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MINISTÉRIO DA EDUCACÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciências dos Alimentos Bacharelado em Química de Alimentos Processamento do óleo de arroz Mônica Beatriz Barz Redmer

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MINISTÉRIO DA EDUCACÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Departamento de Ciências dos Alimentos

Bacharelado em Química de Alimentos

Processamento do óleo de arroz

Mônica Beatriz Barz Redmer

Pelotas, 2008.

1

MÔNICA BEATRIZ BARZ REDMER

PROCESSAMENTO DO ÓLEO DE ARROZ

Relatório final de estágio apresentado à

Universidade Federal de Pelotas, sob a orientação

do Professor Rui Carlos Zambiazi, PhD, como parte

das exigências da disciplina de Estágio

Supervisionado, do Curso de Química de

Alimentos, para obtenção do título de Bacharel em

Química de Alimentos.

Pelotas, 2008.

2

ALUNO

Nome: Mônica Beatriz Barz Redmer

E-mail: [email protected]

CONCEDENTE

Razão Social: IRGOVEL-Indústria Riograndense de Óleos Vegetais

Caracterização jurídica: Ltda

Unidade onde foi realizado o estágio: Pelotas/RS

Setores de realização do estágio: Laboratório e produção

Endereço: Av. Presidente João Goulart, 7351- Distrito Industrial

Web-site: WWW.irgovel.com.br

Nome e cargo do supervisor: Gilnei Nachtigall - gerente de produção.

ESTÁGIO

Área de atuação: Controle de Qualidade

Período do termo de compromisso: 04/08/2008 a 13/10/2008

Período coberto pelo relatório: 04/08/2008 a 04/12/2008

Número de horas do relatório: 510 horas

Nome do professor orientador: Rui Carlos Zambiazi, PhD.

Semestre e ano que o relatório foi apresentado: 2° semestre/2008

3

Lista de Figuras

Figura 01. Fluxograma das etapas do processo de industrialização do óleo de

arroz..................................................................................................13

Figura 02. Esquema do processo de degomagem............................................30

Figura 03. Esquema do processo de neutralização...........................................34

4

Sumário

1. Introdução.........................................................................................................7

1.1 A Indústria..........................................................................................................7

1.2 Óleos Vegetais..................................................................................................8

1.3 Óleo de farelo de arroz......................................................................................9

1.3.1 Matéria-prima..................................................................................................9

1.3.2 Óleo refinado de arroz.................................................................................10

2. Objetivos.........................................................................................................12

2.1 Geral.................................................................................................................12

2.2 Específicos......................................................................................................12

3. Atividades desenvolvidas..............................................................................13

3.1 Processo geral de produção do óleo de arroz Carreteiro................................13

3.2 Preparação da matéria-prima...........................................................................15

3.2.1 Recebimento do farelo de arroz..................................................................15

3.2.1.1 Análises realizadas no farelo de arroz......................................................15

3.2.2 Pré-limpeza..................................................................................................16

3.2.3 Condicionamento.........................................................................................17

3.2.3.1 Análises realizadas no farelo condicionado...............................................18

3.3 Extração...........................................................................................................19

3.3.1 Dessolventização da miscela .......................................................................21

3.3.1.1 Análises realizadas no óleo bruto.............................................................22

3.3.2 Dessolventização do farelo desengordurado..............................................25

3.3.2.1 Análises do farelo desengordurado e rações............................................26

3.3.3 Recuperação do solvente............................................................................27

3.4 Refino do óleo de arroz....................................................................................28

3.4.1 Degomagem................................................................................................29

3.4.1.1 Análises do óleo degomado......................................................................30

3.4.1.2 Análises da goma.......................................................................................31

3.4.2 Neutralização...............................................................................................32

5

3.4.2.1 Análises realizadas no óleo neutro, óleo lavado e óleo neutro

seco...........................................................................................................34

3.4.2.2 Análises da borra...................................................................................36

3.4.2.3 Análises dos óleos industriais....................................................................37

3.4.3 Clarificação..................................................................................................37

3.4.3.1 Análises realizadas no óleo clarificado......................................................38

3.4.4 Desceramento.............................................................................................39

3.4.4.1 Análises realizadas no óleo descerado.....................................................40

3.4.5 Desodorização.............................................................................................41

3.4.5.1 Análises realizadas no óleo desodorizado................................................42

3.4.6 Envasamento...............................................................................................43

3.4.7 Análises eventualmente realizadas nos óleos produzidos e recebidos na

Irgovel..........................................................................................................43

4. Sugestões........................................................................................................46

4.1 Para a indústria................................................................................................46

4.2 Para o curso....................................................................................................46

5. Conclusão.......................................................................................................47

6. Referências.....................................................................................................48

7. Anexos.............................................................................................................50

Anexo 01. Parâmetros das rações produzidas na Irgovel...............................50

Anexo 02. Volume de soda para neutralização de óleo degomado..................51

Anexo 03. Padrão de identidade e qualidade do óleo de arroz........................52

Anexo 04. Composição de ácidos graxos  do óleo de arroz ............................52

6

Resumo

A Irgovel - Indústria Riograndense de óleos Vegetais Ltda, localizada em

Pelotas desde 1972, é pioneira e única indústria brasileira a produzir o óleo de

arroz refinado. Além disso, também comercializa óleo industriais bem como, sub-

produtos oriundos da obtenção do óleo de arroz como o farelo de arroz

desengordurado e rações animais (produzidas a partir do farelo desengordurado).

Os óleos vegetais comestíveis são provedores de energia e podem fornecer ao

organismo vitaminas e antioxidantes lipossolúveis além de constituir uma

importante fonte de ácidos graxos e componentes minoritários. O óleo de arroz é

o óleo comestível obtido do farelo de arroz da variedade Oryza sativa L. através

de processos tecnológicos adequados e tem sido considerado um óleo superior

devido as suas características químicas, sendo equiparáveis aos óleos de soja,

milho e algodão. O farelo de arroz é um subproduto da indústria de

beneficiamento de arroz, sendo este altamente nutritivo, pois é rico em lipídios (12

a 25%), proteínas, vitaminas, sais minerais e antioxidantes naturais. A

industrialização do farelo de arroz, para obtenção de óleo comestível e de seus

sub-produtos, envolve várias etapas de processamento, como: pré-limpeza,

estabilização, peletização, secagem e resfriamento do farelo, seguidas da

extração do óleo e sua pré-limpeza, bem como da degomagem, neutralização,

clarificação, desceramento e desodorização do óleo bruto. Para a obtenção de um

dos sub-produtos, se faz o tratamento da borra com ácido sulfúrico para obtenção

dos ácidos graxos livres. No laboratório são realizadas constantemente, análises

físico-químicas no farelo de arroz, no farelo peletizado, nos óleos de todas as

etapas do processamento, bem como nas rações comercializadas pela Irgovel.

Com tudo isso, percebe-se que o estágio realizado na Irgovel foi de extrema

importância, pois além de permitir que fossem colocados em prática muitos

conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do Curso de Bacharelado em

Química de Alimentos, também possibilitou agregar novos conhecimentos.

7

1. Introdução

1.1 A IndústriaInstalada em Pelotas desde 1972, a Irgovel-Indústria Riograndense de

óleos Vegetais Ltda foi a segunda empresa do grupo familiar Amaral Brito, com

sede em Anápolis, Goiás. Em 1962, o patriarca da família fundou a empresa Boa

Sorte Industrial, de forma a aproveitar a produção de arroz do estado goiano.

Com a crescente produção arrozeira no Rio Grande do Sul na década de 70 a

empresa, já detentora da tecnologia de produção e industrialização do óleo de

arroz, constituiu a segunda indústria da família em Pelotas, Rio Grande do Sul

(FERNANDES, 2008).

A Irgovel, até então uma empresa familiar passa a pertencer, no primeiro

semestre de 2008, ao grupo norte-americano NutraCea com sede no estado do

Arizona, Estados Unidos (FERNANDES, 2008).

Além de ser pioneira, a Irgovel é a única indústria brasileira a produzir o

óleo refinado de arroz para a alimentação humana. Seu parque industrial está

localizado em Pelotas, numa área de 50.000 m2, e tem capacidade de processar

60.000 ton/ano de farelo de arroz (matéria-prima para extração do óleo). Produz

em média 12.000 toneladas de óleo refinado e 30.000 toneladas de ração animal

por ano. A empresa conta hoje com um quadro de aproximadamente 212

funcionários trabalhando 24 horas ininterruptas. Atualmente sua produção é

destinada ao mercado interno e para a exportação para países como Japão,

Estados Unidos, México e Uruguai (IRGOVEL, 2008).

Além da produção do Óleo de Arroz Carreteiro (óleo refinado de arroz), a

Irgovel comercializa sub-produtos oriundos da obtenção do óleo de arroz, como o

farelo de arroz desengordurado e rações animais (preparadas a partir do farelo

desengordurado), que são especialmente formuladas para bovinos de leite,

bovinos de engorda, eqüinos, suínos e ovinos. Os óleos industriais e ácidos

graxos destilados com alto grau de pureza também são comercializados pela

indústria (IRGOVEL, 2008).

8

1.2 Óleos VegetaisUma grande variedade de sementes, cocos, frutas e cereais ricos em óleo,

os quais são utilizados em saladas, na formulação de alimentos, na fabricação de

sabão, na obtenção de óleos lubrificantes especiais e na elaboração de

cosméticos, são denominadas de oleaginosas (DORSA, 2004).

As fontes primárias de óleos vegetais são: cocos, semente de algodão,

palma, azeitona, amendoim, soja, girassol, milho e canola. Várias outras

sementes são usadas como fontes de óleo para tempero ou molho de salada,

inclusive amêndoas, semente de uva, semente de abóbora, gergelim e nozes.

Algumas plantas são somente utilizadas para a produção de óleo enquanto outras

são primordialmente destinadas para a produção de alimentos, rações ou fibras

têxteis, nas quais a produção de óleo é um produto secundário (DORSA, 2004).

O óleo vegetal é obtido prensando as sementes e extraindo o óleo com

solventes ou água; o alto resíduo protéico que permanece na massa depois da

extração do óleo (farelo) é uma valiosa ração para alimentação animal (DORSA,

2004).

Os óleos vegetais comestíveis são provedores de energia e podem

fornecer ao organismo vitaminas e antioxidantes lipossolúveis. Além disso,

constituem uma importante fonte de ácidos graxos, alguns considerados

essenciais ao organismo. Além dos ácidos graxos essenciais, os óleos vegetais

contêm componentes minoritários, como parte da matéria insaponificável, com

características antioxidantes e vitamínicas.

A maioria dos óleos vegetais são ricos em ácidos graxos monoinsaturados

e poliinsaturados, que segundo pesquisas em nutrição, são ingredientes dietéticos

mais desejáveis do que a gordura animal saturada, como manteiga ou banha

(DORSA, 2004). Os óleos contendo alta porcentagem de ácidos graxos

poliinsaturados, como o óleo de soja, de arroz, de girassol, de milho, etc.,

reduzem o nível de colesterol do sangue, exercendo uma influência benéfica nas

alterações vasculares (MORETTO & FETT, 1998).

9

1.3 Óleo de farelo de arroz

1.3.1 Matéria-primaO arroz, um dos mais importantes cereais produzidos no mundo, sendo

originário do sudoeste da Ásia, este cereal vem sendo cultivado por muitos

séculos, desde a.C. (MORETTO e FETT, 1998).

As variedades de arroz mais comuns são Oryza sativa e Oryza

glaberrima. O grão de arroz apresenta 34 a 62% de carboidratos solúveis, 7 a

11,4% de fibra e 11,3 a 14,9% de proteína (O GRÃO, 2008). Durante o

descascamento é obtido o farelo, que representa 5,0 a 5,5% do grão inteiro. O

farelo contém 12 a 25% de óleo, isto significa que potencialmente o grão de arroz

contém 0,8% de óleo (DORSA, 2004).

O farelo de arroz é um subproduto da indústria de beneficiamento de

arroz, a qual separa casca, farelo e gérmen do endosperma do grão. O farelo é

altamente nutritivo, sendo rico em lipídios, proteínas, vitaminas e sais minerais.

Pode conter entre 12 a 25% de óleo, dependendo da qualidade do farelo e grau

de polimento do grão (MORETTO & FETT, 1998).

Existem dois tipos de farelo: farelo de arroz branco e farelo de arroz

parboilizado.

O farelo de arroz branco é obtido do polimento do grão sem nenhum

tratamento, ou seja, depois do descasque, os grãos inteiros seguem para o

brunidor que retira a camada escura do grão (farelo), o qual é aspirado por um

exaustor e, posteriormente vendido para a extração de óleo ou produção de

rações.

O farelo de arroz parboilizado é obtido do grão que recebeu tratamento

térmico, ou seja, que passou pelo processo de gelatinização. Este processo é

responsável por uma característica muito importante do farelo de arroz

parboilizado, o aumento da sua vida de prateleira. Isso é possível porque, com as

condições nas quais se realiza esta operação, consegue-se inativar as enzimas

presentes no arroz bem como no farelo. A parboilização do arroz também é

realizada com a finalidade de diminuir o percentual de grãos quebrados, o que

10

favorece a obtenção de um farelo com menor teor de quirera, aumentando assim

seu rendimento na planta de extração (O GRÃO, 2008).

1.3.2 Óleo refinado de arrozSegundo a ANVISA (Brasil, Resolução nº 482, 1999), óleo de arroz é o

óleo comestível obtido do farelo do arroz (Oryza sativa L.) através de processos

tecnológicos adequados.

Portanto, o óleo de farelo de arroz é um subproduto da indústria de

beneficiamento de arroz, e tem sido considerado um óleo superior devido as suas

características químicas, sendo equiparáveis aos óleos de soja, milho e algodão.

O seu baixo conteúdo de ácido linolênico (18:3) e esteróides, aliado ao alto teor

de tocoferóis e orizanol, asseguram-lhe alta estabilidade, retardando a rancidez e

o aparecimento de sabores indesejáveis (MORETTO & FETT, 1998).

Dos componentes lipídicos presentes no óleo de arroz bruto, cerca de 90

a 96% são materiais saponificáveis (triglicerídeos, diacilglicerídeos,

monoacilglicerídeos, ácidos graxos livres e ceras) e 3 a 5% são insaponificáveis

(esteróis, tocoferóis, tocotrienóis, álcoois triterpênicos) (ORTHOEFER, 1996, apud

PAUCAR-MENACHO, 2007). A parte saponificável do óleo bruto de arroz, em

média, é constituída por 81,3 a 84,3% de triglicerídeos; 2 a 3% de diglicerídeos; 5

a 6% de monoglicerídeos; 2 a 3% ácidos graxos livres; 0,3% ceras; 0,8%

glicolipídeos; e 1,6% fosfolipídeos (RICE BRAN OIL, 2008).

O conteúdo de matéria insaponificável varia dependendo do grau e

método de processamento; todavia, o óleo bruto de arroz possui um teor próximo

de 4%, sendo superior quando comparado a outros óleos vegetais, que

apresentam em média 1% de matéria insaponificável (RICE BRAN OIL, 2008).

Dos ácidos graxos que compõem o óleo de arroz destacam-se, o

palmítico (21-26%), o linoléico (31-33%) e o oléico (37-42%) (RICE BRAN OIL,

2008).

O óleo de arroz é rico em vitaminas do complexo “E” (tocoferóis e

tocotrienóis), importantes antioxidantes conhecidos como “gama-orizanol”, além

de altos níveis de fitosteróis e esqualeno. Apresenta uma vida útil duradoura, se

comparada a outros óleos comestíveis, devido a estes antioxidantes. Os

componentes citados são nutricionalmente valiosos e já demonstraram ser

11

responsáveis por efeito hipocolesterolêmico e prevenção de arteriosclerose. O

óleo de arroz é uma das mais ricas fontes de tocoferóis e tocotrienóis conhecidas,

razões que lhe conferem maior capacidade de redução do colesterol comparado a

outros óleos (GHOSH, 2007). Os tocotrienóis inibem a síntese do colesterol LDL,

o orizanol auxilia na formação do HDL e promove a redução e inibição da síntese

do LDL, e os fitosteróis auxiliam a reduzir a absorção do colesterol (CHANDRA,

2005).

Dessa forma, óleo de arroz na dieta, auxilia na redução significativa do

colesterol LDL (mau colesterol) e dos triglicerídeos, e no aumento do colesterol

HDL (bom colesterol), refletindo na inibição do acúmulo de plaquetas, na

prevenção de doenças cardiovasculares e na redução do colesterol sem causar

efeitos colaterais, conhecidos na administração de drogas medicinais (GHOSH,

2007). O óleo de arroz, apesar de ter um custo um pouco maior, para emprego

em processos de fritura pode ser considerado como mais econômico, pois é

pouco absorvido pelo alimento, proporcionando maior rendimento para uso em

grande escala. A menor taxa de absorção é devida à baixa viscosidade, qualidade

física que o torna mais leve (IRGOVEL, 2008).

O óleo de arroz é excelente para saladas e cozimentos devido sua

elevada estabilidade oxidativa, conferida pelos compostos fenólicos, e pelo seu

delicado sabor. O seu alto ponto de fulgor previne a isomerização e a

polimerização dos ácidos graxos e também a proliferação dos radicais livres em

altas temperaturas (CHANDRA, 2005).

12

2 Objetivos

2.1 GeralIntegrar o conhecimento adquirido, durante o curso de Bacharelado em

Química de Alimentos, com a prática industrial através do acompanhamento do

processo de refino do óleo de arroz.

2.2 EspecíficosAcompanhar integralmente o processo de refino do óleo de arroz;

Acompanhar o processo de obtenção de sub-produtos oriundos da

obtenção do óleo de arroz;

Atuar no controle de qualidade de cada etapa de refino através de

análises físico-químicas.

13

3. Atividades desenvolvidas

Durante o período do estágio oportunizou-se o acompanhamento de todo

o processo de industrialização do óleo de arroz, desde o recebimento da matéria-

prima até a obtenção do óleo refinado, incluindo a obtenção dos sub-produtos e,

mais especificamente, realizou-se análises físico-químicas para controlar cada

etapa do processo.

Aborda-se nesse relatório as atividades acompanhadas e realizadas

durante o estágio, bem como um breve suporte teórico sobre cada etapa do

processo de industrialização.

3.1 Processo geral de produção do óleo de arroz CarreteiroA Figura 01 ilustra o fluxograma das etapas do processo de industrialização

do óleo de arroz e as respectivas análises realizadas em cada uma dessas

etapas.

As análises realizadas pela Irgovel seguem a metodologia da A.O.C.S.

(Official and Tentative Methods of the American Oil Chemysts’ Society), sendo

algumas delas adaptadas pela empresa.

14

Figura 1. Fluxograma das etapas do processo de industrialização do óleo de

arroz. (...) análises realizadas.

Farelo de arroz(impurezas, acidez e extrato etéreo)

Clarificação(acidez, umidade, sabões, cor)

Neutralização(acidez, umidade, sabões, cor)

Degomagem(acidez, matéria decantada,

matéria insolúvel em acetona)

Óleo bruto(teste de fogo, acidez, umidade,

matéria decantada, matéria insolúvel

em acetona)

Extração

Estabilização/Peletização(umidade)

Desceramento(acidez, umidade, sabões, cor)

Desodorização(acidez, umidade, sabões, cor,

ponto de fumaça, sensorial)

Envasamento

Farelo desengordurado(teste de fogo, umidade, extrato

etéreo residual)

Goma(matéria

decantada)

Borra(corte)

Cera

Rações(umidade, proteína

bruta, fibra bruta,

extrato etéreo)

15

3.2 Preparação da matéria-prima

3.2.1 Recebimento do farelo de arrozO farelo de arroz, proveniente dos engenhos de beneficiamento, chega à

Irgovel em caminhões graneleiros ou carretas, sendo então rapidamente

processado a fim de evitar a degradação lipídica, através da hidrólise enzimática,

que forma como produto indesejável os ácidos graxos livres, aumentando assim a

acidez do farelo.

O caminhão, após sua pesagem, é encaminhado para setor de

recebimento da matéria-prima, onde é descarregado e, após nova pesagem, para

se determinar o peso da matéria-prima recebida, é liberado para uma nova carga.

O farelo é descarregado em uma abertura gradeada no chão sendo

posteriormente conduzido, através de um elevador, até três caixas, sendo que

duas são utilizadas para armazenar o farelo branco e uma para armazenar o

farelo parboilizado.

De cada carga de farelo que chega à indústria, é recolhida uma amostra

representativa, a qual é encaminhada ao laboratório onde se determina o teor de

impurezas, extrato etéreo e acidez do óleo contido no farelo. Os valores obtidos

são registrados e disponibilizados para a gerência de qualidade e produção.

3.2.1.1 Análises realizadas no farelo de arroz● Impurezas:

A análise de impurezas tem como finalidade identificar o percentual de

impurezas no farelo recebido pela Irgovel. Entende-se, neste caso, por impureza

qualquer material presente que não seja farelo de arroz, como quirera, pontas,

cascas, arroz e corpos estranhos. Esta análise é realizada pesando 50 gramas de

farelo sobre uma peneira com 0,84mm de abertura (Tyler 20) e posteriormente

efetuando o peneiramento; o material retido na peneira (impurezas) é pesado e

descartado. Multiplicando o peso de impurezas por dois se obtém o valor em

relação a 100 gramas, ou seja, em porcentagem.

O teor de impurezas do farelo branco geralmente se apresenta mais

elevado que o do farelo parboilizado.

16

● Acidez:Esta análise tem como objetivo determinar o percentual de ácidos graxos

livres no farelo recebido pela empresa. Geralmente o farelo branco apresenta

uma acidez acima de 3,0%, enquanto que, o farelo parboilizado apresenta uma

acidez máxima de 3,0%.

A análise de acidez é realizada segundo a metodologia da AOAC (1997).

● Extrato Etéreo:A determinação do extrato etéreo tem como finalidade verificar o percentual

de gordura presente no farelo recebido pela empresa, sendo esta realizada

conforme a metodologia descrita na AOAC (1997).

Geralmente o farelo branco apresenta extrato etéreo de 15,0 a 20,0%,

enquanto que, o farelo parboilizado apresenta de 20,0 a 28,0%.

É importante salientar que departamento comercial da indústria se baseia

nos resultados das análises, acima citadas, para efetuar o pagamento dos

fornecedores pelo farelo adquirido pela indústria.

3.2.2 Pré-limpezaAo chegar à indústria o farelo de arroz deve passar por um processo de

pré-limpeza, que consiste em retirar impurezas como paus, pedras, metais, grãos,

entre outros (ZAMBIAZI, 2003).

Esta operação é de alta importância porque as impurezas, além de

colocarem em risco os equipamentos, podem comprometer a qualidade do

produto final (CAMARGO et al., 1986).

O farelo de arroz, armazenado nas estruturas de recebimento da Irgovel,

passa então por uma dosagem, ou seja, é feito uma mistura entre o farelo branco

e parboilizado (máximo 35%). A dosagem de farelo é realizada para proporcionar

uma melhor peletização, uma vez que uma grande quantidade de farelo

parboilizado, que já teve a sua massa de amido expandida e, conseqüentemente,

perdeu a sua capacidade de aglutinação, dificulta a peletização.

Após a devida dosagem do farelo de arroz, a mistura passa por uma

peneira vibratória de aproximadamente 12 mm de abertura, onde ocorre a retirada

17

de materiais grosseiros como cordões, papel, paus, pedras, parafusos e insetos,

além de outros possíveis materiais que possam estar presentes no farelo.

Após passagem pela peneira vibratória, a mistura é conduzida por redler

até as peneiras Satake, onde são removidos materiais menores como, quirera,

pontas de arroz entre outros. A retirada dessas impurezas se dá devido a pressão

de ar produzido pelo exaustor principal, que suga o farelo, bem como as pressões

de ar dos ventiladores secundários que injetam ar por baixo das telas para mantê-

las limpas. As impurezas, devido ao seu peso específico maior, permanecem

sobre a tela e posteriormente são recolhidas em sacos de 500 Kg e vendidas sem

qualquer industrialização adicional.

3.2.3 CondicionamentoDurante o período de armazenamento ocorre a produção de calor e isto

ativa as enzimas (lipases) que hidrolisam rapidamente o óleo e produzem um

aumento considerável de acidez em poucas horas, a qual é responsável por sabor

ácido e desagradável. O óleo também é oxidado, o que agrega a ele odores e

sabores rançosos. Além destas condições, também ocorre perda de componentes

alimentícios valiosos como vitaminas, antioxidantes, etc (FARELO E ÓLEO DE

ARROZ, 2008).

Para evitar esta degradação, torna-se necessário inativar as enzimas por

meio de calor. Esta etapa, além da inativação enzimática, tem por objetivos

desnaturar as proteínas promovendo a coalescência das gotículas de óleo; tornar

as membranas celulares (esferozomas) que envolvem o óleo mais permeáveis;

diminuir a viscosidade e a tensão superficial do óleo, facilitando sua remoção;

destruir microrganismos; e insolubilizar os fosfatídeos, que são emulsificantes

naturais; facilitando assim o refino do óleo (TECNOLOGIA, 2008).

Realizada a pré-limpeza, o farelo entra na peletizadora, na qual ocorre a

estabilização do farelo através do aumento simultâneo do teor de umidade do

farelo com água, e o aquecimento com injeção de vapor direto de baixa pressão

(0,1 - 0,2 Kg/cm²) nos condicionadores da peleteira, atingindo a temperatura de

90ºC e 15% de umidade total. Só é possível obter uma boa estabilização do farelo

com o controle simultâneo da umidade e da temperatura. O aquecimento do farelo

a 90°C, porém sem adição de água, não permite uma boa estabilização e nem

18

uma boa expansão da massa de amido, isso traz como conseqüência, um

aumento da acidez do óleo contido no farelo estabilizado em poucos dias após a

sua estabilização e, o que é mais prejudicial, sem a expansão do amido não há

uma boa lavagem do farelo com solvente no extrator, causando um aumento de

óleo residual no farelo desengordurado.

Além disto, um farelo muito seco acarreta formação de mais pó, trazendo

como conseqüência a repeletização desse pó, bem como a pior lavagem do farelo

no extrator, devido à formação de canais preferenciais na percolação da miscela

nas células do extrator, implicando em um aumento do residual de óleo.

Após a estabilização, os pellets formados passam pelo secador através de

uma esteira, onde recebem ar quente (150°C) produzido por dois radiadores. O

farelo permanece aproximadamente por 20 minutos na etapa de secagem e sai

do secador com temperatura em torno de 45°C.

Ao secador está adaptado um sistema de exaustão composto por rotor de

exaustão, com ciclones com filtros de manga, que têm como finalidade remover

partículas pequenas que se apresentam como pó, que poderiam causar grandes

problemas com seu depósito na esteira, cantos e radiadores, causando a

carbonização desses equipamentos.

No farelo condicionado, peletizado e seco, é determinado o teor de

umidade de hora em hora. O parâmetro usado, para o teor de umidade do farelo

cozido úmido é de 12 a 16%, para o farelo seco peletizado. A margem de

umidade estabelecida é de 6 a 9%. Quando o resultado da análise se apresentar

fora dos padrões citados anteriormente, o gerente de produção é avisado para

que seja solucionado o problema.

3.2.3.1 Análises realizadas no farelo condicionado● Umidade:

A determinação do teor de umidade presente na amostra é realizada para

que se possa monitorar o processo de cozimento/estabilização e secagem dos

farelos e rações.

Esta análise é realizada triturando e homogeinizando a amostra;

posteriormente, utilizando uma balança específica para determinação de umidade

(Gibertini Eurotherm) que, deve ser programada para temperatura de 140°C e em

19

seguida acionada para realizar a análise; ao final da análise o resultado é

informado no display da balança.

A balança específica para determinação de umidade indica o percentual

de umidade com base no peso inicial e o peso final da amostra (quando a

amostra apresentar peso constante) e, leva em torno de 6 minutos para apontar o

resultado final. A determinação de umidade pode também, ser realizada através

da secagem em estufa 105°C por 3 horas, porém este procedimento não é muito

utilizado pela Irgovel para amostras de farelo, devido ao tempo prolongado da

análise.

O teor de umidade do farelo seco peletizado deve se manter entre 6 a 9%,

pois um percentual de umidade acima dificulta a extração da matéria graxa devido

a repulsão solvente (apolar) – água (polar) porém, se o teor de umidade for muito

baixo diminui a solubilidade de fosfatídeos além de favorecer o rompimento dos

“pellets”, gerando muito pó, o que também afeta a extração do óleo.

3.3 ExtraçãoA extração do óleo de arroz é feita por meio de solventes orgânicos,

sendo o solvente mais usado a hexana (ponto de ebulição aproximadamente

68°C), deixando o resíduo (farelo) com aproximadamente 1% de óleo residual

(MORETTO & FETT, 1998).

A hexana satisfaz uma série de exigências de um solvente adequado:

dissolve com facilidade o óleo sem agir sobre outros componentes da matéria

oleaginosa; possui composição homogênea e estreita faixa de temperatura de

ebulição; é imiscível com água e não forma azeotrópos com a mesma, ainda, tem

baixo calor latente de ebulição, porém, apresenta como desvantagens a alta

inflamabilidade e o alto custo.

A extração direta por solventes é aplicável para matérias-primas com teor

de óleo usualmente inferiores a 30%, como é o caso do farelo de arroz, que

apresenta aproximadamente 18-25% de óleo, não sendo necessário, portanto, a

utilização concomitante da prensagem mecânica (MORETTO & FETT, 1998).

A extração por solventes ocorre em duas etapas, sendo uma rápida e

fácil, a de dissolução, e outra mais demorada, por ser dependente da difusão da

mistura de óleo e solventes através do “pellet”. Durante a extração, a velocidade

20

de desengorduramento no começo é rápida, decrescendo no decurso do

processo.

A solução de óleo no solvente é chamada de miscela e o fator que define

a velocidade de extração, é o equilíbrio do sistema óleo-miscela-solvente. O

tempo de contato em cada estágio de extração é importante para se obter esse

equilíbrio (MORETTO & FETT, 1998).

Outros fatores importantes para a extração com solventes são:

temperatura, proporção material /solvente, umidade do material, percolaridade,

drenabilidade e retenção estática.

- Temperatura: a temperatura de extração deve ser a mais elevada

possível, próxima ao ponto de ebulição do solvente (55-60°C), para favorecer a

dissolução do óleo e aumentar o coeficiente de difusão, no entanto temperaturas

muito elevadas aumentam a presença de vapores de solventes e resultam em

maiores cargas para sua posterior recuperação (ZAMBIAZI, 2003).

- Proporção material/solvente: quanto maior essa proporção, mais rápida

e completa deverá ser a extração do óleo, porém, menor será a concentração de

óleo na miscela, resultando em maior quantidade de solvente a ser evaporado do

óleo, consumindo maior quantidade de vapor e, conseqüentemente gerando um

aumento nos custos operacionais (ZAMBIAZI, 2003).

- Umidade: a umidade do material a ser extraído também afeta a

eficiência da extração, uma umidade muito baixa (<6,0%) resulta em baixa

eficiência, devido a menor solubilidade de fosfatídeos em solventes apolares; por

outro lado, uma umidade muito alta (>10,0%) pode resultar em repulsão entre o

material e o solvente, dificultando o contato entre solvente e farelo (ZAMBIAZI,

2003).

- Percolaridade: a percolaridade expressa o volume de um líquido que

pode fluir através de uma camada sólida, impregnada e saturada desse líquido e

com uma altura definida, sob ação da força da gravidade e, eventualmente, de

uma força hidráulica, decorrente da presença de uma camada líquida superficial.

No processo de extração com solvente por percolação é indispensável que a

camada sólida tenha uma percolabilidade adequada, isto é, a velocidade

superficial de passagem do solvente pela camada sólida deve ser suficientemente

elevada para permitir a ocorrência de um contato adequado entre quantidades

21

apropriadas de sólidos e líquidos, no decurso de certo período de tempo, que

permita uma extração satisfatória em condições tecnicamente viáveis (ZAMBIAZI,

2003).

- Drenabilidade e retenção estática: consiste na quantidade de líquido

retido pelos sólidos ao atingir um estado de equilíbrio, ou seja, o líquido não

escoa espontaneamente para fora do material. Uma baixa drenabilidade consiste

em um tempo de escoamento mais longo, inferindo em um menor aproveitamento

do extrator, com redução do tempo produtivo de extração. A retenção estática de

solvente expressa a quantidade de um líquido que não drena espontaneamente

sob a ação da força de gravidade, isto é, que fica retido na massa de material

extraído ao cessar o escoamento. Logo uma retenção estática elevada tem como

inconvenientes provocar um aumento no teor final de óleo residual no farelo, e

aumenta a quantidade de solvente que deverá ser removido da massa. Contudo,

percebe-se que é desejável uma alta drenabilidade e baixa retenção estática de

solvente (ZAMBIAZI, 2003).

Na Irgovel, o farelo depois de peletizado, seco e resfriado, é transportado

para os silos pulmões a fim de abastecerem a seção de extração de óleo. Antes

de ser enviado ao extrator, o farelo é peneirado em uma peneira alternativa que

fica sob os silos de estocagem. Essa peneira separa os finos que são devolvidos

para a repeletização, e o farelo peletizado inteiro é enviado para a caixa de farelo

que alimenta o extrator.

O extrator rotocel, utilizado na Irgovel, apresenta a forma de um cilindro

dividido em 15 setores podendo funcionar com capacidade máxima de 250 ton/dia

de farelo. O volume de solvente (hexana) puro que é injetado no extrator para a

lavagem do farelo, varia em função da quantidade de farelo que está sendo

processado. Este solvente é aquecido a 60°C. Quanto maior é a capacidade de

produção do extrator, menor é o seu tempo de lavagem e conseqüentemente

maior é o residual de óleo no farelo.

3.3.1 Dessolventização da miscela A dessolventização tem por objetivo separar o óleo contido na miscela,

através da evaporação do solvente, bem como promover sua recuperação através

da condensação.

22

A miscela com concentração de óleo em torno de 22% é centrifugada,

inicialmente num hidrociclone, que separa as partículas mais grosseiras de farelo,

retornando-as ao extrator. Após a primeira purificação, a miscela é filtrada em um

filtro vertical de placas verticais e enviada para um tanque de miscela limpa. Essa

miscela é bombeada para um economizador de calor que recebe os vapores de

solvente lavados, provenientes do dessolventizador - tostador (DT), onde é

aquecida sob vácuo com aqueles gases e parte do seu solvente é vaporizada,

aumentando conseqüentemente, a concentração em óleo desta miscela (30%).

Em seguida, ela segue para um segundo economizador, que recebe o

condensado do DT e do secador, na temperatura de 150°C. Também sob vácuo,

a miscela é reconcentrada para um teor de óleo da ordem de 90 - 95%, seguindo

então para um evaporador que trabalha sob pressão de vapor e vácuo, reduzindo

o teor de solvente na miscela (óleo) para menos de 1%. Finalmente, esse óleo

com menos de 1% de solvente, é enviado a uma coluna de strypping, onde é

eliminado todo o solvente. A temperatura do óleo nessa coluna (sob vácuo) é de

90 - 95°C. O óleo proveniente da coluna é resfriado para 60°C e enviado aos

tanques de óleo bruto.

No óleo extraído do farelo é feita a análise de acidez, umidade e teste de

fogo. A análise de acidez é realizada a cada duas horas e o resultado pode variar

de 5,0 a 12,0%, enquanto que a análise de umidade é feita a cada seis horas e o

seu valor máximo deve ser de 0,50%. O teste de fogo é feito de hora em hora e o

resultado deve ser negativo.

3.3.1.1 Análises realizadas no óleo bruto● Teste de fogo:

O teste de fogo é realizado com o intuito de verificar a presença ou não de

solvente no óleo bruto. A análise é realizada após a coleta do óleo em um

recipiente que, imediatamente após a coleta, é fechado; riscando um palito de

fósforo em frente a “boca” do recipiente, após este ser aberto, verifica-se a

presença ou ausência de solvente na amostra.

O teste é considerado positivo para solvente, quando houver formação

de uma chama ao aproximar o palito de fósforo e, o teste é considerado negativo,

23

quando não houver formação de uma chama com a aproximação do palito de

fósforo na amostra.

Se o teste acusar solvente na amostra é necessário informar o operador

do setor de extração. O aumento da pressão de vapor na evaporadora geralmente

resolve o problema, pois aumentará a capacidade de evaporação do solvente da

miscela.

● Acidez:Através dessa análise é possível determinar o teor de ácidos graxos livres

presente na amostra e assim verificar a qualidade do óleo. Esta análise é

realizada pesando 1 grama de amostra em um erlenmeyer de 250mL;

adicionando álcool neutralizado e 2 gotas de fenolftaleína 1% e, titulando com

NaOH 0,1N. Obtendo-se o volume gasto na titulação o percentual de acidez pode

ser calculado utilizando a fórmula a seguir:

%índice de acidez (ácido oléico) = [VNaOH 0,1N x N x Fn x mEq-g ácido oléico] / POnde: VNaOH 0,1N= volume gasto de NaOH 0,1N; N= normalidade da solução de

NaOH 0,1N; Fn= Fator normal da solução de NaOH 0,1N; mEq-g ácido oléico=

2,82; P= peso da amostra de óleo bruto.

Sempre que o óleo bruto apresenta um teor de ácidos graxos livres acima

de 15%, este não passa pelo processo de refino já que acarretaria em muitas

perdas durante a etapa de neutralização e o processo se tornaria inviável. O

destino desse óleo é a produção de ácidos graxos livres, passando primeiramente

pelo processo de degomagem e, posteriormente, é hidrolisado e destilado.

● Umidade:Esta análise determina o percentual de resíduos de água presente na

amostra e é realizada pesando em torno de 20 gramas de amostra em um

erlenmeyer totalmente seco e previamente tarado; secando em estufa com

temperatura de 105°C por 3 horas e após esfriando em dessecador para posterior

pesagem. O cálculo utilizado é o seguinte:

% Umidade= [Peso da amostra seca / Peso da amostra úmida] x 100 A presença de água na amostra pode desencadear reações de

decomposição, principalmente hidrolíticas.

24

A determinação de umidade, para todos os óleos obtidos nos processos da

Irgovel, segue a metodologia e os cálculos relatados anteriormente (metodologia

padrão adotada pela Irgovel), para tanto, sempre que for mencionada a análise de

umidade em óleos neste relatório, saber-se-á que esta é realizada conforme foi

descrito neste item.

● Matéria decantadaEsta análise tem como finalidade determinar o percentual de matéria

decantada (impurezas) na amostra, sendo esta realizada colocando a amostra em

tubos graduados de 10 mL; centrifugando na velocidade de 1500rpm por 20

minutos e verificando o percentual de impurezas precipitadas.

Utiliza-se o cálculo a seguir para determinar o percentual de matéria

decantada.

% matéria decantada= [VD/ VA] x 100Onde: VD= volume de matéria decantada; VA= volume da amostra

O óleo bruto apresenta, geralmente, em torno de 1% de matéria decantada.

● Matéria insolúvel em acetonaA análise de matéria insolúvel em acetona determina a matéria insolúvel

em acetona (fosfolipídios) no óleo bruto. Esta análise é realizada pesando um

tubo de centrífuga de 10 mL(anotando o peso); adicionando 3 gramas de amostra

e completando o tubo com acetona saturada com KI gelada. Segue-se a análise,

centrifugando essa mistura por 15 minutos com velocidade de 1500 rpm; o

sobrenadante é desprezado e este processo é repetido por mais duas vezes.

Após a última lavagem com acetona, o tubo é colocado em estufa a 105°C por 30

minutos e após esse tempo o tubo é colocado no dessecador até esfriar e

posteriormente é pesado e realizado o cálculo utilizando a fórmula a seguir:

% matéria insolúvel acetona= {[Pt – Ptas] / Pa }x 100Onde: Pt= peso do tubo vazio; Ptas= peso do tubo com amostra seca; Pa= Peso

da amostra.

O teor de matéria insolúvel em acetona geralmente encontrado no óleo

bruto obtido na Irgovel é de 2,5 a 3,5%.

25

3.3.2 Dessolventização do farelo desengorduradoA dessolventização do material extraído proveniente dos extratores visa a

remoção completa do solvente nele contido, em virtude da retenção estática, de

modo a permitir a obtenção de um farelo protéico praticamente isento de solvente

(teor inferior a 1000 ppm).

O farelo desengordurado, que é descarregado do extrator, contém em

média 35% de solvente, sendo necessário, portanto, removê-lo para possibilitar o

uso do farelo para fabricação de rações e outras finalidades. Além disso, o farelo

precisa de um tratamento térmico para reduzir seus fatores anti-nutricionais,

tóxicos e substâncias de sabor indesejável.

O material a ser dessolventizado é transportado por um redler para o

dessolventizador-tostador (equipamento vertical que combina evaporação com

cocção úmida), onde através de aquecimento com vapor indireto na pressão de

10 kg cm-² e com vapor direto na pressão de 0,5 a 1,0 kg cm-2, vaporiza o

solvente que está impregnado no farelo desengordurado. Os gases provenientes

desse DT são lavados no lavador de gases e enviados ao primeiro economizador,

e então para os condensadores do DT e extração.

O farelo descarregado do DT na temperatura de 100°C, é enviado à

peleteira onde ocorre a mistura de outros materiais e, então, é peletizado e

posteriormente seco, resfriado para uma temperatura de 10°C acima da

temperatura ambiente, peneirado e transferido para o silo aéreo de farelo

peletizado. As partículas que não ficaram devidamente aglomeradas são

removidas durante o peneiramento e devolvidas ao processo de peletização.

O farelo comum produzido na Irgovel é acrescido de calcário calcítico,

goma (produto retirado do óleo bruto de arroz na etapa de degomagem) e fibras

(casca de arroz moído). Na produção de rações, o processo é o mesmo, porém é

acrescentado para cada ração diferente um pré-mix determinado, que é obtido

pela empresa já preparado. No farelo desengordurado é feito o teste de fogo, bem

como a determinação de gordura remanescente através da extração com soxhlet.

No farelo desengordurado e estabilizado, bem como nas rações são realizadas

análises de umidade, extrato etéreo, fibra bruta e proteína.

A umidade dos “pellets” é controlada (11,0 a 12%) e o teor de gordura do

farelo desengordurado deve ser o mínimo possível para evitar perdas de óleo,

26

ainda o teste do fogo deve ser negativo. Para o farelo estabilizado e para cada

tipo de ração fabricada há parâmetros de extrato etéreo, fibra bruta e proteína

(Tabela 01, anexo 01).

3.3.2.1 Análises do farelo desengordurado e rações● Teste do fogo

A análise é realizada como descrito no item 3.3.1.1, e tem como objetivo

verificar a presença de solvente na amostra, que nesse caso se trata de farelo

desengordurado.

Se o teste acusar solvente na amostra é necessário informar o operador do

setor de extração. Geralmente o dessolventizador-tostador da Irgovel opera com

capacidade máxima de pressão de vapor, isso torna raras as chances de teste de

fogo positivo.

● Extrato etéreoComo citado anteriormente, essa análise é efetuada de acordo com a

metodologia da AOAC (1997), e é realizada no farelo desengordurado, com o

objetivo de verificar o teor de matéria graxa, já nas rações produzidas pela

Irgovel, essa análise é realizada com o intuito de verificar se as mesmas estão de

acordo com os padrões estabelecidos pela empresa como sendo a ideal.

Um alto teor de matéria graxa na amostra de farelo desengordurado indica

que a extração não está sendo eficiente, neste caso, é necessário, inicialmente,

verificar a etapa anterior que é o condicionamento, já que esta é fundamental para

que se tenha uma boa lavagem na extração. O tempo de contato, a temperatura

de extração, a relação solvente/material também podem influenciar na extração

do óleo.

Cada tipo de ração produzida apresenta um teor pré-determinado de

lipídios, o qual foi estabelecido baseado em uma dieta própria para cada tipo de

animal. Os lipídios desempenham uma função energética na alimentação.

● UmidadeO procedimento para realizar esta análise é idêntico ao descrito no item

3.2.3.1, no segmento que se refere a metodologia da análise de umidade.

27

A finalidade dessa análise no farelo desengordurdo bem como nas rações,

é manter um controle de umidade que se deve manter abaixo de 12,0%, para que

se consiga evitar os processos de degradação do produto o que diminui sua vida

de prateleira.

● Proteína bruta O percentual de material protéico no farelo desengordurado e nas rações

é determinado utilizando o método Kjeldahl (AOAC, 1997).

O teor de proteína bruta deve-se apresentar dentro dos parâmetros

estipulados para cada tipo de ração, para que seja atendida a necessidade

protéica diária dos animais consumidores.

Esta análise é realizada também nos insumos adquiridos pela empresa de

terceiros, os quais são utilizados na formulação das rações.

● Fibra brutaA determinação de fibras nas rações produzidas pela Irgovel é feita pela

análise de fibra bruta, onde esta é isolada por ácidos e bases fortes. A extração

ácida remove amidos, açúcares e parte da pectina e da hemicelulose dos

alimentos. A extração básica retira proteínas, pectinas e hemicelulose

remanescentes e parte da lignina. A metodologia usada segue a AOAC (1997).

Esta análise, além de ser realizada no produto acabado, também é

realizada nos insumos adquiridos pela empresa de terceiros, os quais são

utilizados na formulação das rações.

3.3.3 Recuperação do solventeA recuperação do solvente tem como objetivo recuperar o solvente

utilizado na extração de óleo para permitir sua reciclagem e reutilização, com

ocorrência de perdas tão baixas quanto possível (1-2 L/ton de material entrado

para a extração).

O solvente que é evaporado nos economizadores 1 e 2, no evaporador e

na coluna de stripping, é aspirado pelo sistema de vácuo para dois

condensadores, onde tais gases são condensados para serem re-utilizados no

processo. Outros dois condensadores pertencem ao sistema de condensação dos

28

gases do DT, do extrator, dos tanques de solvente, do lavador de gases e dos

tanques de miscela. Tais condensadores são resfriados com a água da torre de

resfriamento que deverá entrar nos condensadores numa temperatura máxima de

30°C e retornar a 34°C.

Os vapores de solvente provenientes do DT arrastam consigo ar que

penetra no extrator juntamente com o farelo. Este ar, depois de lavado no lavador

de gases, é resfriado em dois condensadores em série e depois enviado a uma

coluna de água gelada que deverá estar numa temperatura de 3-4°C, para uma

lavagem final deste ar e, extrair dele os últimos traços de solvente antes de serem

descarregados para a atmosfera. A água é mantida gelada através de um

compressor de freon.

3.4 Refino do óleo de arrozOs glicerídeos simples são inodoros, incolores e insípidos, entretanto, os

óleos extraídos em diferentes processos vêm sempre acompanhados de muitas

outras substâncias, que podem ser solúveis nos solventes empregados na

extração, solúveis no próprio óleo, ou ainda carregados por arrastamento, e que

são responsáveis pela cor, odor e sabor dos óleos.

A presença de algumas substâncias é desejável, pois podem valorizar o

produto, como as vitaminas lipossolúveis e os tocoferóis que, como antioxidantes

protegem o óleo contra a deterioração. Sob o ponto de vista tecnológico, em nada

alteram o aspecto ou as propriedades do óleo de arroz, como acontece com os

esterídeos ou tocoferóis.

Entretanto, todas as substâncias que comprometem a apresentação do

óleo, porque precipitam pelo calor ou pelo frio, como as ceras; que provocam

emulsionamento e a formação de espumas, como os fosfatídeos; que elevam a

acidez, como os ácidos graxos livres; que alteram a apresentação do óleo, como

a clorofila e os carotenóides; e finalmente, os que modificam o gosto e o aroma do

óleo, como os hidrocarbonetos, devem ser eliminados, o que constitui o objetivo

da refinação (CAMARGO et al., 1986).

Cabe salientar que o processo de refino do óleo de arroz, na Irgovel, não

ocorre de forma contínua, uma vez que na neutralização e na degomagem,

alguns dos equipamentos utilizados são os mesmos, como é o caso da centrífuga.

29

Apenas as etapas de neutralização e clarificação ocorrem de forma contínua, já

que utilizam equipamentos independentes.

3.4.1 DegomagemO óleo de arroz apresenta fosfolipídeos, também conhecidos como

fosfatídeos ou simplesmente gomas. Estes fosfatídeos (glicerol esterificado com

dois ácidos graxos e uma molécula de ácido fosfórico) são excelentes agentes

emulsificantes e também aumentam as perdas durante o processo de refino. Os

fosfatídeos também estão ligados com parte dos metais existentes no óleo bruto.

A degomagem com água é a forma mais simples de redução de

fosfatídeos, no entanto, remove apenas as gomas hidratáveis por usar apenas

água para a hidratação. Os fosfalipídeos (gomas) são hidratados, tornando-se

insolúveis no óleo e são removidos por centrifugação. Uma baixa temperatura

nessa etapa resulta em uma melhor degomagem, mas a custa de maiores perdas

de óleo nas gomas; com temperatura mais alta as perdas serão reduzidas,

entretanto, mais gomas permanecerão no óleo (ZAMBIAZI, 2003).

As gomas hidratáveis têm grande avidez pela água, de modo que a sua

remoção é feita, na Irgovel, aquecendo o óleo 72 a 75°C, adicionando 5% de

água quente a 85°C. Mistura-se e deixa-se sob agitação, em tanque de reação,

por 30 minutos em baixa rotação, posteriormente o óleo é centrifugado. O teor de

gomas remanescentes no óleo degomado com água é de 150 a 200ppm, o que

representa uma eficiência de apenas 92%.

Para a remoção das gomas não hidratáveis, é preciso que estas sejam

transformadas pelo ácido fosfórico ou cítrico em fosfatídeos hidratáveis. Essa

operação é feita aquecendo o óleo de 72 a 75°C, ao qual se adiciona 0,1 a 0,3%

de H3PO4 85%. Agita-se intensamente num misturador de alta rotação e em

seguida deixa-se em um tanque de reação contínuo onde o óleo e o ácido

fosfórico ficam em reação por 6 minutos. Ao sair desse tanque, a mistura

óleo/ácido recebe NaOH 32°Bé (quantidade para neutralizar 70% do ácido) e 3 a

5% de água a 75°C, isenta de ferro ou ferrugem (demineralizada). Após,

permanece em um tanque de reação para que ao cabo de 30 minutos, se

complete a hidratação das gomas. Passado esse tempo, essa mistura de

30

óleo/ácido e água é centrifugada obtendo-se um óleo degomado com 10 ppm de

fósforo.

H3PO4 85%

5% H2O 85°C NaOH

Goma

Figura 2. Esquema do processo de degomagem.

As gomas retiradas pela centrifugação são estocadas e utilizadas na

fabricação de rações como ingrediente fornecedor de energia à ração.

Durante a degomagem é feita a determinação de acidez e do teor de

insolúveis em acetona do óleo bruto e do óleo degomado, bem como a

centrifugação da goma, para a verificação de óleo perdido.

3.4.1.1 Análises do óleo degomado● Acidez

A determinação de acidez do óleo bruto é idêntica ao relatado no item

3.3.1.1 no segmento que se refere à análise de acidez.

Baseado no teor de ácidos graxos livres no óleo degomado é determinada

a quantidade de soda que deve ser utilizada na etapa de neutralização. Para

maior eficiência, a Irgovel já apresenta uma tabela que contendo esta relação da

acidez do óleo degomado com a quantidade de soda necessária (Tabela 02,

anexo 02).

Óleo Bruto

Misturador

Centrífuga

Óleo degomado

31

● Matéria decantadaO método e o objetivo da determinação de matéria decantada do óleo

degomado é idêntico ao descrito, para o óleo bruto, no item 3.3.1.1 referente ao

segmento explicativo da matéria decantada.

O óleo degomado geralmente apresenta somente traços de matéria

decantada.

● Matéria insolúvel em acetonaO método de análise é idêntico ao método descrito no item 3.3.1.1 no

segmento que se refere a metodologia da análise de matéria insolúvel em

acetona.

A análise de matéria insolúvel em acetona no óleo degomado é realizada

para verificar o teor de fosfolipídios remanescentes. O alto teor de matéria

insolúvel em acetona indica que houve uma baixa remoção de gomas durante o

processo de degomagem. Geralmente o óleo degomado obtido na Irgovel

apresenta 2,0 a 3,0% de matéria insolúvel em acetona.

3.4.1.2 Análises da goma● Matéria decantada

Esta análise é realizada na goma para determinar o percentual de

impurezas, água e óleo presentes na mesma. O método de determinação de

matéria decantada da goma é idêntico ao método utilizado para o óleo bruto que é

descrito no item 3.3.1.1 no segmento explicativo que se refere a análise de

matéria decantada.

Para verificar o percentual de cada um dos componentes que se deseja

identificar nesta análise, utiliza-se as fórmulas a seguir:

- percentual de impurezas:% matéria decantada (impurezas) = [VD/ VA] x 100

Onde: VD= volume de matéria decantada; VA= volume da amostra.

- percentual de água: % água= [Vágua/Vamostra ] x 100

Onde: Vágua= volume de água separado da goma; Vamostra= volume da amostra.

32

A água separada, por apresentar uma densidade menor que a da goma, se

localiza acima da goma após a centrifugação.

- percentual de óleo:% óleo= [Vóleo/ Vamostra] x 100

Onde: Vóleo= volume de óleo separado da goma; Vamostra= volume da amostra.

O óleo, se presente na amostra, é separado e devido sua densidade ser

menor que a goma e água, se localiza na superfície após o processo de

centrifugação.

A presença de alto teor de óleo na goma é indesejável, pois implica em

perdas de óleo.

3.4.2 NeutralizaçãoA neutralização do óleo de arroz consiste em fazer reagirem os ácidos

graxos livres, responsáveis pela acidez do óleo, com uma solução de hidróxido de

sódio. Estes ácidos graxos são então transformados em sabões, que serão

removidos do óleo neutro por processo físico (centrifugação). Neste processo

consegue-se também uma remoção de fosfatídeos não hidratáveis (DORSA,

2004).

Simultaneamente à formação de sabões, ocorrem reações diversas em

alguns componentes menores do óleo bruto e o excesso de soda cáustica

adicionada (de 20 - 40% do peso teórico necessário para reagir com os ácidos

graxos livres), que podem resultar em decomposição total ou parcial dos mesmos;

é inevitável que uma parte dos glicerídeos (óleo neutro) também reaja com a

soda, com a formação de sabões e liberação de glicerina (ZAMBIAZI, 2003).

A borra (sabão, fosfatídeos, água, NaOH, pigmentos e materiais

oxidados), que é separada por centrifugação, por reação posterior com ácido

sulfúrico regenera os ácidos graxos.

Após a neutralização, o óleo neutro possui ainda alto conteúdo de

sabões, que devem ser removidos, porque aumentam as perdas na

desodorização, prejudicam o sabor e odor e a estabilidade oxidativa. Por isso, o

óleo passa pelo estágio de lavagem com água (preferencialmente isenta de sais

de Ca e Mg). A separação das fases oleosa e aquosa resultantes é feita também

por centrifugação e em seguida o óleo é seco sob vácuo (DORSA, 2004).

33

Na Irgovel, o óleo degomado homogeneizado é enviado por uma bomba,

a um trocador de calor, que o aquece a temperatura de 80°C. Deste trocador, o

óleo segue para um misturador que recebe uma solução de NaOH 30°Bé, já

diluída na concentração e quantidade exatas (o volume, a concentração e o

excesso de soda a ser utilizados no processo são pré-determinados em função da

acidez do óleo) onde é misturada com o óleo e, então, enviada à centrífuga

separadora. Nessa centrífuga, a borra formada pela combinação dos ácidos

graxos com a soda, é descarregada e enviada para o balão de borra e o óleo

neutro que sai, com um teor de sabões de 600 a 1000 ppm, é enviado a um

segundo misturador no qual o óleo passa pelo processo de lavagem.

Primeira lavagem: neste caso, o óleo é aquecido até 85°C, e recebe uma

injeção de 10% de água de 85 a 90°C, após é enviado à centrifuga de lavagem,

que trabalha sob pressão, onde a água contendo sabões é separada do óleo.

Segunda lavagem: o óleo vindo do estágio anterior sofre processo

idêntico ao da primeira lavagem recebendo, no entanto, apenas 8% de água com

temperatura de 85 a 90°C, sendo separada a água com os sabões e o óleo, que

deverá conter no máximo 50 ppm de sabões. Após lavagem o óleo é bombeado

para o estágio seguinte, que é o da secagem. A umidade do óleo da segunda

lavagem deverá ser menor do que 0,8%.

Secagem do óleo: o óleo lavado é enviado ao pré-secador a vácuo para

retirada de parte da umidade, onde um distribuidor especial no pré-secador faz

com que o óleo seja pulverizado, facilitando a sua secagem. Após, o óleo passa

por três trocadores de calor de onde sai com temperatura de 110 a 120°C e vai

para a próxima etapa que é a clarificação. Sua umidade final deverá ser da ordem

de 0,1%.

A borra contém em média 32% de matéria graxa sob forma de sabão. Ela

é bombeada para um tanque revestido de fibra, onde é aquecida com vapor direto

até a temperatura de 70ºC. Nessa borra em agitação constante se injeta,

vagarosamente, 15% de ácido sulfúrico concentrado em relação à matéria graxa

contida na borra, e se deixa reagir por aproximadamente 2 horas . Após esse

tempo, cessa-se a agitação e deixa-se separar o ácido graxo da água e do sal de

sódio. A parte inferior é drenada, sendo esta constituída de água e sal de sódio e,

a parte superior, que é constituída de ácido graxo, descarrega-se para um tanque

34

de lavagem com água quente, onde é lavado até que o pH do ácido graxo alcance

o valor de 5,0. O ácido graxo obtido, que apresenta uma acidez da ordem de

70%, é enviado para a autoclave para ser hidrolisado e posteriormente destilado.

NaOH H2O Sabões

Fosfolipídeos

Borra Óleo neutro

Carotenóides

H2O Metais pesados

H2O

Sabões

Fosfolipídeos

Vácuo Óleo neutro

Figura 3. Esquema do processo de neutralização.

Na neutralização foi feito a determinação de acidez, umidade e sabões do

óleo neutro, lavado e também do seco. As águas de lavagem foram centrifugadas

e com a borra foi realizado o processo de regeneração dos ácidos graxos (corte).

Nos óleos industriais (ácido graxo destilado e óleo hidrolisado) produzidos

a partir da regeneração da borra foi realizada a análise de acidez, cor (ácido

graxo destilado) e umidade.

3.4.2.1 Análises realizadas no óleo neutro, óleo lavado e óleo neutro seco● Acidez

A determinação de acidez no óleo neutro tem como objetivo verificar se

está sendo usado um excesso muito grande de NaOH no processo de

Óleo degomado

Misturador

Centrífuga

Misturador

Centrífuga

Secador

Óleo neutro seco

35

neutralização. Já no óleo lavado essa análise tem como objetivo verificar se as

lavagens foram eficientes na remoção do excesso de soda utilizado.

A acidez geralmente encontrada no óleo neutro é de 0,02 a 0,05%; no óleo

neutro lavado é de 0,05 a 0,08%; e no óleo neutro seco é de 0,07 a 0,12%.

● UmidadeSegue a metodologia padrão adotada pela empresa, a qual foi descrita no

item 3.3.1.1.

O teor de umidade geralmente encontrado no óleo neutro produzido na

Irgovel é de no máximo 0,8%. O óleo neutro seco apresenta um teor de umidade

de no máximo 0,3%.

● SabõesDeterminar a alcalinidade total, expressando-a como oleato de sódio, no

óleo neutro, óleo lavado, óleo neutro seco.

Para esta análise, primeiramente, pesa-se cerca de 4 gramas de amostra

de óleo neutro e, 20 gramas para óleo clarificado, descerado e desodorizado;

adiciona-se 1 mL de água destilada. Neutraliza-se acetona contendo 2% de água

com auxílio de NaOH 0,01N e HCl 0,01N e adiciona-se 0,5mL de indicador verde

de bromofenol. Mede-se 50 mL dessa acetona neutralizada e adiciona-se à

amostra. Titula-se com HCl 0,01N até viragem do indicador da coloração verde-

azulada para amarelo. Para a realização dos cálculos utiliza-se a fórmula:

Sabões, ppm= [VHCl0,01N x mEq-g sabão x N x Fn ] / Pamostra

Onde: VHCl0,01N= volume de HCl 0,01N gasto na titulação; mEq-g sabão= 304400; N=

normalidade HCl = 0,01N; Fn= fator de correção da solução de HCl 0,01N

A presença de alto teor de sabões na amostra de óleo neutro lavado indica

que a lavagem realizada após a neutralização não foi eficiente.

O óleo neutro obtido na Irgovel apresenta em torno de 600 a 1000 ppm de sabões

e após a lavagem o óleo passa a apresentar em torno de 150ppm de sabões.

● CorEsta análise permite determinar a cor do óleo neutro através do

fotocolorímetro- Lovibond. Essa análise é realizada colocando a amostra em um

36

tubo específico para colorímetro até a altura de 1’ e ¼’’ para óleo neutro;

colocando o tubo contendo a amostra na cubeta do fotocolorímetro e fazendo a

leitura da cor na escala do equipamento.

A cor do óleo neutro se mantém em faixa aproximada de 20 Amarelo; 1

Azul; e 6,0 Vermelho (1’ e ¼’’).

3.4.2.2 Análises da borraVerifica-se o teor de matéria graxa, acidez e óleo neutro presente na borra

após sua remoção do óleo degomado, através da regeneração dos ácidos graxos

livres. Esse processo é feito pesando 3 gramas de borra em um béquer de 250

mL e adicionando 20 mL de água destilada e 1,5 mL de ácido sulfúrico p.a.;

aquecendo, posteriormente essa mistura, sob agitação, até a separação do óleo e

água e então passando para um funil de separação com auxílio de hexano

destilado. Após a separação, se consegue retirar o ácido sulfúrico lavando três

vezes a amostra presente no funil com água destilada a 70°C contendo 2 gramas

de sal. A amostra lavada é recolhida então, em um balão de 250 mL previamente

pesado e este é levando para a estufa a 105°C por 3 horas. Obtem-se o

resultado pesando o balão com a amostra e titulando com NaOH 1N.

Para o cálculo:

- Matéria Graxa:% matéria graxa= {[Pbalão vazio – Pbalão+MG ] / Pa} x 100Onde: Pbalão vazio= peso balão vazio; Pbalão+MG= peso balão contendo matéria graxa

regenerada; Pa= peso da amostra

- Acidez:% acidez (Ac. Oléico)= {[Pbalão vazio – Pbalão+MG x VNaOH 1N x 282 x N x Fn] / PA} x 100Onde: Pbalão vazio= peso balão vazio; Pbalão+MG= peso balão contendo matéria graxa

regenerada; Pa= peso da amostra; Fn= fator de correção do NaOH 1N; N=

normalidade da solução de NaOH 1N; 282= mEq-g do ácido oléico; VNaOH 1N=

volume gasto de NaOH 1N na titulação.

- óleo neutro: % óleo neutro= % acidez – 100%

37

Este mesmo processo é realizado em nível industrial na Irgovel. A matéria

graxa obtida após a regeneração é encaminhada para o setor de hidrólise e

posteriormente é utilizada para a produção de óleos industriais.

3.4.2.2 Análises dos óleos industriais● Acidez

A determinação de acidez nos óleos industriais é semelhante à

metodologia descrita no item 3.3.1.1, diferindo apenas na solução utilizada para

titulação que neste caso, por se tratar de uma amostra com alta acidez, é utilizada

a solução de NaOH 1N.

A acidez geralmente obtida para o óleo lavado é de 55,0 a 65,0%, já o óleo

hidrolisado apresenta em torno de 80,0 a 90,0% de acidez. O teor de ácidos

graxos livres no óleo destilado é de 99,9%, o que indica alta pureza do ácido

graxo destilado.

● UmidadeA análise segue a rigor a metodologia padrão adotada pela empresa citada

no item 3.3.1.1.

Em geral, o ácido graxo destilado apresenta uma umidade abaixo de

0,05%.

3.4.3 ClarificaçãoA principal finalidade do processo de clarificação é a remoção de

pigmentos indesejáveis, os quais estão naturalmente presentes, ou que sejam

produzidos por modificações ou decomposição da matéria-prima durante a

estocagem, transporte e processamento (DORSA, 2004). Destacam-se os

carotenóides (responsáveis pela coloração amarelo/vermelho) e a clorofila

(coloração esverdeada) (MORETTO & FETT, 1998).

Outras impurezas que também são eliminadas são os sabões (no caso do

refino alcalino), traços de metais pesados, produtos de oxidação, resíduos de

fosfatídeos e material insaponificável (DORSA, 2004).

Os processos físicos de clarificação são os mais difundidos, sendo eles

quase sempre baseados no fenômeno de adsorção (CAMARGO, et al., 1986).

38

Para isso, são usados vários tipos de terras clarificantes, como as diatomáceas,

terras ativadas (preparadas de silicato de alumínio por aquecimento com ácido

clorídrico ou sulfúrico), argila ativada e carvão ativado; estas terras têm maior

atividade quando adicionadas ao óleo seco. A separação do óleo do material

adsorvido é feita por filtração (MORETTO & FETT, 1998).

O processo de clarificação da Irgovel ocorre da seguinte forma: o óleo

proveniente do estágio anterior (secagem) é enviado a um pequeno depósito de

óleo onde se adiciona 1,5% de terra clarificante. O óleo e a terra são misturados e

aspirados pelo sistema de vácuo para o interior do clarificador onde permanecem

por 25 minutos (ideal). O clarificador é dotado de eixo central com pás para

agitação da mistura óleo/terra. Ao final dos 25 minutos a mistura é enviada a

filtros prensas para separar o óleo da terra.

Depois da filtração o bolo que fica retido contém aproximadamente 50%

de óleo, aplica-se ar comprimido para reduzir este teor para 30-35%. O bolo de

filtragem depois do tratamento é usualmente desprezado.

Foi feita a determinação de acidez, cor, umidade e sabões do óleo

clarificado.

3.4.3.1 Análises realizadas no óleo clarificado● Acidez

A metodologia e seu respectivo cálculo, para determinação de acidez do

óleo clarificado, é similar ao relatado no item 3.3.1.1 no segmento em que se

refere a análise de acidez, o que difere entre elas é a quantidade de amostra

utilizada, que nesse caso é de 20 gramas, por se tratar de um óleo de baixa

acidez.

%índice de acidez (ácido oléico) = [VNaOH 0,1N x N x Fn x mEq-g ácido oléico] / POnde: VNaOH 0,1N= volume gasto de NaOH 0,1N; N= normalidade da solução de

NaOH 0,1N; Fn= Fator normal da solução de NaOH 0,1N; mEq-g ácido oléico=

2,82; P= peso da amostra de óleo bruto.

A acidez geralmente encontrada no óleo clarificado é de 0,10 a 0,20%.

39

● UmidadeEsta análise segue a metodologia padrão adotada pela empresa, a qual foi

descrita no item 3.3.1.1.

O teor de umidade do óleo clarificado obtido na indústria é de no máximo

0,10%.

● SabõesO procedimento para determinação de sabões no óleo clarificado é idêntico

ao descrito no item 3.4.2.1 no segmento que se refere a análise de determinação

de sabões.

Geralmente o óleo clarificado é isento de sabões.

● CorEssa análise é realizada colocando o óleo clarificado em um tubo próprio

para fotocolorímetro até altura de 5’ e ¼’’; o tubo é colocado então, na cubeta do

fotocolorímetro e então é feita a leitura do resultado no equipamento.

A cor do óleo clarificado se mantém na faixa aproximada de 20 Amarelo e

3,0 Vermelho (5’ e ¼’’).

3.4.4 DesceramentoA etapa de separação permite a remoção de compostos cristalizáveis de

maior ponto de fusão, como as ceras, responsáveis pela turvação do óleo durante

o armazenamento a baixas temperaturas ou à temperatura ambiente (ZAMBIAZI,

2003). As ceras são ésteres de ácidos graxos e monohidroxiálcoois de alto peso

molecular, apresentam um alto ponto de fusão e são mais resistentes à hidrólise

do que os glicerídeos (RIBEIRO & SERAVALLI, 2004).

Para que as ceras sejam retiradas, o óleo deve ser resfriado até o ponto

em que estas gorduras se cristalizam e sejam removidas. Para que ocorra uma

boa remoção das ceras, o óleo deve estar livre de impurezas, por isso essa etapa

do processo fica compreendida entre as etapas de branqueamento e

desodorização.

Nesta etapa, o óleo é resfriado com controle de tempo e temperatura

adequada e, agitação correta, para que ocorra a formação dos cristais de cera,

40

seguida de outra etapa de crescimento dos cristais, que é de aproximadamente 6

horas. Uma boa cristalização também é conseguida quando se resfria o óleo em

no máximo em 1°C por hora. As ceras são retiradas por filtração com a utilização

de um auxiliar filtrante (terra diatomácia), sendo necessário a preparação de uma

pré-capa no filtro. Esta pré-capa é feita com um óleo já descerado, contendo 1%

de terra filtrante, que é repassado várias vezes no filtro prensa até que ocorra a

formação de uma camada de terra entre as lonas. É necessário realizar a limpeza

dos filtros (raspagem) periodicamente para remover a terra e a cera adsorvida.

O óleo é filtrado a uma temperatura de 10-12°C e a cera retida, é

comercializada como subproduto podendo ser usada em indústrias de

cosméticos.

No óleo descerado é feita a determinação de acidez, cor e umidade.

3.4.4.1 Análises realizadas no óleo descerado● Acidez

A metodologia e seu respectivo cálculo, para determinação de acidez do

óleo descerado, é idêntica ao relatado no item 3.4.3.1 no segmento em que se

refere a análise de acidez.

A acidez do óleo descerado se mantém na faixa de 0,08 a 0,15%.

● UmidadeSegue a metodologia padrão adotada pela empresa, a qual foi descrita no

item 3.3.1.1.

O teor de umidade do óleo descerado obtido na indústria é de no máximo

0,10%.

● CorA análise segue o procedimento descrito no item 3.4.3.1, no segmento em

que se descreve a análise de cor.

A cor do óleo descerado se mantém na faixa aproximada de 20 Amarelo e

6,0 Vermelho (5’ e ¼’’).

41

3.4.5 DesodorizaçãoA desodorização, última etapa do refino de óleo de arroz, tem como

finalidade a remoção de substâncias que conferem ao produto odor desagradável.

Esta etapa visa também uma melhoria no aspecto sabor, cor e estabilidade do

produto. Esta melhoria, porém, só é possível se as etapas anteriores forem

realizadas corretamente, visto que deficiências de processos anteriores

dificilmente são totalmente corrigidas, afetando a qualidade final do produto

(DORSA, 2004). As substâncias removidas nesse processo são: aldeídos,

cetonas, ácidos graxos oxidados e livres, hidrocarbonetos, carotenóides, esteróis,

entre outros (MORETTO & FETT, 1998).

O processo de desodorização é constituído de quatro etapas básicas:

desaeração, aquecimento, retenção e resfriamento. A etapa de desaeração tem

por finalidade a remoção do oxigênio dissolvido e da umidade residual do produto,

na etapa de aquecimento o óleo é levado até a temperatura de desodorização

(180 - 240°C), na etapa de retenção, o óleo é submetido a tratamentos com

injeção de vapor direto por um tempo determinado, de maneira que as frações

voláteis sejam eliminadas e a cor reduzida, permanecendo em média por 45 - 60

minutos (ZAMBIAZI, 2003).

O refino remove além de impurezas indesejáveis para consumo humano,

algumas substâncias com propriedades funcionais, tais como: antioxidantes

naturais e tocoferóis (MORETTO & FETT, 1998).

O processo de desodorização na Irgovel consiste em alimentar o

desodorizador com óleo descerado, que passa inicialmente por trocadores de

calor que objetivam resfriar o óleo que é descarregado do desodorizador e ao

mesmo tempo aquecer o óleo descerado, que está sendo alimentado, até a

temperatura de 80°C. Esse óleo passa através de um desaerador para eliminar o

ar dissolvido, antes que o óleo atinja altas temperaturas. Em seguida, o óleo

segue para o primeiro estágio do desodorizador, onde é aquecido através de

serpentina de vapor até a temperatura de 110°C. Ao atingir o nível de óleo neste

estágio, o óleo verte por gravidade para o estágio inferior, onde sua temperatura é

elevada para 250°C, através do aquecimento com óleo térmico "Dow-Therm"

(uma mistura de difenila e óxido de difenila) a 280°C. Neste estágio e nos dois

subseqüentes, já sem serpentinas de aquecimento, o óleo é desodorizado e

42

clarificado através da decomposição térmica dos componentes odoríferos e de

seus pigmentos, e finalmente chega ao último estágio com temperatura em torno

de 200°C. O óleo sai, então, do corpo do aparelho e passa por dois trocadores de

calor, um de óleo descerado, que vai ser pré-aquecido, antes de entrar no

aparelho e outro com água que vai resfriar o óleo a uma temperatura de 40°C e

em seguida, é resfriado em outro condensador de placas à temperatura ambiente.

O óleo desodorizado e frio é filtrado, em um filtro de polimento para

eliminar qualquer impureza nele contido, seguindo para tanques de aço

inoxidável, para posterior envasamento.

Foram determinadas, de hora em hora, a acidez, cor, ponto de fumaça,

gosto e odor e sabões do óleo desodorizado.

3.4.5.1 Análises realizadas no óleo desodorizado● Acidez

A metodologia e seu respectivo cálculo, para determinação de acidez do

óleo desodorizado, é idêntica ao relatado no item 3.4.3.1 no segmento em que se

refere a análise de acidez.

A acidez do óleo desodorizado se mantém na faixa de 0,04 a 0,07%.

● UmidadeSegue a metodologia padrão adotada pela empresa, a qual foi descrita no

item 3.3.1.1.

O óleo desodorizado apresenta, necessariamente, uma umidade inferior a

0,05%.

● CorSegue a metodologia descrita no item 3.4.3.1 no segmento em que se

refere à análise de cor.

A cor do óleo desodorizado se mantém na faixa aproximada de 20 Amarelo

e 2,5 Vermelho (5’ e ¼’’).

43

● Ponto de fumaçaA determinação do ponto de fumaça tem como objetivo medir a

estabilidade térmica do óleo quando aquecido em presença de ar. Esta análise é

realizada aquecendo a amostra até aparecimento da primeira fumaça na amostra;

medindo a temperatura.

O óleo de arroz refinado produzido na Irgovel apresenta geralmente um

ponto de fumaça entre 225 a 240°C.

● Análise sensorialCom esta análise verifica-se o gosto e o odor do óleo refinado de arroz. O

óleo refinado de arroz deve apresentar-se insípido e inodoro.

3.4.6 EnvasamentoO envasamento do óleo é realizado mecanicamente, após a filtração do

óleo refinado, utilizando uma enchedeira IMSB (Indústria Máquinas São Bento) a

qual é constituída por oito bicos enchedores além de vários sensores que

selecionam e descartam embalagens que apresentarem falha em seu

enchimento. O envasamento do óleo pode ser realizado em latas ou em

embalagens de poliestireno.

Durante o envasamento do óleo refinado de arroz, é feito um

acompanhamento visual pelo próprio operador do setor de envasamento, a fim de

verificar a possível presença de impurezas na embalagem, além disso, em

determinados períodos de tempo é realizado uma pesagem de algumas

embalagens cheias. Este procedimento é realizado a fim de certificar que o

equipamento está funcionando em perfeitas condições e, além disso, verificar se

o peso do produto final está de acordo com o descrito no rótulo.

3.4.7 Análises eventualmente realizadas nos óleos produzidos e recebidos pela Irgovel● Índice de iodo

O índice de iodo é uma medida do grau de insaturações dos ácidos

graxos presente no óleo, baseado na reatividade dos carbonos com as duplas

ligações com halogênios (principalmente iodo), ocorrendo uma reação de adição.

44

Representa o número de gramas de iodo absorvido por 100g de óleo

(ZAMBIAZI, 2003).

Na Irgovel, esta análise é realizada sempre que for solicitado, pelo

comprador, um laudo contendo todos os resultados das análises ou sempre que

for necessário verificar a identidade ou pureza do óleo produzido. Também se

realiza a análise, posteriormente descrita, nos óleos que eventualmente são

adquiridos e recebidos pela Irgovel de empresas terceirizadas.

A análise segue a metodologia da AOAC (1997). Os padrões de identidade

do óleo de arroz são listadas em anexo (Tabela 03, anexo 03).

● Índice de peróxidoConsiste em determinar as substâncias que oxidam o iodeto de potássio,

principalmente os peróxidos ou hidroperóxidos, expressando em miliequivalente-

gramas de oxigênio por 1 kg de amostra (ZAMBIAZI, 2003). O índice de peróxido

indica o conteúdo de peróxidos formados no óleo (DORSA, 2004).

Esta análise é utilizada para que se tenha um acompanhamento da

qualidade do óleo durante e após o processo de industrialização. Na Irgovel esta

análise é realizada sempre que for necessário verificar a qualidade dos óleos

produzidos e recebidos pela empresa.

A análise segue a metodologia da AOAC (1997). A Tabela 03 (anexo 03)

apresenta o padrão de qualidade do óleo de arroz.

● Índice de saponificaçãoO índice de saponificação corresponde ao número de miligramas de

hidróxido de potássio necessário para saponificar um grama de óleo. O índice de

saponificação será maior quanto menor for o peso molecular do ácido graxo

(MORETTO & FETT, 1998). Assim, amostras com alto teor de ácidos graxos de

cadeia curta refletem em índices de saponificação mais elevados (ZAMBIAZI,

2003).

Na Irgovel essa análise é realizada sempre que for necessário verificar a

identidade do óleo que é produzido pela empresa bem como do óleo que

eventualmente é adquirido de empresas terceirizadas.

45

A análise segue a metodologia da AOAC (1997). Na Tabela 03 (anexo 3)

se encontra o padrão de identidade do óleo refinado de arroz.

46

4 Sugestões

4.1 Para a indústriaUma sugestão para a indústria seria o reaproveitamento da água utilizada

para resfriar o condensador do extrator de Soxhlet, bem como a água restante da

destilação, na limpeza da fábrica.

Poderia se reduzir custos com energia elétrica, responsabilizando um

funcionário da fábrica pelo desligamento da iluminação externa durante o dia.

Por se tratar de uma indústria alimentícia, seria necessário um maior

controle de pragas na indústria, apesar disso já estar sendo realizado.

4.2 Para o curso Durante o curso poderiam ser realizadas mais visitas técnicas às indústrias

da região, e outras, para proporcionar aos alunos um melhor entendimento das

disciplinas de tecnologias.

A aquisição de maior número de livros e outros materiais de pesquisa na

área de processamento de óleos vegetais, pela biblioteca facilitaria o estudo

sobre esse assunto.

47

5 Conclusão

Ao término do estágio pode-se perceber o quão importante é essa etapa de

aprendizagem durante a graduação, pois é neste momento que se tem a

oportunidade de aplicar, na prática, os conhecimentos adquiridos ao longo do

Curso de Química de Alimentos. Porém, é importante salientar, que nem sempre

os conhecimentos teóricos podem ser totalmente aplicados na prática, em muitas

situações é necessário adaptá-los à realidade da empresa.

Durante o estágio notou-se também, que em vários momentos o

conhecimento, a experiência e a prática adquirida pelos funcionários ao longo dos

anos de serviço, se tornam a alternativa mais indicada para a resolução de certos

problemas ocorridos na indústria.

Além de tudo isso, pode-se perceber também, que o trabalho em equipe é

de fundamental importância para o bom funcionamento da empresa e

conseqüentemente o desenvolvimento desta, além de proporcionar um ambiente

mais agradável para se trabalhar.

48

6 Referências

A.O.C.S. (Official and Tentative Methods of the American Oil Chemysts’ Society);

1997.

BRASIL. Resolução RDC N° 482 de 23 de setembro de 1999. Dispõe aprovação

do regulamento técnico para fixação da identidade e qualidade de óleos e

gorduras vegetais. Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/e-legis > Acesso

em: 30 de set. 2008.

CAMARGO, R.; et al. Tecnologia de produtos agropecuários. São Paulo:

Nobel, 1984. 297p.

CHANDRA, Praveen. Cholesterol lowering effect of rice bran oil. 8th National Seminar on Rice Bran Oil, New Delhi, p. 55-63, 2005.

DORSA, R. Tecnologia de óleos vegetais. 1. ed. São Paulo: Ideal, 2004. 463p.

Farelo e óleo de arroz. Disponível em: < www.aboissa.com.br/arroz/index.htm>

Acesso em: 09 set. 2008.

FERNANDES, ANNA. Diário Popular, Pelotas, 22 de fev. 2008. Economia, p.3.

Produção da Irgovel sera dobrada.

GHOSH, Mahua. Review on Recent Trends in Rice Bran Oil Processing. Journal of the American Oil Chemists' Society, v.84, n. 4, p. 315-322, 2007.

Irgovel. Disponível em: <www.irgovel.com.br> Acesso em: 12 out. 2008.

49

MORETTO, E. e FETT, R. Tecnologia de óleos e gorduras vegetais na indústria de alimentos. São Paulo: Livraria Varela, 1998. 150p.

O GRÃO. Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/Alimentus/terradearroz/grao/gr_apresenta.htm>. Acesso em:

10 de set. 2008.

PAUCAR-MENACHO, L. M.; SILVA, L. H.; SANTANA, A. de S.; GONÇALVES, L.

A. G. Refino de óleo de arroz (Oriza sativa L.) em condições brandas para

preservação do γ-orizanol. Ciência e Tecnologia de Alimentos- SBCTA, v.27, p.

45-53, ago.2007.

RIBEIRO, E. P. e SERAVALLI, E. A. G. Química de alimentos. 1. ed. São Paulo:

Edgard Blücher, 2004. 184p.

RICE BRAN OIL. Disponível em: <www.ricebranoil.info/articles/index.html>

Acesso em: 18 set. 2008.

TECNOLOGIA DE ÓLEOS E GORDURAS (ANIMAIS E VEGETAIS). Disponível

em:<www.eq.ufrj.br/graduacao/aulas/eqb046/aula%20tec%20%F3leos%20e

%20gorduras.pdf> Acesso em: 23 set. 2008.

ZAMBIAZI, Rui. Tecnologia de óleos e gorduras. Pelotas: UFPel, 2003. 123f.

50

7 Anexos

Anexo 1Tabela 01. Parâmetros das rações produzidas na Irgovel

RaçõesUmidade

máximo (%)Proteína bruta

mínimo (%)Fibra bruta(%) máximo

Extrato etéreo máximo (%)

Irgosui Porção 12,0 15,0 10,0 2,0

Irgoleite 20% 12,0 20,0 13,0 2,0

Irgoleite 32,5% 12,0 32,5 12,0 2,5

Irgotouro cabanha

12,0 15,0 15,0 3,0

Irgovino premiun

12,0 15,0 14,0 2,0

Bovino manutenção

12,0 15,0 12,0 1,0

Bovino alta energia

12,0 13,0 17,0 4,0

Irgoleite pré-parto

12,0 18,0 16,0 2,0

E-crioulo adultos

12,0 13,0 13,0 2,0

Irgoleite produção

12,0 16,0 15,0 2,0

Irgosui 32,0% 12,0 32,0 8,0 2,5

Concentrado irgoboi

12,0 28,0 12,0 2,0

Irgosui crescimento

12,0 17,0 8,0 3,0

Irgoterneiro 18,0%

12,0 18,0 13,0 2,0

Irgohorse crescimento

12,0 16,0 12,0 2,0

Irgosui terminação

12,0 15,0 8,0 3,0

Fade 12,0 16,0 10,0 1,0

51

Anexo 2

Tabela 02. Volume de soda para neutralização de óleo degomado

Acidez (%) Volume óleo (L/h)

Peso óleo (Kg/h)

Volume soda (L/h)

Volume água (L/h)

6,0 4032 3669 54,8 68,3

6,3 4063 3697 58,0 72,3

6,5 4084 3716 60,4 75,3

6,7 4104 3734 62,4 77,8

7,0 4137 3765 65,6 6,5

7,3 4170 3794 69,0 86,1

7,5 4192 3814 71,2 88,8

7,8 4225 3844 74,6 93,0

8,0 4248 3865 77,0 96,0

8,2 4270 3886 79,3 98,9

8,4 4293 3907 81,7 102,0

8,6 4317 3928 84,1 104,9

8,8 4340 3950 86,5 108,0

9,0 4664 3971 89,0 111,0

9,2 4388 3993 91,4 114,0

9,4 4412 4015 93,9 117,0

9,6 4437 4038 96,5 120,0

9,8 4462 4060 99,0 123,5

10,0 4487 4083 101,6 126,7

10,2 4513 4106 104,2 130,0

10,4 4538 4130 106,9 133,3

10,6 4564 4154 109,6 136,7

10,8 4591 4177 112,3 140,0

11,0 4617 4202 115,0 143,4

Fonte: Irgovel, 2008

Para os cálculos considerou-se:

Volume de óleo= 3500L/h

Fator de perda= 2,2%

Excesso de soda= 30

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Anexo 3

Tabela 03. Padrão de identidade e qualidade do óleo de arrozSegundo a Resolução RDC nº 482, de 23 de setembro de 1999 da

Agência Nacional de Vigilância Sanitária, as características físicas, químicas, e

físico-químicos para o óleo de arroz são as que podem ser observadas na tabela

a seguir.

Parâmetro ValorDensidade relativa g cm-3 0,919 - 0,924 (20oC)

0,916 - 0,921 (25oC)

Índice de refração 1,465 - 1,468Índice de saponificação mg KOH g-1 181 - 189

Índice de iodo (Wijs) 99 - 108Matéria insaponificável, g 100g-1 Máximo 5,0Acidez, g de ácido oléico 100g-1 Máximo 0,3

Índice de peróxido, meq-g O2 kg Máximo 10

Anexo 4

Tabela 04. Composição de ácidos graxos  do óleo de arroz

Composição de ácidos graxos do óleo de arroz

Ácido graxo Nomenclatura g 100g-1

C 14:0 mirístico 0,4 -1,0C 16:0 palmítico 12,0 -18,0C 16:1 palmitoléico 0,2 - 0,4C 18:0 esteárico 1,0 - 3,0C 18:1 oléico 40,0 - 50,0C 18:2 linoléico 29,0 - 42,0C 18:3 linolênico < 1,0

C 20:0 - C 22:0 - < 1,0

Fonte: ANVISA (Resolução RDC nº 482, de 23 de setembro de 1999)

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