origens da escola moderna no brasil_a contribuição jesuítica_gilberto luiz alves

Download Origens da escola moderna no Brasil_a contribuição jesuítica_Gilberto Luiz Alves

If you can't read please download the document

Upload: emilsonwerner

Post on 13-Apr-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    1/20

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87313716016

    Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina, el Caribe, Espaa y Portugal

    Sistema de Informacin Cientfica

    Gilberto Luiz AlvesORIGENS DA ESCOLA MODERNA NO BRASIL: A CONTRIBUIO JESUTICA

    Educao & Sociedade, vol. 26, nm. 91, mayo-agosto, 2005, pp. 617-635,

    Centro de Estudos Educao e Sociedade

    Brasil

    Como citar este artigo Fascculo completo Mais informaes do artigo Site da revista

    Educao & Sociedade,

    ISSN (Verso impressa): 0101-7330

    [email protected]

    Centro de Estudos Educao e Sociedade

    Brasil

    www.redalyc.orgProjeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

    http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=873&numero=13716http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/revista.oa?id=873http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=873&numero=13716http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=87313716016http://www.redalyc.org/
  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    2/20

    617Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    ORIGENS DA ESCOLA MODERNA NO BRASIL:A CONTRIBUIO JESUTICA*

    GILBERTOLUIZALVES**

    RESUMO: Este trabalho objetiva discutir a contribuio da Compa-nhia de Jesus para a instaurao da escola moderna no Brasil. Muitoj foi dito sobre essa ordem religiosa, mas torna-se imperativo consi-derar sua obra educacional na perspectiva da contradio. Com essa

    inteno, so analisados aspectos ideolgicos do ensino jesutico, a re-lao educativa pertinente e a materialidade dos colgios, estabeleci-mentos escolares que colocaram a Companhia de Jesus na vanguar-da da educao, desde os primeiros tempos de sua existncia. A cate-goria organizao do trabalho didtico central na anlise, enquantoo material emprico buscado, sobretudo, em fontes documentais eobras clssicas expressivas do perodo analisado.

    Palavras-chave: Ensino jesutico. Escola moderna. Organizao do tra-balho didtico.

    ORIGINSOFTHEMODERNSCHOOLINBRAZIL:THEJESUITICCONTRIBUTION

    ABSTRACT: The purpose of this work is to discuss the contributionof the Company of Jesus to the instauration of the modern school inBrazil. Much has been said about that religious order, but it becomes

    imperative to consider its educational work in the perspective of thecontradiction. With that intention, are analyzed the ideological as-pects of the Jesuitical education, the pertinent educational relation

    * Este trabalho sistematiza algumas concluses do projeto de pesquisa Gnese e desenvolvimentoda Escola Pblica no Brasil(Primeira Parte: Origem, desenvolvimento e difuso da escola tra-dicional 1759-1870), desenvolvido dentro do Ncleo de Pesquisa de Educao ( NUPED),da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Foi apresentado no V Seminrio Nacio-nal do Grupo de Estudos e Pesquisas Histria, Sociedade e Educao no Brasil, realizadona Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), de 20 a 24 de agosto de 2001.

    ** Doutor em educao pela UNICAMP e professor do Curso de Mestrado de Educao da Uni-versidade do Contestado (UNC), Campus de Caador (SC). E-mail: [email protected]

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    3/20

    618

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    and the materiality of the college, school establishments that haveplaced the Company of Jesus in the vanguard of the education,since the first time of its existence. The organization of the teachingwork category is central in the analysis, while the empirical materialis searched mainly on documental sources and expressive classicalworks from the period analyzed.

    Key words: Jesuitical education. Modern school. Organization of theteaching work.

    anlise do patrimnio histrico-educacional, no Brasil, tem tran-sitado abruptamente da apologia crtica negativa. Nem aquelanem esta so caminhos da crtica cientfica, caminhos da supe-

    rao por incorporao. Eis a razo de a presente discusso da contri-buio educacional da Companhia de Jesus ao Brasil se distanciar detodos aqueles trabalhos que tm feito a apologia da congregao oucondenado a sua ao catequtica e missionria. Nele, no h lugar parao elogio de uma pretensa epopia jesutica nos trpicos nem encontraeco a crtica que pretendeu identificar a atuao dos inacianos com oobscurantismo feudal, ou interpret-la no contexto de uma pretensa xe-nofobia pombalina ou, ainda, reduzi-la a instrumento de dominaoda burguesia mercantil.

    Acrescente-se, tambm que, presentemente, h inmeros gruposde pesquisa preocupados com o estudo do patrimnio legado pelos je-sutas educao brasileira. Mas, por fora de delimitao do estudo,essa produo acabou sendo desconsiderada, pois tangencia o que estetrabalho postula como bsico: a organizao do trabalho didtico.

    Do ponto de vista metodolgico se impe, ainda, outro esclare-cimento. Uma vez que o objeto deste trabalho nasceu no interior deum projeto de pesquisa centrado na escola pblica moderna e suas ori-gens no Brasil Colnia, afirme-se que a emergncia dessa instituio so-cial constitua-se, poca, um reclamo universal. Da a necessidade dese levar em conta as suas formas mais desenvolvidas, que, decididamen-te, ocorriam ao largo das naes da pennsula ibrica e de seus domni-os ultramarinos. Isso, em absoluto, representa concesso a um esquemade anlise estranho ao Brasil e ao imprio colonial portugus. Estamosfalando de um fenmeno que se realizava e se difundia no mbito dasociedade capitalista, cuja especificidade, desde os seus primrdios, ma-nifestara-se na sua tendncia universalizao. Em regies onde mais

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    4/20

    619Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    avanava o processo de estabelecimento de relaes de produo capi-talistas, eram formuladas propostas educacionais mais ricas, como a daReforma protestante. Pelo carter universal da sociedade capitalista epelo fato de essas propostas encarnarem com maior riqueza a condiode snteses de mltiplas determinaes, tornam-se recursos instru-mentais que colocam luzes para o entendimento e a configurao, tam-bm, da universalidade e da singularidade dos casos situados fora desua rbita, inclusive do caso brasileiro.

    Feitos esses esclarecimentos introdutrios, diga-se que o presentetrabalho foi suscitado por uma releitura do Ratio Studiorum (Franca,1952. p. 119-230),o plano de estudos da Companhia de Jesus. Emfuno do pressuposto metodolgico, j exposto, tanto essa releituraquanto o contato com outros documentos referentes obra educacio-nal dos inacianos, no Brasil, vm sendo crivados pelos resultados do es-tudo anterior de uma outra obra clssica a Didctica Magna, deComenius (Comnio, 1976) sintetizados em A produo da escola p-blica contempornea (Alves, 2001).Ao longo da exposio, o antagonis-mo entre a escolstica e a escola moderna domina a sntese resultanteda releitura do Ratio Studiorum, pois, na tenso estabelecida pela dis-puta entre esses dois plos, desenvolveu-se a experincia pedaggica daCompanhia de Jesus. Claro que esse antagonismo uma expresso, nocampo da educao, da luta mais ampla estabelecida no interior da so-ciedade entre a nobreza e o clero catlico, de um lado, e a burguesia,de outro, que cada vez mais claramente manifestava pelos mais diferen-tes meios sua contestao ordem feudal.

    Acentue-se, sobretudo, que a categoria trabalho didtico disputa

    um lugar cada vez mais central em nossas anlises. Por meio dela poss-vel fazer uma retrospectiva no s da relao educativa, na poca moder-na, mas tambm de como a escola moderna germinou a partir das trans-formaes sociais desencadeadas pela ascenso burguesa.

    At o sculo XVI, o trabalho didtico preservava as suas caractersti-cas artesanais. Era um legado da sociedade feudal; um registro que resistia emergncia de uma nova poca cujas necessidades educacionais j nolhe eram mais pertinentes. A burguesia imitava a nobreza quando contra-tava um preceptor para educar os seus filhos. A relao do preceptor com odiscpulo era de natureza individual, mesmo quando a responsabilidadedaquele se dividia entre dois ou mais jovens. O ensino era ministrado, compredominncia, em ambientes internos e externos da residncia do disc-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    5/20

    620

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    pulo ou da prpria residncia do preceptor. A sala de aula ainda no ha-via se expressado, claramente, como uma necessidade no mbito daeducao. Tambm a Reforma, nos seus albores, no prometia qualquermudana substantiva em face da organizao do trabalho didtico. Essemovimento religioso incorporava uma novidade fundamental ao pressu-por a necessidade de todos terem acesso leitura e escrita, para ler einterpretar livremente os livros sagrados. Mas no havia preceptores emnmero suficiente para atender a essa imensa demanda social. Enfatize-se que, ao impor os rudimentos da instruo para todos, a Reforma nofez ruir, imediatamente, a relao preceptor-discpulo, tal como se reali-zara at a poca da Renascena. Pelo contrrio, pretendeu estend-la ereproduzi-la ao postular a transformao dos pais em preceptores, atri-buindo-lhes a responsabilidade pela educao da prole. Nos Estados Uni-dos da Amrica, at mesmo uma legislao punitiva foi erigida para coi-bir a omisso dos pais quando essa atribuio no fosse cumprida acontento. Acentue-se, mais uma vez, a relao educativa continuava sen-do de carter individual.

    Passado mais de um sculo aps a sua emergncia, porm, a Re-forma protestante passou a afirmar categoricamente a necessidade deuma nova instituio social para a educao das crianas e dos jovens.

    Anunciava-se, enfim, a superao do ensino preceptorial. Motivado poressa necessidade social emergente, Comenius foi o mentor que melhorexpressou, por meio de sua obra, a concepo da nova instituio edu-cacional. Foi um pioneiro, tambm, pelas inmeras iniciativas em quese envolveu visando realiz-la. Frisando, Comenius foi o educador queencarnou a posio de vanguarda da Reforma protestante nas origensda produo da escola moderna; foi quem concebeu, de uma formamais elaborada, orgnica e de conjunto, o projeto dessa instituio so-cial, em meados do sculo XVII, tendo como fonte de inspirao a ma-nufatura burguesa (Alves, op. cit., p. 81-103). Portanto, o surgimentoda escola moderna implicava tambm a superao da base artesanal daorganizao do trabalho didtico.

    Paralelamente, reconhea-se que o Humanismo no avanara noterreno educacional. verdade que, do ponto de vista do contedo,esse movimento burgus havia recuperado os clssicos do mundo anti-go, zelando pela integridade e pela fidedignidade dos textos, superan-do assim o tratamento da escolstica, que os censurava e mutilava peloexpurgo, a propsito de preservar a tica catlica. A melhor ilustrao

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    6/20

    621Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    do salto imposto pelo Humanismo pode ser dada tendo como refern-cia a obra de Aristteles. Este no foi banido dos estudos de filosofia,por exemplo. Banido foi o Aristteles cristo medieval, segundo a ex-presso de Abbagnano (1999, p. 79), em benefcio de um Aristtelesmais condizente com os seus escritos originais, recuperados a partir dafaina meticulosa dos humanistas, que percorriam toda a Europa embusca de textos no adulterados, e do contato com as fontes rabes. Masa relao educativa continuava sendo aquela que colocava frente a fren-te o preceptor e o discpulo.

    Por representar a proposta mais desenvolvida e articulada de edu-cao para todos, antes de o enciclopedismo e de a Revoluo Francesaclamarem pela formao do cidado por meio da escola pblica,Comenius tornou-se a chave maior para o entendimento da origem e dosprimeiros passos da escola moderna na sociedade burguesa e, como de-corrncia, para dimensionar a contribuio jesutica, nesse processo.Deve-se ter em conta que, no lapso considerado, os discpulos de Inciode Loyola dominavam a educao no mundo catlico e, por conseqn-cia, no Brasil colonial, da a relevncia de seu estudo.

    Na presente anlise da contribuio educacional da Companhia deJesus ao Brasil, como resultado do crivo exercido pela forma mais desen-volvida de concepo da escola moderna em seu tempo, afloram, sobre-tudo, dois temas: o primeiro referente organizao e diviso do traba-lho didtico e, o segundo, materialidade dos colgios jesuticos. Outros,to relevantes quanto estes, poderiam ser tocados, tambm, a exemplodas fontes do conhecimento exploradas na atividade de ensino, da for-mao de quadros para o magistrio e das tecnologias educacionais en-

    volvidas. Mas, para no pairar na superficialidade de todos eles, a opofoi a de delimitar o estudo, restringindo-o aos dois eleitos. Muitos dostemas referidos, que mais tarde ganharam centralidade na teoria educaci-onal, at meados do sculo XVII s estavam explcitos na obra do bispomorvio, o que faz ressaltar o teor explicativo de sua concepo.

    Quanto ao contedo da escolstica medieval, o Ratio Studiorumpraticamente pouco inovou. Mas patente a sua nfase no tomismo, re-vigorado a partir da renovao dos estudos da Universidade de Paris, le-vada a cabo pelo dominicano Pedro Crockaert (Franca, 1952. p. 33). Daa opo pelo modus parisiensisde ensinar e o apelo sistemtico autori-dade de So Toms de Aquino. No essencial, o plano de estudos dos je-sutas consagrou a orientao da escolstica e colocou-se como o seu ins-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    7/20

    622

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    trumento de realizao no mbito da educao. No texto do documentoem referncia, que expressa sobretudo o contedo da Contra-Reforma, apeculiaridade mais notria o seu tom incisivo, do ponto de vista ideo-lgico, resultante do novo momento histrico que lhe correspondia, nointerior do qual a Igreja Catlica, alm do combate a velhos adversrioscomo o judasmo e o islamismo, desenvolvia, sobretudo, uma reao in-tencional s novidades1trazidas por movimentos como o Humanismoe a Reforma. Da a recomendao de uma atenta vigilncia sobre os estu-dantes dos colgios da Companhia de Jesus, visando mant-los dentrodos limites da interpretao tomista; distanci-los dos escritos rabnicos,de seitas filosficas e afast-los, igualmente, dos escritos de Averris,2

    filsofo rabe que tanto contribura para que o Humanismo recuperasseo pensamento aristotlico menos contaminado pela reinterpretao dos

    telogos catlicos medievais.Em meio decomposio do feudalismo, o combate histrico se

    intensificava. A Contra-Reforma, que expressava no plano ideolgico a re-cusa ao desaparecimento dessa poca cujo fim a histria anunciava, pas-sava a cuidar para que a ortodoxia catlica no se desviasse, dando-lhe,cada vez mais, um contedo dogmtico. Eis a razo de o Ratio Studiorumameaar ostensivamente com a excluso quaisquer estudantes que se ma-nifestassem interessados pelas novidades. O mero fato de fazer essa refe-rncia j denota que os novidadeiros existiam e que, apesar da Contra-Reforma, as pregaes das hostes humanistas e reformistas encontravamrepercusso entre os catlicos, inclusive entre os discpulos dos jesutas etalvez at mesmo entre os mestres dessa ordem religiosa.

    Alis, a insero material da Companhia de Jesus no Novo Mun-

    do e o combate na frente ideolgica contra-reformista expunham os jesu-tas nova ordem que se instaurava e s novas idias, o que no deixoude influenciar o comportamento poltico da congregao. Fosse por purooportunismo poltico, pela defesa de interesses materiais da ordem reli-giosa ou pelo vislumbre da importncia de algumas idias novas, os pa-dres da Companhia de Jesus revelaram maior tolerncia poltica em rela-o aos adversrios, o que no representava o tom dominante daContra-Reforma, principalmente da Inquisio. Por esse caminho podemser entendidos certos casos paradigmticos. Um deles o do Pe. AntnioVieira, que, contra a expectativa da Inquisio, no tergiversou sua sim-patia aos judeus nem deixou de desenvolver intensa atividade diplomti-ca em Portugal, aps a Restaurao, visando fazer regressar o imenso con-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    8/20

    623Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    tingente dessa colnia que havia se evadido do pas na fase de dominaoespanhola.3Para estranheza de quem v na atuao jesutica, sempre, oselo do obscurantismo, motivavam Vieira, nessa circunstncia, interessesexclusivamente materiais, que se orientavam pela necessidade de recupe-rar reservas de capital e a antiga grandeza material de reino portugus. Aordem religiosa tambm acabou tornando-se lucrativa empresa capitalis-ta no Novo Mundo, por fora do patrimnio que progressivamenteamealhara. Engenhos, fazendas de gado e outras modalidades de propri-edade, fizeram a Companhia de Jesus estabelecer relaes capitalistas nombito da produo.4Assim, suas casas na Amrica distanciavam-se doenraizamento material das europias e predispunham-se mais, aqui, to-lerncia, ao dilogo e cumplicidade com as foras sociais queencarnavam o novo. Obras de jesutas como Antonil (1711) e Benci(1977), centradas nas questes de ordem prtica da produo capitalis-ta, so a demonstrao inequvoca dessa predisposio.

    Mas, mesmo na Europa, pela atenta vigilncia que sempre dispen-saram ao novo, muitas vezes os jesutas viram-se enredados por ele. ex-pressivo o fato de que um dos fundadores da cincia moderna, GalileuGalilei, nunca duvidou da acolhida respeitosa, entre os inacianos, das des-cobertas propiciadas por suas observaes astronmicas. Por CristvoGruenberger, discpulo e sucessor de Clvio na ctedra de matemticado Colgio Romano, sempre revelou apreo e respeito.5

    Por isso, tambm, a prtica pedaggica da Companhia de Jesus se,por um lado, consagrou o contedo da escolstica medieval, por outroinovou sensivelmente, o que se pretende demonstrar na seqncia.

    Quando o Ratio Studiorumdiscorre sobre o mtodo de estudar,

    repetir e disputar deixa evidente que divide o processo ensino-aprendi-zagem em duas etapas fundamentais. A primeira delas corresponderia

    prelectio, que girava em torno da figura e da ao do professor. A prele-o, como o prprio termo indica, era entendida como lio antecipa-da, uma explicao do que o aluno dever estudar (Franca, op. cit., p.57). Algumas vezes, antes da preleo, recitava-se de cor um trecho lati-no em prosa ou verso (Franca, 1952, p. 59). Contudo, quase sempre asatividades de ensino eram desencadeadas a partir da leitura e o resumodo texto (idem, ibid., p. 57). A leitura do texto podia incidir sobre umacarta, um documento ou um trecho de obra clssica, fosse de Aristteles,de um padre da Igreja, de Santo Toms de Aquino ou um extrato ex-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    9/20

    624

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    purgado de alguma pea da literatura greco-latina. Aps a leitura dessetexto, o professor passava leitura de um escrito de sua lavra, preparadopreviamente para assegurar ordem ao trabalho didtico. Numa aula deretrica, por exemplo, aps a apresentao do resumo do texto de refe-rncia, o professor em seguida esclarecia cada passo de seu contedo, dis-cutia os significados de termos desconhecidos, as regras de gramtica e asnormas de estilstica. A explicao preparada pelo professor deveria ex-plorar, ao mximo, os conhecimentos dasrealia, isto , os conhecimen-tos positivos que configuravam a eruditio, hauridos da histria, da geo-grafia, da mitologia, da etnologia, da arqueologia e instituies do mundoclssico, segundo Franca. Durante as explicaes, o mestre interrogava osalunos e solicitava colaboraes para verificar o grau de compreenso docontedo. Ao final da aula, ficava disposio dos estudantes, por algumtempo, visando complementar suas impresses sobre o domnio do con-tedo da exposio pelos colegiais.

    Cumprida aprelectio, iniciava-se a segunda etapa do processo ensi-no-aprendizagem, denominada composio. Essa era a etapa em que oaluno exercia plenamente a atividade intelectual e a realizava com recur-sos que extrapolavam a sala de aula. Se a preleo fazia a anlise viva deum modelo, na composio, usando o modelo - uma carta, um docu-mento ou um extrato expurgado de alguma obra da literatura greco-latina - o jovem nele se aprofundava pelo estudo. O modelo deveria sercontemplado, admirado e assimilado, para possibilitar, na seqn-cia, a sua reproduo por meio de uma composio pessoal. O pressu-posto era o de que, progressivamente, o estudante se libertaria dessa ca-misa de fora, representada pelo modelo externo, para construir suaautonomia e manifestar sua identidade em composies originais.

    A argumentao desenvolvida pode gerar a impresso, talvez, deque nenhuma inovao foi ensejada pela prtica pedaggica dos jesutas. errnea essa impresso. O trabalho pedaggico nos colgios jesuticosno se circunscrevia aos dois momentos relatados friamente. Inmeros re-cursos didticos foram sendo agregados ao trabalho de ensino de forma aconfigurar uma relao diferenciada entre o professor e o aluno, muitodistante da prtica pedaggica medieval. No somente as preocupaescom a disciplina foram abrandadas. Necessrio se torna frisar que os cas-tigos fsicos no foram abolidos. Existia, mesmo, a figura do corretor(Organizao e plano de estudos..., apud Franca, op. cit., p. 220) den-tro de cada colgio, mas comeou a se sobrepor a idia de que os castigos

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    10/20

    625Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    deveriam ter mais o carter moral, apelando-se, s em ltimo caso, paraos castigos fsicos. Mais importante foi o uso do recurso da emulao paraassegurar o empenho dos estudantes. Franca deixa evidente que, por ins-pirao da organizao militar, as salas de aula eram subdivididas em doisexrcitos, ambos tomados pela convico de lutar contra o adversrio evenc-lo. Internamente cada exrcito apresentava, tambm, uma hie-rarquia de tipo militar. Ressalte-se nessa organizao, porm, algo muitodiferente da rgida estratificao da sociedade feudal. Nesta, o enraiza-mento dos homens nas classes repousava em direitos de nascimento, oque a tornava impermevel ao trnsito social. Isso gerava conseqnciasat mesmo dentro da organizao militar feudal. Os comandos superio-res eram aambarcados pelos senhores feudais mais poderosos. Os postosde chefia intermedirios eram atribudos aos integrantes da mdia e dapequena nobrezas, subordinados por laos de suserania aos comandantesmaiores. A cavalaria era a arma privilegiada da nobreza. A infantaria eraconstituda pelos elementos do povo. Mas na organizao dos estudan-tes, dentro das salas de aula jesuticas, no era assim. No dia a dia dotrabalho didtico, em que pese a influncia militar nas denominaes dospostos de cada exrcito, os papis respectivos eram atribudos aos estu-dantes por mrito, do que resultava um cmbio sistemtico. O estudan-te, integrado ao seu posto, vigiava e corrigia o seu correspondente nahoste adversria e os deslizes constatados eram somados positivamente aodesempenho geral de seu exrcito. Os mais perspicazes e inteligentes re-cebiam promoes dentro de seu grupo. Isso gerou um clima de compe-tio, dentro das salas de aula, muito prximo da forma de existncia danova classe social, a burguesia. No h proximidade entre esse ambientedominante nos colgios jesuticos, marcado pela competio e pelameritocracia, e as silenciosas e soturnas aulas dos mestres medievais.

    No interior da Contra-Reforma, por outro lado, no deve ser des-prezada a nova importncia de que se revestiu a educao como instru-mento de conquista dos fiis e, por isso, de difuso da religio catlicapor todo o universo. Esse novo momento histrico criou uma demandapeculiar e os jesutas, principalmente, foram conclamados a atend-la. Jno se tratava de receber algum jovem que, por iniciativa de uma ou ou-tra famlia, procurava pelos acanhados servios educacionais dosmonastrios e das catedrais. Nem se tratava de assegurar a difuso da dou-trina pela expanso das atividades catequticas, que dispensavam o do-mnio da leitura e da escrita. Tratava-se, ento, de estimular os fiis a re-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    11/20

    626

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    ceber os benefcios da educao. Nesse instante, como no poderia dei-xar de ser, a campanha encetada privilegiou, basicamente, a nobreza e aburguesia. Mesmo assim, houve uma expanso sensvel dos servios edu-cacionais, ento em escala universal.6 Ao contrrio da valorizao doascetismo medieval e da parcimnia na distribuio dos instrumentos deinsero cultural, numa nova fase da histria em que as cidades se trans-formavam nos eixos dos acontecimentos humanos, comeou a dominar,na propaganda catlica, a preocupao intencional de suscitar o interessedas famlias pela educao, traduzindo-a como condio necessria aoaperfeioamento da vida crist. Esse aperfeioamento decorreria, emgrande parte, do descortnio propiciado pela educao, visto como recur-so indispensvel ao combate s idias largamente difundidas pelos adver-srios. O burburinho das cidades, o desenvolvimento material que forta-lecia a burguesia, o surgimento de novas idias que espelhavam essedesenvolvimento, a exemplo das heresias, do Humanismo e da Reforma,bem como a reiterada luta contra o islamismo e o judasmo, eram fatoresque impunham uma nova atitude na Igreja Catlica em face da educa-o. Se essa atitude j estava disseminada entre alguns adversrios, Roma,para no perder espao, comeava a admitir, da mesma forma, que o do-mnio das conscincias passava, nesse novo estgio da histria humana, atransitar tambm pela educao formal. Estava sendo superada a poca emque a submisso e a ingnua ignorncia dos fiis, perdidos na imensidodos campos feudais, poderiam repousar somente nos ensinamentos do ca-tecismo, transmitidos oralmente, e nas trovejantes ameaas contra os peca-dores ou nas doces promessas de um mundo melhor, alm da vida terrena,verbalizadas pelo cura.

    Nesse sentido e como decorrncia de uma nova e grande deman-da, as escolas jesuticas inovaram em relao aos estabelecimentos educa-cionais catlicos pregressos. Suas escolas, denominadas colgios, carrega-vam uma ambivalncia quanto finalidade, pois eram, ao mesmo tempo,seminrios, tal como os preconizara o Conclio de Trento, e colgios paraa formao de jovens burgueses e nobres, que buscavam slida formaohumanstica visando desenvolver as bases para a realizao, com sucesso,no futuro, de estudos superiores. Afirme-se que no constava das inten-es originais de Incio de Loyola o trabalho educacional, mas a pressosocial, associada ao reconhecimento da importncia da educao comoinstrumento de luta ideolgica fez, logo nos primeiros tempos da ordem,com que ela incursionasse nessa frente e a elegesse como prioridade. Pela

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    12/20

    627Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    gigantesca demanda, seus colgios foram concebidos para o atendimentode grande nmero de jovens. Da, tambm, a adoo do modus parisiensesde ensino, familiar a todos os pioneiros da ordem, que haviam realizadoestudos superiores na Universidade de Paris. O modus parisiensisimplica-va uma forma de distribuio dos alunos por nvel de adiantamento, oque resultou na formao de classes. A maior homogeneidade das turmasconstitudas permitiu que se estabelecesse uma tmida diviso do traba-lho, no interior do trabalho didtico, e que diferentes professores assu-missem classes distintas (Julia, 2001, p. 14). Tambm insinuou a pro-gresso dos nveis de escolarizao, que, com o tempo, foi se fixando eaperfeioando, at configurar um plano de estudos sistemtico com arti-culao horizontal e vertical. Com isso mudava, ainda, a concepo deespao em relao ao local devotado ao ensino e, como decorrncia, im-punha-se o desenvolvimento das condies materiais que lhe correspon-diam. O local de ensino, que era um apndice no monastrio e na cate-dral, elevou-se ao primeiro plano, ao dar origem ao colgio, e ganhouvisibilidade. As edificaes jesuticas passaram a ser identificadas, em pri-meiro lugar, pelo colgio. A igreja e demais dependncias, mesmo queessenciais para a prtica missionria dos jesutas, se tornaram elementosacessrios. Para patentear a inverso apontada, desde ento passou a sercomum falar, por exemplo, em Convento e Igreja do Colgio dos Jesutasem So Paulo (Moura, 1954, p. 20. Grifo nosso). A Carta Real de DonaMaria I, que doou Igreja de Pernambuco os bens dos jesutas emOlinda, para atender condio exigida por Azeredo Coutinho visando fundao de um novo Seminrio, , tambm, muito expressiva. Nela feita referncia existncia, em Olinda, de uma Casa que foi Colgio ehabitao dos extintos Jesutas, com a sua respectiva Igreja, Alfaias a ela per-tencentes, e Cerca, que anexa referida Casa, e Colgio (apud Nogueira,1985, p. 381-382. Grifo nosso). Para definir os bens dos jesutas, no casoidentificados com a sua Casa em Olinda, os termos colgio e habita-o antecedem e so os referenciais em torno dos quais giram todos osdemais. Essas demonstraes colocam em tela o que se deu, igualmente,com o Colgio da Bahia e tantos outros. A nova referncia, que se disse-minou por todo o universo, colocava o colgio em posio central nasresidncias jesuticas.

    Quanto ao plano de estudos da Companhia de Jesus h que seressaltar a sua uniformidade. Em princpio, no havia a possibilidade deo colegial seguir modalidades especializadas de estudos. O plano era um

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    13/20

    628

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    bloco monoltico, que todos deveriam trilhar, desde os estudos iniciaisde gramtica latina at o seu cume, representado pelos estudos de teolo-gia, reservados aos seminaristas. Mas as diferenas individuais existiam eo seu reconhecimento permitia ajustes, mas no a ponto de romper comesse monolitismo. Aqueles que se destacavam nos estudos de retrica, porexemplo, poderiam aprofundar-se na matria por mais algum tempo um ano, quase sempre. O mesmo se dava com os estudantes de teologia.Os mais talentosos eram premiados com anos adicionais de estudos, nor-malmente dois. Os excepcionais poderiam ter, inclusive, trs ou quatroanos de estudos, ao final dos quais defendiam teses e obtinham graus.

    Acentue-se que, nestes casos de anos adicionais de estudos, o RatioStudiorumno discriminava a programao dos contedos desenvolvidos.Tudo induz ao entendimento de que se mantinha a programao dos es-tudos regulares e de que o aprofundamento decorria mais da capacidadedo estudante do que propriamente de um acrscimo de contedos. A as-pirao pedaggica perseguida era a de formar um padre com o domniobsico da filosofia aristotlica e da teologia, na sua vertente tomista, quepudesse brandir com elegante eloqncia a doutrina catlica para, assim,obter a adeso subjetiva do fiel tutela da religio. Se o modelo ideal spoderia encarnar-se no expoente, o plano de estudos demonstra a consci-ncia, tambm, de que muitos no seriam talhados para o exerccio daeloqncia alm da mdia, nem para o domnio da filosofia ou da teolo-gia com maior talento. Mas nunca um quadro da Companhia de Jesuspoderia exercer as funes missionrias superiores, entre as quais a do en-sino, se estivesse aqum da mediania.7J no incio do processo deescolarizao, medida que fossem sendo constatadas as limitaes dosestudantes intelectualmente mais fracos, para eles eram estabelecidasdestinaes de menor peso que aquelas reservadas aos jovens maistalentosos. Se o estudante no demonstrasse maior propenso para a filo-sofia, deveria logo se dirigir aos casos de conscincia, um exerccioescolstico que realava alguns princpios gerais da moral que se costu-ma debater com mtodo teolgico (Organizao e plano de estudos,apud Franca, op. cit., p. 155) e que representava a base mnima de do-mnio de um padre. Mas esse jovem jamais seria professor de teologia oude filosofia. Poderia, quando muito, lecionar as disciplinas do magist-rio inferior.8

    Essa discusso j introduziu, de fato, a questo da diviso do tra-balho. Pelo que se viu, no h uma diviso do trabalho imanente na-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    14/20

    629Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    turezado trabalho didtico entre os jesutas. A aspirao do plano deestudos era a de formar o padre. E qualquer padre jesuta resumia, aomesmo tempo, esse ideal pedaggico e a sua realizao. O padre repre-sentava, para cada estudante, o horizonte do que ele poderia ser no fu-turo; era a expresso do ideal pedaggico a ser seguido pelo aluno.

    Os padres se distribuam pelas disciplinas de um colgio no comoresultado de especializaes adredemente fixadas. Os estudos se distin-guiam quanto aos seus objetos, mas nenhum mestre tivera uma forma-o especializada em quaisquer deles. Todos haviam seguido o mesmoplano de estudos e apreendido os seus contedos com uma intensidademdia dominante. Logo, todos poderiam ministrar todas as disciplinas,ressalvados aqueles casos dos pouco dotados intelectualmente. Os talen-

    tos pessoais no eram vistos como fatores de especializao dos quadros;eram encarados como dons a serem cultivados, sem prejuzos para os es-tudos em outras reas. A expectativa em relao a um jovem estudanteeloqente, que comeava a se distinguir na retrica, se resumia a v-locomo algum que poderia desenvolver, no futuro, um importante traba-lho missionrio no plpito. Pelo dom pessoal de que dispunha, era dese-

    jvel que a esse jovem fosse assegurada a possibilidade de se aprimorar noestudo e nos exerccios da retrica. Mas, repita-se, isso no fazia dele umespecialista, pois no abdicava das outras reas de formao nem de ou-tras atividades em favor da eloqncia. Esta era s um recurso comple-mentar, que merecia ser dominado plenamente para que seu dom pesso-al no fosse desperdiado.

    Qualquer padre talentoso, portanto, poderia lecionar qualquerdisciplina. Sob esse aspecto, s quem estava abaixo da mediania en-

    frentaria restries. Reafirme-se, mais uma vez, que o trabalho didticono estava organizado de forma a exigir a entronizao especializada dosmestres ao magistrio. Suplantando a influncia dos dons, a necessida-de de repartir os encargos missionrios de uma forma equnime eramuito mais determinante na distribuio das disciplinas entre os pa-dres. Isso fica claro a partir de algumas orientaes do prprio RatioStudiorum. Ao discutir o desenvolvimento dos estudos de teologia, porexemplo, essa norma afirma que, onde os tivesse, o colgio deveria dis-tribuir os encargos de ensino entre trs professores. Caso no houvessetrs padres, que fossem designados dois. Por outro lado, ao referir-sequele com especial talento para o exerccio da eloqncia sagrada, mes-mo reconhecendo a importncia de que ensinasse retrica, a orientao

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    15/20

    630

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    era no sentido de que ele no se consumisse no magistrio, pois o tra-balho missionrio exigia sua presena tambm no plpito.

    Com a Contra-Reforma o trabalho de ensino ganhara peso ideo-lgico e no se realizava mais como algo espordico, a exemplo do queocorrera na Idade Mdia, tanto nos monastrios quanto nas catedrais.Esse maior peso do trabalho de magistrio, no entanto, no liberava opadre de suas outras atribuies, o que implicava a necessidade de dis-tribuio equnime das tarefas. Contudo, tratava-se de uma distribui-o de encargos visando no sobrecarregar mais alguns do que outros.Se os dons pessoais tinham alguma influncia nessa distribuio, queningum se equivoque e a atribua a especializaes prvias dos padres,pois elas no existiam. evidente a existncia de uma diviso do traba-

    lho missionrio entre os jesutas, mas no se constata uma diviso dotrabalho imanente naturezado trabalho didtico.Uma ltima relao importante deve ser firmada. H um paralelo

    entre a agregao dos padres jesutas em torno do plano de estudos doscolgios e as manufaturas nascentes. Na manufatura nascente ocorria umasimples agregao de artesos sob uma mesma oficina, trabalhando de for-ma independente, mas utilizando em comum dependncia fsica e instru-mentos de trabalho. A queda do custo de produo das mercadorias, pro-piciada por essa utilizao comum, fixou a agregao e criou as condiesmateriais para o estabelecimento da diviso do trabalho, na seqncia. Por-tanto, a manufatura capitalista desenvolvida, caracterizada pela diviso dotrabalho, muito ficou devendo a essa forma inicial e no teria desabrocha-do sem ela. O que se via nos colgios jesutas era muito parecido. Nelescoexistiam padres com formao comum, concebida sob o primado do ar-

    tesanato, da a capacidade que qualquer um deles revelava para atuar nasmais diferentes reas do plano de estudos. Isso os aproximava do prpriopreceptor feudal, que acompanhava o seu discpulo desde as etapas iniciaisda leitura e da escrita at o momento em que lhe eram ministrados os re-toques finais de formao humanstica. A arregimentao de um nmerocada vez maior de estudantes, bem como a concentrao de padres volta-dos para o trabalho educacional, criaram as condies no s de instaura-o da diviso do trabalho didtico, mas tambm da decorrente produode uma materialidade escolar peculiar, plasmada no espao fsico do col-gio. A produo da seriao, das reas do conhecimento e dos professoresespecializados, reproduzindo na escola a decomposio do processo de tra-balho e a produo de trabalhadores especializados nas manufaturas, no

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    16/20

    631Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    tardaria a ocorrer. Logo, no h como deixar de reconhecer que os jesutasestavam na ponta daquele processo que iria resultar na produo da escolamoderna. Entre eles, o plano de estudos ainda estava distante da concep-o de Comenius, dominada pela diviso manufatureira do trabalho did-tico. Mas, necessrio ter em vista que a contribuio educacional dadapor eles se iniciara um sculo antes de ter sido publicada a obra Didctica

    Magna. Os jesutas j estavam criando escolas quando a Reforma impunhas famlias, ainda, a responsabilidade pela educao de seus filhos. Criaramos inacianos, assim, no plano da materialidade escolar, as condies para adiviso do trabalho didtico consagrada por Comenius9um sculo maistarde. Logo, ao analisar a emergncia da escola moderna, um novo tipo deinstituio educacional reclamado pela poca de ascenso burguesa, sobre-pe-se o reconhecimento de que, pelas condies objetivas que criaram emseus colgios, os jesutas pioneiramente comearam a antecip-la j no s-culo XVI.

    No por acaso, no sculo XVI e incio do sculo XVII, testemunhoscontemporneos variados, inclusive pensadores do porte de um Bacon,apontaram o colgio jesutico como a forma educacional mais avanada.

    At os adversrios renderam-se a esse fato. expressivo que, ainda hoje,um representante da histria das disciplinas escolares parece tomar o co-lgio jesutico no como uma das formas educacionais bastante difundi-das, no sculo XVI, mas como aforma educacionalexpressiva do ensinosecundrio poca.10Pode ser levantada a objeo que o autor francs eque, no caso, reporta-se histria francesa. Contudo, mesmo que fosse v-lida tal objeo, no estaria arranhada a importncia do colgio jesutico poca; no estaria contestada a sua hegemonia no mundo catlico nem aidia de que teria sido um germe importante da escola moderna.

    Recebido em junho de 2004 e aprovado em dezembro de 2004.

    Notas

    1. 6.Evite-se a novidade de opinies. (...) ningum introduza questes novas em matriade certa importncia, nem opinies no abonadas por nenhum autor idneo, sem consul-tar os superiores; nem ensine cousa alguma contra os princpios fundamentais dos douto-res e o sentir comum das escolas. (Cf. Organizao e plano de estudos..., apud Franca,op. cit., p. 145).

    2. 2. Como seguir Aristteles. Em questes de alguma importncia no se afaste deAristte les, a menos que se trate de doutrina oposta unanimemente recebida pelas esco-

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    17/20

    632

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    las, ou, mais ainda, em contradio com a verdadeira f. (...). 3. Autores infenso s ao Cris-tianismo. Sem muito critrio no leia nem cite na aula os intrpretes de Aristtelesinfensos ao Cristianismo; (...). 4. Averroi s. Por essa mesma razo no rena em tratadoseparado as digresses de Averrois (e o mesmo se diga de outros autores semelhantes) e,se alguma cousa boa dele houver de citar, cite-a sem encmios e, quando possvel, mostreque hauriu em outra fonte. 5. No se filiar em seita filosfica. (...) como a dosAverro istas , dos Alexandris tas e semelhante s; nem diss imule os erros de Averro is, de Ale-xandre e outros, antes tome da ensejo para com mais vigor diminuir-lhes a autoridade.6. Santo Toms. De Santo Toms, pelo contrrio, fale sempre com respeito; seguindo-ode boa vontade todas as vezes que possvel, dele divergindo, com pesar e reverncia, quan-do no for plausvel a sua opinio. (Idem, ibid., p. 159).

    3. Por todos os reinos e provncias da Europa est espalhado grande nmero de mercadoresportugueses, homens de grandssimos cabedais, que trazem em suas mos a maior partedo comrcio e riquezas do Mundo. (...).

    Por falta de comrcio se reduziu a grandeza e opulncia de Portugal ao miservel estadoem que Vossa Majestade o achou, e a restaurao do comrcio o caminho mais pronto de

    a restituir ao antigo e ainda mais feliz estado.E se o Castelhano, para reduzir Portugal a provncia e lhe quebrantar as foras, tomou porarbtrio retirar-lhe os mercadores e chamar para as praas de Castela os homens de neg-cio, chame-os Vossa Majestade e restitua-os a Portugal, que no pode ser razo de estadopara a nossa restaurao e conservao, o continuar e ajudar os mesmos meios que esco-lheram os nossos inimigos para a nossa runa.

    E porque so duas as causas que desnaturalizaram deste Reino os homens de negcio ouas culpas de que esto acusados na Inquisio ou o receio do estilo com que as cousas daF se tratam em Portugal , para que com segurana possam tornar para ele, Vossa Majes-tade lhes deve dar sua real palavra de procurar admitir o perdo que eles alcanaram doPapa acerca do passado, e para o futuro a moderao do rigor que Sua Santidade julgar sermais conveniente se guarde nas Inquisies deste Reino, como se tem feito em outros daCristandade, principalmente no de Castela. (VIEIRA, Pe. Antnio. Obras escolhidas. Lisboa:Livraria S da Costa, 1951. v. 4, p. 11 e 15).

    4. Sobre os bens da Companhia de Jesus, poca de sua expulso do Brasil, ver ALDEN, D.Aspe ctos econ micos da expuls o dos jesuta s do Bras il: not cia prel iminar. In: KEITH,H.H.; EDWARDS, S.F. (Org.) Conflito e continuidade na sociedade brasileira. Rio de Janeiro:

    Civilizao Brasileira, 1970. p. 31-78. (Retratos do Brasil, 79)5. Ao defender-se de presses exercidas por padres dominicanos, Galileu Galilei solicitou a

    seu amigo Monsenhor Piero Dini, por carta, que lesse o seu contedo para o Pe.Gruenberger, jesuta, matemtico insigne e meu grandssimo amigo e patrono. (Cf.GALIL EI, 1988, p. 26). O prprio Pe. Cristforo Clvio no estava entre aqueles que serecusavam a usar a luneta, instrumento que Galileu difundira nos estudos de astronomiae que tanta resistncia recebera de astrnomos, filsofos e matemticos escolsticos. SegundoCarlos Ziller Camenietzki, o modelo geocntrico da escola Aristotlico-Tomista propunhaque os astros seriam formados por um ter, substncia purssima e incorruptvel. Entreoutras conseqncias, isso impunha que a Lua fosse perfeitamente esfrica. Galileu, aoevidenciar o relevo acidentado da Lua criou uma dificuldade para essa concepo, que,imediatamente, mobilizou Clvio, a maior autoridade em astronomia da Companhia deJesus: ao ver pela lunet a o relevo lunar, prop s uma hipte se que afirmava a exis tnciade uma camada cristalina, transparente, recobrindo a Lua de tal modo que sua superfcieteria uma forma perfeitamente lisa. (...) Galileu responde a ele dizendo: Veramente

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    18/20

    633Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    limmaginazione bella... solo gli manca il non esser n dimonstrata n dimonstra-bile[Verdadeiramente a imaginao bela, s lhe falta o no ser demonstrada nem demons-trvel]. (Apud GALILEI , 1987, nota 16, p. 39).

    6. A instituio de colgios para estudantes no pertencentes Ordem no entrava no planoprimitivo de Incio, mas bem depressa se lhe imps como uma necessidade quaseindeclinvel e um instrumento eficaz de renovao crist muito em harmonia com as suasaltas finalidades e com a inclinao espontnea de Incio. A fundao em Goa por S. Fran-cisco Xavier do primeiro colgio para externos em 1543 e a doao em 1544 de S. Fran-cisco de Borja, ento duque de Gandia, para a abertura nesta cidade de um colgio, trans-formado, em 1547, em Universidade ou Studium generale, enveredaram a nova Ordempelo caminho de sua misso educativa.

    (...) Quando faleceu S. Incio j a Companhia contava colgios na Itlia, na Espanha, naustria, na Bomia, na Frana e em Portugal, ao todo 33 colgios em atividade e 6 outrosj por ele formalmente aceitos . Na aurora do sculo XVI, pouco depoi s de promulgado oseu Cdigo de ensino, j eram 293 os colgios dirigidos pelos jesutas, deles, 37 no ultra-mar; e em 1615, ao falecer Aquaviva, o grande promotor e promulgador do Ratio, o seu

    nmero ascendia a 373. E no entanto o prprio Aquaviva, numa carta aos delegados daprovncia siciliana, declara que s nos quatro primeiros anos do seu governo (1581-84)recusara mais de 60 pedidos de Colgios na Europa.

    Os colgios multiplicavam-se em nmero e avultavam em importncia. (...) Algumas ci-fras, apenas, para demonstr-lo. O primeiro colgio da Companhia, na Frana, foi abertoem Billom, em 1556, com 500 alunos, trs anos depois j contava 800 e quatro anosmais tarde, em 1563, 1.600. O clebre Colgio de Clermont, em Paris, matriculara, em1581, 1.200 alunos, e aps cinco anos, 1.500. Na Germnia, mesma expanso. Em1581, Mogncia contava 700 alunos, Treviri 1.000 e em Colnia as matrculas passavamde 560 em 1558 a 1.000 em 1581. Portugalno se deixou vencer pelas naes maiores.Em Lisboa os alunos passavam de 1.300 em 1575 a quase 2.000 em 1588; em vorade 1.000 em 1575 cresciam a 1.600 em 1592; e em Coimbra os estudantes que frequen-tavam o Colgio das Artes regulavam por 1.000 em 1558 e em 1594 por 2.000! (Fran-ca, op. cit., p. 7 e p. 13-14).

    7. A mediania, (...), deve entender-se no sentido em que vulgarmente se entende quando sediz de algum que de talento mediano, a saber, quando percebe e compreende o que ouvee estuda e capaz de dar razo suficiente a quem lha pede, ainda que, em filosofia e teolo-gia, no atinja o grau de doutrina que as Constituies designam com a expresso havernela feito bastante progresso, nem seja capaz de defender as teses a mencionadas com osaber e a facilidade com que as defenderia quem fosse dotado de talento para ensinar Filo-sofia e Teologia. (Organizao e plano de estudos, apud Franca, op. cit., p. 125-126).

    8. Os que, no primeiro exame, se revelarem incapazes para a filosofia devero ser destina-dos aos Casos ou, a juzo do Provincial, ao magistrio [inferior] (assim entendemos adestinao aos casos); quanto aos demais nada por ento se decida. No segundo exame, po-dero distinguir-se entre os candidatos trs graus: os que excedem a mediania e estes de-vero prosseguir os demais estudos; os que lhe ficam abaixo e estes sero logo aplicadosaos Casos; e finalmente os que apenas a atingem e entre estes caber ainda uma discrimi-nao. (Idem, ibid., p. 124).

    9. Comenius conhecia bem as doutrinas que, sobre a educao, haviam professado Lutero,Melanchton e Calvino, assim como os Jesutase o clebre Reitor do Ginsio de Estrasburgo,Joo Sturm, bem como as idias de reformas do sistema pedaggico medieva l, preconiza-das por Erasmo, Rabelais e Montaigne. (Cf. Gomes, 1976, p. 10-11. Grifo nosso).

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    19/20

    634

    Origens da escola moderna no Brasil: a contribuio jesutica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005

    Disponvel em

    10 . O sculo XVI v a realizao de um espao escolar parte, com um edifcio, um mobilirioe um material especficos: o que verdadeiro para as universidades desde o sculo XV pro-longa-se neste momento no colgio, que hoje chamamos secundrio. Basta refletir sobreas exigncias materiais manifestadas pelos jesutas no momento em que eles se vem en-carregados, por determinao da administrao de determinada municipalidade, de um es-tabelecimento escolar, e tambm sobre a proximidade das plantas utilizadas, que torna ain-da hoje reconhecvel, no espao urbano contemporneo, o antigo colgio da Companhia.(Julia, 2001, p. 13).

    Referncias bibliogrficas

    ABBAGNANO, N. Aristotelismo. In: ABBAGNANO, N. Dicionrio de Fi-losofia. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 79.

    ALVES, G.L.A produo da escola pblica contempornea. Campo Grande:UFMS; Campinas: Autores Associados, 2001. 288p.

    ANTONIL, A.J. Cultura e opulncia do Brasil por suas drogas, e minas, ...Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1711. (Edio facsimilar do Mu-seu do Acar/IAA)

    BENCI, J. Economia crist dos senhores no governo dos escravos(1700). SoPaulo: Grijalbo, 1977. 225p.

    COMNIO, J.A. Didctica magna: tratado da arte universal de ensinartudo a todos. Trad., introd. e notas de J.F. Gomes. 2. ed. Lisboa: Funda-o Calouste Gulbenkian, 1976. 525p.

    FRANCA, L. O mtodo pedaggico dos jesutas. Rio de Janeiro: Agir, 1952.p. 5-118.

    GALILEI, G. Cincia e f. So Paulo: Nova Stella; Rio de Janeiro: MAST,1988. 109p.

    GALILEI, G. Galileu Galilei: a mensagem das estrelas. Trad., introd. e no-tas de C.Z. Camenietzki. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Cincias

    Afins; Salamandra, 1987. nota 16, 72p.

    GOMES, J.F. Introduo. In: COMNIO, J.A. Didctica magna: tratadoda arte universal de ensinar tudo a todos. Trad., introd. e notas de J.F.Gomes. 2. ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1976. p. 5-41.

    JULIA, D.A cultura escolar como objeto histrico. Revista Brasileira deHistria da Educao, Campinas, n. 1, p. 9-43, jan./jul. 2001.

  • 7/27/2019 Origens da escola moderna no Brasil_a contribuio jesutica_Gilberto Luiz Alves

    20/20

    635Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 617-635, Maio/Ago. 2005Disponvel em

    Gilberto Luiz Alves

    KEITH, H.H.; EDWARDS, S.F. (Org.). Conflito e continuidade na socie-dade brasileira. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1970. p. 31-78.(Retratos do Brasil, 79)

    MOURA, P.C. So Paulo de outrora. 3. ed. So Paulo: Martins, 1954.

    NOGUEIRA, S.L. O Seminrio de Olinda e seu fundador o bispo AzeredoCoutinho. Recife: FUNDARPE, 1985. 383p.

    ORGANIZAO e plano de estudos da Companhia de Jesus. In: FRAN-CA, L. O mtodo pedaggico dos jesutas.Rio de Janeiro: Agir, 1952. p. 119-230. (Obras completas, 10)