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OS CUSTOS COM ALIMENTAÇÃO NO ORÇAMENTO DOMÉSTICODE FAMÍLIAS DE CAMADAS SOCIAIS DISTINTAS

Raiza da Silva Lima1

Maria de Fátima Massena de Melo2

RESUMO

O presente estudo objetivou identificar os tipos de alimentos consumidos por famílias de classes sociais distintase analisar os custos da alimentação no orçamento doméstico, em dois bairros da cidade do Recife, Casa Forte eBrasília Teimosa. De acordo com IBGE (2003), o custo com alimentação representa 26,66% da renda familiar naregião Nordeste, ocupando o primeiro lugar nas despesas da família. Para a escolha dos bairros consideramos adisparidade da renda entre as famílias e o interesse em conhecer como se alimentam e os critérios para escolhados alimentos. O consumo de biscoitos, refrigerantes e doces se faz presente. No bairro de classe alta, CasaForte, um percentual considerável consome alimentos de melhor qualidade, frutas e derivados de leite. Oconsumo de alimentos ricos em carboidratos (macarrão, fubá e pão) e proteínas (ovos) é mais freqüente entre asfamílias do bairro de camada social mais baixa, Brasília Teimosa, tendo em vista, uma população carente derecursos financeiros, que são assistidas pelos programas de transferência de renda do governo. Os bairrosapresentaram características diversas no que se refere à desigualdade de renda como fator preponderante, quandoanalisados o custo da alimentação no orçamento doméstico. Constatamos também, que os gastos de cada famíliacom a compra de alimentos variam, conforme a classe social.

PALAVRAS- CHAVE: Alimentos. Renda familiar.

1 INTRODUÇÃO

Artigo publicado na revista Veja, na edição de 28 de setembro de 2007, tratando das

misturas inadequadas na alimentação referente ao café com leite para retenção do cálcio e dos

alimentos super calóricos, assim como, sobre consumo consciente despertou o interesse em

realizar o presente estudo. Isto porque entendemos que a formação em Economia Doméstica

possibilita considerar a necessidade de criação de programas/pesquisas em Educação do

Consumidor, Orçamento e Gestão de Recursos da Família, como propõe Lígia Fideles citando

Lippeatt e Broun (1965). Para isto, torna-se necessário conhecer: condições sócio-

econômicas, hábitos de consumo e custo dos itens de despesas no orçamento doméstico,

especialmente as despesas com alimentação.

De acordo com IBGE (2003), o custo com alimentação representa 26,66% da renda

familiar na região Nordeste, ocupando o primeiro lugar nas despesas da família. O

“Orçamento Doméstico tem por objetivo principal educar as pessoas para melhor administrar

os seus recursos (bens, dinheiro, etc.), destinados a todas as classes sociais e idades”

1 Graduanda do curso de Economia Doméstica. UFRPE.<[email protected]>

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(LAITEM e MILLER, s/d, p.26). Logo, é importante considerar que o orçamento doméstico

constitui-se uma ferramenta de auxílio no planejamento financeiro de cada indivíduo e da

família e, através deste podemos desenvolver e orientar formas de organizar a administração

de recursos.

Ainda neste contexto, Valente e Falcão (1996, p.50), afirmam que “a organização do

orçamento familiar deve partir da consideração das despesas mensais, semestrais e anuais”.

Sendo a alimentação um dos indicadores de maior despesa na renda familiar, pois, temos a

necessidade diária da fonte de alimento e por esta razão este compõe na família o item de

maior prioridade, o gasto com alimentação torna-se alvo de diversos debates e discussões por

ser comum a todos/as independente de classes sociais, grupos, localização geográfica,

diversidade de hábitos alimentares e diferentes formas de consumo.

Nesse processo de mudança foi constatado que 90% da população Nordestina recebem

de um á três salários mínimos3e que as mudanças econômicas, sociais e culturais de certa

forma contribuem para que a renda familiar não atenda as necessidades básicas da família.

Com isso, ocorreu por parte do Governo Federal uma maior atenção com as famílias

em estado de vulnerabilidade social. Havendo assim, a necessidade da criação e continuação

das políticas de assistência social, que visam melhores condições no acesso e no consumo

alimentar.

Desta maneira, com objetivo de melhorar a eficiência e o controle na aplicação dos

recursos destinados às ações sociais, o Governo Federal criou, em outubro de 2003, o Bolsa

Família, considerado atualmente, o maior programa de transferência condicionada de renda

que atende cerca de 11 milhões de famílias4 e tem por objetivo combater a fome e promover a

segurança alimentar nutricional.No entanto, quando se observa os elevados custos que cada

família de baixa renda tem com alimentação e os diferentes hábitos alimentares, fazemos a

seguinte pergunta;Será que essas ações governamentais estão de caso surgindo efeito para

complementação da renda, ou seja,o projeto Bolsa Família se torna suficiente para atender em

primeiro momento as necessidades básicas e o consumo de alimentos saudáveis?

Nessa perspectiva, as políticas públicas, defrontam com desafios importantes, tanto no

que se refere à construção de perfis mais eqüitativos de acesso e consumo alimentar como na

configuração de práticas saudáveis.

2 Professora do curso de Economia Doméstica, Departamento de Ciências Domésticas, mestre em AdministraçãoRural e Comunicação Rural, UFRPE<[email protected]>3 IBGE(2008),Calculo da renda per capita da região Nordeste.4 Fonte: Caderno destaques Maio/Junho 2009 e órgãos do Governo Federal.

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O que para Etienne Amorim (2004), ter acesso a uma alimentação saudável é

essencial, mas não são todos que conseguem obter uma alimentação desejável devido a

fatores como: desigualdade social, a falta de emprego, de moradia, de saneamento básico,

entre outros, que comprometem a qualidade de vida. Diante disto, o presente estudo objetivou

identificar os tipos de alimentos consumidos por famílias de classes sociais distintas e analisar

os custos da alimentação no orçamento doméstico.

2 REVISÃO DE LITERATURA

É sabido que a alimentação além de ser um item de importância para a reprodução

biológica dos seres humanos e, consequentemente para a qualidade vida, também representa

um item de maior despesa na renda familiar.

De acordo com Maluf (1999) o Brasil possui uma grande heterogeneidade social, ou

seja, um dos mais elevados níveis de em desigualdades de renda do mundo. Por isso, a

alimentação tem um peso diferenciado na despesa de cada família e nos seus extratos de

renda. O autor acrescenta que o acesso regular e adequado aos alimentos pelas famílias de

classes inferiores absorve uma significativa parcela da renda familiar chegando a

comprometer outros itens também necessários a uma vida digna. Quanto à insuficiência

alimentar o autor explica que esta ocorre devido às restrições no acesso aos alimentos em

razão da renda e pelo padrão de consumo.

Outro aspecto por ele constatado foi o que contribuiu para o aumento das refeições

fora do domicilio, pela participação mais intensa da mulher no mercado de trabalho, pois,

quando estas se ausentam de suas casas há um aumento da renda familiar, mas ao mesmo

tempo, há também o aumento do consumo de alimentos fora do domicilio.

Conforme Maluf, levantamentos realizados em 1987 e 1996 pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística na pesquisa de orçamento familiar tratando da alimentação fora do

domicílio ou preparada no mesmo, esta sofreu modificações significativas, tanto pela

quantidade per capita consumida dos diversos grupos de produtos ou pela participação desses

grupos na despesa familiar. Dessa maneira, em sua pesquisa, o autor constatou que o aumento

do gasto financeiro com alimentos é decorrente das mudanças de hábitos, ou seja, a chamada

alimentação rápida (fast food), bem como do aumento da procura por alimentos preparados,

devido à publicidade, que se apóia na vida agitada das pessoas e as influencia a consumir.

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Ainda para Maluf, os preços com os principais tipos de alimentos continuam sendo o

principal fator explicativo da opção de consumo, ou seja, nas classes elevadas a alteração

alimentar está vinculada às condições de saúde, enquanto que nas classes baixas a

alimentação condiz com distintos valores da renda.

O autor ressalta que o feijão e o arroz no grupo dos cereais tiveram o menor

diferencial de consumo entre os estratos de renda, pois eles estão presentes à mesa de todos os

níveis sociais, enquanto o consumo de frutas, verduras e legumes reduz, principalmente no

extrato de renda inferior, justificada pelas famílias como alimentos que não preenchem as

necessidades básicas, ou seja, não “enchem a barriga”.

Sobre a realidade alimentar entre famílias de baixa renda, a Pesquisa de Orçamento

Familiar POF (2003), constatou uma realidade alimentar comum a anterior no que se refere o

consumo de frutas, verduras e, legumes principalmente, quando relacionado às famílias

participantes do programa de transferência condicionada de renda, o Bolsa Família, que além

do objetivo de combate à pobreza, tem como propósito “combater à fome e promover a

segurança alimentar e nutricional”.

Desta forma, o Programa Bolsa Família constitui um aumento econômico relevante na

renda familiar, servindo de complemento fundamental para satisfação das necessidades

básicas. Porém, segundo o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ibase

(2008), o fato de algumas famílias serem assistidas pelo programa do Governo Federal (Bolsa

Família) e receber a complementação da renda, não fizeram com que essas, programassem nas

refeições alimentos de maior teor nutricional e hábitos alimentares saudáveis.

Nesta perspectiva, Paulo Gonçalves (2001), explica que o não acesso a uma

alimentação balanceada pode ocasionar deficiências graves ao organismo e por isso, devemos

ingerir alimentos ricos em Proteínas, por ser importante na renovação dos tecidos, pois, a

proteína constitui as células ajudando na construção de músculos e na substituição de células

mortas; Cálcio, pelo fortalecimento dos ossos e dentes, ajudando também na coagulação do

sangue, além de regular a pulsação do coração. O leite é uma das principais fontes de cálcio;

Fósforo, importante para as células nervosas e cérebro. Alimentos que contém proteínas,

geralmente são ricos em fósforo, e as Vitaminas, para proteger os olhos; a pele; a boca e os

cabelos sendo encontradas principalmente nas frutas, verduras e alimentos de origem animal.

Além disto, algumas evidências da pesquisa do (Ibase), mostraram que as famílias

beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, utilizavam o recurso prioritariamente para

aquisição de alimentos, havendo um aumento do consumo de gorduras saturadas e

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hidrogenadas, substituindo o consumo de alimentos ricos em nutrientes, como legumes,

verduras e frutas, por alimentos energeticamente densos e pobres em micronutrientes.

Também foi constatado o aumento do consumo de alimentos salgados e gordurosos e, ainda,

outras destinações como a compra de eletrodomésticos, roupas e acessórios escolares.

Segundo Rogers (1995), a repercussão da renda na situação alimentar e nutricional é

condicionada por uma série de fatores, como o acesso a bens e serviços públicos, às

diferenças no custo e nas condições de vida por região e por localidade, além das

características diferenciadas das famílias (arranjos familiares, composição etária e situação de

saúde), que alteram significativamente a capacidade e os critérios de manejo da renda

domiciliar disponível.

Ainda Rogers, a renda adicional pode proporcionar o consumo de bens não-

alimentares, como investimento na produção de autoconsumo, compra de equipamentos

domésticos que possibilitem armazenar ou processar alimentos, empreendimentos por meio de

cooperativas, dentre outros, que afetam a situação do custo alimentar e nutricional das

famílias.

Portanto, podemos considerar que existe uma importante restrição do consumo de

frutas, verduras e legumes no país, além de não ser significativa nos hábitos alimentares dos

segmentos de baixa renda.

Isto pode ocorrer devido ao fato desse segmento possuir renda mais baixa e ignorar a

importância de conter, em seus hábitos alimentares, alimentos que forneçam vitaminas e sais

minerais para o organismo, estando preocupadas com a ingestão de alimentos fornecedores de

calorias/ proteínas, de rendimento maior, além de um menor custo no orçamento familiar.

3 METODOLOGIA

A metodologia adotada para realização da pesquisa constituiu-se de uma abordagem

qualitativa que permitiu conhecer as problemáticas deste enfoque, além de explicá-las,

compreendê-las e analisá-las através de um embasamento teórico. Sobre este método de

pesquisa Fátima Massena de Melo (2001, p.48), explica que conforme Maria Isaura P. de

Queiroz “as técnicas qualitativas procuram captar a maneira de ser do objeto pesquisado, isto

é, tudo o que diferencia dos demais (...)”. Ainda neste contexto, consideramos dados

quantitativos, mas nos preocupamos em analisá-los buscando considerar a realidade sócio-

econômica das famílias que participaram da pesquisa. Taylor e Bogdan (1984, p.28) afirmam

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que “a pesquisa qualitativa está mais preocupada com a compreensão (verstehen) ou

interpretação do fenômeno social, com base nas perspectivas dos atores por meio da

participação em suas vidas”. Desta forma, entendemos que esta é uma tarefa em que o/a

pesquisador/a precisa compreender o significado que as pessoas dão às próprias situações e

interpretá-las através da linguagem.

O estudo foi realizado em dois bairros da cidade do Recife, Casa Forte, que constitui a

2ª maior renda per capita do Estado de Pernambuco, e Brasília Teimosa um bairro da periferia

do Recife. O critério para a escolha dos bairros ocorreu considerando a disparidade da renda

entre as famílias, o interesse em conhecer como se alimentam e os critérios para escolha dos

alimentos.

Foram entrevistadas 34 donas-de-casa sendo, 17 do bairro de Casa Forte e 17 do bairro

de Brasília Teimosa, durante os meses de setembro e outubro de 2008. Usamos de formulários

para que as donas-de-casa respondessem fornecendo informações sobre dados sócio-

econômicos, tipos de alimentos consumidos, escolhas e o seu custo no orçamento doméstico.

As questões do formulário sobre dados sócio-econômicos trataram de identificar idade

e nível ocupacional (emprego); estado civil; escolaridade e se participavam de algum

programa de transferência de renda do governo.

Para verificação dos tipos de alimentos consumidos elaboramos as seguintes questões:

Quais alimentos consumidos com maior freqüência no café da manhã, almoço e jantar;

Quantas refeições em média fazem por dia; Se elas tinham o hábito de lanchar, o que continha

o lanche; e o que não poderia faltar na alimentação.

Utilizamos ainda, como elementos para análise informações sobre a forma como

realizavam as compras de frutas, verduras, hortaliças e tubérculos e se em supermercados ou

feiras livres. Perguntamos também, qual seria a regularidade das compras (mensalmente,

quinzenalmente ou semanalmente).

A pesquisa sobre os valores dos alimentos mais citados durante as entrevistas foi

efetuada em estabelecimentos de maior fluxo de clientes em cada bairro mencionado,

possibilitando assim, conhecer o custo dos alimentos no orçamento doméstico. O custo dos

alimentos no orçamento foi analisado considerando as diferentes classes sociais das

entrevistadas tendo como determinante classificatório o valor do salário mínimo vigente

(R$415,00) 5.

1 - Abaixo de um salário, miserável.

5Fonte:IBGE(2008) Salário mínimo, em 2008.

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2 - 1 a 2 salários mínimos, classe média baixa.

3 - 3 a 5 salários mínimos, classe média .

4 - Acima de 5 salários, classe média alta.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quando analisamos os dados das 34 entrevistas percebemos que 29% das mulheres

estavam concentradas na faixa etária de 39 a 45 anos; 26% entre 32 a 38 anos; 24% entre 18 a

24 anos; 12% entre 25 a 31 anos; 6% entre 60 a 66 anos e 3% na faixa etária de 46 a 52 anos.

No que se refere ao estado civil, 62% informou ser solteira, 33% casada e 5%, viúva.

Dentre as que disseram ser solteira, a quase totalidade vive com companheiro, mas, não

possui nenhum documento oficial do matrimonio. O nível de profissionalização dessas

mulheres apresentou uma concentração de 32% em empregos domésticos; 38% são donas de

casa; 15% executam alguma função de nível superior e 15% outros, tais como: atendente,

recepcionista e auxiliar de consultório médico. Com relação à renda mensal, constatamos que

em Casa Forte 71% das famílias possui renda familiar entre dois a três salários mínimos e

29% possui renda acima de cinco salários. Estes dados demonstraram que mesmo residindo

em um bairro de classe alta algumas famílias encontrou-se na faixa de renda considerada

classe média baixa. Quanto à preferência das mesmas, para os locais das compras 65%

respondeu preferir supermercados pelo fácil acesso e rapidez; e 35% as feiras livres, por

encontrarem produtos orgânicos, ou seja, sem o uso de agrotóxico. Em resposta as

regularidades das compras 30% informaram que compra quinzenalmente, 41% semanalmente

e 29% mensalmente.

Quanto aos dados coletados no bairro de Brasília Teimosa no que se diz respeito à

renda mensal 85% informou possuir renda entre um e dois salários mínimos e 15% até três

salários. Os dados revelaram que as famílias entrevistadas deste bairro da periferia do Recife,

também se encontraram na faixa de renda da classe media baixa. No que se referiu à

preferência dos locais para compra de alimentos 82% prefere adquirir alimentos em feiras

livres, pelos baixos valores e 18% nos supermercados ou mercadinho de bairro, pela

possibilidade de fazer uso de cartões de créditos. Sobre a regularidade das compras 6% faz

semanalmente; 29% quinzenalmente e 65% mensalmente. Desta forma podemos dizer que as

famílias que realizam compras mensais impedem várias idas ao supermercado e a

possibilidade de comprar além do que necessita. Para um melhor entendimento quanto aos

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gastos com alimentação, segue tabela (1) com os valores aproximados referente às classes nos

respectivos bairros.

TABELA 1 – GASTOS COM ALIMENTAÇÃO

Valores Aproximados Casa Forte BrasíliaTeimosa

R$ 100,00 a 200,00 12% 41%

R$ 201,00 a 400,00 41% 41%

R$401,00 a 600,00 35% 18%

R$601,00 a 800,00 6% —

R$801,00 a 1.000,00 6% —

Total 100% 100%

Fonte: Dados coletados pelas autoras

As entrevistadas afirmaram realizar três refeições por dia, porém 94% costumam

lanchar todos os dias enquanto que 6% às vezes. Quanto aos alimentos consumidos no lanche

pelas famílias residentes em Brasília Teimosa, 82% informou que consome biscoito, doce,

refrigerante e 18% frutas. Em Casa Forte, 65% lancha biscoito, doce, refrigerante; 29% frutas

e 6% iorgute, suco, bolacha. Percebemos que a qualidade de alguns alimentos utilizados no

lanche entre as famílias dos dois bairros é a mesma. O consumo de biscoitos, refrigerantes e

doces se faz presente. Mesmo assim, no bairro de classe alta um percentual considerável

consome alimentos de melhor qualidade, frutas e derivados de leite. Com relação ao consumo

de alimentos de baixa qualidade este se associa a classe média baixa, como identificamos na

pesquisa.

Segundo Paulo Gonçalves (2001), os indivíduos costumam alimentar-se três vezes ao

dia e a qualidade e a quantidade dos alimentos ingeridos em cada refeição representam grande

diferença na saúde e energia do corpo humano. Por isso, é preciso escolher criteriosamente os

alimentos que ingerimos, pois, são eles os responsáveis em fornecer energia para

desenvolvermos as atividades diárias.

Na opinião das entrevistadas, os alimentos que não podem faltar na alimentação de

sua família estão expostos na tabela (2). Estes são os itens indispensáveis ao dia-a-dia, além,

de seus respectivos preços nos diferentes bairros.

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TABELA 2 – ALIMENTOS MAIS CONSUMIDOS PELAS FAMÍLIAS

Alimentos Custo dosAlimentos emCasa Forte(R$)

Custo dosAlimentos emBrasília Teimosa(R$)

Feijão Carioca 4,04 Kg 3,97 KgFeijão Preto 6,28 Kg 4,79 KgArroz Branco 2,08 Kg 1,95 KgPão Francês 5,48 Kg 3,40 KgCuscuz de Milho 1,06 Unid. 1,55 Unid.Biscoito Recheado 1,32 Unid. 0,50 Unid.Bolacha 1,48 Unid. 1,40 Unid.Batata Inglesa 2,79 Kg 1,60 KgMacarrão 1,50 Unid. 1,36 Unid.Carne Vermelha (bife) 12,98 Kg 5,00 Kg

Frango 4,18 Kg 3,80 KgOvos 0,39 Unid. 0,15 Unid.Macaxeira 1,59 Kg 1,48 KgTotal 45,17 30,95Fonte: Dados obtidos pelas autoras

Outro aspecto por nós verificado é que o uso de alimentos ricos em carboidratos

(macarrão, fubá e pão) e proteínas (ovos) é mais freqüente entre as famílias do bairro de

camada social mais baixa, tendo em vista, uma população carente de recursos financeiros, que

são assistidas pelos programas de transferência de renda do governo.

Através destes itens, constatamos ainda, uma discrepância de preços dos alimentos

consumidos com maior freqüência pelas famílias, comparados entre as localidades, por

exemplo, o preço do ovo em Casa Forte custa em média, R$ 0,39 centavos a unidade,

enquanto que em Brasília Teimosa o mesmo produto varia entre R$ 0,15 e R$ 0,20 centavos,

demonstrando o porquê de ter sido tão citado pelas donas de casa deste bairro.

Segundo especialistas, uma má alimentação pode ocasionar problemas futuros à saúde

tais como, obesidade, diabete e hipertensão causados pela ingestão de alimentos ricos em

gordura, açúcar e temperos artificiais. Nos bairros de baixa renda é comum isso acontecer,

pois o fácil acesso a alimentos energéticos como o macarrão agrada tanto pela quantidade do

rendimento, bem como seu baixo preço.

Uma das moradoras, após ter respondido as perguntas da entrevista diz a seguinte frase

“Já que o governo não dar emprego a gente, por que não manda prá cá pessoas que entenda

desse negócio de orçamento e boa alimentação pra ajudar nós viver melhor minhas fia”. O

que vem comprovar que elas encontram dificuldades em administrar os seus recursos e

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acabam optando pelo mais barato, levando para casa alimentos super calóricos e com baixo

valor nutricional ou que fazem uso constante desses alimentos.

Somente uma alimentação variada garante o consumo desta diversidade de nutrientes.

A falta desses ocasiona fatores desfavoráveis à saúde. Algumas famílias participantes da

pesquisa precisam refletir sobre seus hábitos alimentares até como uma medida preventiva,

benéfica para uma melhor qualidade de vida e redução dos gastos no orçamento doméstico.

5 CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa revelaram um elevado consumo de pão (carboidrato), ovos

(proteínas) e refrigerante (açúcar) nas refeições. Os bairros apresentaram características

diversas no que se refere à desigualdade de renda como fator preponderante, quando

analisados o custo da alimentação no orçamento doméstico. Constatamos também, diante dos

resultados obtidos, que os gastos de cada família com a compra de alimentos variam,

conforme a classe social.

Assim, o bairro de Casa Forte por constituir a segunda maior renda per capita da

região metropolitana do Recife6, entre as famílias de classe social mais elevada, apresentou

uma dieta alimentar mais balanceada, visto que costumam consumir proteínas, carboidratos,

bem como frutas, mesmo na presença de um custo mais elevado, comparado com as famílias

de classe social mais baixa, residentes no bairro de Brasília Teimosa.

REFERÊNCIAS

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6IBGE(2008).

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______.Renda Per Capita do Nordeste.Recife: 2008.

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