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Embora o comunismo possa ter perdido o seu fulgor, ele continua a ser o maior símbolo da rebelião e do fervor revolucionário Quando Ernesto Guevara de la Serna, conhecido por «Che», foi assassinado nas florestas da Bolívia, em Outubro de 1967, já era uma lenda para a minha geração, não só na América Latina mas em todo o mundo. Como tantas epopeias, a história do obscuro médico argentino que abandonou a profissão e a terra natal para promover a emancipacão dos pobres da Terra começou com uma viagem. Em 1956, juntamente com Fidel Castro e um punhado de outros, atravessou as Caraíbas no raquítico iate Granma com a missão louca de invadir Cuba e derrubar o ditador Fulgencio Batista. Aportanto a um pântano hostil, os sobrevintes abriram caminho até à Sierra Maestra. Pouco mais de dois anos depois, após uma campanha de guerrilha em que Guevara revelou tanta bravura e capacidade que foi nomeado comandante, os insur- rectos entraram em Havana e lançaram o que seria a primeira e única revolução socialista vito- riosa nas Américas. As suas imagens foram, a partir daí, invariavelmente gigantescas «Che», o titã que enfrentava os ianques, potência dominante no mundo. «Che», o guru moral proclamando que um Homem Novo, despido de egoísmo e cheio de amor pelos outros, teria forçosadamente dde ser criado a partir das ruínas do antigo. «Che», o romântico, deixando misteriosamente a revolução para prosseguir, apesar de ser asmático, a luta contra a opressão e a tirania. A sua execução em Vallegrande, aos 39 anos, apenas engrandeceu a estatura mítica de Guevara. Aquela figura parecida com Cristo estendida num leito de morte com os olhos inquietantes quase a abrirem-se; aquelas temíveis últimas palavras («Dispara, cobarde, vais matar um homem») que alguém inventou ou relatou; o funeral anónimo e as mãos amarradas, como se os assassinos o temes- sem mais depois de morto do que em vivo: tudo isso se inscreveu no espírito e na memória daque- les tempos de desafio. Ele iria ressuscitar, gritava a juventude em finais dos anos 60; lembro- me de o proclamar fervorosa- mente nas ruas de Santiago, no Chile, enquanto promessas semelhantes explodiam por toda a América Latina. «No lo vamos a olvidar!» Não vamos deixar que seja esquecido. 1928 Nasce a 14 de Junho, em Rosário, Argentina 1956 Conhece Fidel Castro no México e em- barca com os seus guer- rilheiros para Cuba 1965 Abandona Havana para liderar insurreições na América Latina e em África 1966 Tenta fomentar a revolução na Bolívia 1967 É executado a 9 de Outubro, depois de cap- turado pelo exército boliviano 8

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  • Embora o comunismo possa ter perdido o seu fulgor, ele continua a ser o maior símbolo da rebelião e do fervor revolucionário

    Quando Ernesto Guevara de la Serna, conhecido por «Che», foi assassinado nas florestas da Bolívia, em Outubro de 1967, já era uma lenda para a minha geração, não só na América Latina mas em todo o mundo. Como tantas epopeias, a história do obscuro médico argentino que abandonou a profissão e a terra natal para promover a emancipacão dos pobres da Terra começou com uma viagem. Em 1956, juntamente com Fidel Castro e um punhado de outros, atravessou as Caraíbas no raquítico iate Granma com a missão louca de invadir Cuba e derrubar o ditador Fulgencio Batista. Aportanto a um pântano hostil, os sobrevintes abriram caminho até à Sierra Maestra. Pouco mais de dois anos depois, após uma campanha de guerrilha em que Guevara revelou tanta bravura e capacidade que foi nomeado comandante, os insur-rectos entraram em Havana e lançaram o que seria a primeira e única revolução socialista vito-riosa nas Américas. As suas imagens foram, a partir daí, invariavelmente gigantescas «Che», o titã que enfrentava os ianques, potência dominante no mundo. «Che», o guru moral

    proclamando que um Homem Novo, despido de egoísmo e cheio de amor pelos outros, teria forçosadamente dde ser criado a partir das ruínas do antigo. «Che», o romântico, deixando misteriosamente a revolução para prosseguir, apesar de ser asmático, a luta contra a opressão e a tirania.A sua execução em Vallegrande, aos 39 anos, apenas engrandeceu a estatura mítica de Guevara. Aquela figura parecida com Cristo estendida num leito de morte com os olhos inquietantes quase a abrirem-se; aquelas temíveis últimas palavras («Dispara, cobarde, só vais matar um homem») que alguém inventou ou relatou; o funeral anónimo e as mãos amarradas, como se os assassinos o temes-sem mais depois de morto do que em vivo: tudo isso se inscreveu no espírito e na memória daque-les tempos de desafio. Ele iria ressuscitar, gritava a juventude em finais dos anos 60; lembro-me de o proclamar fervorosa-mente nas ruas de Santiago, no Chile, enquanto promessas semelhantes explodiam por toda a América Latina. «No lo vamos a olvidar!» Não vamos deixar que seja esquecido.

    1928 Nasce a 14 de Junho, em Rosário, Argentina

    1956 Conhece Fidel Castro no México e em-barca com os seus guer-rilheiros para Cuba

    1965 Abandona Havana para liderar insurreições na América Latina e em África

    1966 Tenta fomentar a revolução na Bolívia1967 É executado a 9 de Outubro, depois de cap-turado pelo exército boliviano

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  • Passaram mais de 30 anos, e o herói persistiu sem dúvida na memória colectiva, mas não exactamente da forma que a maioria de nós teria previsto. «Che» passou a ter o dom da ubiquidade: a sua figura olha para nós de chávenas de café e cartazes, de porta-chaves e de jóias, aparece em canções populares, em óperas e em espectáculos. Esta apoteose da sua imagem foi acompanhada por um desaparecimento paralelo do homem real, engo-lido pelo mito. Muitos dos que idolateram o guerrilheiro incendiário com uma estrela na boina nasceram muito depois da sua morte e só conhecem um esboço dos seus objectivos da sua vida. Longe vai o generoso «Che» que tratava soldados inimigos feridos, longe vai o combat-ente vulnerável que queria refrear o seu amor pela vida a fim de que um tal impecilho não o tornasse menos eficaz no combate e longe também vai o «Che» mais sombrio e pertur-bador que assinou ordens para executar presos, sem julgamento, nas cadeias cuba-nas. Este apagamento da com-plexidade é o destino normal de qualquer ícon. O futuro que ele previu não foi simpático para os seus ideais ou as suas ideias. Nos anos 60, presumiamos que a sua auto-imolação seria comemorada com o levantamento dos oprimidos contra o sistema e a criação de dois, três, muitos vietnames. Milhares de jovens, sobretudo na América Latina seguiram o seu exemplo nas montanhas e ali foram mortos sem nunca saberem que os seus sonhos de libertação total

    nunca se tornariam realidade. O estilo de luta de Guevara, intransigente e irrealista, não chegou a prevalecer. As grandes revoluções do último quarto de século (África do Sul, Irão, Filipinas), para não falar das transições pacíficas para a democracia na América Latina, no extremo oriente e no mundo comunista, todas elas envolveram nego-ciações com os antigos

    adversários. Até uma pessoa como o subcomandante Marcos, porta-voz da rev-olução de Chiapas, cujo carisma e postura moral nos faz lembrar o «Che», não par-tilha as teorias económicas e militares do seu herói. Como entender, então, a persistente popularidade do «Che», em especial entre os jovens abasta-dos?

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  • Sobre o ArtistaRui Alexandre Ferreira nasceu em Lisboa no ano de 1971, estudou na Escola Artística António Arroio, concluiu os cursos de design de equipamento e realização plástica do espectáculo.O seu primeiro grande projecto - criar todas as pinturas do Parque de diversões Bracalandia em Braga – foi premiado com o seu primeiro aerógrafo, vindo directamente de Itália.Mais tarde dedica-se à pintura personalizada, pintura automóvel e concorre pela primeira vez ao concurso europeu de pintura na categoria das Harley Davidson realizado em Faro, no ano de 1999 (Concentração Internacional de Motos) e alcança o primeiro prémio “Best Paint Harley Davidson “ com o nome de “BIOMEC”. Obteve uma menção honrosa no Concurso Lisboa Ambiente com uma pintura acrílica sobre madeira realizado no Salão de Exposições da Estufa Fria, em Lisboa. Com conhecimentos na área de makeup, caracterização e bodypaint-ing, trabalhou em parceria com profissionais de referência nacional e para várias empresas de espectáculos e eventos em geral.Coordenou e desenvolveu um projecto de pintura e decoração de dois restaurantes e um bar no Pavil-hão Africano na EXPO2000, em Hannover na Alemanha.

    Ka as 7 Maravilhas da GastronomiaO Projecto “Arte K” da Repsol pinta em garrafas de gás o país e as 21 �nalistas na eleição das “7 Maravilhas da Gastronomia®”, ao longo do programa Verão Total da RTP1.

    O artista Rui Alexan-dre Ferreira está a acom-

    panhar o programa Verão Total da RTP1, num roadshow pelas 21

    �nalistas em votação. Ao longo de todo o dia (entre as 10h e as 18h), o jovem artista plástico vai pintando

    na jaqueta motivos relacionados com a maravilha/ localidade

    do dia.

    As 21 garrafas, que vão resultar numa colecção única, serão colocadas a votação pública no facebook. Toda a colecção vai estar em exposição na Declaração Oficial das “7 Mara-vilhas da Gastronomia®”, a 10 de Setembro, em Santarém.

    A Repsol, patrocinador oficial das “7 Maravilhas da Gastronomia®”, está a realizar uma iniciativa inédita, o projecto “Arte K”, que une arte e tradição, numa simples garrafa de gás K11. Serão pintadas os 21 final-istas, em que para além do prato também a cultura e tradição da cidade e/ou região são retratadas.

    A Repsol Gás está presente em milhares de lares e restaurantes no nosso país, faz part...e da cultura gastronómica nacional pela energia com que contribui. Quisemos activar a nossa ligação à iniciativa através de uma acção que conjuga arte, inovação, criatividade e património”, explica Paulo Lapão, Responsável de Marketing. “Demos uma visão artís-tica e gastronómica a um objecto vulgar, de forma inesperada, acres-centa.

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