os caprichos de vÉnus - artspace.joaocarvalho.ptartspace.joaocarvalho.pt/dl/cat_gitelo.pdf ·...

2
Pintor, Escultor e Gravador, expõe no país e no estrangeiro desde 1955. Nasceu em Mirandela em 1936. De 1947 a 1960 foi aluno, bolseiro, da Casa Pia de Lisboa no curso de Pintura decorati- va, secção preparatória às Belas Artes e alu- no no curso Superior de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. De 1960 até 1995 exerceu as funções de Professor na Escola Superior de Belas Ar- tes e Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Bolseiro da Academia Nacional de Belas Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura. Académico honorário da Academia Nacio- nal de Belas Artes. Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique. Exerceu as seguintes funções: Docente na Sociedade Nacional de Belas Artes e Academia Militar; Investigador no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de Alta Cultura; Presidente do Conselho Diretivo e do Conselho Científico da Faculdade de Belas Artes de Lisboa; Pre- sidente da Direção e da Comissão Técnica da Cooperativa de Gravadores Portugueses; Membro do GRAVGRP Internacional e da Guppe Internacional da Interprint Trienal de Cracóvia; Conselheiro Internacional na II e III Bienais de Gravura Europeia em Baden-Baden; Membro do júri das Bienais Internacionais da Noruega e da Trienal In- tergrafika de Berlim; Consultor para as re- gras internacionais “Sulla Gráfica d’Arte” na Bienal de Veneza; Membro da comissão de avaliação e atribuição de bolsas, nacionais e internacionais da Secretaria de Estado da Cultura. Foi o principal impulsionador e doador do Museu Municipal de Mirandela. Participou até hoje nos mais destacados certames de perspetiva ou prospeção ar- tística a convite de diversas organizações de Bienais Internacionais, bem como em certames promovidos pela Sociedade Na- cional de Belas Artes, Sociedade Coope- rativa de Gravadores Portugueses, Funda- ção Calouste Gulbenkian e Secretaria de Estado da Cultura. Realizou mais de 80 exposições individuais, quer em impor- tantes galerias nacionais quer no estran- geiro e participou em exposições inter- nacionais em Espanha, Alemanha, E.U.A, França, Polónia, Ex-Jugoslávia, Itália, Bél- gica, Suécia, Noruega, Ex-URSS, Bulgária, Irlanda, Inglaterra, Japão, Coreia, Iraque, Áustria, México, Egipto e China. A sua atividade artística muito extensa envolveu, igualmente, obras plásticas inte- gradas, grupos escultóricos em Mirandela, São João da Madeira e Lisboa, cenários para a peça “Carmina Burana” na encena- ção de Armando Jorge para a Companhia Nacional de Bailado, vitrais no monumen- to a Nuno Álvares Pereira em Abrantes. Expôs na galeria Bevillagna em Veneza, no Centro de la Barberie, em Avignon, França. Participou no GRAVGRUP internacional em Marselha, Nice, Avignon, Vallauris. Em 1972 expõe no Museu Nacional de Cracó- via, na Polónia, no Museus de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Brasil. A sua obra foi apresentada em Varsóvia, Paris, Áustria, Suécia, Noruega, Itália, E.U.A, no Stad- museum em Munique, no Museu Tallin na Estónia, no Museu Nacional de Sófia, Bul- gária, na Exposição Internacional de Artes Gráficas: “Figura 3” em Leipzig, na IDB Art Gallery em Washington, no Festival of Art no Iraque, nas Jaditte Galleries, Nova Iorque e no Prémio Forni em Veneza. Entre os Prémios e distinções que rece- beu, destacam-se: O Prémio Miguel Lupi, Academia Nacio- nal de Belas Artes (1960); o Prémio Júlio Mardel, Academia Nacional de Belas Ar- tes (1961); o Grande Prémio da Cidade de Setúbal (1968); o Prémio Nacional de Pintura (1969); a Placa Prata da II Bienal Internacional de Florença (1970); o II Pré- mio Nacional “Copérnico” em Cracóvia, Polónia (1971); o Grande Prémio da Bie- nal Internacional de Seul (1972); a Meda- lha de Ouro da III Bienal Internacional de Florença (1972); a Medalha de Mérito na IV Bienal de Cracóvia, Polónia (1972); o Prémio de Aquisição na XII Bienal de São Paulo, Brasil (1973); o Prémio da V Trie- nal Intergrafik de Berlim (1976); o Prémio Nacional de Gravura (1977); o 3º Prémio da II Bienal do México (1980); o Prémio Nacional “Cordeiro Ramos” da Academia Nacional de Belas-Artes (1981); o Prémio Honorífico, Medalha de Ouro na VII Bie- nal Internacional da Noruega (1984); o Grande Prémio da IV Bienal Internacio- nal de Listowel, Irlanda (1985); o Grande Prémio da VIII Bienal Internacional da Noruega (1986); o Prémio de Gravura na III Exposição da Fundação Calouste Gul- benkian (1986); o Certificado de Mérito na Bienal de Bharat Bhavan, India (1992); a Medalha de Ouro das cidades de Génova e de Mirandela. 01 OUT > 24 DEZ 2 0 1 6 DIAS ÚTEIS 10 às 12 e 15 às 18 | SÁB 15 às 19 AOS DOMINGOS MEDIANTE MARCAÇÃO PRÉVIA A R T S P A C E JOÃO CARVALHO OS CAPRICHOS DE VÉNUS PINTURA, DESENHO E ESCULTURA DE GIL TEIXEIRA LOPES GIL TEIXEIRA LOPES NOTAS CRÍTICAS “A festa é de regalos sensuais? Não se iludam os leitores profa- nos deste testamento da gnose amorosa.” Natália Correia, “Os frutos amorosos da árvore do Império.” Gitelo, um Retorno, Exposição do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, 1987. “Gil Teixeira Lopes é um mestre no sentido antigo, ao modo da Renascença.” Maria João Fernandes, “A Gnose Amorosa na Pintura de Gil Teixeira Lopes”, apresentação da Exposição do Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, 1996. “Gil Teixeira Lopes é, há já muitos anos, uma das referências incontornáveis da Arte Contemporânea Portuguesa” (…). “Há que reconhecer que o percurso criador de Gil Teixeira Lopes, (…) acabou por garantir um originalíssima capacidade de transferência de «modos», profundamente dialogal, que interpela os processos adquiridos e consagrados por séculos ou décadas de práticas, cruzando experiências figurativas de origens diferentes, do desenho e da escrita para a gravura, da gravura para a pintura, e vice-versa, assim como da tridimen- sionalidade da escultura para a reconquista do espaço virtual na pintura. Em todos esses diálogos e processos de transferência, o mais celebrado dos denominadores comuns é a já proverbial excelência oficinal do Mestre em todos esses domínios.” Fernando António Baptista Pereira, Exposição do Museu de Setúbal, 2004. “Conrad falou no coração das trevas. Gil Teixeira Lopes diz-nos do coração do mundo (…). Uma arte eminentemente portu- guesa porque profundamente universal. A tragédia e o drama, a farsa e a comédia, o riso e o pasmo, a indefinida duração das paixões e o fervor das grandes lealdades. Está lá tudo. Ou quase tudo o que pertence aos segredos do humano.” Baptista-Bastos, “Uma Arte Narrativa Que Fala Do Coração Do Mundo”, OPUS, Edição Montepio Geral, Lisboa, 2002. “A sua obra é política e erótica, narrativa e onírica, profética e instigadora. Uma obra que circula em torno do corpo enquanto símbolo e centro da humanidade, do corpo que esquecemos – o corpo íntimo, o corpo solidário, o corpo humano, iluminado pelas cores e formas mutantes disso a que chamam alma. A arte de Gil Teixeira Lopes obriga-nos a pensar com todos os sentidos – o que, em tempos de pressa e insensibilidade, muito se agradece.” Inês Pedrosa, “Sopros de Vida”, Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I, Cascais, 2009. “Gil Teixeira Lopes é um singularíssimo pintor de ofício, na aceção mais ampla e mais complexa desse nome. (…) São vários, coexistentes, os processos instauradores da pintura – e os seus índices de sensorialidade tanto constam da “geometria cromática” de um Mondrian como da “truculência carnal” de um Soutine. O que sobra deles, por fora do lado coisificado das aparências, é o que menos se explica e o que mais importa, no dizer do sábio Braque.” Rocha de Sousa, “Ofício e Exorcismo”, Catálogo da Exposição da Galeria Municipal das Caldas da Rainha, 1995. “A maior parte dessas figuras ou fragmentos escultóricos, de linhas clássicas, tentam simular rostos romanos e etruscos, degradados pelo tempo, que foram destruídos e posteriormente recuperados pelos investigadores arqueólogos. Só que o artista (…) atualiza e traz para o mundo contemporâneo a sobriedade e a simplicidade clássicas, num processo cheio de autenticidade, naturalidade e criatividade artística. (…). Esses rostos em me- ditação estão cheios de expressão, mas em profunda contenção e concentração silenciosas; são peças que não dão respostas a nada, nem dão qualquer solução, deixando em aberto a repre- sentação de situações, numa serenidade exemplar, que por si só têm que ser equívocas, é talvez, a própria definição da Arte num jogo de reflexão intemporal e permanente, entre a vida, o amor e a morte.” Manuela Synek, Escultores Contemporâneos em Portugal, Edito- ra Estar, Lisboa, 1999. Em diálogo com o poderoso imaginário de Mestre Gil Teixeira Lopes, com um imaginário intemporal, toma forma a Vénus de João Carvalho. Na harmonia e perfeição das suas linhas, velada e revelada, não é apenas uma figura feminina que vemos eclodir do manto líquido que a envolve, transparente e fresco como o rumorejar azul de uma fonte ou as nuvens na madrugada. Das asas que a guardam no seu escrínio e a libertam, mariposa viva da beleza, no fulgor do seu brilho, para uma ascensão prometida, é a própria essência do feminino que é sugerida. Evocando a Vénus mediadora entre todos os opostos, a natureza triunfante e total, alquímica, animus e anima reunidos, espírito e matéria, claridade das sombras, única chama do Amor e da Poesia, capaz de reencantar o mundo com a luz de uma aurora primordial. Maria João Fernandes R Alto da Terça, 60 2380 Gouxaria (Alcanena) Tel. 249 890 106 GPS: N 39 28’ 59’’ - W 8º 39’ 04’’ Email: [email protected] Web: artspace.joaocarvalho.pt JOÃO CARVALHO

Upload: phamkhanh

Post on 11-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Pintor, Escultor e Gravador, expõe no país e no estrangeiro desde 1955.Nasceu em Mirandela em 1936. De 1947 a 1960 foi aluno, bolseiro, da Casa Pia de Lisboa no curso de Pintura decorati-va, secção preparatória às Belas Artes e alu-no no curso Superior de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.De 1960 até 1995 exerceu as funções de Professor na Escola Superior de Belas Ar-tes e Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.Bolseiro da Academia Nacional de Belas Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura.Académico honorário da Academia Nacio-nal de Belas Artes.Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique.

Exerceu as seguintes funções:Docente na Sociedade Nacional de Belas Artes e Academia Militar; Investigador no Centro Nacional de Calcografia e Gravura do Instituto de Alta Cultura; Presidente do Conselho Diretivo e do Conselho Científico da Faculdade de Belas Artes de Lisboa; Pre-sidente da Direção e da Comissão Técnica da Cooperativa de Gravadores Portugueses; Membro do GRAVGRP Internacional e da Guppe Internacional da Interprint Trienal de Cracóvia; Conselheiro Internacional na II e III Bienais de Gravura Europeia em Baden-Baden; Membro do júri das Bienais Internacionais da Noruega e da Trienal In-tergrafika de Berlim; Consultor para as re-gras internacionais “Sulla Gráfica d’Arte” na Bienal de Veneza; Membro da comissão de avaliação e atribuição de bolsas, nacionais e internacionais da Secretaria de Estado da Cultura. Foi o principal impulsionador e doador do Museu Municipal de Mirandela.

Participou até hoje nos mais destacados certames de perspetiva ou prospeção ar-tística a convite de diversas organizações de Bienais Internacionais, bem como em certames promovidos pela Sociedade Na-cional de Belas Artes, Sociedade Coope-rativa de Gravadores Portugueses, Funda-ção Calouste Gulbenkian e Secretaria de Estado da Cultura. Realizou mais de 80 exposições individuais, quer em impor-tantes galerias nacionais quer no estran-geiro e participou em exposições inter-nacionais em Espanha, Alemanha, E.U.A, França, Polónia, Ex-Jugoslávia, Itália, Bél-gica, Suécia, Noruega, Ex-URSS, Bulgária, Irlanda, Inglaterra, Japão, Coreia, Iraque, Áustria, México, Egipto e China.

A sua atividade artística muito extensa envolveu, igualmente, obras plásticas inte-gradas, grupos escultóricos em Mirandela, São João da Madeira e Lisboa, cenários para a peça “Carmina Burana” na encena-ção de Armando Jorge para a Companhia Nacional de Bailado, vitrais no monumen-to a Nuno Álvares Pereira em Abrantes.

Expôs na galeria Bevillagna em Veneza, no Centro de la Barberie, em Avignon, França. Participou no GRAVGRUP internacional em Marselha, Nice, Avignon, Vallauris. Em 1972 expõe no Museu Nacional de Cracó-via, na Polónia, no Museus de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Brasil. A sua obra foi apresentada em Varsóvia, Paris, Áustria, Suécia, Noruega, Itália, E.U.A, no Stad-museum em Munique, no Museu Tallin na Estónia, no Museu Nacional de Sófia, Bul-gária, na Exposição Internacional de Artes Gráficas: “Figura 3” em Leipzig, na IDB Art Gallery em Washington, no Festival of Art no Iraque, nas Jaditte Galleries, Nova Iorque e no Prémio Forni em Veneza.

Entre os Prémios e distinções que rece-beu, destacam-se:O Prémio Miguel Lupi, Academia Nacio-nal de Belas Artes (1960); o Prémio Júlio Mardel, Academia Nacional de Belas Ar-tes (1961); o Grande Prémio da Cidade de Setúbal (1968); o Prémio Nacional de Pintura (1969); a Placa Prata da II Bienal Internacional de Florença (1970); o II Pré-mio Nacional “Copérnico” em Cracóvia, Polónia (1971); o Grande Prémio da Bie-nal Internacional de Seul (1972); a Meda-lha de Ouro da III Bienal Internacional de Florença (1972); a Medalha de Mérito na IV Bienal de Cracóvia, Polónia (1972); o Prémio de Aquisição na XII Bienal de São Paulo, Brasil (1973); o Prémio da V Trie-nal Intergrafik de Berlim (1976); o Prémio Nacional de Gravura (1977); o 3º Prémio da II Bienal do México (1980); o Prémio Nacional “Cordeiro Ramos” da Academia Nacional de Belas-Artes (1981); o Prémio Honorífico, Medalha de Ouro na VII Bie-nal Internacional da Noruega (1984); o Grande Prémio da IV Bienal Internacio-nal de Listowel, Irlanda (1985); o Grande Prémio da VIII Bienal Internacional da Noruega (1986); o Prémio de Gravura na III Exposição da Fundação Calouste Gul-benkian (1986); o Certificado de Mérito na Bienal de Bharat Bhavan, India (1992); a Medalha de Ouro das cidades de Génova e de Mirandela.

01 OUT > 24 DEZ2 0 1 6DIAS ÚTEIS 10 às 12 e 15 às 18 | SÁB 15 às 19AOS DOMINGOS MEDIANTE MARCAÇÃO PRÉVIA

A R T S P A C E J O Ã O C A R V A L H O

OS CAPRICHOS DE VÉNUSPINTURA, DESENHO E ESCULTURA DE

GIL TEIXEIRA LOPES

GIL TEIXEIRA LOPES NOTAS CRÍTICAS

“A festa é de regalos sensuais? Não se iludam os leitores profa-nos deste testamento da gnose amorosa.”

Natália Correia, “Os frutos amorosos da árvore do Império.” Gitelo, um Retorno, Exposição do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, 1987.

“Gil Teixeira Lopes é um mestre no sentido antigo, ao modo da Renascença.”

Maria João Fernandes, “A Gnose Amorosa na Pintura de Gil Teixeira Lopes”, apresentação da Exposição do Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, 1996.

“Gil Teixeira Lopes é, há já muitos anos, uma das referências incontornáveis da Arte Contemporânea Portuguesa” (…).

“Há que reconhecer que o percurso criador de Gil Teixeira Lopes, (…) acabou por garantir um originalíssima capacidade de transferência de «modos», profundamente dialogal, que interpela os processos adquiridos e consagrados por séculos ou décadas de práticas, cruzando experiências figurativas de origens diferentes, do desenho e da escrita para a gravura, da gravura para a pintura, e vice-versa, assim como da tridimen-sionalidade da escultura para a reconquista do espaço virtual na pintura. Em todos esses diálogos e processos de transferência, o mais celebrado dos denominadores comuns é a já proverbial excelência oficinal do Mestre em todos esses domínios.”

Fernando António Baptista Pereira, Exposição do Museu de Setúbal, 2004.

“Conrad falou no coração das trevas. Gil Teixeira Lopes diz-nos do coração do mundo (…). Uma arte eminentemente portu-guesa porque profundamente universal. A tragédia e o drama, a farsa e a comédia, o riso e o pasmo, a indefinida duração das paixões e o fervor das grandes lealdades. Está lá tudo. Ou quase tudo o que pertence aos segredos do humano.”

Baptista-Bastos, “Uma Arte Narrativa Que Fala Do Coração Do Mundo”, OPUS, Edição Montepio Geral, Lisboa, 2002.

“A sua obra é política e erótica, narrativa e onírica, profética e instigadora. Uma obra que circula em torno do corpo enquanto símbolo e centro da humanidade, do corpo que esquecemos – o corpo íntimo, o corpo solidário, o corpo humano, iluminado pelas cores e formas mutantes disso a que chamam alma. A arte de Gil Teixeira Lopes obriga-nos a pensar com todos os sentidos – o que, em tempos de pressa e insensibilidade, muito se agradece.”

Inês Pedrosa, “Sopros de Vida”, Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I, Cascais, 2009.

“Gil Teixeira Lopes é um singularíssimo pintor de ofício, na aceção mais ampla e mais complexa desse nome. (…) São vários, coexistentes, os processos instauradores da pintura – e os seus índices de sensorialidade tanto constam da “geometria cromática” de um Mondrian como da “truculência carnal” de um Soutine. O que sobra deles, por fora do lado coisificado das aparências, é o que menos se explica e o que mais importa, no dizer do sábio Braque.”

Rocha de Sousa, “Ofício e Exorcismo”, Catálogo da Exposição da Galeria Municipal das Caldas da Rainha, 1995.

“A maior parte dessas figuras ou fragmentos escultóricos, de linhas clássicas, tentam simular rostos romanos e etruscos, degradados pelo tempo, que foram destruídos e posteriormente recuperados pelos investigadores arqueólogos. Só que o artista (…) atualiza e traz para o mundo contemporâneo a sobriedade e a simplicidade clássicas, num processo cheio de autenticidade, naturalidade e criatividade artística. (…). Esses rostos em me-ditação estão cheios de expressão, mas em profunda contenção e concentração silenciosas; são peças que não dão respostas a nada, nem dão qualquer solução, deixando em aberto a repre-sentação de situações, numa serenidade exemplar, que por si só têm que ser equívocas, é talvez, a própria definição da Arte num jogo de reflexão intemporal e permanente, entre a vida, o amor e a morte.”

Manuela Synek, Escultores Contemporâneos em Portugal, Edito-ra Estar, Lisboa, 1999.

Em diálogo com o poderoso imaginário de Mestre Gil Teixeira Lopes, com um imaginário intemporal, toma forma a Vénus de João Carvalho. Na harmonia e perfeição das suas linhas, velada e revelada, não é apenas uma figura feminina que vemos eclodir do manto líquido que a envolve, transparente e fresco como o rumorejar azul de uma fonte ou as nuvens na madrugada. Das asas que a guardam no seu escrínio e a libertam, mariposa viva da beleza, no fulgor do seu brilho, para uma ascensão prometida, é a própria essência do feminino que é sugerida. Evocando a Vénus mediadora entre todos os opostos, a natureza triunfante e total, alquímica, animus e anima reunidos, espírito e matéria, claridade das sombras, única chama do Amor e da Poesia, capaz de reencantar o mundo com a luz de uma aurora primordial.

Maria João Fernandes

R Alto da Terça, 602380 Gouxaria (Alcanena)

Tel. 249 890 106GPS: N 39 28’ 59’’ - W 8º 39’ 04’’

Email: [email protected]: artspace.joaocarvalho.pt

JOÃO CARVALHO

A arte é uma viagem, uma deslumbrante traves-sia dos jardins iluminados da ausência para dela retirar as joias da Presença, matéria de sonhos palpáveis como os que brilham na atual exposi-ção de pintura e escultura de Gil Teixeira Lopes. Tenho feito minha a deambulação das formas, com elas criei um alfabeto de prodígios para co-municar com o domínio encantado do imaginá-rio, património ancestral da humanidade. Hoje esta travessia detém os seus passos na figura de Vénus, a imortal deusa do amor que anima este soberbo conjunto de obras de um Mestre da arte portuguesa e europeia.

Da Vénus pré histórica à expressão do eterno fe-minino na escultura grega e romana, a Botticelli, Giorgione, Ticiano, Rubens, Rembrandt e Goya (a quem pedimos emprestado o título: “Caprichos”), de Canova, Ingres, Rodin, Manet, Renoir, Maillol e Picasso, aos portugueses (na atualidade) Fran-cisco Simões, João Cutileiro e Gil Teixeira Lopes, entre tantos outros. Na infindável metamorfose das suas formas, emergindo das ondas no esplen-dor da sua gloriosa aparição, na intimidade da sua toilette, no leito, nas efusões do amor, ou no aban-dono e lassidão do sono, as suas metamorfoses são as mesmas transfigurações das formas onde reside o verdadeiro sentido, a poesia da vida.

A poesia é a alma das formas, é nela que desperta o secreto elo entre o visível e o invisível e dessa teia como a de Penélope em silêncio à espera do seu amado, desse casulo de insuspeitados mila-gres, tecidos com as maravilhas da vida e os seus terrores, emerge a mariposa do tempo presente, vinda do oceano submerso e milenar dos mitos. Mariposa da ausência, da presença e da transfigu-ração, que pousou com um bater de asas tão im-percetível, na antecâmara de uma obra magistral, que nos convida a visitar, pela mão da sua anfitriã de excelência, a sua protagonista principal, a mu-lher, com todo o seu cortejo de caprichosas reve-lações dos segredos e do fulgor das suas formas e do seu espírito, da sua alma, prodigiosa anima que resume os próprios tesouros do espaço, de que ela é o ícone.

Deusa da luxúria benfazeja que está na origem da vida, fada capaz de encantar a existência, de a revelar a si mesma, de a abrir a uma beleza que é limiar de uma vida maior. “La vie est ailleurs” o famoso verso de Rimbaud, resume o credo da poesia e da poesia desta obra. Sobre o luxo dos vermelhos, rubis e sangue das flores de um amor que liga as formas ao espaço, escrínio de requin-tadas delícias, surpreendida a meio-caminho da sua travessia das aparências, meio oculta, meio revelada, a mulher cega-nos com o brilho de uma aparição mágica que parece ignorar o seu poder e nos comunica a glória do seu encanto e da sua transfiguração.

Transmigração das formas, vindas de onde, de que luz do Paraíso, de que inferno ou Inverno da alma? E a caminho de que limiar, de que secreta reinvenção da vida, incêndio dos aspetos, revela-ção da cor a si mesma, vibrando com os soberbos acordes de uma natureza cúmplice. Acordes do vento, reflexos da água, profundidade oceânica, crepitações do fogo, verdejantes germinações da terra. Nudez, cristal lapidado pelo amor, na per-feição das formas que imitam um sentimento de milagre e o luxo das substâncias, lunar e balsâmico perfume que irradia uma luz oculta e que embriaga e seduz.

Sedução do tecido das cores, envolventes como um manto ou um véu de pássaros, crisântemos e rosas de uma alegria e de uma paixão que nun-ca ousaram existir. A invocação dessa alegria é a missão da arte e desta arte.

Seguimos o olhar, ele conduz-nos a um abismo onde a vida termina e principia, seguimos os lá-bios e eles devolvem-nos o beijo das sombras e o fulgor do grito, seguimos as formas e elas con-duzem-nos a um leito onde adormece e desperta o próprio desejo. Vermelhas chamas ardem sem consumir o seu objeto, que é o próprio desejo, o reino de uma eterna busca, de uma sensorial e mística viagem cujo fim é um eterno recomeço, a respiração do absoluto.

Vénus, mediadora entre o vazio e o esplendor, na majestade do seu encanto e da sua solidão. Soli-dão do feminino, símbolo e metáfora ardente do impulso que era após era guia o homem para o absoluto. Substância da própria alma, conduzida e condutora, luz da noite, palpitando na sua nu-dez audaciosa, como um diamante, ou uma péro-la ou a ave do Paraíso.

Fragmentada e una, deambulando entre enigmas, iluminando as trevas com a irradiação do seu brilho solar e místico, como um sol de veludo ou um rio de íntimas carícias, caudal de sonhos e de pétalas, de flores azuis e lilases, crescendo, emer-gindo dos oceanos que resgatam os sonhos mais antigos da humanidade.

Emergindo, sonhando, vertical como as árvores que ligam o nácar, as raízes, as vértebras de água, musgo, fogo e sílex ao Sagrado.

Luxuosa e sagrada, desfeita pelos temporais do abraço da vida e da morte, como o de Pedro e Inês ou o de Romeu e Julieta, na sua apaixo-nada dor, na irrupção da alegria, vulcânica, ela imerge, emerge, levanta-se aurífica e oceânica, como uma pele que rescende balsâmica e ma-cia, coral radiante, madrepérola dos submersos jardins da alma. Transporta consigo a ignorân-cia sagrada dos poetas e a cintilação de metáfo-ras assombrosas.

Que furor despertas na fonte do fogo?Gonçalo Salvado, Ardentia.

A sua nudez é a chave capaz de abrir os umbrais do tempo ao verde e à vermelha substância, ao vinho e ao sangue capaz de iluminar o tempo futuro.

Ela encaminha-se para a noite que precede a au-rora consurgens da alquimia. Vestal do silêncio e do mistério da vida, da sua assunção.

O rosto escondido volta-se para a ausência e para o incêndio dos aspetos onde arde no altar místico da beleza, uma sensualidade cósmica.

Verde e vermelha, nua e vestida, travestida com todas as virtualidades e maravilhas, entregue, ofe-recida e esquiva, quando nos olha, fada, menina e deusa, tudo reúne, no esplendor das suas formas, na mágica cintilação das cores, nela brilha como um diadema, a aura da totalidade, o halo de uma Presença que não morre. Para nos deixar num se-creto limiar que nos indica um Paraíso próximo, a alma total da Vida, da vida das imagens.

Por que este olor, mezcladode carne y de infinito (…)?

Juan Ramón Jiménez, «Luz », Belleza.

Maria João Fernandes

OS CAPRICHOS DE VÉNUS

01 SEQUENCIA ESCOLHIDA I.jpg

20

19

22 2321

1 23

4

24 5

25

26

30

29

27

28

8

9 10

11

12

13

14

17

18

15

16

7 6

01 SEQUÊNCIA ESCOLHIDA I 100x120 - Óleo sobre tela

02 SEQUÊNCIA ESCOLHIDA II 100x90 - Óleo sobre tela

03 SEQUÊNCIA ESCOLHIDA I 100x120 - Óleo sobre tela

04 VIAGEM DE VÉNUS 150x150 - Óleo sobre tela

05 MÍSTICA DO SILÊNCIO II 190x250 - Óleo sobre tela

06 MÍSTICA DO SILÊNCIO I 190x250 - Óleo sobre tela

07 MÍSTICA DO SILÊNCIO I (A1) 190x119 - Óleo sobre tela

08 PARA ALÉM DO ESPELHO IV 190x119 - Óleo sobre tela

09 INTERIOR I 100x100 - Carvão e Óleo sobre tela

10 INTERIOR II 100x100 - Carvão e Óleo sobre tela

11 INDISCRIÇÕES III 160x130 - Óleo sobre tela

12 PARA ALÉM DO ESPELHO III 190x119 - Óleo sobre tela

13 CUMPLICIDADES II 150x150 - Óleo sobre tela

14 ÍNTIMOS I 116x89 - Óleo sobre tela

15 ÍNTIMOS II 130x97 - Óleo sobre tela

16 QUIMERAS I 100x82 - Carvão e Óleo sobre tela

17 PARA UM SONHO I 100x82 - Carvão e Óleo sobre tela

18 INTIMIDADE I 116x89 - Óleo sobre tela

19 A PEDRO E INÊS 170x144 - Óleo sobre tela

20 REFLEXÕES SOBRE LINHA MANCHA E CÔR II 123X73 - Desenho sobre papel

21 REFLEXÕES SOBRE LINHA MANCHA E CÔR III 123X73 - Desenho sobre papel

22 REFLEXÕES SOBRE LINHA MANCHA E CÔR V 123X73 - Desenho sobre papel

23 REFLEXÕES SOBRE LINHA MANCHA E CÔR VII 123X73 - Desenho sobre papel

24 MÍSTICA DO SILÊNCIO II (A2) 190x119 - Óleo sobre tela

25 INTIMIDADE II 60x37x27 - Bronze policromado

26 NEOBEA III E IV 50x30x26 - Bronze policromado

27 IMAGEM DOS TEMPOS PERDIDOS 70x140x35 - Bronze policromado

28 DESCANSO 40x31x26 - Bronze policromado

29 FIGURA RECLINADA 31x12x28 - Bronze policromado

30 O DESPERTAR 52x34x15 - Bronze policromado

31 TORSO 40x110x75 - Pedra moca creme

31