os 10 fatores da vida

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Editora Brasil Seikyo Brasil Seikyo - Edição 1795 - 14/05/2005 - Pág.A7 - Pesquisa Impresso por Andressa Abraao Costa (178601-6) página 1 Brasil Seikyo - Pesquisa Os 10 fatores da vida O budismo ensina que cada indivíduo é uma entidade viva exatamente como o Universo. Cada pessoa é um microcosmo e, por isso, possui inerente dentro de si o mesmo poder do Universo. E todos os fenômenos, ou manifestações do Universo, são regidos por uma lei, chamada no budismo de Lei Mística, ou Nam-myoho-rengue-kyo. Mas como as pessoas podem extrair e manifestar esse grandioso poder que têm dentro de si? A resposta a essa questão foi respondida pelo Buda Original Nitiren Daishonin, que revelou o supremo objeto de devoção, o Gohonzon, na forma de um mandala. Por sua ilimitada força, o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, fazia uma analogia do Gohonzon comparando-o a uma máquina de fazer felicidade. Para revitalizar e manifestar essa poderosa energia vital latente, os praticantes do Budismo Nitiren realizam diariamente uma solene cerimônia diante do Gohonzon, recitando Gongyo e Daimoku. Com essa prática simples, eles manifestam a sabedoria, a benevolência e a coragem para superar quaisquer problemas ou sofrimentos. A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, ou Daimoku do Sutra de Lótus, é chamada de “prática principal”, e a leitura ou recitação dos capítulos Hoben e Juryo (Gongyo) é chamada de “prática complementar”. O 26o sumo-prelado Nitikan Shonin comparou essas duas práticas ao alimento e ao tempero, respectivamente. Ao comerem o arroz ou massas, a fonte “principal” de nutrientes, as pessoas usam sal ou outro tempero para acentuar ou “complementar” o sabor dos alimentos. Ou seja, a recitação dos capítulos Hoben e Juryo tem a função complementar de aumentar e acelerar o poder benéfico da prática principal. No Gongyo estão contidos profundos ensinamentos que elucidam os mistérios da vida e ensinam o caminho para que as pessoas possam transformar qualquer aspecto negativo de sua vida. No capítulo Hoben (Meios), por exemplo, consta a seguinte passagem: “Yui-butsu-yo-butsu. Nai-no-ku-jin. Sho-ho-ji-so. Sho-i-sho-ho. Nyo-ze-so. Nyo-ze-sho. Nyo-ze-tai. Nyo-ze-riki. Nyo-ze-sa. Nyo-ze-in. Nyo-ze-en. Nyo-ze-ka. Nyo-ze-ho. Nyo-ze-hon-ma-ku-kyo-to.” (A essência real de todos os fenômenos somente pode ser compreendida e partilhada entre os budas. Essa realidade consiste de aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto e consistência do início ao fim. (LS 2, 24.) Esse trecho é lido três vezes durante as orações, basicamente para proclamar que cada pessoa é, em sua essência, um nobre Buda, e para aumentar os benefícios da fé. A “essência real” refere-se à verdade e “todos os fenômenos” a todas as formas e eventos do mundo real. Tient’ai, em seu Hokke Gengui (Profundo Significado do Sutra de Lótus), interpretou “entidade” [essência] como algo indestrutível que, embora não seja visível aos olhos, os budas podem claramente compreender. Essa essência real de todos os eventos e de cada vida individual (todos os fenômenos) são descritos como os Dez Fatores da vida. Ao contrário dos mortais comuns, “O Buda percebe o verdadeiro aspecto do mundo tríplice exatamente como é.” (cf. LS 16, 226.) No caso, o “mundo tríplice” é o mundo da realidade. Isto é, o Buda está

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Editora Brasil Seikyo Brasil Seikyo - Edição 1795 - 14/05/2005 - Pág.A7 - Pesquisa

Impresso por Andressa Abraao Costa (178601-6) página 1

Brasil Seikyo - Pesquisa

Os 10 fatores da vida

O budismo ensina que cada indivíduo é uma entidade viva exatamente como o Universo. Cada pessoa

é um microcosmo e, por isso, possui inerente dentro de si o mesmo poder do Universo. E todos os

fenômenos, ou manifestações do Universo, são regidos por uma lei, chamada no budismo de Lei

Mística, ou Nam-myoho-rengue-kyo.

Mas como as pessoas podem extrair e manifestar esse grandioso poder que têm dentro de si? A

resposta a essa questão foi respondida pelo Buda Original Nitiren Daishonin, que revelou o supremo

objeto de devoção, o Gohonzon, na forma de um mandala. Por sua ilimitada força, o segundo

presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, fazia uma analogia do Gohonzon comparando-o a uma

máquina de fazer felicidade.

Para revitalizar e manifestar essa poderosa energia vital latente, os praticantes do Budismo Nitiren

realizam diariamente uma solene cerimônia diante do Gohonzon, recitando Gongyo e Daimoku. Com

essa prática simples, eles manifestam a sabedoria, a benevolência e a coragem para superar quaisquer

problemas ou sofrimentos.

A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, ou Daimoku do Sutra de Lótus, é chamada de “prática

principal”, e a leitura ou recitação dos capítulos Hoben e Juryo (Gongyo) é chamada de “prática

complementar”.

O 26o sumo-prelado Nitikan Shonin comparou essas duas práticas ao alimento e ao tempero,

respectivamente. Ao comerem o arroz ou massas, a fonte “principal” de nutrientes, as pessoas usam

sal ou outro tempero para acentuar ou “complementar” o sabor dos alimentos. Ou seja, a recitação dos

capítulos Hoben e Juryo tem a função complementar de aumentar e acelerar o poder benéfico da

prática principal.

No Gongyo estão contidos profundos ensinamentos que elucidam os mistérios da vida e ensinam o

caminho para que as pessoas possam transformar qualquer aspecto negativo de sua vida.

No capítulo Hoben (Meios), por exemplo, consta a seguinte passagem: “Yui-butsu-yo-butsu.

Nai-no-ku-jin. Sho-ho-ji-so. Sho-i-sho-ho. Nyo-ze-so. Nyo-ze-sho. Nyo-ze-tai. Nyo-ze-riki. Nyo-ze-sa.

Nyo-ze-in. Nyo-ze-en. Nyo-ze-ka. Nyo-ze-ho. Nyo-ze-hon-ma-ku-kyo-to.” (A essência real de todos os

fenômenos somente pode ser compreendida e partilhada entre os budas. Essa realidade consiste de

aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto

e consistência do início ao fim. (LS 2, 24.)

Esse trecho é lido três vezes durante as orações, basicamente para proclamar que cada pessoa é, em

sua essência, um nobre Buda, e para aumentar os benefícios da fé.

A “essência real” refere-se à verdade e “todos os fenômenos” a todas as formas e eventos do mundo

real. Tient’ai, em seu Hokke Gengui (Profundo Significado do Sutra de Lótus), interpretou “entidade”

[essência] como algo indestrutível que, embora não seja visível aos olhos, os budas podem claramente

compreender. Essa essência real de todos os eventos e de cada vida individual (todos os fenômenos)

são descritos como os Dez Fatores da vida.

Ao contrário dos mortais comuns, “O Buda percebe o verdadeiro aspecto do mundo tríplice exatamente

como é.” (cf. LS 16, 226.) No caso, o “mundo tríplice” é o mundo da realidade. Isto é, o Buda está

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determinado a jamais tornar-se alienado da realidade da vida e não é influenciado pela aparência

superficial do mundo real (todos os fenômenos). Ele compreende a suprema verdade (essência real) e

ensina-a aos outros para que eles também possam entendê-la e aplicá-la em sua própria vida. A

diferença entre um buda e um mortal comum reside neste ponto.

Segundo o presidente Ikeda, a verdadeira realidade, ou essência real de todos os fenômenos, é que

cada pessoa possui um potencial latente (natureza e poder) e uma amplitude de transformação (causa

interna, relação, efeito latente e efeito manifesto). Além disso, cada um é um todo autoconsistente. Os

fenômenos são dependentes entre si, abertos uns aos outros, e mesmo assim permanecem

consistentes e unificados.

Ele exemplifica de forma simples os Dez Fatores da seguinte forma: “A sua própria existência é um

fenômeno. Suas feições fisionômicas, postura e assim por diante constituem a aparência do fenômeno

que é sua vida. Além disso, o que existe em seu coração, embora invisível aos olhos, tais como os

traços de sua personalidade — tolerância, impaciência, gentileza e discrição — ou os vários aspectos

de seu temperamento constituem sua natureza. Sua totalidade física e espiritual, ou seja, sua aparência

e sua natureza, juntas, formam sua entidade, a pessoa que você é. Da mesma forma, sua vida tem

várias energias (poder), elas produzem várias ações externas (influência). Além disso, sua própria vida

passa a ser uma causa (causa interna) que, ativada por condições internas e externas (relação), gera

mudanças em si mesma (efeito latente) e, em seu devido momento, esses efeitos latentes se

manifestam de forma concreta (efeito manifesto). Esses nove fatores também ligam sua vida e seu

ambiente sem nenhuma omissão nem inconsistência (consistência do início ao fim). Esse é o

verdadeiro aspecto dos Dez Fatores de sua vida.”

Como a flor de lótus que produz a flor e a semente simultaneamente, as causas internas que uma

pessoa faz despertam o efeito latente, que é o carma. E quando uma condição ambiental ou

circunstancial ativa essa causa interna, o efeito se manifesta infalivelmente.

Dessa forma, a rigorosa Lei de Causa e Efeito que abrange o passado, o presente e o futuro não reside

em outro lugar a não ser na própria vida da pessoa, conforme elucida o sutra Shinjikan: “Se deseja

compreender as causas do passado, observe os resultados que são manifestados no presente. E se

deseja compreender quais resultados serão manifestados no futuro, observe as causas do presente.”

Por mais que uma pessoa seja capaz de dissimular sua verdadeira natureza, praticando atos de

maldade mas aparentando ser uma pessoa de boa índole, ela jamais conseguirá enganar essa lei que

rege a vida, pois seus atos ficarão registrados em sua vida e se manifestarão no futuro por meio de

efeitos negativos.

As pessoas têm a tendência de buscar a felicidade fora de si e de seu ambiente. Contudo, o budismo

ensina que a felicidade ou infelicidade é construída a cada momento da vida por meio dos

pensamentos, das palavras e das ações empreendidas em seu lar, em sua própria realidade de vida.

“Todas as coisas, todos os fenômenos, são iguais, transcendo diferenças entre sujeito e objeto, eu e os

outros, corpo e mente, espírito e matéria”, conforme esclarece o presidente Ikeda. Por isso, ele afirma:

“O importante é que mesmo os seres vivos no estado de Inferno, por exemplo, podem se tornar unos

com a brilhante e radiante vida do próprio Universo, uma vez que são despertos para a verdadeira

natureza de seus próprios seres (sua essência real) e uma vez que realmente podem vir a “conhecer a

si próprios”.

A partir do momento em que as pessoas compreendem que elas tem o potencial do estado de Buda

dentro de si, pois todos os seres vivos e os fenômenos do Universo e o Nam-myoho-rengue-kyo são,

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em si, manifestações da Lei Mística, a vida começa a ter um novo significado e elas começam a adotar

uma nova concepção de vida.

E ao tomar consciência de como os Dez Fatores da vida agem em sua vida, começam a perceber que,

diante de uma circunstância, positiva ou negativa, o mais importante é a reação que se tem perante ela.

Do ponto de vista do Budismo Nitiren, todos os aspectos da vida são importantes e a negligência,

deliberada ou não, a algum deles, acarretará conseqüentemente um efeito na vida.

Pode-se tomar como exemplo uma pessoa que está com problemas financeiros. Por mais que ela ore e

se empenhe com afinco nas atividades da organização, se suas ações diárias não estiverem de acordo

com os princípios do budismo, ela não obterá o resultado esperado.

De acordo com o princípio da consistência do início ao fim, tudo na vida está interligado e os

acontecimentos não são frutos de uma mera casualidade, mas sim, de um conjunto que de fatores.

Portanto, para se manifestar esse grande tesouro que cada um possui dentro de si (estado de Buda), a

oração sincera e a busca contínua para polir o coração são essenciais. Com um estado de vida

elevado, as pessoas começam a utilizar a lei da causalidade a seu favor, e em vez de criar causas

negativas ou ficar presas ao passado, realizando boas ações que direcionem sua vida para a felicidade.

Fonte:

■ A Sabedoria do Sutra de Lótus, págs. 190–201.

■ Preleção dos capítulos Hoben e Juryo, págs. 124–136.