um histÓrico comentado da fotogrametria, da fotografia … · da fotografia e das origens da...
TRANSCRIPT
UM HISTÓRICO COMENTADO DA
FOTOGRAMETRIA, DA
FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA
BIOFOTOGRAMETRIA©
Este e-book é um elemento gratuito e parte
integrante da Formação BFG© Experiences
A experiência de conhecer o histórico das tecnologias que utilizamos nos
permite ganhar autonomia sobre seu uso criativo. Este e-book é um
passeio pela história de tudo o que compõem os pressupostos
fundamentais da Biofotogrametria.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
1
Apresentação ao leitor Este e-book é um elemento gratuito
e parte integrante da Formação
BFG© Experiences
Bem-vindo ao paradigma da simplificação
das medidas de movimentos por imagens.
Nossa intenção nunca foi substituir ou
competir com outros sistemas, mas antes,
apresentar uma forma simplificada,
intuitiva, criativa e viável de ter sempre à
mão um Motion Capture System confiável
para uso na análise quantitativa de
movimentos funcionais e alterados, em
qualquer cenário da atuação dos
profissionais da saúde.
O texto deste e-book é uma transcrição
revisada e atualizada dos estudos e
publicações do Stricto Sensu da autora
(Dissertação de Mestrado e Tese de
Doutorado).
Neste volume o leitor encontrará o início
de uma viagem ao mundo do registro de
imagens, desde a ciência da fotogrametria,
na agrimensura, passando pelo conceito de
O Modelling-BFG©
Experience é um
curso livre de
aperfeiçoamento
profissional, de
natureza online, na
área de cinemática
2D, composto de
24h de atividades
online e de 16h de
atividades
presenciais
(optativas),
compondo uma
carga horária total
de até 40 (quarenta)
horas. A certificação
do módulo é
conferida aos
regularmente
inscritos que
cumprirem todas as
atividades
propostas.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
2
medidas, até a moderna fotografia digital e sua utilização em
documentação médica e de saúde.
Trata-se da revisão histórica e das bases teóricas dos processos
cinemáticos sobre os quais foi desenvolvido o processo de
Biofotogrametria©.
O material foi dimensionado para ser uma leitura leve, dinâmica,
interativa em imagens, e que visa oferecer suporte acadêmico
consistente para profissionais e estudantes que desejam utilizar a
análise de movimento como eixo diferencial de sua atuação nos
cuidados com a saúde do movimento humano.
PROF. DRA. DENISE DA VINHA RICIERI
Fisioterapeuta
Desenvolvedora da BIOFOTOGRAMETRIA
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
3
Sumário
1- CONTEXTOS INICIAIS ............................................................................................... 4
2- A AVALIAÇÃO DO MOVIMENTO .............................................................................. 7
3- FOTOGRAMETRIA E BIOFOTOGRAMETRIA ............................................................ 9
3.1. Fotogrametria ........................................................................................................ 9
3.2. Conceitos interpretativos fotogramétricos ........................................................... 12
3.2.1. Restituição ..................................................................................................... 12
3.2.2. Fotointerpretação .......................................................................................... 13
3.3. Fotogrametria Computadorizada ......................................................................... 15
3.4. Biofotogrametria©: a história de uma sistematização lógica, ágil e aplicada ........ 16
3.4.1. Restituição em Biofotogrametria© ................................................................. 17
3.4.2. Fotointerpretação em Biofotogrametria©...................................................... 18
3.5. Biofotogrametria©: os novos tempos ................................................................... 18
4- MULTIDISCIPLINARIDADE NA ANÁLISE DOS MOVIMENTOS ............................... 20
5- UM PASSEIO PELA INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA.................................................. 23
5.1. O paradoxo da arte bidimensional ........................................................................ 27
5.2. Profundidade de campo em imagens 2D .............................................................. 30
5.3. Da fotografia analógica à fotografia digital .......................................................... 33
5.4. A fotografia digital e a documentação médica por imagem ................................ 34
5.5. Vantagens da fotografia digital ........................................................................... 38
5.6. A fotografia digital na análise biomecânica do movimento ................................. 44
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
4
1- CONTEXTOS INICIAIS
Ao considerar qualquer movimento como um fenômeno
integrado, é possível conceber que o ato de se movimentar amplia
os limites individuais pela ativação de processos de decisão e
controle, se o gesto for voluntário. Inúmeras possibilidades de
exploração em estudos emergem desta relação entre o controle e o
gesto, especialmente aquelas que integrem processo, origem,
objetivo, aprendizagem, desenvolvimento, normalidade e
anormalidade dos movimentos. Incluem-se, em tais possibilidades, a
exploração dos movimentos respiratórios e as implicações
determinadas por eles, resultando em variações vicariantes, como
ocorre na asma (RICIERI; ROSÁRIO FILHO; COSTA, 2008b). Neste
contexto, estudos acerca da relação entre a geometria postural
toracoabdominal, ou da parede torácica (PT), e as limitações físicas
(SILVA et al., 2005) e funcionais (LAMAR FILHO et al., 2001; PIANOSI;
DAVIS, 2004) decorrentes das disfunções respiratórias crônicas em
crianças, assumem relevância acadêmica e social.
A Biofotogrametria1 emergiu no contexto da
instrumentação para análise biomecânica como uma variação da
fotogrametria bidimensional (2D), dando prioridade às dificuldades
da análise do movimento nos ambientes típicos da prática
profissional de atenção à saúde. Esta prioridade gerou pressupostos
1 DENISE DA VINHA RICIERI. Biofotogrametria. Patente requerida de marca junto ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial, processo no. 900953829 de 05/06/2008, publicada em 26/08/2008 na Revista de Registro de Marcas no 1964.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
5
que orientaram uma sistematização própria no trato com a medida
na imagem (RICIERI, 2005).
A Biofotogrametria foi aplicada para medir diferentes tipos
de movimentos (WHITERS, 2002; LODOVICO et al., 2003; PANTANALI,
2004; RICIERI, 2004a) em variadas situações clínicas (POMBO, 2005;
WANSAUCHEKI, 2005; GANANÇA, 2006; RICIERI; COSTA; ROSÁRIO
FILHO, 2008). Pode-se afirmar que a Biofotogrametria apresentou
custos operacionais compatíveis com sua utilização desde o
diagnóstico e acompanhamento do tratamento em disfunções
motoras, até sua aplicação no escopo da andragogia, onde pode
figurar como recurso tecnológico de apoio no processo de ensino-
aprendizagem para formação de profissionais da saúde.
No campo do conhecimento formal, a Biofotogrametria
situa-se como um ramo da Biomecânica denominado cinemática2.
A biomecânica deriva das ciências físicas (Figura 1) aplicadas às
funções corporais e é considerada uma ciência relativamente
recente (MARCHIN, 1969; KUMMER, 1970). A despeito disso, sua
história está ricamente pontuada pela determinação dos
pesquisadores em busca de instrumentos para medidas
quantificáveis, que desempenhem papel útil na fundamentação de
conceitos e elaboração de teorias sobre o movimento corporal
humano (AMADIO et al., 1999).
2 Trata da geometria do movimento, relacionando posição, velocidade, aceleração e
tempo, sem referência às causas que o originaram. In: BARROS Jr, J.J. (org). Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa - Versão 1.0. ed. São Paulo/SP: Instituto Antônio Houaiss - Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
6
FIGURA 1 – ESQUEMA ILUSTRATIVO DAS DIVISÕES DAS CIÊNCIAS FÍSICAS EM
SEUS RAMOS CIENTÍFICOS, ENTRE ELES A BIOMECÂNICA OU
MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS. FONTE: ADAPTADO DE AMADIO ET
AL.(1999)
Para a biomecânica, o corpo humano é dividido em
segmentos considerados perfeitamente rígidos para simplificação
das análises quantitativas (AMADIO et al., 1999), daí o fato de ser
considerada uma vertente da mecânica dos corpos rígidos. A
premissa de um corpo formado por segmentos rígidos, articulados
entre si, oferece uma interface viável para intercâmbio entre áreas
de conhecimento e suas tecnologias, voltadas para medir os
movimentos entre esses segmentos (JEMT; BACK; PETERSSON, 1999).
Como resultado, é possível estimar quantitativamente características
normais e anormais dos movimentos, sejam eles voluntários ou não.
Por isso a biomecânica assumiu o papel de ciência de
interface, e tem se ocupado com análises físicas dos sistemas
biológicos e dos fenômenos do corpo humano, incluindo movimentos
corporais (AMADIO et al., 1999).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
7
2- A AVALIAÇÃO DO MOVIMENTO
MEDIDA3 é um dos conceitos fundamentais da cultura
clássica grega, herdado pela ciência moderna. O mais famoso
princípio sobre medidas e padronizações foi exarado pelo sofista
Pitágoras (487-420a.C.), quando afirmava que “o homem é a medida
de todas as coisas” (ABBAGNANO, 1998).
A medida, como princípio de reprodutibilidade dos
resultados, apresenta-se como o veio central da exploração
científica e vem sendo explorada e perseguida em todos os
laboratórios, ao longo de séculos de pesquisa. O físico e astrônomo
Johannes Kepler (1571-1630) considerou a medida como a razão de
sua existência e de seu trabalho como cientista. Em seu epitáfio, de
sua própria pena, escreveu:
(GLEISER, 1998)
O ser humano está capacitado a funcionar dentro de
limites estreitos. A primeira limitação crítica é a própria citoarquitetura
do sistema respiratório e o modelo funcional do aparelho locomotor.
3 Do grego “μετρον”.
“Eu medi os céus, agora, as sombras eu
meço. Para o firmamento viaja a mente, na
terra descansa o corpo”
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
8
A segunda limitação é imposta pelos mecanismos de manutenção
da homeostase do meio interno, sensíveis aos estímulos mais sutis. A
terceira limitação é o obstáculo da reserva corporal dos nutrientes
essenciais ao metabolismo (FISHMANN, 1992).
Ao confrontar, de um lado as limitações funcionais
inerentes ao ser humano, e do outro, a necessidade de medidas
sobre essas mesmas funções, chegar-se-á à difícil tarefa de perseguir
métodos de avaliação cada vez mais precisos, todavia indeléveis aos
sensíveis servomecanismos de manutenção da homeostase corporal.
(BARAÚNA, 1997)
Validade de uma medida é a propriedade de um
instrumento em refletir até que ponto ele realmente
mede o que pretende, e a precisão, como a
tendência em fornecer resultados consistentes e
estáveis, relativamente livres de erros.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
9
3- FOTOGRAMETRIA E BIOFOTOGRAMETRIA
3.1. Fotogrametria
O termo fotogrametria, de origem grega4, expressa a
aplicação da fotografia à métrica, onde se deduz a dimensão dos
objetos contidos numa imagem de natureza fotográfica ou
cinematográfica.
A fotogrametria corresponde à...
(A.S.P., 19665 apud TEMBA, 2000)
4 Expressão de origem grega, derivada dos radicais “πηοτο” = luz; “γραμμα” = traçado; “γραπηειν” = descrever. Medição das distâncias e das dimensões reais dos objetos por meio da fotografia. In: BARROS Jr, J.J. (org). Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa - Versão 1.0. ed. São Paulo/SP: Instituto Antônio Houaiss - Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM. 5 American Society of Photogrammetry/ASP. Manual of Photogrammetry. 1220p, 1966.
“...arte, ciência e tecnologia de obter
informações de confiança sobre objetos e do
meio ambiente com o uso de processos de
registro, medições e interpretações das
imagens fotográficas e dos padrões de energia
eletromagnética registrados”
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
10
Na agrimensura, utiliza-se o termo para denominar a
técnica que permite efetuar as medidas de um objeto quanto às suas
formas e situação espacial, através de perspectivas registradas
fotograficamente.
A FOTOGRAMETRIA CARTOGRÁFICA como é chamada na
agrimensura, divide-se em aerofotogrametria, quando o material de
imagem é obtido de uma plataforma espacial, e fotogrametria
terrestre, também chamada de fotogrametria de curta distância,
quando as estações fotográficas são fixas ao solo. A técnica trata,
básica e principalmente, da produção de mapas planimétricos,
topográficos e outros procedimentos de medida (CORRÊA, Internet).
A fotogrametria cartográfica divide-se em
AEROFOTOGRAMETRIA, quando o material de imagem é obtido de
uma plataforma espacial ou de câmeras em aviões que sobrevoam
áreas a serem mapeadas (Figura 2), e FOTOGRAMETRIA TERRESTRE,
também chamada de fotogrametria de curta distância (Figura 3),
quando as estações fotográficas estão fixas no solo (TEMBA, 2000).
Tanto para a AEROFOTOGRAMETRIA quanto para a
FOTOGRAMETRIA TERRESTRE, são aplicadas duas abordagens de
processamento para as imagens: a interpretativa e a métrica (TEMBA,
2000).
Ao longo dos tempos, a fotogrametria cartográfica
desenvolveu-se, e evoluiu ao ponto de permitir que suas bases lógicas
e procedimentais pudessem ser também empregadas em outras
ciências, sendo denominada nesses casos de fotogrametria não-
cartográfica (RICIERI, 2000).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
11
FIGURA 2 - ILUSTRAÇÕES REPRESENTATIVAS DA TÉCNICA DE FOTOGRAMETRIA
AÉREA OU AEROFOTOGRAMETRIA: ESTIMATIVAS TOPOGRÁFICAS A
PARTIR DE IMAGENS ADQUIRIDAS POR CÂMERAS INSTALADAS EM
DIFERENTES TIPOS DE AERONAVES. FONTES: [FIGURA À ESQUERDA]
CABEZÓN D. XATAKAFOTO WEBSITE (ACESSO EM 29/10/2008).
[FIGURA À DIREITA] ALTAVISÃO IMAGENS AÉREAS (ACESSO EM
29/10/2008).
FIGURA 3 – ILUSTRAÇÕES REPRESENTATIVAS DA FOTOGRAMETRIA TERRESTRE
OU FOTOGRAMETRIA DE CURTA DISTÂNCIA: AS ESTIMATIVAS DE
MEDIDAS TOPOGRÁFICAS SÃO REALIZADAS A PARTIR DO
POSICIONAMENTO DAS CÂMERAS E OUTROS EQUIPAMENTOS
AUXILIARES NO SOLO. FONTES: [FIGURA À ESQUERDA] VIACARTA
CARTOGRAFIA E AGRIMENSURA WEBSITE (ACESSO EM 29/10/2008).
[FIGURA À DIREITA] UNIREFERÊNCIA TOPOGRAFIA WEBSITE (ACESSO
EM 29/10/2008).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
12
3.2. Conceitos interpretativos fotogramétricos
Alguns dos conceitos interpretativos e metodológicos
fundamentais da fotogrametria cartográfica foram transportados,
adaptando-se as técnicas ao estudo dos movimentos humanos. As
adaptações mais importantes relacionam-se aos conceitos de
restituição e fotointerpretação (CORRÊA, Internet).
3.2.1. Restituição
Na fotogrametria cartográfica a RESTITUIÇÃO consiste no
conjunto de procedimentos para obter feições planimétricas e/ou
altimétricas de uma determinada localidade, expressas na projeção
ortogonal por meio de fotografias aéreas ou terrestres, após
estabelecer uma equivalência geométrica entre o objeto e a
imagem (TEMBA, 2000).
A restituição consiste no amplo domínio de conhecimentos
de como planejar e construir um mapa planimétrico perfeitamente
Em outras palavras, é preciso estabelecer uma linha
de identidade entre as equivalências objeto-imagem
para transpor as medidas na imagem em unidades
métricas reais, e esta linha de identidade é obtida por
uma restituição bem planejada
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
13
condizente com a realidade que pretende refletir. O domínio da
restituição é muito amplo, envolvendo conhecimentos fotográficos,
fotogramétricos, princípios instrumental e operacional,
fotointerpretação, topografia, cartografia e desenho.
Além disso, envolve certas condições físicas, como boa
visão estereoscópica, coordenação motora, zelo e responsabilidade,
tanto pela qualidade da informação como pela conservação dos
materiais e equipamentos (CORRÊA, Internet).
3.2.2. Fotointerpretação
A interpretação fotográfica é a ação de examinar as
imagens com a finalidade de identificar objetos e julgar seu
significado. Num contexto mais abrangente, qualquer pessoa é
fotointérprete, à medida que é capaz de julgar e emitir um parecer
sobre os elementos constituintes de uma fotografia e suas
características (CORRÊA, Internet).
Um dos princípios mais importantes da fotointerpretação é
a observação. Da observação constante deve nascer a perspicácia
da diferenciação dos vários componentes da imagem fotográfica.
Uma vez dominada a técnica de se observar, parte-se então à parte
mais difícil do trabalho, quando, utilizando-se da lógica interpretativa
e da métrica, chega-se a conclusões acerca dos objetos observados
(CORRÊA, Internet).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
14
A FOTOGRAMETRIA INTERPRETATIVA é composta por três
técnicas sequenciais. A FOTOLEITURA é a técnica mais simples:
dispensa equipamentos ou aparatos especiais e consiste no
reconhecimento visual direto do conteúdo da imagem. Na
FOTOANÁLISE é necessária a separação e a distribuição do objeto
em seus componentes básicos constantes na imagem. Por fim, a
FOTODEDUÇÃO é a técnica que inclui todas as características da
fotoleitura, aliadas a uma avaliação geomorfológica da área
retratada, num exame detalhado de todos os elementos restantes da
imagem que possam conduzir a deduções relativas às informações
ocultas (TEMBA, 2000).
Esse princípio não deve ser confundido com o conceito da
fotointerpretação profissional. Cada campo do conhecimento que
se utiliza da fotogrametria, cartográfica ou não, possui uma base
própria de conhecimento para avaliar as imagens contidas numa
fotografia, de acordo com o fim a que se destina tal interpretação.
Por outro lado, a FOTOGRAMETRIA MÉTRICA consiste das
medições realizadas nas imagens, somadas a outras fontes de
informação, para determinar posições relativas entre pontos de
referência, como distâncias, ângulos, áreas, volumes, tamanhos e
formas de objetos (TEMBA, 2000).
FOTOGRAMETRIA
INTERPRETATIVA FOTOGRAMETRIA
MÉTRICA
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
15
3.3. Fotogrametria Computadorizada
Uma das muitas aplicações do aproveitamento da
fotogrametria fora da cartografia refere-se à sua aplicação em
imagens de segmentos corporais para avaliação da geometria
corporal (HOCHMAN; CASTILHO; FERREIRA, 2002) ou do movimento
(BARAÚNA et al., 2004a; LIMA et al., 2004; BARAÚNA et al., 2004b;
BARAÚNA et al., 2006; CARREGARO; SILVA; GIL COURY, 2007).
Os primórdios da técnica referem-se ao trabalho de
FERREIRA e CORREIA DA SILVA (1994, apud BARAÚNA, 1997) na
Universidade Técnica de Lisboa, quando desenvolveram um
programa experimental para computadores pessoais que
selecionava imagens obtidas através fitas de vídeo em VHS,
permitindo a delimitação de pontos e o cálculo dos ângulos
formados entre esses pontos (BARAÚNA, 1997).
O programa foi utilizado com sucesso em um estudo que
analisou a marcha de amputados de membro inferior que utilizavam
prótese (BARAÚNA, 1997) e chegou ao Brasil, onde foram iniciados
estudos para o aperfeiçoamento técnico do referido programa. Em
parceria com o Prof. Dr. Alcimar B. Soares6, o Prof. Dr. Mário Antonio
Baraúna7 aperfeiçoou o sistema em um novo aplicativo, baseado no
mesmo princípio de cálculo angular anterior. Esse novo sistema foi
registrado como ALCimage - Manipulando imagens, versão 1.0, 1999.
6 Universidade Federal de Uberlândia (MG) - Curso de Pós-Graduação/Engenharia da
Computação. Lattes: 7 Centro Universitário do Triângulo/UNIT, Uberlândia/MG. Lattes:
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
16
A fotogrametria poderia ter sido mais um entre tantos
recursos de avaliação não-invasiva, se não trouxesse em seu bojo
duas grandes vantagens na efetividade de sua aplicação clínica: o
baixo custo do sistema de imagens e fotointerpretação e a precisão
e reprodutibilidade dos resultados.
O programa ALCimage®, mais funcional e cosmético que
seu precursor, ofereceu resultados otimistas para a substituição de
métodos qualitativos de avaliação. Os primeiros trabalhos publicados
com medidas feitas pelo sistema incluíram “Teste de Romberg”, para
equilíbrio e a simetrografia para postura, e a análise de referências
ósseas, articulares e angulares torácicas, na avaliação estática do
aparelho respiratório de crianças saudáveis e asmáticas (DELOROSO,
1999).
3.4. Biofotogrametria©: a história de uma sistematização lógica, ágil e aplicada
Para estudar movimentos mais complexos, o poder de
análise da Fotogrametria Computadorizada era restrito. Movimentos
como marcha, respiração, e controle compensatórios musculares
requeriam muitas horas de trabalho com poucos recursos gráficos.
Ao início do novo século, era preciso de interfaces mais
ágeis que aceitassem registros em vídeo para proceder às análises, e
os programas Suíte CorelDraw® e AutoCAD® mostravam-se
amplamente superiores na tarefa de medir imagens com maior
precisão e resultados finais mais cosméticos.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
17
O desenvolvimento da BIOFOTOGRAMETRIA© foi motivado
por essas necessidades e caracterizou-se por ser um processo
sistematizado de análise 2D, cujas etapas e condutas são operadas
de modo manual e representativo dos aspectos quantitativos de um
movimento. Seu principal objetivo é oferecer expressão numérica
para significação no processo de tomada de decisão na prática
profissional em saúde (RICIERI; POMBO, 2005).
A Biofotogrametria© incorporou e adaptou para seu
próprio uso os conceitos de restituição e fotointerpretação da
fotogrametria cartográfica. Esses conceitos tornaram-se premissas
fundamentais no desenvolvimento e validação da técnica de
avaliação sistemática dos movimentos corporais em seres humanos
3.4.1. Restituição em Biofotogrametria©
Na Biofotogrametria©, a restituição abrange os estudos
preliminares acerca das condições em que se deve realizar o registro
da imagem do movimento desejado para uma fotointerpretação
precisa.
A restituição, nesse sentido, deve envolver conhecimentos
anatômicos gerais e de superfície, conhecimentos cinematográficos,
fotogramétricos, princípios instrumentais e operacionais dos
equipamentos de registro. Não obstante, envolve também
condições físicas, como boa visão, coordenação motora, zelo e
responsabilidade pela qualidade da informação e pelas
repercussões clínicas que dela advêm.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
18
3.4.2. Fotointerpretação em Biofotogrametria©
Da observação constante de um grande número de
imagens desenvolve-se a perspicácia da diferenciação de seus
vários componentes. Da cuidadosa observação desses
componentes, decorre a fotointerpretação e o laudo clínico
pertinente.
Referências ósseas e articulares, planos, eixos, regiões
corporais, tudo pode ser avaliado pela Biofotogrametria©, desde que
a imagem adquirida seja previamente demarcada “in loco” no
observado antes da aquisição. Caso contrário, pode-se demarcar
diretamente a imagem, após sua aquisição. Na demarcação “in
loco”, fundamentos de contraste e operacionalização devem ser
levados em consideração na escolha do elemento marcador.
O importante é que, tanto a demarcação como os
resultados finais da fotointerpretação, gerem conforto para o
observado, liberdade para realização e registro dos movimentos;
nitidez na visualização da imagem e adequada interpretação
fotogramétrica.
3.5. Biofotogrametria©: os novos tempos
Depois de mais de uma década e meia de estudos e
pesquisas de aperfeiçoamento de cada etapa que compõe o
processo biofotogramétrico, a nomenclatura foi atualizada, detalhes
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
19
foram acrescidos, margens de segurança foram calculadas,
tornando a Biofotogrametria© o que é atualmente: um processo
confiável, reprodutível, de alta qualidade, baixo custo, e aplicável à
ciência, à educação e à prática profissional.
O movimento – normal ou patológico – expressa e/ou
reage clinicamente às variadas intervenções dos diferentes
profissionais de saúde, em suas muitas especialidades de atuação.
Esta é uma das razões que faz da Biofotogrametria© um instrumental
potencialmente atrativo e multidisciplinar, voltado para análise
clínica quantitativa de movimentos.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
20
4- MULTIDISCIPLINARIDADE NA ANÁLISE DOS MOVIMENTOS
A palavra movimento é uma herança dos homens da
ciência e dos pensadores da Grécia antiga, que a utilizavam para
expressar a manifestação daquilo que existe em potencial no ser
humano. Por esta definição, não apenas o movimento corporal
estava compreendido pela expressão grega original, e reconhecido
como realização de potencialidades físicas humanas, mas também
a aprendizagem, a cura, o crescimento e mesmo, o envelhecimento,
representavam movimentos, na acepção da palavra (RICIERI, 2000).
Uma manifestação motora, ou gesto, não é um fenômeno
isolado, mas uma reação controlada, um fenômeno intrínseco e
integrado ao corpo que o gera, e ao meio que o cerca.
A multidisciplinaridade tornou-se cada vez mais
necessária, ou ainda, um requisito quase
imprescindível nas análises complexas dos
fenômenos biológicos, âmbito no qual estão
incluídas as análises quantitativas de movimentos
corporais. As interfaces do saber são cada vez mais
abrangentes, e a necessidade de convergência
entre diferentes tipos de conhecimentos reflete
uma contribuição importante de cada interface no
desvendar dos mistérios da manifestação motora.
(MELO; SANTOS, 2000)
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
21
A avaliação biomecânica de um movimento permite a
quantificação dos graus de habilidade, ou destreza, na execução de
determinada tarefa, fenômeno denominado desempenho8
(AMADIO et al., 1999).
Pela lógica aristotélica, todo movimento demanda estudos
detalhados para a compreensão da parte movente e do motor que
o gera, e dessa lógica derivou, historicamente, o interesse pelo
movimento biológico (CAPOZZO; CAVANAGH, 1994). Desse modo,
quantificar características físicas dos movimentos e fenômenos
biológicos é um desafio que vem percorrendo a história, desde a
Antiguidade até os tempos atuais.
As observações levaram o filósofo à conclusão que o
deslocamento do corpo na deambulação era uma consequência
da ação dos membros inferiores, ou patas, contra o solo. Tais
conclusões motivaram as primeiras, das muitas discussões que se
8 Da expressão original em inglês “performance”.
Foram de Aristóteles (384-322 a.C.) os primeiros
relatos observacionais sobre o ato de caminhar de
humanos e de animais: ”o animal que se move faz
sua mudança de posição pressionando contra o
que está embaixo dele”.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
22
sucederiam ao longo dos tempos, na tentativa de comprovar ou
refutar sua veracidade.
Por sua vez, essas muitas discussões geraram novas
observações e explicações para o ato de caminhar (MELO; SANTOS,
2000), o que só foi completamente esclarecido e ratificado quase
dois mil anos depois, pela aplicação da Terceira Lei de Newton ou
princípio da ação e reação. O mesmo aconteceu para muitos outros
fenômenos motores, como o movimento respiratório, que seguiram
pelo mesmo caminho, em busca de justificativas cartesianas
satisfatórias às exigências da ciência.
Porém, a história e a ciência muito ainda haveriam de
evoluir antes de poder transformar impressões subjetivas visuais, que
fundamentaram as teorias do movimento durante séculos, em
registros objetivos que permitissem medidas, fato possível somente a
partir da invenção da fotografia.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
23
5- UM PASSEIO PELA INVENÇÃO DA FOTOGRAFIA
“Escrever com a luz” é um fenômeno que despertou a
curiosidade de filósofos e estudiosos pelos fenômenos da natureza
desde a idade antiga. De fato, a “photographia”9 não possuiu um
inventor único, ao contrário, ela representa uma síntese de várias
observações e inventos, desenvolvidos e divulgados em diferentes
momentos da história (PORTAL SÃO FRANCISCO, 1998).
Historiadores dividiram o mérito pelo desenvolvimento dos
conhecimentos ópticos que deram origem às primeiras tentativas de
“escrever com a luz”, ou ainda, “visão tecnicamente mediada”
(MACHADO, 2002) entre o chinês Mo Tzu (Século V a.C.) e o filósofo
grego Aristóteles (OKA; ROPERTO, 2002).
Aristóteles era um observador nato dos fenômenos naturais,
físicos e biológicos, e dele nasceu o relato de que, durante um eclipse
parcial, a imagem do sol projetava-se no solo em forma de meia lua
quando seus raios passavam por pequenos orifícios entre as folhas de
uma árvore, sob a qual estava sentado. Ele percebeu também que
quanto menor o orifício entre as folhas, mais nítida era a imagem
(KODAK Website, acesso em 2007).
9 Expressão de origem grega a partir dos radicais “photon” = luz + “graphos” = escrever.
Arte ou processo de reproduzir imagens sobre uma superfície fotossensível (como um filme), pela ação de energia radiante, especificamente a luz. In: BARROS Jr, J.J. (org). Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa - Versão 1.0. ed. São Paulo/SP: Instituto Antônio Houaiss - Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
24
Séculos de ignorância e de superstições sobre a “mágica”
da imagem na câmara escura ocuparam a Europa, e fizeram com
que os princípios do conhecimento grego sobre projeções de luz
fossem mantidos restritos ao oriente (OKA; ROPERTO, 2002). Apenas
no alvorecer do século XI, Ibn Al-Haitam10, importante físico,
matemático e astrônomo árabe que realizou importantes estudos de
óptica, descreveu e nominou como câmara obscura11 o que todos
acreditavam tratar-se de magia (KODAK Website, acesso em 2007).
Embora esta primeira descrição da câmara escura tenha
sido feita no século XI, somente no século XVI um cientista napolitano,
Giovanni Baptista Della Porta (1451-1615), publicou uma descrição
detalhada sobre a câmera e seus usos no livro “Magia Naturalis sive
de Miraculis Rerum Naturalium” (OKA; ROPERTO, 2002). Sua descrição
referia-se a um quarto refratário à luz, com um orifício de um lado e a
parede oposta pintada de branco (Figura 4). Quando um objeto era
colocado diante do orifício, pelo lado de fora do quarto, sua imagem
era projetada invertida sobre a parede branca (KODAK Website,
acesso em 2007).
FIGURA 4 – ILUSTRAÇÃO
DESCRITIVA DO MODELO DE
CÂMARA ESCURA, SEGUNDO
GIOVANNI BAPTISTA DELLA
PORTA (1558). FONTE:
KODAK WEBSITE (ACESSO
EM 2007).
10 Cuja alcunha era “O Al-Hazen” (965-1039 d.C.) 11 Do original em latim “obscurum cubiculum“.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
25
Na tentativa de melhorar a estrutura e a nitidez obtidas pelo
uso da câmara escura, alguns cientistas tentaram diminuir o diâmetro
do orifício. Este recurso tornava a imagem mais nítida, porém a
escurecia proporcionalmente, o que praticamente impossibilitava
sua identificação. Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico
milanês Girolamo Cardano (1501-1576), que propôs a integração de
uma lente biconvexa junto do orifício (Figura 5), o que permitia
aumentar a imagem sem perder a nitidez, e ainda, mantê-la clara
(KODAK Website, acesso em 2007).
FIGURA 5 - ILUSTRAÇÃO DESCRITIVA DA INTERPOSIÇÃO DA LENTE BICONVEXA,
SUGERIDA POR GIROLAMO CARDANO (1550), AO COMPLEXO DA
CÂMARA ESCURA DE GIOVANNI DELLA PORTA. FONTE: KODAK
WEBSITE (ACESSO EM 2007).
O sucesso da proposta de Cardano deu-se graças à
capacidade de refração do vidro em convergir os raios luminosos
refletidos pelo objeto, fazendo com que cada ponto luminoso
correspondesse a um pequeno ponto na imagem. Até hoje, as
imagens formadas nas câmeras seguem este princípio, por isso são
chamadas puntiformes, ou seja, formam-se ponto a ponto a partir da
luz refletida pelo objeto retratado (OLIVEIRA, 2006).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
26
A câmara escura passou ainda por muitas melhorias, e a
ela foram atribuídas variadas utilidades, como por exemplo, a de
instrumentação auxiliar no desenvolvimento de desenhos e pinturas
(KODAK Website, acesso em 2007).
Esse conhecimento difundiu-se entre intelectuais e artistas
do século XVI, que logo perceberam a impossibilidade de obter
imagens nítidas se os objetos captados pelo visor estivessem a
diferentes distâncias da lente: ou se focava o objeto mais próximo,
pela variação da distância da lente, e deixava-se o restante do
cenário mais distante desfocado, ou vice-versa.
Para contornar esse problema, Danielo Brabaro (1568)
mostrou em seu livro, "A prática da perspectiva", que ao variar o
diâmetro do orifício era possível melhorar a nitidez da imagem. Com
isso, a câmara escura foi novamente aprimorada pela instalação de
um sistema junto à lente, que permitia aumentar e diminuir o orifício:
estava inventado o primeiro diafragma12 (OLIVEIRA, 2006).
Outras idéias, muitos aprimoramentos, e grandes
modificações sucederam-se pela história até o surgimento da
câmara escura móvel, ou câmera fotográfica. Sabe-se, por exemplo,
que Leonardo da Vinci (1452-1519) fez uso deste instrumento e dele
deixou uma descrição minuciosa em seu livro de notas sobre
espelhos, publicado apenas em 1797, muito tempo após sua morte
(OLIVEIRA, 2006).
A agregação de idéias, para aprimorar conceitos e
incorporar novas tecnologias, deu origem às câmeras digitais, mais
12 Da expressão original “diaphragma”: palavra de origem grega: “di(a)” = movimento ou
passagem através de; “phragma” = cerca, paliçada, defesa).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
27
precisas e potentes. Muitas utilidades e finalidades foram atribuídas
às câmeras digitais: do lazer à arte, e desta à ciência. Mas o fato
intransponível, a despeito de toda evolução, desde a câmara
obscura à tecnologia da imagem digital, foi que o produto final, qual
seja a imagem, era e será sempre uma redução 2D de um mundo
tridimensional (3D).
5.1. O paradoxo da arte bidimensional
O ser humano possui visão estereoscópica, ou seja, vê em
três dimensões e pode diferenciar nas imagens que vê entre altura,
largura e profundidade. Na Figura 6 a percepção é de que os prédios
estariam ao fundo enquanto o rio estaria mais próximo da lente da
câmera, ainda, que as torres à esquerda seriam mais altas que o
prédio à direita (MARMION, 2007a). Mas como afirmar que os prédios
estão realmente ao fundo, se esta fotografia, ou fotograma, é uma
imagem 2D?
FIGURA 6 – IMAGEM EXEMPLO. FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA ARTE
BIDIMENSIONAL (2007a).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
28
Este é o paradoxo da arte 2D, que também ocorre na
pintura e na gravura, ou seja, representar um mundo tridimensional
(3D) reduzindo-o a apenas duas dimensões, sem profundidade. Na
antiguidade, por exemplo, os egípcios trataram o problema sem
muita complexidade (Figura 7): elaboravam representações de
pessoas e do cotidiano em traçado puramente 2D, sem qualquer
preocupação com a profundidade (MARMION, 2007a).
FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE DESENHOS EGÍPCIOS
BIDIMENSIONAIS FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA ARTE
BIDIMENSIONAL (2007a).
Fato: não há fundo uma vez que rio e prédios
estão exatamente no mesmo plano. No entanto,
é correto afirmar que os prédios estão na parte
superior da imagem e o rio na parte inferior, mas
não que os prédios estão ao fundo.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
29
Muito mais tarde, por volta do século XVII, os artistas
descobriram o segredo para incluir uma impressão de
tridimensionalidade em suas obras: enganar o cérebro empregando
artifícios visuais. Esta não foi uma tarefa difícil, posto que era
conhecido o fato de que o cérebro tende a se basear em
experiências anteriores e induzir o observador a perceber a existência
de profundidade na imagem plana como uma interpretação
subjetiva (MARMION, 2007a).
A estratégia de inclusão de tridimensionalidade foi
exemplificada na obra “Diana e suas companheiras”13, pintada em
1650 por Jacob Van Loo (1614-1670). Ao analisar a pintura (Figura 8),
percebe-se que a tridimensionalidade foi introduzida por meio de
linhas invisíveis, que levam o cérebro a concluir que o cachorro à
esquerda estaria ao fundo do cenário, por possuir dimensões
menores que os personagens mais próximos do observador.
FIGURA 8 – PINTURA “DIANA E SUAS COMPANHEIRAS”, POR JACOB VAN LOO
(1650): TRATAMENTO ÓPTICO PARA INSERÇÃO DA IMPRESSÃO DE
TRIDIMENSIONALIDADE. FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA ARTE
BIDIMENSIONAL (2007a)
13 Também conhecido como “Diana e suas ninfas”.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
30
A observação do quadro induz à clara sensação que
quanto mais à direita da pintura, mais próximos estariam os
personagens no cenário retratado. Mas isso não passa de uma ilusão
criada pelo artista: todos se encontram no mesmo plano e é
impossível existir perto e longe, ou frente e fundo, por se tratar de um
plano 2D. É disso que trata a estratégia: iludir o cérebro do observador
(MARMION, 2007a).
5.2. Profundidade de campo em imagens 2D
O desafio da fotografia, incluindo as imagens para
documentação médica, era a redução do mundo 3D para ocupar
uma imagem 2D. Como já apresentado, na transformação perde-se
a dimensão profundidade, que pode ser reconstruída trabalhando-
se apropriadamente na câmera por meio de estratégias que iludam
o cérebro a perceber uma imagem como 3D, como faz a
propriedade profundidade de campo.
PROFUNDIDADE DE CAMPO corresponde à região da área
fotografada que se deseja permaneça nítida, desde que
corretamente focalizada. Um exemplo desta propriedade é
apresentado na Figura 9, onde há uma linha de três bonecos, sendo
que a primeira e a última estão fora de foco, ao passo que os
bonecos da segunda linha apresentam imagens nítidas de tal modo
que é possível observar-se-lhes os detalhes (MARMION, 2007b).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
31
FIGURA 9 – IMAGEM REPRESENTATIVA DA PROPRIEDADE DE PROFUNDIDADE
DE CAMPO, ONDE A ÁREA DE NITIDEZ ENCONTRA-SE NA ZONA
CENTRAL DA IMAGEM. FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA ARTE
BIDIMENSIONAL (2007a)
Todos os elementos fora da área de nitidez, entre a lente da
câmera e o fundo do ambiente ficarão, em maior ou menor grau,
fora do foco (Figura 10). Esta profundidade de campo pode ser
regulada pelos recursos da câmera (Figura 11), de alguns centímetros
a alguns metros (MARMION, 2007b).
Esta propriedade fotográfica é importante por ser um dos
elementos essenciais para conferir à imagem uma impressão de
tridimensionalidade. Ao desfocar propositalmente certas regiões da
imagem, é possível induzir à percepção de que um objeto esteja mais
distante, recriando uma experiência multidimensional (MARMION,
2007b).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
32
FIGURA 10 – ILUSTRAÇÃO DA PROPRIEDADE DE PROFUNDIDADE DE CAMPO EM
UMA CÂMERA FOTOGRÁFICA, EM SITUAÇÃO ANÁLOGA À FOTO
ANTERIOR. FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA ARTE
BIDIMENSIONAL (2007a)
FIGURA 11 – ILUSTRAÇÃO REPRESENTATIVA DA PROPRIEDADE DE
PROFUNDIDADE DE CAMPO PELA VARIAÇÃO DA REGULAGEM, EM
UMA CÂMERA FOTOGRÁFICA. FONTE: MARMION, J. O PARADOXO DA
ARTE BIDIMENSIONAL (2007a)
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
33
O aperfeiçoamento dos recursos, técnicas, estratégias e
tratamentos na revelação dos filmes, ao longo dos anos, contribuiu
para uma qualidade progressivamente superior da fotografia
analógica. Mas a revolução tecnológica da computação, ocorrida
na década de 80, agregou novos paradigmas ao processo de
aquisição e registro de imagens, fazendo emergir no mercado a
fotografia digital (MARMION, 2007b).
5.3. Da fotografia analógica à fotografia digital
Considerados os séculos entre as primeiras tentativas de
reproduzir imagens em câmaras escuras e o advento das câmeras
fotográficas analógicas, o processo como um todo pouco evoluiu,
permanecendo sustentado sobre os pilares dos princípios ópticos e
dos formatos originais (OLIVEIRA, 2006).
No século XX, a fotografia passou ao grau de centro das
atenções na imprensa mundial, cujas amplas reportagens exigiram
dos profissionais do fotojornalismo uma demanda específica por
equipamentos e recursos mais leves e ágeis. Esta demanda relevante
de mercado despertou interesse nos fabricantes para investimentos
no setor, provocando uma renovação com o surgimento da
fotografia digital, ao final dos anos 80 (OLIVEIRA, 2006).
A evolução dos equipamentos resultou na migração para
a tecnologia digital, e a fotografia analógica entrou em declínio ao
final dos anos 90, acabando com o fascínio exercido durante
décadas pelos laboratórios fotográficos de revelação e ampliação e
transformando a prática tão comum da fotografia analógica em
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
34
algo primitivo. Uma vez que a fotografia digital era um processo
recente, sua manipulação mereceu regulamentação específica em
todas as áreas de aplicação, de modo a evitar transtornos
propositais, imprudentes ou involuntários (Figura 12).
FIGURA 12 – ILUSTRAÇÃO SATÍRICA DE UMA MANIPULAÇÃO INADEQUADA DE
IMAGENS MÉDICAS. FONTE: ADAPTADO DE NERDIANO BLOGSPOT
WEBSITE (2007)
5.4. A fotografia digital e a documentação médica por imagem
No mercado de câmeras domésticas, a tecnologia digital
foi disseminada em largas proporções (TOMMASELLI; HASEGAWA;
GALO, 2000), e sua utilização em atividades métricas tem crescido
devido à agilidade na coleta de dados e, principalmente, por
dispensar o domínio completo e aprofundado sobre o processo de
aquisição (GALO; TOMMASELLI; HASEGAWA, 1999).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
35
As câmeras digitais tornaram-se populares e acessíveis a
partir da disseminação da tecnologia CCD14 na década de 80, quer
pela redução dos custos, quer pelo aumento da confiabilidade em
relação às antigas câmeras analógicas (GALO; TOMMASELLI;
HASEGAWA, 1999). Os dispositivos de acoplamento de carga CCD
(Figura 13) são, na verdade, circuitos integrados de silício usados
como transdutores de imagem, ou seja, capazes de transformar uma
forma de energia em outra, nesse caso, energia eletromagnética em
energia elétrica. Estes circuitos são fabricados sob o formato de um
conjunto matricial linear de células fotossensíveis (TOMMASELLI;
HASEGAWA; GALO, 2000).
FIGURA 13 – EXEMPLO DE UM
SENSOR CCD DE UMA CÂMERA
KODAK. FONTE: KODAK WEBSITE
(ACESSO EM: 05/05/2008)
A câmera é um sistema básico para coleta e
armazenamento de imagens digitais. De modo geral, uma câmera
digital contém um sistema de lentes, processadores, um aparato
fotossensível – o chip CCD – e uma memória, para o armazenamento
final da imagem (Figura 14).
14 Charge Coupled Device.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
36
FIGURA 14 – ESQUEMA DE UMA CÂMERA DIGITAL E SEUS COMPONENTES, NO
PROCESSO DE CAPTURA DA IMAGEM. FONTE: TOMMASELLI;
HASEGAWA; GALO (2000)
No CCD matricial, os pixels15 que formam uma imagem são
criados por milhares de fotocélulas microscópicas. Como cada
câmera apresenta apenas um CCD, a captura de imagens coloridas
é feita utilizando uma matriz de filtros RGB posicionada à frente do
CCD. Após a exposição do objeto, as cores são interpoladas por
processos computacionais internos (TOMMASELLI; HASEGAWA; GALO,
2000), formando a imagem final.
A finalidade da FOTOGRAFIA MÉDICA não está relacionada
ao resultado artístico da imagem, mas ao seu papel como
documentação ou exame. Deve ser a mais real e nítida possível e
considerar, na maioria dos casos, relações entre a métrica da
imagem e a métrica real.
15 Na informática, refere-se a um ponto luminoso do monitor que, juntamente com outros
do mesmo tipo, forma as imagens na tela. In: BARROS Jr, J.J. (org). Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa - Versão 1.0. ed. São Paulo/SP: Instituto Antônio Houaiss -
Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
37
Quando realizada de modo padronizado, a fotografia
satisfaz plenamente sua finalidade como documentação científica,
particularmente em relação à propriedade de reprodutibilidade
(HOCHMAN; NAHAS; FERREIRA, 2005).
Na atividade científico-acadêmica, independente da
especialidade médica, a documentação fotográfica viabiliza a
transmissão de conhecimento e experiências entre um profissional e
sua comunidade científica, e vice-versa (OLIVEIRA, 1980, HOCHMAN;
NAHAS; FERREIRA, 2005). O acervo fotográfico possibilita, ainda,
estudos estatísticos específicos e análises da evolução científica de
uma equipe profissional pelos resultados obtidos em seu serviço, por
exemplo.
O emprego da fotogrametria em medidas de movimentos
tem sido questionado sem muito sucesso (FARKAS et al., 1980;
NECHALA; MAHONEY; FARKAS, 1999), e possui ao seu favor o fato de
reduzir a margem de erro encontrada na antropometria ou na
goniometria. Em outras palavras, ao medir alguma estrutura no
paciente, de maneira direta, instrumentos rígidos como paquímetros,
compassos, réguas, goniômetros ou transferidores, podem deformá-
la por compressão. Isso incorpora uma margem de erro
representativa ao resultado final (HOCHMAN; NAHAS; FERREIRA, 2005;
SACCO et al., 2007), tanto quanto nas medidas por imagens.
Além de impor menor desconforto e constrangimento para
o avaliado, a fotogrametria possibilita o resgate da imagem ao longo
do tempo, de modo sequencial ou não, e permite o acréscimo de
medidas não consideradas em análises anteriores, ou mesmo, não
pertinentes ao quadro clínico em evolução à época (HOCHMAN,
NAHAS e FERREIRA, 2005).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
38
Finalmente, para se atingir qualidade necessária na
documentação fotográfica científica, deve-se cultivar organização
e disciplina, além de manter atualizados os conhecimentos básicos
em fotografia, as informações elementares sobre composição e
tratamento de imagens, e as noções de computação gráfica
(HOCHMAN, NAHAS e FERREIRA, 2005).
5.5. Vantagens da fotografia digital
Por essa razão, médicos e profissionais da saúde podem
adotar a documentação fotográfica padronizada e de
boa qualidade técnica como um acervo seguro e
preservado ao longo do tempo, que permite revisões
extemporâneas em busca de novas evidências, face à
evolução das ciências médicas.
A fotografia digital, recente evolução da fotografia analógica, é
um dos legados da pesquisa espacial, cujo desenvolvimento foi
fomentado pela necessidade de um sistema que enviasse à Terra,
via rádio, imagens adquiridas por sensores remotos em diversos
lugares do espaço. Esta evolução da fotografia trouxe em seu
bojo muitas possibilidades de aplicações e uma maiúscula
mudança de hábitos para a sociedade moderna.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
39
Na fotografia digital, as imagens não são capturadas por
processos químicos, mas por fotocélulas, e interpretadas
computacionalmente em termos de matrizes binárias (x,y). As
imagens são transferidas para uma memória virtual, que as exibe
imediatamente em um monitor para posterior edição e/ou
impressão, ou ainda, para transferência direta entre câmera e
impressora capaz de reconhecer os arquivos de imagens digitais
(NEGRAES, 2007). A impressão final é cada vez mais impecável, e
torna difícil a diferenciação entre uma fotografia tirada por uma
máquina 35mm utilizando filme fotográfico, daquela produzida por
uma câmera digital.
A diferença substancial ainda é o custo dos equipamentos
digitais mais sofisticados. Na verdade, as câmeras digitais estão
incorporando controles cada vez mais sofisticados que permitem
recursos antes de alcance impossível para um fotógrafo, como a
visualização prévia da imagem e a possibilidade de apagá-la/refazê-
la quantas vezes forem necessárias, até sua aprovação definitiva
(NEGRAES, 2007).
Outra vantagem da fotografia digital foi a popularização
de modelos de câmeras com recursos e controles mais limitados, um
problema para fotógrafos experientes ou profissionais, porém com
um marketing apelativo determinante: o preço final acessível ao
consumidor popular. Por isso, se a ideia consiste em produzir imagens
apenas para serem vistas na tela da câmera, em apresentações, ou
para serem enviadas rapidamente pela Internet, as câmeras de
baixo custo são indicadas (NEGRAES, 2007).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
40
Nas câmeras digitais sofisticadas, o panorama é outro,
podendo mesmo rivalizar ou exceder, em alguns casos, imagens
adquiridas por câmeras profissionais potentes, uma vez que lentes
intercambiáveis e variadas opções de controle sobre o modo de
aquisição já fazem parte dos recursos de fábrica (NEGRAES, 2007).
O importante neste contexto é que, com os preços em
declínio desde o início do século XXI, o item mais caro desta
tecnologia, qual seja o CCD, atingiu níveis tecnológicos satisfatórios,
mesmo em câmeras comerciais, com recursos mínimos e destinados
a fotógrafos amadores (NEGRAES, 2007). O reflexo desta evolução
tecnológica é que qualquer fotógrafo amador passou a usufruir da
qualidade de uma câmera digital para finalidades múltiplas, inclusive
iniciá-lo no registro e análise de documentação médica (Figura 15).
(A) (B)
FIGURA 15 – EXEMPLO DE FOTOGRAFIA PARA DOCUMENTAÇÃO MÉDICA:
REGISTRO DO EXAME DE ANUSCOPIA PARA INFECÇÃO ANAL PELO
HPV NA FORMA SUBCLÍNICA: (A) COM TESTE DE AZUL DE
TOLUIDINA POSITIVO; (B) COM TESTE DO ÁCIDO ACÉTICO
POSITIVO. FONTE: MAGI ET AL. (2006)
Câmeras digitais oferecem controles criativos,
dependendo do leque de recursos que possuam: permitem o
controle da luz, o movimento nas imagens, e a seleção entre o que
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
41
deve ou não ser registrado com nitidez. De qualquer modo,
independente de controles sofisticados oferecidos, os mesmos
princípios básicos estão sempre presentes, sendo possível manipulá-
los e deles tirar vantagens. Por exemplo, todas as câmeras digitais
possuem um modo automático que determina o foco, a exposição e
o balanço de cor: resta ao fotógrafo apenas apontar a câmera e
apertar o botão de disparo (NEGRAES, 2007).
Para IMAGENS EM MOVIMENTO, o dispositivo principal é o
obturador, que mantém a luz longe do sensor, exceto durante uma
exposição para aquisição de imagem. Quando ele se abre para
permitir a entrada da luz que atinge o sensor de imagem; o período
de tempo em que permanece aberto afeta tanto a exposição da
imagem quanto a forma final da aquisição, referente ao movimento.
Velocidades baixas da exposição do obturador permitem que a luz
atinja o sensor por mais tempo: a foto fica mais brilhante, porém pode
ficar mais tremida; velocidades mais baixas permitem menos tempo
de exposição à luz, resultando numa foto mais escura, mas com
menos chances de tremulação (NEGRAES, 2007).
Os obturadores das câmeras fotográficas, por exemplo,
possuem um controle mecânico de velocidade, enquanto o
obturador utilizado na maioria das câmeras de vídeo com CCD
apresenta um controle para velocidades variadas. As variações da
velocidade representam o tempo permitido para que a carga
gerada pela indução da luz se acumule eletronicamente no CCD.
A maioria das câmeras CCD profissionais tem velocidades
que variam de 1:6016, que significa a qualidade mínima, até 1:2.000
16 Relação referente ao número de imagens registradas por segundo, ou seja, uma
velocidade de shutter de 1:60 refere-se à aquisição de 60 imagens em um segundo.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
42
por segundo, embora existam algumas que cheguem mesmo a
1:12.000 por segundo, possibilitando, inclusive, a criação de efeitos
especiais (WHITTAKER; BARREIROS, 2002).
É a velocidade do obturador que determina se a imagem
final de um objeto em movimento aparecerá na fotografia digital de
maneira nítida, com um efeito de arrasto (Figura 16) ou com múltiplas
imagens sobrepostas (Figura 17).
FIGURA 16 – IMAGENS ADQUIRIDAS POR CÂMERAS COM DIFERENTES
VELOCIDADES DE ABERTURA DO OBTURADOR. NA VELOCIDADE 1/30
POR SEGUNDO, O EFEITO ESTROBOSCÓPICO É INTENSO, E
APARENTA UM ARRASTO NA IMAGEM, IMPEDINDO A PERCEPÇÃO DA
CENA. ESTA É REVELADA PELO USO DE UMA CÂMERA CUJA
VELOCIDADE DE ABERTURA DO OBTURADOR É DE 1/500 POR
SEGUNDO. FONTE: WHITTAKER; BARREIROS (ACESSO EM:
16/08/2008)
FIGURA 17 – EXEMPLO DO EFEITO
ESTROBOSCÓPICO SEM ARRASTO. FONTE:
WHITTAKER; BARREIROS (ACESSO EM:
16/08/2008)
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
43
A presença deste tipo de artefato na imagem final
denomina-se efeito estroboscópico. Portanto, entender a velocidade
do obturador é fundamental para controlar o resultado final da
captura da imagem de um objeto em movimento, minimizando o
efeito estroboscópico.
O efeito estroboscópico na documentação médica
impossibilita interpretações precisas pela ausência da nítida
visualização das imagens em movimento. Para evitá-lo é necessária
a vigência de pelo menos uma, de duas condições: (1) que as
câmeras possuam velocidades do obturador iguais ou superiores a
1:60, pelo menos; (2) ou que o movimento que se deseja registrar seja
lentamente executado, como é o caso dos movimentos funcionais
humanos durante exames, particularmente nas condições de
recuperação de doenças, traumas e cirurgias (Figura 18).
FIGURA 18 – AVALIAÇÕES FÍSICO-FUNCIONAIS DE MOVIMENTOS CORPORAIS
CUJAS IMAGENS FORAM ADQUIRIDAS POR CÂMERAS COMERCIAIS,
SEM RECURSOS ESPECIAIS PARA VELOCIDADE DO OBTURADOR.
FONTE: O AUTOR (2004)
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
44
5.6. A fotografia digital na análise biomecânica do movimento
Desde a invenção da câmera fotográfica analógica, as
pesquisas sobre aspectos do movimento corporal por meio de
imagens representaram uma nova possibilidade metodológica, e
deram origem a um novo ramo da biomecânica, conhecido como
CINEMETRIA17 (CAPOZZO; CAVANAGH, 1994).
De modo geral, numa primeira etapa, os processos
envolvem o controle de aquisição e de condições de registro das
imagens ou fotogramas18, e o domínio das fontes possíveis de erro nas
imagens adquiridas. A distribuição de marcadores de superfície,
procedimento denominado modelagem, orienta sobre referências
anatômicas que se deseja controlar durante o processo de medidas.
17 Metodologia biomecânica que se destina à obtenção de variáveis cinemáticas para a
descrição de posições ou movimentos no espaço (Barros, 2001). 18 Cada impressão fotográfica ou quadro unitário de um filme cinematográfico In: BARROS
Jr, J.J. (org). Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa - Versão 1.0. ed. São Paulo/SP: Instituto Antônio Houaiss - Editora Objetiva, 2001. 1 CD-ROM
A cinemetria propiciou o congelamento e registro das
imagens dos movimentos e, por decorrência, a possibilidade
de medir geometricamente aspectos de interesse por meio
dos instantâneos ou fotogramas. Isso tornou viável o uso de
descrições quantitativas para movimentos estáticos ou
dinâmicos através de processos sistematizados.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
45
As medidas podem relacionar-se a variações planares, ou
medidas 2D, ou a variações espaciais, ou 3D, dos segmentos
corporais medidos. Para realização das medidas nas imagens
frequentemente são aplicados princípios de geometria plana ou
analítica, esta última especificamente para análise de variações
espaciais ou 3D. Ao final do processo podem ser gerados tabelas ou
gráficos, reunidos em laudos de significação clínica ou biomecânica
(Figura 19).
FIGURA 19 – ETAPAS DE
PROCESSAMENTO NA
CINEMETRIA. FONTE:
ADAPTADO DE AMADIO
ET AL. (1999)
Na cinemetria, a aquisição da imagem por filmadoras ou
câmeras fotográficas digitais é determinada pelo tipo de movimento
a ser analisado. Gestos estáveis como POSTURA CORPORAL
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
46
(GUIMARÃES; SACCO; JOÃO, 2007) e AMPLITUDE ARTICULAR
(BARAÚNA et al., 2004), ou ainda, GEOMETRIA DE SEGMENTOS e seus
componentes anatômicos, como face (HOCHMAN; CASTILHO;
FERREIRA, 2002) ou tórax (RICIERI; ROSÁRIO FILHO; COSTA, 2008a),
podem ser analisados por meio de imagens fotográficas, sem que
ocorra a perda de informações.
Por outro lado, para análise de movimentos contínuos, que
ocorrem em fases, como MARCHA (PATIÑO et al., 2007), EQUILÍBRIO
ESTÁTICO (BARAÚNA et al., 2006) e RESPIRAÇÃO (SARRO, 2003), é
recomendada a aquisição por câmeras de vídeo. Nas duas
situações, os parâmetros entre câmera e objeto, como distância,
alinhamento e forma de execução do movimento para aquisição da
imagem devem ser controlados e reprodutíveis (AMADIO et al., 1999).
Uma vez adquiridas em formato digital, as imagens são
submetidas a técnicas de reconhecimento das coordenadas de
referência anatômica, que podem variar, segundo a natureza do
sistema de análise utilizado, desde a automatização computacional,
até a semiautomatização e o processamento totalmente manual
(BARROS et al., 1999).
Ainda a depender do sistema de análise utilizado, os
resultados serão apresentados na forma de variação planar da
trajetória das coordenadas, para os sistemas 2D, ou da variação das
posições espaciais ao longo do tempo, para os sistemas 3D (AMADIO
et al., 1999).
A quantificação dos dados referentes ao movimento é
interpretada, de modo geral, em bases geométricas, pela medição
das distâncias angulares, relativas ou absolutas, lineares, de superfície
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
47
ou volumétricas (AMADIO et al., 1999). É a partir de dados como estes
que a significação, feita por meio de laudos, tabelas e gráficos, será
determinada, e deverá ter por base teórica a descrição de uma
função motora normal ou anormal, relacionada a uma patologia ou
seqüela (BARROS et al., 1999)
A primeira análise tridimensional do movimento humano
aconteceu no final do século XIX, e foi realizada pelo engenheiro
prussiano Otto Fischer e o professor Wilhelm Braune (CAPOZZO;
CAVANAGH, 1994). Historicamente, ela foi considerada uma
revolução metodológica no estudo do movimento e o marco inicial
da cinemática19.
Dividida em VIDEOGRAMETRIA e FOTOGRAMETRIA, de
acordo com o tipo de câmera utilizada no momento da aquisição
da imagem do movimento, a cinemática evoluiu como
instrumentação de precisão, da imagem analógica à imagem digital
e à computação gráfica (Figura 20).
A despeito das tentativas anteriores de se registrar e
pesquisar o movimento humano, um impulso substancial da
produção científica nesta área ocorreu somente nas décadas de 60
e 70, pela ampliação do conhecimento sobre a cinemática da
locomoção humana, com referência especial aos seus aspectos
dinâmicos (SAAD; BATTISTELLA; MASIERO, 1996).
19 Trata da geometria do movimento, relacionando posição, velocidade, aceleração e tempo,
sem referência às causas que o originaram (AMADIO et al., 1999).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
48
FIGURA 20 - DIVISÃO DA BIOMECÂNICA SEGUNDO O PERFIL DE ANÁLISE. FONTE:
ADAPTADO DE AMADIO ET AL. (1999)
Além da marcha humana, a descrição quantitativa de
diferentes movimentos tem despertado interesse, sob diferentes
aspectos do conhecimento (MORO, 2000; DUARTE, 2001; LI; HONG;
CHAN, 2001; BETTINELLI et al., 2002; KESHNER, 2003; CLIQUET Jr et al.,
2004; GANANÇA, 2006; PATIÑO et al., 2007).
Cada vez mais, deseja-se estudar o movimento humano em
seus menores detalhes, de modo quantificável e sistemático, voltado
para um objetivo principal de investigação científica, como exercer
um papel auxiliar no exame físico em doentes respiratórios adultos
(RODRIGUES et al., 1993; HODGES; HEIJNEN; GANDEVIA, 2001) e
pediátricos (BANOVCIN; SEIDENBERG; VON DER HARDT, 1995).
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
49
A VERSÃO GRATUITA DESSE EBOOK NÃO CONTÉM O
CAPÍTULO DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, EXCLUSIVO
PARA A VERSÃO INTEGRANTE DO CURSO DE FORMAÇÃO
BFG-EXPERIENCES.
É sob este prisma que se situa a contribuição da
Biofotogrametria junto ao exame físico motor de modo
geral, e em especial à semiologia respiratória, inicialmente
em situações relacionadas à geometria da PT, postura
corporal e controle muscular respiratório.
Denise da Vinha Ricieri, 2016
BFG MODELLING E-book UM HISTÓRICO COMENTADO DA FOTOGRAMETRIA, DA FOTOGRAFIA E DAS ORIGENS DA BIOFOTOGRAMETRIA©
50
CÓDIGO DESTE EBOOK: 2016.5392.L1.C1M
No link https://www.researchgate.net/profile/Denise_Ricieri você acessa
na íntegra meus principais textos publicados, incluindo a
Dissertação de Mestrado e a Tese de Doutorado
que serviram de base para esse e-book.