUDANTE:

1. Como avalia seu humor?

Page 145: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

143

2. Sente-se motivado? Justifique

3. Que tipos de sentimentos você costuma sentir com frequência?

4. Costuma socializar e interagir com colegas, professores e familiares? Onde e

em quais circunstancias?

5. Quais suas expectativas quando concluir o seu curso? O que almeja para o

futuro?

ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS:

LINGUAGEM ORAL:

1. Expressão oral:

2. Organização do pensamento:

3. Dicção:

4. Vocabulário:

LINGUAGEM ESCRITA:

1. Troca de fonemas/ Acréscimos/ Omissões/ inversões:

2. Organização e estruturação do pensamento:

3. Estética do texto:

Page 146: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

144

DADOS ESCOLARES DO ESTUDANTE:

1. Que tipo de escola frequentou antes de ingressar na UFRN?

Educação Infantil: ( ) Pública ( ) Particular

Ensino Fundamental: ( ) Pública ( ) Particular

Ensino Médio: ( ) Pública ( ) Particular

2. Na(s) escola(s) em que você estudou, foi fornecida alguma forma de apoio

especializado?

( ) Não ( ) Sim

Qual?_______________________________________________________________

3. Você enfrentou dificuldades ao longo de sua trajetória escolar?

( ) Não ( ) Sim

Quais?______________________________________________________________

SOBRE O INGRESSO NA UFRN

1. Forma de ingresso: ( ) ENEM ( ) Reingresso ( )

Outra_______________________________________________________________

2. Com que idade ingressou na UFRN?

______________________________________________________________

3. O que levou a optar pela UFRN?

______________________________________________________________

4. O que influenciou na escolha do seu curso?

___________________________________________________________________

5. Você solicitou algum tipo de apoio/recurso para se submeter ao processo

seletivo (ENEM/vestibular/outro) da UFRN?

Page 147: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

145

( ) Sim – Qual?

_______________________________________________________________

( ) Não – Por que?

_________________________________________________________________

Foi atendido em suas solicitações? ( ) Sim ( ) Não

SOBRE A PERMANÊNCIA NA UFRN

1. Setor de aula onde estuda:

_______________________________________________________________

2. Em que período do curso se encontra:

_______________________________________________________________

3. Turno que estuda:

_______________________________________________________________

4. Está satisfeito com o curso? ( ) Sim ( ) Não

Por quê?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

5. Você tem se deparado com alguma dificuldade no curso? ( ) Sim ( ) Não

Qual?__________________________________________________________

Page 148: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

146

Em caso de:

Reprovação(ções)?

Motivo(s):____________________________________________________________

Trancamento de disciplina? Motivo(s):

___________________________________________________________________

Você possui algum recurso e/ou equipamento próprio para apoiá-lo na realização de

suas atividades acadêmicas? ( ) Não ( ) Sim

Quais?______________________________________________________________

6. Você participa de atividades oferecidas pelo seu curso? ( ) Não ( ) Sim –

Qual(is)?

( ) Extensão ( ) Pesquisa ( ) Eventos ( ) Monitoria

7. Deseja participar? ( ) Não ( ) Sim.

Por quê?____________________________________________________________

8. Que apoio educacional você precisa para desenvolver seus estudos?

_________________________________________________________________

________________________________________

Assinatura do estudante

________________________________________

Assinatura do Profissional

Page 149: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

147

ANEXO C

Instrumento II: Questionário História de Leitura

Page 150: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

148

Page 151: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

149

Page 152: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

150

Page 153: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

151

ANEXO D

Instrumento III: Escala de Avaliação e Reconhecimento de

Palavras

Page 154: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

152

ANEXO E

Instrumento IV: Textos para os ditados

Texto usado com João

Engenharia Mecânica

O engenheiro mecânico desenvolve, projeta e supervisiona a produção de

máquinas, equipamentos, veículos, sistemas de aquecimento e de refrigeração e

ferramentas específicas da indústria mecânica. seleciona e dimensiona a matéria-

prima, providencia moldes das peças que serão fabricadas, cria protótipos e testa os

produtos obtidos. Organiza sistemas de armazenagem, supervisiona processos e

define normas e procedimentos de segurança na linha de produção. Controla a

qualidade, acompanhando e analisando testes de resistência, calibrando e

conferindo medidas.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/engenharia-

mecanica-2/>. Acesso em: 31 mar. 2015. [Adaptado]

Page 155: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

153

Texto usado com Laura

Quais são as áreas de atuação para quem faz Filosofia?

O filósofo é o pensador que se debruça sobre questões da ética, estética,

epistemologia e da política. A partir da especulação e da argumentação, o filósofo

busca destrinchar a natureza e as condições das ideologias, dos valores humanos,

da “verdade”, das ciências, das relações humanas.

Disparadamente a maior área de atuação é o ensino de filosofia, tanto no

ensino médio como no ensino superior. Para ser professor de ensino médio é

necessária a licenciatura. Para lecionar em faculdades o graduado deve realizar

estudos de pós-graduação.

Outras possibilidades são trabalhar com crítica de arte / literatura, produzir e

editar textos reflexivos sobre temas pertinentes à área e eventualmente em

empresas e instituições que desejem refletir sobre aspectos éticos.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/orientacao-profissional/quais-

sao-as-areas-de-atuacao-para-quem-faz-filosofia/>. Acesso em: 31 mar. 2015.

[Adaptado]

Page 156: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

154

Texto usado com Paulo

Fonoaudiologia

É a ciência que se ocupa da prevenção, da habilitação e reabilitação da voz,

da audição, da motricidade oral, da leitura e da escrita. O fonoaudiólogo trata de

deficiências de fala, audição, voz, escrita ou leitura. Pode atuar em parceria com

outros profissionais, como fisioterapeutas e psicólogos. Com dentistas, trata de

males que podem causar ou agravar problemas ortodônticos. Trabalha em clínicas,

consultórios, escolas, hospitais e emissoras de televisão, auxiliando atores e

apresentadores na postura da voz. Para exercer a profissão é exigido registro no

Conselho Regional de Fonoaudiologia.

Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/fonoaudiologia/>.

Acesso em: 31 mar. 2015. [Adaptado]

Page 157: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

155

Texto usado com José

Bacharelado em Ciências e Tecnologia

O curso de Bacharelado em Ciências e Tecnologia é novo na UFRN. A

primeira turma de 500 alunos entrou no semestre 2009.2. As aulas do curso são

ofertadas preferencialmente no turno indicado, podendo ocorrer atividades

acadêmicas em outro turno.

O caminho natural desse curso é a formação generalista e, ao longo de sua

formação, os alunos estudarão conteúdos básicos da área de Ciências e Tecnologia.

Porém, tem um modelo diferente dos tradicionais ofertados na UFRN. Trata-se de

um modelo conhecido como formação em dois ciclos. Isto significa que você, ao

optar por fazer este curso com duração de 03 anos, terá oportunidade de reingressar

em outro curso vinculado ao BC&T.

Disponível em: <http://www.ect.ufrn.br/index.php/formacao-em-dois-ciclos>. Acesso

em: 31 mar. 2015. [Adaptado]

Page 158: DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO · ELAINE CRISTINA DE MOURA RODRIGUES MEDEIROS DISCENTES COM DISLEXIA NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada

156

Texto usado com Marcos

As áreas de atuação do profissional de Educação Física

O campo de trabalho do profissional em Educação Física é extenso e

diversificado. Existem trabalhos que identificam mais de 30 atuações possíveis para

esses profissionais. Atualmente, verifica-se a existência de dois grandes setores de

atuação profissional em Educação Física: o escolar ou formal e o não-escolar ou

não-formal.

O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, tendo

como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e

da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis

adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários,

visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da expressão e estética

do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da

compensação de distúrbios funcionais, observados os preceitos de

responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e

coletivo.

Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/areas-

de-atuacao/3419>. Acesso em: 31 mar. 2015. [Adaptado]