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Elvys Patrick Ferreira de Oliveira OS ACORDOS DE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA DO MERCOSUL: Uma análise a partir dos jogos de dois níveis Belo Horizonte Julho, 2009

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Elvys Patrick Ferreira de Oliveira

OS ACORDOS DE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA DO MERCOSUL: Uma análise a

partir dos jogos de dois níveis

Belo Horizonte

Julho, 2009

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Elvys Patrick Ferreira de Oliveira

OS ACORDOS DE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA DO MERCOSUL: Uma análise a

partir dos jogos de dois níveis

Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora designada

pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Relações

Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre

em Relações Internacionais.

Belo Horizonte

Julho, 2009

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ELVYS PATRICK FERREIRA DE OLIVEIRA

OS ACORDOS DE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA DO MERCOSUL: Uma análise a

partir dos jogos de dois níveis

Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora designada pelo Colegiado do

Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica

de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em

Relações Internacionais.

______________________________________________________________________

Prof. Dra. Taiane Las Casas (PUC Minas) - Orientadora

Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais (PUC Minas)

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Soares Neves Silva

Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais (PUC Minas)

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Paris Yeros

Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais (PUC Minas)

Belo Horizonte

Julho, 2009

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Aos meus pais Arivaldo e Mara, também a meus tios Antônio e Gilda. A meus avós Gilberto, Dazinha, Elviro e Benita.

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AGREDECIMENTOS

A Deus, a Ele. Agradeço a professora Taiane

Las Casas por toda sua paciência, compreensão

e colaboração. A minhas irmãs Luma, Raquel e

Heloísa; meus tios Oracino, Márcia, Gil e

Lene; meus amigos Rodrigo, Vítor, Rafael,

Aécio, Hanna, Ravel, Hudson, Leopoldo Filho,

Paulo Ricardo e Marlene Moura; A Ivana, que

foi parte significante e propulsora desse sonho,

meu reconhecimento. Obrigado.

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EPÍGRAFE

“Nenhum homem consegue banhar-

se por duas vezes no mesmo rio”

Heráclito de Éfeso

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RESUMO

A integração educativa no MERCOSUL é condição para uma integração regional plena.

Contudo, mesmo sendo condição essencial e importante para o processo integracionista do

bloco, para acontecer a integração educativa devem existir adequações nos sistemas

educacionais de cada país-membro. Há acordos e protocolos concernentes a integração

educativa que são tramitados e tramitaram dentro das grupos e sub-grupos do MERCOSUL,

alguns ratificados outros pendentes. Dentro do bloco, não só os negociadores internacionais,

representantes de cada país-membro, participam ativamente das negociações, como as

instituições domésticas de cada país tem papel fundamental, já que de acordo com Putnam e a

metodologia dos jogos de dois níveis, o nível doméstico influencia as decisões do nível

internacional. Há possibilidades para a integração e validação de diplomas e certificados

entre os membros do MERCOSUL, no entanto deverá haver uma preparação, adequação,

fiscalização efetiva e criação de um setor regulador dos sistemas educacionais de cada país

que deverá passar a ser único.

Palavras-chave: Integração, MERCOSUL, educação, acordos, instituições.

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ABSTRACT

The educational integration in MERCOSUL is a condition for full regional integration.

However, while important and essential condition for the integration process of the block, the

integration to happen there must be educational adequacy in education systems of each

member country. There are agreements and protocols related to educational integration and

procedures that are conducted within the groups and sub-groups of MERCOSUL, some other

pending ratification. Within the block, not only the international negotiators, representatives

of each member country, participate actively in the negotiations, as the domestic institutions

of each country has a fundamental role, since according to Putnam and methodology of the

games of two levels, the domestic influence the decisions of international level. There are

opportunities for integration and validation of diplomas and certificates among the members

of MERCOSUL, however there should be a preparation, adequacy, effective supervision and

creation of a sector regulator of the educational systems of each country that it should be

unique.

Key-words: Integration, MERCOSUL, Education, agreements, institutions

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SUMÁRIO:

1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO E A ESTRUTURA INSTITUCIONA L DO MERCOSUL........ 16

1.1 INTEGRAÇÃO REGIONAL ..................................................................................................................... 16 1.2 A RACIONALIDADE DOS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO........................................................................ 19

1.2.1 A Metodologia dos jogos de dois níveis......................................................................................... 22 1.3 INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL: MERCOSUL ............................................................................. 24 1.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO MERCOSUL E NEGOCIAÇÃO DE ACORDOS SOBRE EDUCAÇÃO.. 29

2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA EDUCACIONAL DOS PAÍSES DO MERCOSUL........................................................................................................................................................ 33

2.1 OS SISTEMAS EDUCACIONAIS DOS PAÍSES DO MERCOSUL............................................................... 39 2.1.1 Sistema Educacional Argentino..................................................................................................... 40 2.1.2 Sistema Educacional Paraguaio.................................................................................................... 41 2.1.3 Sistema Educacional Uruguaio ..................................................................................................... 41 2.1.4 Sistema Educacional Brasileiro .................................................................................................... 42

3 A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO MERCOSUL ......................................................................... 53

3.1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA NO MERCOSUL ............................................................. 56

4 PROTOCOLOS E ACORDOS REFERENTES À EDUCAÇÃO NO MERCOSUL........................... 61

4.1 PROTOCOLOS E ACORDOS DE RECONHECIMENTO DE DIPLOMAS E CERTIFICADOS DO ENSINO

PRIMÁRIO, MÉDIO E NÃO-TÉCNICO................................................................................................................... 62 4.2 PROTOCOLOS E ACORDOS DE RECONHECIMENTO DE CERTIFICADOS E TÍTULOS DO MERCOSUL NO

ENSINO SUPERIOR............................................................................................................................................. 64 4.3 PROTOCOLO DE INTEGRAÇÃO EDUCACIONAL PARA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS NO NÍVEL DE

PÓS-GRADUAÇÃO ENTRE OS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL E DA REPÚBLICA DA BOLÍVIA ....................... 69 4.4 RECONHECIMENTO DOS TÍTULOS E DIPLOMAS COM PARTICIPAÇÃO DE INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS

EXTRA-MERCOSUL........................................................................................................................................ 69 4.5 ACORDO COMPLEMENTAR DE COOPERAÇÃO ENTRE OS ESTADOS PARTES DO MERCADO COMUM DO

SUL (MERCOSUL) E O CONVENIO ANDRÉS BELLO (CAB) SOBRE RECONHECIMENTO DE ESTUDOS, TÍTULOS E

CERTIFICADOS DE EDUCAÇÃO PRIMÁRIA /BÁSICA E MÉDIA/SECUNDÁRIA NÃO TÉCNICA ................................. 70

5 O EXEMPLO PARAGUAI: A REVALIDAÇÃO PELO BRASIL DOS T ÍTULOS DE MESTRADO E DOUTORADO CONCLUÍDOS NO PARAGUAI........................................................................................ 71

6 INSTITUIÇÕES E GRUPOS DOMÉSTICOS: A FORMAÇÃO DO WIN -SET ................................ 75

6.1 II ENCONTRO DO FÓRUM DE PROCURADORES-CHEFES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO

SUPERIOR (IFES) ................................................................................................................................................ 82

7 CONCLUSÃO............................................................................................................................................ 83

8 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 87

9 ANEXOS..................................................................................................................................................... 92

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Relação Entre Desigualdade Social e Média de Escolaridade........... 47

Gráfico 2 População Carcerária por Grau de Instrução/Brasil ....................... 49

Gráfico 3 População Carcerária por Anos de Estudo ........................................ 51

Gráfico 4 Relação entre Taxa de Crescimento Econômico e Educação ........... 51

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Recursos para a Educação.......................................................................... 37

Tabela 2 Informações Gerais sobre os Países do MERCOSUL.............................. 38

Tabela 3 Idades Teóricas para Cursar a Graduação............................................... 40

Tabela 4 Comparativo de Escolaridade.................................................................... 48

Tabela 5 Gasto por Aluno de Acordo com o Nível de Ensino em 2006 (dólares).. 58

Tabela 6 Porcentagem do Gasto Público com Educação Dentro do Gasto Público Total por Nível de Ensino – 2006 ...............................................

58

Tabela 7 Taxas de Aprovação, Reprovação e abandono por nível de ensino – 2006 ..............................................................................................................

59

Tabela 8 Indicadores Globais – Analfabetismo e docentes por aluno................... 59

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LISTA DE SIGLAS

ABRAMEX Argentina, Brasil e México

ACE Acordo de Complementação Econômica

ALADI Associação Latino-americana de Integração

ALALC Associação Latino Americano de Livre Comércio

BID Bando Interamericano de Desenvolvimento

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe

FUNAP Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel De SP

IESEM Indicadores Estadísticos Del Sistema Educativo del Mercosur

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LAMs Lista de Abertura de Mercado

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

ONU Organização das Nações Unidas

PMDRs Países de Menor Desenvolvimento Relativo

PREC Programa de Recuperação e Expansão do Comércio

PTR Preferência Tarifária Regional

RTNS Referência Tarifária Nacional

UNILA Universidad de Integração Latino-Americana

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INTRODUÇÃO

O MERCOSUL é o hoje a grande alternativa para os países do cone sul do

continente americano para o crescimento comercial e solidificação no cenário internacional.

A União Européia pode ser um exemplo do caminho a ser trilhado pelos paises do

MERCOSUL, no sentido de viabilizar os ganhos oriundos do processo de integração.

Uma moeda comum para o MERCOSUL, uma universidade que irá integrar os

quatro países-membro do MERCOSUL, livre circulação de pessoas, facilitação da

comercialização de produtos são só alguns dos almejos do MERCOSUL. Contudo, nada

disso será realizado se não houver um tipo de integração que permita e possibilite todas essas:

a integração educativa.

Este trabalho irá tratar das tentativas de integração educativa por parte dos membros

do MERCOSUL, seus entraves, suas negociações analisadas a luz da metodologia de Putnam,

metodologia dos jogos dos dois níveis. A partir dessa metodologia, buscamos analisar como

as instituições e grupos domésticos se posicionaram frente as negociações acerca da

integração educativa. Foram analisados casos reais de cidadãos brasileiros que buscaram

títulos e certificados em países do MERCOSUL, principalmente o Paraguai, e ao

conseguirem, se deparam com dificuldades de revalidação e na maioria das vezes uma total

ineficácia do diploma conseguido no Paraguai junto as instituições brasileiras. As instituições

domésticas foram analisadas a partir de suas páginas na internet e suas notícias e comunicados

contidas nestas páginas.

Assim, este trabalho discutirá os acordos e protocolos concernentes a educação, bem

como seus meandros de negociação no âmbito internacional como doméstico. Será

apresentada uma breve discussão da importância da educação e da dificuldade de se fazer uma

integração educativa hoje no MERCOSUL. Tendo em vista que, mesmo a integração

educativa sendo essencial para uma integração regional, há de encontrar na própria integração

um mínimo de conformação das políticas e práticas aplicadas na execução e inserção do

sistema educacional de cada país membro do bloco.

Será estudado o processo de integração do MERCOSUL, sua história, formação,

origem e tendências, assim como a estrutura institucional do bloco com experiência prática de

um protocolo da própria integração educativa. Um acordo foi tomado como exemplo para

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melhor entender o processo interno de propostas de acordos até sua possível ratificação. Serão

revisadas as principais características das estruturas educacionais de cada país do

MERCOSUL, dados, diferenças e nuances de uma equiparação dos sistemas de cada país para

uma integração educativa.

Serão observados as instituições domésticas, grupos de interesse e formação do win-

set nas tentativas da integração educativa do MERCOSUL. A observação a essas instituições

domésticas será realizada a partir de suas páginas na internet, tendo em vista a dificuldade de

obter informações a respeito do integração educativa junto aos representantes dessas

instituições. A pesquisa será feita na forma de análise de discurso a partir de notícias, papers e

comunicados dispostos nas páginas de internet dessas instituições domésticas.

A própria integração educativa do MERCOSUL será tratada através de seus

protocolos, acordos e do caso específico referente a validação de diplomas e certificados

obtidos no Paraguai por brasileiros. Caso, esse, comum nas tentativas de obtenção de título de

mestres e doutores.

A integração educativa faz-se necessária para que exista uma integração regional

realmente efetiva do MERCOSUL. Para que a integração educativa aconteça às matrizes

curriculares dos níveis educacionais de cada país-membro devem estar adequadamente

equiparados, além de, antes disso, as economias devem estar ao menos equiparadas e prontas

para investir igualmente na educação, ou ainda que corrijam suas diferenças, principalmente

de dispêndio a educação. No entanto, além das dificuldades de equiparações, há ainda a

influência exercida pelas instituições e grupos internos, neste trabalho principalmente

brasileiros, que exercem influencias sobre as negociações internacionais, além de influenciar

no win-set.

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1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO E A ESTRUTURA INSTITUCIONA L DO MERCOSUL

1.1 Integração Regional

A integração regional tem sua origem no período pós-segunda guerra, processo esse

que foi intensificado com a busca dos países pelo fortalecimento econômico fragilizado pela

segunda guerra. Após a segunda guerra surgiu uma onda integracionista na qual - algumas

décadas depois, especificamente duas - já havia autores, como Haas (1967) e Belassa (1964),

que escreveram obras que se dedicavam exclusivamente a essa teoria ou davam uma maior

importância ao processo de integração dentro das Relações Internacionais. Também autores

da economia internacional como Gregory (1921) Harbeler (1937), e Viner (1950), em seus

estudos sobre as uniões aduaneiras, já demonstravam preocupação com a integração entre as

nações.

Num primeiro momento, no pós-segunda guerra, os processos de integração foram

dominados por temas de segurança e de alianças entre os países, isso porque o ambiente

internacional naquela situação era propício para tal. Já em períodos mais recentes e,

inicialmente, pós-guerra fria, aumentaram significamente as tentativas de integração regional

com o foco em questões de comércio, em políticas sociais e políticas de desenvolvimento e

em políticas econômicas. A integração regional tem por finalidade a interação entre os países

em vários setores. O processo de integração implica em fazer com que os Estados busquem

resolver seus dilemas de cooperação, através de arranjos institucionais. Por isso, muitas vezes,

se confunde integração regional com a cooperação regional. Neste sentido, pode vir à tona a

dúvida, se de fato blocos econômicos como o MERCOSUL são processos de integração ou

cooperação. Essa dúvida faz sentido porque autores integracionistas divergem em alguns

aspectos do real conceito de integração regional, podendo, até, alguns deles vincularem o seu

sentindo ao da cooperação internacional. Mariano e Mariano (2002) fazem, de forma clara, a

distinção entre integração e cooperação:

A integração regional é mais ampla que a cooperação internacional porque pode resultar em novas unidades ou entidades políticas ou, ainda, em uma mudança

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nessas últimas. É a representação dessa alteração, ao criar algo novo em que pode haver uma transferência formal ou informal de poder decisório para sua estrutura institucional. A integração regional, portanto, não se restringe à esfera governamental ou à cooperação intergovernamental, atinge a sociedade como um todo, gerando interações (MARIANO e MARIANO, 2002 p.31).

Keohane (1984) também faz essa diferenciação e entende que a integração está

ligada à harmonização de políticas e é mais intensa que a cooperação. Segundo Keohane

(1984), para haver harmonização, deve existir uma integração superior entre os Estados-parte

e somente com a cooperação poderá haver uma mudança de conduta para amenizar situações,

o que muda o comportamento dos países envolvidos em benefício de seus demais parceiros.

Assim, entende-se que um Estado procura a integração regional, que é muito mais abrangente

que a cooperação, para sanar ou se resguardar de alguma deficiência, mesmo que, para isso,

perca em outro aspecto sobre o qual já tenha domínio ou que não seja importante naquele

momento.

Percebe-se ainda que a integração não só existe para superar deficiências, mas

também para maximizar os benefícios de um ou de todos os Estados-parte envolvidos no

processo integracionista. A integração regional pode funcionar como um fomentador de

crescimento e desenvolvimento de setores internos de cada país da integração regional.

Ademais, a diminuição dos custos das transações entre os países motiva-os para a integração

regional, tendo em vista que dentro do arranjo institucional de uma integração ocorre o

processo de redução de alíquotas e aumento das vantagens nas transações. Esse processo de

favorecimento e criação de facilidades de negociação entre os países de uma integração é o

mecanismo que demonstra resultados mais imediatos.

Para Muñoz (1996), por exemplo, a Iintegração deve ser fundada através de “um

processo de construção paciente, um caminho longo que, agora, nos novos tempos, torna-se

mais possível do que nunca" (MUÑOZ, 1996, p. 121). Os autores integracionistas

intergovernamentalistas, cientes dessa interação entre os povos, mesmo reconhecendo que os

resultados positivos podem não ser imediatos, entendem que a integração se tornou uma

necessidade e não mais uma opção de novos mercados. Brum (1995) corrobora dizendo que

“a integração permite fortalecer suas presenças no cenário mundial, pois, no atual contexto

econômico mundial, nenhuma nação consegue avançar sozinha" (BRUM, 1995, p. 7). Apesar

destes autores concordarem que a integração leva tempo para gerar frutos, Viner (1950), pelo

contrário, diz que os efeitos de uma integração podem sim ser imediatos.

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Ao analisar os impactos da integração comercial, Viner considera que há custos e

benefícios desse tipo de integração, além de uma maior circulação de serviços e uma

multiplicação das transações internacionais, o que resulta no aumento produtivo dentro da

Integração. Viner (1950) acrescenta que o elemento essencial para viabilizar o comércio entre

os Estados integrados é a tarifa reduzida, seja ela de qualquer grau, mesmo porque qualquer

redução proporcionaria incentivos para a criação de novos mercados e o desvio do fluxo

comercial para outros mercados. Países que tivessem compras e destinações de produtos a

outros Estados não integrados se voltariam para os que estivessem integrados por meio do

favorecimento tarifário.

Enfim, a integração regional é “a existência de sentido de comunidade, de

instituições e de práticas” (DEUTSCH, 1957, p.23-25) a qual traz benefícios para os

participantes, até porque para haver integração deve haver interações entre os Estados. Essas

interações não devem ser exclusivamente entre seus governantes, mas carecem ser também

entre seus povos, instituições e estruturas sociais. Dessa forma, o processo de integração

implica o estreitamento de laços econômicos, políticos e sociais entre países que, muitas

vezes, se caracterizam por diferenças substantivas em termos de riquezas, recursos produtivos

e graus de desenvolvimento econômico.

A despeito das eventuais grandes assimetrias, Estados buscam, no processo de

integração, a complementaridade de suas estruturas econômicas, a ampliação de seus

mercados, as trocas de suas experiências culturais, além de viabilizarem as alianças com

vistas a ampliarem seus espaços políticos no ambiente multilateral. Além disso, uma

importante contribuição que a integração, principalmente educativa, pode gerar para o

desenvolvimento econômico e social, especialmente dos parceiros menores, é a possibilidade

de formação de mão de obra qualificada e difusão de conhecimentos e de tecnologia entre

seus Estados-membros.

Conforme veremos adiante, a integração educativa é uma parte importante do

processo de integração promovido pelo MERCOSUL. Além desse, há somente um caso de

integração no qual a educação é contemplada. A União Européia, após mais de meio século de

construção do bloco, incorporou a integração educativa em seu marco regulatório. Isso torna o

MERCOSUL um caso impar, uma vez que é o único processo de integração de países em

desenvolvimento que prevê a integração educativa.

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1.2 A Racionalidade dos Processos de Integração

O processo de integração entre Estados é, antes de qualquer coisa, a construção de

arranjos institucionais. A vertente institucionalista dos estudos em Relações Internacionais

entende que os Estados, assim como os agentes econômicos, atuam como agentes racionais,

que buscam maximizar seus ganhos e minimizar seus custos nas interações com outros

Estados. Para tanto, os Estados criam instituições que, além de conformarem seus

comportamentos e expectativas, existem, segundo os institucionalistas, para reduzir as falhas

do mercado, ou seja, as externalidades negativas, a assimetria de informações e, por fim,

viabilizar a provisão de bens públicos. Além disso, as instituições são criadas para reduzir os

custos de transação, ou seja, de elaboração, execução e monitoramento de contratos

estabelecidos entre os Estados (HAAS, 1967).

Os acordos regionais, enquanto arranjos institucionais, podem reduzir os custos de

transação e o número de acordos bilaterais. Podem ainda constituir fator decisivo em difundir

as externalidades positivas de atividades desenvolvidas no interior de seus Estados-membros.

Por fim, podem ainda prover o bem público, qual seja a difusão do conhecimento e da

tecnologia entre parceiros com diferentes graus de desenvolvimento econômico e social

(HAAS, 1967).

A teoria institucionalista na teoria da integração explica a onda integracionista do

pós-guerra fria, que teve como conseqüência o surgimento de instituições como ALADI1 e

ALALC 2. Essas instituições tiveram, no cerne do seu processo integracionista, fatores como a

integração comercial, econômica e a de serviços, mas não consideraram o fator segurança

como o núcleo do processo de integração. Muitas vezes, as referidas instituições de integração

regional nem fizeram lembrar em seus tratados de formação termos como segurança, alianças

ou proteção mútua.

Keohane (1989) faz lembrar que a interdependência dos Estados é um importante

elemento para a criação e manutenção dos processos de integração. Conforme Keohane

(1989), o processo de integração regional é intensificado na medida em que os participantes

reduzem suas incertezas. Belassa (1964) acrescenta que a integração é um processo no qual os

1 Associação Latino-americana de Integração foi criada como uma sucessora da ALALC, instituída em 12 de agosto de 1980. 2 Associação Latino Americano de Livre Comércio, instituída a partir da assinatura do tratado de Montevidéu em 18 de fevereiro de 1960.

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países decidem formar grupos regionais, e que isso só ocorre com o comprometimento dos

países na aproximação entre setores sociais, econômicos e políticos.

Outra vertente teórica que trata dos processos de integração é a

intergovernamentalista. Defendida por Moravcsik (1994), essa vertente também se baseia na

premissa de que os Estados são dotados de racionalidade e que a forma de ação dos Estados

depende das influências internas de seus grupos domésticos e do ambiente externo. Moravcsik

(1994) considera que o processo de integração vai depender da oferta de estruturas

institucionais e da demanda por integração. A oferta se dá pelas interações possíveis

estabelecidas no nível dos Estados e a demanda, por sua vez, pela disposição e interesses dos

grupos domésticos em criar arranjos institucionais com grupos de outros Estados. A teoria

ainda explica que os Estados têm a faculdade de propor discussões e também de negociar

entre os Estados integrados. Para a teoria Intergovernamentalista, a interdependência é

condição fundamental para que ocorra a integração regional entre os Estados. A teoria

defende com otimismo o processo integracionista, de forma que os Estados tendem a buscar

integração para aumentar seus ganhos e participações no cenário internacional, através de

barganhas em defesa de seus interesses junto aos outros Estados (MORACVSIK, 1994).

A teoria proposta por Moravcsik (1994) apresenta os interesses dos grupos

domésticos como elemento importante para a execução de acordos regionais. Esse é um

diferencial em relação às proposições teóricas das Relações Internacionais em geral e dos

institucionalistas em particular. O autor defende que os Estados são representantes dos

grupos domésticos, que, em nome deles e a partir de seus interesses, estabelece acordos nos

níveis regional ou multilateral. Nesse ponto Moravcsik (1994) não faz menção à autonomia

que as instituições adquirem depois de formadas.

Moravcsik (2003) coloca as instituições privadas como fundamentais para o sustento

da sua teoria. Como a gama de instituições dentro de um Estado pode ser vasta, a tendência é

que as opiniões e, conseqüentemente, influências sobre determinados temas, sejam bem

diversificadas. Para o autor há competição entre os níveis internacional e doméstico. A

posição harmônica da relação internacional/doméstica depende dos interesses defendidos por

cada um dos níveis. Assim é entendido que a integração, seja ela em qualquer dos seus níveis

(e essa entende-se integração educativa também) necessita antes de tudo de uma equiparação

econômica, política e cultural. As diferenças entre os atores fazem com que seja minimizada a

chance de ocorrer uma integração harmoniosa e que os objetivos de uma integração entre

países seja alcançados.

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Há cooperação entre os atores que compõem o nível doméstico quando não houver

problemas acerca da escassez dos bens públicos e diferenciação na distribuição de recursos

junto aos grupos de atores domésticos, ou seja, quando não houver forte antagonismo entre as

posições defendidas e as instituições usufruírem, de maneira homogênea, dos privilégios

públicos. A teoria de Moravcsik (2003) mostra que a interação entre os níveis domésticos e

internacionais é que proporciona diretrizes para a formação das políticas externas e o

procedimento dos Estados no ambiente internacional.

Quando se fala da integração regional e formação dos blocos, Moravcsik (2003) diz

que os Estados são os maiores responsáveis pela formação dos blocos regionais, mas são

influenciados por grupos domésticos. Assim, as preferências que vão direcionar a política

externa de um país para a formação de um bloco regional ou para a formação de uma

cooperação internacional, estão relacionadas com o que o Estado e a sociedade (nível

doméstico) estão decidindo a partir de suas negociações.

A teoria intergovernamentalista proposta por Moravcsik pode explicar a formação do

MERCOSUL, a partir do processo de barganhas executadas ao longo dos anos por nações da

América do Sul, principalmente da Argentina e do Brasil e dos interesses de seus grupos

domésticos. O intergovernamentalismo mostra que os países do MERCOSUL buscaram

atingir seus objetivos fazendo uso dos mecanismos da integração regional mediante acordos e

negociações. Os países perceberam que integrar era bem menos dispendioso do que não

integrar, e que, mesmo com as dificuldades de um processo de integração e seu dispêndio, os

ganhos econômicos futuros superariam toda essa desconfiança, acontecendo assim o incentivo

para a integração.

A principal crítica às contribuições de Moravcsik (2003) para a análise dos processos

de integração é a de que sua teoria não foi capaz de preencher ou, cobrir a lacuna entre a

política doméstica e a atuação dos Estados no ambiente internacional. A despeito de ressaltar

a importância dos interesses dos grupos domésticos, Moravcsik não estabeleceu a relação

entre a atuação política desses grupos no âmbito doméstico e a ação estratégica dos Estados

no ambiente internacional.

Para estabelecer essa relação entre os níveis doméstico e internacional, Putnam

(1988) propõe uma metodologia de análise na forma dos jogos de dois níveis. Enquanto

metodologia, a proposta de Putnam fornece os elementos (variáveis) que possibilitam as

pesquisas sobre arranjos regionais, quando os interesses domésticos são elementos

importantes.

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1.2.1 A Metodologia dos jogos de dois níveis

Putnam (1988) considera que há uma relação de interdependência dos

desdobramentos e decisões obtidos no meio doméstico e no meio internacional. A

metodologia dos jogos de dois níveis estabelece a relação doméstico/internacional, que faz

com que um negociador adote e acate demandas e influências domésticas, ou seja, o

negociador busca ratificar domesticamente os acordos internacionais e levar para o nível

internacional as demandas de grupos domésticos.

Através do estudo das influências que o nível internacional tem do nível doméstico,

estabelece-se uma conexão entre a política doméstica e a política internacional, uma relação

de interdependência entre os dois meios. O nível doméstico, nível II, influencia nas decisões e

negociações do nível internacional, nível I.

Os governos são pressionados pelos constituintes domésticos em prol dos interesses

domésticos e podem exercer influência para que sejam minimizados os problemas gerados por

decisões no nível internacional. Para entender as etapas do processo de negociação e

influência dos níveis doméstico e internacional Putnam (1988) divide esse processo de

negociação em dois estágios: primeiro, em que é analisada a negociação feita pelos

participantes e, segundo, em que é analisada a possibilidade de acordar o que foi negociado no

primeiro nível. Já para Moravcsik (1993), a construção para a relação doméstico-internacional

e o entendimento do seu processo é baseada em três elementos: primeiro, é preciso definir a

política doméstica e o conjunto de acordos possíveis de serem ratificados; segundo, é preciso

definir o ambiente externo, o nível internacional em que a negociação está envolvida; e,

terceiro, é preciso definir quais as preferências e tendências do potencial interventor ou chefe

do processo negociador (PUCHALLA, 2001).

Nas negociações internacionais estudadas pela metodologia dos jogos de dois níveis,

os arranjos institucionais dos países têm grande importância, uma vez que eles vão sugerir os

interesses de cada grupo dentro dos níveis e determinar quais atores têm influência na tomada

de decisões de um Estado no âmbito internacional. Além disso, o próprio campo de atuação

da política pode ser baseado em arranjos institucionais domésticos e internacionais

(CHOREV, 2007). Chorev (idem) propõe a utilização da teoria institucionalista para entender

as posições políticas e suas estratégias e a autonomia e representatividade dos Estados, visto

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que seus arranjos institucionais vão sugerir os interesses de cada grupo. Putnam (1988)

prioriza a identificação das instituições e suas características, a relação exercida entre as

instituições e os outros níveis e o reconhecimento da posição política e o grau de autoridade

dos atores envolvidos.

Os arranjos institucionais domésticos têm tendência para a divisão das influências

exercidas por autoridades que são representadas hierarquicamente. Os arranjos institucionais

dão diretrizes para o posicionamento para cada grupo de interesses em determinada posição

política. Essa importância dada pela metodologia aos arranjos institucionais (partidos

políticos, congresso, sindicatos e as associações) se dá porque as instituições mexem na

estrutura de grupos opostos, posiciona o Estado de forma isolada ou conjunta ao nível

internacional e pode influenciar o grau de necessidades de determinado nível.

Putnam (1988) define o negociador, posição essa assumida pelo governo, como

intercessor entre o nível doméstico e o internacional, o que lhe dá a alcunha de intermediador,

com a responsabilidade de entender os interesses dos dois níveis.

Putnam (1988) chama a atenção para o conjunto de acordos possíveis ou win-set, que

é o conjunto de acordos potenciais que poderão ser ratificados pelos constituintes domésticos

no processo de votação contra o status de nenhum acordo (Moravcsik, 1993). Assim

Moravcsik deixa claro que a má distribuição dos recursos que são pertinentes a integração e a

disparidade econômica entre os países, são fatores determinantes para que o nível doméstico

não tenha interesse na própria integração, tendo em vista que é percebido um distanciamento

entre os Estados. Além disso, para Putnam (1988), quanto maior o conjunto de acordos

possíveis no nível II, mais provável será a sua ratificação no nível internacional. Ainda de

acordo com o autor, quando houver coincidência de acordos possíveis nos dois níveis, a

probabilidade de que um acordo seja ratificado aumenta. Putnam (1988) faz uma classificação

dos fatores que influenciam o win-set, ou acordos possíveis, que são: preferências e coalizões,

em que o tamanho do win-set depende dos arranjos de poder formado pelos constituintes do

nível II; instituições, para o autor a teoria internacional de qualquer natureza deve partir de

uma teoria da política doméstica.

Para Putnam (1988), quanto maior o poder central nas mãos de um dos constituintes

do nível II, maior o win-set e a possibilidade de acordos a serem ratificados. De acordo com a

metodologia dos jogos de dois níveis, o negociador dispõe de um leque de estratégias que

varia de acordo com o posicionamento político dos grupos e da condição do constituinte na

submissão às pressões do nível doméstico. Em relação ao win-set, o nível doméstico

determina o conjunto possível de estratégias e, em conseqüência, o tipo de estratégia a ser

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tomada. Já no nível internacional, o aumento do win-set exerce influência nas negociações

pelo nível doméstico.

Assim, os governos dos países do MERCOSUL recebem demandas e pressões por

parte dos constituintes domésticos e do ambiente internacional, tanto para temas educacionais

acatados quanto para os demais. A teoria explica que as influências domésticas podem ser

aceitas, mas desde que haja um fundamento e uma interação de objetivos com o próprio

Estado, que, por sua vez, necessita de uma aceitação internacional. A metodologia dos jogos

de dois níveis tem no negociador seu ponto chave. O nível doméstico busca satisfazer seus

interesses e preferências no ambiente internacional influenciando o negociador.

1.3 Integração na América do Sul: MERCOSUL

O processo de integração da América do Sul vem desde 1960, com a formação da

ALADI E ALALC. A ALADI, Associação Latino-americana de Integração, foi criada como

uma sucessora da ALALC, porém foi caracterizada pelo endividamento da América Latina e

por processos de moratórios aplicados por países como o México, o qual era um dos

membros.

Aprendidas as lições com os erros cometidos na ALALC, a proposta da ALADI foi

desenvolvida levando em conta tais disfunções ocorridas no bloco anterior. A ALADI usava

princípios diferentes da ALALC. Agora o tratado primava por uma “Zona de Preferências

Econômicas”, o que antes se tratava de uma Zona de Livre Comércio.

Em 1980, em substituição à ALALC, foi criada a Associação Latino – Americana de integração (ALADI), que adotou instrumentos diferentes, visando igualmente à integração entre seus membros. Em vez de uma zona de livre comércio, prevista pela ALALC, foi estabelecida uma zona de preferências econômicas, criando condições favoráveis a iniciativas bilaterais, como passo prévio à instituição de relações plurilaterais na América Latina. A criação de um mercado comum latino-americano, entretanto, era o objetivo em longo prazo dos países signatários. (BECHARA e REDENSCHI, 2001, p.27).

Apoiando a grande vontade dos países do cone sul da América do Sul, vinda de

vários anos, de se criar um mercado comum na América Latina, a ALADI foi instituída em 12

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de agosto de 1980, como uma continuação da extinta ALALC. Foi estabelecida a partir do

tratado de Montevidéu assinado em 12 de agosto de 1980. É composta de 11 países da

América Latina, divididos em três classes. A classe PMDRs (países de menor

desenvolvimento relativo), que eram os países de menor desenvolvimento econômico, era

composta por Bolívia, Equador e Paraguai; A classe de desenvolvimento intermediário, PDI,

que era composta por Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela; A classe ABRAMEX era

composta pelos considerados mais desenvolvidos do subdesenvolvimento, Argentina, Brasil e

México.

Entre vários objetivos da ALADI se destacam “o estabelecimento gradual e

progressivo de um mercado comum latino-americano, a partir da conformidade de uma área

de preferência tarifária” (BARBOSA, 1991, p79). A partir desse objetivo primário, teria a

função de desempenhar a promoção e regulamentação do comércio, instituição da

complementação econômica e ativar a cooperação econômica entre os países participantes.

Foram criadas as RTNs (Referências Tarifárias Nacionais) para a eliminação das

restrições tarifárias. Era um mecanismo para a redução gradativa das tarifações. As RTNs se

subdividiam em PTR, que é a Preferência Tarifária Regional; o PREC, Programa de

Recuperação e Expansão do Comércio; e o LAMs, que é a Lista de Abertura de Mercado.

Além desses mecanismos, se criou os ACEs (acordo de complementação econômica), os

quais se vêem até hoje no MERCOSUL e são uma ferramenta muito usada hoje em dia.

O desejo dos países, principalmente Brasil e Argentina, era da criação de um

mercado comum latino-americano. De certa forma, a ALADI deu uma vasta contribuição para

esse desejo se tornar realidade. Os governos do Brasil e da Argentina assinaram acordos que

complementaram outros já existentes na ALADI e, junto com Uruguai e Paraguai que

aderiram à iniciativa dos dois países posteriormente, foi assinado, em 26 de março de 1991,

em Assunção no Paraguai, um tratado entre os quatro países, que logo depois resultaria no

Mercado Comum do Sul, ou MERCOSUL.

Como complemento de acordos anteriores, os Governos do Brasil e da Argentina assinaram, em 1988, o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, no qual já se previa a criação de um mercado comum entre os dois países, no prazo de dez anos, com a eliminação gradativa de todos os obstáculos tarifários e procurando harmonizar as políticas macroeconômicas até então adotadas pelos países. Ficou estabelecido, ademais, que o acordo estava aberto a todos os demais Estados da Região. Com a adesão do Paraguai e do Uruguai aos ideais de Brasil e Argentina, assinou-se um novo Tratado entre os quatro países, em 26 de março de 1991, na cidade de Assunção, no Paraguai, no qual ficou estabelecida a criação de um

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Mercado Comum, denominado Mercado Comum do Sul [...] (BECHARA e REDENSCHI, 2001, p.27 a 28).

Nota-se que o objetivo de retirada gradativa dos obstáculos tarifários, foi primícia da

ALALC e ALADI, e, como foi visto no acordo de Assunção, também é objetivo no

MERCOSUL. A dificuldade dos países de serem flexíveis a ponto de cederem à redução das

tarifas foi e é o empecilho a ser derrubado para que qualquer integração comercial aconteça.

A mentalidade integracionista dos países participantes é o maior obstáculo.

Na década de 80, por iniciativa do Brasil e da Argentina, iniciaram-se as discussões

acerca da formação de um bloco regional, que, posteriormente, agregou o Paraguai e o

Uruguai.

Desse modo, Argentina e Brasil, apoiados às experiências integracionistas anteriores

e com a intenção de uma maior aproximação de mercados, união de forças comerciais e a

maximização de ganhos, projetaram o MERCOSUL. O MERCOSUL é um acordo de

cooperação econômica, estabelecido inicialmente entre Brasil e Argentina e, posteriormente,

entre Uruguai e Paraguai3, como Estados-parte. Esses quatro países, em outro momento,

acolheram outros países do continente como associados.

O MERCOSUL teve na Ata de Buenos Aires de 06 de julho de 1990 o marco para a

formação do bloco. A ata fez com que fosse adiantado o processo de integração econômica

entre Argentina e Brasil em cinco anos, já que, anteriormente, fora proposto pelo Tratado de

Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Governo da República Federativa do

Brasil e o Governo da República da Argentina, de 1988. Neste Tratado de 1988 foi

programada para 31 de dezembro de 1998 a liberação comercial e econômica entre Argentina

e Brasil.

Na Ata de Buenos Aires, 1990, estava contida a metodologia para a formação do

mercado comum “bilateral” 4 e uma proposta de criação de um Grupo de Trabalho Binacional

para a Conformação do Mercado Comum entre Brasil e Argentina. Dois meses depois da

ratificação da Ata de Buenos Aires por Argentina e Brasil com a finalidade de um mercado

comum, foi que o Uruguai - por meio de uma reunião de ministros de Relações Exteriores e

de Economia da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e do próprio Uruguai - foi admitido como

3 Há ainda países associados ao MERCOSUL que são: Chile desde 1996; Bolívia desde 1997; Peru desde 2003; Colômbia, Equador e Venezuela desde 2004. (disponível em http://www.mercosur.int/msweb/portal%20intermediario/es/index.htm) 4 Vale destacar que a Ata de Buenos Aires foi desenvolvida e executada por Argentina e Brasil com bases em acordos anteriores como o Tratado de Integração de 29 de novembro de 1988, o qual previa o fim dos obstáculos tarifários em um prazo de dez anos pelas duas nações.

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membro e, assim, a Ata de Buenos Aires passa a ter mais outro signatário. Após o aceite do

Uruguai foi feito o convite ao Chile para ingressar nas iniciativas de um mercado comum, que

aceitou na condição de observador. Já o Paraguai, após ser convidado por Argentina, Brasil e

Uruguai, aderiu à participação e às iniciativas de um Mercado Comum integralmente como

membro. Portanto, o Tratado de Assunção, que institucionalizou o MERCOSUL, é

decorrência da Ata de Buenos Aires.

O acordo para a formação do MERCOSUL, através do Tratado de Assunção, foi

ratificado pelos quatro membros em março de 1991 e entrou em vigor em novembro do

mesmo ano. O Tratado de Assunção foi um instrumento transitório para a formação do

MERCOSUL. Desde a sua assinatura em 1991 até a implantação do MERCOSUL em 1994,

os países membros se prepararam para atender os requisitos exigidos no Tratado. Essa

transição foi regulamentada e está inserida no Tratado de Assunção.

Em 1994, foi realizada no Brasil, na cidade de Ouro Preto, a reunião que tinha como

objetivo a definição da Estrutura Institucional do MERCOSUL e marcava o fim da transição

descrita no Artigo 18 do tratado de Assunção como preparação para o Mercado Comum do

Sul. A reunião entre os quatro países signatários do Tratado de Assunção deu origem ao

Protocolo de Ouro Preto, o qual é um complemento do próprio Tratado de Assunção. No

Protocolo de Ouro Preto foi reafirmada pelos Estados-parte a intenção integracionista e os

objetivos fundamentados em Assunção, além de ser definida a espinha dorsal administrativa e

executiva do bloco.

Ao contrário do Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto foi ratificado de

maneira definitiva, sem prazo para uma reavaliação. O Protocolo de Ouro Preto modificou a

estrutura institucional proposta inicialmente pelo Tratado de Assunção, a qual era composta

somente pelo Conselho de Mercado Comum e o Grupo de Mercado Comum. O Protocolo de

Ouro Preto agregou à estrutura do MERCOSUL Comissões de Comércio e Parlamentares, um

Foro Consultivo e a Secretaria Administrativa.

O Protocolo de Ouro Preto apresenta um desmembramento de assuntos abordados no

Tratado de Assunção, dando pareceres e explicações a temas antes tratados de forma genérica

e não específica. O Protocolo de Ouro Preto foi a ratificação e a consolidação da existência do

bloco MERCOSUL. Foi o instrumento definitivo de aprovação dos membros para que os

objetivos previstos no Tratado de Assunção fossem consolidados.

A administração do MERCOSUL é feita entre os membros por presidências pró-

tempore. Cada Estado-parte será responsável pela presidência do bloco por seis meses,

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passando a presidência para outro membro, após esse período. A ordem da transposição de

presidência será alfabética, tendo como primeira presidência pró-tempore a da Argentina.

A sede do MERCOSUL é no Uruguai, em Montevidéu, foi escolhida pelos membros

como tal, decisão qual foi ratificada e é uma dos quesitos que o Protocolo de Ouro Preto

engloba em seu texto. O Paraguai é o Estado-parte depositário dos termos legais, tanto do

próprio Tratado de Assunção como dos Protocolos e Acordos posteriores que forem ou não

ratificados. O Tratado tem tempo de vigência indefinido, tem como propósito o fomento a um

Mercado Comum entre os países do cone sul da América do Sul e sua data de origem é 29 de

Novembro de 1991. Outros membros, além de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, podem

fazer parte do MERCOSUL, no entanto não deverão ser membros de associações extra-

regionais e ainda deverão fazer parte como membros da Associação Latino-Americana de

Integração, a ALADI. No MERCOSUL, um Estado-parte que não deseja participar mais do

MERCOSUL deve agir formalmente e redigir uma carta impressa declarando seu interesse. A

declaração é destinada aos Estados-parte e o primeiro Estado a receber tal carta será o

Paraguai, uma vez que é Estado-parte depositário dos documentos do Tratado de Assunção. O

documento de abdicação da condição de membro do MERCOSUL será colocado em

apreciação pelos demais membros (BEÇAK, 2000).

O MERCOSUL tem o objetivo inicial de ampliar os mercados dos Estados-parte e,

como está no preâmbulo do Tratado de Assunção, acredita que a integração regional é um

meio fundamental para “acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça

social”. A intenção do MERCOSUL é aproveitar os recursos disponíveis e as fronteiras físicas

favoráveis, preservando o meio ambiente e fomentando as políticas e a complementação

econômica entre os países. O MERCOSUL também visa à inserção dos países membros no

cenário internacional, uma vez que existe uma tendência de consolidação de economias

fortalecida por integrações entre países.

Mais do que acordos bilaterais, cúpulas e reuniões de integração, o MERCOSUL foi

o amadurecimento de vários projetos de cooperação5, que desde a década de 606 vêm se

mostrando como uma tendência em todos os países do mundo. Embora a previsão de

constituição de um Mercado Comum em 1994 fosse ratificada pelos quatro países membros,

tal pretensão ainda se encontra muito distante da atual realidade do bloco, que não conseguiu

5 Bloco ABC, 1935 (ABC); Associação Latino-Americana de Livre Comércio, 1960 (ALALC); Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras Para o Desenvolvimento, 1968 (ALIDE); Grupo Andino, 1969; e Associação Latino-Americana de Integração, 1980 (ALADI). 6 Em 1960 foi que a América Latina começou a preocupar realmente com integração econômica de resultados, porém se têm um exemplo em 1915 de uma Concessão de preferências entre Argentina, Brasil e Chile que foi o Tratado ABC, como fora dito acima. (BEÇAK, 2000)

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ultrapassar as etapas iniciais de um projeto de integração: a Zona de Livre Comércio e a

União Aduaneira.

1.4 Estrutura Organizacional do MERCOSUL e Negociação de Acordos Sobre Educação

O Tratado de Assunção foi instituído em 1991 em caráter transitório por Argentina,

Brasil, Paraguai e Uruguai, contendo metas a serem alcançadas até a data prevista para que se

estabelecesse e começasse a se formar o Mercado Comum do Sul. A estrutura administrativa

do MERCOSUL é alicerçada nos órgãos Conselho do Mercado Comum e Grupo do Mercado

Comum. Esses órgãos são as bases da organização institucional da proposta feita pelo Tratado

de Assunção, além de serem os órgãos núcleos institucionais e organizacionais do Tratado de

Assunção. O Conselho de Mercado Comum é o órgão superior e tem a responsabilidade da

condução política e das tomadas de decisões, e o Grupo do Mercado Comum é o órgão

executivo, responsável por fazer cumprir as decisões tomadas no Conselho (TRATADO DE

ASSUNÇÃO, 1991). No Tratado de Assunção o Grupo de Mercado Comum e o Conselho de

Mercado Comum foram instituídos como órgãos principais e permaneceram assim após a

ratificação do Protocolo de Ouro Preto, contudo foram derivados dos dois órgãos principais

setores e sub-setores na divisão institucional do MERCOSUL.

A estrutura orgânica do MERCOSUL, no Tratado de Assunção, foi definida de forma

efêmera, porque foi prevista a sua consolidação em uma reunião posterior, que aconteceu em

Ouro Preto com o Protocolo de Ouro Preto (1994). Essa estrutura, então, foi aceita como

permanente, apesar da estrutura ser passível de possíveis alterações, que poderiam ocorrer de

acordo com os interesses dos membros. A possibilidade de alterações no esquema

institucional proposto pelo Tratado e pelo Protocolo é facilitada pela estrutura

intergovernamental do MERCOSUL, na qual os próprios países discutem possíveis

mudanças. A estrutura organizacional do MERCOSUL também prioriza as negociações

internas feitas pelos membros e tem um percurso já definido para que um projeto seja

ratificado. Essas negociações são democráticas e realizadas entre os membros, e sua

ratificação não é por pleito de maioria, mas sim por consenso entre os países membros.

No Protocolo de Ouro Preto, a criação dos setores e sub-setores derivados do

Conselho de Mercado Comum e Grupo de Mercado Comum, tem a intenção de fazer com que

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os objetivos do MERCOSUL tivessem condições de serem concretizados. Os novos setores se

dividem de acordo com a relevância de cada tema dentro do Bloco e vão ao encontro dos

interesses comuns de cada Estado-parte. Foram criados os seguintes órgãos no Protocolo de

Ouro Preto: Comissão de Comércio do MERCOSUL; Comissão Parlamentar Conjunta; Foro

Consultivo Econômico-Social; e Secretaria Administrativa do MERCOSUL. Outros três

órgãos de caráter jurídico foram criados através de resoluções posteriores para completar a

estrutura organizacional, em 2003 o Tribunal Administrativo-Trabalhista do MERCOSUL e o

Centro do MERCOSUL de Estado de Direito e em 2005 foi criado o Tribunal Permanente de

Revisão do MERCOSUL (BEÇAK, 2000).

A estrutura institucional permite que os acordos e reuniões dentro do MERCOSUL

sejam propostos por órgãos ou setores dos Estados-parte que estiverem pleiteando alguma

modificação ou inclusão de normas em algum artigo referido a algum determinado setor. A

sugestão de tema a ser analisado deve ocorrer formalmente pelo Estado-parte, que apresentará

a proposta do requerente doméstico ao Grupo Mercado Comum. O Grupo Mercado Comum,

então, fará a distribuição aos outros setores responsáveis, como de cultura, educação,

comércio ou indústria, estes que farão a análise técnica e uma posterior emissão de parecer.

Para melhor ilustrar esse processo, o “protocolo sobre integração educativa e reconhecimento

de certificados, títulos e estudos de nível primário e médio não técnico de 1994” é um bom

exemplo. As fases desse protocolo, desde a intenção proposta até a sua ratificação, serão

explicitadas a seguir.

Inicialmente, setores de educação de um dos Estados-parte ou algum órgão do

MERCOSUL responsável pela educação manifestaram a necessidade de integração educativa

ou de ações que priorizem a educação. No caso de uma proposta feita por um setor de

educação de um Estado-parte, aconteceu uma avaliação doméstica para averiguação da

necessidade e motivos que o Estado-parte tem para impetrar o novo pedido ao MERCOSUL

no Conselho de Mercado Comum, através das Reuniões de Ministros. Após a aprovação pelos

representantes domésticos haverá a manifestação formal ao Grupo de Mercado Comum7 feita

pelo Estado-parte. Só após o pedido formal ao Grupo de Mercado Comum, pelo Estado-parte,

é que a proposta é reconhecida como tema para avaliação do MERCOSUL. Então a proposta

de reconhecimento de certificados, títulos emitidos pelos países membros do MERCOSUL

7 De acordo com o Tratado de Assunção, no artigo 13 do Capítulo II, o Grupo de Mercado Comum “é o órgão executivo do Mercado Comum e será coordenado pelos Ministérios das Relações Exteriores”, sua sede está em Montevidéu. Esse artigo foi confirmado pelo Protocolo de Ouro Preto no artigo 10, onde é regido que o Grupo de Mercado Comum será integrado por quatro ministros titulares e quatro suplentes como está contido no artigo 11 do Protocolo.

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nos níveis primário e médio não técnico passou a ser pauta para análise (CHIARELLI;

SIENRA, 2001).

Chegando a proposta ao Grupo de Mercado Comum, ela foi direcionada para um dos

11 subgrupos de trabalho, que existem com a finalidade de melhor coordenar as políticas

macroeconômicas e pontuais de cada setor8.

No exemplo citado, o protocolo de integração educativa, o parecer emitido pelo

Grupo de Mercado Comum foi favorável à proposta do setor doméstico de um Estado-parte,

direcionando a proposta para um ou mais subgrupos, ou ainda, como foi nesse caso do

protocolo de educação, enviou-se a proposta a uma Reunião Especializada ou Sub-grupo.

Como o assunto educação envolve vários setores, mais de um Subgrupo de Trabalho e a

Reunião de Ministros de Educação foram envolvidos (CHIARELLI; SIENRA, 2001). Dessa

forma, o estudo sobre a proposta de protocolo aconteceu com influência de vários setores, dos

Subgrupos e das Reuniões. O Grupo de Mercado Comum também poderá, se necessário,

extinguir ou afastar subgrupos ou reuniões que não contribuam para a investigação, como no

caso do Protocolo de Integração da Educação, se um ou mais subgrupos não acrescentassem

benefícios à discussão, eles poderiam ser eliminados.

Após o estudo feito pelos Subgrupos de Trabalho e pelas Reuniões Especializadas, o

Grupo de Mercado Comum leva a discussão a outro órgão submisso a ele, o Foro Consultivo

Econômico-Social. O Foro é o órgão que representa os assuntos econômicos e sociais do

MERCOSUL, tem sob sua administração áreas temáticas que ajudam na realização das

funções destinadas ao Foro e tem como representantes membros indicados por cada Estado-

parte. As suas Áreas Temáticas são divididas em: Aspectos Sociais da Integração;

Consolidação da União Aduaneira; Aprofundamento do Processo de Integração; Relações

Externas do MERCOSUL; e Comitê Misto. Nos Foros acontece a negociação entre os

Estados-partes sobre determinado acordo em pauta para ser ratificado, e também é exposta a

vontade de cada negociador e seus interesses defendidos. A negociação que acontece no Foro

é anexada ao documento de aprovação e de recomendação de ratificação emitida pelo

8 Os Subgrupos do Grupo de Mercado Comum são: Comunicações; Aspectos Institucionais; Regulamentos Técnicos e Avaliação de Conformidade; Assuntos Financeiros; Transporte; Meio ambiente; Indústria; Agricultura; Energia; Assuntos Laborais, Emprego e Seguridade Social; Saúde; Investimentos; Comércio Eletrônico; Mineração; Assuntos Aduaneiros; Normas Técnicas; Política Fiscal e Monetária Relacionadas com o Comércio; Transporte Terrestre; Transporte Marítimo; Política Industrial e Tecnológica; Política Agrícola; Política Energética; Coordenação de Políticas Macroeconômicas; Assuntos Trabalhistas, além de Grupos Ad Hoc e Reuniões Especializadas, que contribuem para cumprir o objetivo do Grupo do Mercado Comum como órgão executivo do MERCOSUL. A educação é tratada nas Reuniões Especializadas, que também estão contempladas os assuntos de cultura, agricultura, bancos centrais, indústria, meio ambiente, saúde, trabalho, entre outras. Para saber mais consultar http://www.mercosur.int/

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Conselho de Mercado Comum à Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL logo

depois que as operações no Foro forem concluídas. Esses anexos servirão para uma revisão

posterior dos pareceres feitos pelos representantes dos Estados-parte nas negociações, ou

ainda, no conteúdo das reuniões no âmbito do Foro (BEÇAK, 2000).

A Comissão Parlamentar Conjunta é um órgão que representa os membros do

MERCOSUL dentro do bloco, sendo composta por representantes do congresso de cada

governo, com mesmo número de representantes para cada Estado-parte. A Comissão é

composta por uma Presidência Parlamentar e uma Mesa Diretiva, que regerá dois outros

órgãos: uma Secretaria Parlamentar e uma Secretaria Administrativa. A Comissão trabalha

para que os projetos em andamento, como foi o caso do Protocolo de Integração da Educação,

sigam seu curso normal. A Comissão ainda contribui para a harmonização legislativa,

legislação essa que é antes proposta pelo Foro Consultivo. As propostas de acordos e leis que

são levadas à apreciação do Parlamento são de caráter consultivo e só depois da aprovação

por parte do órgão é que as propostas vão para os congressos nacionais dos Estados-parte

(MERCOSUR, 2008). O estágio em que acontece a negociação no Parlamento é o último

antes da proposta ser ratificada pelo nível doméstico e é quando o negociador, representante

do Estado-parte, vai impor suas condições para que seja analisada junto à proposta de

ratificação. No Congresso de cada Estado-parte, a proposta será posta em votação e seu

conteúdo será analisado podendo sofrer alterações internamente. As alterações sofridas

voltarão para o Foro Consultivo; se necessárias, voltam até os Subgrupos de Trabalho, caso

contrário, passam para a Comissão Parlamentar novamente.

A Secretaria Administrativa do MERCOSUL funciona como auxiliadora nos

processos burocráticos de controle de documentação. A Secretaria Administrativa também

serve como arquivo oficial para documentos do MERCOSUL, além de realizar publicações

das decisões tomadas nas reuniões dos Estados-parte e traduções, edição do Boletim Oficial e

organização das reuniões. Quando o Protocolo de Integração Educativa foi ratificado pelo

último membro, a secretaria foi a responsável pela comunicação intra-bloco e pela coleta das

assinaturas finais dos signatários para a ratificação e depósito do documento em Montevidéu,

onde é a sede da secretaria (CHIARELLI; SIENRA, 2001).

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2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA EDUCACIONAL DOS PAÍSES DO MERCOSUL

A educação, por muitas vezes, até 1990, foi vista simplesmente como recurso para o

desenvolvimento. Até os anos de 1990, os países membros do MERCOSUL não haviam

estabelecido qualquer projeto para a integração da educação. As agências internacionais,

como o BID, que atuam nos países do MERCOSUL, tiveram um papel destacado no fomento

da educação, mesmo antes dos anos 90, incentivando os países para que houvesse uma

adequação e uma maior importância dada à educação. Essas agências faziam das prerrogativas

do fornecimento de empréstimos e de benefícios uma condição para que os países

direcionassem suas políticas para a educação. Porém, nota-se que essas agências focavam

seus esforços em fatores econômicos, aumento da competitividade e o comércio, vendo a

educação como suplemento desse processo, a exemplo do BID. Não houve preocupação com

a conformação das políticas educacionais entre os países integrados e nem com a cidadania

educacional da população dos países integrados. A preocupação demonstrada inicialmente

não foi com os processos educacionais, e sim com seus fins aplicados ao desenvolvimento

comercial e econômico (LAMPERT, 1998). O BID tratou a educação somente como

prerrogativa para o desenvolvimento econômico e a política educacional de cada país

integrado separadamente, considerando educação customizada para cada Estado. Morosini

(1994) discorda desse ideal do BID e acredita que a capacidade de recursos humanos para

contribuir com o desenvolvimento econômico deve ser destacada em grande escala, mas não

pode deixar de lado a harmonização dos sistemas educativos dos países, principalmente dos

integrados, como no caso do MERCOSUL. Para ele, se não houver uma harmonização

educacional em benefício da capacitação humana, em uma integração, pode ser gerada uma

economia obsoleta de países integrados por falta de mercado de trabalho (MOROSINI, 1994).

A educação é um importante elemento para a evolução dos processos tecnológicos,

aperfeiçoamento de resultados de produção, o que culmina no desenvolvimento econômico e

na melhoria do bem-estar social e da qualidade de vida da população. A educação qualifica o

capital humano, e esse é fator que possibilita o crescimento socioeconômico e o

desenvolvimento dos países. Em uma sociedade o crescimento econômico e tecnológico é

determinado, em grande medida, pelos ganhos de produção, esses ganhos são diretamente

proporcionais à formação profissional da população.

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Um sistema educacional estruturado e que possibilite resultados efetivos traz

benefícios à sociedade em diversas áreas, desde a economia até a saúde. Um sistema de

ensino que possibilite e permita aos estudantes condições essenciais de acesso à educação de

qualidade são imprescindíveis em uma nação que almeje galgar postos internacionais e o

desenvolvimento econômico interno e externo. A sociedade global tem conhecimento dessa

informação e, nos últimos anos, houve uma densa gama de estudos, políticas e diretrizes

relacionados à melhoria no processo educacional dos países. Em contrapartida, mesmo com o

reconhecimento da importância da educação, pode-se afirmar que esta ainda é um problema

contemporâneo. No entanto os problemas relativos à educação vêm se arrastando durante

anos, mesmo porque as políticas educacionais propostas ao longo dos anos não são tão

efetivas ao ponto de acompanhar as necessidades básicas para um sistema educacional de

qualidade.

Os países em desenvolvimento têm na educação uma importante arma para a

capacitação tecnológica e inserção comercial no mercado internacional. Esses países contam

com apoio, muitas vezes, de instituições internacionais que colaboram, e vêm colaborando, no

incentivo à capacitação do capital humano através da educação. As nações da América do Sul,

por exemplo, tiveram grande incentivo educacional vindo de instituições como Banco

Mundial, Banco Interamericano, a ONU e suas subseções UNESCO e CEPAL. Essas

instituições pregam a educação como a melhor forma para tirar os países em desenvolvimento

da sua condição de miséria e fomentar o crescimento econômico, transformando mão-de-obra

pouco instruída em trabalhadores altamente capazes de gerar riquezas para seus países.

O Banco Mundial, por exemplo, posiciona-se sobre a educação dizendo que, para

melhorar a efetividade e eficiência da produção industrial, de emprego e de qualidade de vida,

é indispensável uma maior ênfase nos processos de ensino e aprendizagem, bem como na

aproximação da educação com esses processos produtivos (LAMPERT, 1998). Para o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), em uma reunião realizada em Buenos Aires em

1996, a educação passou a ser um fator muito mais importante do que o próprio crescimento

econômico, já que esse é derivado da educação e de suas aplicações (CUNHA e

WERTHEIN, 2004).

Não diferente do Banco Mundial, a ONU, representada pela UNESCO junto aos

países da América Latina aponta a educação como responsável pela melhora do

desenvolvimento econômico e pela diminuição da pobreza (Declaração de Cochabamba,

2001, p3). A ONU confirma a importância da educação tentando fazer com que os países em

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desenvolvimento se tornem capazes de concorrer de forma homogênea com os recursos

humanos de países desenvolvidos. A ONU também incentiva o aprimoramento de processos

de produção e o enquadramento, de uma vez por todas, desses países no mercado global de

forma competitiva (DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 2001, p3).

Um exemplo dessa posição da ONU frente à educação dos países subdesenvolvidos

está corroborado na Declaração de Cochabamba9, 2001, realizada pela UNESCO. Na

Declaração de Cochabamba consta que a educação é “um fator determinante para a melhoria

significativa da igualdade de acesso às oportunidades de uma melhor qualidade de vida”

(Declaração de Cochabamba, 2001, p3). A UNESCO, também por intermédio da Declaração

de Cochabamba, deixa entender que “a educação é, acima de tudo, um direito fundamental de

todos, e de que os Estados, por meio dos seus governos, têm a responsabilidade inalienável de

transformar esse direito em realidade” (DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 2001, p3). A

UNESCO (2001) também entende que é a partir de uma educação pública estruturada que

haverá condições para a consolidação da democracia e diminuição da desigualdade social.

Para que isso ocorra, deverão existir também políticas educacionais integradas às políticas

sociais, culturais e econômicas, uma integração dos métodos e meios de educação, como

artifício de incentivo entre família, sala de aula e escola, o que possibilitaria um

desenvolvimento local (DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 2001). O que é dito na

Declaração de Cochabamba é confirmado por Moracvisik, quando se refere a dificuldade para

uma integração com Estados díspares em tantos aspectos. Não havendo uma conformidade

nas políticas sociais e principalmente econômica entre os membros, não haverá integração

regional que satisfaça aos anseios pertinentes ao que se espera de benefícios de uma

integração regional.

A UNESCO reafirma a responsabilidade dos governos na promoção do

desenvolvimento através da educação e demonstra a obrigação dos Estados em proporcionar à

população uma conscientização sobre a importância e benefícios da educação para os próprios

cidadãos. A Declaração de Cochabamba (2001) também faz referência à “cooperação

internacional renovada”, que deve ser executada de forma horizontal entre os governos das

Américas, de modo que os esforços de cada Estado-parte devam ser direcionados para que os

termos propostos na Declaração sejam realizados. Assim, os Estados ficam com a

incumbência dos resultados a serem alcançados e da conformidade das ações. As instituições

9 A declaração de Cochabamba, realizada pela UNESCO na Bolívia, é considerada como a de maior envolvimento dos países da América Latina, até 2001, em que o objetivo e prioridade são a educação e formulação de uma nova agenda de desenvolvimento. As representações foram exercidas pelos Ministros da Educação dos Estados do Caribe e da América Latina.

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e agências e o próprio Estado agem monitorando as políticas de fomento à educação, levando

em consideração as características peculiares de cada nação no trato da educação, pontos

esses que a UNESCO vê como importantes para a execução do que foi proposto em

Cochabamba (DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 2001).

Embora a UNESCO dê importância ao processo educacional e até fale em

cooperação dos países pela educação, nota-se, pela Declaração de Cochabamba, que a

UNESCO não tem, a princípio, uma preocupação com a integração educacional - curricular e

de conteúdo - dos países da América Latina e Caribe. Esse comportamento é evidenciado

quando se lê na Declaração de Cochabamba que os governos têm que amparar as escolas de

modo que “as capacite a organizar e desenvolver seus próprios projetos educacionais em

resposta às necessidades e à diversidade da comunidade a que servem” (Declaração de

Cochabamba, 2001, p4). Não obstante, a UNESCO entende e cita que a educação deve ser

concebida como diversificada devido às múltiplas culturas que a compõem, mas que esse

fator, além de um benefício, é um recurso de aprendizagem e não um empecilho para a

integração educacional (DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 2001). Nota-se novamente

nesse ponto que a UNESCO se preocupa com uma integração de metas e métodos

educacionais e não com conteúdos integrados de ensino. Essa despreocupação pela integração

curricular é observada na Declaração de Cochabamba através das propostas das políticas a

serem empregadas.

Próxima do posicionamento sobre a integração da educação da UNESCO está a

CEPAL, a qual também chama a atenção para a educação. Porém, a CEPAL percebe a

importância de uma integração curricular e de conteúdos, reconhece a educação como uma

parte do processo produtivo e, mesmo com a dificuldade da conformação do ensino em países

de culturas diferentes, estruturas educacionais e metodologias de ensino distantes, defende

que uma Integração Educativa trará, posteriormente, benefícios a todos os participantes que

compensarão os dispêndios (CEPAL, 1993). A CEPAL (1993) lembra que a equidade das

estruturas e uma aproximação cultural dos povos só serão possíveis se houver uma

complementação estratégica entre as táticas e políticas usadas na educação e sua aplicação.

Os pontos comuns de concordância das instituições citadas é que, além da educação

ser de extrema importância para uma nação, ela é um bem básico essencial para o cidadão,

sendo um direito do indivíduo e seu provimento é de responsabilidade dos órgãos

governamentais.

Embora as instituições e os governos reconheçam a importância da educação,

percebe-se que, historicamente, os esforços com educação na América Latina não têm sido

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suficientes para universalizar o ensino e proporcionar educação a todos. No MERCOSUL, por

exemplo, existem grandes diferenciações entre os Estados na oferta desse direito básico

reconhecido por todos. Alguns países podem oferecer gratuidade em um período maior de

anos, até a faculdade, por exemplo, enquanto outros oferecem só o que é garantido e acordado

junto a UNESCO: a gratuidade ao menos para o ensino primário. Não obstante, sabe-se que

níveis primários de ensino não são suficientes para satisfazer a demanda dos países por mão-

de-obra qualificada, o que inviabiliza a continuidade do crescimento econômico, que, por sua

vez, impossibilita os investimentos em educação. É um ciclo vicioso o processo de educação e

desenvolvimento, e o diferente trato que a educação recebe pelos países do MERCOSUL

pode ser qualificado como um dos maiores empecilhos para a Integração Educativa. Essa

diferença de trato é demonstrada nos recursos dos seus governos destinados à educação, como

pode ser visto na tabela:

Tabela 1: Recursos para a Educação

Recursos para Educação ARGENTINA BRASIL PARAGUAI URUGUAI

Taxa Aluno/Professor (primário) (2005) 17 (2005) 21 (**,2004) 28 20

Gastos públicos com educação :

% do PIB (2004) 3.8 (2004) 4.0 (2004) 4.0 2.9

% do gasto total dos governos (2004) 13.1 (2002) 10.9 (2004) 10.0 11.6

Distribuição dos Gastos Públicos com Educação por Nível (%) - 2004 :

Pré-primário 8 8 7 (**) 9 Primário 37 32 46 (**) 33 Secundário 38 40 30 38 Terciário 17 19 16 (**) 20 Fonte: Institute For Statistic, UNESCO10.

Analisando os dados, a diferença entre os países é logo notada na comparação entre o

Paraguai com os outros membros. O Paraguai destina mais de 50% dos seus incentivos à

educação para alunos do pré-primário e do primário, além de ter maior índice de

aluno/professor em posição oposta à Argentina, que dispõe de 17 alunos para cada professor e

divide seus gastos com educação de forma que os níveis superiores tenham mais benefícios.

Além disso, a Argentina apresenta um maior percentual de gastos com a educação. Dentro

Fonte: 10 UNESCO. Institute for Statistics. Disponível em http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/document.aspx?ReportId=198&IF_Language=eng&BR_Country=760. Acessado em 14/05/2008

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desse quadro, já é possível detectar diferenças de alto grau entre as políticas de educação

pelos países do MERCOSUL, com destaque para Argentina e Paraguai. Contudo, é preciso

analisar mais dados para dar um parecer quanto às diferenças dos dispêndios destinados à

educação pelos países do MERCOSUL. Existem outros fatores envolvidos na diferenciação

do trato da educação por parte dos países do MERCOSUL advindos de tendências históricas,

bem como atitudes políticas tomadas pelos governantes dos países no que diz respeito à

política educacional. Para melhor entender os gastos e os índices discrepantes da educação

desses países, é preciso levar em consideração as diferenças sociais e econômicas que há entre

os membros do MERCOSUL. Os países que compõem o bloco são diferentes em vários

aspectos sociais, como pode ser visto na tabela abaixo:

Tabela 2: Informações Gerais sobre os Países do MERCOSUL

Informações Gerais – 2005 ARGENTINA BRASIL PARAGUAI URUGUAI

População Total (000) 39 134 189 323 6 016 3 331

Crescimento Populacional – Anual (%) * 1.0 1.3 1.9 0.7

População 0-14 anos (%) 24 26 33 22

População Rural (%) * 10 16 42 8

Taxa de Fertilidade * 2.3 2.3 3.7 2.0

Mortalidade Infantil (0/00) * 15 31 20 14

Expectativa de vida desde o nascimento (anos) * 75 71 71 76

Taxa HIV (%) em adultos (15-49 anos) * 0.6 0.5 0.4 0.5

Pobreza (% com menos de $2 ao dia) * 17 21 30 6

PIB (PPP) US$ * 14 280 8 402 4 642 9 962

Taxa Crescimento PIB (%) * 9.2 2.3 2.9 6.6

Debito Total de Serviços % PNB * 6.0 8.1 6.7 13.7 Crianças com Idade Escolar para o Primário fora da Escola (%) - 4 5 2 Fonte: Institute For Statistic, UNESCO, 200511

Já nos primeiros dados referentes à população dos países do MERCOSUL, percebe-

se a distância em números dos Estados-parte, em que maior população para um bloco

econômico corresponde a um maior mercado; contudo, no quesito educação não é tão

relevante. O Paraguai tem destaque na fertilidade, que é acima da média dos outros países,

com uma renda per capita inferior aos outros países, o menor PIB, o maior índice de pobreza,

e um alarmante número de crianças fora da escola, assim como o Brasil. Por meio desses

11 UNESCO. Institute for Statistics. Disponível em http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/document.aspx?ReportId=198&IF_Language=eng&BR_Country=760. Acessado em 14/05/2008

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números, explicitam-se mais discrepâncias entre os países e percebe-se o porquê de os dados

da educação, em países de um mesmo continente e integrados, serem tão diferentes. Nota-se

também que países com características e números parecidos tratam e dão incentivos diferentes

à educação. Pode-se concluir que as políticas aplicadas, e não somente os rendimentos dos

países, influenciam no fornecimento de incentivos para a educação.

2.1 Os Sistemas Educacionais dos Países do MERCOSUL

Discutiremos a seguir os principais aspectos do sistema educacional dos quatro

países do MERCOSUL, dando especial destaque ao Brasil. Nessa seção serão retratadas as

nuances de cada sistema educativo e os comparativos de acordo com a Classificação

Internacional normalizada de Educação (CINE). As informações e dados foram

fundamentados no anuário “Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur

2005” baseado em dados do Sector Educativo del Mercosur (SEM), Sistema de Información y

Comunicación del Mercosur Educativo (SIC), Grupo Gestor del Proyecto (GGP), Sistema de

Indicadores del Mercosur Educativo (MERCOSUL EDUCACIONAL, 2008)

A tabela seguinte compara os sistemas educacionais dos países membros do

MERCOSUL com a correspondência dos níveis educacionais. É percebida a discrepância de

cada sistema educacional, no que se refere aos anos de início e conclusão de cada etapa do

processo educativo. Já nos anos obrigatórios de ensino percebe-se congruência na idade limite

de 14 anos.

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Tabela 3: Idades Teóricas para Cursar a Graduação

Fonte: Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur 2005

2.1.1 Sistema Educacional Argentino

O sistema de educação Argentino tem por base quatro níveis de ensino e é centrado

em três leis formuladas a partir de 1992 com a intenção de suprir necessidades direcionadas

ao progresso de seu ensino. Uma das leis passa a administração das escolas, antes exercida

pelo governo federal argentino, para as províncias. Outra das três leis centrais dá diretrizes a

serem seguidas pelas educações iniciais, primárias e secundárias. A terceira lei se refere ao

nível terciário, universitário e não universitário (IESEM, 2005).

Anteriormente à promulgação das leis centrais da educação argentina, em 1992, o

estudante tinha como direito a educação obrigatória de 7 anos, após a lei, passou a 10 anos.

Na atual estrutura de ensino da Argentina se encontra quatro subdivisões: inicial, que engloba

o ensino para crianças de 3 a 5 anos; educação geral básica, com estudantes de 6 a 14 anos;

educação polimodal, com duração de três anos, direcionada para jovens de 15 a 17 anos que

podem escolher entre áreas direcionados de ensino como ciências naturais, economia, artes,

comunicação, etc.; e educação superior, com duração de 3 a 6 anos (IESEM,2005).

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2.1.2 Sistema Educacional Paraguaio

A educação no Paraguai engloba a educação em regime geral, a educação em regime

especial e outras modalidades. A educação paraguaia engloba três níveis de educação, o

primeiro nível de educação inicial é a educação escolar básica. O segundo nível é a educação

média e o terceiro de nível, o superior.

A educação inicial do Paraguai é a partir do maternal, de zero a dois anos, crianças

de três a quatro anos e o pré-escolar, para crianças de cinco anos. A educação básica é

obrigatória e gratuita e engloba nove graus e se divide no direcionamento para crianças de seis

a quatorze anos, com uma subdivisão de três ciclos de três anos de duração cada ano. No

primeiro ciclo está compreendido o 1º, 2º e 3º grau, no segundo ciclo está o 4º, 5º e 6º grau e o

terceiro ciclo o 7º, 8º e 9º grau.

A educação média tem duração de três anos com bacharelado científico e

bacharelado técnico. A educação superior é oferecida em graus universitários nas instituições

públicas e privadas nas instituições superiores de educação (IESEM,2005).

2.1.3 Sistema Educacional Uruguaio

O Uruguai tem como objetivos, de acordo com a lei 16736/1996, a consolidação da

equidade social, a dignidade da formação e a função docente, o melhoramento da qualidade

educativa e o fortalecimento da gestão institucional. No Uruguai, o período de ensino para

formação de um estudante é firmado em dez anos. A obrigatoriedade e a gratuidade da

educação são garantidas pelo governo. O sistema educacional é dividido em educação pré-

escolar, educação primária, educação média e superior ou terciária. Na educação inicial, para

crianças de cinco anos, há seis anos de educação primária e três anos de ciclo básico da

Educação média.

A educação primária engloba os estudantes de seis a quatorze anos. A educação

média bacharelado e a educação técnica podem ter duração de um a sete anos. A educação

terciária ou superior tem duração de três a cinco anos e pode formar profissionais na área

universitária e na técnica (IESEM,2005).

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2.1.4 Sistema Educacional Brasileiro

O sistema educacional brasileiro se caracteriza por apresentar diferenciações entre os

três níveis autônomos do governo e de suas políticas voltadas para educação. A estrutura do

sistema educacional brasileiro compreende dois níveis que são a educação básica e a educação

superior. A educação básica é composta pela educação infantil, o ensino fundamental e o

ensino médio e compete aos municípios administrar a educação infantil e ensino fundamental.

Compete aos Estados e ao Distrito federal a administração do ensino fundamental e médio. O

governo federal é incumbido da administração do ensino superior e a manutenção e suporte

aos estados e municípios para a administração de suas responsabilidades educacionais.

O ensino no Brasil tem início para crianças aos três anos em creches e em pré-

escolas. No ensino fundamental os alunos permanecem, no mínimo, oito anos e é oferecido de

forma obrigatória e gratuita em escolas públicas. O ensino médio tem duração de três anos

com modalidades voltadas para a preparação de forma ampla ou para a técnica. A educação

superior do Brasil possibilita o estudante a atuar em várias áreas e estão disponíveis mediante

prova de seleção para candidatos que já tenham cursado o ensino médio (IESEM,2005).

2.1.4.1 Características da estrutura educacional brasileira

O Brasil está entre os 53 países que ainda não atingiram e não estão perto de atingir

os objetivos de Educação para Todos até 2015. A notícia é dada pela UNESCO (2008) e o

prazo até 2015 foi acordado na Conferência Mundial de Educação em Dakar, Senegal, em

200012, que reuniu 164 países do mundo (UNESCO, 2008). Esta informação diz respeito ao

relatório anual emitido pela UNESCO, o EFA Brasil (2008), relatório esse que traça um raio-

x da performance dos países no que tange a educação.

12 A Declaração de Dakar reafirma as metas e compromissos ratificados na Declaração de Jontiem, Tailândia, em 1990, conhecida como a Declaração Mundial de Educação para Todos. As Declarações têm como propósito assegurar, de forma homogenia, a educação mínima para toda a população mundial. A Declaração de Dakar veio colocar como meta um prazo (até 2015) para adequação e aumento de 50% os índices de alfabetização para a população adulta. Para maiores informações acessar: http://centroruibianchi.sp.gov.br/usr/share/documents/Decl_Dakar.doc

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Esse resultado apresentado é referente a 2008 e coloca o Brasil longe de seus

objetivos no patamar educacional proposto na Declaração Jontiem, em 1990 (IESEM,2005).

A pesquisa desenvolvida pela UNESCO, disponibilizada em seu site, demonstra mais do que

a quase obsolescência educacional brasileira frente a outros países de menor expressão

econômica, deixa vir à tona a realidade de um país ainda fragilizado em seu sistema

educacional e que tem na distribuição de renda seu maior entrave para uma melhoria

satisfatória da educação. O que mais acrescenta dificuldades para uma solução dos problemas

que a educação brasileira apresenta é a má distribuição de renda, tendo em vista que a renda é

um elemento importante para o acesso ao sistema educacional. Assim fica claro que se não

houver uma homogeneização dos países participantes da integração não haverá de modo

satisfatório, não só a integração educativa, mas qualquer outro tipo de integração regional.

Um problema, para ser reconhecidamente nacional, há de ser reconhecido antes pela

comunidade de um país, o coletivo, e só posteriormente reconhecido pelo governo nacional.

No Brasil a educação é considerada um problema nacional. O despertar coletivo para um

problema, nacional ou internacional, só existe se houver uma manifestação ou ao menos uma

inquietação por parte da população, já que “sem as pressões sociais que decorrem de uma

percepção coletiva, a simples existência de determinados fatos pode não ser uma questão de

governo” (AZANHA, 1992, p.1). A preocupação apresentada pela sociedade, em decorrência

da má qualidade da educação, vai ao encontro do reconhecimento de sua importância como

um problema sério, uma vez que aliado a outros mecanismos contribui na geração do

crescimento econômico e no combate à desigualdade e outros tantos problemas sociais.

Os mecanismos que contribuem para a melhora do processo educacional são vários e

não se prendem só aos financeiros, já que no caso do Brasil a questão central da educação não

é a falta de recursos. O país gasta relativamente muito dinheiro em educação, em torno de

5,5% do PIB, percentuais esses maiores até do que o Japão e Itália (4,8%) e o Chile (4,3%)

(ANDRADE, 2007). O problema é que os resultados não são satisfatórios. Françal (2006),

quando menciona a desigualdade e Andrade (2007) quando diz que os recursos são

direcionados, mas a política de alocação desses recursos está errada, remete aos dados

fornecidos pelo IBGE que mostram que o contorno desse processo de direcionamento de

recursos e resultados deriva e é derivado do movimento “bumerangue”, em que suas causas se

tornam conseqüências e vice-versa.

Então o problema não está na parte dos recursos direcionados para a educação e sim

na melhor política para distribuição desses recursos. O Brasil tem sérios problemas com as

políticas educacionais. Isso pode ser entendido também pela má distribuição de renda

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econômica do país. Em dados o IBGE ilustra a situação de dependência direta entre a

educação e a distribuição de renda nacional. Mostra que a renda familiar tem influência nos

anos de estudo da população e que esses anos de estudo em um período futuro representam

fatores determinantes para a distribuição de renda.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela um alto índice de evasão escolar no Brasil. Segundo esta instituição, considerando que a escolaridade básica é de nove anos, pessoas de doze a quatorze anos que vivem com uma renda familiar per capita acima de dois salários míninos têm uma média de 6,4 anos de estudo, enquanto aquelas que vivem abaixo deste rendimento apresentam uma média inferior (3,4 anos de estudo). Isso se repete em todos os grupos de idade. Entre dezoito e vinte e quatro anos, por exemplo, aqueles que vivem acima de dois salários mínimos, per capita, apresentam a média de 10,6 anos de estudo e os que vivem abaixo deste rendimento, 4,6 anos (IBGE, 2000 apud GUZZO, 2005).

Da mesma forma que os dados do IBGE demonstram os altos índices de evasão e

outras dificuldades do ensino brasileiro, Goldemberg13 resume em outras palavras, com o seu

exemplo enfatizado no ensino médio, que o Brasil não dá a devida dimensão e importância

para a educação como outros países do continente. Para o autor, o Brasil deveria assistir os

alunos que têm condição de ficar em dedicação exclusiva aos estudos e aqueles outros que

precisam trabalhar para ajudar suas famílias e acabam até deixando a escola para trabalharem

(GOLDEMBERG, 1993).

Nos países desenvolvidos, a expansão do ensino médio está associada a um enriquecimento da população, de forma a permitir a um número crescente de famílias postergarem a entrada dos filhos no mercado de trabalho: o ensino médio é preponderantemente diurno e de tempo integral. Não foi isso o que ocorreu no Brasil. Mas a escola brasileira, aprisionada em normas rígidas e uniformes, não diferencia, em termos da relação ensino-aprendizagem, entre jovens de classe média ou alta que apenas estudam, e os que trabalham para garantir sua subsistência e estudam à noite (GOLDEMBERG, 1993, s/p).

Goldemberg (1993) continua a discussão sobre o assunto e deixa claro que a

educação, distribuição de renda e pobreza se entrelaçam realmente, vis-à-vis a população

carente prefere (e tem que preferir de acordo com a teoria das necessidades de Maslow14) a

13 José Goldemberg é professor, político, físico e representante da Academia Brasileira de Ciências. Foi ministro da educação de 1991 a 1992 e ministro da saúde de 1992 a 1993. Também foi reitor da USP de 1986 a 1990. Durante seu mandato na reitoria da USP fez grandes avanços no estudo sobre a condição da educação nacional. 14 Abrahan Maslow, psicólogo americano do século XX que defendeu a importante teoria para as relações humanas chamada de Hierarquia das Necessidades. Para Maslow o ser humano tem uma hierarquia para as realizações pessoais, que vão desde as necessidades básicas (fome e sede), necessidades de segurança (moradia e

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alimentação, moradia e saúde antes da educação. Antes a sobrevivência e só depois agregar

valores à vida. Mesmo com a grande importância que a educação tem para o convívio social, a

vida ainda é o maior valor e desse valor, em alguns lugares do Brasil, a população não usufrui

como a constituição nacional assegura.

Para aquela parte da população brasileira realmente pobre, a educação dos filhos não é a prioridade fundamental, mas o são a alimentação, a moradia e a saúde. Para essas famílias, não basta o ensino ser gratuito — é preciso que a freqüência à escola não represente um ônus econômico adicional em termos de transporte e material didático. Além disso, se não houver provisão para a alimentação das crianças, muitas delas precisarão abandonar a escola para obter o seu próprio sustento. (GOLDEMBERG, 1993, s/p)

No discurso de Goldemberg é entendido como problema educacional a deficiência do

próprio sistema educacional em conseguir minimizar os problemas relacionados ao acesso dos

jovens à educação. Para Goldemberg o fato de abrir escolas e vagas aleatoriamente não

significa uma política educacional eficaz. Os problemas de pobreza, distribuição de renda e

educação terão que ser resolvidos com políticas conjuntas. O mais intrigante, pesquisável e

questionável do processo educacional brasileiro é que há décadas as diretrizes propostas pela

sociedade e governantes mostram o caminho a se seguir, a dificuldade está na execução desse

processo e o recebimento dos benefícios propostos por parte da população. Um exemplo da

intenção da sociedade e governantes de ter uma educação de qualidade e acessível se percebe

em um dos trechos do histórico Manifesto dos Pioneiros de 1932. No Manifesto se nota a

dificuldade de execução das propostas, tendo em vista que as próprias diretrizes do manifesto

não foram alcançadas, o Manifesto não cumpriu o que pretendia de acordo com sua redação.

Na hierarquia dos problemas nacionaes, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caracter economico lhe pódem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. (...) todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda crear um systema de organização escolar, á altura das necessidades do

estabilidade no emprego), necessidades de afeto (amor e sociabilidade), necessidades de estima (reconhecimento) e necessidades de auto-realização (vaidade). Para Maslow o ser humano conquista e realiza seus projetos de acordo com suas necessidades, nesta ordem que foi apresentada. Daí ser muito pertinente o que Goldemberg diz, já que mesmo a população carente reconhecendo a educação como fonte imprescindível para saída da pobreza tem que preferir a sobrevivência através de valores básicos como alimentação, moradia e saúde. A educação passa a ser um supérfluo.

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paiz. Tudo fragmentário e desarticulado [sic]. (MANIFESTO DOS PIONEIROS, 1932, apud CAVALARI, s/a)

O Manifesto demonstra que governo e sociedade civil entendem os pontos críticos a

serem enfrentados desde 1932, mas por diversos, o sistema proposto não consegue ser

colocado em prática e os resultados esperados não são atingidos. Os motivos para o não

funcionamento são, na maioria das vezes, por atitudes governamentais desastrosas, má gestão

dos governantes e alguns problemas que a própria sociedade é incumbida de resolver.

A situação brasileira ainda é tal que há cidades que não conseguem ofertar vagas

suficientes para todos os possíveis alunos, há outras cidades distantes que fazem com que os

estudantes sejam submetidos a condições logísticas extremas para ter condições de usufruir o

direito básico da educação. A melhoria do processo educacional brasileiro caminha a passos

lentos desde o início, mas nos últimos anos começou a tomar forma o movimento de

conscientização de toda a sociedade. A internalização e aceitação da questão da educação

como um problema a ser superado fez com que toda a sociedade se posicionasse em luta em

prol das melhorias do sistema educacional nacional.

Uma possível amenização do problema resultante do dilema distribuição de

renda/educação seria a participação conjunta do governo e do terceiro setor nas políticas

educacionais. O governo tem possibilidade de intervir nesse dilema, fomentando a educação

de qualidade e possibilitando acesso à educação pela população carente. O terceiro setor, por

sua vez, não tem responsabilidades por normativas, mas tem, em seu caráter social, um

impulso para também contribuir para eliminar a má gestão dos processos educacionais nos

países subdesenvolvidos.

Por um lado, a expansão educacional aumenta a produtividade do trabalho, contribuindo para o crescimento econômico, o aumento de salários e a diminuição da pobreza. Por outro, a expansão educacional promove maior igualdade e mobilidade social, na medida em que a condição de ativo não-transferível faz da educação um ativo de distribuição mais fácil do que a maioria dos ativos físicos. Além disso, devemos observar que a educação é um ativo que pode ser reproduzido e geralmente é ofertado à população pobre por intermédio da esfera pública. (BARROS et al, 2002, s.p)

A desigualdade social está relacionada à educação de uma sociedade e tem seus

índices mais atenuantes demonstrados entre a população de níveis intermediários de educação

como pode ser demonstrado no gráfico abaixo. Através do gráfico que traça a relação entre

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desigualdade e escolaridade é possível perceber a relação interdependente da desigualdade e

média de escolaridade.

Gráfico 1: Relação Entre Desigualdade Social e Média de Escolaridade

Fonte: IPEA, 2005

O gráfico mostra que em certa etapa da média de escolaridade a parábola do gráfico

demonstra um pico retratado pela desigualdade. O gráfico traduz a relação de camadas sociais

que têm médias de escolaridade parecidas e não apresentam, ou apresentam pouca,

desigualdade social. Na posição intermediária da média de escolaridade é percebido um

aumento da desigualdade social. O contrário é visto com maior grau de escolaridade. Há uma

concentração da desigualdade entre os que estão participando do nível intermediário de

ensino. Além disso, através do gráfico é totalmente afirmativo dizer que a educação diminui a

desigualdade social quando passa dos níveis intermediários dos graus de educação. Se há

maior escolaridade a tendência é que ocorra o declínio da parábola da relação desigualdade

por média de escolaridade. Isso indica que um maior investimento em educação resulta em

retorno efetivo para a sociedade como segurança, saúde, economia e cultura. A má

distribuição de renda está no centro do problema da integração educacional.

Na questão segurança, em que a educação também tem forte impacto, há mais outros

exemplos da influência que esta tem em outros setores da sociedade. Fato que comprova tal

informação é pesquisa realizada pela FUNAP15, Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel

15 A FUNAP é Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel do Governo do Estado de São Paulo. Criada em 1976, a FUNAP tem como missão a Contribuir para a reinclusão social de presos e egressos do Estado de São Paulo

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do Governo do Estado de São Paulo, que está representada por alguns de seus resultados na

tabela abaixo. A tabela informa a relação do grau de escolaridade com o perfil do prisioneiro

das cadeias do Estado de São Paulo em 2002, esses dados foram comparados entre a região

sudeste e o próprio estado de São Paulo.

Tabela 4 – Comparativo de escolaridade

INAF BRASIL

Leitura e Escrita (2005) INAF Pop. Carcerária

% Total Sudeste Homens Total

Grau de instrução

Até 4ª série do Fund. 38 32 40 33

5ª a 8ª séries do Fund. 26 27 27 47

Ens. Médio 26 29 25 18

Ens. Superior 10 12 9 2

Anos de estudo

até 3 anos 18 13 19 20

de 4 a 7 anos 35 34 36 48

de 8 a 10 anos 20 22 20 21

11 anos ou mais 27 31 25 11

Base amostral 2002 882 974 800

Fonte: FUNAP, 200616

Gráfico 2: População Carcerária por Grau de Instrução/Brasil População Carcerária por Grau de Instrução / Brasil

2005

38

26 26

10

05

10152025303540

Até 4ª série doFund.

5ª a 8ª séries doFund.

Ens. Médio Ens. Superior

Fonte: o próprio autor17

estimulando seu potencial como indivíduos, cidadãos e profissionais. Conhecer mais: http://www.funap.sp.gov.br/ 16 Para saber mais: www.ipm.org.br. Tabela Disponível em : http://www.ipm.org.br/inafcarcerario/funap_pg_basico.php?ipg=3&om1=03&q_om2=01. Acessado em 25/08/2008

17 Gráfico a partir dos dados da FUNAP demonstrados na tabela 5 ou disponível em http://www.ipm.org.br/inafcarcerario/funap_pg_basico.php?ipg=3&om1=03&q_om2=01. Acessado em 25/11/2008

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Gráfico 3: População Carcerária por Anos de Estudo

População Carcerária por Anos de Estudo - Brasil 2005

18

35

20

27

05

10152025303540

até 3 anos de 4 a 7 anos de 8 a 10anos

11 anos oumais

Fonte: o próprio autor18

A maioria da população carcerária tem entre 4 a 7 anos de estudo. No quesito

segurança pública, os dados da pesquisa exemplificam que a educação diminui sim a

população carcerária e, consequentemente, melhora a segurança pública. No estudo

comparativo pode ser percebido no estudo Comparativo de Escolaridade Carcerária, assim

como no gráfico da Desigualdade x Grau de Escolaridade, que há uma formação curva e

acentuada, iniciando em um nível intermediário para os que têm pouca escolaridade e

finalizando em um nível bem inferior para os que se encontram em um maior nível de

escolaridade. Na comparação de nível econômico, representado pela taxa de crescimento e

educação percebe-se uma outra parábola. De acordo com dados da FGV a falta de anos na

educação e a má qualidade da força de trabalho, não só repercutem em vários nichos sociais

como também atrasam o crescimento econômico das famílias como um todo.

A baixa qualidade da força de trabalho prejudica as famílias, as empresas e o país como um todo. Cada ano adicional de escolaridade nos ensinos médio ou superior eleva a renda per capita dos países em meio ponto percentual anual. Como a população cresce cerca de 1,3% anuais, cada ano de estudo a mais nesse nível de ensino elevaria a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 1,8 ponto percentual, ou seja, se o PIB do Brasil estiver crescendo 2% ao ano e aumentar sua

18 Gráfico a partir dos dados da FUNAP demonstrados na tabela 5 ou disponível em http://www.ipm.org.br/inafcarcerario/funap_pg_basico.php?ipg=3&om1=03&q_om2=01. Acessado em 25/11/2008

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escolaridade em um ano, ele vai passar a crescer perto de 3,8% ao ano. (UOL APRENDIZ, 2008, s.p19)

O crescimento econômico está diretamente ligado à escolaridade. Até o declínio da

população representada pelo maior grau de escolaridade se apresenta igual ao do apresentado

no gráfico Desigualdade x Grau de Escolaridade. É notado que os fatores econômicos,

educacionais e de segurança pública se entrelaçam e formam um conjunto de itens essenciais

para uma sociedade.

Gráfico 4: Relação entre Taxa de Crescimento Econômico e Educação

Fonte: ANPEC, 2008

Na saúde, dados do PNDS, Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, de 2006,

realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, CEBRAEP20, mostram que entre

as mulheres do Brasil, o problema mais grave no quesito saúde se traduz em falta de

educação. A pesquisa informa que pelo menos 10% da população das mulheres brasileiras não

conseguem ou não têm condições de usufruir as políticas públicas direcionadas e apresentadas

pelo governo. Essas pessoas têm dificuldade em conseguir ler os materiais que o governo

disponibiliza, não conseguem entender as mídias, além de não relacionarem o que o médico

explica com as suas aplicações práticas dentro do seu lar (CEBRAEP, 2008).

As políticas públicas e ações direcionadas à melhoria do sistema educacional tiveram

visíveis melhoras, principalmente nos últimos 15 anos. Ações como o Bolsa Escola, ENEM,

Cotas Raciais, PROUNI, novos centros tecnológicos federais, abertura de novas faculdades 19 Disponível em: http://aprendiz.uol.com.br/content/drostibrun.mmp. Acessado em 25/11/2008 20 CEBRAEP ou Centro Brasileiro de Análise e Planejamento é uma instituição de pesquisa acadêmica em ciências humanas em que sua comunidade desenvolve pesquisas relacionadas ao Brasil. Mais informações consultar http://www.cebrap.org.br/

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federais e unidades federais de ensino, foram algumas das ações que o governo inseriu no

sistema educacional com a finalidade de contribuir para a minimização dos problemas sociais

que são resultantes das deficiências da distribuição e falta de ensino. As políticas educacionais

continuam e a dicotomia educação/distribuição de renda começa a dar sinais de redução.

Longe ainda do que é necessário para uma anulação do quadro de pobreza percebido

nacionalmente, mas percebe-se que os caminhos começam a ser modificados.

Alguns pontos como merenda escolar, acessibilidade, qualificação de professores,

carga horária de alunos e fornecimento de material escolar estão sempre na pauta central das

iniciativas de políticas educacionais. Outros fatores não estiveram em pauta, como é o caso da

fiscalização e valoração dos resultados de cada instituição, que, nos últimos anos, foram

preponderantes para a melhora da educação no Brasil. As mensurações regidas por alguns

órgãos nacionais, o principal deles o INEP, faz com que haja um conhecimento por parte da

população da situação das instituições de ensino superior. As informações servem como

incentivo para alunos e professores, demonstram quais são as instituições que se preocupam

com a qualidade de ensino e quais não conseguem atingir um índice concernente ao que o

governo nacional considera necessário para a educação brasileira.

Novamente é importante ressaltar que não há uma política educacional efetiva que

sanou todos os problemas educacionais brasileiros, mas as políticas educacionais estão

caminhando para que compreendam todas as soluções já apresentadas aqui, o de um ensino de

qualidade que atinja toda a população nacional. Isto não só porque a educação é importante

para a população, mas é condição sine qua non para uma nação que deseja a justiça social,

transformar e formar cidadãos e sanar as mazelas que a desigualdade carrega. Deste modo, “a

expansão educacional promove maior igualdade e mobilidade social [...] a condição de “ativo

não-transferível” faz da educação um ativo de distribuição mais fácil do que a maioria dos

ativos físicos” (Barros; Henriques; Mendonça, 2002, s/p).

Sem os melhores resultados da educação apresentados pelo Brasil nos últimos anos

ficaria impossível o país pensar em integração educacional. A propósito, não haverá

integração plena entre nações se a educação não estiver nas bases deste processo, ou pelo

menos estiver tendo a devida importância. As faces que a educação pode apresentar a uma

sociedade são muitas, suas conseqüências, pelo seu bom ou mau uso, são diversas também.

Assim também não haverá educação sem que haja cidadania. Sem cidadania não haverá

capacidade para um país extrapolar suas fronteiras e participar de uma integração regional

tendo um sistema educacional precário, sistema esse que depende principalmente da

capacitação dos cidadãos, como requisito básico para seu aprimoramento.

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Portanto, o Brasil, em estado de preparação para a integração educacional, deve,

antes de tudo, fortalecer seu sistema educacional e sanar todas as suas mazelas educacionais.

O Brasil começa a se preparar para a integração aceitando a língua espanhola como

indispensável no ensino fundamental, melhorando seus mecanismos de avaliação do ensino e

estudando o sistema de ensino nos países do MERCOSUL. Os congressistas começam a

perceber que a integração educacional é um processo que caminha junto às pretensões do

Brasil em alcançar um bloco econômico realmente integrado como reza seus termos.

O Brasil caminha em preparação para a integração. E se a integração educacional,

por ventura, for contra os acontecimentos do outro bloco, que serve de exemplo, a União

Européia, ainda assim o país não sairá perdendo, afinal está cuidando de um setor estratégico,

que influencia todos os outros de uma sociedade.

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3 A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO MERCOSUL

O MERCOSUL deixa explícita a necessidade da capacitação humana e integração

educativa nas várias tentativas de acordos em benefício da integração educacional e a criação

de mecanismos que administrem a educação do bloco econômico. Exemplo disso é a

realização do Plano Trienal de Integração Educativa de Las Leñas21, em 1992. O Plano

Trienal de Las Leñas, através de seu texto, demonstra claramente a preocupação com a

integração educativa pelos participantes, assim como o MERCOSUL, através de seus

membros, busca não somente uma educação comum, mas com uma "formação da consciência

cidadã favorável à integração, além da capacitação de recursos humanos para contribuir para

o desenvolvimento da economia, e a harmonização dos sistemas educativos dos países

Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai" (MOROSINI, 1994, 28).

A imagem que os governos participantes do MERCOSUL passam através de suas

propostas é de que a integração educativa caminha junto com a intenção do MERCOSUL para

melhorar a capacidade industrial dos seus países. Mas, a integração da educação é muito mais

difícil de ser feita do que a própria integração comercial, já que existem fatores como o

idioma, cultura e a própria grade curricular desenvolvida que multiplicam as dificuldades.

Considerando a importância da educação para os países e os benefícios de uma

integração regional, é oportuno propor uma Integração Educativa nos blocos regionais de

forma que contribua para o alcance dos objetivos por eles propostos, ou seja, o

desenvolvimento econômico e social dos Estados-parte. Entretanto, é necessário averiguar

quais os pontos a serem tratados para que a integração educativa ocorra, além de indagar o

modo pelo qual ela deve ocorrer para que traga o máximo de benefícios e os menores custos,

mesmo porque o processo de integração regional tem suas dificuldades, assim como o

processo de integração educativa. Para o Ex-ministro da Educação José Goldemberg22·, citado

por Piletti e Praxedes (1998), a integração da educação é muito mais difícil de ocorrer que a

própria integração regional, tendo em vista a dificuldade da assimilação cultural vinculada ao

processo educacional e da equiparação curricular das diferentes instituições inseridas nestas

diferentes culturas compostas pelos países participantes do MERCOSUL. Sanar as diferenças

culturais para que aconteça a integração educativa é tão difícil como tão imprópria, já que a

21 Plano Trienal de Integração Educativa e a Formação de uma Comissão Conjunta de Ministros das Áreas do Trabalho. 22 José Goldemberg foi ministro da educação do governo Collor de 1991 a 1992. Também foi reitor da USP de 1986 a 1990.

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cultura se caracteriza como fundamento básico de um povo, mas não é impossível. O idioma

faz parte da cultura, isso pode ser considerado um problema no âmbito do MERCOSUL, mas

pode ser amenizado. A grade curricular de ensino dos países do MERCOSUL, em seus vários

níveis de ensino, tem na difícil e complicada - devido a diversificação cultural -

uniformização e padronização a alternativa para que a integração educativa aconteça

(PILETTI e PRAXEDES, 2008). Contudo, a uniformização das grades curriculares e

padronizações do ensino podem ser perfeitamente adaptáveis a cada situação de cada país

dentro do MERCOSUL, mesmo tendo relação direta com a cultura (PILETTI; PRAXEDES,

2008 e CHIARELLI; SIENRA, 2001).

No MERCOSUL, a preocupação pela integração educativa tem início logo em seu

tratado inicial, o Tratado de Assunção, todavia, sem nenhuma ênfase, já que o Tratado não se

refere diretamente à educação em seu texto. O tratado apenas considera os objetivos do bloco,

como a livre circulação de pessoas e serviços entre os países membros. Outro ponto a ser

destacada no Tratado de Assunção (1991) é o que aponta a promoção do desenvolvimento

científico e tecnológico dos membros e a modernização da sua economia como fonte para a

melhoria das condições de vida de seus habitantes. O Tratado também considera que a

abrangência dos mercados, por meio da integração, é fator fundamental para o

desenvolvimento econômico, mas isso acontecendo em consonância com o aproveitamento

dos recursos disponíveis e, entre outros fatores, com a complementação dos diferentes setores

da economia.

Desse modo, o Tratado de Assunção não faz referências diretas à educação, nem à

sua integração, embora deixe explícita a preocupação dos Estados-parte em promover o

desenvolvimento econômico e, em conseqüência, uma melhoria da qualidade de vida dos

cidadãos. O Protocolo de Ouro Preto (1994) também não faz referência à educação, mas o

tema é tratado pelo MERCOSUL posteriormente através de protocolos, acordos e reuniões

que aconteceram no âmbito do bloco.

A integração educacional no MERCOSUL começou a tomar forma a partir de

iniciativas dos próprios países que ratificaram o Tratado de Assunção. Na reunião do

Conselho do Mercado Comum (CMC), em Las Leñas (1992), foi aprovado o plano Trienal

para Integração Educativa, no qual as políticas para uma educação integrada voltada para os

membros do MERCOSUL foram destacadas. Foi proposto aos Estados-parte que criassem

métodos para monitorar a implantação das políticas voltadas para a educação. Os ministros

das áreas jurídicas, do trabalho, além dos ministros da educação dos países membros do bloco

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foram alertados para que criassem uma comissão para realizar o monitoramento das políticas

educacionais propostas.

A discussão sobre a integração da educação no MERCOSUL se apresenta com

muitas vertentes devido ao tema “educação” ser um assunto popular e que recebe

interferências de vários setores da sociedade. Lampert (1998) relata as dificuldades de

discussão sobre educação no MERCOSUL. De acordo com o autor, “discutir educação no

MERCOSUL é candente polêmica, porque a abrangência do tema extrapola a esfera da

educação” (LAMPERT, 1998, s/p). Contudo, ele reconhece a importância do MERCOSUL

como ligação para o desenvolvimento e uma “premissa” para que os países participem das

interações no âmbito internacional e, conseqüentemente, de uma educação integrada. Lampert

(1998) evidencia que, mesmo o assunto sendo polêmico e interagindo com várias áreas, é

imprescindível que ele seja estudado, compreendido e aplicado, até porque a educação deve

fazer parte desse ensejo, tão quanto ou mais que outros elementos complementares do bloco,

como economia, comércio e cultura.

Para que aconteça a integração educativa no MERCOSUL, Goldemberg, citado por

Piletti e Praxedes (1998), sugere como ponto de partida a reorganização dos sistemas

educacionais dos países do MERCOSUL. Essa reorganização deverá acontecer para que

ocorra a uniformização das condições para o exercício profissional. Medida essa que induziria

o reconhecimento mútuo dos diplomas atribuídos pelos sistemas de ensino de cada país. A

reorganização dos sistemas ocorreria com o atendimento à pré-condição da padronização ou,

ao menos, da compatibilização dos currículos das diferentes redes de ensino.

Essas tentativas posteriores de uma Integração Educativa não obtiveram muitos

avanços, mesmo com várias reuniões para a integração, tendo em vista que as negociações

ficaram estagnadas no nível médio técnico. Outras tentativas posteriores de ratificação de

acordos sobre Integração Educativa foram para ratificar os protocolos que integrariam a

educação no MERCOSUL nos níveis superiores e pós-graduados. Nesses casos, não houve

avanços e, na maioria das vezes, nenhum congresso nacional dos países do MERCOSUL

ratificou o protocolo.

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3.1 O Processo de Integração Educativa no MERCOSUL

A primeira intenção real do MERCOSUL com a Integração Educativa e com uma

possível “reorganização dos sistemas educacionais” foi em 1994, em que o Conselho do

Mercado Comum (CMC) aprovou o “Protocolo sobre integração educativa e reconhecimento

de certificados, títulos e estudos de nível primário e médio não técnico”. Esse Protocolo

autorizou o reconhecimento e a aceitação dos certificados expedidos pelos membros do

MERCOSUL dos cursos de nível primário e médio não técnico. O seu objetivo era de

estabelecer parâmetros para itens comuns de identidade, que contribuíssem com a

diversificação de conhecimento e cultura entre os Estados-parte (MERCOSUL, 2006).

Analisando o protocolo, percebe-se, que os Estados-parte realizaram a reunião com

o reconhecimento da importância da educação para o bloco e já estavam “prevendo que os

sistemas educativos deviam dar resposta aos desafios suscitados pelas transformações

produtivas, pelos avanços científicos e técnicos e pela consolidação da democracia”. Em seu

artigo 1º, o Protocolo de Integração Educativa estabelece que “os estudos em nível primário

ou médio não técnico realizados de forma incompleta em qualquer dos Estados-parte serão

reconhecidos nos demais Estados”. Desse modo, haverá o conhecimento dos Estados

membros das modalidades educacionais adotadas pelos estados do bloco (PROCOLO DE

OURO PRETO, 1994).

O reconhecimento acontecerá com base em uma tabela de equivalência das grades

curriculares, em que as situações de cada país serão equiparadas e, a partir dessa equiparação,

é que acontecerá a criação de mecanismos para regular o método e a qualidade do ensino

pelos Estados-parte. Assim, os Estados entendem, por meio do Protocolo, que é importante a

promoção cultural entre os povos do MERCOSUL mediante integração harmônica, de forma

que possibilite uma interação educacional e o fluxo do conhecimento entre os participantes do

Bloco (PROTOCOLO SOBRE INTEGRAÇÃO EDUCATIVA E RECONHECIMENTO DE

CERTIFICADOS, TÍTULOS E ESTUDOS DE NÍVEL PRIMÁRIO E MÉDIO NÃO

TÉCNICO, 1994).

Ficou estabelecido então, através do Protocolo, que os estudos primários e médios

não técnicos, iniciados em algum território dos Estados-parte, poderiam ter prosseguimento

em outro país do Bloco. Se o cidadão estiver já de posse do diploma, esse poderá ser aceito

em qualquer um dos Estados-parte. Para melhor adaptar as grades curriculares dos países do

bloco, ficou firmado que os conteúdos de Geografia e História seriam postos a pesquisa para

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uma posterior conformação curricular entre os membros. Para toda essa estruturação, seria

criada uma Comissão Regional Técnica. Essa Comissão seria representada por autoridades

dos ministérios da educação de cada Estado-parte, fazendo com que as informações de

alterações ou incorporações em seus métodos educativos pudessem ser declaradas,

explicitadas e averiguadas.

Após a ratificação do Protocolo da Integração Educativa dos certificados de nível

médio e não-técnico em 1994, o objetivo passou a ser a concordância com os outros níveis da

educação. A negociação de uma integração do nível técnico, graduação e pós-graduação não

foi objeto desse protocolo e só entrou na pauta de negociações em 1995. Um dos pontos

discutidos nessas outras negociações foi a dicotomia da harmonização ou padronização do

ensino, uma questão delicada, mesmo porque uma definição pela harmonização ou

padronização pode gerar consequências no decorrer do processo integracionista.

Mesmo não sendo ratificada pelos acordos e protocolos propostos, a integração da

educação no nível superior para o MERCOSUL é muito importante e sua importância é

reconhecida pelos países, até porque, com a necessidade de aumento da qualidade

tecnológica, haverá “una mayor demanda de aquellos que posean un nivel de educación

superior y competencias múltiples, tanto por parte de la industria como de los servicios”

(LANDINELLI 1994, p.225 ). Ainda nesse ponto, Landinelli (1994) também acredita que a

integração educacional superior no MERCOSUL não acontecerá se antes não houver, assim

como na integração de nível primário e médio, uma integração curricular, além de uma

melhoria constante e eficaz na educação superior de cada Estado-parte. Theotônio do Santos

(1996) aponta o ensino superior de qualidade em todos os países como indispensável e

acredita que, em um futuro próximo, seria possível um estudante começar um curso em um

país e terminar em outro, o que possibilitaria ao aluno aproveitar de outra cultura e de novos

conhecimentos inseridos no processo de aprendizagem em países distintos.

Com o mesmo ponto de vista de Landinelli (1994), Theotônio do Santos (1996)

entende que a integração educativa do nível superior só ocorrerá se houver uma reformulação

na estrutura das faculdades que irão compor esse sistema, como também uma reformulação na

grade curricular de ensino e em seus métodos de aprendizagem, embora o autor reconheça que

a estrutura, a grade curricular e a metodologia de ensino são só algumas das dificuldades para

os países do MERCOSUL no seu processo de integração educacional. Para que a integração

ocorra, deve haver conformação, e essa conformação enfrenta suas primeiras dificuldades já

nos dados discrepantes referentes à educação entre os membros, como pode ser visto nas

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tabelas abaixo. A adequação dos índices se caracteriza como uma grande dificuldade para a

ratificação de acordos de integração educativa.

As tabelas I e II mostram as disparidades de trato na educação pelos membros do

MERCOSUL, demonstrando políticas diferentes para cada nível de ensino. Enquanto no

Brasil, por exemplo, os gastos com educação no pré-primário, primário e secundário são

menores que na Argentina, no Chile e Uruguai (menos no primário), no nível terciário há um

considerável aumento nos gastos por parte do Brasil.

Tabela 5: Gasto por aluno de acordo com o nível de ensino em 2006 (dólares)

Fonte: Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur, 2005

Tabela 6: Porcentagem do gasto público com educação dentro do gasto público total por nível de ensino – 2006

Fonte: Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur, 2005

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A tabela 3, abaixo, mostra mais disparidades dos sistemas educacionais e resultados

dos países do MERCOSUL. O Brasil é o país com a menor taxa de aprovação em seus vários

níveis, com exceção do nível secundário. A taxa de abandono também chama atenção nos

dados brasileiros.

Tabela 7: Taxas de Aprovação, Reprovação e abandono por nível de ensino - 2006

Fonte: Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur, 2005

Na tabela 4, há de se observar a taxa de analfabetismo do Brasil, maior dos cinco

países. Pode-se fazer analogia direta com a taxa de reprovação brasileira que está acima da

casa dos 10% nos vários níveis.

Tabela 8: Indicadores Globais – Analfabetismo e docentes por aluno

Fonte: Indicadores Estadísticos del Sistema Educativo del Mercosur 2005

As tabelas demonstram a dificuldade imposta pela própria estrutura atual dos países

membros do MERCOSUL, para a integração educativa. Enquanto os números não

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representarem uma equiparação dos esforços e resultados de cada país em prol da educação de

qualidade não haverá integração na educação. Vale ressaltar o índice de analfabetismo

brasileiro e outros tantos dados informados pelas tabelas, contudo tendo em vista a construção

do processo educacional, principalmente paraguaio, a de se questionar até que ponto esses

países conseguem fornecer dados estatísticos coerentes, de forma que a avaliação seja

uniforme para todos.

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4 PROTOCOLOS E ACORDOS REFERENTES À EDUCAÇÃO NO MERCOSUL

A página oficial do MERCOSUL na internet, no campo normativa, oferece a

possibilidade de consultas dos Protocolos e Acordos que foram pautas de votações pelos

Estados que compõem o MERCOSUL. As tentativas de ratificação de acordos e Protocolos

relacionados à integração educativa pelos países do bloco e entre parceiros do MERCOSUL

são no total de quinze, e estas quinze tentativas são distribuídas em assuntos mais específicos

dentro da própria integração educativa. Estes assuntos são relacionados à validação de

diplomas e títulos, integração de algumas matérias na grade curricular dos alunos dos países

ou formação de recursos humanos para atender as necessidades de capital humano do

MERCOSUL.

Nos Protocolos ou Acordos propostos pelos membros do MERCOSUL os seus

textos demonstram a intenção por uma integração educativa em que as próprias propostas de

Acordos e Pr otocolos fazem parte do ajuste de uma integração. As propostas indicam a

intenção de integrar a metodologia do ensino, os anos de ensino de cada estudante, o conteúdo

das disciplinas ministradas e a criação de um setor capaz de regular e monitorar o ensino nos

países membros do MERCOSUL.

As propostas contribuem, através de seu conteúdo, para o esclarecimento de alguns

termos relacionados à educação de cada país. A definição do que seja considerada graduação

e pós-graduação para os quatro membros é comentada sobre a forma de resolução, que está

prevista no Protocolo de Ouro Preto.

Nos Protocolos e Acordos concernentes à educação, é sempre lembrado o método

para a logística de informações dentro do MERCOSUL, para o qual existe o Sistema de

Informação do MERCOSUL e o Estado que será o depositário é o Paraguai.

Assim como, em qualquer outro Acordo ou Protocolo acordado no MERCOSUL, se

um país aderir ao bloco como Estado-parte, automaticamente aceitará os acordos de

Integração Educativa, mesmo aqueles feitos com outros países extra-bloco ou com

instituições internacionais. Isso demonstra a importância dos acordos e protocolos e sua

representatividade futura, já que países que pensam em aderir futuramente ao MERCOSUL

têm total interesse no que é decidido agora pelos membros do bloco.

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4.1 Protocolos e Acordos de Reconhecimento de Diplomas e Certificados do Ensino Primário, Médio e Não-técnico

O Protocolo de Integração Educativa e Reconhecimento de Certificados, Títulos e

Estudos de Nível Primário e Médio Não Técnico23 está exemplificado no 1º capítulo deste

trabalho e foi a primeira tentativa para uma integração educativa entre os países membros do

MERCOSUL. O Protocolo foi ratificado por todos os membros e foi validado logo em

seguida. O protocolo objetiva o reconhecimento de certificados, títulos e estudos de nível

primário e médio não técnico dentro do MERCOSUL. Foi o primeiro protocolo proposto pelo

MERCOSUL relacionado à integração educativa dos Estados membros do bloco. O protocolo

propõe os meios para que a integração educativa aconteça, os quais pode-se citar a adequação

à grade curricular e o tempo para inicialização e execução de cada etapa.

Após a ratificação do protocolo que permitia a validação dos títulos de ensino médio

e não-técnico, foi proposto o Protocolo de Integração Educacional, Revalidação de Diplomas,

Certificados, Títulos e de Reconhecimento de Estudos de Nível Médio Técnico24 que propõe

o reconhecimento dos títulos, diplomas e certificados de nível médio e médio técnico por

parte dos países integrantes do bloco MERCOSUL. O texto do Protocolo destaca a

importância da educação como resposta para os desafios relativos à produção científica e

econômica, tecnologia e a consolidação da democracia na integração regional dos países.

No Protocolo de Integração Educacional, Revalidação de Diplomas, Certificados,

Títulos e de Reconhecimento de Estudos de Nível Médio Técnico a redação vincula o

processo integracionista à cultura, afirmando que deve haver “o desenvolvimento cultural por

meio de um processo de integração harmônico e dinâmico que facilite a circulação de

conhecimentos entre os países integrantes do MERCOSUL”. Ainda de acordo com o

Protocolo, os Estados-parte reconhecem que o intercâmbio de conhecimento entre os países

integrados favorece o desenvolvimento científico-tecnológico e que há, por parte dos

23 Protocolo 05º de 05 de agosto de 1994. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1994/portugués/8.%20Protocolo%20de%20Integración%20Educativa%20Nivel%20Primario%20y%20Medio%20No%20Tecnico.pdf 24 Protocolo 13º de 05 de agosto de 1995. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1995/portugués/15.%20Protocolo%20de%20Integración%20Educativa%20y%20Revalida%20de%20Diplomas.pdf

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membros, “uma vontade de consolidar os fatores de identidade comuns, a história e o

patrimônio cultural dos povos”.

Para que possa ocorrer a revalidação dos diplomas, certificados e títulos, o Protocolo

e Acordos de Reconhecimento de Diplomas e Certificados do Ensino Primário, Médio e Não-

técnico propõe que sejam seguidos alguns critérios como:

� Se o título não se adequar inteiramente às leis do país através de um módulo

complementar, o título terá que ser complementado com estudos no país que

for revalidá-lo;

� Só poderão ingressar, ou dar continuidade nos cursos de nível médio técnico,

os alunos que tenham concluído o ciclo básico da escola média na Argentina,

o ensino fundamental no Brasil, a educação escolar básica ou a etapa básica

do nível médio no Paraguai e o ciclo básico da educação média no Uruguai;

� Os Estados-parte poderão permitir a continuação dos estudos nos países

membros mediante um pedido de transferência para o ano a que se refere à

continuação e será analisado de acordo com o anexo do artigo que trata

somente das condições de transferência;

� Existirá uma comissão de técnicos relacionados à educação que se reunirão

periodicamente, ou quando forem chamados, tendo em vista os possíveis

acordos bilaterais entre os membros e entre terceiros e membros.

No Protocolo estão contidos anexos que regulam o processo de integração da

educação de níveis médios e médios técnicos, sendo que no anexo I está a tabela de

equivalência em que é especificado o nível que identifica o grau mínimo para ingresso nos

cursos médios e médios técnicos nos países membros do MERCOSUL. O anexo II diz

respeito aos módulos informativos complementares, que são responsáveis por reger e ser base

para análise da possível aceitação dos títulos, diplomas ou certificados ou se é necessária a

complementação dos currículos. O anexo III dá margem para regular o reconhecimento de

estudos realizados de forma incompleta, estipulando parâmetros para que sejam aceitos ou

não os diplomas, títulos e certificados não completos. Por último, o anexo IV trata das

condições de transferência e os procedimentos que o interessado na revalidação de títulos e

diplomas deve fazer. Todos os Estados-parte ratificaram o Protocolo.

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Acompanhando a tendência da integração educativa do MERCOSUL com outros

países parceiros, o MERCOSUL propôs o Protocolo de Integração Educativa e

Reconhecimento de Certificados, Títulos e Estudos de Nível Primário e Médio Não Técnico

com a inserção dos países Bolívia e Chile25.

No Protocolo, os Estados-parte tratam com mais propriedade da questão de

conformação do ensino nos países membros e têm um maior cuidado com a tabela de

equivalência educacional do MERCOSUL. Para isso, o Protocolo sugere uma Comissão

Regional Técnica para administrar os processos e propor reuniões para que assuntos

subtendidos possam ser esclarecidos. De acordo com o Protocolo, a Comissão deveria ser

composta por delegação dos Ministérios da Educação de cada Estado-parte. Os Estados-

parte, de acordo com o Protocolo, entendem que deverá acontecer a incorporação de

conteúdos curriculares mínimos de História e Geografia, organizados e acordados através de

Reuniões de Ministros de Educação do MERCOSUL e autoridades competentes de cada país

signatário. Argentina, Brasil e Paraguai ratificaram o acordo, o Uruguai e Bolívia ficaram

como pendentes.

4.2 Protocolos e Acordos de Reconhecimento de Certificados e Títulos do MERCOSUL no Ensino Superior

Na redação do Protocolo de Integração Educacional Sobre Reconhecimento de

Títulos Universitários para o prosseguimento de Estudos de Pós-Graduação nas Universidades

dos Países Membros do MERCOSUL26 é reconhecido que a educação tem papel fundamental

para a integração regional e que sua importância tende a aumentar na medida em que a

educação for integrada. O Protocolo tem bases no que foi decidido no programa trienal no

item II.4, em que ficou assumido pelos membros do bloco o dever da formação de uma base

25 Protocolo 64º de 05 de dezembro de 2002. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2002/portugués/64.%20Protocolo%20Integración%20Educativa%20Reconocimiento%20de%20Titulos%20MSUR,%20Bolivia%20y%20Chile...pdf 26 Protocolo 12º de 05 de agosto de 1995. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1995/portugués/14.%20Protocolo%20de%20Integración%20Educativa%20sobre%20Reconocimiento%20de%20Titulos.pdf

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de conhecimentos científicos e de infra-estrutura institucional em benefício dos objetivos do

MERCOSUL.

No Protocolo é lembrado que, na Ata de ministros da educação realizada em Ouro

Preto no dia nove de dezembro de 1994, estava a intenção dos Estados-parte pela ratificação

de acordos concernentes ao reconhecimento de títulos de graduação com propósito da

realização de estudos de pós-graduações.

Pela proposta do Protocolo os títulos reconhecidos serão unicamente para fins

acadêmicos, não podendo ser aproveitado profissionalmente em outros setores que não

fossem os educacionais. Ficou proposto que os Estados-parte devem informar aos demais

quais as instituições capazes de expedir o título a ser reconhecido, mediante mecanismos que

regulem e regulamentem este processo. Nenhum dos Estados-parte ratificou o acordo.

O Protocolo de Integração Educacional Sobre Reconhecimento de Títulos

Universitários para o prosseguimento de Estudos de Pós-Graduação nas Universidades dos

Países Membros do MERCOSUL27, por intermédio do seu texto, reconhece que a educação

tem papel fundamental para a integração regional na medida em que a educação for integrada.

O Protocolo cita o Programa Trienal para o Setor de Educação no Contexto do MERCOSUL28

e lembra que ficou assumido neste programa o dever da formação de uma base de

conhecimentos científicos e de infra-estrutura institucional em benefício dos objetivos do

MERCOSUL.

Com uma forte tendência de iniciativas para a integração educacional do

MERCOSUL e da Bolívia advinda de outros setores da integração regional no cone sul, o

Protocolo de Integração Educacional Sobre Reconhecimento de Títulos Universitários para o

Prosseguimento de Estudos de Pós-Graduação nas Universidades dos Estados-parte do

MERCOSUL e Bolívia29 tenta incluir a Bolívia nos planos de uma integração educativa

dentro do bloco. O Protocolo foi proposto nos mesmos moldes do Protocolo de Integração

Educacional Sobre Reconhecimento de Títulos Universitários para o prosseguimento de

27 Protocolo 21º de 05 de agosto de 1995 . Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1996/portugues/24.%20Protocolo%20de%20Integración%20Educativa%20para%20Prosecución%20de%20Estudios.pdf 28 O Programa Trienal para o Setor de Educação no Contexto do MERCOSUL visa o desenvolvimento dos países do MERCOSUL tendo como foco a educação. Tem três programas básicos que são: 1 – Formação da consciência cidadã favorável ao processo de integração; 2 – Capacitação de recursos humanos para contribuir ao desenvolvimento; 3 – Compatibilização e harmonização dos sistemas educativos. 29 Protocolo 59º de 05 de dezembro de 2002. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2002/portugués/58.%20Protocolo%20Integración%20Educativa%20Post-Grado%20Universidades%20MSUR%20y%20Bolivia..pdf

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Estudos de Pós-Graduação nas Universidades dos Estados-parte do MERCOSUL, em que

Brasil e Paraguai ratificaram o Protocolo, enquanto Argentina, Uruguai e Bolívia ficaram

como pendentes.

O Protocolo de Admissão de Títulos e Graus Universitários Para Exercício de

Atividades Acadêmicas nos Países Membros do MERCOSUL 30 é resultado da ata da 10º

reunião de Ministros da Educação dos Países do MERCOSUL realizada em Buenos Aires,

Argentina, em vinte de junho de 1996. O Protocolo reconhece que a educação tem

importância fundamental no processo de integração regional e aponta o intercâmbio entre as

instituições de ensino superior da região do MERCOSUL como ferramenta importante para a

capacitação científica, tecnológica e cultural.

O Protocolo defende que os Estados-parte admitam “unicamente para o exercício de

atividades acadêmicas, os títulos de graduação e pós-graduação”, conferidos pelas

universidades do Paraguai, instituições de ensino superior no Brasil e instituições

universitárias no Uruguai e Argentina. O Protocolo ainda lembra que o direito de tratamento

dos postulantes ao exercício da atividade acadêmica nas faculdades do MERCOSUL deverá

ter o mesmo tratamento dos postulantes nacionais. Fica a cargo de cada Estado-parte a

informação de quais instituições estão aptas a participarem do processo de integração

educacional disponibilizando informações de reconhecimento dos cursos. Nenhum dos

Estados-parte ratificou o Protocolo.

O Anexo ao Protocolo de Admissão de Títulos e Graus Universitários para o

Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados-parte do MERCOSUL31 vem acrescentar ao

Protocolo de Admissão de Títulos e Graus Universitários para o Exercício de Atividades

Acadêmicas nos Estados-parte do MERCOSUL que os títulos e graus conferidos aos níveis

acadêmicos de especialização, mestrado e doutorado deverão ser e estar reconhecidos pela

legislação em vigor de cada Estado-parte a que forem originários. Nenhum dos Estados-parte

ratificou o anexo.

O Anexo ao Protocolo de Admissão de Títulos e Graduados Universitários para o

Exercício de Atividades Acadêmicas nos Países do MERCOSUL32 não acrescenta fatos

30 Protocolo 23º de 19 de junho de 1997. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1996/portugues/24.%20Protocolo%20de%20Integración%20Educativa%20para%20Prosecución%20de%20Estudios.pdf 31 Anexo ao Protocolo 26º de 15 de dezembro de 1997. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1997/portugues/27%20Anexo%20al%20Protocolo%20de%20Admisión%20de%20Titulos.pdf 32 Anexo ao Protocolo 31º de 23 de julho de 1998. Disponível em

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relevantes em relação ao Anexo anterior, só faz correções em sua redação de origem. Assim

como com seu precedente, nenhuma das partes ratificou o anexo.

O Acordo de Admissão de Títulos e Graduados Universitários para o Exercício de

Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do MERCOSUL33 reconhece a importância da

educação para o processo de integração regional e apóia o intercâmbio dos acadêmicos entre

as instituições do ensino superior na região do MERCOSUL.

O Acordo é outra tentativa de integração e visa a admissão de títulos de graduação e

pós-graduação reconhecidos e credenciados nos Estados-parte, unicamente, para “exercício de

atividades de docência e pesquisa nas instituições de ensino superior no Brasil, nas

universidades e institutos superiores no Paraguai, nas instituições universitárias na Argentina

e no Uruguai”. A Argentina e o Brasil ratificaram o Acordo, Paraguai e Uruguai ficaram

como pendentes.

De mesmo caráter e finalidade do Acordo de Admissão de Títulos e Graduados

Universitários para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do

MERCOSUL, o Acordo de Admissão de Títulos e Graduados Universitários para o Exercício

de Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do MERCOSUL, a República da Bolívia e a

República do Chile34, inclui a Bolívia e o Chile nas propostas de integração educativa pelos

membros do MERCOSUL.

Somente o Paraguai ratificou o Acordo. Argentina, Brasil e Uruguai ficaram como

pendentes. Até mesmo o Chile e a Bolívia, que foram convidados, não ratificaram o acordo e

ficaram na condição de pendentes.

O Protocolo de Integração Educacional para Formação de Recursos Humanos no

Nível de Pós-graduação entre os Países Membros do MERCOSUL35 tem como objetivo o

http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1998/portugues/28.%20Anexo%20al%20Protocolo%20de%20Admisión%20de%20Titulos.pdf 33 Acordo 37º de 14 de junho de 1999. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1999/portugues/37.%20Acuerdo%20Admisión%20de%20Titulos%20Ejercicio%20Academias%20MSUR.pdf 34Acordo 38º de 14 de junho de 1999. Disponível http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1999/portugues/38.%20Acuerdo%20Admisión%20de%20Titulos%20para%20Ejercicio%20de%20Actividades%20Academcas%20MSUR,%20Bolivia%20y%20Chile.pdf 35 Protocolo 19º de 16 de dezembro de 1996. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/1997/portugues/22.%20Protocolo%20de%20Formación%20RRHH%20a%20Nivel%20de%20Post-Grados.pdf

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aperfeiçoamento de docentes universitários e pesquisadores, tendo como pressuposto pelos

membros do MERCOSUL a ampliação dos programas de pós-graduação da região do

MERCOSUL.

O Protocolo destaca que a troca de informações e conhecimento entre os recursos

humanos dos países membros do MERCOSUL requer a criação de um sistema de intercâmbio

entre as instituições que são reguladas por este Protocolo no ambiente do bloco. O Protocolo

propõe que os Estados-parte apóiem a cooperação entre os grupos de pesquisa e ensino e

fomente a criação de projetos de pesquisa que sejam de interesse da região, principalmente

nos níveis de doutorado. O Protocolo também sugere que existam esforços por parte dos

membros do MERCOSUL, no sentido de que aconteça uma adaptação dos programas de pós-

graduação e ocorra a implantação de cursos considerados estratégicos para a região.

O Protocolo lembra que para que as propostas contidas em seu texto sejam

realizadas, os projetos elaborados pelas entidades responsáveis pela integração educacional

deverão ter suas regras claras quanto à divulgação de informações, confidencialidade,

responsabilidade e direitos de propriedade. Para o Protocolo, terá que haver contribuição

financeira para que os esforços relacionados à integração educativa tenham condições de

ocorrer e sejam facilitados. Todos os Estados-parte ratificaram o Protocolo.

Também, referente aos títulos superiores, há a proposta de Acordo de admissão de

Títulos, Certificados e Diplomas para o Exercício de Docência no Ensino do Espanhol e

Português como Línguas Estrangeiras nos Estados-parte.36 O Protocolo reconhece a

mobilidade dos docentes de idiomas oficiais do MERCOSUL como pré-requisito para suprir a

carência de recursos humanos qualificados no ensino de idiomas nos países do MERCOSUL.

O Protocolo propõe a aceitação de os títulos que dão habilitação para os docentes

lecionarem espanhol e português como línguas estrangeiras, nos níveis

primário/básico/fundamental e médio/secundário. Os docentes a que o Protocolo se refere,

deverão se submeter às mesmas exigências previstas para os nacionais, já as regras

migratórias e profissionais desses docentes serão regidas pelas leis vigentes no MERCOSUL

ou em concordância com acordos e convênios bilaterais que disponham os países. O Paraguai

ratificou o acordo e a Argentina, Brasil e o Uruguai ficaram como pendentes.

36 Acordo 88º de 20 de junho de 2005. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2002/portugués/64.%20Protocolo%20Integración%20Educativa%20Reconocimiento%20de%20Titulos%20MSUR,%20Bolivia%20y%20Chile...pdf

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4.3 Protocolo de Integração Educacional para Formação de Recursos Humanos no Nível de Pós-graduação entre os Estados Partes do MERCOSUL e da República da Bolívia37

O Protocolo de Integração Educacional para Formação de Recursos Humanos no

Nível de Pós-graduação entre os Estados-parte do MERCOSUL e da República da Bolívia é

uma extensão do Protocolo de Integração Educacional para Formação de Recursos Humanos

no Nível de Pós-graduação entre os Países Membros do MERCOSUL, contudo há a inserção

da Bolívia na proposta, tendo os mesmos moldes da proposta somente entre os membros do

MERCOSUL.

Argentina, Brasil e o Paraguai ratificaram o Protocolo. Os demais Estados-parte e

que faziam parte do Protocolo, Uruguai e Bolívia, não ratificaram o Protocolo.

4.4 Reconhecimento dos Títulos e Diplomas com participação de Instituições Internacionais Extra-MERCOSUL

Dentre os vários protocolos e acordos propostos concernentes a integração educativa

no MERCOSUL, houve um único que teve como pano de fundo uma instituição, o Convênio

Andrés Bello da Colômbia.

37 Protocolo 58º de 05 de dezembro de 2002. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2002/portugués/58.%20Protocolo%20Integración%20Educativa%20Post-Grado%20Universidades%20MSUR%20y%20Bolivia..pdf

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4.5 Acordo Complementar de Cooperação entre os Estados Partes do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e o Convenio Andrés Bello38 (CAB) Sobre Reconhecimento de Estudos, Títulos e Certificados de Educação Primária/Básica e Média/Secundária não Técnica39

Tem o objetivo de reconhecimento de títulos da educação básica/primária e

média/secundária não técnica cursadas em um dos Estados-parte do MERCOSUL e do

Convênio Andrés Bello. Também reconhece a importância da educação como fomentadora da

inclusão social e que dá sustento ao desenvolvimento, à circulação do conhecimento, ao

fortalecimento da democracia, constituindo-se assim, pilar fundamental para a integração

regional.

O Acordo relembra que foram feitas reuniões entre a Comissão Regional Técnica

(CTR) e a Secretaria Executiva do Convenio Andrés Bello (SECAB), para o reconhecimento

de estudos, títulos e certificados de educação primária/básica e média/secundária não técnica,

e a validação dos estudos nas mesmas condições estabelecidas para os estudantes ou formados

de seus respectivos países.

A partir do reconhecimento, por parte dos membros do MERCOSUL, dos títulos e

certificados de primário/básico e médio/secundário não técnico com base na tabela de

equivalência acordada, esse reconhecimento se estenderá para o Protocolo de Integração

Educativa e Reconhecimento de Certificados, Títulos e Estudos de Nível Primário e Médio

Não Técnico. Todos os Estados-parte ficaram como pendentes.

38 O Conveio Andrés Bello é uma organização de caráter intergovernamental e internacional com sede em Bogotá, Colômbia, que desde 1970 trabalha em processo de integração educativa, científica, tecnológica e cultural no âmbito ibero-americano. Mais informações consultar o site oficial do CAB http://www.cab.int.co/ 39 Acordo 105º de 28 de junho de 2005. Disponível em http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2002/portugués/64.%20Protocolo%20Integración%20Educativa%20Reconocimiento%20de%20Titulos%20MSUR,%20Bolivia%20y%20Chile...pdf

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5 O EXEMPLO PARAGUAI: A REVALIDAÇÃO PELO BRASIL DOS T ÍTULOS DE MESTRADO E DOUTORADO CONCLUÍDOS NO PARAGUAI

De acordo com pesquisa do Laboratório Latino-Americano de Qualidade da

Educação (LLACE) com o apoio da UNESCO e postada nos sites das entidades, o Paraguai se

encontra na incômoda posição de pior índice educacional da América Latina, junto com

outros três países, a saber, República Dominicana, Guatemala e Nicarágua. Para Praxedes e

Piletti (1998) não haverá integração educativa até que todos os países envolvidos na

integração estejam em nível equiparado de estrutura, capacidade, tecnologia e conformação

dos métodos educacionais empregados, além de possibilitar uma fiscalização eficaz dos meios

e resultados empregados. Assim, o Paraguai destoa dos demais países do MERCOSUL rumo

à integração educativa, ou, pelo menos, se mostra o país que apresenta a maior dificuldade e

distância para uma adequação e conformação da educação. Desse modo, no MERCOSUL, o

Paraguai se destaca como o país que se posiciona com maior distância de uma equiparação

dos estudos no âmbito do MERCOSUL e controle das entidades que fomentam e fornecem a

educação em todos seus níveis. No Paraguai todo o sistema educacional superior é composto

de sete instituições de ensino, até o ano de 1996 não havia um curso de mestrado que não

fosse o da Universidad Nacional de Asunción, as faculdades particulares ainda não estavam

instaladas e as pesquisas e projetos de extensão eram raros. A partir de 1996 o Paraguai

permitiu que as instituições de ensino particulares fizessem investimentos em seu território.

Os investidores brasileiros foram os principais, tanto para a criação de instituições e aporte de

capital, quanto para formação de parcerias entre as universidades e faculdades paraguaias e

brasileiras. A procura pelos estudantes brasileiros aos cursos de mestrado e doutorado também

foi ascendente, com poucos cursos de mestrado e doutorado no Brasil e com difíceis seleções

para ingresso, os estudantes brasileiros perceberam no Paraguai uma saída para

prosseguimento dos estudos.

Os cursos de mestrado e doutorado foram os mais procurados. Estes cursos de

mestrado e doutorado oferecidos pelas instituições paraguaias têm, na sua maioria,

matriculados da região norte e centro-oeste do Brasil. Por serem regiões com carência de

professores mestres e doutores, as faculdades dessas regiões aceitam e remuneram os titulados

no Paraguai como se fossem válidos seus títulos no Brasil. Os cursos são realizados em

períodos de seis semanas ao ano, com aulas, trabalhos, pesquisas, artigos e estudos, todos

realizados e confeccionados neste período. Cerca de 50% dos professores são brasileiros, as

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mensalidades são mais acessíveis do que as praticadas no Brasil, há programas de transporte e

alojamentos, telefones de ajuda ao cliente no Brasil e há parcerias com faculdades brasileiras,

como é o caso da Universidade Autônoma de Assunção (UAA), e a UNINORTE, a

Universidade do Pacífico, que tem o mesmo nome da faculdade brasileira.

Após a conclusão do curso de mestrado ou doutorado, na situação de titulados no

Paraguai, os brasileiros entram com pedidos judiciais para a validação de seus títulos por

universidades no Brasil, isso já previsto pela própria universidade do Paraguai. E, para tal,

invocam as leis e acordos assinados no âmbito do MERCOSUL e de acordos bilaterais

firmados entre os dois países. Mas o parecer emitido pela justiça, na maioria dos casos, é de

que os acordos do MERCOSUL garantem o prosseguimento dos estudos, o processo de

validação é com as universidades Brasileiras, e para a validação devem ainda ter, no mínimo,

matrizes curriculares similares ou correlatas, além de programas concernentes.

Para ser mais específico, a lei 9.394/96, que é tomada como base para as decisões

judiciais no tocante à validação de diplomas e títulos diz, no art. 48, que “os diplomas de

cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional como prova da

formação recebida por seu titular”. Sim, se forem reconhecidos, com certeza terão a validade,

no entanto na seqüência, o terceiro parágrafo ressalta que “os diplomas de Mestrado e

Doutorado expedidos por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por

universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área

de conhecimento e em nível equivalente ou superior”.

A Capes, talvez a grande representante para as instituições do nível doméstico, em

2005, se pronunciou sobre a debandada de brasileiros que iam fazer, e fazem, os cursos de

mestrado e doutorado no Paraguai e depois entravam, no Brasil, com processos e pedidos de

reconhecimento de certificados e títulos obtidos. A Capes deixa bastante explícita sua

preocupação quanto a esses futuros alunos:

Nos últimos anos, a Embaixada tem procurado alertar os cidadãos

brasileiros interessados em participar de cursos de mestrado e doutorado no Paraguai para os possíveis riscos e prejuízos financeiros envolvidos, decorrentes não apenas de sua escassa qualidade acadêmica, mas também do não reconhecimento automático dos títulos obtidos no Brasil (...), com efeito, não obstante os riscos evidentes, muitos estudantes brasileiros continuam procurando não apenas a Universidade Autônoma de Assunção (UAA), mas também a UNINORTE, a Universidade do Pacífico, entre outras, atraídos por agências especializadas mal informadas, ou que, convenientemente, não alertam sua clientela para a Resolução 1/2001 do Conselho Nacional de Educação-Câmara de Ensino Superior, que dispõe sobre a sistemática de reconhecimento de títulos de pós-graduação no Brasil. (CAPES, 2005)

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Após a manifestação da Capes o Paraguai se exprimiu de forma favorável ao

discurso da referida instituição, reforçando os pedidos de cuidado e alertando sobre as

dificuldades de validação, em território brasileiro, dos títulos de mestrado e doutorado

oferecidos no Paraguai. Foram dadas respostas às notas publicadas pela Capes em

recomendação aos possíveis candidatos a cursos de mestrado e doutorado oferecidos pelo

Paraguai pelas pessoas do diretor da Agência Nacional de Avaliación y Acreditación de

Enseñanza Superior (ANEAES) Carmen Quintana de Horak e o da ministra da educação

Blanca Ovelar. Blanca Ovelar diz que "existem programas de mestrado e doutorado no

Paraguai sem qualquer qualidade, estes quais não temos controles sobre eles". Ainda de

acordo com Ovelar, em entrevista ao Jornal ABC Color, "en Paraguay hay cursos de maestrías

e doctorados que son impresentables" (ABC Color, 2005). Já para Carmen Quintana de

Horak,

As instituições de ensino superior do Paraguai não fazem qualquer avaliação dos cursos de pós-graduação que oferecem e que "hay mucho que poner em orden" e que as autoridades educacionais de cada país têm o direito de velar pela qualidade do ensino, especialmente o superior, pelo risco que a falta de rigor nessa matéria implica para a sociedade (CAPES, 2005)

O impasse da revalidação dos títulos do Paraguai, como relata Renato Janine, diretor

de avaliação da Capes, é muito sério e as universidades paraguaias usam do MERCOSUL

para venderem o curso. Para Janine (CAPES, 2005) "as instituições (IES do Paraguai)

vendem a idéia de que os diplomas são válidos por serem do MERCOSUL". Janine relata

ainda que existe uma forte pressão por parte das instituições de ensino paraguaias para a

validação, tentando de todo modo mostrar competência do ensino paraguaio, rebaixando e

equiparando o ensino brasileiro a dados não satisfatórios do próprio Paraguai. Essa pressão é a

pressão do nível doméstico paraguaio para as negociações no âmbito internacional.

Tendo em vista o que foi apresentado, pode-se verificar que o Paraguai se consolida

como o maior entrave para a integração educativa educacional do MERCOSUL. Os seus

governantes assumem a condição de precariedade do sistema de ensino, o mercado

educacional foi invadido por brasileiros com ou sem condições de freqüentar um curso de

pós-graduação, até porque, na maioria dos casos, não há teste seletivo para a admissão do

aluno. As mudanças para uma adequação paraguaia às necessidades iniciais para a integração

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educativa devem ser bruscas, envolvendo um total envolvimento dos governantes paraguaios

e fiscalização por parte dos membros do MERCOSUL.

Há ainda um grave problema futuro na questão dos títulos de mestres e doutores

expedidos pelo Paraguai, se a integração educativa é elementar para uma integração regional.

Como afirma Piletti e Praxedes (1998), a integração educacional irremediavelmente deverá

acontecer, como espera o próprio MERCOSUL. Essa integração educacional também é

esperada por todos esses mestres e doutores brasileiros com títulos paraguaios, que acreditam

que a integração educativa será a solução para os impasses de validação de certificados. O que

ainda não está claro é que, ao acontecer a integração educativa no MERCOSUL, com todas as

conformações esperadas, os títulos já emitidos poderão ou não ser validados automaticamente.

Como há um reconhecimento da precariedade do sistema educacional paraguaio, haverá

muitas mudanças na própria estrutura educacional, assim, o MERCOSUL não terá condições

de certificar que esses mestres e doutores formados anteriormente a uma integração educativa

possam ter seus títulos revalidados automaticamente.

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6 INSTITUIÇÕES E GRUPOS DOMÉSTICOS: A FORMAÇÃO DO WIN -SET

Neste capítulo analisaremos como as instituições e os grupos de interesses se

posicionam em relação ao processo de ratificação do acordo sobre reconhecimento de títulos

universitários para a finalidade de estudos. Conforme proposto por Putnam (1988), o win set é

criado na maioria das vezes por ONGs, sindicatos de classe, governos intranacionais e os

próprios parlamentares. Assim, Putnam afirma que em uma negociação no nível doméstico,

onde não há uma menor concordância entre os agentes, há maior chance de sucesso no nível

internacional. (PUTNAM, 1988). A pesquisa foi feita a partir dos sites das instituições civis

que tem relação com a educação e a própria integração educativa.

Uma maior influência da política interna de um país em uma negociação diplomática

poderá aumentar consideravelmente o poder de barganha deste país em uma negociação, já

que a parte negociante, sabendo da influência doméstica na negociação, é constrangida a

ceder, tendo em vista a não ratificação futura caso esses interesses domésticos não sejam

satisfeitos (Putnam, 1993).

A negociação diplomática da integração educativa intra-MERCOSUL teve seu

primeiro passo após o protocolo ratificado em que os membros deverão reconhecer títulos

universitários para finalidade de estudos (e somente para estudos) em faculdades dos países

partes.

Pensando sob ótica da teoria dos jogos de dois níveis de Putnam, esse seria um

problema para uma negociação, já que o nível doméstico não consegue ainda formar uma

opinião sobre a negociação no âmbito do MERCOSUL. Como a preocupação de uma

adequação da educação nacional ao sistema internacional tomou forma, a partir do

entendimento de que uma integração regional é pré-requisito para uma integração completa

(CHIARELLI; SIENRA, 2001), a participação do nível doméstico conhecedor e ciente dos

benefícios e disfunções da integração educativa passou a ser condição sine quo non. No

MERCOSUL, tratando-se de integração educativa, o que se percebe é que as instituições

internacionais contribuem para que haja uma conscientização sobre o tema, mas não um total

esclarecimento. Até porque o tema não se mostra totalmente atrativo para as instituições

domésticas, muitas vezes porque não há uma conexão direta de resultados com essas

instituições, pelo menos em curto prazo.

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Desde a década de 90 até a época atual, além das condições educacionais brasileiras

melhorarem, existiram tentativas integracionistas (que já foram apresentadas neste estudo)

entre os países membros do MERCOSUL, voltadas para a educação. Os mecanismos que o

Brasil utiliza para fomentar a integração educativa estão em acordo com iniciativas que o

próprio MERCOSUL propõe. Algumas dessas iniciativas já foram implantadas, como

adequação dos idiomas espanhol e português à grade curricular de todos os estudantes

brasileiros, redução da idade para ingresso no ensino básico de 7 anos para 6 anos de idade e

conformação dos conteúdos de história e geografia no sistema de ensino (ME, 2008) .

No nível doméstico da negociação da integração educacional do MERCOSUL, a

preocupação com uma política educacional preparada para o âmbito e influência

internacionais, e para que ocorra a integração educativa no MERCOSUL, tomou força a partir

de 1990. Os índices nacionais de educação eram fracos e muito aquém de países como

Argentina e Chile, ao mesmo tempo eram destoantes do Paraguai. Por exemplo, “até 1994, em

média, apenas 12% da população entre 20 e 25 anos estava na universidade brasileira e desta

porcentagem, cerca de 60% freqüentavam a rede privada” (SCHUARTZMAN, 1997, p. 44).

Assim, é notado, usando a teoria dos jogos dos dois níveis de Putnam, que o nível

internacional, nível 1, apoiado principalmente pelas instituições internacionais, entende a

necessidade de uma integração educativa em benefício da própria integração regional do

MERCOSUL. Contudo, essa mesma posição e entendimento não são compartilhados pelo

nível doméstico, ou pelo menos não manifestada, e essa condição, de acordo com Putnam

(1993), não satisfaz a condição teórica de uma negociação internacional. Para Putnam (idem)

o sucesso ou fracasso da ação diplomática não só dependerá da fase e informação do tema no

nível internacional, nível 1, mas também da condição de satisfazer as necessidades do nível 2,

o doméstico. Mas como satisfazer as necessidades domésticas se os atores do nível doméstico

não têm uma opinião formada sobre o assunto integração educativa no MERCOSUL? Desse

modo, há uma correlação entre as necessidades do nível internacional e do nível doméstico

ainda “leigo”, relação que fomenta a possível ratificação de acordos no âmbito internacional,

a qual Putnam chama de Win-set.

A relação da formação de opinião pelo nível doméstico é perfeitamente conectada ao

pensamento de Moravacsik, em que entende que se não houver uma paridade entre os países o

próprio nível doméstico não terá e não forçará uma formação de win-set, já que para o nível

doméstico os trâmites internacionais não são palpáveis ou possíveis de acontecer.

Ainda sobre o nível doméstico na integração educativa, é percebido que não há um

posicionamento em relação à integração educativa, mesmo porque, para essas instituições,

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não há ainda suficiente clareza demonstrada nos discursos das instituições domésticas sobre

os benefícios nem os prejuízos possíveis que uma integração educativa que abranja os vários

níveis de ensino possa trazer. Do mesmo modo, não é percebida uma política por parte do

Estado. Apesar disso, as instituições do nível doméstico colocam sobre Estado a

responsabilidade pela conscientização dos planos e conseqüências de uma integração

educativa no MERCOSUL. Destarte as instituições domésticas se posicionam sem alarde e

não se manifestam abertamente, não se deixam explícitas sobre suas opiniões nos meios de

comunicação em referência à integração educativa no MERCOSUL. Sem um posicionamento

sobre a integração educativa, o win-set da negociação fica grande, com várias opiniões e

possíveis acordos ratificados no nível internacional. O nível doméstico, não só não pensa nos

acordos possíveis na integração educativa, como não se posiciona sobre tal. O win-set da

negociação sobre a integração educativa fica pequeno, assim o nível internacional fica sem

opção para negociação e alternativas para satisfazer os anseios domésticos, fazendo com que a

ratificação dos acordos fique mais difícil (PUTNAM, 1993).

Para explicar tal posicionamento das instituições domésticas e o win-set, foram

pesquisadas instituições ligadas à educação brasileira e que, em uma integração educativa,

serão agentes ativos na construção de seu processo interno. A pesquisa buscou encontrar

respostas, opiniões e pareceres junto às instituições domésticas sobre a integração educativa

do MERCOSUL. Foram realizadas entrevistas, visitas e análises de discursos por meio de

sites, representantes e periódicos de diversas instituições relacionadas à educação brasileira.

Algumas instituições se manifestaram inertes ao fato de haver ou não uma integração

educacional dos vários níveis de ensino, ou pelo menos não se posicionaram em relação à

integração educativa no MERCOSUL. Alguns exemplos desse tipo de posicionamento são os

Sindicatos dos Professores de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Pará, do ABC Paulista, do

Mato Grosso, da Bahia, Rondônia/Acre, Pernambuco, Santa Catarina, Espírito Santo,

Tocantins, Goiás e Amazonas. Os sindicatos dos trabalhadores da educação dos estados do

Mato Grosso do Sul, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro,

São Paulo, Pernambuco, Pará, Paraná, e Mato Grosso, não fazem referência à integração

educativa no MERCOSUL em seus respectivos sites e acervo de noticias. Em seus periódicos

não são lembradas ou observadas informações que condicionem ou que se direcionem a

alguma conclusão sobre a intenção desses sindicatos, em posicionamento a favor ou contra a

integração educativa no MERCOSUL.

Os sindicatos dos professores de Minas Gerais, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e

o sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná demonstram um conhecimento e têm

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um posicionamento a respeito da integração educativa, que é percebida em visita a página

oficial na internet, no campo notícias.

Para o Sindicato dos Professores de Minas Gerais a criação da UNILA será o grande

fomentador da integração educativa. Em entrevista a um representante do sindicato por

telefone é informado que “o sindicato ficará do lado dos professores de Minas Gerais e

buscará tudo que for beneficiar seus sindicalizados”. Nos sites de algumas instituições não

foram percebidas iniciativas contrárias ou direcionadas positivamente para o reconhecimento

dos títulos, certificados e diplomas no ambiente educacional do MERCOSUL. A instituição

também pretende se inteirar do assunto e conhecer benefícios e malefícios de uma possível

integração educativa total no MERCOSUL. A instituição se isentou de qualquer fator que

pudesse ter alguma influência na decisão do nível internacional, em relação à integração

educativa no MERCOSUL.

Sobre a UNILA o sindicato menciona a sua criação e a possibilidade de professores

Brasileiros formarem o corpo docente juntamente com os demais membros do MERCOSUL,

corroborando para o desenvolvimento do bloco e região (SINPRO/MG, 2008).

Para o Sindicato dos Professores do Distrito Federal as informações da integração

educativa são baseadas todas nos encontros educacionais no MERCOSUL, mas que nada se

referem especificamente à integração educativa no bloco. Mas ainda assim, sem nenhuma

opinião formal do assunto.

O SINPRO/RS – Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, dentre os

sindicatos, foi o que mais se manifestou sobre a integração educativa. Isso pode dizer respeito

à sua proximidade geográfica ao MERCOSUL. Em seu portal e por meio de seus periódicos,

o SINPRO/RS demonstra maior preocupação com a integração educativa, que os demais

sindicatos dos professores. No portal do SINPRO RS são percebidas referências à integração

educativa no MERCOSUL, e é percebida uma visão otimista. Em nenhum momento é notada

aversão à idéia de integração educacional no MERCOSUL.

O Sindicato dos Trabalhadores da Educação no Paraná ressalta a construção da

Universidade do MERCOSUL. A APP informa que já está certo que a Universidade do

MERCOSUL será multicampi, com 13 pólos no Brasil e que começará a funcionar no

segundo semestre de 2007. A instituição formará profissionais especialistas em integração da

região (APP. 2008).

O CONTEE que representa os sindicatos dos professores e técnico-administrativos da

educação privada do Brasil, ressalta a preocupação de algumas faculdades com a preparação

para a integração educacional, não só no âmbito do MERCOSUL, quanto em outros âmbitos

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internacionais. Percebe-se uma visão normalista sobre a integração educacional do

MERCOSUL. É citado no site que “várias universidades desenvolvem modelos de pós-

graduação compatíveis internacionalmente” (CONTEE, 2008).

O MEC – Ministério da Educação e Cultura, explica os benefícios e avanços da

educação no bloco. O MEC é considerado um agente de ligação entre o nível internacional e o

doméstico, já que faz parte dos negociadores e podem ser considerados policymakers,

segundo Putnam (1993).

É percebido o incentivo do MEC a uma possível integração educacional pelo

discurso em seu portal, noticiando, muitas vezes, os encontros que terão as autoridades de

educação do MERCOSUL. Nos últimos meses (em 2008) foram intensificadas informações

sobre a UNILA ou Universidade da Integração Latino-Americana. Esse tipo de notícia e

comentários relacionados à integração educativa, publicados no site do MEC, tem forte

influência nas instituições educacionais. A UNILA, a qual o site do MEC se referencia é o

projeto de uma universidade localizada em terreno cedido pela Itaipu Binacional em Foz do

Iguaçu (PR). A Universidade será pública, bilíngüe (português e espanhol) e atenderá 10 mil

alunos em cursos de graduação e pós-graduação. De acordo com Haddad, em entrevista

disponibilizada no portal do MEC (2008), a intenção com a UNILA é criar um sistema de

ensino universitário que promova a integração pelo conhecimento.

Outra forma de integração que o MEC (2008) em seu portal noticia, é que o

cadastramento de faculdades para a inscrição de instituições no processo de acreditação de

cursos superiores. A acreditação é um marco de qualidade dos cursos superiores, em que é

atestada e reconhecida internacionalmente a qualidade de um curso superior. A ação faz parte

do ARCUSUL (Acreditação Regional de Cursos Universitários do MERCOSUL) que regerá a

qualificação acadêmica dos cursos superiores dos membros do MERCOSUL. A acreditação

não dá subsídios reais para validação dos diplomas e títulos, simplesmente possibilita o

trânsito e a continuação dos estudos em instituições de países diferentes. Posteriormente

objetivará os quesitos profissionais de aceitação entre os países.

O MEC, por meio de notícias do seu portal, também enfatiza os mecanismos que o

Brasil está adotando para que aconteça a integração educativa no bloco. De acordo com o site

do MEC e notícias extraídas dele (2005), o Brasil adotou o espanhol como segunda língua

após a aprovação da lei nº 11161, de 5 de agosto de 2005.

Em nenhum momento o MEC, por meio da sua secretaria de educação internacional,

se posiciona declaradamente a favor ou contra a integração educativa no MERCOSUL, assim

como não declara oferecer influência nenhuma à ratificação ou não dos acordos. É afirmado

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somente que o MEC contribui com a administração e pesquisas para o aperfeiçoamento do

ensino no Brasil. No portal do MEC (2005) é lembrada a proposta de certificado único de

estudos de conclusão do ensino fundamental, em que é apontada como maior dificuldade para

a ocorrência de uma integração a formatação e execução da tabela de equivalência de estudos

(Parecer CNE/CEB 5/2003). O MEC entende que é pertinente a proposta apresentada pelo

Uruguai aos países membros e associados do MERCOSUL. O MEC ressalta a criação do site

MERCOSUL Educacional que tem como objetivo primário criar vínculos de comunicação em

benefício de uma integração educacional entre os países membros do MERCOSUL.

A posição do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, SENAI, defende que a

educação pode ser um meio para o aperfeiçoamento das condições de competitividade

internacional do MERCOSUL por meio da educação, assim como foi feito pela China

(SENAI, 2007).

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, se mostra uma

instituição com opinião formada sobre a integração educativa, prova disso são as várias

reproduções de falas que o ministro da educação, Hadadd, proferiu nos últimos anos. Em uma

delas o ministro afirma que “Os pesquisadores sul-americanos precisam se conhecer mais, se

unir mais, e colaborar mais entre si. Muitos deles mantêm estreitas relações com

pesquisadores de países desenvolvidos. Isso é muito útil. Agora é preciso fazer o mesmo entre

nossos países. É preciso multiplicar o intercâmbio interno” (HADDAD, 2008). O ministro se

refere especificamente ao programa Colégio Doutoral, do qual participam Argentina e Brasil.

Esse programa possibilita a doutorandos intercambio entre os dois países, fornecendo ajuda de

custo, seguros, isenções de taxas, etc. (SPBC, 2008).

Entre outros programas demonstrados pelo site da SBPC, é evidenciado que o site

tem a preocupação de demonstrar o que é noticiado sobre a integração educativa. Não há uma

posição específica demonstrada pelo site, em aderir ou não à integração. Contudo pelos

discursos apresentados, nota-se que há uma tendência em valorizar os assuntos concernentes à

integração educativa, mostrando os benefícios de uma integração, por meio dos vários

programas que contribuem para que, futuramente, a integração educativa aconteça de forma

plena, abrangendo seus vários níveis. (SBPC, 2008).

O que se percebe é que dificilmente é reconhecida uma instituição que defenda

abertamente a bandeira da integração educativa, ou a não integração educativa no

MERCOSUL, com exceção da instituição do próprio MERCOSUL, MERCOSUL

Educacional. Foi percebido que o assunto é novo e muitas vezes ainda inexplorado, não sendo

de conhecimento das instituições ou, simplesmente, não sendo pautas de artigos ou entrevistas

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expostas em suas páginas virtuais, manuais ou folhetins institucionais. Todas as opiniões são,

com ressalvas, discutindo os pontos positivos e negativos, mas não admitindo a possível

influência que a instituição doméstica pode trazer. É percebido, portanto, nos trâmites da

integração educativa, em suas negociações no meio doméstico e no internacional; e na

influência de um para com o outro, que há jogos ocultos em suas negociações. As forças que

fazem a ratificação ou não ratificação de acordos concernentes à integração educativa estão

intrínsecas a bastidores, ou pelo menos às possíveis negociações que não foram percebidas

nesta pesquisa. A desigualdade e a má distribuição de renda estão como fatores que propiciam

este cenário, já que o nível doméstico reconhece os empecilhos e as dificuldades para que

uma integração aconteça. Uma rejeição é formada pelo nível doméstico, não pela integração

em si, mas pela desconformidade do cenário dos países atualmente.

O posicionamento das instituições é percebido por meio de seus sites institucionais e

publicações, é constatado que eles não tratam do tema com desenvoltura. As instituições

domésticas não demonstram que entendem, ou não dão ênfase a determinados conceitos

importantes para a questão da integração educativa dentro do MERCOSUL. Os pontos

positivos são ressaltados como os apresentados nos protocolos e acordos de integração

educativa propostas no MERCOSUL (MERCOSUL, 2008).

Entre alguns pontos levantados, ficou claro que é reconhecido que o Paraguai tem o

sistema de ensino mais incapacitado entre os quatro membros do MERCOSUL, em que

somente a Universidad Católica Nuestra Senora de Asuncion e a Universidad Nacional

Asunción, fazem ou praticam algum tipo de pesquisa científica. Também no Paraguai não há

um setor governamental de fiscalização, fomento à pesquisa e administração científica

consolidado, como é o caso da Argentina com o CONyCET, o Brasil com o CNPq e o

Uruguai com ICyT. O órgão do Paraguai responsável por pesquisas e desenvolvimento

científico dentro das instituições só foi fundado em 1996 (MERCOSUL EDUCACIONAL,

2008).

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6.1 II Encontro do Fórum de Procuradores-Chefes das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes)

Em 12 de novembro de 2008 foi realizado no campus da UFRJ o II Encontro do

Fórum de Procuradores-Chefes das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), no qual

foi discutida a validação dos diplomas no âmbito do MERCOSUL. O II encontro do Ifes foi o

maior fórum de debate sobre o tema integração educativa e revalidação de diplomas no

MERCOSUL já realizado por representantes de instituições federais de ensino. O Ifes está

compreendido no Andifes, Associação Nacional de Dirigentes de Instituição Federal de

Ensino e discutem, através de seus encontros, as tendências, projeções e percalços do ensino

no qual as universidades federais estão inclusas.

Neste II encontro foram levantados os pontos negativos e positivos da integração

educativa, defendidos neste encontro pelos procuradores José Tavares dos Santos, da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e Marcos Augusto

Maliska, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

No debate sobre o tema integração educativa as posições foram antagônicas, com um

dos procuradores veementemente defendendo a validação dos diplomas automaticamente, e o

outro procurador acreditando que é preciso mais cautela e que os países do MERCOSUL não

estão ainda preparados para uma revalidação automática. Estes representantes da Ifes, aqui

considerada instituição do nível doméstico, são as que terão maior influência no tamanho do

win-set. Estes representantes já detêm o poder de validação ou não dos títulos de acordo com

a lei e também contribuem com dados da revalidação.

Este foi o primeiro encontro dedicado a tal tema, no entanto não houve uma

formatação dos padrões a serem seguidos pelas universidades. O que ficou decidido é que as

validações iam continuar do mesmo modo em que já haviam vindo sendo feitas, de acordo

com a lei que regulamenta a validação mediante análise de programa e condições do curso.

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7 CONCLUSÃO

A cooperação entre as nações é o meio mais eficiente para que os envolvidos

maximizem seus ganhos, permitam maior flexibilidade de suas economias e maior fluidez de

seus comércios. A integração, que se diferencia da cooperação por ser mais ampla e

abrangente, se tornou a alternativa para a maioria dos países de todo mundo, principalmente

após as experiências de sucesso da União Européia.

O MERCOSUL ainda não se encontra em estágio de livre comércio, também não

cumpriu com os prazos propostos para formação de uma área de livre circulação de pessoas,

serviços e produtos. No entanto, nem mesmo isso faz com que os paises desistam da

integração no MERCOSUL. Isto porque o MERCOSUL foi a tentativa de maior sucesso de

integração entre os países do cone sul-americano. Claro que iniciativas como grupo ABC,

ALADI e ALALC foram antecessores que contribuíram demasiadamente para o

MERCOSUL, mas nada se compara ao Mercado Comum do Sul.

A integração regional proposta pelo MERCOSUL é sim a melhor alternativa para os

países do Cone-sul americano. E uma integração regional só deverá acontecer, como diz

Sienra, se acontecer uma integração educacional. Além disso, é a partir da integração

educacional que será permitido e dará condições para que outras modalidades dentro da

própria integração regional aconteçam como validação de certificados, reconhecimento de

profissões dentro do bloco, circulação de estudantes e prosseguimento de estudos, facilitação

de trocas de experiências tecnológicas etc.

Mas até acontecer a integração educativa terá que acontecer uma adequação por parte

dos países para a conformação de regras do ensino, métodos de aceitação e avaliação de

cursos, equidade das matrizes curriculares e ementas de ensino. Toda essa conformação faz

com que a integração educativa fique mais distante, ou pelo menos, mais difícil. Há ainda

países dentro do MERCOSUL que se auto-reconhecem como incapazes para fiscalizar seus

próprios cursos de educação, isso faz com que se crie uma onda de incertezas entre os

participantes do bloco quanto ao real cuidado e atenção que os países tem com a sua política

educacional.

Quando é falado sobre a adequação, as vezes, pode-se ter na idéia precipitada que a

adequação de grades curriculares é a solução mágica para a integração. No entanto, é de bom

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grado relembrar que as dificuldades para uma integração educacional vão além desse tipo de

conformação. Assim como a própria integração regional, os países entrelaçados em um

processo de integração deverão ter antes de tudo, equidade entre, principalmente, suas

economias. No caso da educação, os países envolvidos em uma integração educacional

devem, antes de tudo, se preparar politicamente, de modo que os recursos e as políticas

voltadas para a educação sejam direcionados equitativamente para sanar as disparidades. Esse

tema, portanto perpassa mais dificuldades, já que na condição do MERCOSUL, é percebido a

grandiosa assimetria e desigualdade social, não só entre os membros, como também dentro

dos próprios países do bloco.

Uma instituição central, no MERCOSUL, que regule e normalize os processos

educacionais é necessária, instituição essa que serviria como juiz para validar ou não os

cursos de cada país. Uma mudança cultural para o ensino também é imprescindível, assim

como a contribuição dos sindicatos profissionais que devem permitir e aceitar o exercício

profissional de pessoas com títulos adquiridos dentro do MERCOSUL.

As dificuldades de se fazer uma integração educativa estão refletidas nos acordos e

protocolos não ratificados pelos membros do MERCOSUL. A adequação das matrizes e

conteúdos educacionais pelos países membros é difícil, e no Brasil o tema não tem a

importância devida. No entanto, antes que se inicie o processo de adequação entre os países

há de se entender que há nos próprios países forças, representadas pelas instituições

domésticas, que quando não são contrárias, não estão dispostas a possibilitar que a integração

educativa aconteça no MERCOSUL.

O tema integração educativa, para algumas instituições vinculadas a educação ao

menos é conhecida ou debatida. Simplesmente não é demonstrado interesse no Brasil sobre

tema tão relevante para o desenvolvimento do bloco, tema esse que afeta diretamente todas as

vertentes que tem na educação uma base de importância. Mesmo quando é encontrado

instituições com argumentos positivos para a integração educativa, não há um embasamento

ou estudo das conseqüências de uma integração educativa para o Brasil. Há instituições que

preferem se resguardar de uma possível invasão de diplomas conseguidos em países do

MERCOSUL e há instituições que acreditam que só assim o Brasil conseguirá sanar o déficit

de mestres e doutores dentro do seu território. As influências domésticas que há no Brasil em

favor ou contrário a integração educativa, foram explicadas a partir da metodologia dos jogos

dos dois níveis, o que possibilitou entender, e foi relatado no trabalho, que as decisões no

âmbito internacional são influenciadas pelo nível doméstico. Nível doméstico esse que não

tem como entender ou perceber acordos possíveis mediante situação de quase que total

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desconformidade dos países do MERCOSUL nos tópicos de economia, cultura,

desenvolvimento humano entre outras coisas.

É concluído assim que a integração educativa é condição essencial para que aconteça

a integração regional proposta pelo MERCOSUL, mas há de acontecer uma mudança de

postura nas instituições, principalmente no que diz respeito a procurar entender realmente do

que se trata a integração educativa. A integração educativa só irá acontecer mediante uma

conformidade entre os países do MERCOSUL em seus vários aspectos. Uma integração

educativa nas condições atuais traria problemas sérios a própria educação. A integração

educativa é tema ainda pouco divulgado e discutidos nos meios acadêmicos e mídia, se

tornando assim quase tema inexistente. A falta de informação faz com que não haja uma

opinião formada da população e das instituições ligadas e educação sobre a integração

educativa, seus benefícios e disfunções. Ações como a UNILA ou acreditação de diplomas

são ações que vem impulsionar os movimentos em favor da integração educacional, no

entanto não podem ser considerados atos salvadores para a educação ou atos que venham

prejudicar a educação. Tudo deverá ser mensurado a partir da maneira que será conduzido, já

que a integração educativa sem conformação de conteúdos e adequação de matrizes levará a

uma desorganização ainda maior, ao contrário será se houver estudos e preparação para uma

equidade entre os sistemas de ensino de cada país de forma gradativa e eficiente. Falta,

portanto, informação sobre a integração educativa de um modo geral para o nível doméstico,

falta maiores debates entre os níveis doméstico e internacional e falta políticas públicas dos

países-membros em pró da adequação da educação para o bloco.

Para os que pretendem fazer um curso em um dos países do MERCOSUL,

principalmente no Paraguai, a partir do que foi pesquisado, deve-se tomar muito cuidado e ter

consciência de que não haverá uma aceitação dos cursos obtidos antes que a integração

educativa seja ratificada por todos os membros. Há exemplos de estudantes que obteram

títulos de mestrado e doutorado no Paraguai que conseguiram a validação, porém são casos

incomuns dentro da justiça brasileira. Algumas faculdades particulares aceitam professores

com títulos conseguidos no Paraguai, mas de nada servirão para trabalhos de avaliação ou

reconhecimentos de curso superior, em análise do corpo docente de audiências do MEC.

Quem entender que a integração educativa é fundamental para a integração regional plena e

que, portanto, no MERCOSUL mais cedo ou mais tarde irá acontecer a integração educativa

está correto. Contudo, dificilmente será validado os certificados e títulos conseguidos antes da

integração educativa, mesmo porque a não validação dos diplomas conseguidos é justamente

porque até julho de 2009, países como o Paraguai, não conseguiram provar o mínimo de

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qualidade para se equiparar com os demais países do MERCOSUL. Assim, não adianta tentar

“adiantar” e fazer o mestrado ou doutorado em um dos países do MERCOSUL apostando em

uma futura aceitação por parte dos membros, até porque a validação não acontece porque os

sistemas educacionais de cada país ainda não são confiáveis para os próprios membros.

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