orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

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CONSULTA PÚBLICA DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO (VERSÃO PRELIMINAR) PERÍODO DA CONSULTA PÚBLICA: 27 DE FEVEREIRO A 28 MARÇOS DE 2012. A Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/MT por meio da Secretaria Adjunta de Políticas Educacionais/Superintendência de Diversidades Educacionais/Gerência de Educação Especial disponibiliza as Escolas Estaduais, aos Centros de Educação de Jovens e Adultos, aos Centros de Formação dos Profissionais da Educação – CEFAPRO e as Assessorias Pedagógicas a versão preliminar das ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO para que os profissionais da educação básica, em contato com este documento, tenham a oportunidade de ler, discutir, criticar e apresentar sugestões, servindo deste modo de subsidio ao aperfeiçoamento da proposta, visando o fortalecimento da articulação entre esta modalidade e o ensino regular, na perspectivas da educação inclusiva. A versão preliminar das ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO, elaborada a partir do princípio da garantia de condições de pleno acesso a educação dos estudantes público alvo da educação especial, se destina a subsidiar a discussão e construção da proposta. Sendo assim, após a leitura e elaboração da proposta, esta deverá ser enviada a titulo de contribuições para o endereço: ([email protected] ). Podendo, ainda, esta versão preliminar do documento ser acessada durante o período da consulta pública através do site da SEDUC – (www.seduc.mt.gov.br ), em link específico. Esperamos desta forma que as contribuições a serem enviadas à SEDUC/MT espelhem o envolvimento e a participação de todos os educadores no processo de discussão e elaboração da proposta de atendimento educacional da pessoa com deficiência, na perspectiva da educação inclusiva, no Estado de Mato Grosso. Na certeza de que o documento encaminhado possibilitará a todos os educadores, na comunidade escolar, nos centros de EJA, nos CEFAPROs e nas assessorias pedagógicas a construção coletiva de conhecimento e experiências pedagógicas que valorizam as diferenças humanas. Desejamos, ainda, que este documento seja amplamente disseminado e debatido, visando a plena garantia da educação inclusiva. Fátima Aparecida Resende da Silva Secretaria Adjunta de Políticas Educacionais

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Page 1: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

CONSULTA PÚBLICA DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO (VERSÃO PRELIMINAR )

PERÍODO DA CONSULTA PÚBLICA : 27 DE FEVEREIRO A 28 MARÇOS DE 2012.

A Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/MT por meio da Secretaria

Adjunta de Políticas Educacionais/Superintendência de Diversidades

Educacionais/Gerência de Educação Especial disponibiliza as Escolas Estaduais,

aos Centros de Educação de Jovens e Adultos, aos Centros de Formação dos

Profissionais da Educação – CEFAPRO e as Assessorias Pedagógicas a versão

preliminar das ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A EDUCAÇÃO

ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO para que os profissionais da educação

básica, em contato com este documento, tenham a oportunidade de ler, discutir,

criticar e apresentar sugestões, servindo deste modo de subsidio ao

aperfeiçoamento da proposta, visando o fortalecimento da articulação entre esta

modalidade e o ensino regular, na perspectivas da educação inclusiva.

A versão preliminar das ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO, elaborada a partir do princípio da

garantia de condições de pleno acesso a educação dos estudantes público alvo da

educação especial, se destina a subsidiar a discussão e construção da proposta.

Sendo assim, após a leitura e elaboração da proposta, esta deverá ser

enviada a titulo de contribuições para o endereço: ([email protected]).

Podendo, ainda, esta versão preliminar do documento ser acessada durante o

período da consulta pública através do site da SEDUC – (www.seduc.mt.gov.br), em

link específico.

Esperamos desta forma que as contribuições a serem enviadas à SEDUC/MT

espelhem o envolvimento e a participação de todos os educadores no processo de

discussão e elaboração da proposta de atendimento educacional da pessoa com

deficiência, na perspectiva da educação inclusiva, no Estado de Mato Grosso.

Na certeza de que o documento encaminhado possibilitará a todos os

educadores, na comunidade escolar, nos centros de EJA, nos CEFAPROs e nas

assessorias pedagógicas a construção coletiva de conhecimento e experiências

pedagógicas que valorizam as diferenças humanas. Desejamos, ainda, que este

documento seja amplamente disseminado e debatido, visando a plena garantia da

educação inclusiva.

Fátima Aparecida Resende da Silva Secretaria Adjunta de Políticas Educacionais

Page 2: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO

Versão Preliminar Encaminhada à Gerência de Educação Especial

Dezembro de 2011

SEDUC-MT

SEDUC-MT

Page 3: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DE DIVERSIDADES EDUCACIONAIS

GERÊNCIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

ORIENTAÇÕES CURRICULARES E PEDAGÓGICAS PARA A

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DE MATO GROSSO

Consultor: Prof. Dr. Moaci Alves Carneiro

SEDUC-MT

SEDUC-MT

Page 4: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

ÍNDICE

CAPÍTULOS

* PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO BRASILEIRO COMO FONTES INDUTORAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS .............................................. 05

* O BRASIL NO ESTUÁRIO DOS COMPROMISSOS INTERNACIONAIS COM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA .............................................................................................. 12

* A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO ............................................................ 27

* A EDUCAÇÃO ESPECIAL EM MATO GROSSO: ARTICULAÇÃO DAS BASES CONCEITUAIS, LEGAIS E NORMATIVAS.................................................................... 37

* TIPOLOGIAS DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL, ABRANGÊNCIA DE OFERTA E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO .............................. 53

* PLATAFORMAS DE ATENDIMENTO A ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL DISPONIBILIZADAS PELA SEDUC-MT .................................................................. 64

* CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E EIXOS ESTRUTURANTES DA

EDUCAÇÃO ESPECIAL ................................................................................................ 87

* A CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS NÍVEIS FORMAIS DE ENSINO SOB A INSPIRAÇÃO DE UMA SÓ ESCOLA PARA TODOS......................... 99

* O CURRÍCULO FLEXIBILIZADO E AS LINHAS GERAIS DE ADEQUAÇÃO CURRICULAR NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ........................................ 126

* ROTAS DE INTERLOCUÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL COM A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ........................................................................................................... 134

* A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA DO SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO DO ESTADO DE MATO GROSSO ...................................... 163

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 167

ANEXOS ....................................................................................................................... 174

Page 5: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

APENAS, DIFERENTE

Foi assim: A vida chegou, Trazendo, de sobra, Um pouco Do que me faltou. Foi assim: A vida me deu Um ser diferente. Traços de vida, Da vida da gente. Foi assim: A vida a falar De forma eloquente. - Vai longe, mais longe, Continuamente! Foi assim: A vida explodiu Quase irresistente. - Não é impossível. Em frente, em frente! Foi assim: A vida se impôs Marcante, presente. Nem menos, nem mais, Apenas, diferente.

Moaci Alves Carneiro

In Meus Olhares

Ed. I.I/BsB, 2010

Page 6: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

5

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO BRASILEIRO COMO FONTES INDUTORAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS

“Se as coisas são inatingíveis – ora! não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas”.

Mário Quintana

A Constituição Brasileira demarca como fundamentos da República

Federativa do Brasil a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os

valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político (CF/88, art.

1º).

Este corpo principiológico cimenta todo o articulado constitucional

e se hospeda vigorosamente na formulação do Capítulo I, art. 5º, e do Capítulo II,

art. 6º, transformando-se em manancial de compreensão e de verdadeiros pilares de

toda a nossa Lei Magna. Vejamos as suas respectivas formulações:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (...) Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela EC n. 64/10).

SEDUC-MT

Page 7: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

6

É relevante observar que a dignidade da pessoa humana refoge do

rol dos direitos e garantias fundamentais para se firmar, de forma irradiante, como

princípio fundamental (art. 1º, inciso III, CF/88), imprescindível à legitimação da

atuação do Estado. Ela é base e fundamento de todos os direitos e garantias

fundamentais, como critério hermenêutico de normativa infraconstitucional. Há,

desta forma, uma relação intrínseca entre dignidade da pessoa humana e princípios

fundamentais à medida mesma em que tais princípios são explicitações, em

intensidade variável, da dignidade da pessoa humana. Este entendimento ganha

cada vez maior e mais sólida envergadura, sobretudo em época de globalização

jurídica. O próprio direito à igualdade encontra-se ancorado na dignidade da pessoa

humana, não sendo outra a razão por que a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, da ONU, consagrou que todos são iguais em dignidade e em direitos.

De outra forma, os direitos sociais, de natureza prestacional, postam-se a serviço da

igualdade e da liberdade material, em cujo horizonte acha-se a proteção individual

face a necessidade e carências de teor material e, ainda, a garantia de um viver, de

um conviver e de um existir com dignidade.

Base de todo ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da

dignidade é vetor de demarcação dos direitos fundamentais e, por isto, “(...) atua

como limite dos direitos e limite dos limites, isto é, barreira última contra a

atividade restritiva dos direitos fundamentais”, como ressalta Sarlet (2003:120).

O impacto do princípio constitucional da dignidade humana no

campo do direito à educação é potencialmente forte e recorrente em todas as

situações de demanda educacional sob perspectiva biviária. De um lado, pelo

avigoramento da tutela da dignidade humana, e, de outro, pela força indutora da

preservação de elementos estruturantes da vida, como a cultura, a diversidade

humana, o direito de personalidade e a construção da identidade pessoal, da

imagem social e da cidadania política e produtiva.

Page 8: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

7

Estes vários caminhos dos constituintes humanos plasmam o

enredamento de uma cidadania livre, solidária e crítica, elementos de viabilidade e

de sustentação de um Estado Democrático de Direito.

Pode-se dizer, por fim, que a Constituição Federal firma o direito à

educação como parte integrante da condição da dignidade da pessoa humana e o

confirma como componente do mínimo existencial1. Neste particular, convém

ressaltar que o constituinte originário afirmou o ensino obrigatório, mais do que

uma norma programática, um direito público subjetivo. Portanto, um direito

munido de ação protetória.

As obrigações do Estado em relação à educação estão enumeradas

na Carta Magna de forma precisa, peremptória e imperativa, como se pode inferir

da leitura do Anexo do Capítulo I. Mais do que isto: a Constituição ressalta que a

educação é dever de todos e do Estado. Neste horizonte de compartilhamento de

responsabilidades, ela visa ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205), com padrão de

qualidade (art. 206, VII). Importa dizer que o direito à educação é insuficiente. É

1 O conceito de mínimo existencial é complexo e não possui uma compreensão única entre os

doutrinadores. Há uma convergência, porém, em torno dos seguintes aspectos: os direitos

fundamentais (e os sociais, igualmente) traduzem uma ordem de valores com objetivação na e pela

Constituição. A vinculação destes direitos com a garantia de um mínimo existencial é direta e

inafastável, uma vez que uma vida com dignidade se expressa por via das condições materiais de

sua organização, ou seja, das condições concretas mínimas para uma existência digna. Infere-se,

desta forma, que o mínimo existencial não tem como objeto o estabelecimento da dignidade em si

mesma, mas a sua proteção e promoção. Neste contexto, como afirma Sarlet (2007:337), “(...) há que

se enfatizar que o mínimo existencial – compreendido como todo o conjunto de prestações materiais

indispensáveis para assegurar a cada pessoa uma vida condigna (portanto, saudável) – tem sido

identificado – por alguns – como constituindo o núcleo essencial dos direitos fundamentais sociais,

núcleo este blindado contra toda e qualquer intervenção por parte do Estado e da sociedade”. Em

síntese, o mínimo existencial é conceito que ultrapassa a noção de mínimo vital para hospedar-se

na compreensão mais abrangente de um conjunto de garantias materiais para uma vida condigna.

Page 9: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

8

necessário que haja qualidade social na educação pública. Estamos diante de uma

imposição constitucional e de uma exigência da sociedade democrática. Aos

sistemas de ensino cabe, portanto, disponibilizar, através de sua rede escolar

regular, ensino de qualidade, como pressuposto do direito à educação e como

condição de desenvolvimento social. Para tanto, impõem-se políticas públicas

concertadas com os objetivos da educação, nos termos do art. 205 da Constituição

Federal e do artigo 2º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e, ao

mesmo tempo, explicitados nos parâmetros de organização e funcionamento

escolar, plantados no princípio fundante de inclusão social.

Dentro de uma visão democrática de Estado, convém destacar, de

plano, que a inclusão transborda da dimensão pedagógica para se situar na esfera

política e cultural, uma vez que pautada por um enfoque de transformação social.

Trata-se, aqui, de ampliar as oportunidades de acesso, garantindo a autonomia para

cada um exercer o direito à diferença e, também, à integração de saberes,

conhecimentos e formas de fazer, produzir e construir mecanismos alternativos de

sobrevivência, a partir do sistema estabelecido de ensino, uma vez que a escola

pública é praticamente a seara exclusiva de aquisição e desenvolvimento do

conhecimento sistematizado, posta à disposição das classes populares.

Page 10: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

9

À luz dos dispositivos constitucionais ora enfocados, quatro

conceitos se interpenetram para a formação de um conceito final de escola

compreensiva2.

O primeiro é o conceito dinâmico e transformador de inclusão.

Trata-se de movimento da sociedade (sociedade inclusiva) voltado para produzir a

igualdade de oportunidade com êxito PARA TODOS. Quando focada sob o

ângulo individual, a inclusão supõe que cada um tenha a oportunidade de, fazendo

suas próprias escolhas, construir sua identidade social. Ou seja, autodeterminar-se.

O segundo é o conceito articulador de educação inclusiva. Refere-se

a um conjunto de processos educacionais decorrentes da execução de políticas

públicas impeditivas de qualquer forma de isolamento e de segregação. Estas

políticas buscam alargar o acesso à escola regular e às classes comuns, ampliando a

participação e assegurando a permanência, com êxito, de TODOS OS ALUNOS,

independentemente de suas particularidades. Sob o ponto de vista prático, a

educação inclusiva garante a qualquer um o acesso à educação básica.

O terceiro é o conceito de sistemas educacionais inclusivos.

Reporta-se a estruturas e organizações funcionais que envolvem concepção,

2 A expressão, aqui, é usada em sentido próprio, significando que a escola compreende que cada

aluno é diferente dos demais. Neste sentido, todos estão no circuito de uma educação especial.

Porém, há alunos que possuem necessidades educacionais específicas para cujo atendimento a

escola disponibiliza auxílio psicopedagógico e serviços educacionais baseados na provisão de

recursos que lhes garanta, dentro do mesmo sistema, um grau de desenvolvimento e maturidade

compatível com os objetivos gerais da educação.

Neste particular, a escola compreensiva é desdobramento institucional do princípio de

compreensibilidade do sistema a que pertence. Este assume políticas compatíveis com uma

progressiva diversificação, estimula a adoção de pedagogia das diferenças, potencializa alternativas

de disponibilização de recursos humanos e materiais complementares de que determinados alunos

poderão necessitar no seu percurso escolar, a fim de poderem se desenvolver maximamente no

plano pessoal e social.

Page 11: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

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desenvolvimento, implantação, implementação, acompanhamento e contínua

avaliação de políticas de educação. Trabalha, sob o ponto de vista operacional, com

um alinhamento de atividades voltadas para os seguintes focos:

• Garantia de acesso, de permanência e de aprendizagem

exitosa dos alunos, com o compromisso público de

desenvolver, ao máximo, suas potencialidades;

• Asseguramento a todos os alunos em idade escolar, não

apenas da matrícula, mas também do vivenciamento pleno

do currículo e do feixe de experiências disponibilizadas pela

rede escolar;

• Arregimentação e financiamento de meios concretos de

apoio à aprendizagem, destacando, através do planejamento

sistêmico, o que é relevante e possível a cada aluno;

• Montagem de estratégias e de ações articuladas para que os

alunos com necessidades educacionais especiais possam

ingressar e realizar, com êxito, seu itinerário de formação

escolar e de desenvolvimento pessoal.

O quarto é o conceito, ao mesmo tempo acolhedor e emancipador,

de escola inclusiva. Remete à instituição de ensino regular com matrícula aberta a

TODOS OS ALUNOS indistintamente. Este conceito é a base de sustentação de

uma só escola para todos3. Além de trabalhar o conhecimento de forma

3 Idéia formalizada e assumida por 123 países, dentre os quais o Brasil, na Conferência Mundial

sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia. O evento ocorreu entre 05 e 09 de março de

1990 e serviu para deflagrar uma agenda internacional de atividades e compromissos sucessivos no

campo da educação inclusiva. No capítulo seguinte, ampliaremos esta visão.

Page 12: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

11

sistematizada, esta escola busca objetivar processos de aprendizagem de acordo

com as necessidades básicas de aprendizagem de cada aluno.

Page 13: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

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O BRASIL NO ESTUÁRIO DOS COMPROMISSOS INTERNACIONAIS COM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

“Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim.

Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para seu infortúnio.

Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica,

pode prover todas as nossas necessidades”.

Charles Chaplin

A construção da sociedade inclusiva ganhou corpo nos anos oitenta

e noventa a partir de grandes reuniões internacionais patrocinadas por órgãos das

Nações Unidas (UNESCO, UNICEF, OIT) e por agências multilaterais (BIRD,

BID) e, ainda, organismos internacionais como a OCDE.

À medida que crescia o processo de globalização, ampliava-se, de

forma articulada, a rede de sistemas públicos de ensino, em diferentes níveis,

plantadas sobre a filosofia pedagógica de uma educação que garanta o

desenvolvimento de uma escola que rejeite a exclusão e promova a aprendizagem

conjunta e sem barreiras. Estabeleciam-se novos paradigmas, valorizando as

diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero e de compreensão da

subjetividade humana.

Diante deste quadro de transformações, os governos passaram a ser

questionados pela própria sociedade que exigia novas marcações de igualdade e de

respeito à diversidade entre as pessoas e o mundo que as circunda.

As propostas educacionais voltadas para a inclusão saíam do campo

da mera tolerância e respeito, sentimentos quase sempre entranhados em

dimensões éticas conservadoras. A primeira por ocultar, algumas vezes, um olhar

apenas generoso. A segunda por oferecer risco de cair numa generalização e, pior,

SEDUC-MT

Page 14: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

13

conduzir à compreensão de que as diferenças são fixas e definitivamente

estabelecidas, assim que somente nos cabe respeitá-las. Esta visão, conducente a

processos educacionais desarticulados, tornara-se responsável por uma escola

desviada do essencial e do global: o aluno e sua circunstância.

Para a universalização deste nível de compreensão e para o

entranhamento destas idéias, foram realizadas várias conferências internacionais

com o objetivo de estabelecimento de pactos em torno da questão do eixo

inclusão/acessibilidade: por parte de todos os governos. Estavam, assim, criados os

canais de irradiação da idéia de educação inclusiva institucionalizada e de uma

educação especial re-conceituada. Jomtien (1990), Salamanca (1994) e Guatemala

(2001) representam o alinhamento destas diferentes agendas internacionais que

culminaram com declarações/compromissos por parte de todos os países

participantes e signatários de seus documentos finais. Uma visão-síntese de cada

uma delas poderá nos ajudar a compreender o nível e teor dos seus

desdobramentos na legislação brasileira.

Sob os auspícios da UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial,

a Conferência de Jomtien serviu de chão para a implantação definitiva, em nível

planetário, de uma consciência/compromisso por parte dos governos, no que tange

à educação básica como prioridade.

A Declaração Mundial da Conferência demarcou sete tipos de

alianças e parcerias, com a seguinte configuração:

• Intergovernamentais;

• Intersecretariais;

• Intergovernamentais e não-governamentais (ONG’s);

• Com envolvimento comunitário;

• Com envolvimento das famílias;

Page 15: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

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• Com envolvimento empresarial;

• Com envolvimento de todos.

Estas alianças deverão ser fixadas a partir dos seguintes pressupostos:

• Vinculação estrita entre o estabelecimento de políticas

educacionais e a recuperação da condição da cidadania;

• Participação ampla e solidária para a construção do

conhecimento;

• Interação entre educandos e educadores;

• Compreensão contextualizada (grifo nosso) das condições

de vida das populações;

• Políticas públicas para a melhoria da distribuição da renda;

• Posicionamento do Estado como o principal articulador do

atendimento às demandas sociais;

• Responsabilidade da sociedade de fiscalizar as políticas

educacionais.

Jomtien não apenas firmou a Declaração Mundial sobre a

Educação para Todos, mas também confirmou um Plano de Ação para Satisfazer as

Necessidades Básicas de Aprendizagem.

Pelo documento, a EDUCAÇÃO PARA TODOS tem os seguintes

objetivos:

• Artigo 1 – Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem;

• Artigo 2 – Expandir o enfoque;

Page 16: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

15

• Artigo 3 – Universalizar o acesso à educação e promover a

equidade;

• Artigo 4 – Concentrar a atenção na aprendizagem;

• Artigo 5 – Ampliar os meios e o raio de atuação da educação;

• Artigo 6 – Propiciar um ambiente adequado a aprendizagem;

• Artigo 7 – Fortalecer as alianças;

• Artigo 8 – Desenvolver uma política contextualizada de apoio;

• Artigo 9 – Mobilizar recursos;

• Artigo 10 – Fortalecer a solidariedade internacional.

Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das

Necessidades Básicas de Aprendizagem.

Os princípios de ação dirigem-se a dois níveis de abrangência,

como se pode ver:

A) NÍVEL NACIONAL

• Avaliar Necessidades e Planejar Ações;

• Desenvolver um Contexto Político Favorável;

• Definir Políticas para a Melhoria da Educação Básica;

• Aperfeiçoar Capacidades Gerenciais, Analíticas e

Tecnológicas;

• Mobilizar Canais de Informação e Comunicação;

• Estruturar Alianças e Mobilizar Recursos.

B) NÍVEL MUNDIAL

• Cooperar no Contexto Internacional;

• Fortalecer as Capacidades Nacionais;

Page 17: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

16

• Prestar Apoio Contínuo e de Longo Prazo às Ações

Nacionais e regionais.

A formulação operativa destes princípios é a seguinte:

• Avaliação das estruturas e dos sistemas existentes;

• Ações multissetoriais para a adoção de medidas voltadas ao

fomento da participação mais ampla na concepção e na

execução dos programas de educação básica;

• Estratégias específicas orientadas para melhorar as

condições da escolaridade, com os seguintes focos:

� Os educandos e seu processo de aprendizagem;

� Os educadores e administradores;

� O currículo e a avaliação de aprendizagem;

� Os materiais didáticos e as instalações;

� Melhoria da infra-estrutura de educação infantil,

uma vez que as pré-condições para a qualidade,

equidade e eficácia da educação básica são

construídas na primeira infância;

� Uso de tecnologia adequada variável de acordo

com as características de cada sociedade.

• Apropriação de canais de informação e de comunicação que

exercem poderosa influência das necessidades básicas de

aprendizagem;

• Estruturação de alianças e mobilização de recursos;

• Intercâmbio de experiências e competências;

Page 18: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

17

• Empreendimento de atividades conjuntas.

A Declaração Mundial sobre Educação para Todos e o Plano

de Ação para Satisfazer as necessidades Básicas de Aprendizagem, resultado

da Conferência Mundial de Jomtien que reuniu 1500 participantes, de 155 países,

representou o mais avançado e indutor documento em nível planetário na área da

educação inclusiva. Sinalizou rumos para mudanças radicais no campo educacional.

Apontou caminhos para um articulado de ações, envolvendo os elementos

iluminadores e estruturantes dos sistemas de ensino, como se pode verificar:

NO CAMPO DOS DIREITOS DA CRIANÇA À EDUCAÇÃO:

a) (...) todas as criança, de ambos os sexos, têm direito

fundamental à educação e que a elas deve ser dada a

oportunidade de obter e manter nível aceitável de

conhecimento;

b) (...) cada criança tem características, interesses, capacidades

e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios;

NO CAMPO DO DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA:

a) As pessoas com necessidades educacionais especiais devem

ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa

pedagogia centralizada na criança;

b) (...) que todas as crianças, sempre que possível, possam

aprender juntas, independentemente dessas dificuldades e

diferenças;

Page 19: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

18

NO CAMPO DAS RESPONSABILIDADES DOS SISTEMAS DE ENSINO.

a) (...) os sistemas educacionais devem ser projetados e os

programas aplicados de modo que tenham em vista toda

gama dessas diferentes características e necessidades;

b) Cabe aos sistemas educativos adotar com força de lei ou

como política, o princípio da educação integrada que

permita a matrícula de todas as crianças em escolas

comuns, a menos que haja razões convincentes para o

contrário;

c) Deverão ser tomadas as medidas necessárias para conseguir

a mesma política integradora de jovens e adultos com

necessidades especiais, no ensino secundário e superior,

assim como nos programas de educação profissional.

NO CAMPO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

a) As políticas educacionais deverão levar em conta as

diferenças individuais e as diversas situações. Por isso,

devem desenvolver uma pedagogia centralizada na criança,

capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas,

inclusive os que sofrem de deficiências graves;

b) As crianças com necessidades educacionais especiais devem

receber, a partir de políticas educacionais integradoras,

todo apoio adicional necessário para garantir uma educação

eficaz. Significa que deverá ser dispensado apoio contínuo,

desde ajuda mínima nas classes comuns até aplicação de

Page 20: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

19

programas suplementares de apoio pedagógico na escola,

ampliando-se, quando necessário, para receber ajuda de

professores especializados e de pessoal de apoio externo.

NO CAMPO DAS FUNÇÕES DA ESCOLA REGULAR

a) As escolas comuns, com essa orientação integradora,

representam o meio mais eficaz de combater atitudes

discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras,

construir uma sociedade integradora e dar educação para

todos; além disso, proporcionam uma educação efetiva à

maioria das crianças e melhoram a eficiência e, certamente,

a relação custo-benefício de todos os sistemas educativos;

b) A inclusão de alunos com necessidades educacionais

especiais, em classes comuns, exige que a escola regular se

organize de forma a oferecer possibilidades objetivas de

aprendizagem, a todos os alunos, especialmente àqueles

portadores de deficiências.

Estas diretrizes políticas têm funcionado como insumos

norteadores para os novos rumos de uma educação básica universalizada e, ao

mesmo tempo, como dormentes para a sustentação de reformas nas leis da

educação nacional de todos os países do mundo. Em conseqüência, tem tido

repercussão direta em múltiplos cenários, com destaque para:

CENÁRIO POLÍTICO

• Os sistemas de ensino devem garantir matrículas a todo e

qualquer aluno;

Page 21: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

20

• Os alunos com necessidades educacionais especiais devem

ser incluídos nas classes comuns;

• A política de inclusão requer a intensificação quantitativa e

qualitativa das ações de formação de recursos humanos e de

garantia de recursos financeiros e de parcerias dos serviços

de apoio pedagógico na esfera público/privada.

CENÁRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO

• O ensino na diversidade exige uma re-formação dos

professores;

• O trabalho docente deve ganhar nova envergadura com

atividades mais duradouras em equipe;

• A escola passa a contar, necessariamente, com dois grupos

de professores capacitados, trabalhando

interdisciplinarmente: o professor da classe comum

devidamente capacitado e o professor com qualificação

específica em educação especial.

CENÁRIO PEDAGÓGICO

• Os professores devem ser preparados para trabalhar com

diferentes estratégias e metodologias de ensino, uma vez

que todos os alunos, a qualquer momento de suas vidas,

podem apresentar necessidades educacionais especiais;

• Algumas necessidades educacionais especiais requerem, da

escola, uma gama de recursos e de apoios específicos, como

forma de o aluno poder acessar ao currículo.

Page 22: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

21

CENÁRIO ADMINISTRATIVO

• Os desafios da educação especial passam a exigir estruturas

formais de apoio em nível de sistema e de escola, como

condição de acessibilidade plena aos níveis de

operacionalidade da educação inclusiva;

• O compromisso político com a educação inclusiva supõe

instâncias permanentemente responsáveis pelo

desenvolvimento de estratégias de comunicação e de

execução de processos e de procedimentos para:

� Fomentar atitudes pró-ativas das famílias, alunos,

professores e da comunidade escolar em geral;

� Superar obstáculos da ignorância, do medo e do

preconceito;

� Divulgar os serviços e recursos educacionais

existentes;

� Difundir experiências bem sucedidas de educação

inclusiva;

� Estimular o trabalho voluntário no apoio à

inclusão escolar;

� Potencializar os mecanismos de articulação,

envolvendo instâncias do governo estadual,

Ministério Público, Conselhos Estaduais de

Educação, Conselhos Tutelares, Juizados da

Infância e da Adolescência, OAB, Pastorais das

Crianças e tantos outros órgãos, desde que

possam desempenhar funções de vigilância para a

Page 23: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

22

adequada execução das políticas de educação

inclusiva.

O fecho da Declaração de Jomtien é uma verdadeira declaração de

compromisso social e humano irreversível à educação inclusiva:

Jamais testemunharemos um outro momento tão propício à renovação do compromisso com o esforço a longo prazo para a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos. Tal esforço exigirá, contudo, um muito maior e racional aporte de recursos para a educação básica e capacitação do que tem sido feito até o momento. Todavia, os benefícios advindos deste esforço começarão a ser colhidos de imediato, e crescerão um tanto cada dia, até uma solução dos grandes problemas mundiais que hoje enfrentamos. E isso graças, em grande parte, à determinação e perseverança da comunidade internacional na persecução de sua meta: EDUCAÇÃO PARA TODOS.

A seguir, cabe destacar a Declaração de Salamanca, da qual o

Brasil é signatário.

Em junho de 1994, estiveram reunidos 88 países e 25 organizações

internacionais na Conferência Mundial de Educação Especial, que culminou com a

aprovação do documento “Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e

Prática em Educação Especial”.

A Declaração estabelece que os governos:

a) atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao

aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de

se tornarem aptos a incluírem todas as crianças,

independentemente de suas diferenças ou dificuldades

individuais;

Page 24: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

23

b) adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei

ou de política, matriculando todas as crianças em escolas

regulares, a menos que existam fortes razões para agir de

outra forma;

c) encorajem e facilitem a participação de pais, comunidades e

organizações de pessoas portadoras de deficiências nos

processos de planejamento e tomada de decisão

concernente à provisão de serviços para necessidades

educacionais especiais;

d) invistam maiores esforços em estratégias de identificação e

intervenção precoces, bem como nos aspectos vocacionais

da educação inclusiva;

e) garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica,

programas de treinamento de professores, tanto em serviço

como durante a formação, incluam a provisão de educação

especial dentro das escolas inclusivas;

f) estimulem a comunidade acadêmica no sentido de

fortalecer pesquisas que se encontram nos assuntos que

tratam dos problemas das pessoas portadoras de deficiência.

Em conformidade com o texto da Declaração, o princípio básico

que orienta a Estrutura de Ação em Educação Especial é o de que todas as crianças

devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer

dificuldades ou diferenças físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou

outras.

Page 25: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

24

A Declaração de Salamanca sinaliza, de forma clara, a escola

concebida para o século XXI, abrindo os sistemas de ensino a todos os alunos,

como se pode ver:

As necessidades educativas especiais incorporam os princípios já provados de uma pedagogia equilibrada que beneficia todas as crianças. Parte do princípio de que todas as diferenças humanas são normais e de que a aprendizagem deve, portanto, ajustar-se às necessidades de cada criança, em vez de cada criança se adaptar aos supostos princípios quanto ao ritmo e à natureza do processo educativo. Uma pedagogia centralizada na criança é positiva para todos os alunos e, consequentemente, para toda a sociedade. (...). As escolas que se centralizam na criança são, além disso, a base para a construção de uma sociedade centrada nas pessoas, que respeite tanto a dignidade como as diferenças de todos os seres humanos. Existe imperiosa necessidade de mudança da perspectiva social (Declaração de Salamanca, 1994).

A implicação desse redirecionamento é uma oferta de

oportunidades de aprendizagem a todos os alunos indistintamente, com base no

respeito à diversidade. Daí, a obrigação de tornar estas intenções explícitas, no

Projeto Pedagógico. O currículo escolar, por outro lado, proposto mediante um

desenho dinâmico e flexível, permitirá ajustes e adequações de acordo com as

singularidades dos alunos.

Diz, ainda, a Declaração de Salamanca na direção das singularidades

individuais para aprender e da escola comum para estudar:

Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios; os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades; pessoas com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades (Declaração de Salamanca, 1994).

Page 26: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

25

A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência –

Guatemala/2001 é a terceira conferência a se destacar pela relevância da agenda. Os

focos principais estão assim formulados:

FOCOS:

a) Impossibilidade de diferenciação com base na deficiência;

b) Definição de discriminação como toda diferenciação,

exclusão ou restrição baseada em deficiência;

c) Inaceitabilidade da percepção de deficiência presente ou

passada que busque anular o reconhecimento, gozo ou

exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência, de

seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais (Art.

I, n. 02, “a”).

Este conteúdo é peremptório e direto, ou seja, se não é possível

fazer qualquer diferenciação com base na deficiência, o lugar do aluno da educação

especial é na escola regular.

A Convenção da Guatemala ratifica valores e princípios assentados

em consensos internacionais, como se pode verificar. Ou seja, não há desarmonia

nem, muito menos, distância de concepção de justiça e de igualação de direitos

entre o prescrito no texto da Convenção de Guatemala e o conteúdo da

Constituição brasileira. O mesmo se pode dizer em relação aos textos

constitucionais dos demais países subscritores da Convenção. Tanto é assim que,

em tom solene e próprio de documentos internacionais oficiais, os Estados Partes

da Convenção abrem o documento com o termo REAFIRMANDO... Portanto,

trata-se de uma posição ratificadora de valores e princípios como se pode inferir:

Page 27: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

26

REAFIRMANDO que as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano. (...)

A repercussão das decisões destas conferências nas legislações

nacionais é direta e imediata. Como preleciona Mazzuolli (2009:335), “quando um

Estado assume um compromisso internacional quem se compromete juridicamente

é toda a nação, toda a comunidade que integra o Estado, compreendidas sua

população e suas autoridades (poder estatal). A normatividade dos tratados

internacionais permite, no que concerne à hierarquia das fontes, situá-los no

mesmo plano e no mesmo grau de eficácia em que se posicionam as nossas leis

internas”. E arremata: “(...) tratados e convenções guardam estrita relação de

paridade normativa com as Leis ordinárias, editadas pelo Estado”. E mais, se

versarem sobre direitos humanos assumirão, nos termos do atual entendimento da

Suprema Corte brasileira, status jurídico de supra-legalidade, isto é, hierarquia

superior às Leis ordinárias, mas inferior às normas constitucionais4.

É de se compreender, desta forma, que todas estas conferências

definem compromissos da parte dos países signatários, dentre os quais está o

direito à escola comum por parte de todos INDISTINTAMENTE. Vale

acrescentar que, no caso da Convenção da Guatemala, o documento final foi

aprovado pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo n. 198, de 13 de

junto de 2001 e promulgado pelo Decreto n. 3.956, de 08 de outubro de 2001.

4 Cf. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, RE n. 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de

22.11.2006.

Page 28: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

27

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

“Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita:

É a vida, é bonita e é bonita”.

Gonzaguinha

O Governo do Estado de Mato Grosso tem adotado políticas

públicas e práticas educacionais comprometidas com mudanças radicais assestadas

para a intensificação de processos de redução dos níveis de desigualdade social. No

bojo dos programas de governo, posiciona-se, de forma firme e vigorosa, o

compromisso com a edificação de um sistema público de ensino inclusivo.

As políticas públicas adotadas têm sido concebidas e acionadas

como resposta do Estado às demandas crescentes e variadas da sociedade em geral

e das comunidades locais em particular. Tornam-se expressão do compromisso

público de atuação numa determinada área (no caso em tela, na área da educação

inclusiva), a longo prazo. A política pública pode ser entendida como “(...) uma

linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei.

É mediante as políticas públicas que são distribuídos ou redistribuídos bens e

serviços sociais, em resposta às demandas da sociedade. Por isso, o direito que as

fundamenta é um direito coletivo e não individual (Pereira apud Degennszajh,

2000:59).

No bojo das diversas políticas públicas, como a tecnológica, a

ambiental, a cultural etc., a política social é um tipo de política pública que se

manifesta através de um conjunto de princípios, diretrizes, objetivos, normas,

procedimentos e agendas, de caráter permanente e abrangente, que norteiam os

rumos do poder público em determinada área.

SEDUC-MT

Page 29: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

28

Outrossim, cabe esclarecer a dimensão semântica do termo público,

na expressão política pública. É, ainda, Pereira quem destaca:

O termo público, associado à política, não é uma referência exclusiva ao Estado, como muitos pensam, mas, sim, à coisa pública, ou seja, de todos, sob a égide de uma lei e o apoio de uma comunidade de interesses. Portanto, embora as políticas públicas sejam reguladas e frequentemente providas pelo Estado, elas também englobam preferências, escolhas e decisões privadas, podendo (e devendo) ser controladas pelos cidadãos. A política pública expressa, assim, a conversão de decisões privadas em decisões e ações públicas, que afetam a todos. (idem, ibidem).

É precisamente à luz desta compreensão que o Governo do Estado

de Mato Grosso, através da Secretaria de Educação e de todos os órgãos

estruturalmente a ela vinculados, assume, de um lado, o compromisso de edificar

uma sociedade mais humana e menos desigual e, de outro, construir mecanismos

de inclusão social, política e econômica, desafios inafastáveis da educação básica.

No bojo desta compreensão, impõe-se a adoção de um sistema

único de ensino, eliminando-se, desta forma, a concepção inadequada de ensino

especial como algo separado da educação geral e do ensino regular. Esta

compreensão reconceituada de educação especial não desconhece que alguns

alunos apresentam-se com limitações vinculadas ao seu próprio desenvolvimento.

Uma criança cega ou surda, por exemplo, chega à escola com necessidades

adicionais específicas. A questão, agora, como anotam Marchesi e Martín (2000:37),

é que o foco dirige-se para capacidade da escola em responder efetiva e

positivamente às demandas que lhe chegam.

Pensar nesta direção já não é certamente discutir a natureza

paradigmática da escola inclusiva, se não a sua concepção pragmática, a estrutura

operacional e os dispositivos institucionais e burocráticos capazes de responder

como, de que forma e com que meios vão se encaixar ações escolares inclusivas?

Page 30: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

29

Por esta razão, a busca de uma configuração re-conceituada de organização e

funcionamento de sistema de ensino, aberto e universalmente acessível, tem sua

explicitação em uma escola de educação básica pautado por uma organicidade

endógena (níveis e modalidades de ensino) e exógena (articulação, conhecimento,

trabalho e cultura). Deste conúbio, deverá resultar uma escola de educação básica

com identidade própria. Uma escola compreensiva, com qualificação, portanto,

protagonista de processos de transformação que, partindo das políticas de educação

operadas pelo sistema educacional, deságuem na gestão escolar, na sala de aula e

nos procedimentos de avaliação.

O documento anterior Orientações Curriculares para a

Educação Básica do Estado de Mato Grosso sinaliza as rotas desta escola:

• Metas claras e democraticamente estabelecidas no sentido de orientar a

ação política do Estado em todas as instâncias, particularmente no

tocante a investimentos;

• Uma concepção formulada de modo a integrar todos os saberes,

articulando formação científica, tecnológica e cultural, com vistas a

superar a ruptura historicamente determinada entre uma escola que

ensine a pensar através do domínio teórico-metodológico do

conhecimento socialmente reproduzido e acumulado e uma escola que

ensine a fazer através da memorização de procedimentos e do

desenvolvimento de habilidades psicofísicas.

Por esta razão, a Secretaria de Estado da Educação de Mato Grosso

aciona políticas educacionais, diretrizes de ação e mecanismos de operação da rede

escolar capazes de assegurar, a todos os alunos com necessidades educacionais

especiais, o direito a uma aprendizagem consentânea com suas potencialidades

Page 31: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

30

pessoais, na luta pela construção do direito de uma vida plena e ao usufruto de uma

cidadania edificante. Neste horizonte, desenvolve orientações curriculares e

pedagógicas que possam cimentar uma concepção de educação especial com foco

na disponibilização de recursos e de apoios destinados a propiciar, a todos os

alunos, o alcance de níveis crescentes de escolarização.

Na perspectiva ora proposta, o Sistema Público de Ensino de Mato

Grosso, através da SEDUC-MT, adota princípios gerais de intervenção no campo

da educação inclusiva, assim conformados:

A) Princípio da individualização:

• Viabilizar formas operacionais de organização e

funcionamento da escola, de tal maneira que o aluno conte com o apoio

educacional de que necessite a cada momento de sua evolução e de seu

desenvolvimento psico-social e cognitivo. Neste sentido, o tempo escolar deverá

centrar-se no tempo real do aluno. Importa dizer, como consequência, que a escola

tem que contemplar a definição de condições de antecipação de escolaridade

naqueles casos em que o aluno apresente um quadro de limitações severas que o

impossibilitem da continuidade da aprendizagem sistematizada mais avançada. Esta

possibilidade implica em se trabalhar com visões múltiplas para a aplicação do

princípio da individualização, à medida que esta se desdobra em faces plurais no

âmbito da inclusão na escola regular, como se pode ver:

� Individualização do ensino: o ensino deve

ser organizado, levando-se em conta as

distintas competências e habilidades dos

alunos;

Page 32: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

31

� Individualização da didática: os suportes

didáticos devem ser variados, considerando

que alguns alunos dispensam ajuda especial,

outros necessitam de ajuda apenas temporária

e em áreas específicas do currículo, enquanto

outros, ainda, carecem de ajuda específica,

além de ajuda terapêutica.

A ajuda diferenciada depende do ritmo e dos

níveis de aprendizagem do aluno;

� Individualização avaliativa: diferentemente

das práticas tradicionais, a ideia é trabalhar

com processos e modalidades de avaliação

que ajudem a re-configurar o percurso do

ensino-aprendizagem. Que sirva de

termômetro para capturar os níveis de

variabilidade positiva e de dificuldade que o

aluno exibe enquanto sujeito que se põe na

perspectiva do processo. Uma avaliação

acionada continuamente na perspectiva da

transformação do sujeito (Guthke,

1996:47). Toda avaliação padronizada

desrespeita a identidade do aluno.

Neste sentido, o Sistema Público Estadual de Ensino de Mato

Grosso tem um compromisso com o desmuramento de suas escolas enquanto

instituições sociais, através de uma inteira reorganização sócio-pedagógica e de uma

gestão que possibilite a cada estabelecimento escolar:

Page 33: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

32

• Abrir-se para o mundo real;

• Trabalhar as diferenças através de metodologias plurais;

• Intercambiar espaços de aprendizagem;

• Acolher dimensões pedagógicas multirreferenciadas;

• Buscar resultados múltiplos;

• Construir passarelas interinstitucionais;

• Congregar e multiplicar os círculos de cooperação;

• Conhecer e reconhecer as potencialidades de cada

comunidade e de suas instituições;

• Estimular a desestandardização da escola pública.

O Governo do Estado de Mato Grosso, através de sua Secretaria

de Educação, impõe-se a tarefa de desenvolver ações articuladas com o Governo

Federal, com os Municípios, com as universidades públicas, com instituições não-

governamentais, com todas as instituições técnico-profissionais e de formação de

professores do Estado e com o órgão normativo do sistema, na construção do

compromisso de uma educação pública de qualidade social. Tal compromisso

implica em uma reconceituação topológica de Educação Especial e de seus níveis

de operacionalização. Assenta-se, desta forma, a sua compreensão na seguinte

concepção refeita:

Page 34: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

33

a) A Educação Especial é tipologia da educação escolar

regular, transversal5 a todos os níveis, etapas e modalidades

de ensino;

b) A Educação Especial é constituinte do projeto político-

pedagógico escolar, considerando este a bússola de

orientação institucional e de construção de identidades

emancipadas;

c) Todos os alunos, sujeitos da Educação Especial, que

buscarem a Rede Pública Estadual de Ensino Regular,

terão a ela acesso pleno, matrícula assegurada, atendimento

educacional especializado e professores para o exercício de

práticas educacionais inclusivas;

d) A Educação Especial em Mato Grosso terá, da parte do

Governo do Estado, assegurados os meios e recursos que

possibilitem a articulação das políticas públicas inter-

5 O conceito operacional de transversalidade formativa exige da escola uma performance com

práticas pedagógicas do tipo:

1. Fecundar os conteúdos curriculares com valores e atitudes;

2. Manter focos político-sociais no fazer pedagógico;

3. Ressaltar as questões epistemológicas hegemônicas das áreas através de procedimentos

metodológicos múltiplos;

4. Nortear a prática pedagógica por atividades de convergência distribuídas em níveis crescentes

de responsabilidade pela formação cidadã do aluno;

5. Dosar a pedagogia dos programas, fortemente estribada em atividades formais de

aprendizagem, com a pedagogia dos objetivos;

6. Selecionar, no campo curricular, o que é, de fato, significativo para o desenvolvimento de

competências e habilidades pessoais;

7. Re-qualificar a área da avaliação, agora focada no desenvolvimento e na transformação do

aluno-cidadão e do cidadão-aluno e, não, em conteúdos e processos meramente formais.

Page 35: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

34

setoriais, a acessibilidade arquitetônica6, nas comunicações

e informações, nos mobiliários e equipamentos e nos

transportes e, ainda, programas de governos e agendas

permanentes de sensibilização, conscientização e

envolvimento da comunidade escolar em torno das

políticas sociais e educacionais inclusivas. Para tanto,

trabalhará com cronogramas, metas e instrumentos de

aferição de resultados educacionais qualitativos.

A SEDUC-MT tem a necessária clareza de que a educação inclusiva

se hospeda na sala de aula regular, dentro dela ocorre, porque só neste espaço,

pode existir, de fato. Por isso, como afirma Booth (1999a:76), a inclusão não pode

ser considerada de modo isolado da exclusão. Também, não é retirando o aluno das

instituições especiais e incorporando-os, por força da legislação, à rede regular de

ensino, que a inclusão está assegurada. Em educação, não há mágicas, há processos.

A SEDUC-MT identifica a inclusão na visão de Ainscow (1999:219):

6 Direitos humanos, democracia e acessibilidade são conceitos indissociáveis. Traduzem o respeito e

a valorização da diversidade humana, como instrumento de bem-estar e de desenvolvimento

inclusivo. A Lei n. 10.098/2000 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da

acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilização reduzida. Define

acessibilidade como a possibilidade de condição de alcance para utilização, com segurança e

autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos

sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Na origem da legislação brasileira de acessibilidade, está o conceito de desenho universal

(universal design), desenvolvido nas décadas de 60/70 e consolidado nos anos 80. A ideia básica é

evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para pessoas com deficiência, assegurando

que todos possam utilizar, com segurança e autonomia, diversos espaços construídos e objetos. A

primeira norma técnica brasileira sobre acessibilidade data de 1985. Nove anos depois (1994), esta

norma foi atualizada. Em 2004 (Decreto n. 5.296/2004), sofreu a última revisão e permanece até hoje

como instrumento regulamentador de todos os aspectos de acessibilidade no Brasil.

Page 36: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

35

A agenda da educação inclusiva refere-se à superação de barreiras, à participação que pode ser experienciada por qualquer aluno. A tendência ainda é pensar em ‘política de inclusão’ ou educação inclusiva como dizendo respeito aos alunos com deficiência e a outros caracterizados como tendo necessidades educacionais ‘especiais’. Além disso, a inclusão é frequentemente vista apenas como envolvendo o movimento de alunos das escolas especiais para o contexto das escolas regulares, com a implicação de que eles estão ‘incluídos’, uma vez que fazem parte daquele contexto.

Em contrapartida, eu vejo a inclusão como um processo que nunca termina, pois é mais do que um simples estado de mudança, e como dependente de um desenvolvimento organizacional e pedagógico contínuo no sistema regular de ensino.

B) Princípio da contextualização:

• Articular a prestação de serviços educacionais, de

saúde e sociais no chão de vivências do aluno com necessidades educacionais

especiais, assim que a ele seja dispensado o atendimento na própria escola ou nas

proximidades do seu meio ambiente natural e sócio-familiar7.

A contextualização como princípio formativo ajuda a

construir a aprendizagem com base nos seguintes focos:

� Da significação: toda aprendizagem deve ter

sentido para a vida e, por isso, deve estar

enraizada no cotidiano do aluno;

� Da situacionalidade: toda aprendizagem

deve incentivar o desenvolvimento do

7 A idéia de contextualização tem a ver, como afirma a OCDE (2009:11), “(...) com uma escola mais

consciente da coletividade-ambiente e mais disposta a satisfazer suas necessidades. Inscreve-se

num princípio mais geral que é o seguinte: os benefícios de um serviço tal como o ensino não podem

ser equitativamente repartidos, a menos que adaptados, realmente, às necessidades particulares que

se manifestam em seu meio imediato” (Tradução do Consultor).

Page 37: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

36

raciocínio em conexão com as emoções,

requisito de uma aprendizagem consistente e

duradoura;

� Da resolubilidade: toda aprendizagem deve

ser objetivada em soluções, descobertas,

invenções e processos de facilitação do agir,

do viver e do conviver;

� Da interdisciplinaridade: toda

aprendizagem deve ser resultante do

enredamento de diferentes conhecimentos

articulados;

� Da qualidade social: toda aprendizagem,

como ensina Freire (1982:24), qualquer que

seja o nível em que se dê, se fará tão mais

verdadeira quanto mais se estimule o

desenvolvimento desta necessidade radical

dos seres humanos, a de sua expressividade.

Page 38: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

37

A EDUCAÇÃO ESPECIAL EM MATO GROSSO: ARTICULAÇÃO DAS BASES CONCEITUAIS, LEGAIS, NORMATIVAS E OPERACIONAIS

“Precisamos trabalhar com metodologias multirreferenciadas para evitar

a pedagogia do clone”.

Moaci Carneiro

1. Nível de compreensão:

À luz de uma compreensão abrangente e reconceituada, a Educação

Especial vai além da noção restritiva de atendimento especializado. A partir desta

concepção e com base em um imenso inventário de pesquisas e estudos, a

Educação Especial extrapola a visão tradicional e excludente de um subsistema

isolado, para posicionar-se no corpo inteiro dos processos educacionais,

permeando, por via de abordagens e operações transversais, toda a educação básica

e toda a educação superior. O enfoque inclusivista, plantado na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional e replicado em toda a legislação decorrente, resulta na

matrícula do aluno da Educação Especial na escola regular e sua incorporação às

classes comuns de ensino.

A Educação Especial, conforme definida pelos dispositivos legais

pertinentes, é uma modalidade educativa configuradora de proposta pedagógica que

hospeda concepções, formas de exeqüibilidade e serviços especializados,

institucional e operacionalmente estruturados, assestados para apoiar,

complementar e suplementar o processo de educação escolar e o itinerário

formativo, em nível ascendente, de alunos com necessidades educacionais especiais.

Este conceito envolve o princípio democrático de educação para todos, inserida

na transversalidade das diferentes etapas e modalidades da educação escolar

SEDUC-MT

Page 39: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

38

(OCEB – MT). Ou seja, estamos diante de uma noção que ultrapassa o conceito de

escola especial.

Na base da existência de escolas especiais, está o atendimento de

alunos com limitações estruturais e funcionais. A intensidade da deficiência é o

elemento de condicionalidade para fixar as formas de intervenção e de construção

dos processos adequados para a aprendizagem efetiva. Tais processos, antes de

vinculados à educação escolar, são inerentes à natureza humana. Estão vinculados à

possibilidade aberta de todo ser humano de se constituir, de desenvolver

capacidade para aprender. Na verdade, não há ninguém despossuído desta

capacidade e desta energia vital. Por isso, Piaget8 diz que nascemos para

aprender. Ou seja, o desenvolvimento é uma condição humana e uma

imperatividade inafastável do ser. É uma condicionalidade ontológica.

8 O psicólogo e filósofo suíço, Jean Piaget (1896-1980), deu uma grande contribuição às áreas de

neurologia, psicologia e pedagogia. Para aperfeiçoar testes de QI, Piaget dedicou-se a pesquisas

sobre as fases do amadurecimento da inteligência na criança. Em 1923, publicou seu primeiro livro

com o sugestivo título A linguagem e o pensamento da criança. Em 1956, criou o Centro Internacional

de Epistemologia Genética, na Faculdade de Ciências de Genebra. Ali, demonstrou que as aptidões

para o raciocínio evoluem segundo estágios sucessivos ao longo do desenvolvimento físico da

criança. Em assim sendo, essas aptidões têm raízes, também, em estruturas genéticas. Isto

contrariava a fórmula comportamentalista estímulo/resposta que desconsiderava a representação do

que está na mente, que identifica o estimula e permite resposta. Piaget identificou quatro estágios do

desenvolvimento da capacidade de raciocínio do indivíduo. O inicial, chamado de sensório-motor,

corresponde aos dos primeiros anos de vida. A inteligência empírica, exploratória e não verbal

conduz a aprendizagem por caminhos experimentais. A criança examina e experimenta os objetos ao

seu alcance e, desta forma, vai somando conhecimentos. O segundo estágio, chamado de pré-

operacional, estende-se dos dois aos sete anos. Nesta fase, os objetos de percepção se fazem

representar por palavras. O terceiro, que vai dos sete aos doze anos, é o palco das primeiras

operações lógicas. O indivíduo passa a distinguir objetos conforme suas semelhanças ou diferenças

e os classifica. O quarto estágio, que parte dos doze anos até a idade adulta, é o tempo pleno das

operações lógicas próprias do raciocínio. Estes estágios têm caráter integrativo. Importa dizer que há

uma articulação de dependência entre o nível anterior e o nível seguinte e entre todos os níveis.

Page 40: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

39

Este requisito da natureza humana inconclusa – que nos faz

aprender sempre e aprender a aprender – implica na organização dos constituintes

humanos, em sua complexa estrutura de componentes racional, emocional e psico-

social. E implica, igualmente, em processos de adaptação, nas vertentes adequar e

superar. Este par binário traduz a própria dinâmica da evolução humana e, sem

ele, a vida perderia as rotas potenciais para se re-criar.

O desenvolvimento cognitivo submete-se a esta mesma orientação

e, por isso, enraíza-se na condição do indivíduo de se construir/re-construir por via

do recurso bio-psico-orgânico da plasticidade. A interfuncionalidade do organismo

atua no desenvolvimento de mecanismos compensatórios e subsidiários das

funções limitadas. Resulta, desta re-organização, a reorientação do funcionamento

psicológico. Desta ressituacionalidade orgânica, advêm formas de superação dos

limites decorrentes da deficiência e, por ela, impostos.

Para o professor, é decisivo compreender que as funções

remanescentes – não comprometidas pela deficiência – operam em regime de

concomitância e sob formas redinamizadas. O objetivo aqui é exatamente

reposicionar toda a estrutura potencializadora da cadeia de estímulos, na sua

performance sensorial, tátil, auditiva e sensitiva.

Fica fácil, então, compreender a relevância de a instituição escolar

dispor de equipes multiprofissionais e de professores especializados que, nos

termos da Resolução CNE/CEB n. 02/2001, sejam capazes de:

• Perceber as necessidades educacionais dos alunos;

• Flexibilizar as práticas pedagógicas nas diferentes áreas de

conhecimento;

• Trabalhar com a idéia central de aprendizagem significativa;

Page 41: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

40

• Avaliar continuamente a eficácia do processo educativo;

• Atuar em equipe;

• Documentar e intercambiar experiências.

Para estas tarefas, os professores devem se capacitar, objetivando

atuar na perspectiva de uma sala de aula que já não foca a deficiência do aluno, mas

o tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola disponibiliza para

que este aluno obtenha sucesso escolar. A resposta para a internalização curricular

pelo aluno com deficiência está nas formas e nas condições de aprendizagem que

lhe são oferecidas. É neste rumo que caminham as contribuições teóricas de

autores como Piaget e Vygotsky. Uma percepção síntese do pensamento deste

último está contida em duas de suas geniais elucidações. Invocando a “lei genética

geral de desenvolvimento cultural”, diz Vygotsky:

Toda função no desenvolvimento cultural da criança aparece duas vezes: primeiro no nível social e, mais tarde, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e então dentro da criança (intrapsicológica). Isso se aplica igualmente à atenção voluntária, à memória lógica e à formação de conceitos. Todas as funções superiores se originam como relações afetivas entre indivíduos humanos (1978:57).

A dimensão social do desenvolvimento ganha relevância no campo

da aprendizagem e, posta na ampla configuração da educação social, representa o

estuário próprio para que a pessoa com necessidades educacionais especiais possa

construir suas próprias rotas de emancipação. Para Lev Vygotsky, as relações entre

o social e o individual se situam na ampla moldura da visão dialética de mundo.

Este pensador distingue conceitos científicos de conceitos cotidianos. Quanto estas

versões se fundem, alcança-se o conceito maduro. Neste momento, define-se o

conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal/ZDP, entendida como

Page 42: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

41

(...) a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela resolução independente de problemas e o nível superior de desenvolvimento potencial, determinado pela resolução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com pares mais capazes (1878:86)9.

Nesta perspectiva, a incoincidência entre instrução e

desenvolvimento é marcante. São processos diferentes com interrelações

complexas e para cuja compreensão a escola é convocada a exercitar sua

competência científica instalada. Os paradoxos da aprendizagem não serão

resolvidos pelas teorias da aprendizagem. Estas, apenas, ajudam a lançar luzes para

que as práticas pedagógicas auxiliem na construção dos conhecimentos curriculares

e, não, no controle dos que aprendem. Neste sentido, a escola é convidada a

trabalhar uma aprendizagem concreta, pautada na teoria construtivista de Piaget.

Aqui, apresenta-se uma convergência entre Vygotsky e Piaget, quando o primeiro,

abordando os processos envolvidos na aprendizagem, diz:

Assim como você não pode aprender a nadar parado na praia (...), para aprender a nadar você deve, forçosamente, mergulhar na água, mesmo que ainda não saiba nadar, de modo que a única maneira de aprender alguma coisa, de adquirir conhecimento, é fazendo algo, em outras palavras, adquirindo conhecimento (Vygotsky, 1979b:324)10.

Este semelha ser um permanente desafio da escola: o que ensinar,

como ensinar, o que avaliar e como avaliar? Na sociedade do conhecimento, a

obsolescência do aprendido é muito rápida e os indivíduos não vão à escola para

aprender o conhecimento definitivo, mas, sobretudo, para aprender a aprender,

como diz a UNESCO em seu relevante documento sobre Educação para o Século

XXI, cujo título forte e sugestivo é: Educação: um tesouro a descobrir.

9 Ver nota da página 47. 10 As concepções teóricas destes autores serão retomadas à página 87, no capítulo que trata das

concepções epistemológicas e dos eixos estruturantes da Educação Especial em Mato Grosso.

Page 43: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

42

Os dilemas para as escolas inclusivas são os mesmos das teorias da

psicologia cultural e da psicologia da aprendizagem. Estes dilemas parecem postos

de forma direta e incisiva por Milan Kundera, ao dizer:

Saímos da infância sem saber o que é juventude, casamos sem saber o que é estar casados e, mesmo quando entramos na velhice, não sabemos para onde estamos indo; os velhos são crianças inocentes de sua velhice. Neste sentido, o mundo do homem é um planeta de inexperiência (Kundera, 1998:132/133).

Fica evidente que não há como construir escolas inclusivas sem

políticas públicas inclusivas.

O Sistema Público de Ensino do Mato Grosso tem clareza que,

dento de processos de construção da autonomia escolar, cada unidade de ensino

deve ser estimulada a examinar em que medida as necessidades educacionais de

seus alunos encorpam-se como situações individuais entranhadas em deficiências

tradicionais. Vygotsky nos ajuda a compreender que muitas das dificuldades e

limitações dos alunos, vivenciadas na aprendizagem escolar, são determinadas

socialmente. Neste sentido, ganha relevância um olhar cuidadoso sobre dimensões

psicossociais do cotidiano escolar e sobre os aspectos psicossociais da vida familiar

do aluno. Por esta razão, há que se cuidar para que o projeto Político-Pedagógico

Escolar não esgote suas preocupações exclusivamente no desenvolvimento de

estratégias de atendimento escolar para os alunos, mas que possa contemplar,

igualmente, o contexto de desfavorecimento destes alunos e, por isso, dirija atenção

aos fatores sociais.

De partida, convém atentar para o fato de que alunos com

deficiência visual, auditiva ou física detêm, em princípio, todas as condições para o

acompanhamento dos colegas de turma. Este não é o caso de alunos com atrasos

intelectuais, deficiência mental, paralisia cerebral, autismo e situações cognitivas

Page 44: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

43

diferenciadas outras, que necessitam, de fato, de um plano de ensino, com

configuração específica, com objetivos e organização didáticos diferenciados.

Aspectos que, igualmente, devem ser considerados no caso de alunos com altas

habilidades.

Nas direções ora indicadas, duas possibilidades se impõem. A

primeira voltada para um processo diferenciado de ensino-aprendizagem com foco

na progressão escolar dos alunos. A segunda voltada para uma certificação de

conclusão antecipada de escolaridade, com indicação da série e do nível de ensino.

Neste caso, cabe ao Conselho Estadual de Educação proceder o disciplinamento

normativo em nível do respectivo sistema. A seguir, a instância da SEDUC-MT

(Gerência de Educação Especial) deverá desenvolver os instrumentos adequados

(Fichas/Formulários/Históricos) para os necessários registros escolares. Por fim,

esta possibilidade deverá estar prevista no Projeto Pedagógico Escolar e, ainda,

anotada no Regimento Escolar. Para Wocken (1998:14), “(...) as classes de inclusão

seguem explicitamente uma priorização dos fatores sociais e políticos e se voltam

especialmente para aquelas crianças cujos problemas na aprendizagem e

desenvolvimento encontram-se relacionados com desvantagens sociais”.

Ainda, cabe ressaltar que as atividades pedagógicas especializadas,

ocorrentes em âmbito das classes inclusivas, devem-se realizar no contexto

institucional da escola, evitando-se, desta forma, pelo tratamento individual, atribuir

a elas um caráter clínico-terapêutico. Este cuidado pedagógico não implica em

desconsideração das necessidades específicas de alguns alunos a quem devem ser

endereçados procedimentos mais intensos de intervenção. De fato, o princípio da

aprendizagem diferenciada, decisivo nas práticas escolares inclusivas, não deve

caminhar para uma categorização dos alunos. A questão aqui é de natureza

totalmente diversa. Tem a ver, sob o ponto de vista pedagógico, com currículo e,

sob o ponto de vista da gestão escolar, com procedimentos. No caso do currículo,

Page 45: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

44

a sua preservação no sistema regular de ensino é relevante. Afinal, é ele que garante

a formação comum por meio de uma base comum. A primeira se refere a lastro

integral e integrado de valores e conhecimentos potencializadores da capacidade

individual. Desta forma, cada um, de acordo com sua identidade, seu perfil, seu

biótipo, enfim, vai buscar situar-se ativamente, no ambiente social, no ambiente de

trabalho, nas relações produtivas e na construção do destino individual e coletivo.

A segunda (a base comum) é a rota de viabilização da formação comum.

Estruturada no feixe de conteúdos curriculares, a base comum é o chão da

qualidade da educação. A junção da formação comum com a base comum garante

uma linha de homogeneidade mínima na qualidade dos serviços educacionais.

Mas o currículo definido não impede sua execução com suficiente

flexibilidade para que se adequem aos alunos na conformação de suas necessidades.

Quanto aos procedimentos, a escola, em sua estrutura organizacional, deve permitir

que os alunos com necessidades educacionais especiais possam participar

maximamente dos ambientes escolares regulares. Como aponta Coll (1995:301)

“(...) é importante que os alunos com necessidades educacionais especiais

participem de uma programação tão normal quanto possível e tão específica quanto

suas necessidades requeiram”. E acrescenta que esta disposição institucional implica

em “(...) dispor de procedimentos e modelos de adequação individualizada do

currículo que sirvam para assegurar este difícil e imprescindível equilíbrio”.

No currículo da educação inclusiva e de uma só escola para todos, o

professor da Educação Especial são todos os professores no sentido de que os

docentes das classes regulares devem estar preparados para atender e acompanhar o

aluno com necessidade educacional especial, ajudá-lo a construir uma auto-imagem

positiva, uma visão de mundo real e aceitar-se como diferente. Neste rumo, a

proposta pedagógica da escola, base de referência dos contornos da prática escolar,

deve identificar, no currículo em ação, um instrumento (recurso operativo) para o

Page 46: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

45

desenvolvimento dos alunos. Para tanto, a escola trabalha com um planejamento

situacional, envolvendo aspectos relevantes, dentre os quais cabe destacar:

• Atitude permeável à diversificação e à flexibilização dos

processos de ensino;

• Deslinearidade na organização e no funcionamento do

tempo e dos espaços de aprendizagem, assim que a demanda

diversificada de alunos possa ser contemplada;

• Adoção de currículos abertos e de ofertas curriculares

múltiplas em sua execução, em substituição a estruturas

curriculares uniformes, homogeneizantes e inflexíveis;

• Inclusão, em todas as escolas e sempre que possível, de

professores especializados, de equipes multiprofissionais, de

variados serviços de apoio e de outros não-convencionais,

indispensáveis à viabilização do processo educacional

inclusivo.

Convém ressaltar a necessidade de ter clareza sobre a face múltipla

das equipes escolares. Reúnem profissionais distribuídos em níveis com funções e

atribuições diferenciadas. É imperativo, portanto, o estabelecimento de consórcios

de capacitação para o trabalho com necessidades educacionais especiais. Um

desenho cartográfico desta pluralidade de competências profissionais aponta para

territórios de práticas educacionais com foco em:

• Professores das disciplinas curriculares em geral;

• Professores de conteúdos temáticos transversais;

• Professores especialistas em educação especial;

Page 47: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

46

• Professores/coordenadores de equipes por escola

responsáveis pela tomada de decisão em áreas-chave de

coordenação de prática pedagógicas no campo de

necessidades educacionais especiais;

• Professores gestores escolares;

• Equipes especializadas multiprofissionais.

Em síntese, como destaca Peter Mittler (2003:183), é necessário

preparar todos os professores para ensinar a todos os alunos. Mais do que isto: desenvolver

todos da escola para que possam ajudar no desenvolvimento de todos que estão na

sala de aula.

2. Nível de Objetivos da Educação Especial:

Em não constituindo um subsistema de ensino à parte, a Educação

Especial no Estado de Mato Grosso guarda os mesmos objetivos da educação

nacional e da educação básica, enfeixados no corpo das Orientações Curriculares

para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso e cuja relevância

recomenda sua reapresentação:

Lei n. 9.394/2006 – LDBEN

Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 22 – A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

Art. 58 – Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente

Page 48: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

47

na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

Estes objetivos estão calçados pelos princípios fundamentais da

dignidade da pessoa humana, da busca da identidade e do exercício da cidadania.

Obviamente, a Educação Especial busca realizar seus objetivos por

meio de campos metodológicos e práticas pedagógicas especiais, explicitadas em

alternativas de atendimentos diferenciados e recursos humanos devidamente

especializados.

As fronteiras destes objetivos estão além da sala de aula. Cobrem

um território não convencional de aprendizagem demarcado por três pontos de

referência-chave ou pontos de âncora, como define Hedegaard (1988:123). São

eles:

a) Disciplinas curriculares enriquecidas com temas

transversais e trabalhadas através de metodologias plurais;

b) Áreas de problemas relevantes para a vida em sociedade;

c) Situações da vida cotidiana presentes na comunidade.

3. Nível de Operacionalidade:

A ideia central é criar temas-motivação e contextos dialogais, que

ensejem levar a performance do aluno pela Zona de Desenvolvimento

Proximal/ZDP (Vygotsky, 1989:93)11, até uma capacidade de independência. Desta 11 Esta expressão aparece, às vezes, substituída por Zona de Desenvolvimento Potencial. Vygotsky

destaca dois níveis de desenvolvimento: o real e o potencial. A distância entre eles é a ZDP, ou seja,

“a distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar da solução independente de

problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob

a orientação de outrem”.

Page 49: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

48

forma, “(...) os recursos de assistência são entrelaçadas formando um diálogo

significativo” (Tharp, 1993:19). É este autor que ainda propõe sete meios auxiliares

ao curso das aprendizagens. São os seguintes:

a) Modelação: uma imagem lembrada e trabalhada pode

funcionar como um padrão de performance;

b) Feedback: auxiliar a performance em todo o curso da

aprendizagem, indo das situações mais concretas, como

uma partida de futebol ou uma exibição de dança, ao

estudo de conceitos gerais como a velocidade, o respeito

aos mais velhos, etc. Assegurar o feedback é um caminho

eficaz para o processo de auto-assistência;

c) Coordenação de ações de dependência: aplicação de

metodologias de reforço e de consolidação de núcleos de

aprendizagem;

d) Orientação institucional: desenvolvimento de tarefas

específicas ou de partes da tarefa. Em nível menos

concreto, auxiliar na construção de respostas com mais

clareza ou na tomada de decisão com mais segurança;

e) Questionamento: induzir o aluno à produção de resposta

ou que ele não saberia produzir ou não o faria sozinho.

Trata-se, de fato, de produzir interações sobre os níveis de

compreensão do seu processo de desenvolvimento;

f) Estruturação cognitiva: trabalho com novas percepções

das coisas e do mundo real, ensejando o desenvolvimento

de estruturas elucidativas e dialogais;

Page 50: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

49

g) Estrutura de tarefa: a partir de uma tarefa específica,

trabalhar cada segmento, cada componente. Desta forma, o

aluno é ajudado a acumular, sequenciar, estruturar, trocar,

complementar, fazer/desfazer, compor/recompor,

modificar etc., assim que possibilitem “(...) às unidades

apresentadas ao aluno se encaixarem na ZDP, quando a

estrutura está além dessa zona” (Tharp, 1993:271-277).

Porém, para que tais objetivos se tornem exequíveis, a Educação

Especial no Sistema Público de Ensino do Mato Grosso adotará um conjunto de

medidas de cunho operacional no que tange ao alargamento das vias de acesso de

alunos ao currículo:

• Adaptar materiais de uso comum em sala de aula;

• Adquirir equipamentos e recursos materiais específicos

necessários;

• Disponibilizar mobiliários específicos necessários;

• Criar condições físicas, ambientais e materiais para o aluno

na própria escola e/ou exigir idênticas condições em

instituições conveniadas com quem venha a manter

atividades de intercomplementaridade;

• Multiplicar os canais de comunicação e interação escolar

interna;

• Favorecer a participação nas atividades escolares em geral e

nas salas de aula.

Estes meios de operacionalização do acesso ao currículo escolar

devem servir de parâmetro de referência para o planejamento das atividades

Page 51: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

50

docentes e representam ajustes tênues da sala de aula. Rebatem, também, no

quadro de competências e habilidades a serem desenvolvidas, bem como nos

aspectos de tempos e espaços de aprendizagem e nos procedimentos de avaliação.

Os objetivos aqui descritos integram o conjunto de instrumentos

legislativos em vigor, de documentos como as diretrizes da SEDUC/MT, com

níveis de abrangência variável, cabendo destacar:

I – Legislação Federal:

a) Constituição Federal de 1988;

b) Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional;

c) Lei n. 8.069, de 16 de julho de 1990, que dispõe sobre o

Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras

providências;

d) Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o

apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração

social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência – Corde, institui a tutela

jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas

pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define

crimes, e dá outras providências;

e) Lei n. 10.112, de 09 de janeiro de 2001, que aprova o Plano

Nacional de Educação e dá outras providências;

f) Decreto Presidencial n. 6.571, de 17 de setembro de 2008,

que dispõe sobre o atendimento educacional especializado,

regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394,

Page 52: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

51

de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao

Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007;

g) Decreto n. 5.296/2004, que regulamenta as Leis n.

10.048/2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas

que especifica e 10.098/2000, que estabelece normas gerais

e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das

pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida;

h) Resolução CNE/CEB n. 2/2001, que institui Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica;

i) Resolução CNE/CEB n. 04/2010, que define Diretrizes

Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica;

j) Resolução CNE/CEB n. 07/2010, que fixa Diretrizes

Curriculares para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos.

II – Legislação Estadual:

a) Constituição Estadual;

b) Lei n. __, de __ de __ de ____, que institui o Plano

Estadual de Educação de Mato Grosso;

c) Resolução CEE-MT n. 261/2001, que estabelece normas

para a Educação Especial no Sistema Estadual de Ensino12;

d) [Indicar instruções normativas de gerência da Educação

Especial].

12 Esta resolução está em processo de reexame no momento, vez que há necessidade de se

readequar à resolução CNE/CEB n. 04/2010.

Page 53: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

52

III – Normativos Internos:

a) Regimento Escolar;

b) Projeto Político Pedagógico da Escola.

Esta legislação sinaliza para a necessidade de uma inteira

reorientação dos processos de organização do ensino e das escolas. Por ela, fica

claro que “(...) o processo educacional deve se organizar de modo a permitir que as

pessoas tenham oportunidade de mostrar seu valor e suas realizações. Somente um

ambiente escolar rico em experiências e estimulador de aprendizagens

diversificadas permitirá o desenvolvimento de todos” (RIBEIRO, 2003:48).

Page 54: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

53

TIPOLOGIAS DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL, ABRANGÊNCIA DE OFERTA E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO

“A pedagogia diferenciada nem sempre está vinculada à ideia de percursos individualizados. Por vezes, pode limitar-se a um atendimento mais intensivo

dos alunos em dificuldade. Na escola inclusiva, o compromisso primeiro é para

que todos cresçam sincronicamente”.

Moaci Carneiro

Há uma certa convergência de entendimento quanto ao aluno da

Educação Especial. A literatura especializada o define de forma mais ou menos

consensual, embora seja possível vislumbrar, aqui e ali, percepções com tendências

a ressaltar alguns traços prevalecentes. Dentro desta ampla e convergente

compreensão, este aluno tem sido definido como detentor de mais de uma das

seguintes características:

a) Dificuldades acentuadas, duradouras e/ou transitórias de

aprendizagem;

b) Limitações tênues ou significativas no processo de seu

desenvolvimento intelectual, com reflexos diretos ou

indiretos no comportamento diário e no sequenciamento

permanente das atividades curriculares programadas

intensiva e extensivamente;

c) Estas dificuldades ou limitações podem ser de gênese

orgânica ou, ainda, podem estar vinculadas a condições

existenciais sob a forma de disfunções, restrições ou

deficiências mais expressivas;

d) Limitações comunicacionais;

SEDUC-MT

Page 55: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

54

e) Necessidade de uso de formas de sinalização diversas dos

demais alunos, com exigência de apoio em linguagens e

códigos correspondentes;

f) Alta capacidade de domínio de componentes de

aprendizagem, expressa no encurtamento do tempo para a

apropriação de conceitos, procedimentos, e para o

desenvolvimento de habilidades e atitudes resolutivas, bem

como na captura performática de espaços múltiplos de

campos de conhecimento.

Objetivamente, quais são os “educandos portadores de

necessidades especiais”, dentro de uma percepção temporal tradicional?

Numa visão ampla e atualizada do alunado da educação especial,

pode-se ter a seguinte visualização:

• Alunos com deficiência mental;

• Alunos com deficiência auditiva;

• Alunos com deficiência visual;

• Alunos com deficiência múltipla;

• Alunos com deficiência motora;

• Alunos com condutas típicas;

• Alunos com Síndrome de Down;

• Alunos com autismo;

• Alunos com déficit de atenção/hiperatividade;

• Alunos com transtornos do pensamento e da linguagem;

• Alunos com transtornos de personalidade;

• Alunos com dificuldades de aprendizagem;

Page 56: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

55

• Alunos superdotados;

• Alunos em classes hospitalares, em centros de reabilitação ou

convalescentes, em domicílio;

• Alunos oriundos de contextos culturais minoritários

(indígenas, ciganos);

• Alunos com problemas de autoconceito;

• Alunos submetidos a níveis agudos de privação cultural.

O atendimento educacional especializado supõe uma escola flexível

em sua organização com equipe multidisciplinar capaz de apoiar os professores

comprometidos em favorecer ambientes de aprendizagem na política inclusiva a

partir dos seguintes princípios:

• Promoção da cultura da diversidade na escola;

• Desenvolvimento de redes de apoio aos alunos;

• Adoção de abordagens efetivas de ensino;

• Remoção de processos excludentes na sociedade e na escola;

• Conhecimento dos alunos, identificando interesses,

motivações e limitações;

• Planejamento flexível do ensino, possibilitando atender as

singularidades de cada aluno;

• Avaliação estruturada a partir do percurso individual,

valorizando cada passo;

• Gestão escolar compartilhada, ensejando, à equipe escolar,

refletir sobre os desafios da diversidade humana.

Page 57: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

56

A Resolução CEB/CNE n. 02/2001 e o Decreto Presidencial n.

6.571/2008 apontam orientações para os sistemas de ensino identificarem o perfil

do aluno da Educação Especial. A elegibilidade destes alunos é demarcada por uma

gama de características conceituais, formuladas e apresentadas pelos textos

normativos referidos, sob a seguinte sequência:

• Deficiência: toda perda ou anormalidade de uma estrutura

ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere

incapacidade para o desempenho de atividade dentro do

padrão normal para o ser humano;

• Deficiência Permanente: aquela que ocorreu ou estabilizou

e não permite recuperação, ou mesmo, probabilidade de que

se altere, apesar de novos e modernos tratamentos;

• Incapacidade: uma redução efetiva e acentuada da

capacidade de integração social, com necessidades de

equipamentos, adaptações, meios, ou recursos especiais, para

que a pessoa possa receber ou transmitir informações

necessárias ao seu bem estar, ao desempenho de suas

funções ou atividades a ser exercidas.

Preferencialmente oferecida na rede regular de ensino, a Educação

Especial no Sistema Público Estadual de Ensino de Mato Grosso disponibilizará os

meios imprescindíveis para a exequibilidade do princípio fundante da educação

inclusiva, recebendo, portanto, em suas escolas e estabelecimentos educacionais,

alunos da Educação Básica, desde a educação infantil até o ensino médio.

Em qualquer tempo, o aluno ingressante no processo de

escolarização contará com o apoio de equipe multiprofissional especializada para

Page 58: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

57

uma avaliação de suas condições cognitivas e de domínio dos conhecimentos

curriculares, como requisito para a definição de sua situacionalidade no nível de

ensino e a sua fase no ciclo.

O circuito de atendimento se regerá pelo critério da irradiação

expansiva. Consistirá no alargamento permanente das esferas de atendimento, a

partir de uma organização consistente dos recursos pedagógicos da escola. Assim,

haverá uma variedade de respostas positivas à natureza das demandas, de acordo

com as condições subjetivas de cada escola e das possibilidades de parcerias. Neste

sentido, levar-se-á em conta sempre a estrutura potencializada do atendimento, que

envolve espaços, recursos técnico-científicos, professores especializados, materiais

necessários e graus de participação da família e da comunidade.

No horizonte da construção de um consistente e robusto processo

de compartilhamento na direção de uma educação inclusiva responsável e de uma

educação especial efetiva e socialmente relevante, a SEDUC-MT envidará todos os

esforços para responder positivamente e corresponder pedagogicamente ao perfil

de demanda prioritária do Estado, identificada através de estudos e levantamentos e

com a seguinte configuração:

� PESSOAS COM DEFICIÊNCIA;

� PESSOAS COM TRANSTORNOS GLOBAIS DE

DESENVOLVIMENTO;

� PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES.

Para efeito da circunscrição compreensiva de cada uma destas

situações individuais, tendo em vista os desdobramentos no campo do

planejamento geral de cada escola e dos arranjos técnicos, metodológicos,

Page 59: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

58

pedagógicos, de avaliação continuada e de apoio administrativo e multiprofissional,

impõe-se o seguinte quadro de definição13:

A) PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA: além daquelas

previstas na Lei n. 10.690/2003, portanto, pessoas portadoras de deficiência física,

visual, mental severa ou profunda, ou autistas, todas aquelas pessoas que possuem

limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade que se enquadrem nas

seguintes categorias e tipicidades:

• Deficiência Física: alteração completa ou parcial de um

ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o

comprometimento da função física, apresentando-se sob a

forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,

tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia,

ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia

cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não

produzem dificuldades para o desempenho das funções;

• Deficiência Auditiva: perda parcial ou total das

possibilidades auditivas sonoras, variando em graus e níveis

nas seguintes formas: surdez leve, surdez moderada, surdez

acentuada, surdez severa, surdez profunda e anacusia;

• Deficiência Visual: perda parcial ou total das capacidades

visuais. Classifica-se em: baixa-visão e cegueira;

• Deficiência mental: funcionamento intelectual

significativamente inferior à média, com manifestação antes

13 Como definido e descrito no Decreto n. 5.296/2004 e na Lei n. 10.690/2003.

Page 60: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

59

dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais

áreas de habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicação;

b) cuidado pessoal;

c) habilidades pessoais;

d) utilização dos recursos da comunidade;

e) saúde e segurança;

f) habilidades acadêmicas;

g) lazer e trabalho.

• Deficiências Múltiplas: caracterizam-se por um conjunto

de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física,

sensorial, mental, emocional, ou de comportamento social.

Porém, não é o somatório dessas alterações que

caracterizam a múltiplas deficiências, mas, sim, o nível de

desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de

comunicação, interação social e de aprendizagem que

determinam as necessidades educacionais dessas pessoas;

• Transtornos Globais de Desenvolvimento – TGD: são

aqueles que apresentam alterações qualitativas nas

interações sociais recíprocas e na comunicação, demonstram

interesses e atividades restritos, repetitivos. Incluem-se,

nesse grupo, crianças com autismo, síndromes do espectro

do autismo e psicose infantil;

• Alunos com Altas Habilidades/Superdotação: são

alunos que apresentam um conjunto de sinais captáveis de

Page 61: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

60

talento acima e além de atributos específicos observáveis.

Demonstram, com determinada frequência, consistência e

intensidade, capacidade acima da média de seus pares, em

uma ou mais áreas do conhecimento, aliado a um

envolvimento intenso com a tarefa e criatividade.

Detentores de alto potencial geral, possuem uma

distinguidade, vivacidade mental e surpreendente

automotivação e confiança. A primeira se revela pela

capacidade de questionar, gostar de desafios, acumular

conhecimentos e informações, apreender e aprender com

facilidade. Tem singular senso de humor e memória

privilegiada. A segunda se manifesta pela independência

pessoal, autonomia de pensar, iniciativa e envolvimento

com seus interesses pessoais;

• Deficiência Múltipla: associação de duas ou mais

deficiências.

B) PESSOA COM MOBILIDADE REDUZIDA: aquela que, não se

enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer

motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando

redução efetiva de mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção.

Os centros de estudos e pesquisas e as universidades,

objetivando aprofundar o entendimento do sujeito da Educação Especial, têm

reforçado a atenção em torno dos seguintes eixos temáticos relevantes, como:

• Alunos com necessidades especiais: da Educação Infantil

ao Ensino Superior;

• Arte-educação e Educação Especial;

Page 62: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

61

• Deficiência intelectual;

• Deficiência visual;

• Demandas e desafios no trabalho com famílias de pessoas

com necessidades especiais;

• EAD na Educação Especial;

• Educação Física e esportes adaptados;

• Formação de professores em Educação Especial;

• Habilidades sociais para pessoas com necessidades

especiais;

• Leitura e escrita e a aprendizagem de alunos com

necessidades especiais;

• Múltiplas deficiências;

• Pesquisa e produção do conhecimento científico em

Educação Especial;

• Políticas educacionais para pessoas em situação de

deficiência;

• Práticas de inclusão escolar;

• Prevenção e intervenção: fatores de risco e proteção no

desenvolvimento de pessoas com necessidades especiais;

• Procedimentos de ensino: acomodações/adaptações

curriculares e avaliação;

• Serviços de apoio à escolarização inclusiva;

Page 63: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

62

• Sexualidade e afetividade de pessoas com necessidades

especiais;

• Superdotados/Altas habilidades;

• Surdez/deficiência auditiva;

• Surdocegueira;

• Tecnologias assistivas/comunicação alternativa e ampliada;

• Transtornos globais do desenvolvimento.

Estes estudos, à medida que dão crescente visibilidade à

compreensão dos “educandos da Educação Especial”, contribuem igualmente para

promover e apoiar o aperfeiçoamento técnico e científico dos profissionais da

Educação Especial e de áreas constituídas por conhecimentos de diversos campos

científicos.

Page 64: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

63

PLATAFORMAS DE ATENDIMENTO A ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL DISPONIBILIZADAS PELA SEDUC-MT14

“Diferenciar é propor a cada aluno uma situação de aprendizagem confortável”.

Moaci Carneiro

Os alunos da Educação Especial se apresentam com diferentes

tipos de necessidades de apoio à aprendizagem. A gradação do atendimento requer

níveis diferenciados de especialização, capazes de operar recursos educacionais

especiais de natureza vária. Seja constituídos por pessoas, materiais de apoio ou

equipamentos, estes recursos são instrumentos de mediação da aprendizagem.

Quando organizados institucionalmente, estes recursos assumem o

caráter de serviços educacionais especiais. Na dinâmica escolar inclusiva,

destinam-se a apoiar, complementar e suplementar as necessidades educacionais

dos alunos. Ao Sistema de Ensino cabe definir diretrizes e mobilizar meios para

que se torne possível a articulação continuada de estratégias em quatro níveis e sob

a forma de convergência de atuação, a saber:

• A escola;

• A sala de aula;

• A família;

• A comunidade educativa.

14 O dicionário HOUAISS atribui ao termo “plataforma” uma carga semântica múltipla. Aqui, é usado

no sentido sociológico e organizacional, significando padrão de um processo operacional e, ainda,

conjunto de ideias essenciais e objetivos que servem de apoio para apresentar e operar uma política

comum.

SEDUC-MT

Page 65: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

64

Além disto, devem ser disponibilizados recursos didáticos que

repercutam sobre a metodologia, a organização da escola e da sala de aula, a

formação docente, a avaliação e o processo educativo como uma realidade plural.

Como as respostas educativas devem ser diferenciadas, a Educação

Especial passa a trabalhar com dupla dimensão:

• A sistemática formal e intencional;

• A não-formal e assistemática.

Somente assim, a escola poderá oferecer respostas articuladas com

a diversidade dos alunos. Aqui, parece conveniente destacar que a proposta da

educação inclusiva encontra dificuldade face à estrutura escolar prevalecente. Há

necessidade, portanto, da adoção de propostas organizativas flexíveis, na direção da

escola versátil, como lembra Martín Moreno (1989:91), e cujas características são:

ESCOLA VERSÁTIL ESCOLA TRADICIONAL

• Escola aberta à comunidade • Escola fechada em si mesma

• Direção participativa • Direção unipessoal

• Currículo diferenciado • Currículo uniforme

• Metodologia individualizada • Metodologia indiferenciada

• Disciplina centrada nas exigências

da atividade e da relação social

• Disciplina formal

• Agrupamento flexível de alunos • Agrupamento rígido de alunos

Page 66: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

65

• Ensino em equipe • Professor auto-suficiente

• Diversidade de espaços • Uniformidade de espaços

• Suficiência de recursos para a

aprendizagem

• Escassez de recursos

• Horários flexíveis • Uniformidade de horários

• Avaliação contínua • Avaliação descontínua

Na escola versátil, as plataformas de atendimento aos alunos da

Educação Especial, além de múltiplas, recuperam a dimensão pedagógica,

retirando-se, do projeto de ensino-aprendizagem, o caráter de dupla orientação.

Os serviços educacionais especiais, por outro lado, além de abertos ao

compromisso e ao respeito a cada aluno e a cada docente, passam a integrar uma

comunidade de interesses únicos e de responsabilidades compartilhadas. A mística

colaborativa explicita-se em atividades de convergência pedagógico-institucional,

independentemente da denominação do serviço.

Semelha razoável a percepção de que a Educação Especial enfrenta

uma crise de identidade. Crescem as pressões sociais para que as pessoas com

necessidades educacionais especiais deixem os ambientes de superproteção e

passem a compartilhar os espaços sociais e institucionais livres, abertos. Neste

sentido, as escolas regulares se apresentam como o lugar próprio para esta

mudança.

Ao mudar o foco pedagógico, a Educação Especial perde a

configuração de oferta em espaços fixos, estabelecida em circunscrição territorial

“especial”. Acresce, porém, que migrar para um conceito de Educação Especial

Page 67: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

66

móvel, dinâmica, importa em viver e experimentar uma mudança paradigmática

dentro de um movimento intenso de descentralização. Importa, igualmente, em

adotar uma pragmática de desconcentração dos recursos pedagógicos. Neste

sentido, a multiplicidade de formas de atendimento poderá significar a valorização

do trabalho em grupo, das intervenções multidisciplinares, com um distanciamento

crescente da abordagem predominantemente terapêutica. É absolutamente

relevante “(...) realçar que a ação pedagógica especializada nas classes inclusivas

deve ser conduzida no contexto institucional da escola” (Beyer, 2005:41). Com tal

providência, não se desmerecem as necessidades específicas de alguns alunos. Daí,

a necessidade de plataformas de atendimento variadas, como passamos a ver.

A plataforma geral de atendimento a alunos com necessidades

educacionais especiais se apóia em duas colunas de concepção operativa, de acordo

com a Resolução CNE/CEB n. 04/2010:

CONDIÇÃO LEGAL UNIVERSAL:

• Matrícula de todos os alunos, indistintamente, nas classes

comuns da rede regular de ensino

CONDIÇÃO LEGAL UNIVERSAL DECORRENTE:

• No Sistema Público Estadual de Ensino do Governo de

Mato Grosso, os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e

altas habilidades/superdotação, contarão, adicionalmente, com formas de

complementação ou suplementação ao processo de escolarização com duas

plataformas de atendimento. São elas:

� Os Serviços de Apoio Pedagógico

Especializado:

Page 68: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

67

Estes serão desenvolvidos em:

� Classes Comuns;

� Salas de Recursos Multifuncionais.

� Os Serviços Especializados:

Estes serviços serão desenvolvidos em:

� Escolas Especializadas (Centros de AEE da

Rede Pública Estadual);

� Centros de Educação Especial (Instituições

comunitárias, confessionais ou filantrópicas

sem fins lucrativos).

Estes serviços possuem amplitude crescente, ficando sua

configuração na dependência da disponibilidade de recursos institucionais,

humanos, materiais e simbólicos em nível dos respectivos contextos. Esquemas de

atendimento como itinerância, instituição tutora, classe hospitalar, classes de

passagem, programas de estudos independentes, escolas de transição, clínicas de

ensino consorciadas, classes de ativação de aprendizagem em equipes, currículo

experiencial focado em quadros de interesse por situações-problema, currículo

vivencial, currículo através da história oral, currículo de face multimídia, classe

domiciliar etc., são práticas sócio-pedagógicas possíveis legalmente, alicerçadas na

concepção de educação escolar inclusiva e cimentadas nos princípios de equidade,

de dignidade da pessoa humana e, portanto, sinalizadoras de uma organização

escolar com flexibilidade e autonomia.

Convém reforçar o já dito anteriormente: os serviços de apoio

pedagógico especializado, ou outras alternativas encontradas pela escola,

devem ser organizados e garantidos nos projetos pedagógicos e regimentos

Page 69: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

68

escolares, desde que devidamente regulamentados pelos competentes

Conselhos de Educação (Parecer CNE/CEB n. 17/2001).

Estas orientações têm desdobramentos diretos em cinco

componentes estruturadores da funcionalidade da educação escolar inclusiva e da

própria organização da escola, quais sejam:

a) Professores capacitados para a regência de classe e

professores especializados em Salas de Recursos

Multifuncionais para o atendimento às necessidades

especiais do aluno;

b) Professores itinerantes e escolas tutoras para, no primeiro

caso, atenderem os alunos de instituições que não

disponham de Salas de Recursos e, no segundo, apoiarem

escolas despossuídas de recursos técnico-pedagógicos

suficientes;

c) Redes de apoio interinstitucional de saúde, trabalho e

serviço social. Ainda, a constituição de redes de apoio com

participação da família e da comunidade;

d) Currículos adaptados às necessidades dos alunos;

e) Currículos verticalizados e enriquecidos para o atendimento

adequado dos alunos com altas habilidades, bem como

para a aceleração da aprendizagem.

Os conceitos balizadores dos espaços e formas de viabilizar os

Serviços de Educação Especial aqui inventariados podem ser assim formulados,

dentro de várias alternativas possíveis:

Page 70: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

69

CLASSE COMUM:

• Espaço da escola regular organizada para acolher todos os

alunos e, desta forma, ensejar a convivência entre o aluno com necessidades

educacionais especiais e os demais.

SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS

• Espaço flexível de aprendizagem, constituído por equipe

multiprofissional e estruturado com duplo objetivo: realizar complementações,

quando se tratar de atividades extensivas do currículo, ou operar suplementações,

quando se tratar de atividades para o preenchimento de lacunas na aprendizagem.

Em qualquer destas modalidades de organização, além da

necessária interlocução com os professores do ensino regular (art. 13 da Res.

CNE/CEB n. 04/2009), deverão ser observadas as seguintes orientações

fundamentais:

a) O pleno acesso e efetiva participação dos estudantes no

ensino regular;

b) A oferta do atendimento educacional especializado;

c) A formação de professores para o AEE e para o

desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;

d) A participação da comunidade escolar;

Page 71: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

70

e) A acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e

informações, nos mobiliários e equipamentos e nos

transportes;

f) A articulação das políticas públicas intersetoriais;

g) Disponibilização de professores especializados, como:

� Professor-intérprete de LIBRAS;

� Professor-guia intérprete;

� Professor de linguagens e códigos aplicáveis à

deficiência visual, física, mental e o autismo;

� Professor-Instrutor Surdo;

� Professor-Instrutor Brailista;

� Professor-Transcritor Brailista;

� Professor-Classe Hospitalar.

De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial na Educação Básica (Parecer CNE/CBE n. 17/2001 articulado com a

Resolução CNE/CEB n. 02/2001), as escolas regulares incluirão em suas estruturas

comuns de funcionamento as salas de recurso e a itinerância, como modalidades

de apoio pedagógico especializado.

As salas de Recursos Multifuncionais são definidas pela diretriz

nacional retro-referida como “serviço de natureza pedagógica, conduzido por

professor especializado, que suplementa (no caso dos superdotados) e

complementa (para os demais alunos) o atendimento educacional realizado em

classes comuns da rede regular de ensino”. Dotado de equipamentos e recursos

pedagógicos adequados às necessidades educacionais especiais dos alunos, este

serviço é disponibilizado na própria escola de matrícula, podendo, também,

Page 72: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

71

estender-se a alunos com necessidades educacionais especiais semelhantes, pode ser

oferecido a alunos em pequenos grupos, sempre em horário diferente daquele em

que frequentam a escola comum.

As Salas de Recursos Multifuncionais da Rede Escolar

vinculadas à estrutura da SEDUC-MT destinam-se ao atendimento de alunos com

necessidades especiais nas seguintes áreas:

� Deficiência Visual;

� Deficiência Auditiva;

� Deficiência Intelectual;

� Deficiência Física;

� Deficiência Múltipla;

� Surdocegueira;

� Transtorno Global de Desenvolvimento;

� Altas Habilidades/Superdotação.

ITINERÂNCIA

• Trata-se de serviço de assistência técnica, orientação e

supervisão pedagógica realizado por professores especializados. As visitas

periódicas às escolas cobrem quatro níveis de atuação, a saber:

� Nível de trabalho com os alunos, visando a reduzir

ou a resolver óbices à aprendizagem persistentes;

� Nível de trabalho com os professores, visando a

oferecer apoio técnico-pedagógico e apoio ao

professor, tanto na orientação do planejamento

do ensino e no desenvolvimento do currículo,

Page 73: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

72

como nos aspectos de avaliação, remoção,

promoção, intervenção e da própria formação

continuada do professor;

� Nível de gestão da escola, visando à orientação

para registro documental, adequação curricular e

remoção de barreiras à reorganização da escola,

quando necessário;

� Nível de relacionamento com as famílias, visando,

sempre que solicitado, a oferecer orientação aos

familiares dos alunos, a fim de acompanharem, de

forma pedagogicamente adequada, o

desenvolvimento dos filhos.

Os profissionais especializados itinerantes se deslocam

periodicamente para:

� Escolas regulares de qualquer nível que tenham

alunos com necessidades educacionais especiais;

� Domicílios para orientação às famílias dos alunos;

� Classes hospitalares.

ESCOLAS ESPECIALIZADAS

• As instituições assim denominadas oferecem atendimento

escolar a alunos com amplo e alto grau de comprometimento, nos âmbitos

intelectual, sensorial, motor ou, ainda, psíquico. Seu desenvolvimento funda-se em

uma complexa articulação, envolvendo as áreas pedagógica, de saúde, de assistência

social, familiar e comunitária. As dificuldades e limitações destes alunos para a

Page 74: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

73

constituição de uma vida autônoma requerem apoio psico-pedagógico extensivo e

intensivo. E, sob o ponto de vista da construção de sua escolaridade, há

necessidade de contínuos procedimentos adptativos em dois âmbitos principais:

Adaptações Organizacionais:

� Dizem respeito ao tipo de agrupamento de alunos

para as atividades de aprendizagem, à estrutura didática da

aula, a organização do tempo escolar, com a definição

apropriada dos períodos definidos para o desenvolvimento

das atividades previstas.

Adaptações Curriculares

� Dizem respeito a elementos como objetivos, tipos de

conteúdo, ritmo metodológico, tempos de aprendizagem,

reordenamento dos conteúdos curriculares e formas de

avaliação.

A implementação e funcionamento das Escolas Especializadas

estão sujeitas ao rigoroso cumprimento das exigências legais que

regem a espécie, o que envolve:

� Infra-estrutura material compatível com a natureza

do atendimento a ser oferecido;

� Organização do atendimento de acordo com os

níveis de escolaridade previstos na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional/LDB;

� Equipe multiprofissional;

Page 75: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

74

� Estrutura curricular flexível e dentro dos parâmetros

da Educação Básica, constantes da LDB;

� Acesso a serviços complementares de saúde, lazer,

assistência social, esporte, trabalho, em regime de

parceria em âmbito público/privado.

CENTROS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

• Estes centros têm seu funcionamento assentado em uma

estrutura de recursos humanos – normalmente, uma equipe multiprofissional – e

uma estrutura material funcional, contando com equipamentos e material específico

de apoio variado.

O Sistema Público Estadual de Ensino de Mato Grosso conta

com uma rede de Centros de Educação Especial assestados para os seguintes

objetivos institucionais:

� Aportar, às escolas da rede pública estadual, recursos

institucionais, para que os alunos com necessidades

educacionais especiais, matriculados nas escolas comuns

ou nas escolas especiais, tenham o atendimento essencial

pertinente;

� Disponibilizar idêntico atendimento a alunos

matriculados ou não, porém, que a eles recorram para um

atendimento específico.

Os Centros de Educação Especial trabalham com uma

proposta pedagógica voltada para um duplo enfoque curricular, no sentido de

Page 76: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

75

poder atender as características dos alunos com necessidades educacionais

especiais.

O primeiro enfoque formaliza-se na proposta de currículo

adaptado. Destina-se a alunos na faixa etária de 04 a 17 anos, que não tenham

indicação imediata para inclusão na escola regular. A

organização do atendimento seguirá as demarcações do currículo da Educação

Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental. O limite da execução da

proposta do currículo adaptado é o encerramento do ciclo de alfabetização. No

caso da Educação de Jovens e Adultos/EJA, o primeiro segmento, considerando,

em qualquer circunstância, as adaptações necessárias a cada aluno. Estes

procedimentos culminarão com a inclusão (do aluno) na escola regular, em classes

comuns.

O segundo enfoque é explicitado no currículo funcional. A

previsão normativa desta rota pedagógica consta, em sua organização, nas

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Diz o texto

que, “(...) quando os alunos com necessidades educacionais especiais, ainda que

com os apoios e adaptações necessários, não alcançarem os resultados da

escolarização previstos no Artigo 32, I da LDBEN: ‘o desenvolvimento da

capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da

escrita e do cálculo’ – e uma vez esgotadas as possibilidades apontadas nos artigos

24, 26 e 32 da LDBEN – as escolas devem fornecer-lhes uma certificação de

conclusão de escolaridade, denominada escolaridade específica”. Neste caso, o

passo seguinte é o encaminhamento do aluno para atendimento educacional com

currículo funcional. Esta alternativa tem previsão legal na LDB, art. 59, inciso II,

como se pode constatar:

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

Page 77: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

76

(...)

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

Carneiro (2010:419), comentando esta dupla possibilidade

pedagógica e organizativa do ensino voltado para atender as necessidades de

aprendizagem dos alunos, preleciona que

“(...) os níveis educacionais estão definidos em função das possibilidades de desenvolvimento psicopedagógico completo dos alunos. Ocorre que, em determinados casos, o aluno poderá alcançar o seu desenvolvimento intelectual pleno, porém, não necessariamente completo sob o ponto de vista da escolaridade formal.

Quando isto se anunciar como possível, face a uma rigorosa avaliação de equipe multidisciplinar, os sistemas de ensino deverão prover soluções legais e escolares para a realização de terminalidade específica, o que significa antecipação do término da escolaridade formal em nível de Ensino Fundamental.

A solução legal e os trâmites burocráticos para efeito da documentação escolar do aluno deverão estar disciplinados em normas do respectivo conselho de ensino. Neste caso, a escola deverá prever tal possibilidade em seu regimento e, ainda, incorporar, ao Projeto Pedagógico, estratégias e formas de operacionalizar o instituto da terminalidade específica para os alunos que, em decorrência de suas deficiências, não puderam atingir o nível de Ensino Fundamental.

Idêntica providência de rearranjos organizacionais, incluindo a formação curricular e pedagógica, é necessária, também, para o adequado atendimento aos alunos superdotados. Estes alunos vivem praticamente abandonados nas salas de aula. Na verdade, os Sistemas de Ensino ignoram tudo aquilo que é marca de diferenciação no processo educacional. Ora, a responsabilidade de reordenar a aprendizagem do aluno na sala de aula é do professor, porém, a responsabilidade de definir políticas e ordenar o planejamento para as escolas é do Sistema.

Page 78: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

77

Na verdade, o Brasil cuida mal ou não cuida do aluno com elevada aptidão intelectual, talvez porque não tenha conseguido resolver questões mais gerais da educação. Só que a educação do superdotado é, igualmente, uma questão de educação básica!15

Os Centros de Educação Especial da estrutura da SEDUC-MT

e em pleno funcionamento no momento são os seguintes16:

Centros Especializados:

a) Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual –

CAP/MT: é um centro criado pelo

MEC/SEESP/SEDUC, com a finalidade de garantir, às

pessoas cegas e de Baixa-Visão, o acesso aos conteúdos

programáticos desenvolvidos nas escolas comuns, à

literatura, à pesquisa e à cultura.

O CAP estrutura-se em:

� Núcleo de Apoio Didático-Pedagógico:

caracteriza-se pela oferta de vários serviços,

dispondo de acervo de materiais e de equipamentos

específicos, necessários ao processo ensino-

aprendizagem. Tem a função de apoiar alunos,

professores e comunidade. Visa, ainda, promover o

desenvolvimento psicomotor, sensorial, afetivo e

social dos deficientes visuais;

15 Para saber mais, ver: CARNEIRO, Moaci Alves. LDB Fácil, Leitura crítico-compreensiva artigo a

artigo. 17. ed. Vozes: Petrópolis, 2010. 16 Transcrito do documento Orientações Curriculares para a Educação Especial, da SEDUC-MT,

2009.

Page 79: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

78

� Núcleo de Convivência: espaço interativo que

tem o objetivo de favorecer a convivência, a troca de

experiências, a pesquisa e o desenvolvimento de

atividades lúdicas, artísticas e culturais, integrando

usuários com ou sem deficiência;

� Núcleo de Produção Braille: constitui-se de

gráficas informatizadas, de pequeno porte, que tem

por objetivo a impressão de textos e livros didáticos

em Braille para bibliotecas e para distribuição aos

alunos matriculados em escolas públicas;

� Núcleo de Tecnologias: espaço planeado pela

instalação de equipamentos de informática, a fim de

possibilitar, a pessoas com deficiência visual, o

acesso à tecnologia, à informação de jornais, revistas

e livros, bem como promover a independência do

usuário na produção de textos, estudos, trabalhos,

provas e outros.

b) Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente

Auditivo “Prof.ª Arlete Pereira Migueletti” –

CEAADA/MT: tem por objetivo proporcionar

atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência auditiva (surdez leve, moderada, profunda e

severa). O CEAADA oferece ao seu alunado e à

comunidade em geral serviços de apoio especializado:

intérpretes de Lígua-Brasileira de Sinais, instrutores surdos

e, ainda, oficinas de linguagem “bilingüismo em foco”,

inclusão digital, educação física adaptada e cultura e arte;

Page 80: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

79

c) Centro de Habilitação Profissional “Prof.ª Célia

Rodrigues Duque” – CHP/MT: é um centro criado pela

Secretaria de Estado de Educação, com objetivo de atender

ao alunado com necessidades educacionais especiais, na

faixa etária a partir dos 14 15 anos, através de programas

de Educação para o Trabalho.

Na interatividade com a educação de jovens e adultos e

educação profissional, as ações da Educação Especial possibilitam a ampliação de

oportunidades de escolarização, formação para o ingresso no mundo do trabalho e

efetiva participação social.

d) Centro de Formação dos Profissionais da Educação

e Atendimento às Pessoas com Surdez do Estado de

Mato Grosso – CAS/MT: o centro constitui-se em um

local de formação continuada de professores, de

professores intérpretes, de instrutores surdos e de

intérpretes de Língua Brasileira de Sinais e demais

profissionais que atuam na área da surdez.

O CAS organiza-se em:

� Núcleo de Capacitação de Profissionais da

Educação: esse núcleo tem por objetivo principal

oferecer cursos de formação continuada de

professores, de professores intérpretes que atuam ou

vão atuar com alunos com surdez;

� Núcleo de Apoio Didático Pedagógico: esse

espaço tem a função de apoiar alunos surdos/DA,

professores e comunidade surda, por meio de um

Page 81: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

80

acervo de materiais e equipamentos específicos

necessários aos processo de ensino-aprendizagem;

� Núcleo de Tecnologia e de Adaptação de

material didático: esse núcleo tem por objetivo dar

suporte técnico à produção de vídeos didáticos, em

língua de sinais; adaptação de vídeos de

complementação didática, principalmente aqueles

produzidos para as escolas públicas do ensino

fundamental;

� Núcleo de Convivência: espaço interativo

planejado para favorecer a convivência, a troca de

experiências, pesquisas e desenvolvimento de

atividades culturais e lúdicas, integrando pessoas

surdas e ouvintes.

e) Núcleo de Atividades de Altas

Habilidades/Superdotação – NAAH/S-MT: o núcleo

tem por objetivo atender aos alunos com altas

habilidades/superdotação; promover a formação e

capacitação dos profissionais da educação para identificar e

atender a esses alunos.

O NAAH/S-MT organiza-se em:

� Unidade de Atendimento ao Professor: essa

unidade tem por objetivo principal oferecer cursos

de formação continuada de professores e

profissionais da educação. É também um espaço

reservado para pesquisa e planejamento de ações

referentes às altas habilidades/superdotação;

Page 82: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

81

� Unidade de Atendimento ao Aluno: essa

unidade tem a função de apoiar alunos com altas

habilidades/superdotação, professores e

comunidade, por meio de um acervo de materiais e

equipamentos específicos, necessários ao processo

de ensino e aprendizagem;

� Unidade de Apoio à Família: essa Unidade tem

a função de prestar orientação e suporte psicológico

e emocional à família, com vistas à compreensão do

comportamento de seu filho que apresenta altas

habilidades/superdotação, melhorando as relações

interpessoais e incentivando o desenvolvimento de

suas potencialidades.

f) Programa de Apoio e Suporte à Inclusão – PASI: tem

por objetivo subsidiar as escolas inclusivas através de

Avaliação Diferencial de alunos com suspeita de

necessidades educacionais especiais, acompanhando

técnico e assessoria multiprofissional.

O PASI é composto por:

� Psicólogo;

� Psicopedagogo.

É relevante compreender que todas estas plataformas de

atendimento ao aluno com necessidades educacionais especiais são imprescindíveis

como formas de regulação estabelecida e como respostas institucionalizadas.

Assim, embora necessárias, não são suficientes, sobretudo no caso das pessoas com

deficiência mental. Como lembra documento da SEESP/MEC:

Page 83: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

82

O atendimento educacional para tais alunos deve, portanto, privilegiar o desenvolvimento e a superação daquilo que lhe é limitado, exatamente como acontece com as demais deficiências, como exemplo: para o cego, a possibilidade de ler pelo Braille, para o surdo, a forma mais conveniente de se comunicar e para a pessoa portadora de deficiência física, o modo mais adequado de se orientar e se locomover.

Para a pessoa com deficiência mental, a acessibilidade não depende de suportes externos ao sujeito, mas tem a ver com a saída de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem para o acesso e apropriação ativa do próprio saber.

De fato, a pessoa com deficiência mental encontra inúmeras barreiras nas interações que realiza com o meio para assimilar, desde os componentes físicos do objeto de conhecimento, como por exemplo, o reconhecimento e a identificação da cor, forma, textura, tamanho e outras características que ele precisa retirar diretamente desse objeto. Isso ocorre, porque são pessoas que apresentam prejuízos no funcionamento, na estruturação e na re-elaboração do conhecimento. Exatamente por isso, não adianta propor atividades que insistem na repetição pura e simples de noções de cor, forma etc. para que a partir desse suposto aprendizado o aluno consiga dominar essas noções e as demais propriedades físicas dos objetos, e ainda, possa transpô-las para um outro contexto. A criança sem deficiência mental consegue espontaneamente retirar informações do objeto e construir conceitos, progressivamente. Já a criança com deficiência mental precisa de outra atenção, ou seja, de exercitar sua atividade cognitiva, de modo que consiga o mesmo, ou uma aproximação do mesmo.

Esse exercício implica em trabalhar a abstração por meio da projeção das ações práticas em pensamento. A passagem das ações práticas e a coordenação dessas ações em pensamento são partes de um processo cognitivo que é natural para aqueles que não têm deficiência mental. E para aqueles que têm uma deficiência mental, essa passagem deve ser estimulada e provocada, de modo que o conhecimento possa se tornar consciente e interiorizado. O esquema abaixo ilustra esse processo de construção mental do conhecimento, desenvolvido pela teoria piagetiana.

Page 84: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

83

E arremata o texto da SEESP/MEC:

O atendimento educacional especializado para as pessoas com deficiência mental está centrado na dimensão subjetiva do processo de conhecimento, complementando o conhecimento acadêmico e o ensino coletivo que caracterizam a escola comum. O conhecimento acadêmico exige o domínio de um determinado conteúdo curricular; o atendimento educacional, por sua vez, refere-se à forma pela qual o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe é apresentado e como consegue significá-lo, ou seja, compreendê-lo.17

Ao longo do tempo futuro, é razoável cogitar na possibilidade de os

Centros de Educação Especial se transformarem em laboratórios de estudos,

pesquisas e experimentação pedagógica, com três grandes funções:

a) Desenvolvimento de abordagens pedagógicas inovadoras

no campo da educação inclusiva;

b) Experimentação de metodologias novas e de práticas

pedagógicas renovadas pela infusão de níveis de

conhecimento mais avançados das ciências da educação.

Desta iniciativa poderá resultar uma retificação de posição

dos profissionais de educação no sentido de uma crescente

desvinculação do saber clínico;

c) Núcleo de formação continuada com quatro horizontes

específicos, a saber:

c.1) Capacitação docente nos níveis de aperfeiçoamento e

especialização, em articulação com instituições

17 Educação Inclusiva. Atendimento Educacional Especializado para Deficiência Mental.

SEESP/MEC. Brasília, 2005.

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84

universitárias formadoras, sobretudo as de caráter

público;

c.2) Produção de estudos e pesquisas para um

acompanhamento permanente do processo de

avanços das políticas e diretrizes do Estado no

campo da educação inclusiva;

c.3) Realização de estudos comparativos de avaliação

institucional, voltados para a valorização do esforço

de inclusão das escolas. Em uma perspectiva

dialética, significa implementar formas de renunciar

ao passado e de edificar um outro futuro,

procedendo as transformações sócio-educativas

esperadas;

c.4) Implementação de espaços de acumulação e de

sedimentação de registros de experiências escolares

bem sucedidas na área da Educação Especial. Em

outros termos, um centro de documentação com

função irradiadora sobre toda a Rede Pública

Estadual de Ensino.

Estas 04 (quatro) perspectivas visam a assegurar, ao Estado de Mato

Grosso, uma memória documental relevante, capaz de instrumentalizar a Rede

Escolar Pública com mecanismos de aprimoramento e, ao mesmo tempo, de

conferir, às políticas de capacitação continuada, uma dimensão de consistência

qualificadora, atualizante e evolutiva. É sempre conveniente destacar que os

avanços no campo da Educação Especial padecem de uma espécie de sistema de

freios precisamente pela inexistência de memórias pedagógicas edificantes que

realcem experiências bem sucedidas de educação inclusiva. As nossas escolas

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85

contam com muitas dessas experiências que, perdidas ora no anonimato, ora no

desfiguramento das rotinas, terminam por ser esquecidas para o depauperamento

da memória pedagógica institucional e sistêmica. Por outro lado, os registros

experienciais na área da educação inclusiva poderão contribuir para um exercício

adequado de estudos pedagógicos comparados e para o alargamento dos processos

de visibilidade dos membros da equipe técnica da Gerência de Educação Especial,

responsáveis pela adequação crescente dos mecanismos de implementação das

Políticas Públicas para a área.

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CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E EIXOS ESTRUTURANTES DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

“Não seja intransigente, a natureza é plural. O igual é diferente, o diferente é igual”.

Moaci Carneiro

Os marcos teóricos de sustentação da oferta de educação especial

abrangem concepções epistemológicas e metodológicas. Considerando que a

proposta de educação inclusiva, assumida pelo Estado de Mato Grosso como

política pública, explicita-se em uma visão orgânica das escolas estaduais, através do

princípio de integração dos níveis e modalidades de ensino, os balisamentos das

funções conceituais da Educação Especial são os mesmos contidos no documento

Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato

Grosso. Aqui, o horizonte definido é tanto o da organicidade interna da Educação

Básica, como lastro de concepção da educação enquanto totalidade, quanto o da

organicidade externa, mediante a articulação de eixos estruturadores do currículo

encorpados na tríade Conhecimento, Trabalho e Cultura. Portanto, o ponto de

partida é uma concepção ampla de educação como processo, entendimento

entranhado na própria natureza de educação básica.

O documento referido passa, portanto, a constituir o lastro de

sustentação do funcionamento das escolas do sistema estadual e, mais do que isto,

da própria tipificação das formas de organização. Ou seja, torna-se referência para a

identificação de todos os níveis e de todas as modalidades de ensino. Vale recordar

que a opção adotada pela SEDUC-MT trabalha concepções epistemológicas e

metodológicas que foram objeto de negociação com professores e escolas, com o

Sindicato de Trabalhadores na Educação Pública (SINTEP) e com diversas

instituições representativas da área da educação. Por consenso, definiu-se o

SEDUC-MT

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patamar mais elevado da proposta, qual seja: uma abordagem sistêmica da educação

estadual com base em uma política educacional que priorize a formação politécnica

dos cidadãos matogrossenses, através de uma só escola para todos.

À luz da escolha assentada, a Educação Especial do Sistema Público

Estadual de Ensino de Mato Grosso organiza-se, então, sob o influxo das seguintes

coordenadas de concepção operativa:

a) Incorporação de todas as dimensões educativas ocorrentes

no âmbito das relações sociais à concepção de sistema

único de ensino;

b) Educação escolar, portanto, também, educação especial,

em articulação contínua com a vida, nos campos da ética,

da solidariedade, da gestão compartilhada das políticas

sociais e tecnológicas;

c) Conexão das operações curriculares e das práticas

pedagógicas com os alinhamentos de compromissos com

uma sociedade democrática, que tem como prisma o

respeito à dignidade humana e a igualdade de direitos;

d) Adoção do trabalho como princípio educativo, como

categoria orientadora das políticas, dos projetos e práticas

de todos os níveis de ensino e modalidades educacionais

que compõem a educação básica. Neste enfoque, o

trabalho assume a face de práxis humana e, não, apenas de

prática produtiva;

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88

e) Uma escola uniforme, de cultura geral, de formação

humana, voltada para o desenvolvimento da autonomia e

da capacidade criativa. Esta escola única será capaz de

articular as dimensões teóricas e práticas em todo o

processo de formação, o que inclui concepções e

metodologias da educação inclusiva e da educação especial;

f) Aquisição das capacidades básicas necessárias à apropriação

da cultura, do desenvolvimento das noções iniciais de

Estado e Sociedade, sob a forma de direitos e deveres, no

âmbito do Ensino Fundamental; Incorporação de todas as

dimensões educativas ocorrentes no âmbito das relações

sociais à concepção de sistema único de ensino;

g) Em nível de Ensino Médio, a escola única do Sistema

Público de Ensino do Estado de Mato Grosso vai trabalhar

o Projeto Político-Pedagógico por via de um currículo

iluminado pela ideia marcante de politecnia, vazada

legalmente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDB,

através dos artigos 1º e 35 e desdobrada nas Orientações

Curriculares para a Educação Básica no Estado de

Mato Grosso;

h) A escolha epistemológica do Estado de Mato Grosso para a

concepção, organização e oferta da educação básica

inclusiva conduz, necessariamente, toda a rede de escolas e

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89

de instituições educativas em geral à necessidade da

edificação de novas bases para compor o Projeto Político-

Pedagógico Escolar, agora, construído no âmbito de uma

só escola para todos. Desta forma, crianças e jovens,

INDISTINTAMENTE, estarão na mesma escola,

qualificando-se para conviver com a diferença e para,

simultaneamente, enfrentar os desafios da vida social e da

vida produtiva, sem qualquer forma de discriminação.

É somente a partir deste chão de concepções estruturantes da nova

escola de educação básica que se põem e se compõem as novas coordenadas da

Educação Especial. Importa dizer que o campo de operação destas coordenadas se

volta estruturalmente para os alinhamentos metodológicos igualmente contidos no

documento anteriormente referido das Orientações Curriculares da Educação

Básica.

Para a construção do inventário de metodologia a adotar em cada

nível de ensino e em cada modalidade educativa, é inevitável recorrer ao conjunto

de pressupostos apontados no citado documento como campo de floração destas

metodologias.

PRESSUPOSTO N. 01

• O homem deve ser tomado em sua integralidade, enquanto síntese do

desenvolvimento social e individual.

PRESSUPOSTO N. 02

• O processo educativo se desenvolve na conexão da objetividade das

relações sociais e produtivas com as subjetividades.

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PRESSUPOSTO N. 03

• O domínio de diferentes linguagens, o desenvolvimento do raciocínio

lógico e a capacidade de novos conhecimentos científicos, tecnológicos, sócio-históricos e culturais são

pré-condições para os indivíduos conseguirem:

� Compreender a vida social;

� Construir identidades autônomas;

� Continuar aprendendo ao longo da vida

PRESSUPOSTO N. 04

• O trabalho científico necessita de regras de dedução e de sistemas de

categorias que sirvam de base à imaginação produtiva e à atividade criadora do pensamento.

PRESSUPOSTO N. 05

• A metodologia da ciência não se esgota no pensamento lógico-formal.

Sua completude está em uma lógica não racional, derivações de percepções, sentimentos e intuições

que permitam aprender o novo.

PRESSUPOSTO N. 06

• O conhecimento não se produz através de mera contemplação. Portanto,

não basta observar a realidade para aprender o que nela está naturalmente.

PRESSUPOSTO N. 07

• Os processos pedagógicos em geral não se esgotam no professor iluminado

pela posse do conhecimento que já encontra elaborada.

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PRESSUPOSTO N. 08

• O conhecimento curricular que se exaure em explicações dirigidas aos

alunos – que devem ouvir, absorver e repetir mais como um ato de fé do que como um resultado de

sua própria elaboração – sinaliza a visão equivocada da sala de aula como o lugar privilegiado

das verdades definidas.

PRESSUPOSTO N. 09

• A sequência metodológica “preleção, fixação, avaliação” vincula-se a

uma expressão formal e estática de conhecimento e potencializa os níveis de dificuldade dos

processos de aprendizagem.

PRESSUPOSTO N. 10

• É sob a forma de atividades práticas que o conhecimento, hospedado na

própria realidade, passa a adquirir corpo. Por isso, o princípio educativo que deve estar na

centralidade de diferentes dimensões metodológicas é a relação do que precisa ser

conhecido e o caminho que precisa ser trilhado para conhecer.

A partir destas concepções operativas e deste bloco de

pressupostos, são escolhidas concepções epistemológicas e dimensões

metodológicas específicas para a Educação Especial do Sistema Público Estadual

de Ensino de Mato Grosso. Isto sem desconsiderar os objetivos de cada nível e

modalidade de ensino, conforme apontados nas Diretrizes Curriculares Nacionais

Gerais para a Educação Básica, a Resolução CNE/CEB n. 17/2001, a Resolução n.

07/2010 e a Resolução n. 001/2012 CEE-MT.

Embora a SEDUC-MT estimule sua rede de escolas e instituições

educacionais a trabalharem com diferentes abordagens epistemológicas em

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92

consonância com o que a LDB, art. 3º, inciso III, denomina como pluralismo de

ideias e de concepções pedagógicas, no campo da Educação Especial,

recomenda-se um olhar cuidadoso nos pontos de vista gnosiológicos de Piaget e

Vygotsky. As contribuições destes pensadores são marcantes tanto no aspecto dos

alinhamentos teóricos, quanto no que tange à fundamentação da práxis pedagógica.

A interlocução dialógica das ideias destes autores ajudará escolas e professores a

construírem rotas de inclusão social e escolar com maior visibilidade.

Piaget e Vygotsky compõem a galeria de autores citados no

documento de Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato

Grosso. À guisa de reforço para alargar a compreensão de suas ideias, portanto,

aqui estão algumas incursões complementares em seus respectivos pensamentos.

O objeto de estudo de Piaget é o

sujeito epistêmico. Ou seja, o sujeito do

conhecimento. Para este pensador, o sujeito

epistêmico é aquele que nos possui a todos.

Somos ele! Assim, cada um produz

conhecimentos no contexto de sua cultura. No

processo das diversas estratégias desta

produção, que são diversificadas de uma

cultura para outra e mesmo de um sujeito para

outro, há mecanismos comuns, logo,

universais.

Sob a inspiração da Biologia, Piaget observou que o

desenvolvimento, para qualquer pessoa, independentemente de sexo, idade e

cultura, é um caminhar rumo ao equilíbrio. Este enfoque da equilibração de Piaget

hospeda-se, por sua vez, na teoria de sistema, assumida por ele para aclarar o

funcionamento da inteligência. Como estrutura, mecanismo e capacidade, a

Page 94: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

93

inteligência é, de fato, um sistema cognitivo, aberto e fechado ao mesmo tempo.

Aberto porque receptivo a informações e por elas nutrido, através da ação e da

percepção do sujeito. Fechado no sentido de que o sistema não se confunde com

uma página em branco, algo sem impressões e sobre quem as informações

recebidas simplesmente se inscreveriam, como num processo de adesão fatal. Pelo

contrário, a inteligência é um sistema dotado da capacidade de organização,

constituída pelos ciclos18. Desta forma, o desenvolvimento cognitivo se processa

pelo contato contínuo do sistema cognitivo com o influxo de informações advindas

do meio ambiente e, ainda, pelo contínuo processo de reestruturação que objetiva,

precisamente, fazer com que o sistema atinja o equilíbrio e nele permaneça.

O ritmo constante de reestruturações e de equilibrações percorre

longas etapas, que são os estágios de desenvolvimento. No entanto, passar por

estas etapas não é o destino pré-programado de cada pessoa. Tudo depende da

solicitação do meio, fonte de referência permanente para a reação do sistema

cognitivo sob a forma de construção de novas e superiores estruturas mentais.

A esta ideia de equilibração, se associam os conceitos de

reversibilidade das operações mentais. Para Piaget, ela é característica marcante e

presente sempre no pensamento adulto. Em decorrência, é imprescindível à eficácia

e à coerência do pensamento simbólico. Ou seja, é necessária ao equilíbrio do

sistema cognitivo. Não se trata de qualidade inata, nem mesmo de simples

aprendizagem dos códigos linguísticos. Ela é, de fato, construída ativamente pelo

sujeito no âmbito do processo de seu desenvolvimento cognitivo. Em decorrência

do processo de reversibilidade, dois outros conceitos emergem como explicitação

desta construção: regulação e compensação. Como esclarecem La Taille, Dantas e

Oliveira (1992:111), “(...) estes dois conceitos traduzem o funcionamento do

sistema em busca de equilíbrio”.

18 Cf., a propósito, a nota de n. 08, à fl. 39.

Page 95: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

94

Por fim, Piaget trabalha os conceitos de abstração reflexiva e

generalização construtiva. Descrevem como o sujeito passa de um nível “A” para

um nível superior “B”. Ou seja, descrevem como o sujeito constrói novos

conhecimentos e, assim, atinge níveis superiores de equilíbrio cognitivo. Em

síntese, Piaget aponta que a construção do conhecimento ocorre dinamicamente

por via de certos mecanismos, iguais para todos os seres humanos e, que,

portanto, possuem um grau de independência em relação às variáveis sócio-

históricas (idem, ibidem).

Estas são as bases da autonomia do sujeito na concepção piagetiana.

A autonomia que se explicita em novas formas de pensar e de produzir novos

conhecimentos. Para tanto, é necessário que o indivíduo tenha a oportunidade de

usufruir de relações sociais de cooperação. Piaget diz de co-operação. Esta teoria,

marcada pela chancela de teoria construtivista, é fundamental no processo

educativo, pois como ensina Freire, a educação, qualquer que seja o nível em que se

dê, se fará, tão mais verdadeira quanto mais estimule o desenvolvimento desta

necessidade radical dos seres humanos, a de sua expressividade.

Lev S. Vygotsky, segundo autor

referenciado nas Diretrizes da Orientação da

Educação Básica do Estado de Mato Grosso,

apresenta proposições de grande importância

para as áreas da psicologia e da educação. Com

destaque para o estudo e a compreensão da

formação de conceitos. Este enfoque remete

imediatamente à discussão das relações entre

pensamento e linguagem e ao fundamental

tema da mediação cultural em todo o processo

de construção de significados por parte do

Page 96: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

95

indivíduo. Em decorrência, conduz

necessariamente à interrogações sobre o

complexo processo de internalização do

conhecimento e sobre o papel da escola na

transmissão dos conhecimentos diferentes

daqueles apreendidos e aprendidos no dia a

dia.

Convém relembrar que este autor produziu seu corpo de

concepções teóricas no contexto das ideias materialistas.

Vygotsky tem como centralidade de pensamento a ideia de que o

ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social. Por isso, a

cultura funciona como fator determinante no processo de individuação e, em

decorrência, torna-se parte da natureza humana. Ao longo do processo de

individuação (Touraine, 2004:37), o processo histórico-cultural plasma o

funcionamento psicológico do indivíduo. Sua visão multidisciplinar centra atenção

específica no funcionamento cerebral. Realizou estudos importantes sobre lesões

cerebrais, perturbações da linguagem e, ainda, perturbações das funções

psicológicas em circunstâncias normais e patológicas. Para este pensador, as

funções psicológicas superiores se desenvolvem ao longo da história social do

homem. Na relação com o mundo e sob a mediação de instrumentos e símbolos

desenvolvidos culturalmente, o ser humano cria e recria as formas de ação que o

diferenciam dos demais animais. Como conseqüência, a compreensão do

desenvolvimento psicológico não pode estar centrada em propriedades naturais do

sistema nervoso.

A iluminação mais forte das ideias de Vygotsky espalha-se sobre o

território de compreensão equivocada de funções mentais fixas e imutáveis. Para

ele, o cérebro é, de fato, um sistema aberto, de larga plasticidade e de contínuo

Page 97: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

96

potencial dinâmico. O cérebro, portanto, pode se dispor a novas funções, criadas

culturalmente pelo homem, sem que para isto haja necessidade de

transformações morfológicas no órgão físico.

Para Vygotsky, a questão central na formação dos conceitos é a dos

meios através dos quais esta operação é realizada. Para ele, “(...) todas as funções

psíquicas superiores são processos mediados e os signos constituem o meio básico

para dominá-las e dirigi-las. (...) Na formação de conceitos, esse signo é a palavra,

que em princípio tem o papel de meio na formação de um conceito e,

posteriormente, torna-se o seu símbolo” (Vygotsky, 1989:48).

O processo de formação de conceitos neste primeiro estágio de

compreensão refere-se aos conceitos do dia a dia, espontâneos, ou seja, aqueles que

a criança desenvolve no corpo de suas interações sociais imediatas. Vygotsky

distingue os conceitos “cotidianos” dos conceitos adquiridos por meio do ensino

sistematizado, que são os “conceitos científicos”. Estes conceitos passam

igualmente por um processo de desenvolvimento. Portanto, não são apreendidos

em sua forma final, conclusa, acabada, mas se desenvolvem em direções contrárias

aos conceitos espontâneos. Isto é, inicialmente afastados, no processo de evolução,

vão se aproximando e terminam por se encontrar. Os conceitos científicos,

diferentemente do que ocorre com os conceitos cotidianos, estão organizados em

sistemas consistentes de interrelações. Aqui, realça a importância da instituição

escolar e das intervenções pedagógicas via educação escolar formal.

O destaque das conexões profundas entre a dimensão cognitiva e a

dimensão afetiva é a extraordinária contribuição do pensamento de Vygotskyl.

Sobretudo, na formulação de intervenções psicopedagógicas no interior de um

projeto de educação inclusiva e, portanto, de inserção de alunos da Educação

Especial, assim considerados historicamente, nas escolas regulares e nas salas de

aula comuns.

Page 98: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

97

Com as contribuições destes dois

pensadores, é possível construir uma linha de

fundamentação teórica no campo das práticas

pedagógicas inclusivas. Sobretudo, é possível

potencializar as mediações adequadas, para a

viabilização de uma Educação Especial não

divorciada da ideia de UMA SÓ ESCOLA

PARA TODOS.

Piaget e Vygotsky

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98

A CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NOS NÍVEIS FORMAIS DE ENSINO, SOB A INSPIRAÇÃO DE UMA SÓ ESCOLA PARA TODOS

“Diferenciar é trabalhar com alunos e grupos de diversos tipos: grupos de aprendizagem rápida, de necessidades, de níveis,

de projetos singulares. Diferenciar é desaprisionar...”.

Moaci Carneiro

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.

9.394/1996), no Título V, Capitulo I, art. 21, define a composição estruturante da

educação escolar nos termos seguintes:

a) Educação básica, formada pela Educação Infantil,

Ensino Fundamental e Ensino Médio;

b) Educação Superior.

Este mesmo título, agora, no capítulo II, art. 22, aponta as

finalidades da educação básica, situando-as no chão de uma formação comum e

alçando-as ao horizonte da preparação para o exercício da cidadania e pondo-as na

perspectiva de atribuir ao aluno as condições necessárias para progredir no trabalho

e em estudos posteriores.

A LDB define, ainda, as modalidades educativas dentro da seguinte

seqüência:

• Art.29: Educação Infantil;

• Art. 37: Educação de Jovens e Adultos;

• Art.39: Educação Profissional;

• Art. 58: Educação Especial;

• Art.78: Educação Indígena.

SEDUC-MT

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99

Neste processo de distribuição legal dos níveis e modalidades de

ensino, convém destacar três núcleos semânticos no âmbito de uma proposição de

organização pedagógica do ensino regular: O primeiro é o núcleo em torno do qual

gravita a expressão “educação básica”. O segundo, é o núcleo com centralidade no

termo “educando”. O terceiro, por fim, é o núcleo estruturador da própria LDB.

Vejamos cada um deles:

NÚCLEO I: EDUCAÇÃO BÁSICA

É curioso observar que a expressão educação básica está

presente na legislação de grande parte dos países do mundo e, por isso, integra o

corpo de documentos oficiais sobre a educação de praticamente todos os

organismos internacionais. Indica não apenas o conjunto de etapas seqüenciais de

aprendizagem que antecede o ciclo de estudos da educação superior e, portanto, de

preparação para o acesso a conhecimentos sistematizados avançados de nível

universitário, como também desenvolve capacidade para aquisição e acumulação de

conhecimentos indispensáveis à multiplicação de rotas e alternativas para o

exercício de uma cidadania madura, equilibrada, participativa e emancipadora.

NÚCLEO II: EDUCANDO

O termo educando é palavra de natureza transitiva no sentido

que traduz processos continuados de desenvolvimento intelectual e bio-psico-

social. Neste horizonte, a educação básica tem como foco um ser em formação

humana e processual e, por isso, cabe a ela (educação básica) oferecer as matrizes

de um desenvolvimento através do qual os sujeitos “educandos” sejam capazes de

superar as múltiplos determinação que a vida impõe, sobretudo aquelas “condições

de simbolização das pulsações destrutivas” (Warat, 2004:23).

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NÚCLEO III: SEQÜÊNCIA ESTRUTURAL DA LDB

Realça a seqüência estrutural da LDB. O legislador,

observando uma linha de preocupação com a geografia semântica de nossa lei de

ensino, constrói e desenvolve o texto legal, também, com uma preocupação de

refundar uma razão pedagógica já de partida, senão vejamos:

a) Titulo I: Conceito e abrangência de educação e de

educação escolar;

b) Titulo II: Princípios, fins e entes responsáveis pela

educação;

c) Título III: Formas de operacionalização dos deveres do

Estado no âmbito da educação escolar.

d) Título IV: Organização da educação nacional com

níveis de responsabilidade dos diferentes sistemas de

ensino;

e) Titulo V: Dos níveis e das modalidades de educação e

ensino, da composição dos níveis e das modalidades de

educação e ensino, da composição dos níveis escolares

e, por fim, do conceito de educação básica e de suas

vinculações com os conceitos operativos da cidadania e

progresso no trabalho e em estudos posteriores

(educação permanente).

Pode-se dizer, portanto, que a LDB trabalha com conceitos

fundantes de educação escolar como um processo contínuo de preparação para a

vida e para o trabalho e de qualificação para uma cidadania emancipada. É neste

horizonte que se posicionam os cinco primeiros Títulos da LDB.

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101

Por fim, a LDB, em seus artigos 23 e 27, enfatiza a ideia de

flexibilidade na organização escolar e de autonomia como linha crucial do Projeto

Político-Pedagógico escolar, como podemos ver:

LDB:

Art.23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferência entre estabelecimentos situados no país e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.

§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta lei.

A liberdade de organizar a educação básica de acordo com um

projeto pedagógico contextualizado, com o perfil do alunado e com o seu entorno,

existia já na legislação anterior. Recurso limitadamente utilizado pelas escolas

representa, de fato, um relevantíssimo instrumento de construção da autonomia

escolar. Este dispositivo, aliás, é desdobramento do preceito constitucional que

dispõe sobre a liberdade de ensinar (Art. 206, inc. II). Tal principio não apenas

confere este direito, mas, também, ao falar em “pluralismo de idéias e de

concepções pedagógicas” (Art. 206, inc. III), admite alternativas diferenciadas de

organização da educação.

Por extensão, convém compreender que a LDB oferece

desdobramento ao conceito de organização da educação nacional, encimado no

Título IV. Embora o Título se refira aos macrossistemas (Federal, Estadual e

Municipal), a educação básica transborda estes limites enquanto oferta organizada e

se cristaliza no sistema concentrado, compacto, que é a escola. Esta é a razão por

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102

que o Art. 15 da LDB diz que os sistemas de ensino assegurarão, às unidades escolares

públicas de educação básica (grifo nosso) que o integram, progressivos graus de

autonomia pedagógica e administrativa... Ou seja, estamos diante de uma

possibilidade legal de conceber, com total autonomia, o modelo de organização da

escola, de acordo com as suas peculiaridades (Art.14).

A riqueza de possibilidades que este dispositivo inaugura é ilimitada.

Se concretizada, poderá contribuir, grandemente, para que, de fato, cada escola

constitua um projeto pedagógico específico. Estamos diante de uma abertura legal

para a efetiva construção da identidade escolar. Isto é o que o texto LDB enseja. As

possibilidades de transformá-lo em utopia concreta é o desafio dos sistemas e das

escolas.

Colocadas estas premissas, cabe ressituar a posição da Educação

Especial, agora, na moldura da educação inclusiva. Impõe-se a compreensão de que

a moldura axiológica desta modalidade educativa é a definida fundamentalmente

nos parâmetros normativos em vigor de cada um destes níveis e modalidades de

ensino, considerando, sobretudo que a legislação especifica (Resolução CNE/CEB

n. 04/2010) ressalta o caráter de transversalidade da educação especial. Trata-se,

portanto, de uma construção de escolaridade que caminha em sentido vertical

quando potencializada nas finalidades e no corpo de objetivos e no currículo de

cada nível de ensino e, em sentido horizontal, quando reforçada no corpo de

metodologias e práticas pedagógicas no âmbito da própria modalidade educativa.

Esta constatação sinaliza a significativa evolução legal, conceitual e

pedagógica por que passa a Educação Especial. De fato, deixa de ser enxergada

como um subsistema congelado na organização de um tipo de educação e passa a

assumir uma compreensão sócio-educativa dinâmica, apoiada na concepção

inclusivista de uma só escola para todos. Este avanço político-pedagógico

reposiciona a Educação Especial na moldura da educação escolar regular (LDB, art.

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103

1º, § 1º) e a reconvoca para um enquadramento nas finalidades e nos objetivos de

cada um dos níveis de ensino, nos termos da LDB, como passamos a ver.

A) EDUCAÇÃO INFANTIL LDB

Art. 29 – A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

A Lei fala em desenvolvimento integral, ou seja, o planejamento

pedagógico e os currículos sob a forma de atividades e programações flexíveis não

podem privilegiar qualquer aspecto em detrimento de outro(s).

A importância da Educação Infantil cresce na medida do respeito à

cidadania da criança, à sua dignidade e seus direitos. Não é por acaso que os

movimentos sociais têm ampliado o circuito de pressão sobre o Estado no sentido

do desenvolvimento, implantação e implementação de políticas básicas no âmbito

da administração pública, envolvendo a União, Estados e Municípios de um lado e,

de outro, família, sociedade e instituições/organizações sociais. Este nível de

preocupação tem a ver, igualmente, com as transformações que a sociedade atual

está produzindo no processo de socialização das crianças, com destaque para:

a) a diminuição do tamanho das famílias;

b) o enfraquecimento dos laços de parentesco;

c) o excesso de individualismo das pessoas com a

consequente perda de solidariedade das relações conjugais;

d) a instabilidade das relações conjugais;

e) a redução drástica do tempo familiar dedicado à

sociabilidade infantil com o necessário trabalho da mulher

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104

seja para sua satisfação pessoal, seja para completar a renda

familiar.

A escolarização precoce torna-se um imperativo da vida moderna.

Ou seja, a Educação Infantil em instituições especializadas busca mitigar o

empobrecimento do universo afetivo, enseja o aprendizado da convivência em

grupo e, assim, supre, de alguma forma, as deficiências da “família ausente” que já

não tem como assegurar plenamente o chamado desenvolvimento integral da

criança. Por outro lado, como assevera documento do MEC, publicado

imediatamente depois da promulgação da LDB,

a legislação traduz a preocupação dos educadores e de equipes inteprofissionais com as profundas desigualdades sociais que caracterizam a sociedade brasileira. Em virtude dessas desigualdades, as oportunidades educacionais, os estímulos intelectuais e as próprias condições de desenvolvimento físico oferecidos às crianças das camadas sociais de renda mais elevada estão frequentemente ausentes no horizonte econômico e cultural da população mais pobre, criando-se, desta forma, mecanismos poderosos para a sua reprodução e manutenção. Nesse contexto, a Educação Infantil apresenta-se como um fator de enorme alcance na promoção de uma efetiva democratização do acesso, por parte de toda a população, aos benefícios do desenvolvimento econômico e cultural e à proteção contra os aspectos nocivos de uma urbanização descontrolada.

Todos os documentos internacionais reconhecem a importância da

Educação Infantil, afirmam o direito da criança à educação na primeira infância e

impõem ao Estado o dever de oferecer este serviço educacional.

Estamos longe de uma oferta institucionalizada de Educação

Infantil para todos. Esta constatação põe o Brasil em estado de alerta, pois, como

se sabe, “(...) do ponto de vista do desenvolvimento intelectual, as pesquisas mais

recentes indicam que, em relação ao nível de inteligência geral possuído aos 17

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105

anos, cerca de 50 por cento do acervo intelectual acumulado, já estão fixados aos 4

anos, enquanto os 30 por cento seguintes são adquiridos entre os 4 e os 8 anos. A

maior parte do tempo passado na escola entre os 8 e 17 anos é, portanto, dedicada

à aquisição dos 20 por cento restantes, o que sugere que a atual distribuição dos

recursos pelos diferentes níveis de escolaridade merece ser revista” (Dieuzeide, H.

“Antes dos seis anos”. O Correio da Unesco, 6 (7), jul./76:6).

As diretrizes gerais do MEC para a Educação Infantil estão

centradas nos seguintes grandes eixos:

a) a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica

e destina-se à criança de zero a seis anos de idade, não

sendo obrigatória, mas um direito a que o Estado tem

obrigação de atender;

b) as instituições que oferecem Educação Infantil, integrantes

do Sistema de Ensino, são as creches e pré-escolas,

dividindo-se a clientela entre elas pelo critério exclusiva da

faixa etária (zero e três anos na creche e de quatro a seis na

pré-escola);

c) a Educação Infantil é oferecida para, em complementação

à ação da família, proporcionar condições adequadas de

desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da

criança e promover a ampliação de suas experiências e

conhecimentos, estimulando seu interesse pelo processo de

transformação da natureza e pela convivência em

sociedade;

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106

d) as ações de educação, na creche e na pré-escola, devem ser

complementadas pelas de saúde e assistência, realizadas de

forma articulada com os setores competentes;

e) o currículo da Educação Infantil deve levar em conta, na

sua concepção e administração, o grau de desenvolvimento

da criança, a diversidade social e cultural das populações

infantis e os conhecimentos que se pretendam

universalizar;

f) os profissionais de Educação Infantil devem ser formados

em cursos de nível médio ou superior, que contemplem

conteúdos específicos relativos a essa etapa da educação;

g) as crianças com necessidades especiais devem,

sempre que possível, ser atendidas na rede regular de

creches e pré-escolas (grifo nosso).

A experiência internacional revela que, quando iniciada cedo, a

escolarização contribui para a igualdade de oportunidades, como apoio adicional à

superação das dificuldades iniciais de pobreza ou de um meio sociocultural

limitado. Além destas razões, que por si sós constituem argumentos de importância

transcendente, a Unesco, em seu Relatório sobre a Educação para o século XXI,

faz constatações importantíssimas: sem a escola, a socialização perde o espaço em

nossa sociedade, pois “as crianças que se beneficiam da educação pré-escolar têm

uma disposição mais favorável em relação à escola e correm menos risco de

abandonar prematuramente do que as que não tiveram esta oportunidade”.

Com a implementação do ensino fundamental de nove anos, as

faixas etárias da Educação Infantil foram alteradas, passando a pré-escola para o

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107

segmento de quatro a cinco anos. A prática escolar criou uma segmentação da

Educação Infantil com a seguinte estruturação:

• Berçário (bebê);

• Minimaternal (um ano);

• Maternal I (dois ou três anos);

• Maternal II (três ou quatro anos);

• Jardim I (quatro ou cinco anos);

• Jardim II (cinco ou seis anos);

• Pré-escola (etapa que antecede o ingresso na escola).

A partir da implementação do Ensino Fundamental de 9 anos, a

Educação Infantil passa a ser estruturada em dois segmentos, a saber: creche de 0 a

3 anos e pré-escola de 4 a 5 anos.

Não cabe à Educação Infantil desenvolver programas de disciplinas,

mas trabalhar com atividades que enfoquem, através de um planejamento lúdico-

pedagógico, dimensões cognitivas, afetivas, perceptivo-motoras, sociais, valorativas

e dialógicas. Este conjunto multifacetário vai conduzindo a criança a compreender

e a gerir o espaço, o tempo e a sua teia de ambiências. Mais do que isto, faz com

que ela absorva e reconstrua parâmetros para a cooperação, a tolerância, o respeito

aos outros, a autonomia e, ainda, ultrapasse o egocentrismo tão característico nesta

idade.

O Plano Nacional de Educação/PNE prevê 11 objetivos

específicos para a Educação Infantil, cabendo destacar, aqui, dois deles, a saber:

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108

PNE/OBJETIVO n. 11. EDUCAÇÃO INFANTIL.

11. Instituir mecanismos de colaboração entre os setores da

educação, saúde, e assistência na manutenção, expansão,

administração, controle e avaliação das instituições de atendimento das

crianças de zero a três anos de idade.

PNE/OBJETIVO n. 11. EDUCAÇÃO INFANTIL.

14. Promover a equidade entre os alunos dos sistemas de

ensino e das escolas pertencentes a um mesmo sistema de ensino.

Por outro lado, dentre as metas, há uma especialmente relevante no

campo da Educação Infantil:

16. Assegurar que as crianças com necessidades educativas especiais

sejam atendidas, sempre que possível, na rede regular de creches,

respeitando o direito e a necessidade de atendimento especializado.

A LDB trata a avaliação no campo da Educação Infantil com um

enfoque não de promoção, mas de desenvolvimento, como podemos ver:

Art. 31 – Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental.

Os conceitos de avaliação que devem ser atendidos na Educação

Infantil são o de acompanhamento do desenvolvimento e do processo de

observação, com o respectivo registro, e não o da promoção como acontece no

Ensino Fundamental. Esta diferença ajuda a compreender a distância que existe

entre ensino e educação, ou, mais precisamente, entre crescer interiormente e ser

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109

aprovado exteriormente. Trata-se, portanto, de um processo essencialmente

qualitativo.

Neste campo, há muito que se fazer ainda. O processo de avaliação

da escola brasileira não consegue ultrapassar a dimensão do “ensino dado”, sem

considerar, por conseguinte, os ritmos individuais. É uma avaliação de conteúdos

de ensino e, não, uma avaliação de desenvolvimento evolutivo da aprendizagem.

Para esta tarefa, tem-se que formar um competente quadro de especialistas da área

de apoio ao desenvolvimento, o que inclui, além dos professores, médicos,

psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas familiares (a

Educação Infantil é complementar à ação da família e da comunidade),

orientadores educacionais, supervisores e especialistas em medidas educacionais.

Todos estes profissionais trabalharão de forma permanente e articulada, para se

poder garantir o acompanhamento da criança e o adequado registro do processo de

evolução. Dirão alguns que se trata de uma utopia, tal a dificuldade de reunir tantos

profissionais e a complexidade de fazê-los trabalhar educativamente! Mas, afinal, o

que é educação senão um processo de construção da utopia concreta?!

As práticas pedagógicas no campo da avaliação são, em geral, de

grande complexidade, sobretudo quando se trabalha na educação básica. No

entanto, o grau de complexidade aumenta quando estas práticas estão voltadas para

a Educação Infantil. Neste ciclo escolar, exige-se do professor que tenha clareza

sobre os níveis de interseção entre as atividades de ensinar, educar e formar.

Ensinar é um compacto de atividades (procedimentos) vinculado ao campo dos

conhecimentos sistematizados, dos saberes metologizados. Educar é uma gama de

processos articulados, vinculados à esfera do saber-ser. Tem, portanto, a ver com

conformidades comportamentais, hábitos, relações intersubjetivas e desempenho

social. Forma, por fim, é trabalhar competências, objetivando a inserção do sujeito

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110

em atividades sociais, laborais e situacionais precisas. Vincula-se ao campo do

saber-fazer.

Estas diferenciações não são apenas semânticas, senão, também,

pedagógicas. Condicionam, elas, formas próprias, mas articuladas, de avaliação.

Aqui está o enorme desafio do professor da Educação Infantil. A ele, cabe saber

substituir as imposições históricas de métodos repressivos de avaliação, por práticas

renovadas de métodos expressivos do conhecimento. Ou seja, avaliar, na Educação

Infantil, supõe deixar que a criança expresse o seu desenvolvimento qualitativo. Por

isso, a avaliação é continuidade e, nunca, finalidade em si. Tanto é assim que a lei

descarta a avaliação com o objetivo de promoção. Nesta fase de sua escolaridade,

mais do que responder, a criança deve ter a oportunidade de perguntar. Nesta

direção, vale lembrar a observação de Jerome Brunner, em seu texto clássico The

process of education: “Uma criança nunca dá uma resposta errada. Ela,

simplesmente, responde a uma pergunta diferente. A resposta está certa para aquela

pergunta. Somos nós que temos que descobrir qual foi a pergunta que a criança

respondeu corretamente. Precisamos não só respeitar o que ela sabe, mas, também,

aquilo que desejamos que saiba”.

B) ENSINO FUNDAMENTAL LDB

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei n. 11.274, de 2006).

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

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111

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos.

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino.

§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.

§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei n. 11.525, de 2007).

A Resolução CNE/CEB n. 07/2010, por seu turno, estabelece

como fundamento do Ensino Fundamental:

Art. 3º O Ensino Fundamental se traduz como um direito público subjetivo de cada um e como dever do Estado e da família na sua oferta a todos.

Art. 4º É dever do Estado garantir a oferta do Ensino Fundamental público, gratuito e de qualidade, sem requisito de seleção.

Parágrafo único. As escolas que ministram esse ensino deverão trabalhar considerando essa etapa da educação como aquela capaz de assegurar a cada um e a todos o acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura imprescindíveis para o seu desenvolvimento pessoal e para a vida em sociedade, assim como os benefícios de

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112

uma formação comum, independentemente da grande diversidade da população escolar e das demandas sociais.

Art. 5º O direito à educação, entendido como um direito inalienável do ser humano, constitui o fundamento maior destas Diretrizes. A educação, ao proporcionar o desenvolvimento do potencial humano, permite o exercício dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à diferença, sendo ela mesma também um direito social, e possibilita a formação cidadã e o usufruto dos bens sociais e culturais.

§ 1º O Ensino Fundamental deve comprometer-se com uma educação com qualidade social, igualmente entendida como direito humano.

§ 2º A educação de qualidade, como um direito fundamental, é, antes de tudo, relevante, pertinente e equitativa.

I - A relevância reporta-se à promoção de aprendizagens significativas do ponto de vista das exigências sociais e de desenvolvimento pessoal.

II - A pertinência refere-se à possibilidade de atender às necessidades e às características dos estudantes de diversos contextos sociais e culturais e com diferentes capacidades e interesses.

III - A equidade alude à importância de tratar de forma diferenciada o que se apresenta como desigual no ponto de partida, com vistas a obter desenvolvimento e aprendizagens equiparáveis, assegurando a todos a igualdade de direito à educação.

§ 3º Na perspectiva de contribuir para a erradicação da pobreza e das desigualdades, a equidade requer que sejam oferecidos mais recursos e melhores condições às escolas menos providas e aos alunos que deles mais necessitem. Ao lado das políticas universais, dirigidas a todos sem requisito de seleção, é preciso também sustentar políticas reparadoras que assegurem maior apoio aos diferentes grupos sociais em desvantagem.

§ 4º A educação escolar, comprometida com a igualdade do acesso de todos ao conhecimento e especialmente empenhada em garantir esse acesso aos grupos da população em desvantagem na sociedade, será uma educação com qualidade social e contribuirá para dirimir as desigualdades historicamente produzidas, assegurando, assim, o ingresso, a permanência e o sucesso na escola, com a consequente redução da evasão, da retenção e das distorções de idade/ano/série (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica).

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113

Esta Resolução, ainda, estabelce em seu art. 22, que o trabalho

educativo no Ensino Fundamental deve empenhar-se na programação de uma

cultura escolar acolhedora e respeitosa, que reconheça e valorize as experiências

dos alunos, atendendo as suas diferenças específicas, de modo a contribuir

para efetivar a inclusão escolar e o direito de todos à educação (grifo nosso).

Ao condicionar o desenvolvimento da capacidade de aprender ao

pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, o legislador tem em mente a

aprendizagem sistematizada através do processo de escolarização. Vincular a leitura,

a escrita e o cálculo ao Ensino Fundamental implica atribuir, a este nível de ensino,

a responsabilidade da alfabetização mais do que a aprendizagem da língua escrita. A

alfabetização é um processo de construção, produção e refinalização do

conhecimento. Enquanto função social, a escrita é anterior às práticas escolares

posto que está presente no universos dos objetos que rodeiam a criança. O que, de

fato, a escola faz é transformá-la em objeto de ensino. Mas esta responsabilidade da

escola é essencial porque a pluralidade de situações do manejo da língua escrita

enseja reflexão e descoberta das regras de seu funcionamento e de sua organização.

A leitura é um ato dinâmico que vai além da decodificação da mensagem à medida

que se trata de um processo interativo, envolvendo leitor-autor-texto-contexto. O

leitor é um sujeito social e é na moldura desta compreensão que a escola deve

promover a alfabetização das crianças.

Da fala à escrita, é necessário compreender que, à escola de Ensino

Fundamental, se impõem níveis de compreensão, todos ligados à ideia matriz de

comunicação/alfabetização, senão vejamos:

• Oralidade: prática social interativa com foco na

comunicação essencial. Apresenta-se sob modalidades

textuais vazadas na realidade sonora;

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114

• Letramento: prática social desdobrada em outras práticas

sociais diferenciadas que vão desde o uso formal da escrita

até a apropriação extensa e intensa do código escrito através

da produção de livros. Mas passa, igualmente, por processos

simples de identificação de objetos como a distinção de

mercadorias no supermercado, o ônibus que se deve tomar,

o uso dos terminais eletrônicos, do celular etc.;

• Fala: forma de produção textual-discursiva com foco na

comunicação e que envolve, além de sons articulados e

significativos, um conjunto de recursos expressivos, tais

como: gestualidade, mímica, movimentos do corpo etc.

De acordo com Marcushi (2001:27), as relações das duas

modalidades de uso da língua (fala versus escrita) se operam na perspectiva de

dicotomias, do tipo:

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115

Por fim, o domínio do cálculo como processo integrante da

formação básica do cidadão impõe-se à medida que a sociedade do conhecimento

se utiliza, cada vez mais, de informações científicas e recursos tecnológicos para

poder compreender melhor e transformar, de forma responsável, sua realidade.

Além do mais, a Matemática é uma linguagem universal. Trabalha com elementos

como abstração, precisão, rigor lógico, sequencialidade. Estes traços da Matemática

têm ampla aplicação na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do

pensamento, na agilização do raciocínio dedutivo do aluno, na solução de

situações-problema da vida cotidiana, nas atividades do mundo do trabalho e,

também, no suporte dos processos de conhecimento de outras áreas curriculares.

O objetivo da formação básica do cidadão ora apresentado tem

desdobramentos na Resolução CNE/CEB n. 07/2010, que fixa Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 09 (nove) anos. nos

chamados objetivos gerais do Ensino Fundamental constantes dos Parâmetros

Curriculares Nacionais, de acordo com a seguinte formulação:

Aqui, emerge o papel da escola na formação de atitudes e valores à

medida que ela não deve trabalhar tendo como referência a aldeia global, mas a

sociedade-polis que, contemporaneamente, se apresenta aos indivíduos sob a forma de

quatro grandes desafios:

• A democratização por via da inclusão social;

• A formulação de um modelo real de Modernidade;

• O direito à construção da própria identidade;

• A integração na cultura planetária e na economia mundial.

A escola de Ensino Fundamental é o ambiente institucional próprio

que a sociedade criou para, no processo de evolução humana, o indivíduo receber

informações sistematizadas, reelaborá-las sob a forma de conhecimento e converte-

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116

las em habilidades para ampliação de comunicação, produção de objetos, bens e

serviços. Tudo isso leva à formação de atitudes, valores e à construção cultural. O

Ensino Fundamental é, portanto, o alicerce para a construção do saber organizado,

no quatro de uma organização do conhecimento.

Não se pode esquecer que a escola e, sobretudo, a escola de Ensino

Fundamental têm uma enorme responsabilidade no campo da socialização cívica e

política. Ela contribui para qualificar as interações e os valores socioculturais nesta

fase decisiva de vida dos alunos.

Como norma, o Ensino Fundamental é presencial e somente

admissível a sua oferta à distância à guisa de complementação de estudos e de

aprendizagem.

Quando o legislador fala em situações de emergência para a oferta

do Ensino Fundamental à distância, refere-se especificamente a situações como:

• Alunos que, por razões especialíssimas, não podem

frequentar uma escola regular de Ensino Fundamental;

• Alunos que residem em regiões remotas nas quais é difícil o

acesso a cursos presenciais;

• Alunos que sofrem de doenças crônicas;

• Alunos que mudam frequentemente de residência;

• Alunos que moram em zona rural afastada ou em regiões

urbanas socialmente degradadas e com altos índices de

violência.

Os cursos a distância em situações emergenciais são mais indicados

para alunos adultos. No caso de alunos em faixa etária de escolaridade obrigatória,

os estudos devem ser tutorados pelos pais ou outros adultos ou, ainda, ter o

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117

acompanhamento de monitores. A experiência internacional é que o Ensino

Fundamental a distância seja oferecido a adultos que, por motivos de ordem social,

econômica ou educacional, estão impedidos de frequentar cursos regulares.

A alternativa de Ensino Fundamental a distância, integral ou

parcialmente, vem ao encontro de algumas situações de alunos da Educação

Especial que vivenciam condições permanentes de quadros crônicos de limitações

agudas.

C) ENSINO MÉDIO LDB

Art. 35 – O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades:

I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

O Ensino Fundamental trabalha o currículo com foco em:

capacidades afetivas e cognitivas, identidade, valorização do corpo e da vida,

domínio de linguagens, construção do pensamento lógico, sistematização do

conhecimento, organização social, cidadania participativa, conhecimento das

características do Brasil, valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural

brasileiro, interações sociais e com o meio ambiente e formas de intervenção na

realidade. Estas informações, conhecimentos e maneiras de agir de forma cidadã,

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118

agora, no Ensino Médio, precisam ser consolidados e aprofundados. Como? É no

Ensino Médio, etapa final da educação básica, que o aluno começa a trabalhar o

conhecimento em uma convergente dimensão, ao mesmo tempo mais escolar e

mais científica. Ou seja, o conhecimento, agora, está mais voltado para o

desenvolvimento de rotas na perspectiva do aprimoramento do aluno nos três

domínios da ação humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a

experiência subjetiva. Esta tríade é trabalhada pelo currículo do Ensino Médio na

perspectiva da integração de homens e mulheres no tríplice universos das relações políticas, do

trabalho e da simbolização subjetiva (Pecnem).

A preparação básica para o trabalho e para a cidadania do aluno são

finalidades que o Ensino Médio vai perseguir por via de um currículo centrado no

desenvolvimento de competências. Para caminhar nesta direção, a escola deve

trabalhar o currículo com foco nas aprendizagens significativas que, de acordo

coma teoria cognitiva da aprendizagem (Ausubel), consistem em as novas

informações (aquelas trazidas pelos conteúdos de cada disciplina) se hospedarem

em conceitos e níveis de compreensão preexistentes na estrutura cognitiva do

aluno). É a partir da inserção em aprendizagens significativas que se desenvolvem

habilidades e competências, entendidas como atributos intelectuais que o aluno

incorpora a si através dos conhecimentos em sala de aula e que estão à disposição

(disponibilizadas potencialmente) para ser usadas de forma adequada sempre que

necessário.

A preparação para o trabalho realizada pela escola de Ensino Médio

tem precisamente esta finalidade de potencializar e explicitar a relação entre teoria e

prática, entre conteúdos e contextos, destacando que o trabalho é o contexto mais

importante da experiência curricular no Ensino Médio.

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119

O aprimoramento do aluno como pessoa humana é desdobramento

da preparação para a cidadania. Mudam, apenas, os estágios. Um consolida e o

outro aprofunda.

O aluno é uma identidade e, portanto, um ser de diferenças. A

construção da identidade é um processo longo e complexo porque está vinculada a

condições sociais e materiais. Rutherford (1950:15) esclarece que “(...) a identidade

marca o encontro do nosso passado com as relações sociais, culturais e econômicas

nas quais vivemos agora (...) a identidade é a interseção de nossas vidas cotidianas

(...)”, ou seja, a escola de Ensino Médio é o espaço privilegiado que o aluno

encontra, certamente pela primeira vez, para aclarar sua sociobiografia, sua história

de vida, suas condições como ser de relações. O currículo estudado vai-lhe oferecer

oportunidade de apreender melhor o conjunto dos padrões culturais que produzem

o seu biótipo e o seu sociotipo. Este nível de compreensão ajudá-lo-á a crescer no

campo da tolerância, do reconhecimento das diferenças, no direito à igualdade, na

responsabilidade coletiva, em suma, em seu processo ininterrupto de harmonização

e de humanização.

Na perspectiva aqui colocada, três são as dimensões a ser

trabalhadas pela escola de Ensino Médio. A primeira é a formação ética, enquanto

resultante de processos vinculados a contextos em que cada um se confronta com a

tarefa de sua incessante autocriação, porque a vida nunca está pronta. Introduzir

esta dimensão ética importa internalizar a ética com refletores que mostram que as

relações humanas não visam o controle do outro, senão a possibilidade de se confrontar com o

inesgotável, com o infinito das pessoas e das situações (Imbert, 2001:95). Isto supõe aceitar a

diferença e valorizar a diversidade. Mais do que isto: conhecer o direito à

individuação (Touraine, 2002:14). A segunda dimensão é o desenvolvimento da

autonomia intelectual, ou seja, disponibilizar instrumentos cognitivos que

possibilitem, ao aluno, reconstruir, reinventar e refinalizar os conhecimentos,

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120

tornando-os capazes de negociação permanente dos significados dos conteúdos

curriculares. Ou como dizem os Pcnem, motivar o aluno a aprender a aprender e a

pensar, a relacionar o conhecimento com dados da experiência cotidiana, a dar

significado ao aprendido e a captar o significado do mundo. A terceira dimensão é

o desenvolvimento do pensamento crítico. Implica aprender, progressivamente, a

adotar uma postura reativa responsável, fazendo o nexo entre teoria e prática e

argumentando com base em fatos. O pensamento crítico tem como pré-condição o

reconhecimento de que argumentar com responsabilidade mobiliza afetos, emoções e relações com os

pares, além de cognições e habilidades intelectuais (Pcnem).

Estas três dimensões juntas vão oferecer, ao aluno, condições para

identificar as conexões existentes entre os conteúdos curriculares, as situações de

aprendizagem e os diferentes contextos da vida pessoa, social e planetária. É a isto

que se convencionou chamar de constituição de uma identidade autônoma,

suprema finalidade da educação básica.

A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos

processos produtivos como mais uma finalidade do Ensino Médio está diretamente

ligada à preparação básica para o trabalho e para a cidadania do aluno. Na verdade,

enquanto conhecimentos aplicados às diferentes áreas da atividade humana, as

tecnologias somente ganham relevância quando referenciadas a contextos de

trabalho, sem excluir os contextos da vida pessoal, cotidiana e convivencial,

evidentemente. Se no Ensino Fundamental a tecnologia marca presença como

“alfabetização científico-tecnológica”, entendida como a familiarização com

tecnologias de uso geral – telefones celulares, equipamentos de multimídia,

computadores, controles remotos, cartões magnéticos, etc. –, no Ensino Médio, sua

compreensão é mais extensa e intensa. É absorvida como processo e como

produto. No primeiro caso, ela surge integrada às Ciências da Natureza e à

Matemática, possibilitando uma maior compreensão contemporânea do universo

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121

físico, da vida planetária e da vida humana. No segundo caso, além de dar sentido

ao uso da tecnologia, o aluno do Ensino Médio é educado, também, para conectar

os inúmeros conhecimentos com suas aplicações tecnológicas, através da

contextualização de todas as áreas e de todas as disciplinas.

Na verdade, a compreensão da tecnologia incorporada aos

processos produtivos e sua procura no quadro das finalidades do Ensino Médio

remetem ao próprio currículo não só deste nível de ensino, mas de toda a educação

básica, dando expressão concreta à preparação básica para o trabalho e para a cidadania

(Pcnem).

Os princípios norteadores da organização pedagógica e curricular

do Ensino Médio são:

a) A estética da sensibilidade: busca substituir a estética da

repetição e da padronização, incentivando o aprender

criativo, a função humana da curiosidade, o

desenvolvimento da afetividade e “as formas lúdicas e

alegóricas de conhecer o mundo”;

b) A política da igualdade: busca, a partir do respeito aos direitos

humanos, desenvolver o princípio constitucional da

igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, no respeito

ao patrimônio comum, no encorpamento do espírito de

responsabilidade tanto na área pública como no mundo das

relações privadas e na intolerância com todas as formas de

discriminação;

c) A ética da identidade: busca ultrapassar as dicotomias entre

público e privado, entre mundo moral e material,

praticando um humanismo permeável de elementos da

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122

solidariedade, espírito público e reciprocidade, qualidades

que devem cimentar as ações da vida cotidiana,

profissional, social e civil. Enquanto fundamento

educativo, esta ética não se preocupa em “enquadrar” os

alunos em modelos preestabelecidos de conduta social.

As áreas curriculares a serem trabalhadas nas escolas de Ensino

Médio estão assim estruturadas:

a) Linguagens, códigos e suas tecnologias: processo arbitrário, as

linguagens veiculam o conhecimento e as de conhecer.

Estruturam o pensamento e as formas de pensar,

incorporam a comunicação e as tipologias de comunicar.

No mundo atual, a inteligência das linguagens e de seus

sistemas, mobilizados por códigos plurais, assegura o

envolvimento na dinâmica da vida social, no horizonte da

cidadania desejada. Os códigos se mostram no conjunto de

escolhas e combinações discursivas, gramaticais, lexicais,

fonológicas, gráficas, etc. (PCN. Vol. 2, p. 15. MEC. BsB,

1999). Enfim, as tecnologias emergem do entendimento de

que as conexões das práticas sociais e produtivas se dão via

linguagens e códigos situados no espaço e no tempo

histórico. Estas conexões, que na verdade são as atividades

das práticas sociais e produtivas, situam a inserção do

cidadão em um mundo cada vez mais do conhecimento e

dos símbolos;

b) Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: a

apropriação de concepções científicas atualizadas,

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123

referentes ao mundo físico e à conservação do espaço

terrestre, constituem o foco esta área. Na verdade, trata-se

de compreender que o objeto da Física, da Química, da

Biologia, da Matemática etc., deve ter como referência o

mundo físico e natural, embora não se confunda com ele.

Os objetos destes campos de conhecimento são distintos.

Cada uma destas ciências possui leis próprias. Ao currículo

escolar cabe contribuir para que a compreensão e

apropriação destas leis, situá-las na gramática interna de

cada área e, a partir de então, resolver problemas

concretos, mobilizando tecnologias disponíveis ou

adequando tecnologias;

c) Ciências Humanas e suas Tecnologias: a ética da identidade

pressupõe o “aprender a ser”. Em decorrência, a ação da

escola não se esgota em transmitir conhecimentos. A ideia

é que a própria organização escolar e a constituição

curricular flexível, cimentadas nos princípios estéticos,

políticos e éticos, adotem a inteligência de que os

conhecimentos de teor histórico-geográfico,

socioeconômico, jurídico, psicológico e antropológico

constituem insumos fundamentais de interpretação da

História Cultural das sociedades e, portanto, instrumentos

de sinalização e clarificação dos contornos do pensamento

e do conhecimento nas suas transações e confrontações da

atividade humana.

A escola de Ensino Médio com este perfil deve ter, na

interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos, na flexibilidade do currículo

Page 125: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

124

e no trabalho em equipe, as estratégias fundamentais de organização e

funcionamento.

No Ensino Médio, as disciplinas curriculares, as metodologias e os

procedimentos de avaliação devem convergir para que o aluno desenvolva as

capacidades necessárias de compreensão dos códigos básicos da moderna

produção, revele-se familiarizado com as formas contemporâneas de comunicação.

Pela agregação dos diversos conhecimentos adquiridos na escola,

agora fortalecidos pela visão crítica que a Filosofia e a Sociologia oferecem, o aluno

vai poder posicionar-se mais adequadamente sobre a importância e a validade da

vida social, do que aprendeu, do que está aprendendo e do que vai aprender. E esta

avaliação é fundamental para a definição de sua postura ética.

No contexto do Ensino Médio e da elaboração gradativa da

concepção de educação inclusiva, a Educação Especial reposiciona-se no seio do

processo de escolaridade regular e, nesta condição, retira a escola da condição de

aparelho ideológico do Estado, confirmador de desigualdades sociais.

É imperioso, portanto, ressituar o aluno da Educação Especial na

escola regular, nas classes comuns e vinculado aos níveis formais de ensino,

imprimindo, ao seu modo e dentro do seu padrão de subjetividade, as

peculiaridades legais e pedagógicas de cada um deles. Fora disto, o que existe é

uma outra escolaridade, fora da lei. Não existe educação escolar desvinculado dos

níveis de ensino previstos na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Este é o enquadramento legal da Educação Especial

posicionada no circuito do Ensino Médio.

Page 126: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

125

O CURRÍCULO FLEXIBILIZADO E AS LINHAS GERAIS DE ADEQUAÇÃO CURRICULAR NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

“O aluno é o centro do processo educativo e o professor, fonte de recursos e de apoio”.

Moaci Carneiro

A Secretaria de Estado da Educação de Mato Grosso reconhece o

planejamento pedagógico e as intervenções docentes como os dois rumos

prevalecentes da adequação curricular.

Para viabilizar este processo, estabelecem-se criteriologia e

patamares de procedimentos, dependendo do nível de adequação.

No âmbito da criteriologia pedagógica, a escola deverá definir clara

e coletivamente:

a) O que o aluno deve aprender (Aprendizagem significativa);

b) Como o aluno deve aprender (Procedimentos);

c) Quando o aluno está apto a aprender (Temporalidades);

d) Tipologias seletivas para assegurar o processo eficiente de

aprendizagem (Formas de organização do ensino);

e) Modalidades de avaliação e processos sequenciais de

acompanhamento do progresso do aluno.

Estas decisões devem envolver o professor, o aluno e o coletivo dos

professores, uma vez que se trata de procedimentos de adequação encorpados na

proposta pedagógica e no currículo em execução, no espaço da sala de aula.

SEDUC-MT

Page 127: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

126

As adequações curriculares são procedimentos processuais em que

o aluno e professor se envolvem com o objetivo de possibilitar, ao aluno, a

superação de dificuldades de aprendizagem. Ou seja, a adequação curricular é uma

resposta da escola às necessidades dos alunos com limitações de aprendizagem.

Neste caso, o currículo se torna mais apropriado, sob o ponto de vista de

assimilação, aos alunos.

O ponto de referência para as adequações é o currículo comum,

geral, regular. A partir dele, são adotadas formas mais confortáveis intelectualmente

para o aluno progredir em sua escolaridade. A adequação é resultado do conjunto

de elementos materiais, de recursos pedagógicos e de formas de intervenção

professor/aluno, mobilizados para ampliar as chances de os alunos com

necessidades educacionais especiais se desenvolverem em seu aprendizado. Importa

dizer que as adequações cobrem todo o território de execução curricular,

envolvendo, portanto:

• Objetivos;

• Conteúdos;

• Habilidades e Competências a desenvolver;

• Metodologias;

• Extensão temporal das adequações;

• Extensão organizacional das adequações;

• Modalidades de avaliação.

A estrutura matricial curricular da Educação Especial para a

execução do Currículo Funcional cobre:

Page 128: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

127

A) QUANTO AO CONTEXTO

� Contexto Familiar;

� Contexto Escolar;

� Contexto Comunitário;

� Contexto Ocupacional.

B) QUANTO ÀS ÁREAS DE DIMENSÃO DE APOIO

B.1) Funções Intelectuais:

� ÁREAS DE CONHECIMENTO:

� Percepção;

� Raciocínio lógico-matemático;

� Organização do pensamento;

� Análise e síntese;

� Compreensão do mundo e aprendizagem

formal;

� Generalização de conhecimentos.

B.2) Comportamento adaptativo:

� ÁREAS DE CONHECIMENTO:

� Habilidades Conceituais;

� Habilidades Sociais;

� Habilidades Práticas de vida autônoma e

independente.

Page 129: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

128

B.3) Formação da identidade pessoal, social e

cultural:

� ÁREAS DE CONHECIMENTO:

� Comunicação;

� Participação;

� Interação;

� Vivência de papéis sociais;

� Expressão Artística;

� Capacidade Criadora;

� Exercício de Cidadania.

B.4) Funções Psicomotoras:

� Esquema corporal;

� Equilíbrio;

� Coordenação Dinâmica Geral;

� Coordenação Motora;

� Orientação espaço/temporal;

� Lateralidade

B.5) Definição da carga horária semanal e Definição

da carga horária anual.

Ao longo da execução desta matriz, devem ser observados os

chamados aspectos relevantes de conduta, dentre os quais cabe destacar:

Page 130: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

129

• Programação específica escolar do aluno mais agenda geral

através das quais seja possível aferir o nível de

desenvolvimento no campo das habilidades e performance,

como expressões de qualidade de vida;

• Adequação à idade cronológica, dando, ao aluno, a

possibilidade e a prioridade de realizar suas atividades em

ambiente natural;

• Compartilhamento convivencial com outros alunos de idades

iguais ou próximas, como forma de permuta de experiências

naturais de vida.

A definição dos conteúdos deve ser balizada por um enlace que

aproxime interesses, necessidades e potencialidades do aluno. Este campo de

domínio exponencializa o campo de atividades por meio de ações pedagógicas

viabilizadoras do desenvolvimento das habilidades.

Cabe, ao professor, definir, com o aluno, a carga horária semanal

para o desenvolvimento das atividades funcionais, baseadas na dimensão do Apoio.

Os procedimentos de avaliação são trabalhados com conceitos

baseados em indicadores. Estes, por sua vez, devem guardar relação intrínseca com

as áreas de conhecimento. No caso da matriz proposta, os indicadores de

avaliação poderão ter a seguinte relação:

INDICADORES DE AVALIAÇÃO

• Capacidade para compreender o ambiente e reagir a

ele adequadamente com base nos conhecimentos

construídos:

Page 131: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

130

� Áreas do Conhecimento:

� Percepção;

� Raciocínio lógico-matemático;

� Organização do pensamento;

� Análise e síntese;

� Compreensão de idéias;

� Conhecimento do mundo e

aprendizagem formal;

� Generalização de conhecimentos.

• Capacidade de planejar e solucionar problemas e

aplicação na atividade prática:

� Áreas do Conhecimento:

� Percepção;

� Raciocínio lógico-matemático;

� Organização do pensamento;

� Análise e síntese;

� Compreensão de idéias;

� Conhecimento do mundo e

aprendizagem formal;

� Generalização de conhecimentos.

• Relacionados aos aspectos acadêmicos, cognitivos e

de comunicação. Ex: linguagem, leitura e escrita,

conceitos matemáticos:

Page 132: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

131

� Área do Conhecimento:

� Habilidades conceituais.

• Relacionados à competência social. Ex: habilidades

interpessoais, responsabilidade, autoestima,

observância de normas de conduta, regras e leis,

evitar a vitimização:

� Área do Conhecimento:

� Habilidades sociais.

• Relacionados à vida autônoma e independente. Ex:

atividades de cuidado pessoal na vida diária,

atividades instrumentais de vida, habilidades

ocupacionais e segurança no ambiente.

� Área do Conhecimento:

� Habilidades práticas de vida autônoma

e independente.

• Considera os conceitos típicos de seu grupo etário

consistentes com a diversidade cultural e linguística

da pessoa, constituindo espaços que possibilitam sua

participação, interações sociais e vivência de papéis

sociais que refletem a quantidade e a qualidade de seu

engajamento em seu ambiente e o exercício de sua

cidadania:

� Área do Conhecimento:

� Comunicação;

� Participação;

Page 133: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

132

� Interação;

� Vivência de papéis sociais;

� Expressão artística;

� Capacidade criadora;

� Exercício da cidadania.

• Considera o desenvolvimento integral do ser,

articulando corpo, movimento e mente, de forma a

favorecer a comunicação e expressão de seus

pensamentos, desejos e necessidades:

� Área do Conhecimento:

� Esquema corporal;

� Equilíbrio;

� Coordenação dinâmica geral;

� Coordenação motora;

� Orientação espaço-temporal;

� Lateralidade.

Page 134: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

133

ROTAS DE INTERLOCUÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL COM A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

“Educação e trabalho: este o verdadeiro nome da vida”.

Henri Desroche

Na sociedade inclusiva, o conhecimento é uma espécie de energia

irradiadora. Por isso, a pedagogia, arte e técnica de ensinar, como anota Jaccky

Biellerot (1989:131), amplia suas fronteiras em favor de uma antropologia da

aprendizagem permeável a tudo que de humano possa existir. E nada mais humano

do que o trabalho. Nas suas diferentes explicitações, o trabalho não apenas

dignifica a vida, como a transforma pelo poder de recriação de que se impregna.

Como ser humano fora do palco do trabalho, fora do ser para trabalhar e do

trabalhar para ser? Mesmo as pessoas impossibilitadas de trabalhar e de produzir

dentro de conformidades ocupacionais pré-definidas, trabalham a seu modo, pois a

forma possível de viver a vida é também a forma factível de trabalhar. Talvez seja

esta a perspectiva de muita gente excluída das redes de poder econômico. Redes

que favorecem a dissociação, cognição e sensibilidade e, portanto, negam o direito

ao trabalho, o direito à ternura de uma vida prazerosa.

As pessoas com necessidades educacionais especiais têm o direito

ao prazer do conhecimento e do conhecimento em sua dimensão resolutiva dos

processos de educação profissional. Pela legislação em vigor, estes processos devem

estar desaprisionados de esquemas inflexíveis de organização de cursos “pré-

moldados”. Quase sempre, estes cursos são estruturados a partir de um fato

comum, qual seja, o desenvolvimento de práticas pedagógicas que tendem a

impedir a expressão das singularidades. Neste horizonte, a oferta geral de cursos de

qualificação profissional para pessoas com necessidades educacionais especiais

SEDUC-MT

Page 135: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

134

pelos sistemas regulares de ensino é a própria imagem da exclusão

institucionalizada.

A Educação Profissional não pode continuar refém de uma

compreensão única e de uma forma inflexível de organização acadêmica voltada

para uma “clientela” de perfil único. A natureza humana e as pessoas são plurais.

Sobretudo em alguns casos – na oferta de cursos para alunos com deficiência

mental e múltipla – os programas de Educação Profissional precisam ter uma

estrutura destravada, com diferentes encaixes e enlaces possíveis. O princípio a ser

adotado pelos Sistemas Públicos de Ensino, que pautam a oferta de serviços

educacionais pelos parâmetros da educação inclusiva, como é o caso do Estado de

Mato Grosso, é sentir o aluno para consentir a norma. A isto se chama educação

para a formação e, não, para a mera conformação legal.

A Constituição Federal de 1988 assegura:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

Com base na Constituição Federal, outras leis se sucederam, como

se pode ver:

Page 136: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

135

• Lei Federal n. 8.112/1990, que dispõe sobre o regime

jurídico dos servidores públicos civis da União, das

Autarquias e das Fundações Públicas Federais. Diz, em seu

art. 5º, §2º, que:

Art. 5º - São requisitos básicos para investidura em cargo público:

§ 2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

• A Lei Federal n. 8.213/1991, que dispõe sobre os planos da

previdência, determina:

Art. 93 - A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I - até 200 empregados...............................................................2%;

II - de 201 a 500..........................................................................3%;

III - de 501 a 1.000.....................................................................4%;

IV - de 1.001 em diante............................................................. 5%.

Conclui-se, assim, que, a partir de 1988, foram criados e

multiplicados mecanismos que visam a assegurar a absorção de pessoas com

deficiência pelo mercado de trabalho.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação/LDB, em seu art. 1º, §2º,

que:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos

Page 137: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

136

sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

(...)

§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (grifo nosso).

Duas situações há de se considerar a partir da leitura dos

dispositivos legais aqui apresentados, a saber: a estrutura e organização dos cursos

de Educação Profissional e o direito das pessoas com deficiência de a eles

acessarem, de acordo com suas particularidades pessoas.

No caso das tipologias dos serviços educacionais demandados,

deve-se considerar cada uma das seguintes situações:

• Alunos com NEE que estão na rede regular de ensino;

• Alunos com NEE que estão em instituições educacionais,

porém, não necessariamente, escolares;

• Pessoas com NEE adultas e, portanto, fora dos limites legais

de escolaridade.

Como a perspectiva do Governo do Estado de Mato Grosso é

reorganizar todo o sistema educacional na linha da Educação Inclusiva, a Educação

Profissional, em qualquer das situações, passa a ser operada com base em duas

vertentes:

� Articulação de concepções;

� Articulação de instrumentos.

As bases sócio-pedagógicas e psico-culturais destas vertentes

assentam-se no binômio:

Page 138: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

137

� Equidade;

� Inclusão.

A equidade supõe a disponibilização de condições iguais de entrada

e de saída PARA TODOS. Neste sentido, as escolas devem calçar as práticas

pedagógicas com insumos decorrentes de focos que garantem qualidade educativa,

cabendo destacar dentre eles:

• Diversidade;

• Autonomia;

• Contextualização;

• Interdisciplinaridade;

• Aprendizagem Significativa

• Desenvolvimento de Competências;

• Programas/Cursos com qualidade social.

A viabilidade operativa destes focos requer das escolas e instituições

que oferecem Educação Profissional a pessoas com limitações e, portanto, com

necessidades educacionais especiais, a atenção para desenvolver a aprendizagem

ocupacional dentro do circuito:

DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

Toda aprendizagem deve ter sentido para a vida.

DA RESOLUBILIDADE

Toda aprendizagem deve ser objetivada em soluções,

descobertas, processos de facilitação do existir, do viver e do

agir.

Page 139: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

138

DA SITUACIONALIDADE

Toda aprendizagem deve fazer as conexões entre contexto,

subjetividade, raciocínio e emoção, de tal sorte que propicie a

ampliação da capacidade do autodesenvolvimento.

Na moldura da educação inclusiva, as operações pedagógicas

cingidas ao campo da Educação Profissional requerem a ampliação dos espaços de

aprendizagem, o que determina sob o ponto de vista da gestão escolar:

• Alianças Estratégicas;

• Parcerias

• Acessos diferenciados aos cursos e programas.

Estes mecanismos de ampliação orientam o reordenamento das

estruturas de oferta de Educação Profissional a partir de duas estratégias de gestão:

INTEGRAÇÃO

� Diz respeito à busca de fortalecimento da capacidade

institucional dos sistemas de ensino, das redes de

escolas e de cada escolha individualmente.

DESCENTRALIZAÇÃO

� Diz respeito ao princípio orientador da autonomia

crescente e contínua, de tal sorte que as ações

educativas sejam dirigidas a um duplo objetivo:

� Vincular a responsabilidade dos agentes à

qualidade dos resultados;

Page 140: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

139

� Multiplicar os resultados.

Estas estratégias, por sinal, devem marcar tanto a execução de

cursos e programas no âmbito das diferentes modalidades educativas, dentre as

quais estão a Educação Especial e a Educação Profissional, como também as

diferentes formas de operar os níveis de ensino que compõem toda a Educação

Básica.

Voltamos aqui à ideia de escola compreensiva, vazada em uma

pedagogia reconstrutiva do cotidiano (Projeto Político Pedagógico refeito

permanentemente), que tem, na orientação e na sustentabilidade de suas atividades,

fundamentos sócio-pedagógicos do tipo:

� Educação democrática;

� Sala de aula inclusiva;

� Respeito à diversidade bio-sócio-psico-cultural;

� Valorização da identidade dos indivíduos;

� Práticas pedagógicas nutridas pelo princípio da autonomia;

� Multiplicidade das inteligências;

� Pluralidade dos aspectos afetivos e cognitivos da

aprendizagem;

� Interdisciplinaridade e inteligência inter e intra pessoal;

� Etnografia escolar e aprendizagem significativa;

� Cooperação interinstitucional e alianças estratégicas;

� Engajamento sócio-pedagógico da família;

� Avaliação propositiva e não-excludente.

Page 141: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

140

Aqui, somos convocados revisitar dois conceitos básicos constantes

do documento Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de

Mato Grosso. São eles: Uma escola de Educação Básica para Todos em Mato

Grosso e Conhecimento, Trabalho e Cultura como eixos da construção curricular

desta Escola.

Desta forma, a Educação Profissional e a Educação Especial

articuladas por uma prática consensual destes fundamentos, dentro de cada

instituição, contribuirá para a refundação do conceito de educação politécnica no

sentido de que ela tem uma responsabilidade clara e intransferível em relação à

diversidade humana, a saber: realçá-la e trabalhá-la como um nutriente do itinerário

de aprendizagem de todos no interior do processo educativo.

A educação politécnica pressupõe, como anota Machado

(1994:186), “sólida formação básica que contribua para superar a dualidade

tradicionalmente existente entre formação técnica e geral, na perspectiva de uma

qualificação ampla, integrada, flexível e crítica”.

A legislação da Educação Profissional, a partir da LDB, tem

previsibilidade para diferentes tipologias/níveis de curso de Educação Profissional.

São eles:

CURSOS DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA

A configuração legal destes cursos é a seguinte:

• Foco: qualificação, reprofissionalização e atualização de

trabalhadores. Caso o aluno não haja cumprido a

escolaridade acadêmica correspondente ao ensino

fundamental, parcial ou total, o curso deverá ser oferecido

Page 142: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

141

em articulação com a educação de jovens e adultos. Neste

caso, o aprendiz deverá ter, no mínimo, 16 anos.

• Características essenciais: modalidades de educação

não-formal com organização curricular livre e duração

variável. Sua oferta deverá estar vinculada a demandas

identificadas e em sua concepção pedagógica, a

organização curricular deverá compatibilizar seis aspectos:

a) Condições pessoais do aluno;

b) Repertório de conhecimentos anteriores do aluno;

c) Grau de escolaridade do aluno;

d) Tamanho da demanda no âmbito do mundo do

trabalho e do mercado de trabalho;

e) Perfil profissional específico da ocupação em vista;

f) Grau de complexidade tecnológica da

ocupação/trabalho.

Estes cursos são abertos a demandas variadas. Sua concepção e

organização se fundam no princípio da inteira autonomia institucional. Não estão

submetidos a prescrições curriculares prévias. No entanto, precisam ter uma pauta

de conteúdos referenciados às habilidades que o aluno deverá desenvolver, tendo

em vista a ocupação pretendida. Com base neste entendimento, recomenda-se que

a instituição trabalhe com o conceito operativo de UNIDADE DE

APRENDIZAGEM. Vejamos o que isto significa:

Page 143: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

142

• Conceito: bloco didático no qual se associam os

seguintes componentes:

� Mapas de habilidades a desenvolver;

� Conteúdos essenciais;

� Feixe de metodologias;

� Recursos de apoio (espaços, equipamentos e

materiais);

� Suporte inter-profissional e técnico-administrativo;

� Suporte familiar permanente;

� Modalidades de avaliação;

� Tempo de duração estimado;

� Formas de condução do processo pelo(s)

professor(es).

Os contornos pedagógicos da UNIDADE DE

APRENDIZAGEM são desenhados via mecanismos de negociação, envolvendo:

• Direção da instituição;

• Coordenação pedagógica;

• Coordenação de Educação Profissional;

• Professores envolvidos no curso;

• Equipe inter-profissional;

• Pais ou responsáveis.

Page 144: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

143

Para a definição dos contornos pedagógicos, deverá, em

qualquer situação, ser disponibilizado aos professores um “dossiê de avaliação

sócio-psico-clínica”, em que estão claramente definidos:

• Grau de comprometimento individual;

• Mapa de limitações pessoais decorrentes;

• Indicação de rotas para trabalho com as áreas

promissoras.

Cada curso de Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores

é o resultado da soma de várias UNIDADES DE APRENDIZAGEM. Este

dimensionamento é variável de acordo com cada caso, cada contexto, cada

instituição, dentro do princípio da autonomia escolar. Princípio este que, para se

adequadamente operacionalizado, precisa associar-se aos demais princípios da

organização curricular, a saber: a) contextualização; b) interdisciplinaridade; c)

diversidade; e d) pertinência educativa.

Estes cursos, como todos os demais, devem necessariamente

focar a Educação Profissional como uma soma de três grupos de habilidades, a

saber:

• Habilidades Básicas: conhecimentos gerais e

competências essenciais à prática de uma cidadania ativa.

Envolve: i) o desenvolvimento da capacidade de

aprender; ii) o pleno domínio da leitura, da escrita e do

cálculo; iii) a compreensão do ambiente natural e social,

do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores

em que se fundamenta a sociedade; iv) a aquisição de

conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes de

Page 145: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

144

valores; v) o fortalecimento dos vínculos de família, dos

laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca

em que se assenta a vida social (LDB, art. 32);

• Habilidades de Gestão: conhecimentos relativos à

gestão do processo produtivo, de tarefas e de serviços.

Envolve: i) conhecimentos relativos a atividades de

coordenação e gerência; ii) familiaridade com

procedimentos para melhoria da qualidade e da

produtividade; iii) exigências para a gestão de negócios e

empresas; iv) desenvolvimento de competências para o

exercício do trabalho autônomo, individual e em grupo;

• Habilidades Específicas: competências e

conhecimentos específicos acerca de processos, métodos,

técnicas, normas, regulamentações, tipos de materiais e de

equipamentos e os conteúdos próprios de cada ocupação.

Os cursos de Formação Inicial e Continuada, anteriormente

denominados de Cursos Básicos (Decreto n. 2.208/96), precisam ser planejados e

organizados de forma diferente da tradicional. Seja para estimular o aluno com

deficiência, sobretudo com deficiência mental, no sentido da ampliação das áreas de

interesse e de suas possibilidades, seja no sentido de potencializar a instituição pela

multiplicação de resultados.

Os procedimentos básicos para a organização de Cursos de

Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores com deficiência devem, sob um

ponto de vista prático e das limitações das instituições e das comunidades, observar

cinco requisitos, a saber:

Page 146: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

145

a) Organização focada no desenvolvimento de aptidões

para a vida produtiva e social (Decreto n.

5.154/2004): planejamento de cursos para qualificar

pessoas em função de uma inserção laboral efetiva. Estes

cursos, portanto, não podem ser confundidos com

programações de terapia ocupacional, como ocorre

frequentemente no caso de alunos com deficiência mental

ou múltipla;

b) Articulação com programas de ensino,

preferencialmente, com cursos de educação de

jovens e adultos, visando a uma associação dos

conteúdos acadêmicos com os conteúdos laborais: o

Decreto n. 5.154/2004 acaba definitivamente com a ideia

de uma qualificação para o trabalho sem a elevação do

nível de escolaridade do trabalhador. O legislador foi

além: somente após a conclusão com aproveitamento da

EJA, no caso tenha sido esta a opção, o aluno fará jus a

certificado de formação inicial e continuada;

c) Composição do Quadro de Visibilidade

Laboral/QVL: identificar, na comunidade, os locais de

trabalho, as empresas e os serviços existentes e as

possibilidades de inserção profissional dos alunos que vão

ser qualificados;

d) Identificação de ensinantes não-profissionais:

localizar, na comunidade, pessoas e familiares que,

embora não tenham uma educação acadêmica formal

avançada, poderão contribuir, de alguma forma, para a

Page 147: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

146

execução do(s) curso(s), como colaboradores pedagógicos

eventuais, sem vínculo empregatício;

e) Construção de itinerários formativos (cursos) pelo

mecanismo de Módulos Sequenciais

Expansíveis/MSE, significando: i) trabalhar com

alternativas de cursos simultâneos; ii) desenvolver uma

estrutura básica de cursos; e iii) articular os conteúdos dos

vários cursos, evitando, assim, a duplicação de meios para

fins idênticos.

As instituições, em geral, trabalham com cursos soltos, face a

precariedade dos recursos financeiros e humanos disponíveis. Não se faz Educação

Profissional sem um suporte acadêmico e administrativo-financeiro que assegure a

sustentabilidade da programação. Todo o curso de Educação Profissional precisa

ter um currículo definido. E isto tem um curso.

Por outro lado, muitos cursos oferecidos não são do interesse

do aluno. Ou seja, investe-se em uma programação sem qualquer motivação para

os aprendizes e sem nenhuma alteração para seus familiares. Pior: há casos, não

raros, em que os recursos investidos para um único curso poderiam ser ampliados,

na sua utilização, para dois ou mais cursos, dentro de um mesmo setor laboral. Esta

é a ideia básica dos Módulos Sequenciais Expansíveis (MSE). Cabe a cada

instituição, no caso, decidir o número de cursos com que poderá e deverá trabalhar,

pensando sempre suscitar, cada vez mais, o interesse do aluno a partir da

fecundação de suas áreas promissoras.

Page 148: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

147

CURSOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL MÉDIO

Estes cursos são desenvolvidos assim (LDB, art. 36-B):

• Articulados com o ensino médio;

• Subseqüentes ao ensino médio para quem já haja

concluído este nível de ensino.

Por sua vez, a educação profissional técnica de nível médio

articulada é desenvolvida de acordo com o seguinte tipo de organização (LDB, art.

36-C):

Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será desenvolvida de forma:

I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;

II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer:

a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.

Page 149: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

148

A lei prevê, também, a organização da educação profissional

técnica de nível médio por etapas, alternativa muito relevante para os alunos da

Educação Especial. Diz o texto legal (LDB, art. 36-D, parágrafo único):

Os cursos de educação profissional técnica de nível médio, nas formas articulada, concomitante e subseqüente, quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho.

A importância do mecanismo da modularização na organização

da aprendizagem tem sido destacada por todos aqueles que se tem beneficiado

desta arquitetura curricular. Damatta (2003:93) destacou este aspecto ao anotar o

depoimento em pesquisa que realizou sobre Profissões Industriais na vida Brasileira. O

registro é o seguinte: “O futuro do ensino técnico-profissional, ministrado aos

trabalhadores e àqueles que voltam a estudar para se manterem atualizados, está na

adoção de um ensino modularizado (grifo nosso) que se baseie em competências

verificáveis em situações reais, e não mais na metodologia de disciplinas estanques,

nas quais o rendimento do aluno é individualmente testado em provas ou exames

finais. A ênfase recairá nas ligações entre as diferentes áreas de aprendizagem, e as

equipes de instrutores proporão aos alunos problemas concretos cuja solução vai

depender da aplicação de seus conhecimentos e experiências e também da sua

habilidade em atuar em grupo. É assim que as coisas acontecem no mundo real do

trabalho”. (Jorge Pontara – especialista de ensino do Centro de Tecnologia do

Vestuário/SENAI – Blumenau, SC).

Com a alternativa modular, será assegurada, ao aluno, com

deficiência que concluiu o ensino fundamental, a possibilidade de se matricular em

cursos de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, atendendo as

singularidades de sua situação, que exigem, certamente, tempos e espaços

Page 150: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

149

diferenciados para a sua formação profissional. Cada módulo corresponde a uma

ou mais habilidade adquirida para uso no cotidiano do trabalho.

A flexibilização organizacional desses cursos ensejará a aquisição

de níveis agregados de qualificação. Esta estratégia vai possibilitar á escola preparar-

se e preparar seus professores para um trabalho de pertinência pedagógica com os

alunos com deficiência mental, ao mesmo tempo em que lhes propiciará faces e

formas de realização de uma programação de estudos e de aprendizagem

compatíveis com a ideia de uma democratização efetiva do direito à educação.

As referências organizacionais essenciais à viabilização da

proposta modular somente poderão ser consideradas adequadamente se, antes,

houver disposição institucional para um redimensionamento das bases materiais da

escola, no bojo de uma educação inclusiva e de uma programação de ensino

permeável à presença e ao desenvolvimento profissional do aluno com deficiência,

sobretudo no caso de deficiência mental ou múltipla.

Por fim, o bloco modular deve ser construído à luz do princípio

da autonomia da instituição, do seu corpo técnico e dos professores. A estes, aliás,

cabe definir o processo de aprendizagem dos alunos e, em consequência, as práticas

pedagógicas a sere adotadas. Em qualquer caso, deverão ser levantados

previamente os seguintes aspectos:

a) Perfil de entrada do aluno/Competências que possui;

b) Perfil de saída do aluno/Competências que vai

desenvolver;

c) Carga horária;

d) Metodologias de ensino/aprendizagem;

e) Bibliografia e material complementar de leitura;

Page 151: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

150

f) Material a ser usado durante o curso;

g) Total de Unidades de Aprendizagem envolvidas;

h) Tipo de suporte administrativo de que vai necessitar;

i) Apoio e acompanhamento na inserção no mercado de

trabalho;

j) Modalidades de avaliação: imediata e posterior.

Este painel de informações é essencial para o estreitamento das

reações professor/aluno, à medida que propicia a construção de rotas de

aprendizagem compatíveis com o perfil do aluno e com as condições materiais

objetivas existentes. As duas dimensões são importantes para a modelagem de

questões de delimitação de espaços de tempo de aprendizagem, sem o que fica

pedagógica e significativamente impossível trabalhar com o conceito de ritmo de

aprendizagem. Respeitar este ritmo é aproximar a Educação Especial da Educação

Profissional e vice-versa.

CURSOS AUTÔNOMOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Estes cursos se hospedam em instituições que oferecem

profissionais de Educação Profissional em suas situações, a saber:

• Para atender a pessoas com deficiência por via de

programações abertas, permanentes ou eventuais;

• Para atender pessoas com restrições severas, via Oficinas

Pedagógicas.

Os cursos de preparação para o trabalho se dividem em três

modalidades de programa:

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151

• De avaliação para o trabalho, em até 1 mês:

� Objetivos:

� Identificar as capacidades e habilidades;

� Verificar os aspectos pessoais, sociais,

profissionais e convivenciais;

� Determinar a elegibilidade do candidato aos

programas disponíveis;

� Direcionar os programas a serem

desenvolvidos;

� Identificar as habilidades psicomotoras,

comunicativas, do cotidiano, sociais e

conceituais.

� Metodologias:

� Análise dos dados de programas anteriores;

� Análise de referenciais diagnósticos de

outros profissionais;

� Análise das informações de escolaridade;

� Entrevistas: com o próprio deficiente. Com

a pessoa responsável, se for o caso.

Objetivo: colher informações de trabalho, da

família, da história médica;

� Aplicação de técnicas avaliativas para aferir

fatores gerais e específicos da

empregabilidade;

Page 153: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

152

� Observações diretas em situações específicas

de realização de determinadas tarefas.

• De pré-profissionalização, em até 3 anos:

� Objetivos:

� Possibilitar a aquisição do nível máximo de

autonomia pessoal;

� Treinar hábitos e atitudes essenciais de

trabalho produtivo;

� Facilitar a compreensão do mundo do

trabalho: da entrevista de emprego, da ficha

de solicitação de emprego, da apresentação

pessoal, dos direitos e deveres do

trabalhador, das relações no trabalho, etc.

� Desenvolver padrões de desempenho

exigidos nas empresas;

� Propiciar uma auto-avaliação quanto às

aspirações e limitações pessoais para

determinadas tarefas;

� Capacitar para o ingresso na etapa de

Qualificação para o Trabalho.

� Metodologias:

� Conteúdo programático voltado para

atender as necessidades individuais;

� Organização do conteúdo programático

deslinear, distribuída em níveis diversos,

Page 154: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

153

com trânsito flexível e graus progressivos de

dificuldade;

� Processos metodológicos destravados.

� Roteiro Programático:

� Atividades Cotidianas:

� Cuidados pessoais: hábitos à mesa,

hábitos higiênicos, cuidados com

vestuários e saúde;

� Processo de socialização: relações

pessoais, boas maneiras, uso de

recursos coletivos;

� Formas de comunicação: linguagem

expressiva e compreensiva,

leitura/escrita, tempo e medidas.

� Atividades Práticas:

� Atividades de limpeza e conservação

de ambientes; Artesanato; Culinária;

Fruticultura; Bordado; Tapeçaria;

Cartonagem; Informática;

Instrumentação musica;

� Atividades com papel reciclado e com

diferentes materiais, utilizando metal,

madeira, couro, tecido, estopa, palha,

etc.

Page 155: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

154

As atividades de natureza laboral têm por

metodologia e técnicas de ensino a adotar o

construir, caso a caso, partindo sempre do

conceito de situacionalidade, a saber:

� limitações/potencialidades;

� competências/habilidades;

� operações/cooperações;

� tarefas/trabalho;

� conteúdo/metodologias/

� acesso laboral/progresso laboral;

� perfil produtivo exigido/escala de

(in)suficiência.

Estes pares binários devem ser considerados a

partir do perfil de demanda do mercado de

trabalho. Em qualquer caso, é sempre

conveniente responder, OBJETIVAMENTE, à

questão: onde e em que tipo de atividades e

ocupações há/haverá oportunidade de

trabalho e renda em curto, médio e longos

prazos?

Em qualquer caso, devem ser observados os

seguintes aspectos:

a) Habilidades vencidas – HV;

b) Habilidades não vencidas = HNV;

c) Habilidades não evidenciadas = HNE

Page 156: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

155

Os conteúdos relativos às habilidades práticas e

atividades acadêmicas de origem pedagógica

devem ser elaborados conforme programação

ou atividades oferecidas pela instituição.

No processo de aquisição de conhecimento, o

aluno vai evoluindo do mais simples para o

mais complexo. Neste caso, ao passar de uma

atividade prática para uma atividade acadêmica,

deverá atender a novos requisitos, por meio da

ficha de acompanhamento.

É importante justificar, no campo da

observação, a permanência ou encaminhamento

do aluno, esclarecendo o nível acadêmico na

Modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

� Atividades Complementares:

� Teatro, dança, música, pintura,

educação física, esporte, jogos

eletrônicos, desenho, escultura,

oficinas literárias, capoeira, produções

culturais, gincanas, feiras artesanais,

desfiles cívicos, danças folclóricas,

folguedos juninos, grupos musicais,

atividades de voluntariado, etc.

� Atividades Acadêmicas: tem por

metodologia e técnicas de ensino as práticas

pedagógicas utilizadas, em decorrência da

Page 157: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

156

legislação, no trabalho com a educação de

jovens e adultos, em função de ser esta a

necessidade dos alunos, cabendo destacar:

� Alfabetização;

� Domínio da leitura, da escrita e do

cálculo;

� Compreensão do ambiente natural e

social;

� Desenvolvimento da capacidade de

aprender;

� Aquisição de conhecimentos e

habilidades;

� Formação de atitudes e valores;

� Fortalecimento dos vínculos

familiares, de solidariedade e de

tolerância recíproca (LDB, art. 32).

• De Qualificação I: Qualificação para o Trabalho de

Pessoa com Deficiência:

� Metodologia: atividades práticas em ambiente

simulado na própria instituição ou em situação real

de trabalho em empresas;

� Treinamento para o trabalho: atende a

necessidades temporárias do aluno que, por razões

diversas, não atingiu, ainda, as condições de

trabalhabilidade e empregabilidade;

Page 158: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

157

� Treinamento em estágio: realizado na empresa

em situação real de trabalho, contendo o seguinte

conteúdo programático:

� Tipos de ocupação;

� Estrutura organizacional da empresa;

� Medidas de segurança e higiene;

� Relações interpessoais;

� Norma interna de trabalho;

� Legislação trabalhista;

� Produção atual da empresa;

� Áreas de expansão da empresa;

� Evolução da empresa;

� Níveis de satisfação dos trabalhadores e dos

clientes;

� Posição da empresa no mercado19.

CURSOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

A característica básica é que são cursos inteiramente focados em

demandas específicas do mercado de trabalho. Têm uma duração média de dois

anos. O currículo é direcionado para uma carreira bem delimitada. Ao térmico, o

aluno poderá fazer uma graduação mais longa, se este for o seu desejo, ou partir

para uma pós-graduação lato sensu ou stricto sensu.

19 Cabe a cada contexto institucional ampliar os tipos de curso de qualificação.

Page 159: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

158

Estes cursos têm tido uma expansão fantástica em todo Brasil.

Já são, hoje, quase setecentos e cinquenta e qualquer pessoa que possua o diploma

de ensino médio ou equivalente pode se matricular em um deles. Cobrem todos os

campos do conhecimento humano e se tornaram uma opção interessante para

quem deseja ou precisa se formar em menos tempo, seja em função de trabalho, de

situação financeira ou mesmo de limitações pessoais que podem dificultar a

permanência longa na universidade.

Os graduados destes cursos são chamados tecnólogos. Na

verdade, trata-se de profissionais graduados com especialização em segmentos de

uma ou mais áreas profissionais, com predominância, porém, em uma delas. Os

profissionais tecnólogos têm formação direcionada para aplicação,

desenvolvimento e difusão de tecnologias, com focos concentrados em gestão de

processos, produção de bens e serviços e, ainda, capacidade empreendedora

sintonizada com o mundo do trabalho.

Em países como França e Chile, a oferta de cursos de tecnólogo

é maior do que a oferta de cursos tradicionais de graduação. Às áreas de

enquadramento são as mesmas 20 áreas profissionais definidas para os cursos de

Educação Profissional Técnica de Nível Médio, já anteriormente apontadas.

Os cursos de Educação Profissional Tecnológica de Graduação

e Pós-Graduação se apresentam como uma enorme abertura para a implementação

de uma política realista e concreta de educação inclusiva.

A etapa seguinte de cursos de Educação Profissional, dentro de

uma linha de disponibilidade legal, seria constituída pelos cursos tecnológicos. São

cursos de nível universitário.

Sabemos, por exemplo, que os alunos com déficit cognitivo

precisam de ambientes acadêmicos cooperativos, práticos, ricos em estímulos

Page 160: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

159

físicos, afetivos, sociais, ambientais e sócio-pedagógicos. Mais do que isto: os

déficits de abstração empírica, ou seja, aqueles relacionados às propriedades

inerentes à natureza dos objetos e, ainda, os de abstrações reflexivantes, ou seja,

aqueles com implicações no processo de coordenação entre as ações mentais,

geram redução na capacidade destes sujeitos terem acesso à objetividade do

conhecimento. Ora, os cursos tecnológicos têm uma formatação inteiramente

plantada em contextos, situações e relações concretas de aprendizagem. Portanto,

fica fácil trabalhar, todo o tempo, os aspectos motivacionais e, ainda, imaginar

mecanismos para evitar bloqueios, criando estratégias específicas para o

desenvolvimento da consciência meta-cognitiva, através do acionamento das áreas

promissoras de aprendizagem.

Mais do que um novo modelo de serviço educacional, estes

cursos correspondem a um novo espaço sócio-cultural para a construção de

aprendizagens laborais.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: OFICINAS PEDAGÓGICAS

Por definição, as Oficinas Pedagógicas devem ser

compreendidas em suas funções e características assim:

a) Ambientes adequadamente equipados com instrumentos

de trabalho e acessórios para o desenvolvimento

sistemático de aprendizagens laborais dentro de um

período de tempo pedagogicamente ajustado;

b) Programação técnico-profissionalizante e acadêmica

articulada, visando ao desenvolvimento convergente e

harmônico de competências e habilidades no campo da

Page 161: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

160

educação básica, com foco nos art. 22, 27, 39 a 42 (da

LDB) e no Decreto n. 5.154/2004;

c) Equipe de professores em processo contínuo de

capacitação em serviço sob regime de supervisão

pedagógica pertinente;

d) Conteúdos programáticos distribuídos em oito áreas, a

saber:

d.i) Área das capacidades e habilidades;

d.ii) Área da autonomia pessoal;

d.iii) Área das atividades cotidianas;

d.iv) Área das atividades práticas;

d.v) Área das atividades complementares.

As Oficinas Pedagógicas foram concebidas e postas em

funcionamento para atender a aprendizes com deficiência mental e/ou múltipla.

Com o passar do tempo, as instituições começaram a acolher, nas Oficinas

Pedagógicas, alunos com os mais diferenciados tipos de deficiência, alterando,

assim, a natureza delas, mas sem a correspondente alteração em seu formato, sua

organização, seu funcionamento e, sobretudo, na dimensão das práticas de ensino

que, em qualquer situação, deverão “significar” as particularidades dos sujeitos.

Para Müttschele e Gonsales (1997), as Oficinas Pedagógicas são

o espaço da arte e da magia de se fazer na escola. São, de fato, um ambiente

concreto, formal (porque organizado) e funcional (porque visa a objetivos muito

claros) do aprender humano para o trabalho. Seu horizonte pedagógico é o da

emancipação crescente das pessoas por via da preparação para o trabalho

produtivo. Ou seja, aquele que é capaz de gerar receita para ajudar na auto-

Page 162: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

161

sustentação do trabalhador. Neste sentido, o trabalho passa a constituir a própria

essência da construção de projetos de vida. Tais projetos devem estar centrados em

processos de desenvolvimento de aspectos positivos da subjetividade do aluno.

Subjetividade na acepção totalizadora de Carvalho (2003:44), ou seja, “do sujeito

com seu psiquismo, corporeidade, saberes e experiências. (...) Refere-se ao que

Locise (1995) considera o sujeito intrapsíquico, intersubjetivo, socialmente

constituído e envolvido”.

No interior dos projetos, devem-se trabalhar, progressivamente,

os aspectos positivos por via da internalização das noções seguintes:

• Autoconceito: ter uma compreensão da própria

existência, dos seus valores e das potencialidades;

• Auto-estima: ter consciência da importância de se amar,

de se respeitar e de se valorizar;

• Autoconfiança: acreditar na própria capacidade de

aprender, de produzir, de compartilhar tarefas e de se

responsabilizar por um trabalho.

Estas noções-situação, quando co-existentes e articuladas nos

conjuntos complexos de forças do ser subjetivo (Fonseca, 1995:18), contribuem para o

fortalecimento da construção de uma identidade social potencializada para o

trabalho e, portanto, motivada plenamente para programas de preparação para o

trabalho e posterior inserção no mercado.

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162

A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA DO SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO DO ESTADO DE MATO GROSSO

“Se a escola é para todos, a educação deve ser para cada um”.

Moaci Carneiro

O modelo clínico que, no caso da Educação Especial, tem enorme

prevalência nas decisões sobre encaminhamentos e práticas pedagógicas, tem

funcionado, igualmente, para um desenvolvimento travado nas formas de avaliação

dos alunos com necessidades educacionais especiais. Sifuentes (2009:320) chama a

atenção para o fato de que as chances de uma criança frequentar todas as etapas de

ensino, com sucesso, são maiores para quem está no sistema regular. E acrescenta

que as chances são ainda maiores para quem frequenta a Educação Infantil, sempre

de maneira inclusiva, portanto, convivendo com a diversidade já no início da vida

escolar. Esta parece ser uma segunda restrição por que a Educação Especial passa

no tocante ao aprimoramento do sistema de avaliação. Como ainda são

relativamente baixos os percentuais de alunos da Educação Especial presentes ao

sistema regular de ensino nas fases da Educação Infantil, os processos de avaliação

têm pouco desenvolvimento em termos de alternativas.

À luz destas constatações, semelha evidente que, ao situar a

Educação Especial no contexto da educação inclusiva, o Sistema Público de Ensino

de Mato Grosso assume o compromisso de vincular as formas de avaliação fora do

paradigma tradicional. Em outras palavras, os paradigmas clássicos de avaliação

neste campo devem ser desconsiderados. Quais são eles? Primeiro, o paradigma

clínico-médico que foca a deficiência como uma situação estritamente individual.

Segundo, o paradigma sistêmico que enxerga a deficiência apresentada pelo aluno

como uma circunstância a ser avaliada com base no enquadramento deste a

exigências inflexíveis do sistema escolar. Terceiro, o paradigma sociológico que,

SEDUC-MT

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163

deslocando o olhar do indivíduo para o grupo social, percebe a deficiência de

acordo com a reação deste grupo. Ou seja, poderá haver um sentimento de

compreensão (empatia) ou de discriminação (agravamento), de acordo com a

reação do grupo à condição da deficiência. Quarto, o paradigma crítico-materialista

que considera a deficiência como um traço marcante da sociedade de classe. Em

outras palavras, a deficiência é resultante da incapacidade de produzir, de trabalhar

do indivíduo.

Os paradigmas neste campo são formas sociais e culturais de

perceber a pessoa com limitações funcionais. Por isso, cada paradigma tem

repercussão diferenciada nas formas sociais de as pessoas com deficiência serem

avaliadas.

É precisamente no campo da avaliação que a abordagem da

psicologia sócio-histórica de Vygotsky pode desempenhar uma função

relevantíssima em relação aos alunos com necessidades educacionais especiais.

O psicólogo alemão Jürgen Guthke sugere uma aproximação

interessante entre o conceito vygotskiano de Zona de Desenvolvimento

Proximal/ZDP e uma teoria operativa da avaliação psicopedagógica. É o próprio

Guthke que observa:

“(...) Vygotsky expressou a esperança de que com a ajuda da avaliação da Zona de Desenvolvimento Proximal se poderia melhor escolher entre as crianças autenticamente deficientes mentais e as crianças apenas com dificuldade intelectual provisória, decorrente de privações ambientais.”

No âmbito do conceito de educação inclusiva, o processo de

avaliação muda inteiramente de foco, à medida que:

Page 165: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

164

a) Os alunos com deficiência não são prioritariamente

selecionados para ir às escolas especiais. Pelo contrário, a

prioridade, agora, é a identificação das necessidades especiais

dos alunos na escola regular;

b) O laudo clínico não é usado como passaporte para

encaminhar este aluno à escola especial, mas para ajudar na

orientação e no acompanhamento pedagógico na escola

regular.

A avaliação não é ocasional, mas processual, ou seja, desfoca-se dos

métodos normativos e quantitativos e se hospeda numa moldura mais ampla e em

processo mais dinâmico-coletivo onde se consideram os avanços do

desenvolvimento pessoal, as articulações com o contexto e os ganhos qualitativos

do indivíduo.

Com base na concepção vygotskiana, a avaliação deve pautar-se

pela possibilidade de superação, sem qualquer caráter de hierarquização nem de

classificação. Por isto, não cabe considerar desempenhos comparativos, porque

significaria subestimar as potencialidades diversificadas dos alunos.

A rejeição a procedimentos de avaliação parcial ou monocausal das

necessidades educacionais especiais dos alunos está no centro do documento

elaborado pelo MEC, em 2002, sob o título Avaliação para identificação das

necessidades educacionais especiais: subsídios para os sistemas de ensino,

na reflexão de seus atuais modelos de avaliação. Por este documento, a

avaliação deve posicionar-se no seguinte rumo:

• A avaliação é um processo compartilhado, a ser

desenvolvido, preferencialmente, na escola, envolvendo os

Page 166: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

165

agentes educacionais. Tem como finalidade conhecer para

intervir, de modo preventivo e/ou remediativo, sobre as

variáveis identificadas como barreiras para a aprendizagem e

para a participação, contribuindo para o desenvolvimento

global do aluno e para o aprimoramento das instituições de

ensino;

• A avaliação constitui-se em processo contínuo e permanente

de análise das variáveis que interferem no processo de

ensino-aprendizagem, objetivando identificar potencialidades

e necessidades educacionais dos alunos e das condições da

escola e da família.

Nesta concepção, a avaliação ganha envergadura própria, distante

daquela tradicionalmente adotada pelas escolas. Na verdade, a tradição escolar

brasileira é trabalhar com o conceito restrito e quantitativo de aferição de

rendimento escolar. No fundo, esta preferência da escola brasileira se deve à

tendência de separar a escola da vida do aluno, portanto, a cognição da

sensibilidade. Em outros termos, conhecimento intelectual e estrutura racional da

linguagem constituem, para a escola, de fato, os elementos exclusivos a serem

considerados pelos cânones oficiais da avaliação. Tanto é assim que, por exemplo,

o ENEM desconsidera, em seu corpo de quesitos, conteúdos referidos à

diversidade regional e aos estudos contextualizados. Ora, como dizem as DCNEM,

(...) contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre o sujeito e o objeto (...). O tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso que a escola tem para retirar o aluno da condição de expectador passivo. Se bem trabalhado, permite que, ao longo da transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendizagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam, entre ele o objeto do

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166

conhecimento, uma relação de reciprocidade. A contextualização evoca, por isso, áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza competências cognitivas já adquiridas [Grifo nosso].

Na visão da educação inclusiva, a avaliação reconceituada convoca a

singularidade do sujeito à centralidade do processo educativo e da relevância

pedagógica permanente, o que importa valorizar a cognição afetiva como fonte de

interações das cadeias vitais e das redes de interdependência no âmbito de uma

aprendizagem significativa. Opostamente a esta compreensão, observa-se, na longa

trajetória da educação escolar brasileira, quando não uma aversão, pelo menos, uma

distância programada entre o campo do conhecimento científico e acadêmico e os

campos da sensoriedade e da singularidade. Não é por acaso que, quando uma

circunstância especial de vida do aluno conflita com a máquina escolar, seja na

organização geral, seja nas conformidades burocráticas setoriais (metodologias de

ensino, tipos de avaliação, registros de notas etc.), a escola, ao invés de localizar

suas desconformidades, carimba a situação adversa ao aluno com o registro de seu

fracasso na aprendizagem. Ou seja, em qualquer situação, cabe ao aluno fazer o seu

enquadramento ao regime escolar e, assim, submeter-se às regras de generalização

de uma aprendizagem-padrão com todo o formalismo acadêmico e nenhuma carga

vivencial. Pode-se dizer, então, que o grande e permanente esforço do professor

deverá ser compreender que a escola trabalha com uma concepção de razão

universal única, inteiramente divorciada dos sentimentos que ligam seres singulares

a situações concretas específicas e a contextos individualmente demarcados. Santos

(2001:46) chama a atenção para o fato de que o conhecimento disciplinar tende a

ser um conhecimento disciplinado, aferido, quase sempre, através de testes

restritivos que reduzem a riqueza da personalidade às exigências funcionais das

instituições unidimensionais. Nesta mesma direção, observa Restrepo (1998:33):

O aniquilamento da singularidade se torna patente na incapacidade da escola de compreender a existência de modelos divergentes de

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167

conhecimento, em sua obsessão pelo método e pela nota, na incapacidade de captar as tonalidades afetivas que dinamizam ou bloqueiam os processos de aprendizagem. A escola se mostra resistente a aceitar que a cognição é cruzada pela paixão, por tensões heterônimas, a tal ponto, que são as emoções e não as cadeias argumentativas que atuam como provocadoras ou estabilizadoras das redes sinápticas, impondo-lhes fechamentos prematuros ou mantendo uma plasticidade resistente à sedimentação.

Quando se aborda a questão da avaliação na Educação Especial,

posta esta em posição de ressignificação porque pautada pelos parâmetros da

educação inclusiva e, portanto, da emergência de modalidades emancipadoras de

avaliação, é necessário compreender que a imposição epistemológica e cultural que

exclui, da sala de aula comum, alguns tipos de alunos ou os silencia, deve ser

substituída por uma outra concepção pedagógica, por uma outra escola e por um

outro professor.

A perspectiva de emergências nas formas de a escola trabalhar,

reconstruir, ressignificar e aferir conhecimentos curriculares em ação tem como

ponto de irrupção (ponto de partida) o reconhecimento das imensas

potencialidades da singularidade humana, com repercussão direta nas formas de

ensinar, aprender e avaliar. As articulações sistêmicas entre estes vários processos

conduzem à dimensão estética da pedagogia como a arte de ensinar/encenar. O

currículo escolar assim trabalhado e assim aferido dá satisfação pessoal a quem a ele

acessa e a quem dele partilha.

À luz desta re-visão pedagógica e de uma sala de aula restaurada

pela força de metodologias multirreferenciadas, a avaliação passa a ser ressituada no

âmago do processo de reconstrução do conhecimento e, portanto, deslocada do

peso burocrático das rotinas produtoras de notas, radiografias de conhecimentos

excludentes e de tarefas estandardizantes e congeladas em instrumentos físicos ou

eletrônicos de registro.

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168

Avaliar é colocar o sujeito aprendente em condições plenas de

revelar-se como identidade em construção.

Page 170: Orientações curriculares e pedagógicas para a educação especial no estado de mato grosso

169

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

� ATOS NORMATIVOS INTERNACIONAIS

UNESCO. Declaração de Salamanca/Espanha. Necessidades Educativas Especiais – NEE. In: Conferência Mundial sobre NEE. Salamanca: UNESCO, 1994. Disponível em <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.pdf> ou <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.

UNESCO. Declaração de Jomtien/Tailândia. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem Jomtien. In: Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Jomtien: UNESCO, 1990. Disponível em <http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf>.

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ANEXOS

� CAPÍTULO 01

- Artigos 208, 211 e 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino [Grifo nosso];

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino

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mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)

§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular [Grifo nosso]. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão [Grifo nosso]. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)

I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;

II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos [Grifo nosso].

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� CAPÍTULO 02