os desafios da escola pÚblica paranaense na … · a cultura organizacional da escola apresenta-se...

25
Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

Upload: others

Post on 29-May-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Título: CULTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA: O DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE OS SUJEITOS QUE FAZEM A EDUCAÇÃOAutor Ana PietroskiDisciplina/Área Gestão EscolarEscola de Implementação do projeto e sua localização

Escola Estadual Tiradentes – EF, Pitanga - Paraná

Município da Escola

Pitanga

Núcleo Regional PitangaProfessor Orientador

Ademir Nunes Gonçalves

Instituição de Ensino Superior

Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO

Relação Interdisciplinar

Todas as áreas do conhecimento

Resumo: A cultura organizacional da escola apresenta-se comorealidade social complexa, problemática, heterogênea eambígua. Para que se estabeleça uma cultura organizacional daescola que atenda os anseios sociais, se materialize numprojeto educativo e que satisfaça os anseios políticos dosgrupos que a compõem, faz-se necessário o estabelecimentode diálogo permanente entre tais grupos, em função de seusinteresses individuais ou grupais. Objetivos: conceituar Cultura Organizacional da Escola eLiderança Relacional, delinear a identidade de cadaindivíduo/grupo de educadores e da Escola e perceber ascontradições entre o ordenamento racional e a prática dasações colegiadas.

Prevê a realização de 8 encontros presenciais de 4horas cada e 8 horas não presenciais, nos quais serãotrabalhados textos informativos e reflexivos, que incitem asdiscussões sobre o tema e forneçam ferramentas para oentendimento da realidade particular e coletiva de cada um naorganização e instrumentalizem para a construção de uma novacultura organizacional.

Palavras-chave

Cultura Organizacional, gestão coletiva, liderança

Formatodo Material

Didático

Caderno temático

PublicoAlvo

Pedagogos, Professores Direção e Funcionários doEnsino Fundamental e Médio

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba - Paraná

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

CADERNO TEMÁTICO

CULTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA: O DIÁLOGO

NECESSÁRIO ENTRE OS SUJEITOS QUE FAZEM A EDUCAÇÃO

ANA PIETROSKI

PITANGA

2013/2014

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba - Paraná

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

CADERNO TEMÁTICO

CULTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA: O DIÁLOGO

NECESSÁRIO ENTRE OS SUJEITOS QUE FAZEM A EDUCAÇÃO

ANA PIETROSKI

Unidade Didática apresentada a coordenação doprograma de Desenvolvimento Educacional daSUED/SEED/PR como requisito paraimplementação do Projeto de Intervenção comEducadores, o qual será implementado na EscolaEstadual Tiradentes de Pitanga, sob a orientaçãodo Professor Doutor Ademir Nunes Gonçalves.

PITANGA

2013/2014

1. APRESENTAÇÃO

A cultura organizacional da escola apresenta-se como realidade social

complexa, problemática, heterogênea e ambígua.

Nela se delineiam interesses pessoais diversos que se conflituam entre si e

com as influências de autoridade e poder estabelecidas pelas dimensões

hierárquicas, vulneráveis ao ambiente externo (governo, instituições, comunidade),

denotando uma relação caótica e desarticulada, não atingindo a coordenação e o

acompanhamento da atividade educativa.

Para que se estabeleça uma cultura organizacional da escola que atenda os

anseios sociais, se materialize num projeto educativo e que satisfaça os anseios

políticos dos grupos que a compõem, faz-se necessário o estabelecimento de

diálogo permanente entre tais grupos, em função de seus interesses individuais ou

grupais, estabelecendo estratégias de permanente aprendizagem coletiva para criar

e recriar uma significativa história comum, enfatizando que o espaço escolar é um

espaço social, portanto caracterizando-se em uma instituição social.

A ideologia presente na escola, que sobrevive

em meio as contradições a que é submetida,

acrescida das multiculturas e subculturas carregadas

pelos indivíduos que a compõem, manifesta-se de

forma fluida, tênue e desarticulada das ações que

realiza.

O embate entre o lógico e o histórico, entre o

normativo e o planificado, entre a racionalidade e o

fenomenológico, criam uma situação desarmônica,

desestabilizante e, em última instância, de

acomodação, de conformismo perante a aparente

impotência dos sujeitos em relação ao imprevisto e à

tomada de decisões.

Configura-se na escola um quadro de desarticulação, desunião e falta de

clareza na própria cultura (símbolos, mitos, concepções, estratégias), criando ações

departamentalizadas, individuais e incipientes, marcadas pela falta de diálogo, de

planejamento e de consecução de objetivos comuns.

Importa ressaltar que a natureza da escola, enquanto instituição social, não é

Ideologia: Entenda-se, neste contexto, ideologia como sendo um conjunto de idéias ou pensamentos de um grupo de indivíduos.

Lógico: ideía, palavra, razão e regularidade. Conjunto de regras que acata o processo de pensar. Designa ainda as regularidades do mundo objetivo.

desarticulada, caótica. Essa configuração deve-se à manifestação das ações dos

sujeitos que a compõe. Os sujeitos, quando de suas intervenções no cotidiano

escolar, carregam suas manifestações com os seus interesses pessoais, com suas

crenças, com suas expectativas, que se sobrepõem à função precípua da escola e

aos interesses coletivos na demanda do trabalho escolar.

Assim, propõe-se desenvolver este Caderno Temático/Intervenção

Pedagógica junto aos Professores, Professores Pedagogos, Equipe de Educação

Especial, Direção, Agentes Educacionais I e Agentes Educacionais II da Escola

Estadual Tiradentes de Pitanga. Esta Intervenção se realizará através de um Curso

de Extensão, certificado pela UNICENTRO, com duração de 40 horas, na forma de 8

encontros presenciais de 4 horas cada, mais 8 horas não presenciais, na forma de

estudo de textos previamente propostos.

Com a realização dos encontros, pretende-se subsidiar e contribuir com

estruturas e condições para a construção da nova cultura organizacional exigida

para a gestão democrática e coletiva da escola pública, além de conceituar Cultura

Organizacional da Escola e Liderança Relacional, delinear a identidade de cada

indivíduo/grupo de educadores da Escola e perceber as contradições entre o

ordenamento racional e a prática das ações colegiadas.

1.1. RESUMO E METODOLOGIA DOS ENCONTROS

Primeiro encontro: prevê a apresentação do tema e a apresentação dos resultados

obtidos a partir de Instrumento de Pesquisa respondido pelos Educadores na

Semana Pedagógica 2013, Em seguida, propõe-se o estudo, reflexão e discussão

da “identidade da Escola”.

Segundo encontro: estudo do tema “Identidade do Educador”, com ênfase na

busca da identidade de cada participante frente à organização escolar.

Terceiro encontro: trabalho com o tema “Cultura”, envolvendo definição, tipos,

espaços de construção e transmissão da cultura.

Quarto encontro: estudo do tema “Arquitetura escolar x comunicação”, buscando

identificar quais aspectos arquitetônicos favorecem ou fragilizam a comunicação

entre os sujeitos na organização.

Quinto encontro: trabalho com o tema “Cultura Organizacional”: conceito, origem,

relações, configuração na Escola.

Sexto encontro: estudo do tema “Os Educadores e a Cultura Organizacional”, com

ênfase na e identificação pessoal e individual dentro da dinâmica da organização.

Sétimo encontro: temas: “Gestão Participativa” e “Liderança e Gestão”, com

enfoque na perspectiva democrática e na tomada de decisões coletiva.

Oitavo encontro: estudo, reflexão, discussão e proposição do “Projeto de Mudança

na Escola”.

2. DESENVOLVIMENTO DOS ENCONTROS

2 .1.Primeiro encontro

Tema: Identidade da Escola

Objetivos: subsidiar a reflexão e a discussão sobre as possíveis nuances que

compõem a identidade da Escola.

Fundamentação teórica:

Interpretando o Instrumento de Pesquisa

Durante o período destinado à Formação Continuada 2013, nos dias 24 e

25/07/2013, os educadores da Escola Tiradentes receberam um Instrumento de

Pesquisa, tendo respondido 18 questões objetivas sobre as ações que são

desenvolvidas na escola.

Após responderem as questões, os educadores foram convidados a se

reunirem com seus pares, em grupos organizados conforme a função de cada um

(grupos de: Professores, Equipe Pedagógica, Educação Especial, Agentes I e

Agentes II), para discutir 5 questões propostas e cujos apontamentos deveriam ser

apresentados em plenária a todos os grupos reunidos.

O instrumento de questões fechadas foi construído de forma a revelar quatro

diferentes enfoques:

- Participação – questões 4, 6 e 8

- Envolvimento – questões 2, 5, 11, 12, 13, 14 e 17

- Trabalho Cotidiano – questões 1, 9 e 15

- Ambiente – questões 3, 10, 16 e 18

A questão 7 pretende dimensionar a valoração que cada educador imprime a

algumas ações realizadas pela Escola.

Resultados

No enfoque “Participação”, percebe-se uma significativa preocupação em

participar de encontros de formação, reuniões e Instâncias Colegiadas por parte da

maioria dos educadores que responderam o instrumento de pesquisa.

No enfoque “Envolvimento” nota-se que a grande maioria afirma envolver-se

em todas as ações desenvolvidas pela escola, porém, a mesma maioria reconhece

que, fora do horário regulamentar de trabalho, não se ocupa com questões

referentes à Escola, o que denota um envolvimento relativo.

No enfoque “Trabalho Cotidiano”, percebe-se a preocupação em buscar a

formação continuada e a disposição para o trabalho em equipe, além da clara

evidência do reconhecimento como parte importante da organização escolar.

No enfoque “Ambiente”, evidenciam-se as dificuldades de compartilhamento

de tarefas e de relacionamentos entre colegas. Embora a maioria considere a

convivência como sendo motivo de crescimento, por vezes “confessam” que a

distribuição de tarefas é desigual, que em caso de falta ao trabalho as suas funções

não serão assumidas pelos colegas ou ainda que outros trabalham menos.

Na questão 7, onde cada um deveria ordenar as ações realizadas na escola

pelo que considera mais eficiente, evidencia-se como destaque a preocupação em

atender as ordens externas, seguida do processo ensino aprendizagem e da

participação da comunidade na escola. Foram considerados como menos eficientes

a transparência nas ações administrativas, o respeito pelo trabalho do outro e a

colaboração mútua.

A identidade da Escola

A escola, embora submetida a regulamentos

únicos, tem caráter dinâmico, autônomo e único,

diferenciando-se das outras unidades escolares de

mesmo grau de ensino, de mesmas regiões, de

mesmo porte ou de mesmo tipo de público.

Isso se deve à sua existência como grupo

social, que carrega em sua estrutura a luta política

que ocorre em seu interior, luta essa movida pela

reapropriação e reinterpretação diferenciadas dos

códigos sociais pelos grupos que a compõem.

Dessa forma, apesar de se estruturarem de modo semelhante, as escolasacabam por diferenciar-se, constituindo identidades próprias, culturasescolares nas quais os grupos vivenciam diferentemente códigos e sistemasde ação. A cultura interna das escolas varia como resultado da negociaçãoque dentro delas se dá entre as normas de funcionamento determinadaspelo sistema e as percepções, os valores, as crenças, as ideologias e osinteresses imediatos de administradores, professores, funcionários, alunos epais de alunos. (Teixeira, 2002, p 41)

Considerando-se a escola apenas por seus aspectos institucionais emanados

do poder público, que a normatizam, burocratizam e uniformizam, deixa-se de lado

sua individualidade enquanto organização estruturada em aspectos próprios e

espontâneos, resultantes da integração entre os diversos indivíduos que a

constituem.

A escola apresenta-se como espaço de construção e afirmação de

identidades, que são socialmente construídas, mas são também relacionais,

divergentes, contraditórias e instáveis.

Faz-se necessário interpor-se na escola a reflexão contínua e sistemática

sobre “que identidades estamos construindo nas escolas e que identidades na

contramão dos padrões hegemônicos, poderíamos construir, transformando nossas

práticas curriculares” (PACHECO, 2005).

Importa considerar que não existe sujeito estático, amorfo, que estabelece

com o funcionamento da escola uma relação pacífica e uniforme. Os sujeitos são

produto das dinâmicas sociais, culturais e ideológicas e esses aspectos confrontam-

Entenda-se regumentos únicos como as normas, diretrizes e instruções emanadas pela Secretaria de Estado da Educação para todas as escolas públicas estaduais, indenpendentemente de sua localização ou tipo de público. Por exemplo: o “porte” das escolas que rege o número de profissionais a que cada escola tem direito e o “Fundo Rotativo”, que destina verba para a manutenção das escolas.

se no cotidiano escolar com a hegemonia pretendida pelo fazer pedagógico.

Como diz POPKEWITZ, 2001, p.37,

… as escolas não são unicamente espaços físicos, confinados a umageografia localizada, que sofrem um processo de normalização, mastambém espaços discursivos, constituídos pelo sistema de ideias, distinçõese separações que funcionam para confinar o aluno a determinadasnormalizações. (Apud PACHECO, 2007)

Neste contexto, o currículo configura-se como a grande ferramenta para os

educadores e os educandos exercitarem a reflexão sobre si próprios como sujeitos

sociais e ainda buscarem a garantia de um projeto educacional que traduza e

(re)construa a identidade própria do grupo e da escola enquanto instituição e que

não se esvazie na instabilidade das políticas de governo a que as escolas são

condicionadas.

2 .2.Segundo encontro

Tema: Identidade do Educador

Objetivos: possibilitar a análise do papel do educador na transformação social

através do trabalho na escola, permitindo construir uma identidade própria para

esse sujeito.

Fundamentação teórica:

A Identidade do Educador

Como educadoras e educadores somos políticos, fazemos política ao fazer

educação. E se sonhamos com a democracia, que lutemos, dia e noite, por uma

escola em que falemos aos e com os educandos para que, ouvindo-os, possamos

ser por eles ouvidos também. (Paulo Freire)

Os sujeitos são gerados culturalmente e geram uma cultura que os constitui.

Sendo assim, os sujeitos são seres interpretativos, que constroem significados, que

instituem sentidos, que agregam saberes nas relações sociais.

Os educadores, como sujeitos, também se constituem na cultura,

especialmente na cultura escolar, nos discursos acadêmicos, históricos e sociais e

se renovam, se (re)constroem, se “politicizam”.

Sendo a escola espaço de construção de identidades, é no embate entre as

perspectivas, os valores e os significados pessoais que cada educador carrega

consigo, as pressões da padronização imposta pelo trabalho escolar e as divisões

mascaradas e ocultas da organização escolar que se constroem as identidades

individuais e coletivas.

Boaventura Souza Santos define de forma muito contundente a articulaçãonecessária entre identidade e diferença: “as pessoas e os grupos sociaistêm o direito de ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito deser diferentes quando a igualdade os descaracteriza”. (Caderno CINFOP, p30)

A compreensão da construção e afirmação das identidades dos educadores e

da escola exige ainda questionar os olhares dos educadores de dentro da escola e

do olhar da comunidade que olha do exterior da escola, bem como da interface

desses distintos olhares.

Evidenciam-se como contraditórias as posições dos educadores e da

comunidade com relação à função da escola: enquanto os primeiros buscam, ainda

que fluidamente, a transformação social, a comunidade ainda acredita na visão

capitalista e conteudista da educação.

Para que se garanta um projeto educacional que atenda aos anseios de

educadores, sem no entanto arrefecer a expectativa da comunidade e que possa

promover a transformação desejada e necessária é preciso efetivar a reflexão e a

ação coletiva, que alcance a congruência de todas as individualidades,

especificidades, experiências e práticas em torno do objetivo único da aprendizagem

significativa e a humanização dos sujeitos.

Para COSTA, (1995),

a democracia no âmbito escolar requer a participação ativa no processo deplanejamento, gestão e avaliação coletiva do projeto político-pedagógico.Isto se traduz na combinação entre forma, que significa uma administraçãocompartilhada com todos os segmentos que compõem a escola, econteúdo, o projeto educativo que dá sustentação e confere uma identidadeà escola. (CINFOP, 3 – p 36)

Importa ainda compreender que o educador deve mostrar que o homem, para

conquistar a emancipação, precisa do conhecimento.

2. 3. Terceiro Encontro

Tema: Cultura

Objetivos: conceituar cultura, identificar os espaços de produção de cultura,

compreender a dinâmica de socialização da cultura nos diversos momentos sócio-

históricos.

Fundamentação teórica:

A palavra “cultura”, dada sua complexidade semântica, engloba vários

sentidos e é utilizada em diversas abordagens.

Para as línguas ocidentais, cultura é o “refinamento da mente”, cujo resultado

expressa-se em educação, literatura e arte.

Para os antropólogos, a cultura é fruto da interação do indivíduo com o grupo

social do qual participa.

Há, porém, um sinônimo comum: a cultura é essencial na produção do

homem. Nesse aspecto, Teixeira (2002, p.19), afirma que:

Essa concepção permite que se pense na cultura como sendo ao mesmotempo o que é instituído (códigos, normas, sistemas de ação) e o que éinstituinte, ou seja, a vida cotidiana que ainda não se institucionalizou.Esses dois pólos, instituído e instituinte, se relacionam de modo que acultura resulta da ação entre eles.

Assim, a cultura pode ainda ser entendida como o resultado da interação

entre os símbolos, normas e práticas cotidianas com a leitura que se faz da memória

social.

[...] a cultura caracteriza-se por um processo contínuo e ativo de construçãoda realidade, não sendo simples variável que as sociedades ou asorganizações incorporam, mas um fenômeno ativo, através do qual aspessoas criam e recriam os mundos em que vivem. (MORGAN, apudTEIXEIRA, 2002, p.19).

A cultura é, em última análise, um fator aglutinador, uma vez que, com a

construção do significado social, possibilita a expressão de crenças e valores de um

grupo, permitindo o seu fortalecimento e sua ressignificação.

2 .4. Quarto Encontro

Tema: Arquitetura Escolar X Comunicação

Objetivos: Identificar a relação entre arquitetura e comunicação no universo

escolar, relacionando a disposição dos ambientes no espaço com o fluxo da

informação.

Fundamentação teórica:

Arquitetura Escolar X Comunicação

Sabe-se que a arquitetura contribui para a interpretação das manifestações

culturais no universo escolar.

Os indivíduos se relacionam com o ambiente e este influi sobre seus

comportamentos, o que constitui o espaço como objeto social.

Reproduzem-se no espaço os valores sociais, as representações e condutas,

mais que apenas as funções materiais.

[…] a linguagem da arquitetura escolar adquire significados e significaçõesao longo de sua existência histórica […] o discurso sobre o seu objeto, oespaço escolar, é semantizado por múltiplos usos que dele se faz, quer sejapelas autoridades públicas de ensino, quer seja pelos mantenedores dasinstituições provadas, assim como pela população estudantil que nelecircula. (BENCOSTTA, apud OLIVEIRA, 2007, p.122)

Entende-se ainda que a relação do indivíduo com o espaço não é neutra, mas

interativa: ora o indivíduo reforça sua identidade pessoal e sua identidade social no

exercício da territorialidade, ora imprime seus valores culturais no ambiente.

...os espaços de trabalho não são simples espaços mecânicos; são espaçoshumanos porque são humanizados como todos os outros ambientes, deuma parte em função de um jogo de diferenciação cognitiva e simbólicapermanentemente operado sobre ele, e de outra parte em função decondutas que o integram como uma “dimensão oculta” (Hall, 1966) de suaestratégia no interior do sistema profissional, (Chanlat, 1993, p.84)

Considerando que o espaço laboral não é privado, a tendência do indivíduo é

transformar o espaço, independentemente das normas, regras e o grau de

convivência, em espaço que lhe pertence.

O espaço estabelece ainda relação com a cultura organizacional, sendo como

que um “cartão de visitas”, anunciando a que serve, como funciona e que tipo de

comunicação espera manter com o exterior.

… toda a arrumação desenha uma paisagem que evoca sensações eproduz apreciações sobre o espaço de trabalho, seus valores e suaimagem. […] O espaço arquitetônico, além de seus componentes sócio-funcionais, opera a apresentação da organização. (Chanlat, 1993, p.99)

A distribuição espacial influencia ainda, direta e contundentemente, no fluxo

das informações na organização. Uma disposição arquitetônica fechada, linear e

“departamentalizada”, valoriza a hierarquia, a manutenção do poder e da vigilância e

dificulta o trânsito da informação.

[…] o espaço organiza e orienta a necessidade de estruturar a informaçãode um modo funcional. O dispositivo espacial permite verificar que aspessoas não se comunicam com quem querem; devido às posiçõesrelativas, as pressões do meio organizacional orientam mais ou menosfortemente as comunicações. (Chanlat, 1993, p.92)

Se a dinâmica espacial não é a ideal para favorecer a comunicação,

especialmente a interna, importa promover adaptações e adequações que

estimulem o trânsito de informações e não permitam exclusões. Isso também

permitiria a identificação dos sujeitos com o local de trabalho, constituindo-se como

local de enraizamento, de realização, de harmonia e de crescimento.

2 . 5 Qu in to Encontro

Tema: Cultura organizacional

Objetivos: Conceituar Cultura Organizacional da Escola, perceber as contradições

entre o ordenamento racional e a prática das ações colegiadas e identificar como se

processa a organização na escola.

Fundamentação teórica:

Entendendo Cultura Organizacional

O termo “cultura organizacional” surgiu nos anos 1960, na literatura de língua

inglesa, inicialmente como sinônimo de “clima”.

Hoje, é utilizado por diferentes autores para abordar a vivência numa

organização, seja ela pública ou privada.

A cultura da organização é o reflexo da cultura social. Assim, não cabe um

agir próprio e inédito, mas o que é predeterminado pela dinâmica da cultura social.

A compreensão da complexidade da organização exige que sejam levadosem conta o relacionamento entre os padrões culturais específicos dessaorganização e os processos e relações de poder que determinam suadinâmica. (TEIXEIRA, 2002, p. 34).

A cultura da organização constitui-se ainda da internalização pelos sujeitos

(embora inconscientemente) dos valores e pressupostos simbolizados pelos

elementos físicos (visíveis) que incluem a arquitetura, o aspecto exterior (fachada), o

mobiliário, os equipamentos, os sons que se ouvem, etc.

A arquitetura do prédio escolar e a ocupação do espaço físico não são

neutras e influenciam as ações dos sujeitos, podendo favorecer ou inibir o diálogo e

a comunicação interna. O tipo de construção, a localização dos espaços e de cada

setor da escola, tudo expressa uma expectativa de comportamento, da forma da

circulação das pessoas, da definição das funções para cada local e especialmente

da comunicação entre os que ali convivem.

A escola, como organização, insere-se num espaço sócio-cultural, o qual

determina como se efetivam suas ações, tornando-se, portanto, uma realidade social

construída de forma compartilhada, cuja dimensão organizacional se contrói em

espaço próprio (o prédio escolar).

Assim reforça Teixeira (2002, p. 40):

Sendo “a escola instituição socialmente destinada a criar e a reproduzir osaber e a cultura, torna-se o espaço privilegiado de reapropriação einterpretação da cultura” (TEIXEIRA & PORTO, 1996, p.3) e é através desseprocesso de reapropriação e reinterpretação que as normas, regras eestatutos gerados e impostos pelos sistemas de ensino são revitalizados eadaptados à realidade de cada escola. Por ela, a escola é, ao mesmotempo, reprodutora das normas e determinação vindas de fora e produtora,criadora de seu próprio repertório de normas e valores.

Dentro da escola, como organização, os sujeitos dão sentido ao contexto

escolar referenciando as regras, as políticas, as práticas, os objetivos e a própria

estrutura organizacional estabelecida.

Cada sujeito carrega em suas intenções toda a carga de saberes, de

significados, de símbolos, de missão, de valores e de crenças construídos ao longo

da vida e que são refletidos em suas ações.

Os indivíduos não são nem elementos mecânicos, nem sujeitos passivos,mas detém interesses de ordem diversa – pessoais, profissionais e políticos– e procuram realizá-los através das organizações. (COSTA, 1996, p. 81).

Assim, efetivam-se na escola, enquanto organização, miniaturas de sistemas

políticos, onde os indivíduos se organizam a partir de interesses pessoais ou

coletivos e, para alcançar seus objetivos, estabelecem estratégias, estimulam

conflitos, coligações e negociações, amealham influências, poderes e lideranças.

Na ocorrência de problemas, o colegiado em geral não estabelece um plano

coeso, seqüencial e articulado, mas observa-se uma atitude pluralista, em que cada

sujeito busca defender seus interesses e valores, em detrimento da questão

objetivada, suplantando o que deveria ser uma decisão coletiva e transpessoal.

Os momentos destinados à tomada coletiva de decisões configuram-se como

mero cumprimento de normas advindas de poderes hierárquicos e se esvaziam em

discussões inócuas e dispersas, legitimando a situação “anárquica” das

organizações escolares.

Se, por um lado, se perpetua nas escolas a prática da falta de coesão e,

muitas vezes, tendenciosa de alguns sujeitos, por outro, não se pode negar a labuta

de alguns por resistir às regras impostas e outros ainda por contraporem-se às

contendas de forma ética e preocupada com a resolução dos problemas de maneira

a atingir efetivamente o objetivo da escola, ou seja, a aprendizagem significativa.

Como relata Teixeira (2002, p. 301),

A perspectiva da cultura escolar permitiu-me perceber que, apesar dasdificuldades, dos desânimos e das contradições, sobrevivem, nas escolas,ideais, lutas e ações que revelaram, por parte de muitos dos seusprofissionais, comprometimento com os alunos, busca de renovação, demelhoria da instituição escolar. Considerando-se que as escolas são criadase organizadas por ações humanas, acredito que novas formas deorganização, novas escolas, abertas a todos e onde se realize um ensino dequalidade, possam nascer do empenho coletivo e desenvolver-se na direçãode tempos mais justos, mais humanos.

Considerando-se que a escola constitui-se em espaço privilegiado de

crescimento individual e coletivo, tanto de alunos quanto de educadores, é nela que

se deve buscar maior integração entre os ambientes interno e externo, atendendo às

imposições da nova realidade social, constituindo-se como cultura organizacional

que realmente produza e efetive uma gestão democrática e coletiva.

Em suma, como referenda Costa (1996, p. 116), podem-se listar 5 pontos:

1. A cultura organizacional existe.

2. Cada cultura organizacional é relativamente única.

3. Trata-se de um conceito socialmente construído.

4. Constitui um modo de compreensão e de atribuição de sentido à realidade.

5. Consiste num poderoso meio de orientação para o comportamento

organizacional.

2 . 6 Sex to Encontro

Tema: Cultura organizacional na visão dos Educadores

Objetivos: Identificar os conceitos (e preconceitos) dos educadores em relação à

cultura organizacional e estabelecer relações entre a prática docente e as principais

fragilidades da organização.

Fundamentação teórica:

Os Educadores e a Cultura Organizacional

Compreender a cultura organizacional da escola implica em analisar o

exercício profissional dos educadores.

Para isso, faz-se necessário atentar para algumas questões: se existe ou não

uma cultura que dê conta de imprimir identidade à categoria, constituindo-se em

condicionante da cultura escolar; como se dá a formação dos novos quadros de

pessoal e como se processa o trabalho na escola.

Diversamente de outras categorias profissionais, os educadores não

apresentam uma identidade forte o bastante para demarcar a organização do

trabalho na escola.

Esse fato enfraquece o conhecimento e o reconhecimento do trabalho

pedagógico, científico e social, além de impedir o estabelecimento de clareza e

definição nas relações entre os profissionais e o ensino e entre os profissionais e os

mantenedores, no caso da escola pública, o Estado.

Cabe ainda ressaltar que a ausência (ou a fraca presença) de uma identidade

forte entre os educadores faz com que se perpetuem na escola as características de

reprodução (e não de transformação) da realidade social, provocando o apego às

regras e rotinas, a hierarquização exacerbada e o paternalismo nas relações.

A estrutura administrativa da escola pública é parte de umacomposição mais ampla que se consubstancia no sistema de ensino comsua rede de escolas e resulta da ordenação racional e deliberada dessesistema. Como burocrática, a mantém a cultura da ordem, do alinhamentoestrutural, da aceitação das normas, a partir da qual espera que seusprofissionais estejam em condições de garantir o seu funcionamento emconformidade com as determinações de órgãos hierarquicamentesuperiores. (TEIXEIRA, 2002, p. 271)

Com relação à formação dos novos quadros de pessoal, percebe-se na

escola uma prática subserviente, de irrestrito cumprimento da legislação vigente

emanada pela mantenedora, não sendo permitida à escola a seleção de pessoal.

Não realizando seleção com critérios próprios, cabe à escola receber os

profissionais que lhe são destinados pela imposição hierárquica e burocrática do

“sistema”.

Uma vez recebidos, os “novos” profissionais são inseridos à cultura

organizacional já estabelecida, e são gradativamente agregados ao fisiologismo da

escola.

Os profissionais se aglutinam em dois grupos distintos: os permanentes

(concursados, “de carreira”) e os temporários, cuja permanência na escola não é

garantida.

A interação e a unidade entre os dois grupos dependem de como se dá o

acolhimento dos educadores que chegam à escola e de como são organizados os

momentos coletivos, formais ou não.

[…] as intenções, as definições, concepções e valores dosfundadores e líderes da organização, através de um processo deconfirmação e validação, passam a ser compartilhadas pelos demaiselementos e transmitidos aos novos membros como o modo correto depensar e agir dentro da unidade organizacional. A liderança constitui assim omodo fundamental pelo qual a cultura organizacional é formada emodificada. (TEIXEIRA, 2002, p. 25)

Os educadores confirmam suas expectativas individuais a partir do processo

de formação profissional acadêmica e na socialização que acontece dentro do

ambiente de trabalho, em especial na observância da atuação dos mais experientes

e na continuidade das experiências adquiridas na prática laboral.

Porém, é conveniente reafirmar que a instituição escolar não é apenas uma

estrutura burocrática e administrativa, de reprodução e cópia de atitudes,

comportamentos e saberes.

Ela constitui como espaço social de produção e transmissão de

conhecimento, processos que perpassam pelas interações sociais dos grupos que a

compõem, alicerçados nas relações conscientes e formais, agregando e

contrapondo opiniões, transformando os sujeitos.

É, portanto, no cotidiano escolar que se constrói a identidade da escola, a

identidade dos educadores e a cultura do grupo que constitui a escola.

2 . 7 Sétim o Encontro

Tema: Gestão participativa e Liderança

Objetivos: estabelecer as características necessárias e ideais de um lider e

relacionar a liderança com o trabalho na organização escolar.

Fundamentação teórica:

A falta de harmonia e coesão nas organizações escolares é evidente,

justificada pela falta de unidade política nos componentes da organização, sejam

eles estruturais, normativos, processuais ou humanos que, supõe-se, trabalham

pelos mesmos ideais, mas mostram-se separados e com identidade própria.

[...] as organizações são, hoje em dia (ou, mais precisamente, a partir doperíodo que alguns apelidam de pós-modernidade), entendidas comoorganizações flexíveis, instáveis, dependentes dos estados de turbulênciado mundo exterior, marcadas por níveis elevados de incertezas, dedesarticulação interna e de desordem, sujeitas a processos dereestruturação e de redefinição freqüentes das suas estratégias e a cujosactores se reconhece disporem de um papel estratégico no seudesenvolvimento que é marcado por conflitos, poderes e processos deinfluência dificilmente conciliáveis com a ordem que tradicionalmente lhesera atribuída. (COSTA, 2000, p.24)

Na confluência dessas questões que interferem na organização escolar, o

líder desempenha papel preponderante, no sentido de dar unidade às ações

desencadeadas na escola.

Ser líder é ter influência, é conduzir os conflitos de forma pacífica, ordenada e

fértil. O líder é responsável por desenvolver um projeto de ação coletiva, a partir de

uma visão de futuro.

A questão da liderança passa, assim, a fazer parte integrante dos estudossobre a cultura organizacional tendo vindo, concomitantemente, a dar-seuma deslocação significativa das concepções tradicionais da liderança(ligada aos modelos tradicionais e burocráticos) para um novo entendimentodo papel do líder mais ligado às questões culturais e simbólicas e aosprocessos de influência. (Costa, 1996, p. 133).

Liderança difere de gestão, difere de poder e difere de autoridade, posto que

nem sempre os líderes são gestores ou participam de “cargos” dentro das

organizações.

A eficácia ou ineficácia de um líder se manifesta conforme o contexto de

determinada situação: o comportamento do líder pode ser eficaz para resolver uma

situação e pode ser ineficaz para outra.

Não há, porém, um único ou melhor modelo de liderar um grupo ou uma

organização, mas é imprescindível ter presente os objetivos a serem alcançados

pelo grupo ou colegiado.

Como constata Vilar Estevão (2000),

[...] será necessário mudar-se, no que diz respeito às escolas, a ênfase dagestão para a liderança, uma vez que o gestor tem mais a ver com ocontrolo através do orçamento, da planificação e de outros instrumentos, aopasso que o líder deve sobretudo estabelecer metas de futuro, alinharcompromissos, promover e orientar mudanças. (Apud COSTA, 2000, p.35)

Segundo Jorge Adelino Costa (2000), pode-se identificar três tipos de

liderança, conforme as visões que demonstram em suas ações:

- Visão mecanicista da liderança: ato de influenciar um grupo para atingir

determinados objetivos. Visão hierárquica, unidirecional e seqüencial. Alguém,

detentor de certos predicados, leva outros a atingirem determinados resultados pré-

definidos. Necessário considerar as pressões externas a que as escolas estão

sujeitas.

- Visão cultural da liderança: gestor de sentido – alguém que define a realidade

organizacional através da articulação entre uma VISÃO (que é reflexo da maneira

como ele define a missão da organização) e os VALORES que lhe servem de

suporte.

- Visão ambígua da liderança: equacionada como uma atividade dispersa que

percorre a organização na sua totalidade e não propriamente como um atributo dos

líderes formais. Fenômeno disperso, de contornos pouco definidos, presente nos

mnais diversos níveis e atores da vida organizacional.

Portanto, o líder que melhor atende as exigências da gestão democrática e

coletiva é o que consegue analisar a ideologia impressa no currículo oculto da

realidade social, acompanhar as variáveis dessa realidade e conduzir o grupo para

uma nova identidade pedagógica.

De facto, ao líder crítico compete-lhe não só identificar relações de podercoercivo escondido nos sentidos culturais (crítica da ideologia) mas tambémcontribuir, com a sua prática, para a dissolução de tais relações numverdadeiro processo de interpretação: deve, além disso, tentar igualizar opoder entre os indivíduos e os grupos no sentido de uma maioremancipação. A legitimidade do gestor e do líder, advém, assim, da suacapacidade (também técnica) de satisfazer as necessidades, os valores eas expectativas não só da comunidade organizacional mas também dacomunidade política mais ampla. (VILAR ESTÊVÃO, Apud COSTA 2000,pp.38,39). Grifo do autor.

A perspectiva de liderança “pedagógica”- democrática e participativa – implica

em analisar o status quo da escola e as teorias que lhe dão suporte, além de

conduzir a organização escolar não a partir das pressões externas (governo,

administração, comunidade), mas no esteio dos conflitos internos, onde se

estabelecem os consensos, o comprometimento e a sinergia, elementos tão

necessários ao objetivo-fim da Educação – a aprendizagem significativa de todos os

alunos.

Sendo a escola uma instituição social, uma “micro-sociedade”, reproduzindo e

retratando essa sociedade na qual se insere e exercitando a dicotomia constante

entre submissão e confronto, a cultura organizacional se constrói a partir das lutas

políticas que ocorrem em seu interior.

Como organização burocrática, a escola mantém a cultura da ordem, doalinhamento estrutural, da aceitação das normas, a partir da qual esperaque seus profissionais estejam em condições de garantir o seu

funcionamento em conformidade com as determinações de órgãoshierarquicamente superiores. [...] Como grupo social, a instituição escolarbusca adequar e adaptar as normas comuns às suas condições específicase constrói sua própria cultura. [...] o funcionamento de uma organizaçãoescolar é fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interaçõesque se produzem no seu seio, nomeadamente entre grupos com interessesdistintos. (Teixeira, 2002, PP 271,272).

Assim, uma escola que congregue sua função social com o atendimento às

normas burocráticas e a construção de uma história significativa só é possível a

partir da interação entre uma gestão escolar coletiva com a sua cultura

organizacional e a ação consciente dos sujeitos que a compõe, resultando na

personificação de uma escola possível.

2 . 8 Oitav o Encontro

Tema: Projeto de mudança na Escola

Objetivos: organizar estratégias de ação que possibilitem a construção de uma

nova cultura organizacional na Escola, que atenda às exigências da gestão

democrática e coletiva.

Fundamentação teórica:

A escola tem de ser encarada como uma comunidade educativa, permitindomobilizar o conjunto dos atores sociais e dos grupos profissionais em tornode um projeto comum. Para tal, é preciso realizar um esforço dedemarcação dos espaços próprios de ação, pois só na clarificação desteslimites se pode alicerçar uma colaboração efetiva. (NÓVOA, 1995, p.35.Apud TEIXEIRA, 2002, p.273)

O trabalho pedagógico tem como característica mais marcante a sua natureza

(sempre) coletiva, pois todas as ações educativas, mesmo que decididas e

executadas individualmente, têm em comum o propósito de levar o aluno a ser

transformado pelo conhecimento.

Não obstante, não se configura como prática rotineira nas escolas o planejar

coletivamente e o agir conforme as decisões da coletividade.

Um coletivo coeso e articulado produz um projeto educativo emancipatório,

suplanta a diversidade pela unidade e desenvolve instrumentos de pressão mais

Saiba mais...

Administração – Enfoque sobre as partes e sua eficiência.Gestão – Enfoque sobre o todo e sua efetividade global.

eficazes.

Entretanto, é preciso precaver-se com a pseudoparticipação, buscando a

efetiva ação de forma refletida, pensada, discutida e, especialmente, cimentada nas

práticas sociais e pedagógicas que, por sua vez, exigem o acompanhamento teórico.

Um dos pressupostos básicos para que o planejamento educacional ocorrade forma participativa é o da unidade entre pensamento e ação. Para que asações planejadas de forma participativa sejam consolidadas de modo aproduzir coerência entre as ações e as finalidades propostas coletivamente,torna-se imperativo que se instaure um processo de estudo permanente queproduza, entre os envolvidos, além de uma direção comum em termos desuas práticas, também uma convergência teórica. CINFOP, 2005, V.2 ,p.37)

Exercer a prática coletiva implica, necessariamente, em considerar a

individualidade de cada sujeito, sua trajetória de vida, sua experiência particular na

escolha e na formação acadêmica, sua forma singular de relacionar-se com o

trabalho e suas expectativas pessoais.

É necessário, portanto, que cada um exercite a reflexão da própria prática, da

sua compreensão de Educação, de sua forma de organização, de seu compromisso

social assumido através da profissão.

Essa reflexão corrobora a exigência de atuação na coletividade da escola,

acentuando a necessidade de ocupar cada vez mais espaços na reflexão e na

discussão das questões próprias da escola.

De fato, nenhum sujeito que busque a transformação da realidade

sociocultural pela educação, pode eximir-se de agregar-se ao coletivo escolar e de

oferecer sua contribuição no planejamento e na ação coletiva da escola.

A participação e o envolvimento de todos nas decisões relativas aoplanejamento educacional não se reduz a uma questão de ordem técnica eoperacional, mas constitui-se na ação que atribui sentido ao trabalhopedagógico e produz compromisso com as opções feitas. É a possibilidadedo exercício da autonomia, no pleno sentido da palavra, uma vez que secontrapõe às formas arbitrárias e impositivas da tomada de decisões.(CINFOP, 2005, V.2, p.30)

Outro aspecto a ser considerado no trabalho coletivo é o tipo de gestão que

se pratica na escola, reforçando que deve haver preponderância das atividades

pedagógicas sobre as administrativas ou burocráticas que acontecem na escola.

Importa lembrar ainda que a gestão não acontece na acomodação, mas no

conflito, no enfrentamento, e realizar a mediação para preservar o consenso é

função precípua para garantir o redimensionamento das ações educativas dentro do

que foi acordado pela comunidade.

Também no que se refere à gestão, é condição essencial para que se valorize

o trabalho participativo e coletivo, a superação das relações de poder consolidadas

na escola e dos vícios da burocracia que prima pelo controle e pela dominação de

determinados grupos ou de determinados mecanismos ditos “legais”.

Se a rotina é “sedutora” e o novo assusta, tensiona, é pelo exercício da

participação nos momentos coletivos que será possível construir um projeto

educacional emancipador, que efetivamente humanize os sujeitos e leve-os à

transformação individual e social.

Em síntese,

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHANLAT, Jean François. O indivíduo na organização. Dimensões esquecidas.

Volume II. Editora Atlas. São Paulo. 1993.

COSTA, Jorge Adelino. Imagens Organizacionais da Escola. Asa Editores II.Lisboa, Portugal. 1996.

COSTA, Jorge Adelino. MENDES, Antonio Neto. VENTURA, Alexandre. Liderança eEstratégias nas Organizações Escolares – Actas do 1º Simpósio sobreOrganização e Gestão Escolar. Universidade de Aveiro. Portugal. 2000.

OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro. Gestão Educacional. Novos olhares –Novas abordagens. 9ª Edição. Editora Vozes. Petrópolis, Rio de Janeiro. 2012.

OLIVEIRA, Marcus Aurelio Taborda. Org. Cinco estudos em história ehistoriografia da Educação. Editora autêntica. Belo Horizonte, Minas Gerais. 2007.

Saiba mais...

Coletividade: Necessidade do social para evoluir. Opõem-se à dimensão individual. Ressalte-se ainda que coletividade não significa totalidade.

GESTÃO ESCOLAR (COLETIVA)

CULTURA ORGANIZACIONAL

CONSCIÊNCIA DOS SUJEITOS

IDEAL (ESCOLA POSSÍVEL)

PACHECO, José Augusto. PEREIRA, Nancy. Globalização e Identidade noContexto da Escola. Universidade do Minho. 2007. Disponível emwww.scielo.br/pdf/cp/v37n131/a0837131.pdf. Acesso 07 set.2013.

TEIXEIRA, Lucia Helena Gonçalves. Cultura Organizacional e Projeto deMudança em Escolas Públicas. Autores Associados. São Paulo, SP. 2002.

__________CINFOP. Centro Interdisciplinar de Formação Continuada deProfessores. Gestão da Escola Pública: Planejamento e Trabalho Coletivo. Vol.2.UFPR. Curitiba, Paraná. 2005