os brics e seus vizinhos investimento direto estrangeiro

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  • Os BRICSe seus vizinhosinvestimento direto estrangeiroOrganizadorAndr Gustavo de Miranda Pineli Alves

  • Os BRICSe seus vizinhosinvestimento direto estrangeiroOrganizadorAndr Gustavo de Miranda Pineli Alves

    Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Marcelo Crtes Neri

    Fundao pbl ica v inculada Secretar ia de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasi leiro e disponibi l iza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

    PresidenteSergei Suarez Dillon Soares

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalLuiz Cezar Loureiro de Azeredo

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da DemocraciaDaniel Ricardo de Castro Cerqueira

    Diretor de Estudos e PolticasMacroeconmicasCludio Hamilton Matos dos Santos

    Diretor de Estudos e Polticas Regionais,Urbanas e AmbientaisRogrio Boueri Miranda

    Diretora de Estudos e Polticas Setoriaisde Inovao, Regulao e InfraestruturaFernanda De Negri

    Diretor de Estudos e Polticas Sociais, SubstitutoCarlos Henrique Leite Corseuil

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas InternacionaisRenato Coelho Baumann das Neves

    Chefe de GabineteBernardo Abreu de Medeiros

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoJoo Cludio Garcia Rodrigues Lima

    Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoriaURL: http://www.ipea.gov.br

  • Os BRICSe seus vizinhosinvestimento direto estrangeiroOrganizadorAndr Gustavo de Miranda Pineli Alves

    Braslia, 2014

  • Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2014

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Os BRICS e seus vizinhos : investimento direto estrangeiro / Organizador : Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves. Braslia : Ipea, 2014. 568 p. : il., grfs., mapas color.

    Inclui bibliografia.

    ISBN: 978-85-7811-207-3

    1. Investimentos Estrangeiros. 2. Investimentos Diretos3. Relaes Econmicas Internacionais. 4. Empresas Transnacionais. 5. Globalizao. I. Alves, Andr Gustavo de Miranda Pineli. II. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.

    CDD 332.673

  • SUMRIO

    APRESENTAO .................................................................................7

    INTRODUO .....................................................................................9

    CAPTULO 1AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE O BRASIL E OS PASES DE SEU ENTORNO ...................................................13Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves

    CAPTULO 2AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE A RSSIA E OS PASES DE SEU ENTORNO .................................................171Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves

    CAPTULO 3AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE A NDIA E O SEU ENTORNO .........................................................237Elton Jony Jesus Ribeiro

    CAPTULO 4AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE A CHINA E OS PASES DE SEU ENTORNO .......................................285Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves

    CAPTULO 5AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE A FRICA DO SUL E SEU ENTORNO ...............................................421Elton Jony Jesus Ribeiro

    APNDICE ..............................................................................................467

  • APRESENTAO

    Quando surgiu no incio deste sculo, o acrnimo BRICS parecia pouco mais que um instrumento de marketing criado por um banco de investimento para orientar seus clientes. Englobava originalmente pases to distintos como Brasil, Rssia, ndia e China a frica do Sul s viria a ingressar em 2012 , os quais pareciam ter em comum apenas os vastos territrios, as grandes populaes, e a promessa de virem a constituir quatro das cinco maiores economias do planeta at 2050. O grupo foi visto, durante algum tempo, com certo ceticismo, sendo frequentes, entre outros, os questionamentos sobre a adequao de determinados pases fazerem parte do acrnimo. Porm, desde a ecloso da crise financeira global, em 2008, os BRICS, enquanto grupo, ainda que organizado de modo informal, se transformaram numa das mais relevantes novidades polticas na arena internacional.

    Apesar da criao ainda incipiente de instituies conjuntas com algumas iniciativas como um pool de reservas internacionais e o Banco de Desenvolvimento em processo de construo e das dificuldades em adotar posies comuns em alguns fruns internacionais, o grupo tem se mostrado relativamente coeso na defesa de reformas nas instituies de governana global que ampliem a represen-tatividade dos pases emergentes.

    O surgimento dessa coalizo internacional impulsionou, nos ltimos anos, o desenvolvimento de uma ampla literatura sobre os BRICS, que de certa forma recupera uma tradio anterior de estudos sobre pases-baleia e potncias mdias.

    Este livro busca avanar as discusses em uma direo at agora pouco explorada por essa literatura: o papel de polo econmico regional desempenhado por esses pases. Mais especificamente, analisam-se aqui as relaes de investimento direto estrangeiro, envolvendo, de um lado, o Brasil, a Rssia, a ndia, a China e a frica do Sul, e, de outro, os pases de suas respectivas vizinhanas. Entre os diversos aspectos abordados encontram-se a magnitude desses investimentos, suas motivaes, os seto-res em que se concentram, as estratgias das empresas envolvidas e o papel exercido pelos Estados nacionais, tanto na atrao como na promoo do investimento nos pases vizinhos. O maior conhecimento sobre tais relaes pode ser extremamente til na formulao de uma agenda comum para os BRICS como, por exemplo, na definio do escopo de atuao do Banco de Desenvolvimento proposto pelo grupo , assim como para ajudar a realar os possveis limites da coalizo.

    Sergei Suarez Dillon SoaresPresidente do Instituto de Pesquisa

    Econmica Aplicada (Ipea)

  • INTRODUO

    Uma das transformaes mais evidentes na economia mundial nas ltimas dcadas foi o aumento do grau de internacionalizao das economias nacionais. Em 1980, o estoque de investimento direto estrangeiro (IDE) no mundo equivalia a apenas 4,7% da soma dos produtos internos brutos (PIBs) de todos os pases.1 Em 2000, esta relao j havia subido para 24,8% e, em 2012, atingiu 33,1%. Neste ano, o estoque de IDE no mundo alcanou a cifra de US$ 23,6 trilhes quase o triplo dos US$ 8 trilhes de 2000, considerando-se valores nominais.

    Ao longo desse perodo, os pases desenvolvidos permaneceram como as prin-cipais fontes de IDE no mundo. Contudo, sua participao no estoque mundial de IDE diminuiu sensivelmente. Os Estados Unidos, apesar de se manterem enquanto os principais investidores internacionais, experimentaram uma reduo de 39,2% para 33,6% entre 1980 e 2000. Os doze anos seguintes apontaram para uma queda ainda mais acentuada na participao norte-americana, que atingiu 22% em 2012.

    Por seu turno, os pases em desenvolvimento e emergentes, antes investi-dores externos marginais, surgiram como fontes importantes de IDE, sobretudo aps a virada do sculo XXI. Considere-se o grupo BRICS, formado por Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul: sua participao nos fluxos mundiais de IDE passou de nfimos 0,6%, em 2000, para 10,5%, em 2012 ou de US$ 7,2 bilhes para US$ 145,4 bilhes. Em 2012, o montante investido pelo BRICS equivaleu a 44,2% do fluxo de IDE oriundo dos Estados Unidos, contra apenas 5% em 2000. No perodo mais recente, 2008-2012, os fluxos de IDE oriundos da China, da ndia e da Rssia mantiveram-se em patamares historicamente elevados, a despeito da crise financeira global: nestes anos, o fluxo anual mdio de IDE chins foi de US$ 68 bilhes; o da Rssia, de US$ 53,9 bilhes; e o da ndia, de US$ 14,8 bilhes. Brasil e frica do Sul foram excees entre os BRICS, pois apresentaram muita volatilidade nos fluxos anuais no perodo ps-crise.

    As experincias de internacionalizao de empresas da frica do Sul, da China e da Rssia foram temas do livro Internacionalizao de empresas: experincias internacionais selecionadas, publicado pelo Ipea em 2011 ao lado de estudos de casos da Coreia do Sul, da Espanha e da Malsia. Conforme explicitado na Introduo daquele volume, seus captulos foram guiados por dois conjuntos de questes:

    1. Conforme os dados de investimentos no exterior (outward foreign direct investment stock) da Conferncia das Naes Unidas para Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD). Disponvel em: .

  • 10 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    i) qual o perfil do investimento direto realizado por essa economia e quais so as principais empresas protagonistas do processo; se possvel identificar as motivaes especficas para a realizao de investimentos no exterior; e ii) como se deu historicamente o processo de internacionalizao das empresas do pas pesquisado; qual foi o papel do Estado no processo; se existem polticas especficas de apoio internacionalizao, e quais (Acioly, Lima e Ribeiro, 2011, p. 13).

    Esta publicao, de certa forma, d continuidade e aprofunda a temtica da obra supracitada, inserindo ainda uma abordagem geogrfica no debate, motivada pelo papel de potncia regional que cada um dos pases examinados desempenha na atualidade e que pode continuar a ser exercido no futuro. Por conta disso, o foco recai sobre as relaes de investimento direto entre os BRICS e os pases de seu entorno. E em seguimento lgica daquele livro, d-se nfase tanto s estra-tgias das empresas como s polticas governamentais que afetam seus processos de internacionalizao.

    Este volume constitui tambm um dos resultados do projeto de pesquisa coletivo intitulado Os BRICS e seus vizinhos, desenvolvido no mbito da Diretoria de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas Internacionais (Dinte) do Ipea entre o segundo semestre de 2012 e o primeiro de 2014. O projeto envolveu tanto pesquisadores do Ipea quanto bolsistas contratados, e gerou, alm desta edio, o livro Os BRICS e seus vizinhos: comrcio e acordos regionais.

    Os cinco casos abordados nos captulos a seguir apresentam tanto algumas semelhanas como marcadas diferenas. De incio, deve-se ressaltar que o conjunto de pases aqui considerados vizinhos da China possuem caractersticas bastante distintas daqueles da frica do Sul, da ndia, da Rssia e do Brasil. A China a nica que possui economias avanadas entre seus vizinhos, enquanto os demais BRICS so os pases com estrutura produtiva mais complexa de suas respectivas regies. Isto tem implicaes importantes para os padres dos fluxos regionais de IDE: enquanto a frica do Sul, a ndia e a Rssia quase no recebem investimentos de seus vizinhos, a China acolhe muito mais do que realiza, ocupando o Brasil uma posio intermediria.

    O padro de ambiente de negcios encontrado nos BRICS e em seus vizinhos relaciona-se com tais semelhanas e diferenas. De fato, a China , novamente, a nica que possui um nmero substancial de vizinhos com bons ambientes de negcios, embora tambm seja circundada por pases mal avaliados neste quesito. Isto obviamente tem efeitos negativos para a maior parte dos vizinhos dos BRICS sobre o grau de atratividade exercido por estes pases sobre investidores estrangeiros. Sob estas condies, aspectos como familiaridade com a cultura de negcios local, idioma comum e existncia de comunidades de imigrantes e descendentes adquirem grande importncia como meios de contornar as vrias dificuldades impostas por ambientes de negcios precrios.

  • 11Introduo

    Quando analisados os volumes financeiros envolvidos, os pases vizinhos no representam os destinos preferenciais do IDE oriundo dos BRICS. Porm, estes volumes so muito impactados por algumas operaes de grande porte, quase sempre envolvendo empresas instaladas em pases desenvolvidos. Alm disso, as estatsticas oficiais dos BRICS so obscurecidas pelo uso frequente de parasos fiscais tanto para operaes de triangulao como para IDE round tripping. Quando os investimentos realizados pelos BRICS so comparados ao IDE total recebido por cada um de seus vizinhos, percebe-se que os membros do grupo figuram como os principais investidores em diversos pases, notadamente naqueles com ambientes de negcios mais precrios. Neste sentido, o Brasil se destaca negativamente, pois no o maior investidor estrangeiro em nenhum de seus vizinhos nem entre os de menor desenvolvimento relativo, tampouco entre aqueles com ambientes de negcios menos receptivos.

    Os investimentos realizados por empresas sediadas nos BRICS em pases vizinhos so preponderantemente resource seeking e market seeking. No primeiro caso, estas empresas costumam enfrentar concorrncia de firmas oriundas de outros pases, inclusive de pases desenvolvidos. J no segundo, elas tendem a enfrentar menor concorrncia, tanto por conta da pouca atratividade exercida pelos mercados da maior parte de seus vizinhos, como pelas deficincias competitivas das firmas domsticas destes pases. A China configura uma exceo, pois a maior parte dos pases de seu entorno conta com mercados relativamente atrativos, de forma que as firmas chinesas gozam destas vantagens apenas em poucos vizinhos.

    Digno de nota ainda o papel desempenhado pelo Estado no processo de expanso das firmas dos BRICS para os pases prximos. Deve-se ter claro o grande peso que o Estado ainda exerce nas economias chinesa, indiana e russa, enquanto na brasileira e na sul-africana esta participao mostra-se menos importante: no apenas o Estado o provedor de inmeros bens e servios naquelas economias, que no h muito tempo funcionavam por meio de planificao centralizada, como vrias de suas maiores empresas continuam sob o controle estatal. Por conta disso, os objetivos que permeiam os processos de internacionalizao destas companhias so frequentemente questionados, no somente por governos de outros pases, como tambm pela comunidade acadmica: seriam elas maximizadoras de lucro, como assumem os modelos tericos usuais sobre a firma, ou perseguidoras de outra funo-objetivo como, por exemplo, assegurar o suprimento de recursos naturais para o seu pas de origem?

    Como no bastasse esse comportamento teoricamente incerto por parte das firmas estatais, por vezes estendido para empresas privadas com boas conexes governamentais, os fluxos de IDE entre os BRICS e pelo menos uma parte de seus respectivos vizinhos tambm so fortemente impactados por consideraes de

  • 12 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    ordem poltica, as quais podem atuar tanto de forma a facilitar os investimentos, como a restringi-los, ou mesmo proibi-los. Aqui a ndia diferencia-se dos demais BRICS, por manter relaes bastante tensas com seus vizinhos mais populosos. Outro aspecto importante da atuao do Estado diz respeito ao emprego de instru-mentos de apoio internacionalizao das firmas de seu pas. No caso das relaes regionais, os acordos de livre comrcio, de proteo de investimentos, e aqueles que visam evitar a bitributao apresentam-se como alguns dos instrumentos mais importantes para encorajar os investimentos. Neste quesito, a China se destaca, uma vez que assume postura bem mais agressiva que os demais BRICS: assinou tratados de proteo de investimentos com todos os seus vizinhos e possui acordos de livre comrcio e para evitar a bitributao com a maior parte deles.

    Estudos detalhados das relaes de investimento direto dos BRICS com seus respectivos vizinhos so apresentados a seguir. Os captulos, organizados conforme a ordem do acrnimo BRICS, so assinados por Elton Jony de Jesus Ribeiro e por Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves sobre a frica do Sul e a ndia, e sobre o Brasil, a China e a Rssia, respectivamente. Fecha o volume um apndice com mapas e informaes geogrficas, econmicas, polticas e sociais dos BRICS e de cada um de seus vizinhos, que pode ser til para o leitor pouco familiarizado com estes pases.

    Espera-se que este livro, cuja elaborao foi norteada pela hiptese de que os BRICS constituem polos econmicos e polticos em suas respectivas regies, possa contribuir no apenas para aprofundar o conhecimento sobre os parceiros do Brasil no grupo, mas tambm para auxiliar na formulao de estratgias e agendas conjuntas para os BRICS.

    Andr Gustavo de Miranda Pineli AlvesOrganizador

  • CAPTULO 1

    AS RELAES DE INVESTIMENTO DIRETO ENTRE O BRASIL E OS PASES DE SEU ENTORNO

    Andr Gustavo de Miranda Pineli Alves1

    1 INTRODUO

    No sculo XXI, a Amrica do Sul foi alada condio de prioridade da poltica externa brasileira. No que ela j no fosse considerada importante pelo menos desde a redemocratizao, ela compe um dos eixos que norteiam a insero in-ternacional do pas. Porm jamais gozou de tamanho status.

    Ao mesmo tempo, a vizinhana foi tomada por uma invaso de empresas verde-e-amarelas. No tardaram a surgir observadores a relacionar os dois fatos, principalmente aps o governo brasileiro dar indcios de se interessar pelo apoio consolidao e internacionalizao de grandes grupos de capital nacional.

    Com esse pano de fundo, o objetivo deste captulo investigar as relaes de investimento direto entre o Brasil e os demais pases sul-americanos no perodo 2000-2013. Busca-se no apenas apresentar os nmeros por trs do fenmeno, mas, sobretudo, analisar os elementos determinantes das estratgias das empresas e das polticas do Estado brasileiro para a regio.

    O captulo est organizado em sete sees, alm desta breve introduo. A seo 2 apresenta um panorama geral do investimento direto estrangeiro (IDE) recebido, assim como o realizado, pelos pases sul-americanos. A seo 3 discute os determinantes do IDE nestes pases, ressaltando a importncia dos fatores institucionais como elementos explicativos da capacidade de atrao de IDE da regio. A seo 4 aborda os investimentos dos pases vizinhos no Brasil, enquanto a seo 5 analisa os investimentos brasileiros naqueles pases. O lugar reservado Amrica do Sul nas estratgias de internacionalizao das empresas brasileiras analisado na seo 6. A seo 7 discute os aspectos polticos relacionados ao investimento brasileiro nos pases da regio. Finalmente, a seo 8 apresenta as concluses do captulo.

    1. Tcnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas Internacionais (Dinte) do Ipea.

  • 14 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    2 UM PANORAMA DO INVESTIMENTO DIRETO NA AMRICA DO SUL

    Esta seo apresenta os fluxos e os estoques de IDE nos pases sul-americanos com base em informaes disponibilizadas pela Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and Development UNCTAD). O emprego deste banco de dados, no lugar de esta-tsticas divulgadas por rgos nacionais, se justifica por um suposto maior grau de comparabilidade dos resultados. Contudo, a base da UNCTAD alimentada em grande parte por informaes repassadas pelos pases-membros das Naes Unidas tambm contm limitaes, sendo a principal delas o fato de s ser revisada uma vez por ano, por ocasio do lanamento do World Investment Report,2 o que faz com que apresente, muitas vezes, discrepncias em relao s estatsticas divulgadas por rgos nacionais de estatstica e bancos centrais, que costumam atualizar os dados com muito mais frequncia.

    2.1 Estoques de investimento direto estrangeiro nos pases da Amrica do Sul

    Entre 2000 e 2012, o estoque de IDE no mundo aumentou pouco mais de trs vezes, em termos nominais, passando de US$ 7,5 trilhes para US$ 22,8 trilhes. Neste perodo, o estoque de IDE nos pases da Amrica do Sul aumentou 318%, saltando de US$ 309 bilhes para US$ 1,29 trilho, o que fez com que a partici-pao da regio no total mundial subisse de 4,11% para 5,65%.

    TABELA 1Estoque de investimento direto estrangeiro (1990-2012)(Em US$ milhes, a preos e taxas de cmbio correntes)

    Pas 1990 2000 2005 2010 2012

    Variao % 2012/2000

    Participao %

    Mundo Amrica do Sul

    1990 2000 2012 1990 2000 2012

    Argentina 9.085 67.601 55.139 88.458 110.704 64 0,44 0,90 0,49 12,1 21,9 8,6

    Bolvia 1.026 5.188 4.905 6.890 8.809 70 0,05 0,07 0,04 1,4 1,7 0,7

    Brasil 37.143 122.250 181.344 682.346 702.208 474 1,79 1,63 3,08 49,6 39,6 54,4

    Chile 16.107 45.753 78.599 160.260 206.594 352 0,78 0,61 0,91 21,5 14,8 16,0

    Colmbia 3.500 11.157 36.903 82.422 111.924 903 0,17 0,15 0,49 4,7 3,6 8,7

    Equador 1.626 6.337 9.861 11.853 13.079 106 0,08 0,08 0,06 2,2 2,1 1,0

    Guiana 45 756 989 1.889 2.335 209 0,00 0,01 0,01 0,1 0,2 0,2

    Paraguai 418 1.221 1.127 3.109 3.936 222 0,02 0,02 0,02 0,6 0,4 0,3

    Peru 1.330 11.062 15.889 42.976 63.448 474 0,06 0,15 0,28 1,8 3,6 4,9

    Uruguai 671 2.088 2.844 12.479 17.900 757 0,03 0,03 0,08 0,9 0,7 1,4

    Venezuela 3.865 35.480 44.518 41.393 49.079 38 0,19 0,47 0,22 5,2 11,5 3,8

    Total Amrica do Sul 74.815 308.894 432.118 1.134.075 1.290.017 318 3,60 4,11 5,65 - - -

    Mundo 2.078.267 7.511.311 11.673.845 20.380.267 22.812.680 204 - - - - - -

    Fonte: UNCTAD (http://unctadstat.unctad.org). Acesso em: 22 abr. 2014.Obs.: a fonte no dispe de informaes para o Suriname.

    2. Esse relatrio costuma ser lanado em junho ou julho de cada ano.

  • 15As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    Entre os pases da regio, os maiores incrementos no estoque de IDE ocorreram na Colmbia 903% e no Uruguai 757%. Acima da mdia regional tambm estiveram o Brasil e o Peru ambos com alta de 474% e o Chile aumento de 352% em doze anos. Por outro lado, desempenhos bastante inferiores mdia da regio foram observados na Venezuela, onde o estoque de IDE aumentou 38% entre 2000 e 2012; Argentina, 64%; Bolvia, 70%; e Equador, 106%.

    Em 2012, o Brasil concentrava 54,4% do estoque de IDE na regio ou US$ 702 bilhes. Entre 2000 e 2012, sua participao no estoque de IDE no mundo quase dobrou passou de 1,63% para 3,08%. Na sequncia, aparecia o Chile, cujo estoque de US$ 207 bilhes correspondia a 16% do estoque total da regio, contra 14,8% em 2000. Com estoque de IDE de US$ 112 bilhes, a Colmbia aparecia em terceiro lugar, com 8,7% do total da regio, contra apenas 3,6% em 2000. Na quarta posio estava a Argentina, cuja participao regional caiu de 21,9%, em 2000, para 8,6%, em 2012. Em seguida aparecia o Peru, com estoque de IDE de US$ 63 bilhes, correspondente a 4,9% da soma regional, e a Venezuela, com estoque de US$ 49 bilhes, que lhe rendia uma participao de 3,8% no total da Amrica do Sul, que chegou a ser de 11,5% em 2000. Finalmente, nas posies derradeiras apareciam Uruguai, Equador, Bolvia, Paraguai, Guiana e Suriname,3 cujas participaes no estoque de IDE da regio eram inferiores a 1,5% em 2012.

    Quando se analisam os estoques de IDE em termos per capita, o Chile destoa claramente dos demais pases da regio seu estoque per capita em 2012 era de US$ 11.857, valor prximo ao observado nos Estados Unidos, US$ 12.301, e superior ao da Alemanha, US$ 8.737. Em uma posio intermediria estavam Brasil, Guiana, Argentina, Colmbia e Peru, com estoques de IDE per capita entre US$ 2 mil e US$ 3.540. Como proporo do produto interno bruto (PIB), o estoque de IDE do Chile tambm se diferenciava dos demais pases da regio, com exceo da Guiana, aproximando-se da casa dos 80%. Brasil, Bolvia, Colmbia, Peru e Uruguai apresentavam nmeros relativamente prximos, entre 30% e 40% do PIB. Na Argentina, o estoque de IDE como proporo do PIB era de 23% em 2012. Os ndices mais baixos eram encontrados no Equador, 18%, Paraguai, 17%, e Venezuela, 13%.

    3. O Suriname no aparece nas estatsticas da Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD). Conforme os dados da Posio Internacional de Investimento divulgada pelo Banco Central do Suriname, o pas possua um estoque de US$ 804 milhes em dezembro de 2012. Disponvel em: .

  • 16 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    TABELA 2Estoque de investimento direto estrangeiro per capita e como proporo do produto interno bruto (1990-2012)(Em US$, a preos e taxas de cmbio correntes, e em % do PIB)

    PasPer capita (em US$) % do PIB

    1990 2000 2005 2012 1990 2000 2005 2012

    Argentina 278 1.830 1.425 2.692 6,4 23,8 30,1 23,2

    Bolvia 154 624 536 860 21,1 61,8 51,4 32,5

    Brasil 248 701 975 3.540 10,1 19,0 20,6 31,2

    Chile 1.221 2.967 4.822 11.857 46,7 59,1 63,9 77,7

    Colmbia 105 281 857 2.354 6,1 11,2 25,2 30,6

    Equador 158 513 734 880 14,5 38,9 26,7 17,8

    Guiana 62 1.032 1.325 3.083 7,1 66,6 75,2 82,7

    Paraguai 98 229 191 589 9,0 17,2 15,1 17,3

    Peru 61 428 577 2.134 4,5 20,7 20,0 31,4

    Uruguai 216 629 856 5.278 7,3 9,1 16,4 36,2

    Venezuela 196 1.457 1.670 1.642 8,2 30,3 30,6 12,9

    Fonte: UNCTAD (http://unctadstat.unctad.org). Acesso em: 22 abr. 2014.Obs.: a fonte no dispe de informaes para o Suriname.

    possvel notar, na tabela 2, tendncias bastante discrepantes entre os pases da regio no que tange trajetria do indicador estoque de IDE/PIB. Em dois pases, Uruguai e Colmbia, este indicador praticamente triplicou no perodo 2000-2012. No Brasil, no Chile, na Guiana e no Peru, o indicador tambm se elevou, mas em menor intensidade. Em dois pases, Argentina e Paraguai, a relao ficou praticamente estagnada. J na Bolvia, no Equador e na Venezuela, houve uma forte reduo no estoque de IDE enquanto proporo do PIB.

    2.2 Fluxos de investimento direto estrangeiro para os pases da Amrica do Sul

    A evoluo dos fluxos de IDE para os pases da Amrica do Sul entre 2000 e 2012 mostrada na tabela 3.

    Nota-se que os fluxos para a regio acompanharam a reduo observada nos fluxos mundiais entre 2000 e 2003, de tal forma que a participao da Amrica do Sul no total mundial variou pouco no perodo. Contudo, quando se analisam os seis maiores receptores de IDE da regio, percebem-se padres bastante distintos. Os fluxos de IDE para a Argentina tiveram uma drstica reduo, que pode ser explicada pelas crises econmica e poltica vivenciadas pelo pas na virada do sculo, que, por sua vez, contriburam para desvalorizar fortemente os ativos do pas quando medidos em dlar. No Brasil tambm houve diminuio bastante pronunciada nos fluxos de IDE, que se estendeu at meados dos anos 2000, a qual pode ser parcialmente explicada pelo fim do ciclo de grandes privatizaes ocorridas no perodo 1997-2000 e dos investimentos incrementais associados

  • 17As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    a estas transferncias de ativos. J nos casos de Chile, Colmbia e Peru, no se observaram redues nos ingressos de IDE nos primeiros anos da dcada, de tal forma que estes pases aumentaram suas participaes nos fluxos mundiais de IDE.

    A partir de 2004, os fluxos mundiais de IDE voltaram a crescer. Contudo, a participao da regio no total mundial encolheu nos dois anos seguintes, atin-gindo em 2006 o ponto mais baixo da dcada, 2,9%. Desde 2007, entretanto, a participao da regio vem aumentando de forma quase ininterrupta. As crises financeiras e o baixo crescimento econmico nos pases ricos surtiram pouco im-pacto sobre os fluxos de IDE para a Amrica do Sul. Apesar do tombo ocorrido em 2009, no ano seguinte os fluxos praticamente j haviam retomado o nvel de 2008. Em 2012, foram 54,6% maiores que em 2008, enquanto os fluxos mundiais ainda estavam 25,6% abaixo dos deste ano. Com isso, a participao da regio nos fluxos mundiais de IDE alcanou o mximo histrico de 10,7%, mais que o dobro da registrada em 2008 5,1%.

    Analisando-se os principais receptores de IDE na regio, nota-se que a Argentina retomou a participao nos fluxos mundiais que havia perdido no incio dos anos 2000, mostrando uma tendncia ascendente no montante de ingressos de IDE a partir de 2004. Contudo, como outros pases sul-americanos tiveram aumentos ainda mais expressivos, a participao argentina nos fluxos de IDE para a Amrica do Sul diminuiu, chegando em 2012 a 8,7%.

    No caso do Brasil, a tendncia de reduo na participao mundial foi re-vertida a partir de 2007 e, no binio 2011-2012, finalmente superou a observada em 1997-1998, anos de grandes privatizaes nos setores eltrico e de telecomu-nicaes.4 Todavia, a participao brasileira nos fluxos para a Amrica do Sul, de 45,2% em 2012, no recuperou o patamar observado no incio dos anos 2000.

    As participaes de Chile, Colmbia e Peru no total dos fluxos mundiais aumentaram fortemente ao longo do perodo analisado, assim como suas parcelas nos fluxos de IDE direcionados para o subcontinente sul-americano. J no caso da Venezuela, nota-se reduo de importncia tanto nos fluxos mundiais como nos fluxos para a Amrica do Sul cabe ressaltar tambm a elevada volatilidade dos fluxos, expressa pelo coeficiente de variao de 0,97. Entre os pases menores, cabe notar as mudanas nos patamares dos fluxos de IDE para o Uruguai, o Paraguai e a Guiana de 2006 em diante, e a acelerao nos ingressos de IDE na Bolvia a partir do mesmo ano, depois de um forte declnio no perodo 2003-2005.5

    4. Em 1997, a participao do Brasil nos fluxos mundiais foi de 3,89% e, no ano seguinte, de 4,09%.5. Rumores sobre uma possvel nacionalizao dos hidrocarbonetos afetaram os fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) para a Bolvia nesse perodo.

  • 18 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    TABE

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    2001

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    2007

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    2010

    2011

    2012

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    366

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    75

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    15.0

    6618

    .822

    34.5

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    .058

    25.9

    4948

    .506

    66.6

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    Chile

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    334

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    467

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    455

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    %)

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    %)

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    43,3

    48,3

    48,3

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    52,6

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    Chile

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    Sul (

    %)

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    19,6

    16,1

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    22,7

    16,7

    17,7

    21,0

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    %)

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    %)

    8,2

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    -1,2

    2,1

    1,9

    -3,8

    2,0

    2,9

    2,2

    Font

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    : 22

    abr.

    2014

    .

  • 19As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    2.3 Estoques de investimento direto no exterior dos pases da Amrica do Sul

    No perodo 2000-2012, o estoque de IDE no exterior dos pases sul-americanos aumentou 338%, de US$ 96 bilhes para US$ 420 bilhes. Com isso, sua par-ticipao no estoque mundial, embora tenha permanecido modesta, saltou de 1,2% para 1,78%.

    O Brasil respondeu, em 2012, por 55,4% do estoque detido pelos pases sul-americanos, ou US$ 232,8 bilhes. Do restante, aproximadamente a metade era oriunda do Chile US$ 97,1 bilhes , enquanto o restante estava quase todo concentrado em trs pases: Argentina, com 7,8% (US$ 32,9 bilhes); Colmbia, com 7,5% (US$ 31,6 bilhes); e Venezuela, com 5% (US$ 20,9 bilhes) os outros pases da regio somados respondiam por pouco mais de 1%.

    TABELA 4Estoque de investimento direto no exterior (1990-2012)(Em US$ milhes, a preos e taxas de cmbio correntes)

    Pas 1990 2000 2005 2010 2012Variao

    2012/2000(%)

    Participao %

    Mundo Amrica do Sul

    1990 2000 2012 1990 2000 2012

    Argentina 6.057 21.141 23.340 30.328 32.914 56 0,29 0,26 0,14 12,3 22,0 7,8

    Bolvia 7 29 87 8 8 -74 0,00 0,00 0,00 0,0 0,0 0,0

    Brasil 41.044 51.946 79.259 188.637 232.848 348 1,96 0,65 0,99 83,2 54,1 55,4

    Chile 154 11.154 22.589 60.386 97.141 771 0,01 0,14 0,41 0,3 11,6 23,1

    Colmbia 402 2.989 8.915 23.602 31.633 958 0,02 0,04 0,13 0,8 3,1 7,5

    Equador 18 251 276 543 480 91 0,00 0,00 0,00 0,0 0,3 0,1

    Guiana 0 1 2 2 2 51 0,00 0,00 0,00 0,0 0,0 0,0

    Paraguai 134 214 156 238 238 11 0,01 0,00 0,00 0,3 0,2 0,1

    Peru 122 505 1.047 3.319 3.986 689 0,01 0,01 0,02 0,2 0,5 0,9

    Uruguai 186 138 159 345 334 141 0,01 0,00 0,00 0,4 0,1 0,1

    Venezuela 1.221 7.676 9.429 16.197 20.870 172 0,06 0,10 0,09 2,5 8,0 5,0

    Total Amrica do Sul 49.346 96.045 145.259 323.605 420.453 338 2,36 1,20 1,78 - - -

    Mundo 2.091.496 8.025.834 12.575.883 21.130.046 23.592.739 194 - - - - - -

    Fonte: UNCTAD (http://unctadstat.unctad.org). Acesso em: 22 abr. 2014.Obs.: a fonte no dispe de informaes para o Suriname.

    No perodo 2000-2012, os pases da regio que tiveram maior crescimento no estoque de IDE no exterior foram Colmbia, 958%; Chile, 771%; e Peru, 689%. O crescimento do estoque de IDE brasileiro foi pouco superior mdia sul-ame-ricana, 348%. Por seu turno, os outros dois pases com alguma relevncia como investidor estrangeiro da regio Argentina e Venezuela tiveram crescimentos abaixo da mdia regional 56% e 172%, respectivamente. Com isso, enquanto a participao brasileira na regio pouco se alterou nos doze anos analisados, as participaes de Chile e Colmbia dobraram, mas a da Argentina caiu a pouco mais de um tero da que era em 2000.

  • 20 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    Como se pode ver na tabela 5, as empresas chilenas so as mais internaciona-lizadas do subcontinente. O estoque de IDE no exterior do pas enquanto propor-o de seu PIB atingiu 36,5% em 2012, patamar prximo ao de economias mais desenvolvidas, como o Canad (40,3%), Portugal (33,6%), Israel (31,1%) e Itlia (28,1%). Cabe ressaltar que se chegou a tal quadro partindo de um nvel muito baixo em 1990, e, mesmo em 2000, o estoque de IDE no exterior correspondia a apenas 14,4% do PIB chileno, o que indica que grande parte do processo de internacionalizao ocorreu no sculo XXI.

    TABELA 5Estoque de investimento direto no exterior como proporo do produto interno bruto (1990-2012)(Em US$, a preos e taxas de cmbio correntes, e em % do PIB)

    Pas

    %do PIB

    1990 2000 2005 2012

    Argentina 4,3 7,4 12,7 6,9

    Bolvia 0,1 0,4 0,9 0,0

    Brasil 11,1 8,1 9,0 10,3

    Chile 0,4 14,4 18,4 36,5

    Colmbia 0,7 3,0 6,1 8,6

    Equador 0,2 1,5 0,7 0,7

    Guiana 0,0 0,1 0,1 0,1

    Paraguai 2,9 3,0 2,1 1,0

    Peru 0,4 0,9 1,3 2,0

    Uruguai 2,0 0,6 0,9 0,7

    Venezuela 2,6 6,6 6,5 5,5

    Fonte: UNCTAD (http://unctadstat.unctad.org). Acesso em: 22 abr. 2014.Obs.: a fonte no dispe de informaes para o Suriname.

    O Brasil aparece na sequncia neste indicador, porm muito abaixo do Chile: o estoque de IDE no exterior correspondeu a 10,3% do PIB brasileiro em 2012 nvel prximo ao da Polnia (11,8%), do Mxico (11,7%) e do Cazaquisto (10,5%). Nota-se que houve pouca variao no indicador ao longo do perodo 1990-2012: na realidade, em 2012, este se encontrava um pouco abaixo do nvel verificado no incio no perodo. Todavia, deve-se ter em conta que o indicador foi negativamente afetado pela valorizao da taxa de cmbio real ocorrida desde 2003, que inflou o PIB medido em dlar.6

    6. Pelo mesmo motivo, mas em sentido contrrio, o indicador aumentou, entre 2000 e 2005, no caso argentino, na esteira da crise cambial que levou ao fim do regime de conversibilidade do peso em janeiro de 2002.

  • 21As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    Entre os demais pases da regio, o desempenho mais impressionante foi o da Colmbia, cujo estoque de IDE no exterior saltou de algo prximo a 0,7% do PIB, em 1990, para 3%, em 2000, e 8,6%, em 2012.

    2.4 Fluxos de investimento direto no exterior dos pases da Amrica do Sul

    Os fluxos de IDE provenientes dos pases da Amrica do Sul aumentaram 168% entre 2000 e 2012. Com isso, a participao da regio nos fluxos mundiais saltou de 0,6% para 1,5% no perodo. Contudo, nota-se uma elevada volatilidade: enquanto o coeficiente de variao dos fluxos mundiais foi de 0,42, o dos fluxos sul-americanos foi de 0,78.

    Isso pode ser explicado, em larga medida, pela instabilidade dos fluxos bra-sileiros, uma vez que o pas responde por grande parte dos fluxos originados no subcontinente. Pode-se notar, na tabela 6, que o Brasil alterna anos de fluxos nega-tivos com outros de fluxos positivos.7 Mesmo no caso destes, as magnitudes oscilam bruscamente em 2006, por exemplo, os fluxos foram onze vezes o tamanho do ano anterior.8 Estas variaes decorrem do nmero relativamente baixo de empresas que realizam investimentos diretos no exterior, o que faz com que uma ou poucas operaes de grande vulto impactem muito intensamente o indicador agregado.

    Por conta da instabilidade dos fluxos de IDE brasileiros, difcil analisar a evoluo da participao dos demais pases nos fluxos oriundos da regio, sendo mais apropriado avaliar sua participao no total mundial. Conforme a tabela 6, em anos recentes, o Chile tem elevado substancialmente sua parcela nos fluxos de IDE mundiais, saltando de algo entre 0,1% e 0,3%, no perodo 2000-2007, para 1,2%, em 2011, e 1,5%, em 2012. Padro similar tem seguido a Colmbia, que atingiu 0,5% dos fluxos mundiais no binio 2010-2011, apesar do revs ocorrido em 2012.

    Chamam a ateno, tambm, os baixos valores dos fluxos de IDE procedentes da Argentina e da Venezuela em comparao, por exemplo, aos observados no Chile e na Colmbia , embora estes sejam bem menos inconstantes que os fluxos brasileiros.

    No que tange ao impacto da crise financeira internacional de 2008 sobre os fluxos de IDE, percebe-se que este foi muito mais importante no caso do Brasil que no perodo 2009-2012 acumularam saldo negativo de US$ 2,3 bilhes que em outros pases, como o Chile, a Colmbia e mesmo a Argentina e a Venezuela.

    7. Em 2009, 2011 e 2012, o Brasil registrou fluxos negativos de IDE no exterior por conta dos altos volumes de amorti-zaes de emprstimos intercompanhia concedidos pelas matrizes s suas filiais no exterior, bem como pela concesso de emprstimos destas s suas matrizes no Brasil. Conforme o Censo de Capitais Brasileiros no Exterior publicado pelo Banco Central do Brasil (BCB), entre 2008 e 2011, o estoque credor de emprstimos intercompanhia do Brasil diminuiu de US$ 42,2 bilhes para US$ 9,7 bilhes. Esta reduo totalmente explicada pelas transaes envolvendo as Ilhas Cayman, com as quais o saldo caiu de US$ 38 bilhes para US$ 1,9 bilho diferena de US$ 36,1 bilhes. interessante notar que no mesmo perodo o estoque de IDE brasileiro registrado como participao no capital nas Ilhas Cayman aumentou de US$ 14,1 bilhes para US$ 32,1 bilhes incremento de US$ 18 bilhes. 8. Em 2006, os fluxos foram muito influenciados pela compra da mineradora canadense Inco pela Vale, por US$ 17,7 bilhes (mais a assuno de dvidas de US$ 1,2 bilho). De forma semelhante, a fuso entre a Companhia de Bebidas das Amricas (Ambev) e a belga Interbrew impactou as estatsticas de 2004. Porm, neste caso, por se tratar de uma troca de ativos, a operao surtiu efeito tanto sobre o ingresso como sobre a sada de IDE.

  • 22 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    TABE

    LA 6

    Flux

    o de

    inve

    stim

    ento

    dir

    eto

    para

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    Pas

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    Md

    iaCo

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    nte

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    ntin

    a90

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    1 -6

    27

    774

    676

    1.31

    1 2.

    439

    1.50

    4 1.

    391

    712

    965

    1.48

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    089

    983

    0,74

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    ia3

    3 3

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    3 3

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    807

    2.51

    7 28

    .202

    7.

    067

    20.4

    57

    -10.

    084

    11.5

    88

    -1.0

    29

    -2.8

    21

    5.26

    6 1,

    95

    Chile

    3.98

    7 1.

    610

    343

    1.70

    9 2.

    145

    2.13

    5 2.

    212

    4.85

    2 9.

    151

    7.23

    3 9.

    461

    20.3

    73

    21.0

    90

    6.63

    8 1,

    04

    Col

    mbi

    a32

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    85

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    662

    1.09

    8 91

    3 2.

    486

    3.34

    8 6.

    842

    8.28

    0 -2

    48

    2.28

    1 1,

    20

    Equa

    dor

    15

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    63

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    ana

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    *74

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    23

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    -1

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    -1

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    zuel

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    598

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    6 1.

    776

    -1.1

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    0 1.

    027

    0,95

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    l Am

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    do

    Sul

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    13.4

    24

    11.8

    49

    35.5

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    14.5

    38

    35.8

    63

    3.92

    0 30

    .948

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    .993

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    .533

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    .357

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    78

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    764

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    %)

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    15,2

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    6,9

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    5,1

    --

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    %)

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    1266

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    973

    ,121

    ,279

    ,448

    ,657

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    57,3

    37,4

    -3,7

    -13,

    1-

    -

    Chile

    /Am

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    %)

    49,6

    -903

    ,18,

    433

    ,616

    ,018

    ,06,

    233

    ,425

    ,518

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    30,6

    72,8

    97,9

    --

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    %)

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    22,1

    29,6

    -1,2

    --

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    %)

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    %)

    6,5

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    84,

    30,

    34,

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  • 23As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    3 DETERMINANTES DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NOS PASES DA AMRICA DO SUL

    3.1 A influncia do clima de investimentos

    As posies ocupadas pelos pases da Amrica do Sul no ranking do relatrio Easy of Doing Business, elaborado pelo Banco Mundial e pela Corporao Financeira Internacional, so apresentadas na tabela 7. Nota-se que os trs membros sul-ame-ricanos da Aliana do Pacfico Chile, Colmbia e Peru destacam-se dos demais. O quarto integrante desta entidade, o Mxico, tambm foi includo na tabela 7 para ressaltar a similaridade intragrupo: todos esto em posies relativamente prximas, entre o 34o e o 53o lugar no ranking geral. Em situao oposta esto os pases pertencentes Aliana Bolivariana para as Amricas (Alba) Bolvia, Equador e Venezuela , assim como o Suriname. Em posio intermediria encontram-se o Brasil, a Guiana, o Paraguai e o Uruguai, entre o 88o e o 116o lugar.

    TABELA 7Facilidade de fazer negcios, por pas e por tema (2013)(posio no ranking internacional de 189 economias)

    Argentina Bolvia Brasil Chile Colmbia Equador Guiana Mxico Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela

    Abertura de empresa 164 180 123 22 79 176 94 48 113 63 181 43 157

    Obteno de alvar de construo 181 136 130 101 24 64 33 40 71 117 49 154 110

    Obteno de energia eltrica 80 128 14 43 101 138 155 133 50 79 40 23 167

    Registro de propriedade 138 144 107 55 53 91 111 150 71 22 173 167 95

    Obteno de crdito 73 130 109 55 73 86 170 42 86 28 170 73 130

    Proteo de investidores 98 138 80 34 6 138 80 68 68 16 186 98 182

    Pagamento de impostos 153 185 159 38 104 91 110 118 125 73 50 146 187

    Comrcio exterior 129 126 124 40 94 122 71 59 154 55 105 90 173

    Cumprimento de contratos 57 131 121 64 155 99 73 71 102 105 184 105 92

    Resoluo de insolvncia 97 67 135 102 25 143 141 26 152 110 160 51 165

    Facilidade para fazer negcios 126 162 116 34 43 135 115 53 109 42 161 88 181

    Fonte: Banco Mundial e Corporao Financeira Internacional, disponvel em: .Obs.: ranking divulgado em 2014, referente a 2013.

    Considerando-se os dez aspectos cobertos pela pesquisa, Chile e Colmbia apresentam a melhor avaliao, entre os pases da regio, em trs cada um; o Peru, em dois; e o Brasil e a Argentina, em um. Na ponta oposta, o Suriname o pior avaliado em cinco temas, a Venezuela em quatro e a Argentina em um. Considerando-se o nmero de quesitos nos quais cada pas se encontra na metade inferior do ranking geral de 189 pases, isto ocorre nove vezes nos casos de Bolvia e Venezuela; oito no do Brasil; sete no do Suriname; seis nos da Argentina e do Equador; cinco nos de Guiana, Paraguai e Uruguai; trs nos de Colmbia e Peru; e duas no do Chile.

  • 24 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    Vale destacar alguns aspectos do relatrio. Pode-se notar que, com exceo do Chile e do Uruguai, abrir uma empresa na Amrica do Sul no uma tarefa das mais fceis, sendo particularmente custosa na Argentina, na Bolvia, no Equador, no Suriname e na Venezuela. Fazer cumprir um contrato tambm pode ser bastante trabalhoso em pases como a Colmbia e o Suriname neste quesito nenhum pas sul-americano chega a ser muito bem avaliado. Contudo, o item no qual a regio como um todo mais se destaca negativamente no pagamento de impostos a situao particularmente mais grave na Argentina, na Bolvia, no Brasil, no Uruguai e na Venezuela.

    Um quadro no muito distinto pintado pelo ndice de liberdade econmica (index of economic freedom), elaborado anualmente pela Heritage Foundation em colaborao com o Wall Street journal. Os pases-membros da Aliana do Pacfico novamente se destacam positivamente no ranking especialmente o Chile, situado no 7o lugar e recebem, desta vez, a companhia do Uruguai.

    TABELA 8Liberdade econmica, indicadores selecionados diversos pases (2014)

    PasRanking global

    Score global

    Direitos de propriedade

    Liberdade empresarial

    Liberdade comercial

    Liberdade de investimentos

    Liberdade financeira

    Argentina 166o 44,6 15,0 53,9 68,9 30,0 30,0

    Bolvia 158o 48,4 10,0 53,4 77,6 15,0 50,0

    Brasil 114o 56,9 50,0 53,8 69,3 55,0 60,0

    Chile 7o 78,7 90,0 69,3 82,0 90,0 70,0

    Colmbia 34o 70,7 50,0 85,2 78,8 75,0 70,0

    Equador 159o 48,0 20,0 52,8 71,8 30,0 40,0

    Guiana 121o 55,7 30,0 64,3 72,0 45,0 30,0

    Paraguai 78o 62,0 30,0 58,0 81,1 75,0 60,0

    Peru 47o 67,4 40,0 70,6 87,0 70,0 60,0

    Suriname 130o 54,2 40,0 41,8 66,2 30,0 30,0

    Uruguai 38o 69,3 70,0 74,5 82,5 80,0 30,0

    Venezuela 175o 36,3 5,0 43,4 62,7 5,0 20,0

    Fonte: 2014 Index of Economic Freedom, elaborado pela Heritage Foundation e pelo Wall Street Journal. Disponvel em: . Acesso em: 16 de abril

    Obs.: ranking elaborado com 178 pases. Os ndices (scores) variam entre 0 (liberdade mnima) e 100 (liberdade mxima).

    Na ponta oposta, novamente se encontram os pases da Alba, agora acompanhados da Argentina. Essa avaliao negativa muito influenciada pelas pontuaes atribudas aos quesitos direitos de propriedade, liberdade de investimentos e liberdade financeira. Como se pode ver na tabela 9, o ndice de liberdade econmica aponta uma forte deteriorao nestes aspectos ao longo do sculo XXI nos quatro pases mencionados.

  • 25As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    TABELA 9Liberdade econmica, indicadores e pases selecionados (2000-2014)

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

    Direitos de propriedade

    Argentina 70 50 50 30 30 30 30 30 30 20 20 20 20 15 15

    Bolvia 50 50 30 30 30 30 30 30 25 20 10 10 10 10 10

    Equador 50 30 30 30 30 30 30 30 30 25 20 20 20 20 20

    Venezuela 50 30 30 30 30 30 30 30 10 5 0 5 5 5 5

    Liberdade de investimentos

    Argentina 70 70 70 50 50 50 50 50 50 50 45 45 40 40 30

    Bolvia 70 90 90 90 90 50 30 30 20 20 15 20 20 10 15

    Equador 70 70 70 50 50 30 30 30 40 30 25 25 25 20 30

    Venezuela 50 50 50 50 10 10 10 20 20 10 5 5 5 5 5

    Fonte: Index of Economic Freedom, elaborado pela Heritage Foundation e pelo Wall Street Journal, vrios anos. Disponvel em: . Acesso em: 16 abr. 2014.

    Obs.: os ndices (scores) variam entre 0 (liberdade mnima) e 100 (liberdade mxima).

    Um quadro um pouco distinto surge nos indicadores de governana providos pelo Banco Mundial em seu relatrio Worldwide Governance Indicators (WGI). Tanto o Peru como a Colmbia so mal avaliados no tema estabilidade poltica e ausncia de violncia, assim como obtm avaliaes negativas em prevalncia do Estado de direito e controle da corrupo. J o Uruguai se junta ao Chile como os dois pases com melhores indicadores de governana da regio. O Brasil apresenta ndices prximos da neutralidade em todos os temas analisados. J a Bolvia, o Equador, o Paraguai e a Venezuela so mal avaliados em praticamente todos os quesitos.

    TABELA 10Indicadores de governana, por pas (2000-2012)(Em ndice e centis da distribuio)

    Pas

    Estabilidade Poltica e Ausncia de Violncia

    Efetividade do Governo

    Qualidade Regulatria

    Estado de Direito

    Controle da Corrupo

    2000 2000 2012 2012 2000 2000 2012 2012 2000 2000 2012 2012 2000 2000 2012 2012 2000 2000 2012 2012

    ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil ndice Centil

    Argentina 0,05 48 0,07 48 0,06 59 -0,25 45 0,29 62 -0,96 19 -0,20 45 -0,71 29 -0,34 47 -0,49 39

    Bolvia -0,31 35 -0,50 30 -0,33 43 -0,37 43 0,09 56 -0,83 22 -0,42 39 -1,04 16 -0,37 46 -0,70 27

    Brasil 0,18 53 0,07 48 0,05 58 -0,12 50 0,37 64 0,09 55 -0,30 43 -0,11 52 0,02 60 -0,07 56

    Chile 0,43 63 0,35 59 1,12 85 1,25 87 1,41 91 1,54 93 1,26 87 1,37 88 1,54 92 1,56 91

    Colmbia -1,61 8 -1,40 8 -0,28 44 0,01 57 0,14 56 0,39 64 -0,98 19 -0,39 44 -0,41 41 -0,43 42

    Equador -0,69 26 -0,60 27 -0,80 21 -0,51 37 -0,52 30 -1,04 15 -0,69 30 -1,16 12 -1,01 10 -0,66 28

    Guiana -0,61 27 -0,48 31 -0,19 48 -0,14 50 -0,18 41 -0,63 28 -0,55 33 -0,52 37 -0,38 44 -0,75 26

    Paraguai -1,09 16 -0,84 20 -1,17 10 -0,90 20 -0,82 19 -0,32 41 -1,08 16 -0,87 21 -1,37 3 -0,84 22

    Peru -1,10 15 -0,86 20 -0,09 53 -0,16 49 0,47 67 0,49 68 -0,69 30 -0,61 33 -0,49 39 -0,39 43

    Suriname 0,11 50 0,08 49 -0,17 49 0,01 56 -0,63 25 -0,38 38 -0,19 45 -0,10 53 0,39 69 -0,37 45

    Uruguai 0,85 76 0,71 69 0,43 69 0,44 67 0,69 75 0,40 65 0,53 64 0,54 66 0,72 77 1,32 88

    Venezuela -0,81 22 -0,99 18 -0,76 24 -1,14 13 -0,49 31 -1,54 5 -0,90 23 -1,69 1 -0,53 35 -1,24 7

    Fonte: Banco Mundial, Worldwide Governance Indicators 1996-2012, disponvel em: . Acesso em: 16 abr. 2014.

    Obs.: os ndices variam aproximadamente entre -2,5 (mau) e 2,5 (bom desempenho). Os percentis indicam a posio no ranking de pases, indo da mais baixa (0) mais alta (100).

  • 26 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    importante averiguar, tambm, a evoluo temporal dos indicadores. Chamam a ateno as pioras considerveis nas avaliaes da qualidade regulatria e da prevalncia do Estado de direito na Argentina, na Bolvia, no Equador e na Venezuela, assim como a melhoria na avaliao sobre o controle da corrupo no Equador, no Paraguai e no Uruguai entre 2000 e 2012.

    Os aspectos relacionados logstica podem ser determinantes no processo de escolha locacional do IDE por parte das empresas transnacionais (ETNs). Tomando-se por base o ndice de desempenho em logstica (logistics performance index) elaborado pelo Banco Mundial, nenhum pas da Amrica do Sul chega a ter um desempenho brilhante no que tange logstica. O melhor colocado no ranking de 160 pases o Chile, em 42o lugar. Argentina e Brasil aparecem na sequncia, em 60o e 65o respectivamente. No que tange eficincia do processo de liberao das agncias de fronteira, todos os pases so mal avaliados, com exceo do Chile. A infraestrutura um problema particularmente srio na Bolvia. A Colmbia, que se destacou positivamente em algumas pesquisas mencionadas anteriormente, apre-senta, em logstica, desempenho inferior ao de seus vizinhos Equador e Venezuela, principalmente em infraestrutura e em capacidade de entregar de forma pontual.

    TABELA 11Indicadores de desempenho em logstica, por pas e por tema (2014)(posio no ranking internacional de 160 economias)

    Tema Argentina Bolvia Brasil Chile Colmbia Equador Guiana Paraguai Peru Uruguai Venezuela

    Aduanas (A) 85 108 94 39 79 92 99 90 96 111 109

    Infraestrutura (B) 63 133 54 41 98 94 105 97 67 90 74

    Embarque internacional (C) 64 135 81 53 95 83 128 79 69 103 68

    Competncia em logstica (D) 62 88 50 44 91 97 133 78 76 100 77

    Rastreabilidade (E) 53 94 62 40 108 95 117 74 83 75 70

    Pontualidade (F) 55 141 61 44 111 77 131 70 66 91 74

    Geral 60 121 65 42 97 86 124 78 71 91 76

    Fonte: Banco Mundial, Logistics Performance Index. Disponvel em: Acesso em: 23 abr. 2014.

    (A) Eficincia do processo de liberao (por exemplo, rapidez, simplicidade e preditibilidade das formalidades) das agncias de fronteira, incluindo aduanas.

    (B) Qualidade da infraestrutura relacionada ao comrcio e ao transporte (por exemplo, portos, estradas, ferrovias, tecnologia da informao).

    (C) Facilidade de conseguir embarques a preos competitivos.(D) Competncia e qualidade dos servios logsticos (por exemplo, operadores de transporte, despachantes aduaneiros)(E) Habilidade de rastrear e controlar remessas.(F) Capacidade das remessas em atingir o destino conforme o prazo programado e previsto.

    Obviamente, pode-se argumentar que indicadores tais como o elaborado pela Heritage Foundation possuem uma carga de subjetividade ou que embutem uma viso de mundo no compartilhada por todos os pases ou mesmo parcelas da populao dentro de um pas. Sobre este aspecto, cabe lembrar que, ao longo dos anos 2000, foras sociais ligadas a movimentos populares e historicamente excludas ascenderam ao poder em alguns pases da Amrica do Sul, trazendo

  • 27As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    consigo agendas de refundao do Estado e da nao, que se manifestaram na adoo de polticas revisionistas, em relao s adotadas principalmente na liberal dcada anterior, que resultaram no aumento da interveno do Estado na economia. Polticas de nacionalizao de recursos naturais e de concessionrias de servios de infraestrutura tornaram-se relativamente comuns diga-se de passagem, o mesmo ocorreu em outras partes do mundo e ganharam o apoio popular, com o Estado assumindo as funes de redistribuir as rendas (rents) e de garantir subsdios aos estratos mais pobres da populao. Todavia, razovel supor que os indicadores apresentados capturam, de maneira adequada, vrios dos aspectos levados em considerao no processo de tomada de deciso das grandes corporaes transna-cionais, que respondem pela maior parte dos fluxos mundiais de IDE, assim como dos fluxos comerciais e dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

    3.2 Acordos de proteo de investimentos e para evitar a bitributao

    Tratamento inadequado aos investidores estrangeiros pode ser um entrave atrao de IDE, pois aumenta os riscos e os custos percebidos. Tributao excessiva tambm pode ser desencorajadora, pois diminui o retorno esperado do investimento. Logo, a celebrao de acordos bilaterais, regionais e multilaterais de investimentos cujos principais propsitos so encorajar e proteger mutuamente os investimentos de firmas e indivduos de um pas nos territrios dos demais pases signatrios tende, teori-camente, a incentivar o IDE, ou pelo menos a reduzir os obstculos sua realizao, fazendo com que os fluxos convirjam para os nveis esperados dados os fundamentos das economias. O mesmo deve ocorrer em relao aos acordos para evitar a bitributa-o, que tm como objetivo evitar a imposio, por dois pases diferentes, de tributos similares sobre uma mesma categoria e uma mesma base tributvel.

    3.2.1 Acordos de proteo de investimentos

    Comparativamente a outras regies do mundo, a Amrica Latina pouco pro-pensa a celebrar acordos bilaterais de investimento (em ingls: bilateral investment treaties BITs). Durante muito tempo, os pases latino-americanos olharam com suspeio para estes, enxergando-os como instrumentos de controle das potncias econmicas sobre eles. Somente a partir dos anos 1980, com as crises de balano de pagamentos que se abateram sobre os pases da regio, esta postura comeou a alterar-se, com os BITs passando a ser vistos como um diferencial para a tomada de deciso por parte dos investidores estrangeiros (Azevedo, 2001). Em estudo publicado em 2009, a UNCTAD chamava a ateno para o fato de que a Amrica Latina e o Caribe continuavam a ser a regio menos ativa na assinatura de BITs, tomando parte de 483 dos 2.676 assinados no mundo at 2008.9 Uma das possveis

    9. Ao final de 2012, existiam 2.857 acordos bilaterais de investimento (BITs) assinados no mundo (UNCTAD, 2013).

  • 28 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    razes para isto seria a incluso de captulos sobre investimentos nos acordos de livre comrcio que os pases da regio vinham assinando (UNCTAD, 2009).

    Entre os pases da regio, a Argentina o pas com maior nmero de BITs em vigor 55 em 1o de junho de 2013. Na sequncia, aparecem o Chile, com 39; a Venezuela, com 26; o Uruguai, com 25; e o Paraguai, com 21. Na ponta oposta, esto o Brasil, que no possui qualquer acordo em vigor; o Suriname, com apenas um; e a Guiana, com quatro. A Colmbia, que aparece na sequncia com cinco BITs em vigor, somente nos ltimos anos abandonou sua poltica arredia em relao a este tipo de instrumento o primeiro BIT foi assinado pela Colmbia em 2005, com a Espanha, e entrou em vigor dois anos depois. A Espanha, grande investidora na regio, possui BIT com todas as suas ex-colnias na regio, no tem BIT apenas com Brasil, Guiana e Suriname. Alemanha, Frana e China tambm possuem diversos BITs com pases da regio. J os Estados Unidos possuem BIT somente com trs pases sul-americanos: Argentina, Equador e Uruguai.

    TABELA 12Acordos bilaterais de investimentos pases selecionados(Ano de entrada em vigor)

    Argentina Bolvia Brasil Chile Colmbia Equador Guiana Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela

    Argentina

    Bolvia 1995

    Brasil - -

    Chile 1995 1999 19941

    Colmbia - - - -

    Equador 1995 1997 - 1996 -

    Guiana - - - - - -

    Paraguai - 20011 - 1997 - - -

    Peru 1996 1995 - 2001 2010 1999 - 1994

    Suriname - - - - - - - - -

    Uruguai - - - 20101 - - - - - -

    Venezuela 1995 - 19951 1995 - 1995 - 1997 1997 - 2002

    frica do Sul 2001 - - 19981 - - - 1974 - - - -

    Alemanha 1993 1990 19951 1999 - 1999 1994 1998 1997 - 1990 1998

    China 1994 1996 - 1995 2012 1997 2004 - 1995 - 1997 -

    Espanha 1992 2002 - 1994 2007 1997 - 1996 1996 - 1994 1997

    Estados Unidos 1994 - - - - 1997 - - - - 2006 -

    Frana 1993 1996 19951 1994 - 1996 - 1980 1996 - 1997 2004

    ndia 2002 - - - 2012 - - - - - 20081 -

    Rssia 2000 - - - - 19961 - - - - - 2009

    Total 55 17 0 39 5 16 4 21 31 1 25 26

    Fonte: UNCTAD, data-base 01/06/2013.Nota: 1 Ano de assinatura.Obs.: o nmero total apresentado para cada pas considera apenas os acordos em vigor, excluindo-se, portanto, aqueles

    assinados mas que ainda no tiveram efeito.

  • 29As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    Como pode ser visto na tabela 12, o nmero de BITs intrarregionais rela-tivamente pequeno fato que fortemente influenciado por Brasil, Colmbia e Uruguai. Entre os pases da regio, o Peru aquele que mais possui BITs com seus vizinhos da Amrica do Sul, sete; seguido por Venezuela, com seis; e Argentina, Chile e Equador, com cinco. A maior parte dos BITs intrarregionais entrou em vigor nos anos 1990, particularmente entre 1994 e 1997. Aps 2003, foram assinados apenas dois BITs: aquele envolvendo Peru e Colmbia, de 2010, e o firmado entre Chile e Uruguai, do mesmo ano, que, no entanto, ainda no entrou em vigor.

    Esse retraimento regional foi influenciado pelos desdobramentos da crise finan-ceira argentina do incio dos anos 2000. Por conta de polticas adotadas em resposta crise por exemplo, a converso para o peso de todas as obrigaes financeiras em dlar e o congelamento de contas bancrias, que ficou conhecido como corralito, alm do prprio abandono do regime de conversibilidade e da maxidesvaloriza-o cambial , a Argentina tornou-se sujeito de 43 processos arbitrais levados ao Centro Internacional para a Resoluo de Disputas Relativas a Investimentos (em ingls, International Center for the Settlement of Investment Disputes ICSID)10 por investidores de pases com os quais possua BITs que se sentiram prejudicados. A Argentina argumentou que tomou as referidas medidas por extrema necessidade. Alm disso, defendeu a ideia de que, em situaes extraordinrias, como a profunda crise financeira do pas em 2001-2002, um pas tem o direito de realizar aes que possam eventualmente prejudicar investidores que, em situaes normais, seriam consideradas violaes dos BITs. Esta possibilidade estaria inclusive prevista nos BITs assinados pelo pas que incluem clusula sobre eventos no previstos que poderiam colocar em risco a segurana nacional, a manuteno da ordem pblica ou a sade pblica. Contudo, nos quatro primeiros processos julgados, a Argentina foi consi-derada responsvel pelos prejuzos, e condenada a indenizar os investidores (Burke- White, 2008; Alvarez e Khamsi, 2009).11 Estes resultados acabaram por reforar os argumentos daqueles que desconfiam dos BITs enquanto instrumentos legtimos de promoo e proteo de investimentos, pois resguardariam excessivamente os direitos de investidores estrangeiros s custas da soberania dos pases.

    A partir da segunda metade dos anos 2000, na esteira da onda nacionalista e revisionista que tomou parte da Amrica do Sul, a tendncia de arrefecimento do uso de BITs se acentuou. Em 2008, o Equador denunciou nove BITs, a maioria com

    10. O International Center for the Settlement of Investment Disputes (ICSID) uma instituio internacional pertencente ao grupo Banco Mundial, criada em 1966 com o objetivo de facilitar a resoluo de disputas entre investidores estran-geiros e Estados, por meio de procedimentos de conciliao ou arbitrais, visando encorajar os fluxos internacionais de investimentos, mitigando os riscos no comerciais. Ao fim de maio de 2014, contava com 150 membros. Entre os pases sul-americanos, Bolvia, Brasil, Equador, Suriname e Venezuela no so membros do ICSID. 11. Burke-White (2008) critica as decises tomadas pelos tribunais do ICSID, pois estas teriam feito uma leitura muito restrita dos conceitos de necessidade e de circunstncia excepcional. Alvarez e Khansi (2009), ao contrrio, con-cordam com as decises, pois avaliam que no basta o autojulgamento (pela Argentina) para a aceitao dos critrios de necessidade e de circunstncia excepcional nos casos em anlise.

  • 30 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    pases latino-americanos.12 No mesmo ano, a Venezuela denunciou o BIT que tinha com a Holanda (UNCTAD, 2009). Em 2011, a Bolvia denunciou seu BIT com os Estados Unidos (UNCTAD, 2013). As razes apontadas para as denncias so a incompatibilidade entre estes BITs e as novas constituies aprovadas nestes pases. No caso do Equador, por exemplo, a nova Constituio, promulgada em 2008, estabelece que o pas no pode tomar parte em tratados internacionais nos quais abra mo de soberania, concedendo jurisdio a cortes arbitrais internacionais, no caso de controvrsias entre o Estado e entes privados (UNCTAD, 2009).

    Recentemente em 10 de fevereiro de 2014 foi assinado o Protocolo Adi-cional do Acordo Marco da Aliana do Pacfico, que possui um captulo especfico sobre investimentos, o qual inclui questes relativas a expropriaes e transferncias, assim como mecanismos de resoluo de disputas (Alianza del Pacfico, 2014). Por seu turno, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), em suas mais de duas dcadas de existncia, no conseguiu avanar em um acordo de proteo de investimentos.13

    A posio do Brasil

    O fato de o Brasil ter recebido e continuar recebendo elevados volumes de IDE a despeito de no possuir BIT com nenhum pas usado, muitas vezes, como justificativa para a irrelevncia deste instrumento para a atrao de IDE. Alm de gerarem poucos benefcios, os BITs teriam custos muito elevados, pois reduziriam o espao para a adoo de polticas industriais.14 Em publicao de 2009, a CNI avaliou que

    a viso da irrelevncia dos APPIs [Acordos de Proteo e Promoo de Investimentos] para o Brasil parece defensvel sob a tica de um pas que exclusivamente receptor de IDE e tem fatores de atrao relevantes, como um grande mercado domstico e legislao estvel e liberal em relao ao capital estrangeiro (CNI, 2009, p. 3).

    Contudo, o documento defendeu a reviso da postura oficial brasileira frente aos acordos devido emergncia do pas como investidor no exterior em anos recentes:

    esse o fato novo que questiona a avaliao de custo/benefcio que levou o Brasil a rejeitar os APPIs. (...) Os APPIs podem ser vistos como instrumento adicional de apoio internacionalizao das empresas brasileiras, movimento que o governo j incentiva, principalmente por meio do BNDES (CNI, 2009, p. 5).

    Empresas que atuam em setores intensivos em recursos naturais e em infra-estrutura tm especial necessidade de proteo quando investem no exterior, por

    12. Os BITs encerrados envolviam Cuba, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicargua, Paraguai, Repblica Dominicana, Romnia e Uruguai.13. Esse assunto retomado na prxima subseo.14. Muitos BITs incluem clusulas sobre expropriao indireta, que, a rigor, no trata de transferncia de propriedade, mas de qualquer medida tomada por um governo que possa ser prejudicial ao investidor estrangeiro por exemplo, um aumento no pagamento de royalties pela explorao de recursos naturais.

  • 31As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    conta da possibilidade de comportamentos oportunistas por parte do governo do pas receptor do investimento na literatura terica isto conhecido como a abordagem do poder de barganha (Vernon, 1980).

    O Brasil chegou a negociar quatorze BITs entre 1994 e 1999.15 Contudo, nenhum entrou em vigor, porque no foram ratificados pelo Congresso Nacional.16 O teor dos acordos deu origem a muita controvrsia, por conta de oferecerem a investidores estrangeiros certas garantias e benefcios que no eram assegurados aos investidores nacionais, alm de dificultarem a adoo de polticas industriais.17 Depois de 1999, o Brasil deixou de negociar novos acordos. Durante a transio poltica entre o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e o governo de Luiz Incio Lula da Silva, em 2002, foi criada uma comisso para avaliar os BITs assinados pelo pas. A comisso props a retirada dos processos que estavam em anlise no Congresso Nacional e o no envio para apreciao dos acordos que ainda no tinham sido submetidos.

    O nico processo no retirado poca foi o do acordo multilateral do Mercosul (Soliani, 2004). Este acordo foi assinado pelo governo brasileiro em 1994 e tinha como objetivo harmonizar os princpios jurdicos gerais a serem aplicados pelos Estados-parte aos investimentos estrangeiros oriundos de fora do bloco de forma a no criar condies diferenciais que distorcessem os fluxos de investi-mentos, o que, em termos prticos, implicava estabelecer parmetros mximos a serem concedidos nas negociaes bilaterais com pases no membros do bloco (Azevedo, 2001). Depois de uma dcada em tramitao no Congresso Nacional, tendo sido aprovado por quatro comisses, o governo retirou o projeto em 2004 por se opor a alguns pontos.

    Conforme o Ministrio das Relaes Exteriores (MRE), a postura brasileira de no negociar acordos tradicionais de proteo de investimentos se deve no aceitao de algumas clusulas muito comuns neste tipo de acordo, referentes proteo de investidores internacionais em detrimento de polticas e interesses nacionais. A mais contestada delas a possibilidade do investidor estrangeiro de recorrer unilateralmente arbitragem internacional em caso de controvrsia,

    15. Os acordos foram negociados com os seguintes pases: Chile, Portugal, Reino Unido e Sua, em 1994; Alemanha, Coreia do Sul, Dinamarca, Finlndia, Frana, Itlia e Venezuela, em 1995; Cuba, em 1997; Holanda, em 1998; e Blgica e Luxemburgo (um nico acordo para os dois pases), em 1999. 16. Dos quatorze acordos bilaterais negociados, apenas seis chegaram a tramitar no Congresso Nacional, quais sejam, os referentes Alemanha, ao Chile, Frana, a Portugal, ao Reino Unido e Sua. Alm destes, o acordo multilateral no mbito do Mercosul, de 1995, tambm foi apreciado no Congresso Nacional (Azevedo, 2001).17. Os acordos estabeleciam, por exemplo, que a indenizao pela desapropriao de terras para fins de reforma agrria deveria ser paga em moeda conversvel, enquanto o pagamento feito a brasileiros era em ttulos da dvida agrria, resgatveis em at vinte anos. Alm disso, os acordos estabeleciam o compromisso com a livre transferncia de recursos, independentemente da disponibilidade de divisas pelo pas, o que, obviamente, representava um tratamento diferenciado em relao ao dispensado aos nacionais.

  • 32 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    o que o colocaria em condio de igualdade com o Estado brasileiro perante a corte arbitral. Em funo disso, a partir de 2005, o Poder Executivo e o Congresso passaram a trabalhar no desenvolvimento de um modelo aceitvel para o Estado brasileiro. No Poder Executivo, um grupo de trabalho articulado pela Cmara de Comrcio Exterior (Camex) formulou um modelo de acordo de investimentos com nfase nos tpicos referentes ao escopo da definio do investimento, soluo de controvrsias e a expropriaes. O objetivo que a soluo de controvrsias seja no mbito Estado-Estado e que somente as expropriaes diretas sejam passveis de compensao financeira pelo Estado (Camex et al., 2009).

    O Brasil no seria o nico pas a buscar novos modelos de BITs. Conforme UNCTAD (2010), diversos pases como frica do Sul, Alemanha, Estados Unidos, Frana, Mxico, Rssia e Turquia, entre outros tm buscado, nos ltimos anos, a reviso de seus modelos em ordem a: i) estabelecer regras mais claras e precisas; ii) assegurar consistncia com o interesse pblico e a agenda econmica do pas, incluindo o direito de regulao; iii) buscar o equilbrio entre a proteo aos investidores e o pas receptor do investimento, levando em conta os efeitos adversos da arbitragem investidor-Estado; e iv) ajustar o modelo de BIT a novas realidades, como interpretaes dos tribunais arbitrais (UNCTAD, 2010, p. 85).

    Em 2010, o governo brasileiro chegou a manifestar interesse na adoo de um acordo de proteo de investimentos no mbito do Mercosul (Monteiro, 2010). No mesmo ano, foi noticiado que o pas estaria negociando um BIT com o Chile, que serviria de piloto para outros acordos que o pas viesse a adotar no futuro. Conforme Simo (2010), o interesse do governo por retomar este tipo de negociao estaria relacionado a presses de empresas no sentido de se proteger de onda estatizante que se alastra na Amrica do Sul em pases como Venezuela, Bolvia e Equador. Contudo, estas iniciativas no chegaram a prosperar.

    Entidades representativas do setor privado tm demonstrado apoio realiza-o de acordos por parte do Brasil nos ltimos anos. A Confederao Nacional da Indstria (CNI) tem defendido a negociao de BITs de forma a reduzir os riscos polticos em pases como Argentina, China, Mxico, Moambique e Angola (CNI, 2013; Oliveira, 2014). Do mesmo modo, o Conselho de Comrcio Exterior do Mercosul (Mercoex), entidade que congrega instituies representativas do setor privado dos pases membros do bloco, tambm vem defendendo a adoo de um acordo de proteo de investimentos no mbito do Mercosul (Mercoex, 2013).18

    18. O Conselho de Comrcio Exterior do Mercosul (Mercoex) integrado pela Associao de Comrcio Exterior do Brasil (AEB), pela Cmara de Exportadores de la Repblica Argentina (Cera), pela Cmara de Importadores del Paraguay (CIP) e pela Unin de Exportadores del Uruguay (UEU).

  • 33As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    No fim de 2013, o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) comunicou que havia concludo um novo modelo de Acordo de Cooperao e Facilitao de Investimentos, cujos principais objetivos seriam: i) melhoria da governana institucional; ii) agendas temticas para cooperao e facilitao dos investimentos; e iii) mecanismos para mitigao de riscos e preveno de controvrsias. Contudo, o contedo do documento no foi divulgado. Segundo o MDIC, o novo modelo j teria sido apresentado a diversos pases africanos e, em breve, tambm o seria a parceiros da Amrica Latina.19

    3.2.2 Acordos para evitar a bitributao

    Diferentemente do que ocorre com os BITs, o Brasil o pas sul-americano que possui maior nmero de acordos para evitar a bitributao do capital (em ingls, double tax treaties DTTs). 20 Conforme a UNCTAD, havia 25 DTTs assinados at 1o de junho de 2013, a maior parte deles com pases desenvolvidos o acordo mais antigo, de 1967, foi firmado com o Japo. Depois do Brasil, a Venezuela o pas da Amrica do Sul com maior nmero de DTTs, 21; seguida da Argentina, com vinte; e do Chile, com dezenove. Os demais pases da regio possuem poucos DTTs, como pode ser observado na tabela 13.

    So muito poucos os DTTs intrarregionais: apenas oito, dos quais trs en-volvem o Brasil, tendo como contrapartes o Chile, o Equador e a Argentina. Alm deste, a Argentina possui DTT com o Chile e com a Bolvia. O Chile, por sua vez, possui acordos com a Colmbia, o Paraguai e o Peru, alm dos dois j mencionados. A Espanha possui DTTs com sete pases da regio, incluindo o Brasil. Os Estados Unidos possuem DTT com a Argentina, o Chile e a Venezuela. J a China possui DTT apenas com o Brasil na Amrica do Sul.

    19. Alguns autores, como Vianna (2010) e Nyko (2011) ressaltam a importncia do Convnio de Pagamentos e Crditos Recprocos (CCR), existente no mbito da Associao Latino-americana de Integrao (Aladi), para a mitigao de riscos, inclusive polticos, nas relaes entre empresas brasileiras e os vizinhos sul-americanos. De acordo com Nyko (2011), importantes operaes financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), como gaso-dutos na Argentina e a hidreltrica de San Francisco no Equador, no teriam se viabilizado sem o uso do CCR. Contudo, devido sua prpria natureza, o CCR protege apenas os pagamentos referentes a exportaes, no cobrindo os recursos transferidos em forma de IDE. Sinteticamente, o CCR funciona como uma cmara de compensao entre os bancos centrais dos pases signatrios, que ao mesmo tempo mantm linhas de crdito entre si. Quando um importador obtm uma garantia ou carta de crdito de um banco em seu pas e esta operao cursada no CCR, cria-se um dbito do banco central deste pas em favor do banco central do pas exportador. Esse dbito irrevogvel e conta com garantia de conversibilidade, transferibilidade e pagamento por parte do banco central devedor (Vianna, 2010, p. 105-106).20. Essa subseo no considera os acordos para evitar a bitributao dos rendimentos de pessoas fsicas.

  • 34 Os BRICS e seus Vizinhos: investimento direto estrangeiro

    TABELA 13Acordos para evitar bitributao do capital pases selecionados(Ano de assinatura)

    Argentina Bolvia Brasil Chile Colmbia Equador Guiana Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela

    Argentina

    Bolvia 1976

    Brasil 1980 -

    Chile 1976 - 2001

    Colmbia - - - 2007

    Equador - - 1983 - -

    Guiana - - - - - -

    Paraguai - - - 2005 - - -

    Peru - - - 2001 - - - -

    Suriname - - - - - - - - -

    Uruguai - - - - - - - - - -

    Venezuela - - - - - - - - - - -

    frica do Sul - - - - - - - - - - - -

    Alemanha 1996 1992 19751 - - 1982 - - - - 2010 1995

    China - - 1991 - - - - - - - - -

    Espanha 1992 1997 1974 2003 2005 1991 - - - - 2009 -

    Estados Unidos 1981 - - 2010 - - - - - - - 1999

    Frana 1979 1994 1971 2004 - 1989 - - - - - 1992

    ndia - - 1988 - - - - - - - - -

    Rssia 2001 - - 2004 - - - - - - - -

    Total 20 6 25 19 4 7 2 2 3 1 7 21

    Fonte: UNCTAD, data-base 01/06/2011.Nota: 1 O acordo do Brasil com a Alemanha no vigora desde 1o de dezembro de 2006, conforme a Receita Federal do Brasil.

    Disponivel em: http://www.receita.fazenda.gov.br/principal/ingles/Acordo/DuplaTributDefault.htm>

    Vrios estudos feitos com base em entrevistas e aplicao de questionrios a executivos de ETNs brasileiras tm verificado que a dupla tributao representa um dos maiores desestmulos ao aumento dos investimentos no exterior (Alm e Madeira, 2010; CNI, 2013). Conforme enquete realizada pela Fundao Dom Cabral (FDC, 2013, p. 14) com um conjunto de ETNs brasileiras, firmar acordos para evitar a bitributao favorece bastante a internacionalizao das firmas, com impacto quase to importante quanto promover acordos regionais ou bilaterais de comrcio.21

    Todavia, a despeito das vantagens tributrias para as empresas advindas dos DTTs, permanece um elevado grau de incerteza em relao interpretao dada pelas autoridades fiscais e judicirias aos tratados celebrados pelo Brasil (Pereira, 2012), o que acaba impactando negativamente os investimentos no exterior. Recentemente, dois casos semelhantes foram julgados de forma distinta por dois

    21. Em uma escala de 1 (prejudica muito) a 5 (favorece muito), os acordos para evitar a bitributao (BITs) alcanaram 3,91, enquanto os acordos regionais de comrcio atingiram 4,21, e os bilaterais, 4,18 (FDC, 2013, p. 14).

  • 35As Relaes de Investimento Direto entre o Brasil e os Pases de seu Entorno

    rgos federais. No primeiro, o Superior Tribunal de Justia (STJ) decidiu que o Brasil no pode tributar os lucros auferidos por subsidirias da Vale na Blgica, na Dinamarca e em Luxemburgo, uma vez que estes pases possuem DTT com o Brasil. O entendimento foi que as disposies de tratados internacionais tributrios prevalecem sobre normas de direito interno (STJ, 2014). No segundo caso, envol-vendo uma subsidiria da fabricante de embalagens Rexam no Chile, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais entendeu que a cobrana de Imposto de Renda da Pessoa Jurdica (IRPJ) e da Contribuio Social sobre o Lucro Lquido (CSLL), de acordo com a Medida Provisria no 2.158/2001, no contraria os DTTs e por isso a empresa deve ser tributada (Mengardo, 2014).

    Apesar de a bitributao ser um fator de desestmulo realizao de IDE, Pereira (2012) considera que a vedao ao diferimento do recolhimento de tribu-tos alm do ano-calendrio era o maior problema da legislao tributria para as ETNs brasileiras parcialmente sanado com a promulgao da Lei no 12.973, em 13 de maio de 2014. Em sua avaliao, isto gerava um nus concorrencial para as controladas e coligadas de empresas nacionais frente aos seus competidores em mercados internacionais, que podem contar com o diferimento at o momento em que os lucros so expatriados (Pereira, 2012, p. 216).

    At a sano da Lei no 9.249/1995, no se tributava no Brasil a atividade realizada por subsidiria de empresa brasileira no exterior. Esta lei introduziu a tributao sobre os rendimentos, com o pagamento do imposto sendo devido no ano de apurao do resultado contbil (Brasil, 1995). A Lei no 9.532/1997 alterou esta sistemtica, permitindo o diferimento do pagamento at o ano da efetiva disponib