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CAMINHOS DA ARQUITETURA MODERNA EM FORTALEZA: A contribuição dos Arquitetos José e Francisco Nasser Hissa PAIVA, Ricardo A (1); DIÓGENES, Beatriz. (2) 1. UFC. DAU-PPGAU+D Rua Jaime Benévolo, 801/204 Fortaleza-CE Cep 60050-081 [email protected] 2. UFC. DAU-PPGAU+D Rua Frei Mansueto, 483/301 Fortaleza-CE Cep 60175-070 [email protected] RESUMO O objetivo do artigo é abordar a contribuição dos arquitetos José Nasser Hissa (1944) e Francisco Nasser Hissa (1949) à arquitetura moderna na cidade de Fortaleza, por intermédio da análise das suas trajetórias profissionais e das obras mais relevantes. Nascidos em Fortaleza e formados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1968 e 1971, respectivamente, os irmãos passaram a atuar em Fortaleza na década de 1970, quando criaram o escritório Nasser Hissa Arquitetos Ltda., responsável desde então por inúmeras obras residenciais unifamiliar e multifamiliar -, comerciais, corporativas, hoteleiras e institucionais na Cidade, obras essas que alteraram substancialmente o panorama arquitetônico da capital cearense, no que se refere a inovações formais e tecnológicas, verticalização e diversidade de programas. O escritório é hoje um dos mais importantes do Norte e Nordeste e sua atuação se estende por outras cidades brasileiras. A fase inicial da vasta produção dos arquitetos, compreendida entre as décadas de 1970 e início de 1980 recorte temporal da análise possui vínculos com os princípios da arquitetura moderna então vigentes, ao mesmo tempo em que revela ajustes às especificidades da cultura arquitetônica local. Ambos exerceram também influência marcante em gerações de arquitetos, atuando paralelamente como docentes no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, na disciplina de Projeto Arquitetônico. A importância da atuação dos irmãos Nasser Hissa reside ainda no fato de terem sido os primeiros a instituírem de maneira mais formal e empresarial as atividades de gestão e profissionalização do escritório, que sempre contou com uma equipe formada por vários arquitetos, desenhistas e estagiários de arquitetura, constituindo também um lugar de aprendizado da prática profissional, onde eles transmitiam suas experiências arquitetônicas. A organização e a estrutura do escritório possibilitaram receber encomendas de projetos de porte para o a clientela pública e privada, colaborando assim para o reconhecimento do profissional arquiteto e da arquitetura na Cidade. A trajetória profissional (prática e docente) e a obra dos irmãos Nasser Hissa constituem, sem dúvida, relevante contribuição à arquitetura cearense das quatro últimas décadas, sendo a fase de influência modernista importante acervo a ser documentado, devido ao acelerado processo de desaparecimento e descaracterização deste relevante patrimônio cultural e edificado, que testemunha o processo de

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CAMINHOS DA ARQUITETURA MODERNA EM FORTALEZA: A contribuição dos Arquitetos José e Francisco Nasser Hissa

PAIVA, Ricardo A (1); DIÓGENES, Beatriz. (2)

1. UFC. DAU-PPGAU+D

Rua Jaime Benévolo, 801/204 Fortaleza-CE Cep 60050-081 [email protected]

2. UFC. DAU-PPGAU+D

Rua Frei Mansueto, 483/301 Fortaleza-CE Cep 60175-070 [email protected]

RESUMO

O objetivo do artigo é abordar a contribuição dos arquitetos José Nasser Hissa (1944) e Francisco Nasser Hissa (1949) à arquitetura moderna na cidade de Fortaleza, por intermédio da análise das suas trajetórias profissionais e das obras mais relevantes. Nascidos em Fortaleza e formados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1968 e 1971, respectivamente, os irmãos passaram a atuar em Fortaleza na década de 1970, quando criaram o escritório Nasser Hissa Arquitetos Ltda., responsável desde então por inúmeras obras residenciais – unifamiliar e multifamiliar -, comerciais, corporativas, hoteleiras e institucionais na Cidade, obras essas que alteraram substancialmente o panorama arquitetônico da capital cearense, no que se refere a inovações formais e tecnológicas, verticalização e diversidade de programas. O escritório é hoje um dos mais importantes do Norte e Nordeste e sua atuação se estende por outras cidades brasileiras. A fase inicial da vasta produção dos arquitetos, compreendida entre as décadas de 1970 e início de 1980 – recorte temporal da análise – possui vínculos com os princípios da arquitetura moderna então vigentes, ao mesmo tempo em que revela ajustes às especificidades da cultura arquitetônica local. Ambos exerceram também influência marcante em gerações de arquitetos, atuando paralelamente como docentes no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, na disciplina de Projeto Arquitetônico. A importância da atuação dos irmãos Nasser Hissa reside ainda no fato de terem sido os primeiros a instituírem de maneira mais formal e empresarial as atividades de gestão e profissionalização do escritório, que sempre contou com uma equipe formada por vários arquitetos, desenhistas e estagiários de arquitetura, constituindo também um lugar de aprendizado da prática profissional, onde eles transmitiam suas experiências arquitetônicas. A organização e a estrutura do escritório possibilitaram receber encomendas de projetos de porte para o a clientela pública e privada, colaborando assim para o reconhecimento do profissional arquiteto e da arquitetura na Cidade. A trajetória profissional (prática e docente) e a obra dos irmãos Nasser Hissa constituem, sem dúvida, relevante contribuição à arquitetura cearense das quatro últimas décadas, sendo a fase de influência modernista importante acervo a ser documentado, devido ao acelerado processo de desaparecimento e descaracterização deste relevante patrimônio cultural e edificado, que testemunha o processo de

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modernização, metropolização e verticalização de Fortaleza e que, mais recentemente sofre as conseqüências deletérias da dinâmica imobiliária da Capital. Com o artigo, almeja-se incrementar o fortalecimento do debate sobre a documentação, conservação e preservação da arquitetura moderna em Fortaleza, assim como contribuir para a escrita da sua história, complementando e consolidando as pesquisas em andamento no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC e no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design da UFC , assim como as atividades do LoCAU - Laboratório de Crítica em Arquitetura, Urbanismo e Urbanização, envolvendo professores, pesquisadores, alunos de Mestrado e iniciação científica.

Palavras-chave: documentação, arquitetura moderna, Nasser Hissa Arquitetos Ltda., Fortaleza.

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Formação e influências: à guisa de introdução

José Nasser Hissa (1944) e Francisco Nasser Hissa (1949) são cearenses descendentes de

sírio-libaneses que migraram para o Ceará na passagem do século XIX para o século XX,

juntamente com outras famílias de mesma origem. Em 1951 se mudaram com os pais e

outros dois irmãos para o Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de estudo.

José Nasser Hissa, o irmão mais velho, estudou no Colégio São Bento e desde cedo

revelou interesse pelo desenho, e teve o primeiro contato com a arquitetura através de seu

colega de classe, Márcio Roberto, filho de Maurício Roberto, um dos irmãos MMM Roberto,

pioneiros da arquitetura moderna no Brasil.

Depois do retorno da família à Fortaleza em 1961, José, tendo estudado no Liceu do Ceará,

decidiu prestar o vestibular para arquitetura na Faculdade Nacional de Arquitetura da

Universidade do Brasil, onde ingressou em 1964 e concluiu o curso em 1968. Incentivado

pelo irmão, Francisco Nasser Hissa, que a princípio almejava cursar Engenharia Civil, em

função das facilidades com a matemática e a geometria descritiva, acabou por seguir seus

passos nos caminhos da arquitetura. Após ter realizado um curso de desenho com o artista

suíço radicado no Ceará, Jean Pierre Chabloz (1910-1984) para se preparar para a prova de

habilidade específica (desenho), Francisco também ingressou na Faculdade Nacional de

Arquitetura no Rio de Janeiro em 1967 e se graduou em 1971, quando a Escola passou a

ser Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com

o advento da Reforma Universitária introduzida pela Lei de Diretrizes e Bases de 28/11/68.

A esta altura, o Ceará já contava com a sua Escola de Arquitetura, que iniciou suas

atividades em 1965 e já nasceu com certo prestígio, em função do seu projeto pedagógico

moderno, da sua autonomia em relação às heranças das escolas de belas artes e

politécnicas que deram origem a diversas escolas de arquitetura no país, da participação do

arquiteto Hélio Duarte, da Universidade de São Paulo e de um grupo de arquitetos

cearenses com sólida formação modernista no Rio de Janeiro e em Recife. Ainda assim, a

decisão do Francisco em estudar no Rio foi motivada pelo desbravamento inicial do irmão,

além da importância da Cidade e da Faculdade no contexto da cultura arquitetônica

brasileira.

Conforme o relato dos arquitetos, o processo de formação foi bastante intenso, pois o

Curso, de origem secular, possuía uma biblioteca rica em referências históricas e

contemporâneas, com importantes periódicos e revistas internacionais. Além disso, o

edifício que abrigava a Escola, projeto de 1957 do arquiteto carioca Jorge Machado Moreira

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(1904-1992), era um ambiente adequado e propício para o aprendizado da profissão,

constituindo uma referência modelar dos ensinamentos do modernismo arquitetônico.

Embora tenham estudado em uma Faculdade na qual havia emergido a essência do debate

arquitetônico modernista, fundado na síntese entre modernidade e tradição, e onde se

formaram os primeiros arquitetos modernos no Brasil, para eles, os princípios modernistas

não eram ensinados de forma programática ou teórica, mas estavam imbuídos no

pensamento e na cultura arquitetônica do contexto social e histórico de sua inserção e,

sobremaneira, na prática de projeto, dentro e fora da Faculdade. A hegemonia do

modernismo no ensino e na prática da arquitetura estava então plenamente consolidada

como um certo consenso, ainda que não se recorresse ao termo “moderno” para designar a

linguagem a que eles estavam alinhados, pois se tratava na verdade de uma postura

arquitetônica contemporânea à geração dos arquitetos.

É importante destacar ainda que o período de formação dos dois arquitetos coincide com as

mudanças de rumo no panorama da arquitetura moderna brasileira que, para Bastos (2003),

tem Brasília como marco, seja porque foi o apogeu do período heróico da arquitetura

moderna brasileira, identificado com a exaltação dos valores da escola carioca e suas

representações face à modernização pretendida, seja porque foi um ponto de inflexão

político, com o golpe militar em 1964. Some-se a isto o surgimento de uma nova expressão

formal na arquitetura moderna brasileira que se desenvolveu a partir do discurso mais

teórico e engajado politicamente liderado por Vilanova Artigas e criou uma polarização entre

a escola carioca e a escola paulista brutalista.

Os irmãos arquitetos declararam que se mantiveram à margem desta discussão política e

teórica, ética e estética e que foi muito mais decisivo para a sua formação o envolvimento

com as disciplinas técnicas de materiais de construção e estrutura, para eles o “ponto forte”

da formação, tendo sido alunos de ilustres professores, como Aderson Moreira da Rocha

(1911-1996), Adhemar Fonseca (1915-1996) e Adolpho Polillo (1928). Na área específica do

projeto de arquitetura, foi de grande relevância o contato com os arquitetos professores

Paulo Casé (1931) e Luis Paulo Conde (1934-2015).

Estes professores, envolvidos com o ensino da arquitetura, sobretudo nas disciplinas

práticas de projeto, atuavam como arquitetos em seus escritórios particulares, e as suas

experiências profissionais justificavam a sua condição de professor-arquiteto. As influências

que os estudantes recebiam eram, inclusive, provenientes desta atividade compartilhada

com os professores também por meio de estágios em seus escritórios. José e Francisco

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construíram suas trajetórias profissionais conforme este perfil, atuando no escritório

paralelamente à atividade didática.

No período da faculdade, ambos trabalharam no SESI do Rio de Janeiro, desempenhando

atividades na área de comunicação visual. José também fez perspectivas de arquitetura

para o escritório do Edison Musa (1934) e estagiou com o arquiteto Luiz Eduardo Índio da

Costa (1938). Francisco cumpriu estágio no escritório do Hélio Modesto (1921-1980),

urbanista responsável pelo Plano Diretor de Fortaleza de 1963.

O repertório de referências arquitetônicas e urbanas dos irmãos foi potencializado pelo

ambiente cultural e cosmopolita do Rio de Janeiro que, mesmo com a transferência da

Capital Federal para Brasília, mantinha evidentemente grande tradição e efervescência

cultural no campo das artes em geral, no cenário nacional.

O regresso à Fortaleza: desafios profissionais

A perspectiva de trabalho que se apresentava em Fortaleza era bastante ambígua pois, ao

mesmo tempo em que se abriam oportunidades relacionadas ao ensino da arquitetura (com

a criação da Escola) e ao mercado de trabalho, também apresentava, desde a chegada dos

primeiros arquitetos, os desafios de uma cidade que começava a se modernizar e pouco

tinha ciência da profissão do arquiteto.

José Hissa voltou para Fortaleza e ingressou, depois de prestar concurso, como professor

da Escola de Arquitetura da UFC em 1969. A princípio se dedicou ao ensino das disciplinas

de representação, sobretudo de Comunicação Visual, com o respaldo da formação que teve

à época que trabalhava no SESI-RJ. José pode ser considerado da segunda geração de

arquitetos de formação moderna atuantes no Ceará. A primeira geração se identifica com os

pioneiros migrantes, que se formaram no Rio de Janeiro e em Recife e que introduziram os

princípios da arquitetura moderna na Cidade; alguns deles estiveram envolvidos com a

fundação da Escola. Para Segawa (2002) estes “arquitetos peregrinos, nômades e

migrantes” cumpriram um papel fundamental na afirmação da arquitetura moderna brasileira

a partir da década de 1960. A segunda geração, da qual José faz parte, se caracteriza por

arquitetos mais jovens, quase todos cearenses, que se juntaram aos pioneiros e foram

incorporados como professores da Escola, como Roberto Martins Castelo (1939) formado

em Brasília, José da Rocha Furtado (1943), formado na FAUUSP, Gherard Bormann (1939-

1980), Nícia Bormann (1942) e Antônio Carvalho Neto (1944), diplomado em 1971 no Rio de

Janeiro. Por fim, os primeiros arquitetos egressos da Escola de Arquitetura da UFC podem

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ser considerados como da terceira geração, como Fausto Nilo (1944), Delberg Ponce de

Leon (1944) e Paulo Cardoso (1945).

Francisco Hissa, conhecido entre os arquitetos como Chico, embora sendo mais jovem e só

tenha ingressado como professor na UFC em 1987, também pode ser considerado da

segunda geração. Aliás, foi como professor de projeto que a carreira docente de ambos

ficou marcada, compartilhando suas experiências práticas com várias gerações de

arquitetos.

Os arquitetos afirmaram que a intenção de ingressar na universidade, como professores, se

deu pelo interesse em conciliar a teoria com a atividade prática, já exercida por ambos. José

se aposentou em 1998 e Chico ainda continua no Curso de Arquitetura e Urbanismo da

UFC, sendo responsável há anos pelo fechamento da sequência de Projeto Arquitetônico,

sempre com temas e programas de alta complexidade funcional e urbana.

É notória a marca deixada por ambos os arquitetos em várias gerações de egressos da

UFC, sendo lembrados como referência de conhecimento técnico e inovação em sua prática

projetual e no ensino.

Com relação à atividade profissional, antes de abrir o escritório de arquitetura com o irmão

Francisco, José Hissa esteve à frente de uma empresa de publicidade, a BIT –

Programação Visual e Propaganda Ltda., juntamente com o cineasta Eusélio Oliveira e o

publicitário Augusto Pontes. A BIT prestava serviços de produção de peças de propaganda,

vídeos e marcas, tendo sido responsável pelas conhecidas marcas da Receita Federal e do

IAB nacional – Instituto de Arquitetos do Brasil, esta concebida por ele, José Hissa, e pelo

arquiteto Ricardo Bezerra, no ano de 1972.

Com o retorno de Chico do Rio, começaram as atividades de escritório de projetos de

arquitetura no início da década de 1970. Neste período, a cidade contava com poucos

arquitetos e todos militavam para que a profissão tivesse reconhecimento por parte de

empresários, construtores e a clientela em geral, uma vez que grande parte dos projetos,

até a década de 1960, eram elaborados por práticos, desenhistas e engenheiros. A

linguagem moderna adotada pelos arquitetos em geral contribuiu para legitimar e distinguir

esta produção de caráter mais erudito, destacando-se no período o escritório dos arquitetos

José Neudson Braga (1935), José Liberal de Castro (1926) e Enéas Botelho.

A estrutura e a organização do escritório “Nasser Hissa Arquitetos Associados”, marcadas

desde a sua origem por uma gestão mais profissional e empresarial, possibilitaram receber

encomendas de projetos de porte para a clientela pública e privada, colaborando assim para

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o reconhecimento do profissional arquiteto e da arquitetura na Cidade. No início da década

de 1980, o escritório já possuía uma equipe significativa de arquitetos e absorvia grande

parte das demandas do mercado imobiliário, que se fortaleceu após a liberação da

verticalização fora do centro urbano, prevista no Código de Obras de 1979. Desde então,

houve grande efervescência na construção de edifícios residenciais multifamiliares, sendo

os arquitetos Nasser Hissa protagonistas neste processo e responsáveis, em grande

medida, pelo novo “desenho” que a capital cearense adquiriu.

Em entrevista a José Wolf na Revista AU nº 20, várias passagens confirmam esta

consciência dos arquitetos em relação ao papel que cumpriram na mudança de relação dos

arquitetos com o mercado, ao afirmarem que “somos uma espécie de veículo de levar o

mercado para um caminho mais adequado” (p. 61), ou ainda que “e somos nós, de forma

ampla, arquitetos mais empresários, que estamos fazendo o desenho da cidade” (p. 62).

Vale destacar a formação complementar que tiveram os muitos arquitetos – mais de 150,

conforme depoimento de Francisco Hissa - que passaram pelo escritório desde a sua

criação, até os dias atuais. Esses profissionais são unânimes em afirmar o enorme

aprendizado e experiência que obtiveram, no que se refere à prática de projeto e às técnicas

de desenho.

É reconhecida a forma pioneira de representação gráfica utilizada por eles e a importância

dada à técnica. No início, os desenhos eram confeccionados a lápis – uma novidade à

época -, segundo modelo já utilizado nos projetos do arquiteto carioca Paulo Casé e era

dada grande ênfase ao detalhamento arquitetônico. Tornou-se padrão por muito tempo entre

os escritórios locais. O desenho a lápis foi, posteriormente, substituído pelo uso do

computador, sendo o primeiro escritório da cidade a empregar a informática na

representação dos projetos, método rapidamente assimilado e utilizado com eficiência pelos

estagiários e arquitetos.

As Obras Modernas

A arquitetura moderna em Fortaleza revelou sua expressão mais marcante na década de

1970 e no início da década de 1980, quando a Cidade conheceu um processo mais intenso

de modernização, em função das práticas econômicas, políticas e culturais suscitadas pela

implementação de planos governamentais na esfera estadual e pela criação de um aparato

institucional alinhado à política nacional de desenvolvimento pelo viés da industrialização,

preconizada desde a década de 1960 pela SUDENE, com repercussões incontestáveis no

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processo de urbanização e modernização das estruturas urbanas e edilícias da capital

cearense.

A arquitetura moderna e os valores simbólicos da sua linguagem vão então responder às

demandas públicas e privadas deste contexto sócio-histórico, por intermédio

respectivamente, do projeto de sedes de instituições públicas federais e estaduais

(administrativas, financeiras e educacionais) sediadas em Fortaleza; de edifícios de

apartamentos, centros comerciais, alguns poucos hotéis e incontáveis residências

unifamiliares.

Ao longo dos anos 1980, a arquitetura em Fortaleza experimenta um processo de transição,

em que coexistem persistências do modernismo arquitetônico e se insinuam, sobretudo a

partir da segunda metade da década, as primeiras influências e atitudes pós-modernas. É

evidente que estes limites não são nítidos, mas pode-se afirmar que a publicação do

Panorama da Arquitetura Cearense em 1982 constitui um marco que define “um recorte”,

uma periodização da arquitetura moderna em Fortaleza (PAIVA e DIÓGENES, 2014). A

publicação editada pela Revista Projeto, em dois volumes, traz um apanhado de obras de

diversos arquitetos cearenses, inclusive dos irmãos Nasser Hissa, nas quais é patente a

centelha moderna.

A contribuição dos irmãos Nasser Hissa à arquitetura moderna em Fortaleza pode ser

compreendida dentro deste recorte temporal, muito embora a atuação dos arquitetos não se

restrinja a este período, e muito extrapola o limite metodológico estabelecido neste artigo.

As obras analisadas a seguir possuem esta inserção temporal, tendo sido algumas delas

publicadas no Panorama da Arquitetura Cearense, citado acima.

O Center Um, o primeiro shopping de Fortaleza, foi inaugurado em 1974 e constitui um

marco na redistribuição das funções urbanas na Cidade. Este equipamento foi responsável,

igualmente ao que ocorreu em outras cidades brasileiras, por induzir o surgimento de uma

nova área de centralidade na Cidade - sendo sintomática a decadência do centro principal,

com a perda da sua centralidade econômica, política e simbólica (PAIVA, 2005) -, e a sua

excessiva especialização, concomitante ao descolamento de atividades terciárias na direção

dos fluxos de expansão da função residencial das classes mais abastadas (VILLAÇA, 1998).

O shopping, construído no eixo leste de expansão de Fortaleza desde o Centro, contribuiu

para o processo de consolidação da centralidade formada na Aldeota, com impactos

significativos na dinâmica urbana, imobiliária, de fluxos e de verticalização de Fortaleza

(DIÓGENES, 2005).

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O edifício ocupa uma quadra inteira e os três pavimentos (subsolo, térreo e pavimento

superior) se distribuem em um terreno com um declive de mais ou menos um pavimento

entre a Rua Desembargador Leite Albuquerque e a Av. Santos Dumont. O partido do projeto

se desenvolve em torno da criação de um pátio interno aberto, o que constitui uma

particularidade, uma vez que é recorrente nesta tipologia soluções mais herméticas e

isoladas em relação ao entorno.

À época de sua inauguração, o programa comportava lojas diversas, um supermercado

âncora (Jumbo-Pão de Açúcar) e um cinema, que dinamizou sobremaneira a oferta de

comércio da Aldeota, constituindo ainda hoje um local de lazer e consumo da Cidade.

O acesso ao shopping a partir da Av. Santos Dumont se dava por intermédio de uma

generosa rampa e as lojas do segundo pavimento se debruçavam sobre o pátio interno

como uma grande área avarandada, protegendo e abrigando a circulação das lojas do

pavimento térreo, evidenciando a preocupação dos arquitetos com as condicionantes

ambientais da Cidade e a adoção da varanda como elemento arquétipo da cultura

arquitetônica local.

A solução estrutural é bastante regular e modulada que, alinhada aos princípios modernos,

repercute claramente na forma do edifício, traduzida na clara definição dos elementos de

suporte e de vedação. Destaque para o uso da laje-cogumelo do subsolo, que constituía

uma inovação estrutural na década de 1970.

Ao longo destes quarenta anos de existência, o Shopping Center Um (Figura 1 e 2) mantém

suas atividades, mas já passou por algumas reformas, empreendidas por projetos dos

próprios arquitetos, como o fechamento do vazio da coberta do pátio e o conseqüente

condicionamento do ar.

Figura 1 e 2: Shopping Center Um (1974) Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br/

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O Shopping Portugal (início da década de 1980), já demolido, foi outra experiência de

centro comercial em que os arquitetos se valem do pátio com elemento estruturador do

espaço. Em escala menor, em termos de área, e apenas com um pavimento, os autores do

projeto valorizaram a inserção de varandas e o emprego de uma coberta tradicional

(madeira e telha cerâmica) e alvenarias brancas. A adoção de uma técnica construtiva

convencional foi condicionada pelo tempo exíguo demandado pelos clientes para a

construção do shopping, que precisava ser construído entre 3 e 4 meses. “O exterior do

edifício sugere bem o seu funcionamento centralizado, através da transparência de vitrines

que permite a visualização da praça para quem olha para o exterior” (PONCE DE LEON;

NEVES e LIMA NETO, 1982, p. 55). Localizado na Praça Portugal, importante referência

comercial da Aldeota, o edifício (Figura 3) foi demolido para dar lugar a uma torre comercial,

destino de vários edifícios modernos (residenciais e comerciais) ameaçados pela dinâmica

da valorização imobiliária de terrenos bem localizados em Fortaleza.

Figura 3: Shopping Portugal Fonte: Foto Carlos Barrocas e Cláudio Albuquerque

O edifício da Teleceará – Centrais de Comutação e Escritórios (1982) foi implantado

dentro da estrutura fundiária tradicional do Centro de Fortaleza e apresenta uma solução

formal alinhada às exigências funcionais demandadas pela tecnologia empregada pela

concessionária à época, uma vez que:

a ocupação funcional do edifício reflete-se no seu aspecto exterior. As duas

funções que o prédio abriga, centrais telefônicas e escritórios, são

enfatizados pelo tratamento das fachadas respectivamente através de um

grande pano cego para os andares onde funcionam as centrais telefônicas e

paredes-cortina para os andares de escritórios (PONCE DE LEON; NEVES

e LIMA NETO, 1982, p. 132)

A solução final resultou em um volume prismático austero e com grande força plástica,

revelando matriz notadamente modernista. Atualmente, o edifício (Figura 4) passou por

transformações apenas no seu espaço interno em função das significativas mudanças na

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tecnologia da telefonia, mantendo-se de forma digna na paisagem, face à longevidade da

solução formal adotada.

Figura 4: Antiga Teleceará (Atual TIM) Fonte: Acervo LoCAU

Os arquitetos contribuíram sobremaneira para a consolidação da tipologia do edifício

multifamiliar em Fortaleza. Ainda na década de 1970, quando era proibida a construção em

altura nos bairros residenciais, projetaram prédios de apartamento com soluções bastante

adequadas às especificidades locais ambientais e às formas de morar, ao mesmo tempo em

que estavam de acordo com legislação1, que autorizava a construção de edifícios com pilotis

e mais três pavimentos. Destacam-se, entre outros, os edifícios Água Marinha (1974)

(Figura 5), Guarani (1976) (Figura 6), Village Costa Brava (década 1970) (Figura 7), Berma

(1979) (Figura 8).

É comum nestes edifícios o uso de elementos de concreto aparente na fachada, marcando a

estrutura e as varandas, além de revestimentos como cerâmica e cobogós e esquadrias de

madeira tipo veneziana2, conciliando aspectos da arquitetura moderna com as condições

locais, no que se refere a materiais e clima.

1 Um dispositivo inserido na Lei n

o 4.486, de 1975, permitia aumentar o número de pavimentos com o uso do

pilotis, nos edifícios multifamiliares e mistos, em quase todas as zonas da cidade. 2 As venezianas de madeira foram posteriormente quase todas substituídas por esquadrias de alumínio e vidro.

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Figura 5: Edifício Água Marinha (1974) Fonte: Acervo Márcia Cavalcante

Figura 6: Edifício Guarani (1976) Fonte: Acervo Márcia Cavalcante

Figura 7: Ed. Village Costa Brava(década 1970) Fonte: acervo Márcia Cavalcante

Figura 8: Edifício Berma (1979) Fonte: Acervo Márcia Cavalcante

Com a mudança da legislação em 1979, quando foi liberada a construção de edifícios em

altura nos bairros, os irmãos Nasser Hissa passaram a projetar diversos edifícios verticais

na Cidade, sendo pioneiros neste nicho de mercado e valorização imobiliária que teve início

na década de 1980. O Edifício Veneza 1 (1980) é um exemplar emblemático na produção

dos arquitetos. Localizado em um terreno de esquina no Bairro do Meireles, possui um

implantação que valoriza a integração entre o espaço público e privado, dispensando o uso

de muros e grades, resolvendo estes limites com o recurso de desníveis. A valorização

desta interface entre a rua e o pilotis do prédio é reforçada pela introdução de uma loja no

nível do térreo, voltada para o passeio, criando uma diversificação no programa que, de

alguma forma, contrariou a cultura local, que considerava a incorporação do uso comercial

como um elemento de desvalorização imobiliária do edifício, além do fato de se identificar

como um recurso programático mais direcionado para as classes menos abastadas.

Com apenas um apartamento por andar, o edifício apresenta grande qualidade formal,

visível no agenciamento dos volumes contrastantes: o da circulação vertical e o outro, curvo

com balcão de concreto que conforma a marcação horizontal das varandas. As referências

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

ao modernismo aparecem não apenas na utilização do concreto aparente mas, sobretudo,

no fato de que a forma se apresenta como expressão da estrutura e da solução funcional,

ao mesmo tempo em que há uma preocupação com as proporções, as escalas, os ritmos e

os materiais que moldam as fachadas.

Em ótimo estado de conservação, o edifício (Figuras 9, 10, 11 e 12) recentemente cedeu

aos imperativos simbólicos que permeiam a cultura da violência urbana e implantou um

gradil nos limites do lote, comprometendo a solução original e, de alguma forma, o seu

exemplo demonstra as possibilidades de um desenho diferenciado para a integração entre

os domínios públicos e privado.

Figura 9: Edifício Veneza 1 (1980) Fonte: Acervo Márcia Cavalcante

Figura 10: Edifício Veneza 1 (1980) Fonte: Acervo Márcia Cavalcante

Figura 11: Edifício Veneza 1 (1980) Fonte: acervo Márcia Cavalcante

Figura 12: Edifício Veneza 1 (1980) Fonte: acervo Márcia Cavalcante

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É importante admitir que os princípios da arquitetura moderna não se revelam na obra dos

arquitetos de forma acentuada e intencional, como discurso ou manifesto, pelo contrário,

são incorporados para atender e solucionar problemas pragmáticos, funcionais, estruturais e

construtivos. O uso do concreto aparente em algumas obras foi utilizado para buscar

aderência ao que estava em voga na década de 1970 e início de 1980, já que era uma

tendência predominante no âmbito da arquitetura moderna brasileira.

Considerações Finais

O trabalho dos arquitetos José e Francisco Nasser Hissa pode ser tomado como referência

importante para o desenvolvimento da arquitetura cearense, ao contribuir de forma relevante

para a difusão e consolidação da arquitetura moderna em nosso meio. Uma maior

consciência por parte dos arquitetos do emprego de princípios modernos em seus projetos

até início da década de 1980 só foi possível, segundo eles, com o início do debate em torno

do pós-modernismo. Desde então, o arquitetos passam a incorporar novas influências aos

seus projetos, sem necessariamente abandonar o compromisso com o desenvolvimento

técnico e os seus desdobramentos no projeto de arquitetura.

Ao longo da década de 1980, o escritório vai testemunhar dois processos importantes de

transição. O primeiro, relacionado à continuidade e às rupturas do modernismo frente às

influências pós-modernas e o segundo, em relação à incorporação do desenho assistido por

computador, método que os tornou pioneiros em Fortaleza, quiçá no Brasil, uma vez que

foram os primeiros a comprar uma licença do Autocad em todo o país, abandonando

sistematicamente o desenho à mão. Some-se a isto as transformações ocorridas na Cidade

em relação ao processo de verticalização. A atividade dos arquitetos se mantém intensa e

sua produção bastante significativa. Suas contribuições à arquitetura contemporânea são

também de grande relevância para reflexão da arquitetura no Ceará.

Em conformidade com os objetivos do trabalho, a fase de influência modernista constitui

importante acervo a ser documentado, devido ao acelerado processo de desaparecimento e

descaracterização deste relevante patrimônio cultural e edificado.

É importante salientar, por outro lado, seu legado como professores de várias gerações de

arquitetos formados no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC e a importância de sua

produção no contexto da cidade, pela atividade prática do escritório, pelo volume de projetos

realizados e pelas inovações introduzidas no conjunto da obra. A atuação dos irmãos

Nasser Hissa propiciou, incontestavelmente, uma nova feição no desenho da cidade formal.

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O estudo sobre a contribuição de diversos arquitetos à inserção e desenvolvimento da

arquitetura moderna em Fortaleza constitui uma das atividades do LoCAU (Laboratório de

Crítica em Arquitetura, urbanismo e Urbanização) no âmbito do PPGAU+D (Programa de

Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Design) da UFC. A sistematização destas

trajetórias profissionais tem fortalecido sobremaneira a documentação deste acervo, bem

como potencializado o debate sobre a valorização da arquitetura moderna em Fortaleza,

com perspectivas de colaborar para o debate sobre a conservação, além do compromisso

com a escrita da história da arquitetura no Ceará.

Referências bibliográficas

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DIÓGENES, Beatriz H.N. A centralidade da Aldeota como expressão da dinâmica intra-urbana de Fortaleza. Dissertação (Mestrado). FAUUSP, São Paulo, 2005.

PAIVA, Ricardo Alexandre ; DIOGENES, B. H. (Org.) . Pequeno Guia da Arquitetura Moderna de Fortaleza (1960-1982) Momotur - 5° Seminário DOCOMOMO Norte/Nordeste. 1. ed. Fortaleza: Departamento de Arquitetura e Urbanismo – UFC/Expressão Gráfica, 2014. v. 1. 118p .

PAIVA, Ricardo Alexandre. Entre o Mar e o Sertão: Paisagem e memória no Centro de Fortaleza. Dissertação de Mestrado. FAUUSP. São Paulo, 2005.

PONCE DE LEON, Delberg; NEVES, Nelson Serra e; LIMA NETO, Otacílio (Orgs). Panorama da Arquitetura Cearense – Cadernos Brasileiros de Arquitetura. Vol. 1 e 2. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., 1982.

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SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo. Edusp, 2002.

VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998.

Agradecimentos

Aos arquitetos José Nasser Hissa e Francisco Nasser Hissa, pelas entrevistas concedidas aos autores em outubro de 2015 e à arquiteta Márcia Gadelha Cavalcante, pelas imagens cedidas.