os 10 maiores poemas dos Últimos 200 anos _ revista bula

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24/08/2015 Os 10 maiores poemas dos últimos 200 anos | Revista Bula data:text/html;charset=utf8,%3Cdiv%20class%3D%22entrythumbnail%22%20style%3D%22boxsizing%3A%20borderbox%3B%20color%3A%20rgb(… 1/12 OS 10 MAIORES POEMAS DOS ÚLTIMOS 200 ANOS Perguntamos aos leitores, seguidores do Facebook e Twitter: quais os melhores poemas de autores brasileiros e estrangeiros publicados nos últimos 200 anos (1815 a 2015). Mais de 3 mil participantes responderam a enquete. A partir da opinião dos convidados, sintetizamos a lista reunindo os dez poemas mais citados. Os poemas estão classificados de acordo com o número de votos que obtiveram. Dois poetas brasileiros estão na lista: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar. Por motivo de direitos autorais, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados. O resultado não pretende ser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas. 1 — A Terra Desolada (T. S. Eliot) Abril é o mais cruel dos meses, germina POR CARLOS WILLIAN LEITE EM POESIA

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24/08/2015 Os 10 maiores poemas dos últimos 200 anos | Revista Bula

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OS 10 MAIORESPOEMAS DOS ÚLTIMOS

200 ANOS

Perguntamos aos leitores, seguidores do Facebook e Twitter: quais os melhores poemas de autoresbrasileiros e estrangeiros publicados nos últimos 200 anos (1815 a 2015). Mais de 3 mil participantesresponderam a enquete. A partir da opinião dos convidados, sintetizamos a lista reunindo os dezpoemas mais citados. Os poemas estão classificados de acordo com o número de votos queobtiveram. Dois poetas brasileiros estão na lista: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar. Pormotivo de direitos autorais, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados. O resultado nãopretende ser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas.

1 — A Terra Desolada(T. S. Eliot)

Abril é o mais cruel dos meses, germina

POR CARLOS WILLIAN LEITE EM POESIA

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24/08/2015 Os 10 maiores poemas dos últimos 200 anos | Revista Bula

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Lilases da terra morta, misturaMemória e desejo, avivaAgônicas raízes com a chuva da primavera.O inverno nos agasalhava, envolvendoA terra em neve deslembrada, nutrindoCom secos tubérculos o que ainda restava de vida.O verão; nos surpreendeu, caindo do StarnbergerseeCom um aguaceiro. Paramos junto aos pórticosE ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,Tomamos café, e por uma hora conversamos.Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echtdeutsch.Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,Meu primo, ele convidou­me a passear de trenó.E eu tive medo. Disse­me ele, Maria,Maria, agarra­te firme. E encosta abaixo deslizamos.Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.Leio muito à noite, e viajo para o sul durante oinverno.Que raízes são essas que se arraigam, que ramosse esgalhamNessa imundície pedregosa? Filho do homem,Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenasconhecesUm feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,E as árvores mortas já não mais te abrigam,nem te consola o canto dos grilos,E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca.ApenasUma sombra medra sob esta rocha escarlate.(Chega­te à sombra desta rocha escarlate),E vou mostrar­te algo distinto

De tua sombra a caminhar atrás de ti quandoamanheceOu de tua sombra vespertina ao teu encontro seelevando;Vou revelar­te o que é o medo num punhado de pó.

(Trecho de “Terra Desolada”, de T. S. Eliot.Tradução deIvan Junqueira)

2 — Tabacaria

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(Fernando Pessoa)

Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos domundo.

Janelas do meu quarto,Do meu quarto de um dos milhões do mundo.que ninguém sabe quem é( E se soubessem quem é, o que saberiam?),Dais para o mistério de uma rua cruzadaconstantemente por gente,Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,Real, impossivelmente real, certa,desconhecidamente certa,Com o mistério das coisas por baixo das pedras edos seres,Com a morte a por umidade nas paredese cabelos brancos nos homens,Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pelaestrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida, tornando­se esta casa e estelado da ruaA fileira de carruagens de um comboio, e umapartida apitadaDe dentro da minha cabeça,E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger deossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou eesqueceu.Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa realpor fora,E à sensação de que tudo é sonho, como coisa realpor dentro.

Falhei em tudo.

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Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fossenada.A aprendizagem que me deram,Desci dela pela janela das traseiras da casa.

(Trecho de “Tabacaria”, de Fernando Pessoa)

3 — A Máquina do Mundo(Carlos Drummond de Andrade)

E como eu palmilhasse vagamenteuma estrada de Minas, pedregosa,e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatosque era pausado e seco; e aves pairassemno céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindona escuridão maior, vinda dos montese de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriupara quem de a romper já se esquivavae só de o ter pensado se carpia.

Abriu­se majestosa e circunspecta,sem emitir um som que fosse impuronem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeçãocontínua e dolorosa do deserto,e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcendea própria imagem sua debuxadano rosto do mistério, nos abismos.

Abriu­se em calma pura, e convidandoquantos sentidos e intuições restavama quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá­los,

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se em vão e para sempre repetimosos mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando­os a todos, em coorte,a se aplicarem sobre o pasto inéditoda natureza mítica das coisas.

(Trecho de “A Máquina do Mundo”, de CarlosDrummond de Andrade)

4 — Os Homens Ocos(T. S. Eliot)

Nós somos os homens ocosOs homens empalhadosUns nos outros amparadosO elmo cheio de nada. Ai de nós!Nossas vozes dessecadas,Quando juntos sussurramos,São quietas e inexpressasComo o vento na relva secaOu pés de ratos sobre cacosEm nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem corForça paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaramDe olhos retos, para o outro reino da morteNos recordam — se o fazem — não como violentasAlmas danadas, mas apenasComo os homens ocosOs homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhosNo reino de sonho da morteEstes não aparecem:Lá, os olhos são como a lâminaDo sol nos ossos de uma colunaLá, uma árvore brande os ramosE as vozes estão no frêmito

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Do vento que está cantandoMais distantes e solenesQue uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproximeDo reino de sonho da morteQue eu possa trajar aindaEsses tácitos disfarcesPele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadasE comportar­me num campoComo o vento se comportaNem mais um passo

— Não este encontro derradeiroNo reino crepuscular

(Trecho de “Os Homens Ocos”, de T.S. Eliot.Tradução deIvan Junqueira)

5 — Velejando para Bizâncio(William Buttler Yeats)

Aquela não é terra para velhos. Gentejovem, de braços dados, pássaros nas ramas— gerações de mortais — cantando alegremente,salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas,peixe, ave ou carne glorificam ao sol quentetudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.Ao som da música sensual, o mundo esqueceas obras do intelecto que nunca envelhece.

Um homem velho é apenas uma ninharia,trapos numa bengala à espera do final,a menos que a alma aplauda, cante e ainda riasobre os farrapos do seu hábito mortal;nem há escola de canto, ali, que não estudemonumentos de sua própria magnitude.Por isso eu vim, vencendo as ondas e a distância,em busca da cidade santa de Bizâncio.

Ó sábios, junto a Deus, sob o fogo sagrado,como se num mosaico de ouro a resplender,vinde do fogo santo, em giro espiralado,

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e vos tornai mestres­cantores do meu ser .Rompei meu coração, que a febre faz doentee, acorrentado a um mísero animal morrente,já não sabe o que é; arrancai­me da idadepara o lavor sem fim da longa eternidade.

Livre da natureza não hei de assumirconformação de coisa alguma natural,mas a que o ourives grego soube urdirde ouro forjado e esmalte de ouro em tramas,para acordar do ócio o sono imperial;ou cantarei aos nobres de Bizâncio e às damas,pousado em ramo de ouro, como um pássaro,o que passou e passará e sempre passa.

(Trecho de “Velejando para Bizâncio”, de WilliamButtler Yeats. Tradução de Augusto de Campos)

6 — À Espera dos Bárbaros(Konstantinos Kaváfis)

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.Que leis hão de fazer os senadores?Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedoe de coroa solene se assentouem seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.O nosso imperador conta saudaro chefe deles. Tem pronto para dar­lheum pergaminho no qual estão escritosmuitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores

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usam togas de púrpura, bordadas,e pulseiras com grandes ametistase anéis com tais brilhantes e esmeraldas?Por que hoje empunham bastões tão preciososde ouro e prata finamente cravejados?É que os bárbaros chegam hoje,tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradoresderramar o seu verbo como sempre?

(Trecho de “À Espera dos Bárbaros”,de Konstantinos Kaváfis. Tradução de José PauloPaes)

7 — O Cemitério Marinho(Paul Valéry)

Esse teto tranquilo, onde andam pombas,Palpita entre pinheiros, entre túmulos.O meio­dia justo nele incendeO mar, o mar recomeçando sempre.Oh, recompensa, após um pensamento,Um longo olhar sobre a calma dos deuses!

Que lavor puro de brilhos consomeTanto diamante de indistinta espumaE quanta paz parece conceber­se!Quando repousa sobre o abismo um sol,Límpidas obras de uma eterna causaFulge o Tempo e o Sonho é sabedoria.

Tesouro estável, templo de Minerva,Massa de calma e nítida reserva,Água franzida, olho que em ti escondesTanto de sono sob um véu de chama,— Ó meu silêncio!… Um edifício na alma,Cume dourado de mil, telhas, teto!

Templo do Templo, que um suspiro exprime,Subo a este ponto puro e me acostumo,Todo envolto por meu olhar marinho.E como aos deuses dádiva suprema,

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O resplendor solar sereno esparzeNa altitude um desprezo soberano.

Como em prazer o fruto se desfaz,Como em delícia muda sua ausênciaNa boca onde perece sua forma,Aqui aspiro meu futuro fumo,Quando o céu canta à alma consumidaA mudança das margens em rumor.

(Trecho de “O Cemitério Marinho”, de Paul Valéry.Tradução de Darcy Damasceno)

8 — Hugh Selwyn Mauberly(Ezra Pound)

Vai, livro natimudo,E diz a elaQue um dia me cantou essa canção de Lawes:Houvesse em nósMais canção, menos temas,Então se acabariam minhas penas,Meus defeitos sanados em poemasPara fazê­la eterna em minha vozDiz a ela que espalha

Tais tesouros no ar,Sem querer nada mais além de darVida ao momento,Que eu lhes ordenaria: vivam,Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,Rubribordadas de ouro, sóUma substância e corDesafiando o tempo.

Diz a ela que vaiCom a canção nos lábiosMas não canta a canção e ignora

Quem a fez, que talvez uma outra bocaTão bela quanto a delaEm novas eras há de ter aos pésOs que a adoram agora,

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Quando os nossos dois pósCom o de Waller se deponham, mudos,No olvido que refina a todos nós,Até que a mutação apague tudoSalvo a Beleza, a sós.

(Trecho de “Hugh Selwyn Mauberly”, de EzraPound. Tradução de A. de Campos)

9 — Poema em Linha Reta(Fernando Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões emtudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantasvezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,Indesculpavelmente sujo,Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência paratomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetesdas etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso earrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando não tenho calado, tenho sido maisridículo ainda;Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moçosde fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedidoemprestado sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenhoagachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenascoisas ridículas,Eu verifico que não tenho par nisto tudo nestemundo.

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Toda a gente que eu conheço e que fala comigoNunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes —na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humanaQue confessasse não um pecado, mas uma infâmia;Que contasse, não uma violência, mas umacobardia!Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.Quem há neste largo mundo que me confesse queuma vez foi vil?Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,Como posso eu falar com os meus superiores semtitubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil,Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

(Trecho de “Poema em Linha Reta”, de FernandoPessoa)

10 — Poema Sujo(Ferreira Gullar)

turvo turvoa turvamão do soprocontra o muroescuromenos menos

menos que escuromenos que mole e duromenos que fosso e muro: menos que furo

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escuromais que escuro:clarocomo água? como pluma?claro mais que claro claro: coisa algumae tudo(ou quase)um bicho que o universo fabricae vem sonhando desde as entranhasazulera o gatoazulera o galoazulo cavaloazulteu cutua gengiva igual a tua bocetinhaque parecia sorrir entre as folhas debanana entre os cheiros de flore bosta de porco aberta comouma boca do corpo(não como a tua boca de palavras) como umaentrada paraeu não sabia tunão sabiasfazer girar a vidacom seu montão de estrelas e oceanoentrando­nos em tibela belamais que belamas como era o nome dela?Não era Helena nem Veranem Nara nem Gabrielanem Tereza nem MariaSeu nome seu nome era…Perdeu­se na carne friaperdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

(Trecho de “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar)